DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:08 PM Page 1 10 de novembro Química: nossa vida, nosso futuro Brasília, novembro de 2011 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:08 PM Page 2 Esclarecimento A UNESCO mantém, no cerne de suas prioridades, a promoção da igualdade de gênero, em todas as suas atividades e ações. Devido à especificidade da língua portuguesa, adotam-se nesta publicação, os termos no gênero masculino, para facilitar a leitura, considerando as inúmeras menções ao longo do texto. Assim, embora alguns termos sejam grafados no masculino, eles referem-se igualmente ao gênero feminino. Por exemplo, quando se menciona professor, subentende-se também estar incluída a ideia de professora. Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organização. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, tampouco da delimitação de suas fronteiras ou limites. DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:08 PM Page 3 10 de novembro Química: nossa vida, nosso futuro TRABALHOS E DESENHOS PREMIADOS 2011 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:08 PM Page 4 Esta publicação é fruto de uma parceria entre a Representação da UNESCO no Brasil e a Comissão Permanente de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado Federal © 2011 UNESCO. Todos os direitos reservados. Revisão: Regina Furquim Revisão Técnica: Setor de Ciências Naturais da Representação da UNESCO no Brasil Projeto Gráfico e Capa: Unidade de Comunicação Visual da Representação da UNESCO no Brasil Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, 10 de novembro: química; nossa vida, nosso futuro, trabalhos e desenhos premiados 2011. – Brasília: UNESCO, Senado Federal, 2011. 148 p. BR/2011/PI/H/11 1. Química 2. Educação Secundária 4. Ensino de Ciências 5. Ciência e Sociedade 5. Desenvolvimento Sustentável 7. Ciência e Desenvolvimento 8. Promoção da paz 9. Brasil I. UNESCO II. Brasil. Senado Federal Representação no Brasil SAUS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9º andar 70070-912 – Brasília - DF - Brasil Tel.: (55 61) 2106-3500 Fax: (55 61) 2106-3697 E-mail: [email protected] Site: www.unesco.org/brasilia facebook.com/unesconarede twitter: @unescobrasil Impresso no Brasil DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:08 PM Page 5 SUMÁRIO Agradecimentos ......................................................................................9 Apresentação.........................................................................................13 Abstract ................................................................................................15 O Ano Internacional da Química..........................................................17 CATEGORIA DESENHO 1º Lugar – Mulheres e química, mistura perfeita de delicadeza e surpresa.......29 Louys Lene Martins da Silva (autora) e Irany Silva de Souza (professora-orientadora) 2º Lugar – Há mulheres que desistem e outras que persistem ...............30 Maycon Douglas Silva Soares de Araújo (autor) e Ângela Cristina Schempp Pires (professora-orientadora) 3º Lugar – Química, evolução e transformações ...................................31 Ualesson Miguel de Melo (autor) e Sólon Almeida Barretto (professor-orientador) Menção Honrosa Química: buscando melhoria para nossas vidas e de nosso planeta .........32 Alexandra Silva Braga (autora) e Cristina Costa Luz (professora-orientadora) Mulher: um desafio no tempo ...............................................................33 Bianca Melissa Holanda dos Santos (autora) e Emmanuele Maria Barbosa Andrade (professora-orientadora) Química: desde os primórdios vitais à tecnologia atual ..........................34 Johnatan Souza da Silva (autor) e Rodolfo de Oliveira Castro (professor-orientador) DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:08 PM Page 6 Da gestação de uma nova química depende a preservação da vida ..........35 Letícia Miranda Ferreira da Silva (autora) e Aline Pires de Araújo (professora-orientadora) O homem é responsável pela evolução do universo e a diminuição da ignorância e das dores da Humanidade ........................36 Mariline Schab (autora) e Juliane Nadal Dias Swiech (professora-orientadora) A química da vida .................................................................................37 Pedro Sávio Martins Rosa (autor) e Luiz Claúdio Pinheiro Rodrigues (professor-orientador) O futuro do nosso planeta e dos seres vivos que nele habitam está em nossas mãos..........................................................38 Renan Maia dos Santos Pereira (autor) e Bárbara da Silva Furtado (professora-orientadora) CATEGORIA TRABALHO ESCRITO 1º Lugar – O papel da Química no desenvolvimento ...........................41 Bárbara Sakamoto Ligero (autora) e Maria Celeste de Souza (professora-orientadora) 2º Lugar – Ciência: uma expansão feminina.........................................51 Ana Raquel Ferraz Rameiro (autora) e Kátia Aparecida da Silva Aquino (professora-orientadora) 3º Lugar – Para que tudo isso?..............................................................59 Matheus Marchiori dos Santos (autor) e Angela Cristina Schempp Pires (professora-orientadora) Menção Honrosa O Despertar da Química.......................................................................69 Ana Carolina Yamaguchi de Andrade (autora) e Vilma da Silva Verona (professora-orientadora) DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:08 PM Page 7 A Química na nossa mesa......................................................................89 Ingryd Rodrigues dos Passos (autora) e Roberto Fortunato Donato (professor-orientador) Um dia irei mudar o mundo................................................................101 Juliana da Silva Lavor (autora) e Vagner Barbosa de Lima (professor-orientador) Química verde – o caminho para o mundo melhor..............................111 Juliana Wallner Werneck Mendes (autora) e Maria de Fátima de Jesus Diniz Furriel (professora-orientadora) As faces da Química: os primeiros passos para o desenvolvimento sustentável.............................................................121 Lora Danna Pereira Sampaio (autora) e Lúcia Regina Silva dos Santos (professora-orientadora) Pequeno, mas grande sonhador ...........................................................129 Maíra Alves Barbosa da Silva (autora) e Alexandre Barros Oliveira (professor-orientador) Química verde e seus benefícios na sociedade atual..............................141 Natália Balbinott (autora) e Roseli de Ré de Oliveira (professora-orientadora) DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:08 PM Page 9 AGRADECIMENTOS A UNESCO agradece o envolvimento e o empenho das instituições participantes e co-organizadoras do Concurso de Trabalhos Escritos e Desenhos e do evento em comemoração ao Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento (10 de novembro). São elas: • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Academia Brasileira de Ciências (ABC) Agência Espacial Brasileira (AEB) Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI) Ciência em Show Comissão Permanente de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado Federal Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de C,T&I (CONSECTI) Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF) Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) Instituto Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque Instituto Sangari Interlegis Ministério da Saúde (MS) Ministério da Educação (MEC) Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM) Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF) Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SE/GDF) Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) Sociedade Brasileira de Química (SBQ) União Europeia Universidade de Brasília (UnB) Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional 9 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:08 PM Page 10 A UNESCO agradece, ainda, às duas comissões de especialistas que avaliaram os trabalhos apresentados para as categorias de trabalho escrito e desenho. Os membros das comissões estão listados a seguir. Comissão de Avaliação dos Trabalhos Escritos Airton Lugarinho Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF) Amanda Talamonte Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) Ary Mergulhão Filho Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Edvânia Rodrigues Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED)/Secretaria da Educação do Estado de Goiás (SEEGO) Eleni Roberta da Silva Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Fernanda Velloso Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Gerson Mol Sociedade Brasileira de Química (SBQ) Juliana Proite Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Leda Cardoso Sampson Pinto Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) Marcelo José Domingos Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) Maria Elisabete Ferreira Instituto Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque Michele Knop Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Otávio Borges Maia Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) Rafaela Marques Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) 10 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:08 PM Page 11 Comissão de Avaliação dos Desenhos Airton Lugarinho Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (SECT/GDF) Ary Mergulhão Filho Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Eleni Roberta da Silva Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Fernanda Velloso Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Juliana Proite Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Leonardo Nemer Afonso Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) Marcelo José Domingos Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) Michele Knop Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Rafaela Marques Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Ramón Martins Sodoma da Fonseca Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) Tereza Jorge Lasmar Instituto Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desse Concurso. 11 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 13 APRESENTAÇÃO Imagine-se entrando em sua casa após um dia de atividades. Um bom banho, roupas confortáveis e uma saborosa refeição, todos responsáveis por momentos especiais que virão de relaxamento e descanso. Enquanto relaxa profundamente, pode vir à sua memória a imagem de seu professor de Química do ensino médio com a seguinte pergunta: onde a Química está presente na sua vida? Como o seu professor foi muito bom, em vez de aterrorizar-se e entrar em pânico com a pergunta e com a imagem de seu mestre, você na realidade começa automaticamente a pensar em como a sua vida está muito melhor devido aos avanços da ciência. Água purificada, tratamento de esgoto e resíduos, tecidos com tecnologia aplicada à sua composição e lavagem com tratamento adequado para tornálos macios e confortáveis, enriquecimento de alimentos, medicamentos, tipos de iluminação adequada ao ambiente e muitas outras tecnologias embarcadas tornam as nossas vidas mais seguras e funcionais. Nem sempre notamos, mas a tecnologia está presente no trabalho, em casa e em todos os outros lugares que frequentamos. Com o objetivo de evidenciar a importância da Química e do ensino de Química, a UNESCO e a União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) estabeleceram 2011 como o Ano Internacional da Química sob o tema “Química – nossa vida, nosso futuro”. Trata-se de uma celebração mundial pelas realizações desse campo da ciência e suas contribuições para o bem-estar da humanidade, envolvendo sociedades científicas e acadêmicas, empresas e instituições no mundo todo. Neste ano, homenageia-se também a professora Marie Curie, cientista polonesa, duas vezes laureada com o Prêmio Nobel (1903 e 1911) por estudos no campo da radioatividade e pela descoberta de dois elementos químicos: o rádio e o polônio. No Brasil, a UNESCO e seus parceiros adotaram o tema do Ano Internacional da Química para o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento. Entre outras atividades, foi realizado um concurso de trabalhos escritos e desenhos que incentivou alunos do ensino médio a refletirem sobre a importância da Química em nosso cotidiano. 13 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 14 Neste livro, encontram-se os dez melhores trabalhos escritos e os dez melhores desenhos apresentados ao concurso. Este é um reconhecimento a todos os alunos e seus professores-orientadores que se sensibilizaram com o tema e a sua importância. Encontra-se, ainda, um capítulo técnico oferecido pela Sociedade Brasileira de Química – SBQ, escrito pelo professor Dr. Gerson Mol, sobre a importância da Química na vida das pessoas. A UNESCO e seus parceiros desejam agradecer o envolvimento de professores, alunos, cientistas e da sociedade em geral nas comemorações do Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento e nas atividades desenvolvidas na programação do Ano Internacional da Química. Vincent Defourny Representante da UNESCO no Brasil 14 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 15 ABSTRACT UNESCO Brasilia Office Natural Sciences Sector launched on 28 February 2011 an “Essay and Drawing Contest for Students” to celebrate the United Nations “World Science Day for Peace and Development” on 10 November. Secondary school students from all over Brazil were asked to write essays, oriented by teachers, and draw pictures on the theme “Chemistry: our life, our future”. This book contains the best ten pictures, as well as the best ten essays. The Contest award ceremony was held on 10 November 2011 in Brasilia. The Contest and the activities of the “World Science Day for Peace and Development” were promoted by UNESCO in partnership with the: Brazilian Sciences Academy (ABC); Brazilian Space Agency (AEB); Brazilian Association of Technological Research Institutes (ABIPTI); Ciência em Show; Permanent Commission of Science, Technology, Innovation, Communication and Information Technology (CCT) of the Senate; National Council of State Secretaries of Education (CONSED); National Council of State Secretaries for S,T&I Issues (CONSECTI); Research Support Foundation of the Federal District (FAP/DF); Brazilian Institute of Information on Science and Technology (IBICT); Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque Institute; Sangari Institute; Interlegis; Ministries of Science and Technology (MCT), Education (MEC) and Health (MS); United Nations Environment Programme (UNEP); Secretariat of the Interministerial Commission for Sea Resources (SECIRM); Science and Technology Secretariat of the Federal District (SECT/DF); Education Secretariat of the Federal District (SE/DF); Commercial Learning National Service (SENAC); Brazilian Society for Progress in Science (SBPC); Brazilian Chemical Society (SBQ); European Union; University of Brasilia (UnB) and Itaipu Binacional. 15 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 17 INTRODUÇÃO O ANO INTERNACIONAL DA QUÍMICA Gerson Mol* O telejornal da manhã anuncia: “Alerta de baixa umidade continua; tempo seco faz lotar hospitais e mudar até a cor da Lua”. Na reportagem, um profissional da saúde indica o uso de soro fisiológico para fazer inalação e hidratar o nariz. Para obter mais informação, a repórter pergunta: “E podese utilizar o soro caseiro simples, só com água, sal e açúcar e sem nenhum produto químico?” Infelizmente, essa ainda é uma visão muito comum, reforçada pela mídia: a química é algo indesejável. Devemos privilegiar os “materiais naturais” e evitar os que têm “produtos químicos”. Mas ainda hoje muitas pessoas não sabem que água, sal e açúcar são produtos químicos. Eles podem ser naturais ou manipulados; depende de como os encontramos. O açúcar é natural da cana, que lhe confere o sabor adocicado. Por meio de processos químicos e físicos é separado e podemos utilizá-lo no dia a dia para preparar nossas guloseimas. O soro fisiológico caseiro é um produto químico artificial que possui pelo menos três substâncias químicas: água (H2O), sal (NaCl) e açúcar (C12H22O11). Portanto, não há soro fisiológico “sem nenhum produto químico”. A baixa umidade indica que a quantidade de água presente no ar é tão pequena que causa desconforto às pessoas e aos animais. O nível de umidade do ar, a determinada temperatura, é dado pela razão entre a quantidade de vapor presente na atmosfera e a quantidade máxima de vapor de água possível * Bacharel e Licenciado em Química pela Universidade Federal de Viçosa, mestre em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutor em Ensino de Química pela Universidade de Brasília. Atua na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências – PPGEC – da Universidade de Brasília. É autor e coordenador do livro Química Cidadã e diretor da Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química. Pesquisa na área de inclusão, com foco no Ensino de Química a Alunos com Deficiência Visual, e no uso de novas tecnologias. 17 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 18 nessa temperatura. O ambiente fica mais confortável para os seres humanos quando a umidade do ar está entre 30% e 60%. Níveis de umidade abaixo de 30% causam desconforto: deixam a pele seca, aumentam a sensação de sede e podem ocasionar sangramento nas narinas. A Química está presente em todos os momentos de nossa vida, seja por meio das substâncias que constituem todos os materiais que nos rodeiam, seja por meio das transformações desses materiais. Muitas vezes não percebemos ou não nos damos conta de como a Química está presente em nossas vidas. É um pouco disso que veremos neste texto. A QUÍMICA E OS PERFUMES A humanidade faz uso de produtos químicos com o objetivo de realçar a “beleza” ou mesmo de cuidar da higiene pessoal há milhares de anos. Arqueólogos já descobriram sinais de uso de pinturas e perfumes com mais de 5.500 anos. Os gregos antigos utilizavam óleos para banho e outros cosméticos. Muitos materiais eram utilizados para realçar a beleza de homens e mulheres na Roma Antiga. De acordo com a origem grega, a palavra cosméticos significa adornar. Falar de cosmético é falar de Química, pois são os produtos químicos os responsáveis por filtrar os raios ultravioletas, pelo brilho e suavidade de cabelos recém-lavados, pela remoção da gordura e posterior hidratação da pele e, entre tantas outras atividades, pelo cheiro perfumado de homens e mulheres. A quantidade de cosméticos é enorme. Como seria muito difícil falar da química de tantos cosméticos, vamos nos concentrar em um grupo específico: os perfumes. Perfume vem do latim per fumun, que significa “através da fumaça”. As sociedades antigas da Mesopotâmia faziam uso de incensos por considerar que a fumaça de resinas e outras matérias orgânicas permitiam o contato dos humanos com os deuses a quem eram oferecidas. Os perfumes surgem e se desenvolvem em diferentes sociedades que tinham alguns aspectos em comum: a falta de hábito de tomar banho, a falta de sistemas de esgotos e a escassez de produtos de limpeza. Os aldeídos (substâncias que possuem o grupo funcional – CHO) são os grandes responsáveis pelo surgimento de fragrâncias artificiais que possibilitam a criação de novos aromas, mas o que caracteriza um perfume não é só uma substância cheirosa que se passa no corpo. Cada bom perfume é caracterizado por três grupos de substâncias denominadas notas. 18 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 19 As notas de saída, que são as substâncias mais voláteis (evaporam-se mais facilmente), são percebidas mais rapidamente pelo nosso olfato. Algumas não apresentam fortes odores e são utilizadas como solventes ou “veículos” de outras substâncias mais aromáticas. As notas intermediárias são constituídas por substâncias menos voláteis, o que faz que o aroma permaneça por mais tempo; elas caracterizam o perfume e lhe dão identidade. Essas substâncias são de massa molar baixa e suas moléculas apresentam baixa polaridade, fazendo que se liguem às moléculas de gordura da oleosidade natural da pele. As notas da base são formadas por substâncias de menor volatilidade, responsáveis pela fixação das demais substâncias, mas que também apresentam odores, embora menos característicos. Além de permitir a elaboração de perfumes mais complexos e eficientes, a Química proporcionou uma revolução nessa indústria. No início, a perfumaria se desenvolveu pela extração de produtos e substâncias aromáticas de plantas e animais. Essa forma de produção a partir de matéria-prima natural é limitada a pequenas quantidades das substâncias aromáticas presentes em matérias-primas específicas. Um bom exemplo dessa situação limitante é o caso do almíscar natural, cuja essência é extraída de uma glândula de veado almiscareiro. Como esse animal corre risco de extinção, o comércio mundial desse óleo foi limitado a 300 kg por ano. A perfumaria teve um grande avanço, a partir do século XIX, com o desenvolvimento da síntese química. Essa Química possibilitou a produção em laboratórios de substâncias que só são encontradas em pequenas quantidades na natureza. Dessa forma, além de evitar a extinção de espécies, a produção sintética permitiu baratear a obtenção da matéria-prima e, consequentemente, diminuir o preço dos perfumes. Dois bons exemplos são os óleos de rosa e o óleo de jasmim. Para se obter um quilograma de óleo de rosa são necessárias cinco toneladas dessas flores, o que eleva muito seu custo na produção de perfumes. O óleo de jasmim, por outro lado, pode ser obtido naturalmente a partir de cerca de oito mil flores, levando o custo à ordem de cinco mil reais por quilograma. Essa mesma quantidade óleo de jasmim pode ser obtida em laboratório pela bagatela de cinco reais. Os químicos identificaram mais de três mil óleos essenciais, sendo que alguns são separados e utilizados como ingredientes importantes na fabricação de perfumes. A análise química dos óleos essenciais permite identificar seus componentes ativos por meio da utilização de diferentes técnicas. Identificados esses componentes de odor agradável, os químicos buscaram formas de 19 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 20 sintetizá-los e tornar seu custo mais barato, ou sintetizar outras substâncias de estrutura molecular similar e que apresentem odores parecidos. Atualmente, essas substâncias caracterizadas por odores agradáveis são largamente produzidas e utilizadas em diferentes produtos que consumimos em nosso dia a dia, tais como perfumes, xampus, sabonetes, brinquedos infantis, alimentos etc. A QUÍMICA DOS MEDICAMENTOS Assim como Hipócrates (460-377 a.C.) é considerado o pai da Medicina, Philipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1541), conhecido como Paracelso, é considerado o pai dos medicamentos. Na faculdade de mineração, Paracelso iniciou seus estudos da Alquimia, sempre associando a teoria à pratica. Aos 14 anos de idade, partiu em busca de conhecimentos. Foi discípulo de Ambroise Paré, considerado o pai da cirurgia moderna. Por volta dos 20 anos, dizia-se doutor em Medicina, mas já rejeitava os ensinamentos acadêmicos e dizia que “um médico deve sair à procura de velhas comadres, ciganos, feiticeiros, tribos nômades, velhos ladrões e proscritos dessa espécie e aprender com eles. Um médico deve ser viajante (...) Conhecimento é experiência”. Com camponesas aprendeu o princípio da vacina quando essas colocavam num pequeno corte uma agulha infectada com varíola para produzir imunidade a essa doença. Desse aprendizado, começou a pregar que “o que adoece um homem também o cura”. Juntando seus conhecimentos nessas duas áreas, aderiu à iatroquímica (iatro, em grego, quer dizer medicina) pregando que a Química deveria ser o foco principal da Medicina. Dessa forma, prescreveu tratamentos que empregam substâncias que contêm átomos de cobre, zinco, chumbo e arsênico. Alguns desses tratamentos são utilizados até hoje. Buscando associar substâncias químicas à cura de doenças, utilizou também substâncias com átomos de mercúrio, antimônio, bismuto e cobalto. Para muitos, essa relação entre Tabela Periódica e medicamentos pode parecer estranha e descontextualizada, no entanto, atualmente muitas substâncias com átomos de elementos diferentes estão presentes em tratamentos terapêuticos estabelecidos e aprovados pelos órgãos de saúde pública. Como exemplo, vejamos para que as substâncias de alguns elementos químicos são utilizadas em tratamentos de diferentes enfermidades: Lítio – os sais de lítios são amplamente utilizados como antidepressivos, sendo indicados para pacientes com psicose maníaco-depressiva; Boro – na forma de ácido bórico, é utilizado como antisséptico em pequenas feridas, pois pode causar intoxicação se ingerido ou inalado; 20 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 21 Carbono – presente em substâncias orgânicas, está presente na maioria das substâncias químicas utilizadas como medicamentos, além de fazer parte de nossa constituição. É o elemento químico da vida e compõe medicamentos simples, como o acido acetilsalicílico (AAS, presente em medicamentos como a Aspirina); Nitrogênio – assim como o carbono, embora em menor escala, está presente em grande parte das moléculas de nosso organismo; por exemplo, na hemoglobina; Oxigênio – a substância oxigênio é fundamental para a vida dos animais e plantas. Algumas doenças pulmonares dificultam a absorção dessa substância pelos pulmões, exigindo que o paciente utilize ar artificial que possua uma concentração maior do que a presente na atmosfera; Flúor – é adicionado na forma de íon fluoreto à água potável, com o objetivo de proteger o esmalte dos dentes, por ser imune ao ataque de bactérias; Poderíamos listar aqui quase todos os elementos da Tabela Periódica, visto que átomos da grande maioria deles estão presentes em nosso corpo. No entanto, há que se lembrar que a indústria farmacêutica e a Medicina podem fazer uso de substâncias que contenham átomos de elementos químicos que não estão presentes em nossos corpos. A QUÍMICA NA COZINHA As transformações químicas estão presentes em praticamente todos os lugares. No entanto, em nossas casas, nenhum lugar se compara à cozinha, quando se fala em Química. A cozinha é o laboratório de nossas casas. É lá que diferentes ingredientes são transformados em apetitosos alimentos. O cozinheiro não é um químico porque, pela definição, para fazer Química é preciso ter conhecimento teórico dos materiais e das transformações que são realizadas, mas os cozinheiros e, principalmente, as cozinheiras são verdadeiros artistas. A Química está tão presente na cozinha que um considerável número de cientistas tem se dedicado a estudar e buscar explicações para as transformações que acontecem nesse cômodo de nossas casas. Em 1794, o cientista americano Benjamin Thompson Rumford já destacava a importância do desenvolvimento científico para o aprimoramento da culinária. Em 1825, foi publicado o livro que se tornaria a bíblia da gastronomia: A Fisiologia do Gosto. De autoria do francês Jean Anthelme Brillat-Savarin (1755-1826), até hoje esse livro é referência para cozinheiros e estudantes da cozinha. 21 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 22 Em 1902, o agraciado com o Prêmio Nobel de Química foi Hermann Emil Fischer (1852-1919), pelos trabalhos sobre a síntese dos açúcares. Seus trabalhos permitiram estabelecer o forte elo entre a Biologia e a Química, ao demonstrar que as proteínas são formadas por cadeias de aminoácidos, sob a ação de enzimas específicas. Além disso, determinou a estrutura molecular de diferentes substâncias, entre as quais a glicose, a frutose e a cafeína. A qualidade de um alimento vai ser definida a partir da sensação que ele desperta em cada um de nós. Para isso, vamos interagir com esse alimento por meio de todos os nossos sentidos. A visão nos proporciona a primeira interação, permitindo-nos avaliar características físicas, como cor, textura, tipo de ingrediente etc. A reação do tanino, presente na casca da banana, com o oxigênio do ar confere a ela cor escura, informando-nos que já não está mais em condições de ser ingerida. O olfato nos dá a segunda avaliação do alimento (em muitos casos, essa ordem é invertida). Por meio desse sentido, relacionamos substâncias voláteis a determinados alimentos ou mesmo a características referentes à qualidade. Às vezes, esse sentido estimula mais o apetite do que a visão. O etanoato de pentila (CH3COOC5H11) confere odor de banana a alimentos industrializados. O paladar é decisivo na avaliação de alimentos. Aparência e cheiro bons podem ser superados pelo sabor. Receptores distribuídos em nossas línguas identificam os gostos fundamentais: doce, ácido, salgado e amargo. O doce é conferido por carboidratos como a glicose (C6H12O6). O sabor ácido é conferido por substâncias como o acido acético (CH3COOH), presente no vinagre. O salgado é conferido, principalmente, pelo cloreto de sódio (NaCl), nosso famoso sal de cozinha. O sabor amargo pode ser produzido por diferentes substâncias, como a cafeína (C8H10N4O2), presente em chás e cafés. O tato da boca e dos lábios é utilizado para avaliar a qualidade de alimentos e fornecer informações sobre temperatura, forma, peso e consistência, complementando as informações percebidas pela visão, ou mesmo, suprindo sua ausência. A audição nos informa sobre a textura dos alimentos; alguns sons caracterizam bem alguns alimentos, gerando expectativa quanto à sua degustação. Quem não sente a boca salivar ao ouvir o som das pipocas explodindo dentro de uma panela? Esse estouro acontece porque o grão de milho de pipoca contém amido e água (cerca de 12%) envoltos por uma película muito resistente. Ao aquecermos o grão, a água é vaporizada, o que aumenta a pressão interna até o limite (aproximadamente nove vezes a pressão atmosférica) no qual o grão explode e o amido expande, conferindo-lhe uma textura macia e saborosa. 22 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 23 Entre as inúmeras explicações químicas para transformações que ocorrem em nossas cozinhas, vejamos algumas: • a estabilidade da maionese se deve à presença de moléculas de lecitina. A molécula de lecitina é formada por uma longa cadeia de átomos de carbonos unidos entre si; em uma das extremidades há um grupo de átomos que confere acúmulo de carga e, consequentemente, afinidade com a água, enquanto a outra extremidade tem afinidade com o óleo, o que permite que esses dois líquidos, normalmente imiscíveis, continuem misturados; • há muito tempo, o homem aprendeu que o fogo pode transformar o sabor e a textura dos alimentos. O churrasco é um alimento presente em todas as regiões de nosso país, devido ao apreciado sabor de uma carne assada ao ponto de agrado do consumidor. Em meados do século passado, cientistas descobriram, de forma acidental, que radiação na frequência de micro-ondas aquece alimentos ricos em água. Isso se deve ao fato de as moléculas dessa substância, embora neutras, possuírem distribuição de carga que faz que essa radiação cause rotação e oscilação. Esses movimentos são convertidos em calor. Para conciliar sabor e economia de tempo e energia, é comum o uso combinado das duas técnicas na produção de alimentos; • a busca por condimentos e especiarias que alterassem o sabor dos alimentos revolucionou a história da humanidade. No entanto, o uso dessas substâncias e materiais não está associado só ao sabor dos alimentos. Elas podem alterar também a cor, o valor nutricional, a textura e, principalmente, a vida útil dos alimentos. Por isso, os condimentos são classificados em grupos, entre os quais se incluem os aromatizantes (mentol – C10H20O), os acidulantes (ácido cítrico – C6H8O7) e os picantes (sinigrina – C10H16KNO9S2, presente na mostarda). A QUÍMICA EM NOSSO CORPO Após termos tratado da Química de perfumes, medicamentos e cozinha, vamos falar um pouco da Química em nosso corpo. Essa Química, por si só, é tão ampla que corresponde a um ramo da ciência que é uma intercessão entre a Química e a Biologia, denominada Bioquímica. Os dados a seguir representam a massa média de átomos de diferentes elementos em 100g de corpo humano: oxigênio - 65; carbono - 18; hidrogênio - 10; nitrogênio - 3; cálcio - 1.5; fósforo - 1; enxofre - 0.25; potássio 0.2; cloro - 0.15; sódio - 0.15; magnésio - 0.05; ferro - 0.006; flúor - 0.0037; 23 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 24 zinco - 0.0032; silício - 0.002; zircônio - 0.0006; rubídio - 0.00046; estrôncio - 0.00046; bromo - 0.00029; chumbo - 0.00017; nióbio - 0.00016; cobre - 0.0001; alumínio - 0.000087; cádmio - 0.000072; boro - 0.000069; bário - 0.000031; arsênico - 0.000026; vanádio - 0.000026; escândio 0.000024; mercúrio - 0.000019; selênio - 0.000019; manganês - 0.000017; iodo - 0.000016; ouro - 0.000014; níquel - 0.000014; molibdênio 0.000013; titânio - 0.000013; telúrio - 0.000012; antimônio - 0.000011; lítio - 0.0000031; cromo - 0.0000024; césio - 0.0000021; cobalto 0.0000021; prata - 0.000001; urânio - 0.00000013; berílio - 0.000000005. Essa amplidão nos obriga a restringirmos nosso enfoque; optamos por falar um pouco da Química ligada às sensações que sentimos diariamente. Quando discorremos sobre a Química da cozinha, citamos a sensação que sentimos pelo paladar ao colocarmos alimentos na boca. A sensação de doce, salgado, amargo ou azedo depende das substâncias presentes nos alimentos. No entanto, para termos essas diferentes sensações, é necessário que nossas papilas gustativas interajam de forma diferenciada com as substâncias, ou seja, é preciso que apresentem diferentes constituições químicas. Como a boca e os alimentos são naturalmente úmidos, as interações que provocam sensação de sabor estão associadas a interações com a água. Muitas substâncias presentes nos alimentos possuem em suas moléculas átomos de hidrogênio ligados a átomos de oxigênio e a nitrogênio próximos. O primeiro grupo (–O–H) será um doador de prótons, enquanto o segundo (–N–H), um receptor de prótons. Nos receptores presentes em nossa boca, há proteínas que também possuem moléculas com essa característica. Se as moléculas do alimento apresentam esses grupos conjugados, suas interações com as proteínas dos receptores nos passam a sensação de doce. No entanto, se as moléculas do alimento não apresentam essas interações conjugadas, mas, sim, uma delas em maior quantidade do que a outra, a sensação que percebemos é a de amargo. Essas interações são do tipo ligação de hidrogênio. O sabor azedo também é percebido por meio de interações do tipo ligação de hidrogênio, devido à presença de ácidos orgânicos nos alimentos. Esses ácidos possuem moléculas que contêm a carbonila (–COOH). Já o sabor salgado é percebido por meio de papilas que interagem eletrostaticamente com íons, principalmente o sódio e o potássio. Quando nosso corpo associa a sensação de sabor à de odor, temos a sensação de aroma. Várias são as substâncias que nos conferem sensação de odor. Muitas delas, por causarem sensação agradável de odor, são denominadas aromas e são utilizadas na fabricação de vários produtos, como os perfumes 24 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 25 e os alimentos. Para que as substâncias nos causem sensação de odor, é preciso que suas moléculas apresentem determinadas características que lhes permitam chegar aos receptores olfativos e interagir com o muco, uma solução aquosa de proteínas e carboidratos. As moléculas das proteínas que ingerimos em nossos alimentos são constituídas basicamente por átomos de carbono, oxigênio e hidrogênio, mas também possuem átomos de nitrogênio e amônia. Bactérias presentes em nossos intestinos decompõem essas proteínas e produzem amônia e sulfeto de hidrogênio. São esses os gases responsáveis pelo mau cheiro das flatulências. Outras sensações de nossos corpos também estão associadas à presença e à ação de substâncias químicas. O cortisol, hormônio produzido pela glândula suprarrenal em resposta a situações de estresse, atua por meio de ações que estimulam a quebra de proteínas e o metabolismo da glicose no fígado, propiciando energia muscular extra ao indivíduo. A adrenalina, hormônio também secretado pelas glândulas suprarrenais em situações de estresse, prepara o corpo para grandes esforços físicos. Lançada na corrente sanguínea, causa broncodilatação e aceleração dos batimentos cardíacos, preparando o corpo para reações que exigem rapidez e força, tais como fuga ou luta. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Organização das Nações Unidas, ao considerar 2011 como o Ano Internacional da Química, tem por objetivo aumentar o reconhecimento da Química no mundo, incentivando jovens a seguir carreiras nessa ciência. Além disso, por coincidir com o centenário do aniversário do Prêmio Nobel concedido a Madame Marie Curie, pela descoberta dos elementos químicos rádio e polônio, celebra as contribuições das mulheres para a ciência. Ao percebermos como essa ciência e seu objeto de estudo – as substâncias e os materiais – estão presentes em nossas vidas, torna-se fácil concluir que não teríamos uma sociedade tão evoluída tecnologicamente se o conhecimento químico não tivesse avançado tanto. Como outras formas de conhecimento, temos de ter claro que o que faz que uma ciência, ou mesmo a tecnologia, seja boa ou má é a forma como a sociedade a aplica. Quando a umidade do ar estiver muito baixa, use soro caseiro, mas não se esqueça de que você também é Química. Faça uso consciente de seus conhecimentos de Química e viva melhor. 25 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 26 BIBLIOGRAFIA DÓRIA, C. A. O nascimento da gastronomia molecular. In: THIS, H. A ciência na cozinha: Hervé This e os fundamentos da gastronomia molecular, v. 1. São Paulo: Scientific American Brasil, Duetto Editorial, 2010. MAAR, J. H. Pequena história da química, parte 1: dos primórdios a Lavoisier. Florianópolis: Ed. Papa-livro, 1999. REZENDE, C. M. Há algo no ar: a química e os perfumes. Ciência Hoje. São Paulo, v. 48, p. 27-31, 2011. 26 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 27 Categoria DESENHO DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 29 Mulheres e química, mistura perfeita de delicadeza e surpresa 1º Lugar Louys Lene Martins da Silva, 16 anos 2º ano do ensino médio Irany Silva de Souza (professora-orientadora) Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco João Pessoa, PB 29 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 30 Há mulheres que desistem e outras que persistem… 2º Lugar Maycon Douglas Silva Soares de Araújo, 16 anos 2º ano do ensino médio Ângela Cristina Schempp Pires (professora-orientadora) Escola Estadual Professor Valério Strang Mogi Mirim, SP 30 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 31 Química, evolução e transformações 3º Lugar Ualesson Miguel de Melo, 16 anos 2º ano do ensino médio Sólon Almeida Barretto (professor-orientador) Escola de Educação Básica e Profissional Desembargador Pedro Ribeiro de Araújo Bittencourt - Fundação Bradesco Irecê, BA 31 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 32 Química: buscando melhoria para nossas vidas e de nosso planeta Menção Honrosa Alexandra Silva Braga, 15 anos 1º ano do ensino médio Cristina Costa Luz (professora-orientadora) Escola Estadual Irmã Sá Parintins, AM 32 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 33 Mulher: um desafio no tempo Menção Honrosa Bianca Melissa Holanda dos Santos, 15 anos 1º ano do curso técnico em mineração integrado ao ensino médio Emmanuele Maria Barbosa Andrade (professora-orientadora) Instituto Federal de Ciências e Tecnologia do Amapá Macapá, AP 33 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 34 Química: desde os primórdios vitais à tecnologia atual Menção Honrosa Johnatan Souza da Silva, 16 anos 2º ano do ensino médio Rodolfo de Oliveira Castro (professor-orientador) Colégio Desafio Goiânia, GO 34 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 35 Da gestação de uma nova química depende a preservação da vida Menção Honrosa Letícia Miranda Ferreira da Silva, 17 anos 3º ano do ensino médio Aline Pires de Araújo (professora-orientadora) Instituto Educacional Santa Terezinha Bragança Paulista, SP 35 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 36 O homem é responsável pela evolução do universo e a diminuição da ignorância e das dores da Humanidade Menção Honrosa Mariline Schab, 16 anos 2º ano do ensino médio Juliane Nadal Dias Swiech (professora-orientadora) Colégio Marista Pio XII Ponta Grossa, PR 36 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 37 A química da vida Menção Honrosa Pedro Sávio Martins Rosa, 16 anos 1º ano do ensino médio Luiz Claúdio Pinheiro Rodrigues (professor-orientador) Instituto GAYLUSSAC Niterói, RJ 37 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 38 O futuro do nosso planeta e dos seres vivos que nele habitam está em nossas mãos Menção Honrosa Renan Maia dos Santos Pereira, 18 anos 4º ano do curso normal (ensino médio) Bárbara da Silva Furtado (professora-orientadora) Colégio Estadual Hilka de Araújo Peçanha Itaboraí, RJ 38 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 39 Categoria TRABALHO ESCRITO DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 41 1º LUGAR O PAPEL DA QUÍMICA NO DESENVOLVIMENTO Estudante: Bárbara Sakamoto Ligero, 14 anos, 1º ano do ensino médio Professora-orientadora: Maria Celeste de Souza Colégio Guilherme Dumont Villares - São Paulo, SP RESUMO A ciência está em evidência. Os problemas mais debatidos atualmente são os ambientais. O estilo de vida das pessoas atualmente também é muito discutido. A solução para tais conflitos será encontrada por meio de muita pesquisa. Desde que deixou de ser considerada heresia, a Química trouxe grandes melhorias. Ela revolucionou o modo de vida das pessoas, acelerando as inovações. Foram desenvolvidos medicamentos, combustíveis e tratamentos de água, mas também foram criadas armas, bombas, e houve aumento na poluição. A Química é muito importante para o desenvolvimento econômico, essencial para a humanidade atualmente. As pessoas consomem principalmente produtos industrializados, não se utilizam produtos completamente naturais como no passado. O processo industrial é fortemente ligado à Química. É fundamental investir na pesquisa no setor químico, tendo em vista também a urgente necessidade de se encontrar tecnologia sustentável. A Química pode não somente trazer inovação, como solucionar problemas já existentes. Pessoas ilustres como Marie Curie, química, revolucionaram o mundo como era conhecido. Mudanças são necessárias para que melhorias aconteçam. Acomodada, a humanidade dificilmente evoluirá. 41 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 42 INTRODUÇÃO Este trabalho traz uma reflexão sobre o papel do conhecimento científico na sociedade. O saber, embora contraditório, pode trazer benefícios e malefícios. Em ambos os casos, as consequências dependem de outros conhecimentos, inclusive da sensibilidade daqueles que usarão os saberes produzidos. A Química, sendo uma das ciências mais influentes no desenvolvimento humano e econômico, tem sido julgada como boa e como ruim ao mesmo tempo. Para analisar o problema a fundo, o tópico “A Química no decorrer dos séculos” traz uma retrospectiva com enfoque nas mudanças que a industrialização trouxe. O presente é um reflexo do que foi feito no passado, e o estudo da história esclarece o estilo de vida contemporâneo. Assim, nesse tópico, é exposta a origem dos problemas de hoje. A Química é fundamental para a produção. Ela se tornou essencial na vida humana. O tópico “A Química no século XXI” traz uma reflexão sobre a importância da Química e seus impactos na natureza; nessa parte, também se trata da forma com que a humanidade tem enfrentado conflitos. A contribuição deste trabalho, porém, associa-se ao fato de que é preciso investir na busca de conhecimento químico, a fim de ampliar as possibilidades de criação de um novo modelo de industrialização mais sustentável. O que todos esperam é que a Química venha a ser mais que uma ciência complexa e de conhecimento restrito, para tornar-se mais presente no cotidiano das pessoas, a fim de que elas possam tomar decisões conscientes sobre o consumo de produtos industriais, sobre o lixo, o uso da água etc. Enfim, o que se espera é uma maior consciência de que a Química está em toda a parte. A QUÍMICA NO DECORRER DOS SÉCULOS Historicamente, a humanidade passou por grandes mudanças. Em sentido global, onde tudo está inter-relacionado e é interdependente, uma revolução específica pode alterar os vários campos sociais, econômicos e políticos. O domínio do fogo, por exemplo, abriu caminho para mudanças até mesmo físicas no ser humano. O estilo de vida do século XXI está fortemente ligado a mudanças ocorridas há quatro séculos. A colonização unificou o mundo por meio da economia. Os países europeus colonizadores adquiriam muito poder e influência uns sobre os outros, tornando-se ainda mais competitivos. Em meados do século XVIII, a Inglaterra era considerada a grande potência do planeta, já que controlava a maior 42 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 43 parte das colônias. Assim, o principal objetivo das grandes nações era ter o maior número possível de terras. Nos países colonizadores, a política e a sociedade se adaptavam às novas condições. Como o comércio internacional estava em alta, havia uma grande preocupação de se produzir em grande quantidade e em menor tempo. As terras agrícolas, antes cultivadas pelos camponeses, passaram a ser administradas pela aristocracia. Tais mudanças resultaram em grandes migrações de camponeses para a cidade, onde havia cargos de manufatura. A busca pelos melhores produtos trouxe a necessidade de inovação. A agricultura se promovia com o surgimento de novas técnicas, e os trabalhos de manufatura passaram a contar com o auxílio de máquinas – as mais recentes invenções. Dessa forma, a produção, além de ser feita com melhor qualidade, tornou-se mais rápida em relação às formas tradicionais. Surgiu, então, um novo estilo de produção. Esse período ficou conhecido como Revolução Industrial. A população teve de se adaptar às novas condições. A maioria, que antes era camponesa, mudou-se para a cidade, a fim de trabalhar nas indústrias. Essas pessoas ficaram conhecidas como proletários ou operários assalariados, e quem os contratavam eram os empresários capitalistas. O proletariado perdeu seu valor, já que era encontrado em grande número. O trabalho nas indústrias era difícil e desvalorizado. Eram aceitos operários mesmo menores de idade, e a jornada de trabalho podia chegar a catorze horas diárias. Não havia garantias de segurança ou aposentadoria. Com o passar do tempo, o proletariado lutou pelos seus direitos, constituindo alguns dos princípios que atualmente estão nos Direitos Humanos. A vida desses operários e a luta por melhores condições de trabalho são bem descritas no romance Germinal, de Émile Zola. Assim como eram produzidos, todos os produtos deveriam chegar ao seu consumidor rapidamente. O mundo foi unificado pela economia: navios ligavam continentes, e estradas tornavam países e cidades mais próximos. Nesta fase, desenvolveram-se formas mais rápidas de locomoção. A partir do século XIX, a sociedade passou por mudanças marcantes em seu estilo de vida. Os mais poderosos passaram a ser os burgueses, e as grandes potências seriam importantes para o comércio mundial. A busca por conhecimentos científicos era reflexo da sede por poder. Teve início uma fase muito importante para o crescimento da Química, antes considerada como bruxaria. Nesta fase da humanidade, ocorreram melhorias no estilo de vida das pessoas. A eletricidade passou a ser utilizada, e novas pesquisas possibilitaram 43 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 44 o uso do petróleo em automóveis. A saúde da população melhorou devido à criação de alguns medicamentos, como a aspirina e o antibiótico. A relação entre populações distantes ficou mais fácil com as ferrovias e os telégrafos. Esse período ficou conhecido como Belle Époque. Uma pessoa, nessa época, poderia crescer economicamente, independentemente de suas origens. Desde os primórdios, os ancestrais definiam que função uma pessoa desempenharia na sociedade: um filho de pescador tendia a ser pescador, porém a burguesia possibilitava que um pequeno comerciante evoluísse em seu negócio e crescesse economicamente. As pessoas passaram a ter um apego ainda maior pelo dinheiro. A desigualdade social, porém, não deixou de existir. Os operários e camponeses viviam em situação muito inferior aos burgueses, e as mulheres ainda eram vistas como inferiores aos homens. Além disso, os povos colonizados tinham suas riquezas levadas por seus colonizadores. Enquanto os países europeus viviam uma fase de bem-estar, populações dos países da América, África e Ásia passavam necessidade. Consequentemente, as emigrações tornaram-se comuns; pessoas de regiões pobres saíam para países industrializados em busca de melhores condições de vida. O mundo globalizado gerou conflitos entre os países industrializados. A busca por poder levava-os a competir pelo domínio de terras e aliados comerciais. Essas nações deram início a conflitos bélicos entre si e, dessa forma, as armas de guerra tornavam-se cada vez mais desenvolvidas. Todas as mudanças e o progresso, ao invés de tornarem o mundo melhor, trouxeram conflitos, como as guerras mundiais. A Primeira Guerra Mundial aconteceu devido à competição por áreas de influência e poder sobre outras nações. Havia, inclusive, uma corrida tecnológica. Todo o desenvolvimento tecnológico estava voltado para uso em batalha: novas estradas estavam sendo construídas, automóveis passaram a ser ainda mais usados, assim como submarinos, tanques e aviões. Na indústria química, desenvolveram-se gases, como a iperita, que eram letais aos inimigos. Os conflitos, portanto, trouxeram desenvolvimento científico. Após alguns anos, estourou a Segunda Guerra Mundial, trazendo ainda mais progresso científico. A Europa enfrentava o nazismo, período em que muitos judeus foram mortos em câmaras de gás quimicamente nocivo ou eram usados como cobaias para experimentos. Nesse período, foram presenciados os principais ataques altamente destrutivos relacionados à Química – as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki foram atacadas com bombas nucleares. A guerra termina em 1945 e, em seguida, a Organização das Nações Unidas (ONU) é fundada. 44 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 45 Do século XVIII ao XXI, os países voltam-se principalmente para o comércio internacional e a qualidade de suas indústrias. Tais fatores os definem como desenvolvidos ou subdesenvolvidos. A economia, portanto, é baseada no desenvolvimento tecnológico, o que leva a sociedade a buscar mais informação. Os principais países são os com mais conhecimento, e aqueles que não os tem acabam inferiorizados. Essas mudanças na humanidade originaram o estilo de vida do século XXI. Observando essa série de acontecimentos, pode-se seguir por dois caminhos ao imaginar o que o futuro aguarda: ou a humanidade, daqui a mil anos, será um completo mistério devido a futuras revoluções; ou permanecerá a mesma, entrando em crise. Cabe às pessoas de hoje definirem o amanhã. A QUÍMICA NO SÉCULO XXI O conhecimento da Química é indispensável para a evolução da humanidade. Desde o século XVIII, ela se tornou parte de qualquer processo industrial, trazendo grandes melhorias para a vida humana. A partir daí, muito se evoluiu, e sem ela pouco poderá ser desenvolvido. O estudo e aplicação dessa ciência trouxeram, e podem continuar trazendo, revoluções na sociedade. Recentemente, houve grandes investimentos no setor químico. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química, a aplicação de dinheiro no conhecimento científico se torna representativo quando é comparado com o lucro obtido pelas indústrias. O investimento na Química trouxe muitos benefícios. A água e os esgotos passaram a ser tratados. Novos medicamentos foram desenvolvidos, e a produtividade agrícola melhorou. Além disso, os meios de locomoção tiveram contribuições químicas para funcionarem. Porém, por muito tempo, as descobertas eram vistas de forma tão positiva que não havia a preocupação com suas possíveis consequências. A Química está envolvida em qualquer processo industrial. Como a maioria do que consumimos é produzido em indústria, essa ciência está presente em nosso cotidiano. O processamento de matéria-prima acarreta a eliminação diária de resíduos. As consequências trazidas pela Química são grandiosas. Os resíduos gerados por essas fabricações são excessivos. Esse “lixo”, na maioria das vezes, vai para o solo, para a água ou para o ar. Tais resíduos químicos poluem e colocam em risco a saúde da população. Raramente eles são eliminados corretamente. Muita matéria-prima é necessária para a produção em indústrias. A exploração de recursos esgotáveis é insustentável. Essas empresas acabam por 45 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 46 agredir a estabilidade do meio ambiente. São poucas as empresas que visam a reposição do que é por eles extraído da natureza. O modo de vida e de pensamento dos indivíduos do século XXI tendem a visar primeiramente o dinheiro no presente do que as consequências futuras. Como a ciência se tornou fonte de poder, o que se faz com ela passou a ser ilimitado, e consequentemente nocivo ao futuro do planeta. Isso explica os danos trazidos pela indústria química. A Química, porém, não é unicamente nociva. Os conhecimentos científicos estão ligados à evolução humana, já que são fundamentais para a formação de ideias. Desde os primórdios, o avanço da humanidade ocorre graças a invenções e mudanças baseadas no que já se sabia; porém, paralelamente às boas criações, devido ao mal uso delas, surgem consequências negativas. Os problemas ambientais estão diretamente ligados às ciências. A responsabilidade dos produtos científicos, porém, não pode ser atribuída aos seus inventores ou descobridores. Os conhecimentos científicos, sendo de direito público, podem ser nocivos à natureza ou não, dependendo de quem os utiliza. Qualquer dano à natureza, portanto, surgiu de alguma forma ruim de uso da ciência. O impacto individual no planeta é surpreendente. A grande barreira para que um novo estilo de vida seja implantado são os nossos valores. Esses valores já fazem parte da mentalidade de uma pessoa desde o berço, e é um longo caminho até que mudanças realmente ocorram. As ideias de gastos menos excessivos e de coletividade devem ser implantadas. As marcas que são deixadas no mundo, mesmo não sendo de pessoas especialmente ilustres, têm um grande impacto. Historicamente, tudo o que era novo e moderno deveria ser aplicado. Dessa forma, a destruição de uma floresta para a construção civil não era vista negativamente; pelo contrário, era sinônimo de progresso e evolução humana. A natureza, por não ser criação do homem, acabou sendo desvalorizada. Destruição não é sinônimo de progresso. É possível que uma nação cresça economicamente evitando degradar a vida natural. A própria biodiversidade pode ser usada como fator diferencial no desenvolvimento de um país. O verdadeiro crescimento só será contínuo caso esteja desligado de destruição. Toda ação teve uma reação proporcional a ela. Assim, boa parte das medidas humanas futuramente causarão, e causaram, um efeito sobre o meio ambiente. Tantas consequências são reflexo do que se tem feito a longo prazo: agora a medida a ser tomada é reparar os danos e impedir que eles aconteçam novamente. 46 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 47 Porém, as pessoas tendem a buscar uma situação que, mesmo imperfeita, seja confortável a elas. Por acreditarem que os danos causados pelo ser humano na natureza não as afetam, eles não lhes causam preocupação. Ações individuais não têm valor, e a responsabilidade é passada para o governo. O conforto inibe a vontade de mudança. Assim surge o comodismo: o preferível é o mais próximo e fácil. O humano acomodado raramente é inovador. As pessoas costumam se considerar irrelevantes frente a problemas mundiais. Não se tem a noção de que grandes resoluções surgem de pequenas ações. O que não atinge diretamente uma pessoa, normalmente não lhe causa preocupação. O comodismo pode ser o veneno da evolução. Sem o desejo de mudança dificilmente há inovação. Uma situação aparentemente boa nem sempre trará boas consequências. A busca por melhoria deve ser constante. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pesquisas e descobertas recentes nos mostram que muitas das aplicações da Química causam efeitos negativos na natureza. Dejetos químicos podem ser altamente tóxicos para o solo. A fumaça emitida pelos automóveis e outros gases mostraram-se ofensivos à camada de ozônio. Assim como outros produtos do conhecimento, os da Química podem ser benéficos ou nocivos, dependendo da forma como são usados. O desequilíbrio do meio ambiente afeta todos os seres humanos, mesmo que indiretamente. A destruição de matas pode estar ligada à extração de matérias-primas fundamentais à produção de itens disponíveis no mercado. Assim, as florestas estão ligadas ao cotidiano de todos os seres humanos por meio de tudo o que é por eles consumido. O desenvolvimento humano, ao invés de trazer apenas melhorias, acaba resultando em grandes danos nas áreas de saúde, meio ambiente e relações sociais. Quanto mais avançamos, mais destruímos. É preciso, primeiramente, que as pessoas se conscientizem de que não haverá mudança sem a participação delas e, finalmente, que se mobilizem em busca de meios sustentáveis. É fundamental que as pessoas avaliem o que é necessário e o que é excedente. Sustentabilidade tem sido um tema constantemente abordado. A humanidade parece ter percebido, finalmente, as consequências que alguns de seus atos trazem a longo prazo. Sendo impossível mudar o que já foi feito, procuramse novos modos de progredir sem futuros prejuízos. Para isso, deve-se adquirir uma nova maneira de pensar em relação ao que pode ser usado. O desenvolvimento humano, muitas vezes, está ligado à destruição da natureza. Em certo momento da história, países desenvolvidos chegaram a 47 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 48 concluir que apenas parando o crescimento tecnológico seria possível acabar com os desmatamentos. Novas ideias, porém, surgiram e iniciou-se a busca por sustentabilidade. É fundamental a contribuição individual para acontecerem melhorias ambientais. É fato que a grande maioria da população que vive em área urbana não vê a importância das florestas em sua vida. Pior ainda: são poucos os que realmente fazem algo por ela. O que essas pessoas não têm é o conhecimento de que a destruição da natureza também os afeta. Dessa forma, não dão relevância a questões ambientais. As florestas fazem parte do dia a dia de todos, porque as matérias-primas utilizadas em produtos e alimentos que consumimos são extraídas delas, independentemente do local onde as pessoas vivem. Dessa forma, não há como um cidadão urbano não ser afetado pela destruição da natureza. As nações não devem e não precisam deixar a Química de lado para manter a natureza e sua biodiversidade: os conhecimentos científicos podem ser a chave para a solução dos problemas da humanidade e novos caminhos de desenvolvimento sustentável. Ela é o meio pelo qual se chega a produtos biodegradáveis e recicláveis. Também por meio de seus conhecimentos os ambientes poluídos podem ser recuperados e voltar ao seu estado original. A resposta, por tanto, está na utilização dos conhecimentos científicos. O papel da Química passou a ser principalmente a busca de uma forma por meio da qual as nações continuem progredindo sem degradar os recursos naturais. Conhecer o assunto, portanto, é a base para entender a fundo o que deve ser mudado e, em seguida, para que aconteçam reais mudanças. O desenvolvimento humano está relacionado intimamente com a natureza, por isso, ele não pode ser imediato: é preciso que haja condições ideais para acontecer. O progresso contínuo requer produção e preservação, e a Química é o grande diferencial para se encontrar o equilíbrio entre esses dois fatores. BIBLIOGRAFIA AGSOLVE. Tratar resíduos é alternativa para controlar poluição. 31 mai. 2007. Disponível em: <http://www.agsolve.com.br/noticia.php?cod=5>. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA. Site da Associação Brasileira da Indústria Química. Disponível em: < http://www.abiquim.org.br >. Acesso em: ago. 2011.. BONIFAZI, E.; DELLAMONICA, U. Descobrindo a história: Idade Moderna e Contemporânea. São Paulo: Editora Ática, 2002. 48 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 49 HISTÓRIA DO MUNDO. Revolução Industrial: história da Revolução Industrial. Disponível em: <http://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/revolucaoindustrial.htm>.Acesso em: ago. 2011. RIJO FURTADO, M. Resíduos industriais. Portal Química. Disponível em: 49 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 51 2º LUGAR CIÊNCIA: UMA EXPANSÃO FEMININA Estudante: Ana Raquel Ferraz Rameiro, 16 anos, 2º ano do ensino médio Professora-orientadora: Kátia Aparecida da Silva Aquino Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco - Recife, PE INTRODUÇÃO Neste ano de comemoração do centenário do Prêmio Nobel de Marie Curie, é natural a reflexão acerca da efetiva participação das mulheres nas ciências naturais. Afinal, essa participação feminina na descoberta de teorias e leis científicas foi sempre prestigiada e aceita? Na realidade, a trajetória de mulheres na conquista da ciência não foi algo tão trivial assim, o ideal de misoginia era bastante recorrente no passado. Desde a Antiguidade, as mulheres vêm sofrendo diversos tipos de retaliação no que concerne a suas tentativas de interpretação do mundo sob a luz da ciência. Hipácia, MarieAnne-Lavoisier, Marie Curie, Irène Juliot-Curie, Dorothy Hodgkin, Ida Noddack, Lise Meitner e Elisabeth Rona foram algumas das principais construtoras de uma ciência essencialmente feminina, que atualmente atrai muitas mulheres para a área das ciências naturais em geral, inclusive no Brasil, que conta com uma participação crescente delas em suas universidades e academias científicas. DESENVOLVIMENTO Considerando a participação feminina na ciência, Eric Sartori, engenheiro francês da École Supérieure de Physique et Chimie, tem divulgado recentemente diversos títulos a respeito do tema, um dos quais é História das Mulheres Cientistas, no qual aponta frases de Charles Darwin e Kant, considerando seus posicionamentos relativos à inferioridade das mulheres na realização de trabalhos intelectuais. Somente a título de exemplificação, o pensamento de Darwin acerca da condição feminina imiscui-se em tendências 51 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 52 evolucionistas utilizadas por ele para esclarecer aspectos científicos sobre os seres vivos: “A mulher parece diferir do homem nas disposições mentais, principalmente em maior ternura e menor egoísmo. Isso se verifica mesmo entre os selvagens, como mostram uma passagem conhecida das Viagens, de Mungo Park, e os testemunhos de muitos viajantes. A mulher, graças ao instinto materno, manifesta em alto grau essas qualidades diante dos filhos pequenos. É, pois, verossímil que ela frequentemente o estenda até seus semelhantes. O homem é rival dos outros homens; compraz-se na competição, o que o leva à ambição, que passa facilmente ao egoísmo. Essas qualidades parecem ser um direito natural e deplorável que ele assume ao nascer” (A Origem do Homem, capítulo XIX). Há a noção imbuída no fragmento de uma natureza intrínseca da mulher, responsável por seu papel mental e social diante do homem, o que não corresponde à realidade, uma vez que a mulher, inserida em seu contexto sociocultural, não está impedida fisiologicamente de exercer plenamente a intelectualidade que a ciência requer. Essas ideologias, em voga nos séculos XVIII e XIX, perduraram por pouco mais de um século e somente começaram a ser reavaliadas muito recentemente, na década de 1950. Como se processou, então, o percurso das mulheres inovadoras da ciência ao longo da história? Uma das primeiras a se destacar foi Hipácia, uma matemática do século V, em Alexandria. Ela era, como muitos outros professores e filósofos, encarregada de repassar as ideias, a arte, os conhecimentos de moralistas, pensadores e historiadores para filhos e filhas de cidadãos da cultura helenista. Hipácia desenvolveu importantes conhecimentos relativos à astronomia e estabeleceu as bases para a criação do astrolábio e do planisfério. Note-se que, sem o planejamento do astrolábio, as Grandes Navegações do século XVI se tornariam praticamente inviáveis, impossibilitando a descoberta do chamado Novo Mundo. Talvez o próprio Brasil não tivesse sido descoberto! Devido às suas qualidades intelectuais e morais, além de sua extraordinária beleza, Hipácia era muito benquista por todos. Em decorrência disso, incitou ódio e inveja no bispo Cirilo, ao afirmar ser o universo governado por leis matemáticas. Foi perseguida, arrastada pelas ruas da cidade, morta a pedradas e esquartejada. Essa situação elevou Hipácia à condição de primeira mulher mártir da ciência. Ela edificou outras maneiras de se elaborar o pensamento lógico-racional, livre dos cânones meritocráticos masculinos. Já na Idade Média, a Igreja Católica exercia um papel de inibidor da atividade intelectual em geral, inclusive feminina. Não obstante, trancafiadas em conventos, algumas mulheres de diferentes classes sociais se lançaram à 52 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 53 escrita de enciclopédias e manuais, uma das quais foi Hildegard, que prestou contribuição às ciências farmacológicas, influenciada pela ideia de que o mecanismo da cura tinha relação com espécies de plantas cultivadas em hortas domésticas. Com o passar desses chamados tempos do obscurantismo, nos quais a mulher teve pouca ou quase nenhuma possibilidade de interferir nas ciências naturais, renasce, enfim, nos séculos XV e XVI, parte da cultura clássica. Os ideais humanistas abrem, então, perspectiva ao engajamento feminino em pesquisas de cunho científico. Nessa época, porém, as mulheres ainda estavam restritas à observação de experiências em laboratório, realizadas principalmente por parentes do sexo masculino, fossem estes irmãos ou maridos. Exemplos coerentes com esse contexto são os de Sophie Brahé, que observou estrelas no laboratório de seu irmão, Tyco Brahé; e o de MarieAnne-Lavoisier, que tomava notas à medida que assistia às experiências de seu marido, Antoine Lavoisier, cientista que elucidou as relações de massa entre reagentes e produtos participantes de reações, conhecidas como leis ponderais. Essas leis possibilitaram a noção de transformação da matéria e da troca de átomos nas reações químicas. Marie-Anne-Lavoisier traduziu os exemplares do marido do inglês para o francês, além de ilustrar inúmeras publicações. Não fosse seu trabalho, talvez muitos dos livros de Antoine Lavoisier tivessem sido perdidos. Tarefa semelhante exerceu a primeira mulher de Einstein, já no século XIX, chamada Mileva Maric, que solucionou cálculos matemáticos para o marido. Por isso, ela é considerada, por alguns, coautora da Teoria da Relatividade. Todo o exposto até agora, corrobora, enfim, uma visão importantíssima da mulher na construção da ciência, direta ou indiretamente. A paixão pelo conhecimento foi, com certeza, a razão pela qual muitas correram o risco de enfrentar os preconceitos da época. Resgatar o papel dessas desconhecidas é fator importante para que possamos revalorizar a capacidade feminina de realizar atividades intelectuais antes puramente designadas a rapazes. É preciso reconhecer, depois de tudo isso, que não fossem essas modestas contribuições, não existiriam hoje muitas das ferramentas a que estamos habituados, cujos princípios foram pioneiramente elaborados por mulheres, ainda que sem incentivo, haja vista as adversidades do período, com ousadia e primor. A partir de 1901, a Real Academia de Ciências da Suécia iniciou a entrega do Prêmio Nobel – instituído por Alfred Nobel, químico sueco inventor da dinamite – a pessoas que descobriram técnicas pioneiras ou realizaram contribuições importantes à sociedade, agraciando-as com medalhas, dinheiro e prestígio. Desde esse período, destacaram-se três importantes cientistas na 53 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 54 conquista do Nobel. A influência do meio intelectual em que cresceram foi um fator decisivo, que estimulou essas mulheres em função da busca profissional. Faz-se mister, portanto, conhecer um pouco da vida e da história dessas três personagens imprescindíveis na carreira científica. Marie Sklodowska era filha de um professor de gymnasium e de uma diretora de escola. Nasceu em Varsóvia, Polônia, em 7 de novembro de 1867. Sua família sofreu diversas perseguições políticas em decorrência de uma fracassada empreitada contra a Rússia, fato que moldou uma personalidade empreendedora de Marie. Até esse período, a vida dela não apresentava possibilidades de grandes mudanças; entretanto, ela aderiu às doutrinas positivistas na época e ingressou em uma universidade clandestina. Pouco tempo depois, foi convidada por sua irmã, Bronia, a ir a Paris. Foi onde Marie conheceu Pierre Curie, seu futuro esposo. A partir daí, a vida de Marie tomou rumos inovadores; pouco tempo depois, estava recebendo o prêmio Nobel de Física ao lado de Pierre Curie e Henry Becquerel, em 1903, em razão de seus importantes trabalhos na área de radioatividade. Em 1911, recebeu o Nobel de Química pelos serviços prestados ao avanço da Química, em especial, a descoberta do rádio e do polônio (elemento de nome concebido por ela em homenagem à pátria natal). Marie Curie se tornou, então, a primeira mulher a receber dois prêmios Nobel e a lecionar na Universidade de Sorbonne, na França. Faleceu cega e tuberculosa, devido às altas doses de radioatividade a que foi submetida durante bastante tempo, em um sanatório francês. A exemplo de Hipácia, Marie Curie foi outra grande mártir da ciência. Irène Juliot-Curie (1897-1956), filha mais velha do casal Curie, cresceu em um ambiente de extrema efervescência intelectual, devido à influência de seus pais e dos amigos. Irène, ao contrário das demais crianças da época, não frequentava a escola; recebia aulas de seus próprios pais, juntamente com os filhos das famílias Perrin e Langevin, eminentes estudiosos da Física Atômica, ainda pouco desvendada até o período. Marie lecionava Física; Paul Longevin, Matemática; e Jean Perrin, Química. Mais tarde, ela tornouse estudante de Química na Sorbonne e auxiliou a mãe em unidades móveis de radiologia no período da Segunda Guerra Mundial. Irène Juliot-Curie recebeu o prêmio Nobel como reconhecimento pela descoberta de novos elementos radioativos. Em determinado experimento, Irène bombardeou o alumínio com partículas alfa e observou que, mesmo quando interrompida a fonte de partículas e após a emissão de nêutrons, o alumínio continuava a emitir radiações, as quais foram atribuídas a um isótopo radioativo do elemento fósforo, até então não encontrado na natureza. 54 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 55 Já em 1938, enquanto bombardeava átomos de urânio com nêutrons, Irène notou a formação de um elemento radioativo com 3,4 horas de meia vida. Otto Hahn, eminente químico alemão ganhador do Nobel em 1944, ao repetir seus experimentos, sugeriu a produção de dois núcleos menores e de tamanho aproximadamente igual à metade do núcleo de urânio. Estava praticamente pré-preparado o campo para a descoberta da fissão nuclear. No entanto, as interpretações corretas de seus experimentos foram elaboradas depois, por outros, que receberam, portanto, toda a glória da descoberta. Em vista de seu interesse e destreza na área, Irène foi nomeada Chefe da Comissão Francesa de Energia Atômica, em 1946; porém dez anos mais tarde faleceu devido a um quadro de leucemia, adquirida em decorrência dos anos em contato com material radioativo. Além das contribuições na área de radioatividade, houve também descobertas excepcionais na estrutura de moléculas de importância biológica. Coube, desta vez, a Dorothy Hodgkin a elucidação da estrutura da vitamina B12 e da penicilina, um tipo de antibiótico, que lhe valeu o Prêmio Nobel de Química em 1964. Dorothy, desde jovem, apresentava interesse pela cristalografia dos compostos. Estudou em Oxford, transferindo-se para Cambridge, onde se doutorou, em 1937, com uma tese sobre cristalografia dos esteroides. A influência de Dorothy na atração de novas estudiosas para a área das ciências naturais pode ser evidenciada no relato de G. A. Jeffery, que visitou seu laboratório: Seu laboratório em Oxford é muito informal, e todo mundo a chama apenas de Dorothy, o que é incomum para um professor na Europa. É um lugar muito agradável para se visitar, uma vez que um terço dos membros é composto por charmosas e jovens garotas, que desejam tornar-se também cristalógrafas de destaque [...] (JEFFERY, 1964). Ida Noddack era geoquímica, não uma física nuclear; no entanto, lançou as bases mais inovadoras dessa ciência e da radioatividade ao propor o conceito de fissão nuclear. Ridicularizada pelos químicos de seu tempo, uma vez que suas ideias divergiam das concepções da época acerca do núcleo atômico, ela foi mais tarde reconhecida e teve sua proposta confirmada. Ela é também conhecida como codescobridora do rênio, último elemento natural a ser descoberto, o que ocorreu quando tinha apenas 28 anos. Lise Meitner, mais tarde, por meio de seus experimentos, comprovou a fissão nuclear, no entanto, como muitas outras mulheres, não teve sua participação na descoberta largamente reconhecida. Outros cientistas com os quais 55 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 56 Lise havia trabalhado receberam toda a glória no período, apesar de, sem ela, estarem trabalhando completamente à deriva, longe de suas explicações pertinentes para o que até então se desconhecia. Somente a título de mostra, um depoimento de Fritz Strassman, analista químico alemão, extremamente tímido, apesar de artista no laboratório, evidencia o fato: Que diferença faz o fato de Lise Meitner não ter participado diretamente da descoberta? A iniciativa dela foi o começo do trabalho em associação com Hahn – 4 anos depois ela fazia parte do nosso time – e estava ligada a nós intelectualmente, da Suécia, através da correspondência HahnMeitner [...] Ela foi a líder intelectual do nosso grupo e, portanto, ela fazia parte de nós, mesmo que não estivesse presente para a descoberta da fissão (STRASSMANN apud SIME, 1997, p. 241). No percurso de outras novas descobertas femininas, encontra-se Elisabeth Rona, exímia isoladora de polônio-210 dos minérios radioativos. Inicialmente trabalhava como química da parte de orgânica, porém, durante a maior parte de sua vida, exerceu contribuições na área da radioatividade. Em Budapeste, ela se juntou ao grupo de pesquisa de George Von Havesy, que trabalhava no campo da radioatividade. Ela estava envolvida nos mais novos estudos acerca do uso de radioisótopos em reações químicas, o que conferiu a Havesy o Prêmio Nobel em 1943. Rona estava satisfeita com a prazerosa atmosfera de pesquisa da equipe: Não havia nenhuma pressão, e, embora eu não tivesse muita experiência em radioatividade, Havesy me permitiu usar minha própria imaginação; havia um livre fluxo de ideias. Além do laboratório, havia a sala de chá Gerbaud, uma das melhores lojas de pastelaria da cidade. Tínhamos uma xícara de chá e alguns deliciosos pastéis por lá, pela tarde, ao discutir nossos experimentos e teorias; ou mesmo conversando sobre coisas normais, o que agradavelmente aliviava a pressão do trabalho diário (RONA, E. apud CAHAM-RAYNER,M; CAHAM-RAYNER, G., 1997, p. 210, 212). Seu trabalho mais importante consistiu no bombardeamento de átomos de um elemento com partículas alfa e a consequente transmutação desse elemento. Havia, portanto, necessidade de uma grande quantidade de emissores de partículas alfa; Rona, então, notou que o polônio-210 era um recurso ideal para isso. Ela imaginou uma maneira de isolar e concentrar esse isótopo, em conjunto com Irène Juliot-Curie. No Brasil, apesar da escassez de publicações sobre o tema, as mulheres continuam tomando seu lugar à frente das pesquisas científicas. Nos últimos 56 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 57 cinco anos do século XX, a Academia Brasileira de Ciências elegeu um total de 22 mulheres para integrar seus quadros. Essa atitude foi um enorme avanço, uma vez que, na década de 1970, a Academia elegeu apenas oito mulheres, dentre as quais apenas uma como titular. A diferença quantitativa em relação aos homens ainda é grande, porém vale reconhecer que o crescimento na participação das mulheres é expressivo. Em diversas universidades brasileiras já se tem promovido o fomento à inclusão de mulheres nos centros de tecnologia, além do reconhecimento relativo à importância da mulher para a ciência historicamente. Um exemplo disso foi a “5ª Primavera dos Museus – Mulheres, Museus e Memórias” promovida pela Universidade Federal de Pernambuco, em setembro deste ano, com a pauta “Energia Nuclear: uma tecnologia feminina”. CONCLUSÃO A ciência contemporânea, enfim, propala a marcante presença de mulheres em suas diversas áreas de abrangência, o que revela a capacidade delas como força motora de suas mais variadas descobertas. A radioatividade, por exemplo, é um campo de pesquisa bastante recente e promissor, no qual as mulheres encontraram espaço e oportunidade para desenvolver sua habilidade científica. Essa foi apenas uma pequeníssima apresentação acerca da participação de algumas mulheres nas ciências naturais. Há uma crescente lista de importantes contribuintes, tais como Emmy Noether, Gerty Radnitz Cori, Bárbara McClintock, Maria Göeppert Mayer, Ellen Gleditsch, May Sybil Leslie, Catherine Chamié, Rita Levi-Montalcini, Chien-Shiung Wu, Alicia Dorabialska, Fanny Cook Gates, Ada Hitchins, Marietta Blau, Gertrude B. Elion, Rosalind Franklin, Sophie Germain, Rosalyn Sussman Yalow, Jocelyn Bell Burnell... Cada uma delas, com suas descobertas particulares, que permitiram o avanço nas áreas de diversas ciências, principalmente na Química. A vida futura depende, então, de uma gama de contribuições a serem prestadas no campo da ciência e da tecnologia, pois o mundo carece ainda de soluções para muitos problemas ambientais e humanos. É por isso que as antigas, as presentes e as futuras cientistas merecem ser lembradas; caso contrário, seremos uma sociedade bastante evoluída tecnologicamente, porém desprovida da essência de suas próprias criadoras. 57 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 58 BIBLIOGRAFIA: CAHAM-RAYNER, M.; CAHAM-RAYNER, G. A devotion to their science: pioneer women of radioactivity. Philadelphia, PA: Chemical Heritage Foundation, 1997. c.21, p. 210, 212, 217. COSTA, M. C. da. Divulgando a visibilidade das mulheres na ciência. Hist. cienc. saude-Manguinhos, v.15, suppl., p. 290-291, 2008. DANTAS, M. Ensaio: o massacre de Hipácia. Revista Versus Acadêmica. p. 58, abr, 2011. FARIAS, R. F. de. Química Nova na Escola, n. 14, nov. 2001. JOB, I. EFDesportes.com. Revista Digital, n. 158, jul. 2011. SIME, R. L. Lise Meitner: a life in physics. Los Angeles, CA: University of California Press, 1997. p. 241. TABAK, F. O laboratório de Pandora: estudos sobre a ciência no feminino. Rio de Janeiro: Ed. Garamond Universitária, 2002. p. 209-210. TORT, P. Darwin e a ciência da evolução. [S.l.]: Ed. Objetiva. p. 143. 58 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 59 3º LUGAR PARA QUE TUDO ISSO? Estudante: Matheus Marchiori dos Santos, 15 anos, 1º ano do ensino médio Professora-orientadora: Angela Cristina Schempp Pires Colégio Objetivo - Mogi Guaçu, SP RESUMO Este trabalho foi estruturado de forma a criar um diálogo direto entre um estudante do ensino médio e a Química. A introdução passa um resumo do tema que será debatido, e o desenvolvimento, uma carta de um aluno e a resposta da Química, que tentará, por meio de exemplos do cotidiano, mostrar como ela é importante para entendermos o mundo e o cosmo. Na conclusão, uma consideração imparcial de um júri convocado para apreciação. Boa leitura. 59 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 60 PARA QUE ISSO? Que a Química está intimamente relacionada com a história do homem, com a forma como ele lida com o ambiente e com o modo como ele pode aproveitar o que lhe é oferecido pela natureza quase todo mundo sabe. Vinda desde antes de Cristo, a Química, no começo, se fundia com vários elementos que hoje já deixou para trás. Quando os filósofos gregos começaram a buscar a causa primeira, algo que fosse comum a tudo que existia, deu-se a partida para a ciência que hoje é parte do nosso dia-a-dia. A causa primeira foi, por mais de dois séculos, um dos principais combustíveis dos filósofos gregos. A busca por um elemento que fosse comum a todos, era na verdade um estudo do cosmo, de tudo aquilo que é exterior ao homem. Em sua evolução, a Química passou por várias fases: uma fase de pensamento, raciocínio, sem sinais de experimentação, ou com muito poucos; depois, passou por um longo período obscuro, onde ela se confunde com a Alquimia, com a magia, durante a Idade Média, onde temos, por outro lado, só experimentação. Na Idade Moderna, a Química começou a se firmar como um dos meios que melhor podia ser aproveitado pelo homem para seu desenvolvimento e para o entendimento de todos os mistérios que o cercavam. Considerado o pai da Química propriamente dita, Lavoisier, com sua Lei de Conservação das Massas, lançou bases para muitos dos avanços que viriam. Mais recentemente, Mendeleev organizou, de forma correta e ainda atualizada, a Tabela Periódica. Linus Pauling, com seu diagrama de elétrons, deu origem aos grandes e recentes avanços, ainda que teóricos, da Química Quântica. “Qual a influência de tudo isso sobre nós? Por que temos que nos importar com isso? Uma matéria que deixa alunos em recuperação, que tem fórmulas, números e coisas que nem os cientistas sabem com certeza! Como acreditar numa coisa dessas?! Qual a utilidade disso? Para que isso?” São essas as perguntas, que milhares de pessoas, jovens e adultos fazem, que eu vou, por meio de argumentos e contra-argumentos, justificar. Será a Química a vilã ou a mocinha? Vamos ver a seguir duas cartas, uma de um aluno do primeiro ano do ensino médio endereçada à Química, e a sua resposta, e depois, uma conclusão, do júri convidado, que vai tentar esclarecer e mediar a situação. Boa leitura. 60 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 61 QUE COMECE O JULGAMENTO: A ACUSAÇÃO “Cara Química, Boa tarde. Como vai a senhora? Estou lhe escrevendo porque tenho algumas reclamações, apesar de eu particularmente gostar de estudá-la. Estudo no primeiro ano do ensino médio de uma escola brasileira. Aqui no Brasil, o contato com a Química se aprofunda no nono ano do ensino Fundamental, e, principalmente, no ensino médio. Durante o ensino médio, temos uma grade “completa” da senhora. Eu, por exemplo, tenho três aulas de 50 minutos por semana. Mas, o que eu gostaria de saber, e de reclamar, é: QUAL É A SUA UTILIDADE? Como a senhora contribui para o entendimento do mundo e do cosmo? Eu sou obrigado a decorar fórmulas, tabelas, diagramas, macetes e nomes escandalosos de ácidos, bases, sais e afins para quê? Não está nem nos meus mais remotos planos fazer qualquer coisa relacionada com a área de Exatas, e sou obrigado a dedicar horas a estudar a senhora e suas parentes. Se não fizer isso? Recuperação. Dependência. E, convenhamos, não é nada agradável ter que ficar estudando mais do que o normal no ano seguinte, não é verdade? Damos o sangue para entendê-la e, quando pensamos que chegamos numa parte boa da sua matéria, sempre aparece algum cientista que quis dar uma de espertinho e “simplificar” a nossa vida com algumas regrinhas, que sempre tem umas duas ou três exceções – que sempre nos pedem nos testes – e que nunca nos lembramos de estudar. Complicado não acha? Acho sua carreira interessante, brilhante até mesmo, mas, por que eu tenho que aprender sobre a senhora, e com a senhora, sobre o mundo que me cerca? Sobre o Universo! Ele é tão grande, nem os cientistas, que são tão íntimos seus sabem o que falam direito. Real e sinceramente, é muito complicado. E olha que eu nem cheguei em Química Quântica! Vou precisar de muita sorte, pelo que parece, não? Com meus votos cordiais, Silvério” A DEFESA “Caro Silvério, Muito obrigada pela carta que me escreveu. Já fico feliz em saber que, pelo menos, não tem nada contra mim. Isso facilita muito as coisas. Na verdade, um grande problema que eu e meus ajudantes, seus professores, encontramos, é o fato de existir certo preconceito sobre mim. Pode ser difícil convencer 61 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 62 você, mas eu não mordo nem machuco ninguém – tirando alguns alquimistas da Idade Média, que testavam certas coisas neles mesmos – e nunca foi minha intenção complicar a vida de ninguém em relação a notas, recuperação, ou até mesmo num processo – diga-se de passagem, um tanto quanto controverso – chamado vestibular. E, se pensarmos bem, eu não sou tão complicada assim. Posso até dar trabalho com algumas coisas que tem que ser memorizadas, por exemplo, mas não tanto como a Física, com suas inúmeras fórmulas, ou como a Biologia, que tem uns nomes estranhos, não é? Lamento muito a grade brasileira ser formada dessa maneira. Mas está além das minhas possibilidades influenciar o modo como as grades curriculares são formadas; porém posso te assegurar que eu não sou inútil. Desde o início do Universo, como você vai ver mais para a frente, eu ajudei o homem a compreender seu espaço, suas necessidades e sua vida de uma forma geral. Existe, inadvertidamente, certo preconceito contra mim, especialmente do senso comum. Não é raro ouvir pessoas, ou ver até mesmo anúncios do tipo “Compre sem medo, produto sem química”, o que passa a noção de que eu sou nociva, perigosa para a saúde, a sanidade e para o que mais quiserem dizer. Gostaria de esclarecer que, na verdade, isso é falta de informação. Até mesmo na produção do pão, um dos itens mais comuns na mesa da população mundial, existe Química. A ação dos fermentos, das leveduras, só foi entendida e explicada junto comigo e, sem eles, estaria se comendo pães em “folha”, finos (do tipo “sírio”). Excluídos alguns preconceitos realmente não fundamentados, vou esclarecer algumas dúvidas que você me apresentou em sua carta e tentar dizer por que eu sou importante no entendimento do mundo e do cosmo por meio de exemplos de como sou usada à sua volta, quase sempre sem você perceber. Como uma ciência baseada em um método de observação, eu, infelizmente, tenho também minhas incertezas. É raro e toma muito tempo construir alguma lei que se aplique a todas as situações e que seja de fato útil a todos, por isso, às vezes, vocês estudam coisas que podem se alterar de forma significativa até mesmo de um ano para o outro, mas, acredite, isso só contribui para o desenvolvimento necessário a todos. Dentre os vários conjuntos de símbolos da Química, um dos mais significativos e importantes é a Tabela Periódica. Nela, representamos os elementos (átomos), que se arranjam em moléculas e, consequentemente, em substâncias para criar a matéria como a conhecemos hoje. Desde 1789, quando Lavoisier publicou uma lista de trinta e três elementos químicos, a tabela passou por diversas alterações; a última, que é aceita até hoje (embora já haja planos de mudá-la), foi organizada, ou melhor, trazida a público, em 1869, pelo professor de Química russo Dimitri Mendeleev. 62 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 63 Mesmo tendo sido lançada junto com outra tabela, de Julius Meyer, a tabela de Mendeleev ganhou fama por deixar espaços livres para elementos ainda não descobertos e por trazer sua organização, ainda que por acaso, de acordo com o numero atômico crescente dos átomos. Este é um dos exemplos de como e por que meu estudo se altera tanto. Como dependo de pesquisas, e a cada dia temos uma quantidade maior de recursos para fazê-las, essa velocidade acaba aumentando. O que antes podia tomar anos para ser comprovado, hoje pode ser comprovado em segundos. É muito gratificante saber que, em parte, eu contribuí para esse desenvolvimento. Não quero ser esnobe, mas meu estudo possibilita o entendimento de como chegamos até aqui. Estima-se que o Universo surgiu há aproximadamente 13,5 bilhões de anos, a partir de uma única explosão atômica, o chamado Big Bang (grande explosão, em inglês). A partir daí, existem várias teorias sobre o surgimento da matéria e, consequentemente, sobre a criação do cosmo e do mundo como conhecemos hoje. Você já ouviu falar sobre o LHC? É o Grande Colisor de Hádrons, um equipamento construído no subterrâneo europeu que custou mais de dez bilhões de dólares e visa contribuir para o entendimento e a reprodução da partícula de Higgs, ou “partícula de Deus”, que foi o que teria originado o Universo. Nessa área, a Química se mescla com a Física, na chamada Química Quântica. A Química, na verdade, não precisa ser estudada isoladamente. Existem correlações entre mim e outras matérias, nas chamadas Bioquímica e FísicoQuímica. Todas nós queremos ajudar vocês a compreenderem mais sua própria natureza e ambiente, para viverem melhor, tanto macro quanto microscopicamente. O desenvolvimento de remédios, agrotóxicos e afins é relacionado à Bioquímica, enquanto a Físico-Química tem se dedicado a estudar os mistérios que estão no limite do conhecimento atual, como o surgimento do cosmo (como definiu o astrônomo Carl Sagan, “Tudo que já foi, tudo que é e tudo que será”), isto é, do todo, desde o universo organizado até as partículas subatômicas. Essa área ainda tem muita discussão relacionada a esses assuntos e é de difícil entendimento, até porque esbarramos em barreiras tecnológicas. Acho que, com tudo isso que eu disse, pelo menos a questão da rápida mudança e às vezes das incertezas lançadas por mim já foi esclarecida, certo? É interessante dizer também que todo o conhecimento escrito existente está, mesmo que indiretamente, relacionado a mim. Existem milhares de livros no mundo dos quais só resta uma cópia. Apenas de Química, mais de quatrocentos. Esses livros raros precisam de cuidados especiais, como iluminação, umidade e temperaturas adequadas para se manterem, índices que são 63 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 64 medidos graças ao trabalho dos químicos. Sem os testes de resistência e sem a devida aparelhagem e conservação, com certeza, teríamos algo com uma durabilidade muito menor. Além disso, na riqueza dos trabalhos da Idade Medieval, por exemplo, onde havia ilustrações e tintas coloridas, criando as famosas Iluminuras, há intenso uso de Cobre, o que foi descoberto por meio de experimentação. As obras de arte, tanto da pintura quanto da escultura ou arquitetura, quando são respeitadas as regras ou dicas instituídas por mim, podem ser muito mais duráveis. E, como costuma se dizer, uma das melhores maneiras de entender seu presente, seu mundo, é entender seu passado. E como esse passado pode ser preservado? Acho que você já sabe a resposta. Eu acho que você já deve ter ouvido falar nos testes de carbono-14, um método desenvolvido na Universidade de Chicago em 1949, e que ainda é usado. Esse método, que data elementos em até 60.000 anos, num processo delicado e organizado (que não interessa ser descrito aqui agora) por meio do uso de radioisótopos de carbono-14, isto é, um carbono de massa 14 (6 prótons e 8 nêutrons), que é diferente do carbono 12, presente nas estruturas do diamante, grafite, aço (matérias inorgânicas), e que está presente em materiais orgânicos que vai “sumindo” com o passar do tempo (de onde saem as datas dos fósseis, por exemplo). Graças a mim, o tempo de vida do carbono pode ser definido e levar às datas dos objetos encontrados. É certo que você tem objetos metálicos em sua casa. A metalurgia está intrinsecamente relacionada comigo. Ela é a purificação de qualquer metal, para adquirir o que se deseja. Os primeiros metais a serem usados foram o ouro e o cobre, que vêm desde 4.000 e 8.000 a.C. respectivamente, sendo usados pelos povos em elementos decorativos, armas, moedas de troca e símbolos de riqueza e poder. Mais recentemente, por volta de 1.280 a.C., surge o aço, uma mistura de ferro e carbono, que se provaria mais resistente que as até então descobertas e é usada até hoje. Depois, em 1824 somente, outro metal de grande importância foi descoberto, o alumínio, pelo dinamarquês Hans Christian Orested. Esse metal está muito presente hoje, inclusive nas latas de refrigerante, que vocês adoram tomar (cuidado, alguns podem ser prejudiciais ao estômago, não se esqueça). Além de ajudar na fabricação das próprias latas, eu ajudo na produção dos refrigerantes em si. O que e quanto acrescentar de adoçante, extrato da fruta (ou, em alguns casos, cola), água... E não ajudo apenas nessas bebidas. Quando, daqui a alguns, anos você puder tomar bebidas alcoólicas, pode saber desde já que eu também tenho uma relação estreita na produção do 64 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 65 vinho, da cerveja, da vodka e do uísque. Atualmente os mestres da produção dessas bebidas recorrem a métodos químicos para elevar a qualidade e o sabor de seus produtos. Os métodos vão de controle do solo à qualidade no uso de frutas ou grãos usados na produção, da medição de pH da própria fruta para saber a que estilo de vinho se adéqua por exemplo, além é claro, da fermentação, necessária aos vinhos e às cervejas e que deve ser estudada criteriosamente para não prejudicar o produto final. Viu como eu posso ajudar a simplificar sua vida, e não a criar só empecilhos, como notas, trabalhos e afins, que são considerados tediosos? O meu estudo pode se mostrar uma inesgotável fonte de conhecimento, se considerar que eu analiso o passado, o presente e dou diretrizes para o futuro, de forma embasada. Outra coisa muito interessante, e que vocês acham extremamente importante (chegando à beira do vício no uso): os computadores. Um computador (e hoje em dia há a democratização dos notebooks, netbooks e tablets) é composto por disco rígido, memória RAM, processador e afins. Todos esses elementos são constituídos por metais ou ligas metálicas, que exigem cada vez mais refinamento para serem leves, eficientes e portáteis. Com todas essas comparações, caro Silvério, com certo raciocínio lógico, podemos analisar minha importância. Tudo isso pode ser resumido abaixo. É interessante perceber como tudo tem uma certa linearidade. Tudo o que temos hoje, absolutamente tudo, veio de descobertas e avanços no passado, avanços esses que estão diretamente relacionados com a Química. Sem a metalurgia não teríamos nenhuma tecnologia disponível hoje. Haveria a possibilidade de ainda sermos seminômades. Imagine você um mundo onde não teríamos computadores, TVs ou celulares. Um mundo sem Revolução Industrial. Um mundo sem as grandes revoluções, tanto tecnológicas quanto ideológicas, que marcaram a Idade Moderna. Um mundo sem os grandes impérios antigos, como Grécia e Roma, que lançaram as bases para todo o conhecido hoje. Um mundo onde talvez ainda estivéssemos estacionados na Idade dos Metais, quando surge uma vida urbana mais “tecnologicamente avançada”, no que seria o nascer, ainda tímido, do Antigo Egito. Só esse pensamento é capaz de resumir a minha importância para o mundo, para o cosmo e para a compreensão deste, porque, se estamos onde estamos hoje, foi porque houve interessados, no passado, em entender os mecanismos que nos movia sempre para a frente. Espero que tenha gostado de minha resposta e que tenha tido algumas dúvidas esclarecidas, e parte da “raiva” (se é que posso chamar assim) amaciada. Com meus mais sinceros votos de bem-estar e progresso, Química.” 65 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 66 CONCLUSÃO A DECISÃO DO JÚRI “Devemos falar que foi um prazer poder ler estes dois relatos tão sinceros, francos. É nítido que há um interesse puro, acadêmico e, ao mesmo tempo, sincero de ambos os lados se entenderem. Realmente fantástico! Entre nós, componentes do júri, existem pessoas das mais variadas origens e formações. É natural, e muito compreensível para nós, ver que há certa complicação para os alunos no estudo de Química, e não só dela, como de outras matérias também, mas a maneira com que essa necessidade foi explicada foi encantadora. É mágico, e ao mesmo tempo aterrorizante, saber como a Química conseguiu contribuir para nosso desenvolvimento; como ela é necessária para a manutenção de tudo que temos hoje e para sabermos de onde viemos, porque estamos como estamos, e para onde vamos. Vimos desfilar, por algumas páginas, argumentos e exemplos de como nós devemos ser gratos à Química, e de como ela foi, é, e ainda será, útil para nós, em todas as esferas. Vimos que ela se preocupa em descobrir tudo o que acontece, tanto em escalas gigantescas quanto em escalas microscópicas, e que é isso que nos impulsiona na evolução. Com isso notamos sua importância para o entendimento do cosmo e do mundo. Tudo se torna claro por meio dela, até porque, tudo pode ser resumido a substâncias, consequentemente, a moléculas, e a átomos. Tudo se resume a Química, e agora, só depende de nós, homens, sabermos aproveitá-la de forma correta, diga-se de passagem, nossa maior dificuldade. Atenciosamente, O júri” BIBLIOGRAFIA BRASIL ESCOLA. Carbono 14. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/ quimica/carbono-14.htm>. Acesso em: 28 ago. 2011. CHEMISTRY HERITAGE. Episode 1: communicating Chemistry. Dec 1, 2007. Disponível em: <http://www.chemheritage.org/community/distillations/001communicating-chemistry.aspx>. Acesso em: 25 ago. 2011. CHEMISTRY HERITAGE FOUNDATION. Episode 6: the Chemistry of texts. Jan. 18, 2008. Disponível em: <http://www.chemheritage.org/community/distillations/ 006-the-chemistry-of-texts.aspx>. Acesso em: 25 ago. 2011. 66 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 67 O GLOBO. Acelerador de partículas cria explosão inédita e consegue simular o Big Bang. 30 mar. 2010. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2010/ 03/30/acelerador-de-particulas-cria-explosao-inedita-consegue-simular-big-bang916211149.asp>. Acesso em: 27 ago. 2011. NATIONAL MINING ASSOCIATION. The History of Gold. Washington, D.C.: NMA, 2001. Disponível em: <http://www.nma.org/pdf/gold/gold_history.pdf >. Acesso em: 25 ago. 2011. RIO GRANDE DO NORTE. Tribunal Regional Eleitoral. Metal. Disponível em: <http://www.tre-rn.gov.br/nova/inicial/links_especiais/coleta/download/metal.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2011. SALLES: A. M. Apostila de química: Colégio Objetivo; primeiro ensino médio, primeiro bimestre. São Paulo: CERED, 2011. SALLES: A. M. Apostila de química: Colégio Objetivo; primeiro ensino médio, segundo bimestre. São Paulo: CERED, 2011. TABELA PERIÓDICA ONLINE. Metais de transição: cobre. Disponível em: 67 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 69 MENÇÃO HONROSA O DESPERTAR DA QUÍMICA Estudante: Ana Carolina Yamaguchi de Andrade, 16 anos, estudante do 2º ano do ensino médio Professora-orientadora:Vilma da Silva Verona Escola Estadual Professora Julieta Guedes de Mendonça – Dracena, SP RESUMO O texto a seguir trata de um adolescente chamado Hélio, que, misteriosamente, encontra um livro sobre Química. A partir de então, passa a se interessar por essa ciência, despertando sua curiosidade para aprender mais sobre todos os assuntos relacionados a ela. Cria um blog em que publica assuntos que vão ao encontro de seus interesses, como: “Os avanços na Química e sua contribuição para o bem-estar das populações”; “Mulheres na Ciência”; “Pesquisas em Química para solucionar problemas globais relacionados à alimentação, à água e à saúde”; “O ensino de Química e a educação básica”; “A prática da Química Verde”; “Aplicação econômica da Química” e, por fim, “A importância da Química para o entendimento do mundo e do cosmo”. A leitura de diversos artigos lhe rendeu bons argumentos e a oportunidade de compartilhar essas informações com outras pessoas, ressaltando o quanto a Química é importante e está presente em tudo, desde as transformações químicas que ocorrem em nosso corpo até a solução dos problemas globais. Basta olharmos à nossa volta, que saberemos que ela sempre nos acompanhou. 69 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 70 INTRODUÇÃO Neste texto, quero destacar a importância da Química em nossa vida. Inicio ressaltando o assunto da reunião, na Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), em que ficou instituído que 2011 seria considerado o Ano Internacional da Química, com o tema “Química – nossa vida, nosso futuro”. O objetivo é levantar questões relacionadas à contribuição da química para o bem-estar da população, sua importância no nosso dia a dia e como a sua evolução nos proporciona maior bem-estar, conforto e benefícios nas áreas da saúde, da alimentação e do desenvolvimento sustentável. Também destaco o adolescente Hélio, que busca despertar nos jovens e adolescentes o interesse pela pesquisa e leitura relacionadas à Química. Comemoramos ainda 100 anos da premiação de Marie Curie com o Prêmio Nobel em Química, que marcou uma questão muito importante: a presença das mulheres na ciência. Portanto, o objetivo do evento é o reconhecimento da Química na vida do ser humano, na satisfação das necessidades do mundo, o incentivo do interesse dos jovens pela Química, o que gera entusiasmo para um futuro criativo. O CONTO Era o último dia do ano, 31 de dezembro de 2010. As pessoas se reuniam com seus familiares para comemorarem o ano-novo. Motivados por novos desejos e promessas, aguardavam ansiosamente a presença do show pirotécnico. Hélio, um adolescente muito curioso, de quatorze anos, estava na contagem regressiva, sabia que o dia seguinte não marcaria apenas o início de um ano novo, mas também o Ano Internacional da Química, decisão que resultou de reunião na Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), realizada de 31 de julho a 6 de agosto de 2009, em Glasgow, Escócia, cujo tema era “Química – nossa vida, nosso futuro”. A noite estava magnífica, as estrelas pareciam estar mais próximas, pois o seu brilho era radiante. Logo que o ponteiro se aproximou da meia-noite, todos estavam à espera, e o céu foi se iluminando com os belos fogos, das mais variadas cores: amarelo, rosa, roxo, verde, que atraíam cada vez mais olhares e elogios. Hélio queria saber como funcionavam, como eram feitos e quais elementos estavam presentes, quem os inventou e quando surgiram. De repente, viu 70 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 71 uma luz bem forte se aproximando, não havia ninguém por perto, ele estava em seu quarto, observando tudo pela janela. Levou um grande susto quando algo atravessou pela janela, quase o atingiu e caiu no chão. Surpreso, viu que era um enorme livro com muitas páginas. A capa era grossa, de um tom avermelhado, com o título: “A história da Química”. Ainda assustado, pegou o livro, folheou-o e começou a ler. As páginas estavam amarelas, devia ser bem antigo. Iniciava-se com a seguinte pergunta: “De que é formada a Terra?” Ele ficou pensando, não sabia exatamente o que responder, então, continuou lendo. A Terra é composta por elementos, corpos simples e seus compostos, como: hidrogênio, oxigênio, carbono, enxofre, magnésio, ouro, cobre, zinco, mercúrio, potássio, ácido, hidróxidos, óxidos, sais na forma de sulfatos, carbonatos e cloretos; nomes que indicam cada elemento e substâncias, descobertas através da ciência (...). A mãe de Hélio, Dona Ana, foi até o quarto do filho para desejar feliz ano-novo, e ao deparar-se com ele lendo aquele enorme e velho livro, à meianoite e meia, achou que o filho não estava muito bem: — Hélio, que livro é esse? Ele não sabia como explicar, e decerto, ela não acreditaria na história; resolveu inventar: — Eu pedi para professora e ela me deu, fala sobre a história da Química, como ela surgiu e todo o seu processo. — Nossa, meu filho! Química? É um assunto muito difícil, por que você pediu esse livro? — É, mãe, porque eu queria aprender mais sobre Química, já que ela está presente em tudo, nós somos feito dela, por meio das ligações entre átomos, como também a quebra dessa ligação é uma reação que ocorre em nosso corpo. — Quer dizer, então, que neste exato momento estão ocorrendo inúmeras reações químicas dentro de mim? — Sim, mãe, para que o nosso corpo mantenha nossa estrutura corporal, dependemos da Química. Por exemplo: o crescimento de unhas e cabelos, o desenvolvimento ósseo, a cicatrização de ferimentos, a reconstrução celular, enfim, tudo que diz respeito à construção em nosso corpo depende das reações químicas que absorvem energia. — Sabe que eu nunca tinha pensado nisso antes, filho? Mas, se tudo é feito de química, por que a moça que me vendeu o produto para alisar o meu cabelo disse que não havia química nele? 71 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 72 — Ela mentiu para você, mãe, porque não existe produto sem química, ela quis dizer que esse produto contém substâncias químicas menos agressivas ao cabelo. O pai de Hélio, Antônio, havia acabado de entrar no quarto. — Substância menos agressiva...? Sobre o que vocês estão falando? — Sobre a Química, pai. — Antônio, olha o livro que o Hélio pediu para a professora! — Que livro você pediu, filho? — A história da Química, pai. — Que interessante! Deixe-me ver? Hélio entregou o livro para o pai, um pouco receoso. Ele folheou o livro, olhou com atenção algumas páginas e leu a seguinte frase: — “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Antoine Laurent Lavoisier.” Quando eu estudava, ouvi essa frase e nunca me esqueci dela; lembro de quando a professora explicou sobre a conservação da massa, que nunca se cria nem se elimina matéria, apenas é possível transformá-la de uma forma em outra. Meu pai, seu avô, também admirava esse enunciado e, sem saber bem o que significava, fez questão de colocar meu nome de Antônio em homenagem a Antoine Lavoisier. — Que legal, pai, mas você ainda se lembra da conservação da massa? — De pouca coisa eu me lembro... Mas, já está tarde, acho melhor você ir dormir, para amanhã começar o ano com o pé direito, filho. — Tá bom, boa-noite, pai, boa-noite, mãe. Ambos responderam: — Boa-noite, querido. No dia seguinte, logo que acordou, Hélio estava muito agitado com todas essas descobertas, queria compartilhar com alguém, pensou e teve uma ideia: — Já sei! Eu vou criar um blog, aí eu posso contar tudo o que sei sobre Química, e ainda manter contato com quem sabe mais do que eu. Correu para o computador, e criou um blog com o nome: A Química contada por Hélio. O primeiro artigo a ser publicado seria: 72 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 73 A história da Química Desde a Pré-História, o homem utilizava recursos por meio da Química, como na obtenção do fogo, atritando dois pedaços de madeira. Na Idade Antiga, a descoberta da forma de obtenção de vidro, tecidos, metais – como o ouro, o cobre, o chumbo –, de bebidas alcoólicas – como o vinho e a cerveja –, dos sabões, dos perfumes e de duas ligas metálicas: o bronze (cobre e estanho) e o aço (ferro e carvão), foram feitas pelos egípcios, gregos, fenícios e chineses. No antigo Egito e na Mesopotâmia, a prática da Química já era mais avançada, com a mumificação, que conservava o cadáver por processo de embalsamamento. Nesse processo, eram extraídas as vísceras, o que permitiu aos egípcios descobrirem a anatomia humana. Na Grécia, houve destaque para a defesa da constituição atômica da matéria. Na Idade Média, passa a ocorrer a prática da alquimia, que quer dizer Química, e que tinha por objetivos obter o elixir da longa vida; conseguir a pedra filosofal, que permitia transformar um metal comum (ferro, cobre, chumbo etc.) em ouro. Tentando atingir esses objetivos, os árabes obtiveram muitas substâncias (álcool, ácido clorídrico, ácido nítrico, ácido sulfúrico, água-régia etc.) e construíram apetrechos químicos usados até hoje, como o almofariz e o alambique, por exemplo. Na Idade Moderna, no século XVII, surgiu a Química médica ou Iatroquímica. Nessa época, os químicos, liderados pelo suíço Paracelso, abandonaram as duas metas alquimistas e passaram a descobrir substâncias (remédios) que curavam doenças. A Química tornou-se uma ciência exata no final do século XVII. O químico Lavoisier descobriu que, durante as transformações químicas e físicas, ocorre a conservação da matéria, ou seja, na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma. Iniciava-se o método científico, que estuda os porquês, as causas dos fenômenos. A Química tecnológica teve início a partir da Primeira Guerra Mundial e ganhou impulso na Segunda Grande Guerra. Graças à Química tecnológica puderam ser construídos aparelhos que permitem a execução das teorias e também a descoberta de centenas de novas substâncias por dia, muitas das quais são importantes para a humanidade. 73 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 74 Hélio estava satisfeito com o texto escrito e o recomendou para vários amigos que estavam online. Ouviu sua mãe chamando e foi até a cozinha, a televisão estava ligada e nela se falava sobre a primeira mulher presidente no Brasil. Dona Ana ainda fez um comentário: — É, agora ela terá que enfrentar o preconceito por parte dos homens e tomara que ela faça um bom governo. Hélio, como sempre curioso, lembrou de mais uma coisa: — Mãe, e na ciência? Quem foi a primeira cientista? — Sobre esse assunto eu não sei muito, mas outro dia, eu li um artigo que falava que a primeira mulher a ganhar o prêmio Nobel de Física, em 1903, foi Marie Curie. — Pronto, achei mais um assunto para pesquisar e publicar no meu blog. — Que blog filho? — Eu criei hoje, mãe, chama-se A Química contada por Hélio. — Interessante, depois eu vou dar uma olhada. — Ok, agora vou continuar lendo aquele livro de Química, mãe. Até mais. — Até mais, querido. Hélio teve tanta sorte que, ao pegar o livro, achou justamente a parte em que falava sobre a contribuição das mulheres na Química; leu toda a matéria, e foi postar um comentário referente ao assunto no seu blog. A Química das mulheres As ciências exatas eram quase exclusivamente praticadas apenas pelos homens, mas muitas mulheres contribuíram para a formação dessa ciência, como, por exemplo, Madame Lavoisier, esposa de Antoine Lavoisier, que o auxiliava e ilustrava as experiências, e que fez traduções de obras científicas extremamente importantes. Logo depois da morte do marido, publicou Memoires de Chimie (Memórias da Química, 1803), cuja autoria principal era de Antoine Lavoisier. Desde 1901, apenas três mulheres receberam o prestígio de ganhar o prêmio Nobel, que foram Marie Curie, sua filha Irène JoliotCurie, e Dorothy Hodgkin, que possuíam vários pontos em comum, como, por exemplo: tiveram interesse pela ciência desde cedo, cresceram em um ambiente bem estimulante, devido às atividades exercidas por seus pais e amigos, o que demonstra a influência da vocação. 74 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 75 Marie Slodowska Curie recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1903, junto com seu marido Pierre e Henry Becquerel, em razão de suas pesquisas em radioatividade (neologismo introduzido pela própria Marie), e o Prêmio Nobel de Química de 1911 lhe foi concedido pelos serviços prestados ao avanço da Química, pela descoberta dos elementos rádio e polônio. Marie foi a primeira mulher a se tornar professora na Sorbonne, e também a primeira cientista a receber dois prêmios Nobel. Irène Joliot-Curie recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1935, em reconhecimento por sua síntese de novos elementos radioativos, feita ao bombardear alumínio com partículas alfa. Foi nomeada chefe da “section chimie” (seção química) da Comissão Francesa de Energia Atômica, em 1946. Dorothy Mary Crowfoot Hodgkin recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1964, por seus trabalhos na determinação estrutural de várias moléculas biológicas, entre elas a vitamina B12 e a penicilina, tendo também determinado a estrutura da insulina (Jeffery, 1964). Envolveu-se ativamente em campanhas pela paz e pelo desarmamento e foi presidente da Conferência Pugwash sobre ciência e assuntos mundiais, nos anos 70. Por mais que suas descobertas auxiliassem nos estudos da Química, elas tiveram que encarar muitos obstáculos, não apenas para realizar seus estudos, mas também para divulgá-los. Ainda com esse assunto em mente, Hélio ficou pensando: “por que será que existe preconceito contra as mulheres, mesmo sabendo que elas estão presentes em todas as áreas, principalmente no poder, como no Brasil, onde é uma mulher que governa o país?” Hélio começou a sentir dor de cabeça e foi procurar sua mãe: — Mãe, estou com dor de cabeça, tem algum remédio para eu tomar? — Tem, sim, filho, pega lá no armário, é o da caixa amarela. — Obrigado, mãe. Como será que este comprimido faz sarar a dor que estou sentindo? — Que tal meu pequeno cientista desvendar esse mistério? — Ótima ideia, mãe. Hélio foi ao seu quarto, ligou o computador e pesquisou sobre o assunto, depois procurou sua mãe para lhe contar. — Mãe, descobri! Quando nós ingerimos o remédio, ele chega ao nosso estômago, as enzimas o digerem, sendo absorvidas e, entrando na corrente sanguínea, vão para o intestino, ocorrendo a absorção da maior parte do 75 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 76 princípio ativo, quando são levadas até o exato ponto onde elas precisam agir através das veias. — Nossa, Hélio, cada dia você me surpreende mais. — Agora eu vou pesquisar sobre a sua origem. Hélio publicou mais um artigo em seu blog, falando sobre a evolução da Química. A evolução da Química para o bem-estar da população O conhecimento da química, desenvolvido durante esses cem anos, foi bem maior do que toda a história anterior. Todo o conforto que possuímos deve-se à Química, como, por exemplo, os automóveis, os computadores, as máquinas de lavar louças, os sabonetes hidratantes, os remédios e os colchões ortopédicos. Atualmente, podemos notar que estamos cercados por plásticos e eles estão presentes nos utensílios domésticos, nos automóveis, nas embalagens e até mesmo nas roupas; não conseguimos mais viver sem ele. Os plásticos são materiais formados pela união de grandes cadeias moleculares chamadas polímeros, que, por sua vez, são formadas por moléculas menores denominadas monômeros, produzidos por meio da polimerização. O primeiro polímero sintético foi produzido em 1907. Alguns polímeros foram realmente importantes no decorrer da história. A polimerização do N-vinilpirrolidona foi utilizada durante a Segunda Guerra Mundial, quando os alemães usaram soluções salinas do polímero como um substituto do plasma sanguíneo nos soldados feridos de suas tropas. O PVP - poli (vinilpirrolidona) possui um baixo grau de toxicidade e tem sido utilizado também em cosméticos, adesivos, indústria têxtil, lentes de contato, e numa variedade de fármacos, incluindo a manufaturação de materiais microencapsulados. O plástico é responsável por grandes avanços e traz uma série de benefícios na sociedade moderna, mas não se pode negar os problemas ambientais que as embalagens plásticas têm trazido ao mundo moderno, nem negar a discussão ambiental em torno do tema. A maioria dos plásticos é reciclável e a sua reciclagem representa, além de uma atividade ecologicamente correta, um incremento na economia. A Química também foi muito importante na área da medicina: desde tempos remotos, o homem utilizava o poder de várias plantas para a cura de doenças. 76 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 77 Hoje, são realizadas pesquisas com substâncias com provável atividade biológica; o conhecimento da relação entre estrutura química e atividade biológica é um dos objetos de estudo da área de Química medicinal. Por meio da Química orgânica foi possível não só criar análogos sintéticos e derivados, mas também “criar” substâncias totalmente inéditas, que vieram a se tornar fármacos. A Química está presente em todos os medicamentos; sem ela, os cientistas não poderiam sintetizar novas moléculas, que curam doenças e fortalecem a saúde humana. Ela também é importante na produção de matérias-primas específicas para a medicina, como válvulas cardíacas, próteses anatômicas, seringas descartáveis, luvas cirúrgicas, recipientes para soro, tubos flexíveis e atóxicos e embalagens para coleta e armazenamento de sangue. Esses são apenas alguns dos exemplos dos produtos de origem química que revolucionaram a Medicina. As férias de Hélio já estavam acabando. Era o último final de semana de folga, pois, logo voltaria à rotina, e ele estava ansioso, porque adorava estudar, queria rever todos os seus amigos, conhecer os professores novos, saber se o segundo ano do Ensino Médio era realmente difícil como sua mãe falava; enfim, estava com saudades da escola. Para aproveitar aquela tarde de sábado, resolveu andar de bicicleta no parque da cidade. Era um lugar bem agradável, com muitas árvores, flores e pássaros. Quando se aproximou do local, viu que havia várias pessoas assistindo a uma palestra, em pleno ar livre. Ele, curioso, encostou a bicicleta e foi ver o que era. Algumas pessoas estavam em círculo, e no meio, havia um homem, o palestrante, e em sua camisa, estava escrito Química Verde. Hélio, logo que viu isso, interessou-se pelo assunto, e teve sorte, porque a palestra ia começar naquele exato momento. Então, o homem começou: — Boa-tarde, eu me chamo Carlos, curso Química na Universidade de Campinas (UNICAMP) e estou aqui para divulgar um projeto que estamos desenvolvendo, pois ele é importante para o conhecimento de todos. Alguém imagina do que se trata? Todos estavam curiosos, ninguém sabia nada exatamente sobre o assunto, até que uma jovem disse: — Eu imagino que seja sobre a Química no bem-estar da natureza e das pessoas, pois na sua camiseta está escrito Química Verde. — Qual é o seu nome? — Bia. — Muito bem, Bia, você acertou. O projeto é sobre a Química Verde, 77 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 78 também conhecida como Química Sustentável. Eu vou contar um pouco sobre sua história e influência no mundo. Ela foi criada há cerca de dez anos nos Estados Unidos pela Environmental Protection Agency (EPA), a agência de proteção ambiental de lá, em conjunto com a American Chemical Society (ACS) e o Green Chemistry Institute. Este projeto vem despertando o interesse de organizações governamentais e não governamentais de vários países. Na Europa, Japão e Estados Unidos, foram criados, inclusive, prêmios para incentivar pesquisadores de Indústrias e Universidades a desenvolverem tecnologias empregando os princípios da Química Verde. Desde 1996, quando o Presidential Green Chemistry Awards foi criado nos Estados Unidos, mais de uma dezena de Corporações e Investigadores foram premiados. Na Europa, a Royal Society of Chemistry (RSC), com o apoio de setores industriais e governamentais, instituiu, em 2001, o U.K. Green Chemistry Awards, para premiar empresas e jovens pesquisadores que desenvolveram processos químicos, produtos e serviços que conservaram um ambiente mais sustentável, limpo e saudável. Hélio estava adorando aquela palestra, pois era exatamente o assunto de que ele gostava: Química. — Agora que vocês já conheceram um pouco de sua história, sabem me dizer exatamente quais são os seus princípios? Antes que alguém respondesse, Hélio levantou o braço. Carlos olhou para ele e perguntou: — Qual o seu nome? — Meu nome é Hélio. — Então pode responder, Hélio. Você sabe quais são os principais objetivos da Química Verde? — Sim, seus principais objetivos são criar produtos que reduzem as substâncias tóxicas, proporcionando um ambiente mais sustentável. — Parabéns, Hélio, pelo visto você já sabia sobre esse assunto? Ou prestou atenção na palestra? — Prestei atenção na palestra. — Que bom, de fato seu nome combina com você. — Por quê? — Porque ambos estão ligados à Química. Todos que prestavam atenção riram. Então Carlos continuou. — Mas, voltando ao assunto: a Química Verde pode ser definida como a utilização de técnicas químicas e metodologias que reduzem ou eliminam o uso de solventes e reagentes ou a geração de produtos e subprodutos tóxicos, 78 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 79 que são nocivos à saúde humana ou ao ambiente. Ao longo dos anos, os princípios da Química Verde têm sido inseridos no meio acadêmico, em atividades de ensino e pesquisa, ou seja, criando produtos que reduzam as substâncias tóxicas, proporcionando um ambiente mais sustentável, como disse o Hélio, estamos desenvolvendo muitas pesquisas para obtermos bons resultados. Todos aplaudiram e a palestra havia terminado. Hélio ficou, porque queria conversar com Carlos. — Carlos? Você está ocupado? — Oi, Hélio. Não, pode falar. — É que eu adoro assuntos sobre Química e gostaria de conversar com você. — Claro, o que você quer saber? — Eu gostaria de saber sobre essas pesquisas que vocês estão realizando na faculdade. — Já sei, que tal você ir até lá, aí você conhece a universidade, eu te apresento todo o setor de química e as pesquisas realizadas. — Sério? Eu posso? — Pode, sim. Eu vou deixar um cartão com você, com o número do meu celular e o meu e-mail, então, quando der para você ir lá conhecer, me liga. — Nossa, muito obrigado, pode ter certeza de que eu vou, sim. — Que bom, tem mais alguma pergunta? — Perguntas eu tenho várias, mas vou deixar para fazer quando eu for lá conhecer a universidade. — Então, até mais. — Até, tchau. Hélio estava muito feliz, tinha recebido uma grande oportunidade para conhecer mais sobre a Química. Aproveitando que estava desocupado, foi dar uma volta no parque todo. Na segunda-feira, a rotina voltou novamente. Acordou às 6h15, e depois foi para a escola. Encontrou com todos os seus amigos, tinham vários assuntos para conversarem, mas o sinal já havia tocado. A terceira aula era de Química, e como era a primeira aula do ano, a professora aproveitou para conversar com os alunos: — Bom-dia, classe, como foram as férias? Meu nome é Maria e eu tenho ótimas novidades para contar para vocês. Nessa aula, vamos discutir sobre Química. — Então, nós só vamos ficar conversando sobre a Química? — perguntou um aluno que sentava na primeira carteira. A professora Maria respondeu: 79 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 80 — Sim, durante as férias, eu participei de vários cursos de capacitação de química, que falavam em como melhorar o ensino dessa disciplina e fazer com que os alunos despertassem o interesse em pesquisar e descobrir este assunto, e também de estratégias para que o professor diversificasse suas aulas. E novamente o aluno da primeira carteira perguntou: — Como a senhora vai fazer isso? — Com pesquisas na internet. Como eu não entendia muito bem esse assunto, tive algumas aulas com minha filha, que me ensinou informática, mas vou aprender muito mais com vocês, pois de que adianta a escola ter todos os equipamentos, se nem todos os professores sabem utilizá-los? É muito importante que todos saibam, pois as tecnologias, desde que utilizadas de forma adequada, de modo contextualizado, além de enriquecerem o processo de ensino-aprendizagem, despertam o interesse no aluno. Hélio estava muito animado com a nova proposta da professora e perguntou a ela: — Professora, a senhora realizará experiências também? — Claro, Hélio, pois assim como você, há muitos alunos interessados em vivenciar experiências no laboratório, pois se sentem mais próximos da Química. Vou realizar também mais aulas práticas, pois ajudam na compreensão de teorias estudadas em sala de aula; e no laboratório vocês conhecerão os equipamentos e suas utilizações. E vou convidar especialistas na área para fazer palestras em nossa escola. Paula, que era uma das melhores alunas da sala, perguntou: — Mas, professora, por que só agora a senhora vai começar com esse novo método de ensino? Por que não começou antes? E as outras professoras? Também irão aderir a esse novo método? — Olha, Paula, eu tentei convencer todos os professores a aderirem a esse método, mas muitos preferiram continuar com seu método tradicional de ensino, pois as mudanças acontecem devagar, não de um dia para o outro. — Sim, professora, esse é o problema. Nós estudamos em uma escola pública, onde o ensino é muito precário, faltam recursos para os professores e, é claro, nem se compara com uma escola particular; sabemos que existem professores ótimos como a senhora, que têm vontade de ensinar, se esforçam, querem que nós aprendamos, como também há aqueles que não gostam da profissão. Como vamos ser motivados a aprender? Nesse momento, todos ficaram quietos, então a professora continuou: — É por isso que estou em busca de novas técnicas, para melhorar o ensino e incentivar todos os professores. 80 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 81 — Espero que a senhora consiga obter ótimos resultados, concluiu Paula. Então, a professora se lembrou de mais um assunto: — Sabiam que este é o Ano Internacional da Química? Vários alunos perguntaram: — Ano Internacional de Química? — Isso mesmo. E eu também quero desenvolver um projeto sobre esse tema com vocês, que envolva tanto o conhecimento escolar quanto o do dia a dia e o de outras disciplinas. Outro aluno falou: — Nossa, que complicado! — Quando nós estivermos realizando o projeto, você verá que é simples. Assim, espero que vocês aprendam todo o conteúdo, e que possam explicar corretamente a quem se interessar. Nesse exato momento, o sinal bateu. — Então, alunos, espero que vocês estejam animados para as próximas aulas de Química. Qualquer dúvida ou curiosidade sobre a matéria, é só perguntar. Até mais! Quando Hélio chegou em casa, seu pai estava na sala lendo um jornal. Ao ouvir o filho chegar, chamou-o: — Hélio, faz favor. — O que foi pai? — Hoje eu fui à banca e comprei uma revista para você, filho. Está aí no sofá, achei que você deveria saber sobre o assunto. Ao pegar a revista, Hélio já se entusiasmou ao ler a capa. — Pesquisas envolvendo a Química para a solução dos problemas globais. Muito obrigado, pai! Mais um assunto muito interessante para eu aprender! Hélio começou, então, a ler, e uma das primeiras matérias falava sobre a água. A água é a substância química mais abundante no planeta, cobre 70% da superfície da Terra, sendo que 97% são salgadas, e 3% potáveis, dos quais mais de dois terços fica em geleiras, o que inviabiliza seu uso, ou seja, 0,4% da água existente na Terra está disponível para atender às nossas necessidades. É uma porcentagem muito pequena, e, sem a Química, seria impossível assegurar à população o abastecimento de água, pois é por meio dos processos químicos que a água fica potável, própria para o consumo. Mas como será que isso acontece? 81 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 82 O dióxido de cloro, que é o mais seguro e poderoso oxidante disponível, é utilizado para oxidar detritos e destruir microrganismos. O cloreto de ferro e o sulfato de alumínio os absorvem e precipitam a sujeira em suspensão, eliminando também cor, gosto e odores. O carbono ativo retém micropoluentes e detergentes. A soda e a cal neutralizam a acidez da água. É a indústria química que fornece todos esses e outros produtos, permitindo ao homem continuar a usufruir de uma substância essencial à vida: água pura e saudável. A matéria ainda não tinha terminado, mas D. Ana pediu que Hélio fosse almoçar. Ele, então, se lembrou da importância da Química nos alimentos: — Mãe, você já imaginou a quantidade de alimentos para abastecer o mundo inteiro? — Meu filho, deve ser uma quantidade muito grande, mas por que você quer saber? — É que a revista que o pai comprou fala sobre isso, e eu não havia pensado nisso antes. Imagine a importância da Química para alimentar as pessoas... — E a qual conclusão você chegou, querido? — Que necessitamos de uma enorme quantidade de alimentos, ou seja, maior quantidade de plantação, e, com isso, o solo acaba empobrecendo. As chuvas, ventos, queimadas e constantes colheitas retiram nitrogênio, fósforo, potássio e cálcio da terra, que são importantes para manter a sua produtividade. D. Ana, que já sabia um pouco do assunto, complementou: — Portanto, a Química é importante, porque é por meio dos produtos químicos que fertilizam a terra, conservando e aumentando o seu potencial produtivo. — Isso mesmo, mãe. Sem os fertilizantes químicos, as áreas esgotariam ou ficariam impróprias para a agricultura, sendo abandonadas, diminuindo a produção de alimentos. Aí, seria preciso ampliar novas áreas agrícolas, reduzindo as reservas de matas e florestas. — E os defensivos químicos utilizados pelos agricultores garantem a qualidade dos alimentos, a produtividade das plantações e evitam a disseminação de doenças. Na pecuária, os medicamentos veterinários preservam a saúde dos rebanhos, evitam epidemias e aumentam a produtividade. — Ou seja, a Química é fértil em soluções que possam ajudar o homem a vencer a escassez dos alimentos — concluiu Hélio, mas Antônio logo veio com a seguinte pergunta: 82 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 83 — Mas, meu filho, você não acha, que esses milhares de produtos químicos também podem fazer mal, além de poluir o ar e os rios? — Isso é verdade, pai, na revista que você comprou para mim tem um artigo que fala exatamente sobre isso. As indústrias estão investindo em equipamentos de controle, sistemas gerenciais e processos tecnológicos para reduzirem os acidentes ecológicos, já que a fabricação de produtos químicos envolve riscos. Desse modo, as indústrias passam a emitir menos efluentes, controlam os resíduos e melhoram a qualidade de vida e a segurança no trabalho. — Ainda bem que eles se preocupam com isso. — E tem mais, pai. Sabia que todo o ciclo de um produto químico é analisado para evitar qualquer risco ao meio ambiente, mesmo quando a embalagem é descartada pelo consumidor? E os resíduos ainda são tratados até se tornarem inertes. Isso tudo é realizado por meio de equipamentos sofisticados de controle ambiental, e muitas empresas contam com equipes capacitadas para agirem em caso de acidentes com produtos químicos, evitando riscos ao homem e ao meio ambiente. A Indústria química está investindo cada vez mais em pesquisas para encontrar meios de evitar emissão de poluentes na natureza. — Nossa, Hélio, você está cada vez melhor. Estou vendo que, daqui a uns anos, terei um ótimo cientista em casa. — Obrigado, pai. Assim que terminou de almoçar, Hélio foi até seu quarto, ver seu blog. Tinha recebido um novo comentário; era de um químico que achou interessante as matérias publicadas e sugeriu que ele pesquisasse sobre o desenvolvimento econômico da Química. O comentário desse químico deixou-o muito animado. Ele foi pesquisar sobre o assunto e encontrou um artigo e resolveu publicar. Aplicação econômica da Química A Química está na base do desenvolvimento econômico e tecnológico, da siderurgia à indústria da informática, das artes à construção civil, da agricultura à indústria aeroespacial, não há área ou setor que não utilize em seus processos ou produtos algum insumo de origem química. A indústria química possui um alto grau de desenvolvimento científico e tecnológico, transformando os elementos presentes na natureza em produtos úteis ao homem, como, por exemplo, na formulação de medicamentos, na 83 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 84 geração de energia, na produção de alimentos, na purificação da água, na fabricação de bens, como automóveis e computadores, na construção de moradias e na produção de uma infinidade de itens, como roupas, utensílios domésticos e artigos de higiene que estão no dia a dia da vida moderna. A expectativa é de que, em 2020, ocorra maior crescimento econômico, por meio do investimento em produtos químicos de uso industrial como nos demais segmentos químicos (adubos e fertilizantes, defensivos agrícolas, fibras artificiais e sintéticas, higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, produtos de limpeza, produtos farmacêuticos e tintas, esmaltes e vernizes), impulsionando a demanda de produtos químicos, substituindo as importações e aumentando as exportações, de modo a reverter o déficit comercial observado na balança de produtos químicos. Desenvolvendo uma indústria química de base renovável, investindo na Química Verde, área em que o Brasil poderá se dar bem, classificando-se entre um dos maiores do mundo, tornando-se um país superavitário em produtos químicos e líder neste setor. Mas para que tudo isso ocorra, é necessário bastante inovação, pesquisas e desenvolvimento tanto de novos produtos como de processos avançados, junto com instituições educacionais e de ciência e tecnologia, gerando-se um conjunto de conhecimento e estruturas com potencial para contribuir em projetos. Assim, a indústria química pode propiciar soluções para as mais diversas áreas econômicas e sociais, do consumo das famílias ao investimento habitacional, das novas áreas de matérias-primas renováveis às novas fontes de energia. Hélio estava satisfeito: mais um assunto pesquisado e publicado. Em seguida, ele ouviu a campainha tocar e foi ver quem era, mas sua mãe já havia atendido a porta. Era sua vizinha do andar de cima, chamada Maria. — Filho, venha aqui – disse D. Ana. — Boa-tarde, D. Maria, tudo bem? — Boa-tarde, jovem, estou bem, obrigada. — Filho, a D. Maria disse que perdeu um livro de química de várias páginas e a capa é vermelha. Será que você pode me explicar direitinho a respeito daquele livro que você ganhou? Hélio estava nervoso, não sabia exatamente o que dizer. — E então, Hélio, você vai me explicar ou não? — Mãe, eu menti para você, eu não ganhei da professora, mas eu também não peguei de ninguém, ele simplesmente apareceu na janela do meu quarto, achei muito estranho. 84 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 85 — Hélio, fala a verdade. — Mas eu estou falando a verdade, mãe. Eu tinha inventado aquela história que havia emprestado da professora porque sabia que, se eu falasse a verdade, você não iria acreditar. A vizinha, que estava vendo toda a cena, disse: — Dona Ana, eu acho que o Hélio está dizendo a verdade, a última vez que eu vi o livro, ele estava nas mãos do meu neto, que, com certeza, deixou na sacada; ele caiu e foi parar no quarto do Hélio. — Nossa que confusão! Hélio, vá lá buscar o livro da D. Maria. Hélio estava triste, iria perdeu o livro que para ele significava muito, ainda havia muitos textos que não tinha lido. — Aqui está o livro, desculpe-me por ter mentido e causado todo esse constrangimento. — Não foi nada, querido, eu só estou procurando esse livro, porque meu neto está precisando. Ele vai apresentar um trabalho de Química na escola, e queria o livro, porque fala sobre muitos assuntos. — Tudo bem, D. Maria, eu agradeço muito. Esse livro despertou-me um grande interesse pela Química. Eu até criei um blog sobre esse assunto. — Que bom, Hélio, fico muito feliz em saber que o livro te ajudou. Agora preciso ir, apareça lá em casa, pois eu tenho muitos livros que tratam deste assunto. Quem sabe você se interesse e acrescente ao seu blog. — Pode deixar, D. Maria, eu vou lá, sim, obrigado. Dona Maria se despediu, foi embora com o livro, e Hélio ficou muito chateado. Algumas semanas depois, D. Maria aparece novamente na casa de Hélio. — Olá, Hélio, como você está, querido? — Bem, obrigado, D. Maria, e a senhora, como está? — Estou bem. Tenho uma novidade para você. — Qual? — Como você disse que se interessa muito pelo estudo de Química, vim convidar você para a apresentação do trabalho do meu neto. Eles estão comemorando o Ano Internacional da Química. Haverá várias apresentações, e eu gostaria de saber se você está interessado em ir. — Mas é claro que estou, muito obrigado pelo convite, D. Maria. Eles foram juntos e, ao chegarem lá, a primeira sala que Hélio avistou estava toda enfeitada com imagens de planetas, estrelas, satélites, cometas e meteoros, com uma faixa em que estava escrito A Química do Cosmo. Era a sala em que o neto de Dona Maria, o Matheus, estava. Eles entraram para ver a apresentação. 85 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 86 Havia, em cima de uma mesa, a exposição de um objeto semelhante a um meteoro. Matheus, então, iniciou apresentação: — Boa-tarde, meu nome é Matheus. Como 2011 foi o ano marcado como o Ano Internacional da Química, estamos realizando esse trabalho para mostrar para vocês o quanto ela é importante e aumentar o conhecimento nessa área, já que muitos a julgam uma matéria muito complexa. Acho que vocês já perceberam que eu vou falar um pouco sobre a Cosmoquímica, que é uma ciência que estuda as composições químicas dos astros, como estrelas, planetas e satélites. O pesquisador norte-americano Donald Clayton a define: “É a ciência que mede as propriedades da evolução química da galáxia, mediante o estudo de meteoritos nos laboratórios terrestres.” Clayton se referiu ao meteorito, porque ele é o produto final de diversos objetos, que, por sua vez, foram capazes de guardar em suas “memórias” diferentes momentos da história que levaram à formação do sistema solar, permanecendo neles as características relativas ao ambiente em que eles se formaram. Não acham interessante? Portanto, a Cosmoquímica tem o papel de extrair desses mensageiros do cosmo a informação para se entender a evolução da galáxia, que envolve também assuntos relacionados à Astrofísica, Física, Astrobiologia e Geologia. Sabem como fazemos para determinar os elementos químicos do Sol? Isso se faz por meio da fotosfera solar, a camada da estrela onde tem origem a radiação visível, que fornece informações confiáveis. O Sol representa 99,9% da matéria do sistema solar, portanto, uma boa análise da composição global do Sol é tudo do que precisamos para determinar uma média da abundância dos elementos químicos do sistema solar. E sabem qual é a coincidência entre os meteoritos e o Sol? É o tipo de meteorito condrito. Ele está entre os meteoritos mais primitivos e possui uma composição quase idêntica à da fotosfera solar, portanto o estudo dele permite determinar a composição química do Sol com base na análise de rochas em laboratórios terrestres. Hélio estava completamente fascinado pela Química, passou uma maravilhosa tarde na escola assistindo às apresentações. Quando voltou para casa, Hélio, na expectativa da publicação de novos assuntos, havia recebido um e-mail do Carlos, convidando-o para participar do grupo de pesquisas sobre Química, da UNICAMP. Hélio ficou muito feliz, pois era uma excelente oportunidade para seguir a carreira que tanto almejava e, quem sabe, seria o mais novo cientista do século, a descobrir algo que beneficiasse as pessoas, e até o planeta. 86 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 87 CONSIDERAÇÕES FINAIS É por meio de histórias como essa que passamos a observar e descobrir o que realmente nos cerca, e que tudo possui uma história e curiosidade a seu respeito; basta pesquisarmos e saberemos sobre sua evolução; assim, concluímos que o presente só existe por causa do passado. As oportunidades que se abrem para a descoberta de novos cientistas são a esperança de milhares de pessoas que estão em busca de pesquisas para descobrir a cura de várias doenças, para encontrar uma maneira de evitar a poluição, solucionar os problemas relacionados ao meio ambiente e proporcionar melhores condições de vida para toda a população. BIBLIOGRAFIA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA. O que é química? Disponível em: <http://www.abiquim.org.br/vceaquim/vida.html>. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA. O tamanho do desafio. Disponível em: < http://www.abiquim.org.br/pacto/desafio.asp>. BARREIRO, E. J. Sobre a química dos remédios, dos fármacos e dos medicamentos. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, n. 3, mai. 2001. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/3736545/Quimica-Cadernos-Tematicos-Remedios>. FARIAS, R. F. de. As mulheres e o Prêmio Nobel de Química. Química Nova na Escola, n. 14, nov. 2001. 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Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v= 4KV0HG7wylU&feature=related>. 88 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 89 MENÇÃO HONROSA A QUÍMICA NA NOSSA MESA Estudante: Ingryd Rodrigues dos Passos, 17 anos, estudante do 2º ano do ensino médio Professor-orientador: Roberto Fortunato Donato Externato Santa Terezinha - Araraquara, SP RESUMO É difícil pensar o tempo todo que a Química está em absolutamente tudo – e não apenas nos laboratórios. É preciso entender que ela nos rodeia e que pode fazer tanto bem quanto mal para nós, dependendo da forma como é utilizada. Neste trabalho, constam informações acerca da presença da Química na alimentação humana, principalmente de quem vive nas cidades e está acostumado a consumir uma variedade de alimentos que contém substâncias adicionadas (artificiais ou não), com o fim de melhorá-los nos aspectos de conservação, sabor, cheiro, forma etc. Logo, será visto que, além dos enlatados, congelados, embutidos, há manejo químico também em frutas, legumes, vegetais e carnes. Como já foi mencionado, esse manejo traz benefícios ao consumidor, como poder estocar comida por um bom tempo ou ter a praticidade de fazer algo agradável de se comer imediatamente – benefícios necessários na agitada vida contemporânea; entretanto, também traz malefícios, como problemas de saúde. Aqui, serão decifrados os significados das palavras enigmáticas mais presentes nos rótulos, como os conservantes, acidulantes, flavorizantes, emulsificantes, estabilizantes, entre outros, em quais alimentos mais aparecem e algumas possíveis consequências para a saúde humana. Também abordará o uso de agrotóxicos e o modo como o excesso destas substâncias pode afetar negativamente o solo, a água, os animais e os seres humanos. 89 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 90 INTRODUÇÃO A Química está presente em vários aspectos da nossa vida e, desde os primeiros estudos, nós a temos cada vez mais inserida no nosso cotidiano. Ela está presente no nosso carro, no trabalho, na nossa casa, nas fábricas, nas lojas, em uma infinidade de composições e reações que o homem soube adaptar para que contribuíssem, entre outras coisas, para o bem-estar das populações. A vida contemporânea fez com que consumíssemos cada vez mais alimentos industrializados – a rotina agitada, aliada à longa vida útil, facilidade e praticidade desses alimentos, que já vêm prontos ou semi-prontos para o consumo, permitiram que estes estivessem mais presentes no nosso cardápio. Os alimentos processados recebem uma série de aditivos e complementos, podendo ser naturais, retirados de plantas e animais, ou artificiais, produzidos em laboratório. Existem hoje mais de 2.500 tipos de aditivos químicos, com diversas funções, mas tudo começou com um único intuito: conservar os alimentos por mais tempo. Longe das indústrias, também há o uso da Química se estendendo às plantações, como pesticidas e fertilizantes, para o máximo aproveitamento das colheitas. DESENVOLVIMENTO “No universo nada é sem vida e tudo o que vive se alimenta.” Savarin, em 1825 UM POUCO DE CONTEXTO HISTÓRICO Desde sempre o ser humano teve a necessidade de conservar os alimentos: havia dias nos quais a caça não era satisfatória, épocas de escassez; além disso, muito do que conseguiam estocar se perdia e o que restava ainda se estragava com facilidade. A descoberta do fogo foi o fator crucial para que surgissem os primeiros métodos de conservação dos alimentos, cujo princípio era a desidratação: o homem primitivo percebeu que queimar os alimentos, bem como apenas deixá-los perto do fogo, fazia-os durar por mais tempo. Enquanto isso, os povos que viviam nas regiões mais geladas do planeta notaram que proteger seus alimentos de outros predadores debaixo do gelo retardava a sua deterioração. Foi uma descoberta e tanto, uma vez que o clima frio favorecia a escassez de comida. Conta-se que os fenícios já defumavam alimentos, os egípcios os salgavam, os indígenas (que viviam no território que hoje corresponde ao Brasil), depois 90 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 91 de cozinhar as carnes, mergulhavam-nas na própria banha do animal; a fermentação de frutas e cereais deu origem à produção de vinho e cerveja – e tudo isso foi descoberto e utilizado com o mesmo propósito: fazer a comida durar por mais tempo. Essas técnicas foram aperfeiçoadas com o decorrer do tempo, mas, mesmo assim, precisava-se de mais. No início do século XIX, o governo francês ofereceu um prêmio a quem apresentasse um novo modo de conservar a comida. Foi então que Nicolas Appert levou a melhor. Em 1809, Appert descobriu que embalar, a vácuo, alimentos já esterilizados fazia com que ficassem por mais tempo conservados – nasciam os enlatados. Logo depois vieram os engarrafados, com Peter Durant, em 1810. OS BASTIDORES DAS PRIMEIRAS TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO Tudo o que foi dito até aqui foi usado pelos povos, porém sem o conhecimento exato do que ocorria em tais processos, para que conservassem os alimentos. Quando aqueles povos perceberam que o gelo fazia a carne durar mais, não sabiam que isso acontecia porque as bactérias e os microrganismos têm seu metabolismo reduzido em baixas temperaturas. Do mesmo modo, também não sabiam que a secagem e a salga1 se mostravam eficientes porque retiram a água da carne, o que impede a proliferação de microrganismos. Já a defumação funcionou porque impede o ranço da gordura. E quanto a mergulhar a carne em banha ou parafina? Ora, estes acabam atuando como uma barreira contra o ar, de forma que bactérias aeróbias não podem sobreviver. Você sabia que os primeiros derivados do leite nasceram da necessidade de conservá-lo? Como o leite estragava com facilidade, criavam receitas que o utilizassem, a fim de evitar o seu desperdício. Vieram daí a manteiga, os iogurtes e os queijos. Choque térmico: a pasteurização Louis Pasteur, em 1864, deu origem ao processo de pasteurização, usada principalmente na produção de leite. Consiste em elevá-lo a alta temperatura, como 60º C, em que bactérias não possam sobreviver, e logo após resfriá-lo, para o caso de ainda haver microrganismos. Em seguida, o leite é embalado. 1. O sal é um agente higroscópico, ou seja, absorve umidade. 91 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 92 O CENÁRIO INDUSTRIAL: E QUE VENHAM OS ADITIVOS! Há alguns fatores que tornaram necessário o uso de aditivos aos alimentos. A partir do século XIX, enquanto acontecia uma intensa urbanização e industrialização na Europa e nos Estados Unidos, houve também um surto demográfico. Era necessário, portanto, que a produção de alimentos tivesse escala industrial. Com o desenvolvimento da Química e sua inserção na indústria, já se podia conservar os alimentos desde a fábrica até o consumidor e, mais do que isso, guardá-los no armário ou na geladeira, sem a preocupação de que fossem estragar logo. Com o aperfeiçoamento da indústria de alimentos, surgiu uma feroz concorrência sobre qual produto agradava mais o consumidor. A necessidade, neste momento, já não era mais apenas conservar, mas também deixar os alimentos mais gostosos e atrativos. É natural que o consumidor associe à cor ou à textura do alimento sensações de sabor e acabe levando para casa o que lhe parece mais agradável. Modificar os alimentos dessa forma foi possível graças ao uso de aditivos químicos e naturais, hoje largamente utilizados pela indústria alimentícia. Os tipos de aditivos mais utilizados e suas funções podem ser observados na tabela 1. Tabela 1 – Principais aditivos e suas funções Tipo Aditivo Função Exemplos Onde Encontrar Acidulante Dar acidez; conservar Ácidos: cítrico, fosfórico e láctico Refrigerantes, doces Antioxidante Impedir a ação do Ácido ascórbico, oxigênio BHA, BHT, EDTA, galato de propila Queijos, margarinas, comidas à base de peixe, aves ou carne Antiumectante Tirar a umidade Fermento químico Aromatizante/ flavorizante Dar ou Buterato de etila, intensificar sabor benzaldeído, acetato e/ou aroma de etila Doces, refrigerantes, biscoitos, salgadinhos Conservante Conservar Margarinas, carnes, pães, farinhas Carbonato de cálcio Ácidos: benzoico e sórbico, dióxido de enxofre, nitritos, nitratos 92 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 93 Tabela 1 – continuação Tipo Aditivo Função Exemplos Onde Encontrar Corante Dar, intensificar ou suavizar cor Nitrito de sódio, caramelo, colorau, cochonilha Doces, bebidas, carnes, salsichas Edulcorante Adoçar Sacarina, ciclamato, aspartame Adoçantes, refrigerantes, sucos de frutas Espessante Dar volume Carboximetilcelulose, Gelatinas, geleias goma arábica, musgo irlandês Estabilizante Dar cremosidade Fosfolipídios, polissorbato 60 Biscoitos, sucos e polpa de frutas, margarina, leite Essa nomenclatura é de difícil compreensão por grande parte da população e por muito tempo a maioria deles vinha em códigos. Os industriais argumentam que, no final das contas, tanto faz para o consumidor ter o produto com códigos ou com o nome por extenso, já que ambos são complicados e a grande maioria não entende os termos técnicos ou científicos. Entretanto, o Instituto de Defesa do Consumidor (PROCON) defende que o consumidor tem direito ao máximo possível de informações com relação ao que consome, o que significa que os rótulos de alimentos devem informar todos os ingredientes do produto, que devem ser escritos em língua portuguesa e apresentar os nomes por extenso. Ainda assim, hoje em dia, encontram-se embalagens apenas com alguns códigos ou mesmo só com o tipo de aditivo, não constando nelas seu nome ou código. SAÚDE HUMANA De acordo com o artigo 2º do decreto n° 55.871, de 24 de abril de 1965: “Considera-se aditivo para alimento a substância intencionalmente adicionada ao mesmo com a finalidade de conservar, intensificar ou modificar suas propriedades, desde que não prejudique seu valor nutritivo.” O decreto citado acima é o que contém as normas impostas, no Brasil, para que haja controle do uso de aditivos químicos – afinal de contas, o excesso deles, em vez de contribuir para o bem-estar da população, prejudica a saúde 93 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 94 humana. É por isso que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estipula um limite de consumo diário de aditivos, dado em miligrama por quilograma de peso corpóreo (mg/kg p.c.), baseado em testes feitos com animais. O órgão que regulamenta essas atividades é a Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA), mas, mesmo assim, o sistema falha. Um exemplo é o caso do suco de caju: em 1987, descobriu-se que os teores de dióxido de enxofre, usado no suco de caju como conservante, estavam até sete vezes superior ao limite permitido. Na mesma época, treze indústrias foram investigadas e apenas duas estavam dentro do padrão. No organismo humano, o excesso dessa substância pode causar náuseas, diarreia e até alergias. Veja alguns exemplos de problemas de saúde relacionados com certos aditivos, na tabela 2. Tabela 2 – Aditivos X saúde Aditivo Problemas Relacionados BHA e BHT Tóxicos aos rins Dióxido de enxofre Redução de vitamina B1; mutações genéticas EDTA Anemia e descalcificação Fosfolipídios Colesterol e arteriosclerose Nitratos e nitritos Câncer no aparelho digestivo Sacarina Câncer Outro ponto é quanto ao valor nutricional do alimento. Alguns alimentos, quando ganham certos aditivos, têm seu valor nutricional alterado, pois há certas substâncias que o organismo não aproveita, como o buterato de etila (que dá o gosto de manteiga) e o acetato de etila (que dá o sabor de maçã e menta). 94 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 95 O vilão: glutamato monossódico (GMS) Ciclamatos Ainda há controvérsias sobre o uso dos ciclamatos de sódio e de cálcio nos alimentos. Tudo começou no final da década de 1960, quando testes realizados em ratos de laboratórios por pesquisadores norteamericanos apontaram a substância, que é usada para adoçar alimentos, como cancerígena – conclusão que levou à proibição do uso de ciclamato nos Estados Unidos. Em 1999, o ciclamato foi classificado pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer como pertencente ao grupo 3, isto é, não-cancerígeno para humanos. No organismo humano, o perigo do ciclamato é a sua possível conversão em cicloexilamina (que é tóxica) pela flora bacteriana intestinal. Acontece que a maioria das pessoas têm capacidade inferior à 1% para metabolizar ciclamato à cicloexilamina. Como a maioria dos aditivos químicos, os ciclamatos possuem um limite de consumo diário de 11 mg/kg p.c., fornecido pela OMS. Como é muito usado em refrigerantes “zero”, pessoas que fazem dietas especiais e consomem este tipo de alimento tendem a ter uma média de consumo de ciclamatos maior do que o resto da população. O glutamato monossódico é um aditivo já usado desde muito tempo atrás pela indústria, famoso por realçar o sabor dos alimentos – está presente nos caldos e temperos prontos, salgadinhos, enlatados, congelados, etc. Na verdade, o glutamato monossódico é tão aceito porque existe um 5º estado de sabor reconhecido pela nossa língua, o “unami”, que é o sabor do glutamato. Acontece que muitos estudos vêm sendo feitos, desde a década de 1970, sobre a possibilidade de o GMS estar relacionado a distúrbios no organismo humano. Apesar de considerado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA, desde 1959, como um aditivo seguro, relacionam-se ao consumo regular do glutamato problemas como obesidade, danos na visão, dores de cabeça, fadiga e depressão. Além disso, existe o chamado Complexo dos Sintomas do GMS, que ocorrem com pessoas que ingerem altas doses do ingrediente. Alguns desses sintomas são: fraqueza, náuseas, formigamento, dor no peito, dificuldade respiratória, entre outros. Atualmente, alguns especialistas chegam a afirmar danos piores causados pelo glutamato monossódico, como mal de Alzheimer, mal de Parkinson, déficit de atenção, doença de Huntington e até câncer, uma vez que o organismo usa o glutamato natural, produzido pelo cérebro (um aminoácido), receptor de impulsos nervosos. 95 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 96 PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DE ALGUNS ALIMENTOS Veja como alguns dos alimentos mais consumidos no cotidiano são tratados desde o início. Carnes Logo após o abate, são adicionados às carnes nitritos e nitratos, que as conservam vermelhas. Além disso, essas substâncias têm a função de eliminar a bactéria Clostridium botulinum, causadora do botulismo, cujo principal sintoma é a paralisia muscular. Por outro lado, os nitratos e nitritos podem fazer mal à saúde humana. Os nitratos se transformam em nitritos e estes, por sua vez, junto com o ácido clorídrico (presente no estômago), formam o ácido nitroso. Esse último, sob a ação de enzimas do organismo, se transforma em nitrosaminas, que são altamente cancerígenas. Não é de hoje a busca pelo aproveitamento de várias partes dos animais – tome como exemplo a feijoada, que conta com diversas partes do porco. Mas, alguns frigoríficos exageram: em dezembro de 2008, por exemplo, um frigorífico foi interditado, em São Paulo, por usar até carnes estragadas na produção de embutidos. O mito da salsicha Talvez a salsicha seja o item número um, entre as carnes, no que diz respeito à adição de aditivos. Para começo de conversa, a estrela do hot-dog nada mais é do que uma mistura do que não foi aproveitado do boi, do porco ou do frango, como os restos e as partes menos apreciadas (bochechas e vísceras estão inclusas). Estes restos são cortados em pedaços bem pequenos e depois triturados. Daí, recebem sal, amido de milho, temperos e conservantes (como o nitrito de sódio) para ficar com aquela cor rosinha que conhecemos. Neste momento, acredite: a salsicha é 55% carne e 45% de outros ingredientes. Essas carnes vão encher as tripas (naturais, como intestino de carneiro, ou artificiais, como plástico), que, logo em seguida, vão passar por um choque térmico: serão submetidas a uma temperatura de 80ºC e depois a uma ducha gelada, para matar os microrganismos que tenham sobrevivido ao calor. A salsicha já está pronta para ser consumida, mas ainda é tingida com urucum (um corante natural) e depois recebe ácido fosfórico para conservar-lhe a cor. Agora que já sabe como a salsicha é feita, esqueça o mito de que colocam até papelão nela! 96 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 97 Frutas Devido à fragilidade das frutas, infelizmente, muitas indústrias as substituíram por aditivos produzidos em laboratório. Para o comércio, as frutas são tratadas com agrotóxicos desde que são plantadas até depois de serem colhidas. Tomemos a banana como exemplo: ela é colhida ainda verde e, para amadurecer, é colocada num galpão com gás etileno. Para que a sua casca não seja decomposta por fungos, é adicionada nistatina, um antibiótico. O lado ruim é que, quanto mais nosso organismo absorve antibióticos, mais há a chance de as bactérias se tornarem imunes a eles, de forma que esses microrganismos podem trocar entre si seu material genético e, assim, formar linhagens mais resistentes. Chocolate O chocolate, doce de grande aceitação pela população, é outro alimento que passa por grandes transformações. As sementes do cacau, matéria-prima do chocolate, são torradas e moídas, mas ainda não tem aquele gostinho bom. Para isso, são adicionados açúcar, leite em pó, lecitina de soja (um estabilizante), vanilina (um aromatizante) e ainda complementos, como frutas e castanhas – é daí que vem a variedade de chocolates: ao leite, meio amargo, crocante... Agora só falta tratar para ficar macio, cremoso, com brilho e textura apropriados, enformar, embalar e mandar para os mercados. ABAIXO ÀS PRAGAS Para impedir a proliferação de pragas e garantir a fertilidade do solo, os agricultores usam, em larga escala, agrotóxicos e fertilizantes. O problema é que essas substâncias acabam se acumulando na casca e nas folhagens dos alimentos. Quando o homem ingere esses alimentos, consequentemente ingere essas substâncias indesejáveis, que podem causar distúrbios no organismo humano, tais como hemorragias, disfunção renal e hepática. Atualmente, há a preocupação em trocar os agrotóxicos utilizados por outros de menor toxicidade; entretanto, enquanto alguns produtores estão, de fato, voltados para a uma prática sustentável, outros ainda estão presos ao uso de defensivos já considerados obsoletos pelos químicos. Onde o uso de agrotóxicos é feito sem as precauções necessárias, como por exemplo, pulverizar longe das nascentes de rios e de criações de gado, há casos de contaminação até no leite materno, que sempre foi considerado “o alimento mais puro” – e os efeitos tóxicos podem ficar armazenados nas camadas de gordura do corpo da mãe. 97 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 98 CONSIDERAÇÕES FINAIS De fato, hoje não dá para ignorar a importância da Química em diversos aspectos, inclusive no que comemos. É difícil ir ao mercado e trazer tudo da seção orgânica, uma vez que estes itens estragam com maior facilidade. Além disso, a rotina nos obrigou a ter um estoque de comida, coisas fáceis de serem preparadas ou que sejam de consumo imediato. O trabalho, a família, os compromissos não permitem que todas as refeições sejam preparadas e consumidas dispondo-se de muito tempo. Outro fator importante é o aumento do número de mulheres inseridas no mercado de trabalho, buscando realização profissional e deixando para depois a ideia de montar uma família. Também diminuiu a quantidade de mulheres que têm como profissão “cuidar da casa” e cozinhar para o marido e os filhos. Esses motivos, entre alguns outros, mostram que consumir alimentos industrializados tornou-se indispensável, o que compreende, por consequência, que não há como grande parte da população mundial comer tudo in natura e sem química. Um procedimento que está sendo cada vez mais usado em alguns países é a Química Verde, que consiste na utilização de técnicas químicas e metodologias que reduzem ou eliminam o uso de solventes e reagentes ou geração de produtos e subprodutos tóxicos, que são nocivos à saúde humana ou ao ambiente. A Química Verde pode ser encarada como a associação do desenvolvimento da química à busca da autossustentabilidade. Entretanto, devemos controlar o que ingerimos, visto a comprovação científica dos danos que os aditivos podem causar ao organismo humano, que podem ser simples, como náuseas, até muito graves, como câncer. Também é preciso entender que nem tudo o que é artificial nos prejudica – tenha como exemplo a vanilina, aromatizante que dá o sabor e aroma de baunilha: esta não causa dano algum à saúde humana, enquanto o aroma natural de baunilha, retirado da fava tonka, contém cumarina, de alto poder cancerígeno. A Química nos oferece alternativas para alimentar a população em constante crescimento. Fertilizantes químicos conservam e aumentam o potencial produtivo do solo e repõem alguns minerais retirados pela ação de chuvas, do vento e do próprio ser humano. Os defensivos agrícolas ajudam a melhorar a produtividade e a qualidade das plantações evitando a disseminação de pragas. Enfim, a química nos oferece muita ajuda para que o ser humano, nesse futuro próximo, tenha munição para combater a fome no planeta. Em suma, a Química dos alimentos veio, já há algum tempo, para satisfazer nossas necessidades e até caprichos. O consumidor precisa estar sempre alerta com relação ao que consome, para que haja um equilíbrio no qual é possível ser saudável e ingerir alimentos industrializados. 98 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 99 BIBLIOGRAFIA AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Esclarecimentos sobre o uso do edulcorante ciclamato em alimentos. Disponível em: <http://www.anvisa. gov.br/alimentos/informes/40_020609.htm>. Acesso em: 25 jul. 2011. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA. Química é vida. Disponível em: <http://www.abiquim.org.br/estudante/vida_frame.html>. Acesso em: 25 ago. 2011 BRASIL. Decreto n°. 55.871, de 24 de abril de 1965. Dispõe sobre as normas reguladoras do emprego de aditivos para alimentos. Legislação. Brasília: Anvisa, 1965. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/legis/decretos/55871_65.htm>. Acesso em: 25 jul. 2011. BRENTANO, C. Decifrar os rótulos é um desafio. Folha de São Paulo, São Paulo, 30 mar. 1992. CANUTO, L. Especialistas alertam para o perigo dos agrotóxicos para a saúde humana e o meio ambiente. Disponível em: < http://agenciabrasil.ebc.com.br/ noticia/201104-02/especialistas-alertam-para-perigo-dos-agrotoxicos-para-saude-humana-emeio-ambiente>. Acesso em: 15 jul. 2011. ENCICLOPÉDIA Novo Conhecer, v. 7. Alimento ou veneno. São Paulo: Abril Cultural, 1977. LENARDÃO, E. J. O que é química verde. Disponível em: <http://www. ufpel.tche.br/iqg/wwverde/html/Qu%EDmica_Verde.htm>. Acesso em: 25 ago. 2011. MERCOLA, J. MSG: is this silent killer lurking in your kitchen cabinets. Disponível em: <http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2009/04/21/msgis-this-silent-killer-lurking-in-your-kitchen-cabinets.aspx>. Acesso em: 18 jul. 2011. PRADO, A. C. 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São Paulo: Atual, 1994. 40 p. 99 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 101 MENÇÃO HONROSA UM DIA IREI MUDAR O MUNDO Estudante: Juliana da Silva Lavor, 18 anos, estudante do 3º ano do ensino médio Professor-orientador: Vagner Barbosa de Lima Associação Educacional Professora Noronha – Dom Pedro, MA RESUMO O conto tem por objetivo não só salientar as práticas do ensino de Química no ensino básico, como também mostrar a atuação da mulher dentro do contexto científico e ainda elucidar a importância da Química tanto dentro do organismo humano, quanto para a sociedade em geral. Esses temas são tratados por meio da história de Juliana Silveira, que nasceu em uma cidade pequena no estado do Maranhão. Ela, ao completar oito meses de idade, fala pela primeira vez, sendo sua primeira palavra “Química”, deixando espantada a sua mãe, que sempre dizia que sua filha iria mudar a história do mundo. A vida escolar de Juliana começa aos sete anos de idade, na Escola da Professora Noronha. Até a 7ª série do ensino fundamental, o histórico escolar da aluna é de destaque na escola; entretanto, a partir da 8ª série, essa situação muda drasticamente. É quando ela se depara com a disciplina de Química e com o professor Woshigton Bash, um rígido e rigoroso professor, que utilizava nas aulas uma linguagem e exemplos totalmente desvinculados da realidade dos educandos. Devido a isso, Juliana e 75% de sua classe acabam reprovando na 8ª série. Durante as férias, algumas transformações ocorrem no corpo da garota, entre elas, a menarca. Ao estudar sobre os hormônios que ocasionam a menstruação, ela descobre que quase tudo que ocorre no organismo humano é ocasionado pela Química, inclusive a menstruação, o que faz com que a adolescente acabe se interessando por essa ciência. Outros fatos que marcaram a história escolar de Juliana foram o afastamento de Woshigton Bash da escola, por problemas de saúde, e a entrada de um professor substituto, Márcio Roney, que utilizava em sala de aula vários métodos lúdicos na aprendizagem de Química, entre eles o bingo e as cantigas da tabela periódica. Com o passar do tempo, ela se torna mulher e seus pensamentos amadurecem, principalmente o desejo de um dia mudar o mundo 101 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 102 para melhor. Nesse período, ela se encontra no 3º ano do ensino médio na mesma escola, que passou a chamar-se Associação Educacional Professora Noronha. Foi nesse local que, no dia 8 de março de 2011, ocorreu um debate na aula da professora Hildete Noronha, de sociologia, na qual se discutiu a atuação da mulher nos ramos científicos. Destacou-se a história de Marie Curie. Debateram muito sobre a protagonista os alunos Marcos Santana, Juliana Oliveira e Juliana Silveira. No mesmo ano, Juliana Silveira consegue ser aprovada na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) para medicina; logo depois disso, ela se integra a uma equipe de jovens formandos que tem como objetivo básico encontrar a cura para a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS ou SIDA) e para o câncer. INTRODUÇÃO O estudo da Química como ciência no ensino básico sofre com algumas barreiras, principalmente no que toca à realidade do educando, muitas vezes ocasionando desinteresse pela matéria, por parte do aluno. Uma das soluções básicas para isso deve ser a implementação de atividades lúdicas no ensino da Química, facilitando o entendimento dos envolvidos no processo ensinoaprendizagem. É sempre importante salientar as relações da Química com o organismo, assim como os impactos dela na sociedade – relações que vão da produção de hormônios à teleterapia ou aos combustíveis fósseis. Outro ponto importante é a figura da mulher no meio científico; muitas passam despercebidas aos olhos dos estudantes. Entre elas, destacam-se Marie Curie, Irène Curie, Maria Göeppert-Mayer, Rosalind Franklin, Anna Palmer, Williamina Fleming, Antonia Maury, Annie Cannon e Henrietta Leavitt. Como ponto-chave temse a descoberta da radioatividade por Marie Curie. UM DIA IREI MUDAR O MUNDO Em uma cidade pequena do interior do estado do Maranhão, chamada Dom Pedro, nasceu uma meninazinha encantadora. Sua mãe, Dona Maria Silveira, e seu pai, José Silveira, a registraram como Juliana Silveira. Para eles essa criança um dia iria mudar a história do mundo. Juliana cresceu e, quando estava lá pelos oito meses de idade, começou a falar, e sua primeira palavra foi: química. Dona Maria ficou abobalhada, pois sua filha tinha falado algo que nem ela mesma sabia ao certo. 102 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 103 — José, venha cá! — fala ela com espanto ao seu marido. — Juliana acaba de falar. José, com um pouco de alívio no semblante, diz a ela: — Mulher isso é normal, a menina já tem quase um ano de idade. Quando comecei a falar, tinha por volta da idade dela. Maria fala novamente a José: — Marido, você não entendeu, ela chamou o nome de uma tal de Química. João responde: — Oh, mulher, deixe de bobagem, Química é uma ciência que estuda as transformações dos objetos, ela bem ouviu alguém falar essa palavra e agora está repetindo, isso é normal. No entanto, Dona Silveira ainda continuava encabulada, pois como uma criança tão pequena poderia ter falado uma palavra tão complicada? Os anos se passaram e Juliana já completara sete anos de idade. Já estava no momento de sua mãe colocá-la na escola. Mas o apego da criança com a mãe era algo muito profundo, ela não conseguia passar um só instante longe da sua “mama”, como ela mesma a chamava. Porém aquele era o momento certo de colocar Juliana na escola, pois como a própria Dona Maria costumava dizer: — Para mudar o mundo, tem antes que aprender a ler e escrever; a base de tudo é a educação. Quando Dona Silveira falou para o senhor José que iria colocar Juliana para estudar, ele reagiu com um pouco de estranheza no início, dizendo: — Mas, mulher, a Juliana é tão pequenina, e além do mais, ela é muito apegada a você. Jamais vai adaptar-se a um local onde ela não estará próxima de sua “mama”. Porém a mãe rebateu, dizendo: — Mas, José, para que a pequena Juliana venha a aprender, nós temos que fazer este sacrifício, pois é para o bem dela. Ele, um pouco desconsolado, falou: — Você tem razão, mulher, amanhã mesmo pode ir procurar uma escola para nossa filha, e não se esqueça de escolher uma próxima daqui de casa, pois, dessa forma, posso visitá-la sempre que sentir saudades. No dia seguinte, Maria acordou bem cedo, fez o café para seu marido e acordou Juliana, e contou que iria colocá-la na escola: — Julinha, acorda querida, hoje vai ser um dia muito especial para você! Ela, muito alegre, acordou e disse: — Oba! Vamos viajar “mama”? 103 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 104 Sua mãe respondeu: —Não filha. Ela perguntou novamente: —Hoje é meu aniversário “mama”? E sua mãe respondeu: — Não filha, sabe você já está na idade de estudar, hoje nós iremos procurar uma escola para você. A menina disse: —Mas, mãe, não quero ficar longe da senhora. Dona Maria disse: — Filha, eu sempre lhe disse que você um dia vai mudar a história, e para que isso venha a ocorrer, você tem que ir à escola. A menina disse, de maneira um pouco chorosa: — Tudo bem, mamãe, se a senhora diz que é para ser assim. Dona Maria, ainda com o coração apertado, escolheu uma escola próxima a sua casa, que era a escola da Professora Noronha, que, anos mais tarde, iria se chamar Associação Educacional Professora Noronha. É nesse meio escolar que Juliana cresceu e se desenvolveu, todo dia aprendendo uma coisa nova e levando para casa os ensinamentos das aulas diárias. Na fila, no pátio, a formação cívico-religiosa – que era proferida sempre pelo professor David. As citações desse professor que mais impregnaram a mente da pequena Juliana foram: “Dessa escola sairão pessoas que um dia irão mudar a história” e, ainda, “Tudo é possível ao que crê”. Juliana a cada dia crescia mais. Quando estava com dez anos de idade, ingressou na 5ª série do ensino fundamental. Foi nesse período que ela passou a amar as matérias de geografia e português. Todo dia, quando chegava em casa, a menina corria para sua mãe e contava uma nova descoberta sobre o planeta Terra: — Mãe, hoje o professor Vagner nos ensinou a importância da hidrosfera para os seres vivos, ele nos disse que essa camada da biosfera é formada pelos rios, mares e oceanos, cobrindo mais de 70% da superfície terrestre. — Oh! Que bom, minha filha, você todo dia aprende algo novo — disse dona Maria. E Juliana continuava aprendendo tudo com facilidade até a 8ª série, quando ela se depara com a matéria de Química. Nessa época, o professor dessa matéria era Woshigton Bash, um moço de aproximadamente trinta e cinco anos, alto, gordo e um pouco calvo. Esse professor era diferente dos demais; era calado, rígido ao extremo e, até certo ponto, chato. 104 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 105 No primeiro dia de aula na 8ª série, Juliana ficou apavorada com um moço sério e carrancudo que adentrou a sala. No mesmo momento, os alunos começaram a cochichar uns com os outros: — Eita! Eita! Eita! O professor Bash, ele é ditador. O senhor Bash repreendeu a todos, dizendo: —Na minha matéria, aluno bom é aluno calado. Em menos de um segundo, toda a classe se silenciou. Um terror mórbido assolou todos os alunos, principalmente Juliana, que tinha um medo enorme de Química, mesmo antes de conhecer a matéria. Agora, ela temia a matéria e o professor. Nesse dia o senhor Bash lecionou sobre o que era a matéria, entretanto as explicações do professor não esclareceram as dúvidas dos alunos, pois as palavras utilizadas por ele eram altamente formais, totalmente distantes da realidade dos estudantes. Em certo momento da aula, ele falou sobre as propriedades organolépticas da matéria, dizendo: — Prezados alunos, as características organolépticas dos compostos são processadas pelas partes sensoriais do organismo que as captam. Boa parte dos alunos ficou passivamente ouvindo o professor falar sem sequer interpretar uma palavra. A sala continuou calada, sem fazer um mínimo barulho, todos temendo o “assombrador” senhor Bash. Para Juliana, aquele foi o horário de quarenta e cinco minutos mais demorado de toda a sua vida escolar, e para piorar a situação, ela não conseguia assimilar uma só palavra da temida aula de Química, aumentando ainda mais as suas incertezas a respeito da matéria. Os dias foram passando e as aulas de Química foram se sucedendo uma após a outra, sem que Juliana assimilasse nenhum conteúdo. Até que, algumas semanas depois, o senhor Bash entra na sala, organiza a classe em cinco filas e distribui algumas folhas a cada aluno, dizendo em um tom assustador: — A partir de agora, todos vocês têm quarenta e cinco minutos para responderem essa prova de Química, e não darei nem um minuto a mais. Toda a sala ficou em estado de pânico. Como é que eles iriam responder a uma coisa tão difícil como aquela prova, que nem marcada foi? No mesmo instante, Juliana sentiu um calafrio e disse baixinho: “Eita! É hoje que vou tirar a minha primeira nota baixa na escola. Estou frita! Ela lia e relia a prova; entretanto, em um esforço em vão, sem conseguir processar nenhuma das perguntas na cabeça. E começou a pensar: “Que prova difícil! Essa matéria está muito distante da minha realidade. O que é uma reação Química? O que é energia? O que é caloria? O senhor Bash já falou sobre isso, mas eu não consegui assimilar o conteúdo. Estou “ferrada”. 105 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 106 Logo em seguida, a secretária da escola, Dona Vera, toca a sineta. Já era a hora de entregar a prova, e Juliana, assim como toda a sala, não tinha respondido sequer uma questão. Quando chegou em casa, Dona Maria depressa percebeu o ar de tristeza da filha e a indagou: — O que foi querida? Não foi bem na prova de Química? Ela respondeu: — É justamente por causa dela que estou triste mamãe. Sou péssima nessa matéria e além do mais os conceitos dela são muito distantes da nossa realidade. A mãe falou: — Mas não desanime, filha, até porque a primeira palavra que você falou logo aos oito meses de vida foi justamente “Química”. — É, mamãe, só poderia ser uma criança sem mentalidade para falar uma palavra horrível dessas — disse Juliana tristonha. O ano passou e Juliana continuou a tirar notas baixas em Química. No término do ano letivo, ela recebeu uma triste notícia, que a abalou muito: ficara reprovada, pois sua média final nessa matéria tinha sido abaixo de três. Ela e mais 75% da classe fariam novamente a 8ª série no ano seguinte. Entretanto muitas coisas aconteceram ao longo das férias. Uma delas foi o início de sua menstruação. A outra era relacionada com o professor Bash, que acabou se afastando do meio escolar por complicações nas pregas vocais. Com a menstruação, surge um fator crucial para o interesse da garota pela Química, pois ao estudar a respeito dos hormônios, Juliana entendeu que boa parte do que ocorre no corpo humano tem a ver com a Química, dentre elas, a própria menstruação. Isso a ajudou a desfazer a ideia de distância entre essa ciência e a vida humana. Com o afastamento do professor Bash, surge, na escola, o professor Márcio Roney. Nas férias, os meses de janeiro e fevereiro passaram muito rapidamente para Juliana. Ela não via o momento de conhecer o novo professor de Química e pedir-lhe explicações mais detalhadas sobre a menarca. — Mamãe, estou ansiosa para ver como é o Márcio. Alguns amigos meus disseram que ele é ótimo, explica as coisas direitinho e ainda faz dinâmicas em sala de aula, para facilitar na aprendizagem. E também quero tirar algumas dúvidas com ele sobre a menstruação, pois estive estudando e vi que os hormônios são substâncias químicas — disse Juliana. A mãe da garota fala, entusiasmada: — Que bom, filha! Espero que neste ano você aprenda realmente Química, para você mudar a história do mundo! 106 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 107 A garota responde, com ar alegre: — Pode deixar, mamãe, não vou decepcionar você. Chegando à escola, Juliana se dirigiu à fila e compartilhou com os colegas as descobertas que fez ao longo das férias, dentre elas, a relação da Química com o ser humano. A fila terminou e a garota se dirigiu ao encontro da diretora da escola, que, logo que a viu, disse: — Olha, você está uma mocinha; desenvolveu-se bastante nesses últimos dois meses. Ela, toda feliz, respondeu: — É, dona Noronha, foi a Química hormonal, fiquei abismada ao perceber que essa ciência está em tudo ao nosso redor. Ao chegar à sala de aula, ela encontra um rapaz sorridente, alegre e feliz com a vida. No seu pescoço, um crachá com o nome “Márcio Roney C. P. Barreto”. Com muito espanto, ela diz: — Professor Márcio, muito prazer! Chamo-me Juliana Silveira e, diga-se de passagem, sou uma admiradora sua. Ele responde: — Já começamos bem! Muito prazer! Nessa aula, Juliana tirou todas as suas dúvidas sobre Química e os seres humanos, foi a aula mais divertida que teve; a aula em que ela aprendeu mais sobre essa ciência. Nas aulas de Química seguintes, o senhor Roney levou para a classe experimentos simples; entretanto, de extrema importância, que auxiliava os alunos no aprendizado da matéria. Toda a turma de Juliana adorou quando o professor levou à sala o Bingo da tabela periódica e as cantigas da tabela. Ela, entusiasmada, todos os dias conhecia um novo elemento químico, de uma maneira divertida e simples. Nas cantigas da tabela periódica, todos os alunos cantavam em alto e bom som. Tomemos, por exemplo, o 1º grupo da tabela periódica, bem como o 2º, o 3º e o 4º grupo, que ela aprendeu de uma maneira muito especial: Hoje Li Na Kama Robinson Crusoé Francês. H / Li / Na / K / Rb / Cs /Fr Bela Margarida Casou com o Senhor Bartolomeu Ramos. Be / Mg / Ca / Sr / Ba / Ra OS SeTe Porquinhos O / S / Se / Te / Po Foram Clamados Bravos Índios Ateus. F / Cl / Br / I / At 107 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 108 A 8ª série foi o período mais produtivo para Juliana, como também para toda a sua turma. Os anos se passaram e aquela adolescente de quinze anos agora era uma mulher e, cada vez mais, a ideia de transformar o mundo crescia em sua mente. Esse era um ano decisivo na sua vida, em breve prestaria vestibulares e o ENEM, e o mercado de trabalho estava cada vez mais perto de sua realidade. No dia oito de março do ano de 2011 um debate ocorrido com a professora Hildete Noronha, aula de sociologia, fez com que a jovem passasse a pensar mais profundamente na atuação da mulher no campo científico. Nesse dia, ao iniciar o debate, a professora incentivou os estudantes a pensarem sobre a importância da mulher nas ciências, salientando principalmente a Química, pois, naquele ano, comemorava-se o ano internacional da Química. O debate foi muito produtivo; alguns colegas de Juliana, como Marcos Santana e Juliana Oliveira, citaram a figura de Marie Curie, dizendo: — As mulheres tiveram papel crucial nos ramos científicos, como Marie Curie, Irène Curie, Maria Göeppert-Mayer, Rosalind Franklin, Anna Palmer, Williamina Fleming, Antonia Maury, Annie Cannon e Henrietta Leavitt, que implementaram descobertas na sociedade que são utilizadas até hoje — disse Marcos Santana. Continuou Juliana: — Um exemplo básico foi a descoberta, por Marie Curie, da radioatividade, que é utilizada na radioterapia do tratamento do câncer, por meio de teleterapia ou de braquiterapia. Com isso, deu-se nova esperança de vida àqueles que foram submetidos a tal tratamento. Na agricultura, para se evitar o desperdício e a infestação por microorganismos, utiliza-se a radiação para a conservação dos alimentos. Numa provável situação de racionamento de energia, em virtude do esgotamento de suas fontes, a utilização da energia nuclear pode ser de grande utilidade. Ao final do ano letivo, Juliana Silveira conseguiu ser aprovada pela UFMA em medicina e, atualmente, integra uma equipe que tem como um dos objetivos solucionar problemas de saúde ligados a algumas pandemias, como a AIDS, e a outras doenças que ainda não têm cura conhecida, como o câncer. E segue, com uma certeza de que ainda irá mudar o mundo para melhor. 108 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 109 BIBLIOGRAFIA GINECO. Menstruação. Disponível em: <http://www.gineco.com.br/menstruacao>. Acesso em: 02 set. 2011. UNIPAMPA. Tabela periódica. Disponível em: <http://www.tabelaperiodica.org/>. Acesso em: 02 set. 2011. USP. Ciência à mão: química lúdica. Disponível em: <http://www.cienciamao.usp.br/>. Acesso em: 02 set. 2011. WIKIPÉDIA. Hormônios. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hormona>. Acesso em: 02 set. 2011. 109 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 111 MENÇÃO HONROSA QUÍMICA VERDE – O CAMINHO PARA O MUNDO MELHOR Estudante: Juliana Wallner Werneck Mendes, 16 anos, estudante do 2º ano do ensino médio Professora-orientadora: Maria de Fátima de Jesus Diniz Furriel Colégio Doze de Outubro - São Paulo, SP RESUMO Em uma sociedade cada vez mais preocupada com o desenvolvimento econômico, a Química Verde pode ser uma das soluções para vivermos em harmonia com o meio ambiente. Nesse ramo recente da ciência, estão surgindo, cada vez mais, novas tecnologias sustentáveis, com o objetivo de amenizar as catástrofes ambientais. Pensando nisso, pretende-se, com este trabalho, analisar a funcionalidade e a viabilidade da Química Verde, com o foco em indústrias, academias e escolas. Na primeira parte, novas tecnologias serão apresentadas e analisadas; na segunda, a participação da Química Verde no mundo acadêmico será discutida; e, na última, formas de implantar essa ciência nas escolas serão sugeridas. Dessa forma, talvez esse tema, ainda pouco discutido no Brasil, possa ser mais bem compreendido e receber mais atenção. 111 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 112 INTRODUÇÃO Atualmente, problemas ambientais, como o efeito estufa e a crise energética, têm ganhado grande espaço na mídia e na educação. Isso porque, com a industrialização e o rápido desenvolvimento pelo qual estamos passando, nossa sociedade está caminhando para um mundo em que será impossível sobreviver. As consequências são inúmeras e já conhecidas pela maior parte das pessoas: mudanças drásticas na temperatura, aumento do nível do mar, falta de energia e água, doenças causadas pela poluição, destruição de ecossistemas e muitas outras. Com isso em mente, precisamos fazer algo para diminuir os impactos ambientais. Muitas pessoas relacionam essa meta com a desaceleração do progresso, mas isso não é necessariamente verdade. A Química Verde, um conceito criado na década de 1990 nos Estados Unidos, tem como objetivo fazer com que continuemos crescendo social e economicamente enquanto nos mantemos em harmonia com o meio ambiente. Sua proposta é de que sejam criadas inovações tecnológicas que causem menos prejuízos ao nosso planeta. Um dos desafios da Química Verde é vencer a relutância em relação a essas novas tecnologias. O uso de aparelhos que tenham um custo inicial mais alto não faz parte da nossa cultura econômica; no entanto, se olharmos a longo prazo, veremos que eles trarão uma gama de benefícios muito maior que os de custo baixo. A importância desse ramo recente da Química é indiscutível. A seguir, serão analisados projetos e ideias sustentáveis, com ênfase nos aspectos industriais, acadêmicos e escolares. ASPECTOS INDUSTRIAIS O ramo industrial foi um dos mais influenciados pela Química nos últimos anos. A descoberta do petróleo, por exemplo, levou à segunda revolução industrial e mudou completamente nosso modo de viver. Graças aos processos químicos desenvolvidos, podemos usá-lo como matéria prima, combustível, energia etc. No entanto, o petróleo é uma substância escassa e conflitos pela sua obtenção já começam a se espalhar pelo mundo. Além disso, sua combustão libera uma grande quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Esse gás impede que parte do calor retorne para o espaço, causando o efeito estufa. 112 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 113 No período pré-industrial, o nível de CO2 no ar era em torno de 280ppm; atualmente, está acima de 390ppm. Esse número, já perigosamente alto, cresce a cada ano. Assim sendo, é essencial que novas fontes de energias viáveis passem a ser utilizadas no lugar do petróleo e que formas de controlar a poluição sejam criadas. FONTES DE ENERGIA RENOVÁVEIS Em resposta à preocupação mundial com o petróleo, algumas outras fontes de energia estão se tornando cada vez mais comuns. Entre elas, a hidrelétrica, a eólica e a solar. Tanto nas usinas hidrelétricas quanto nas eólicas, um dínamo é usado para transformar energia mecânica em elétrica. A diferença é que, no primeiro caso, o movimento é gerado pelo fluxo de um rio e, no segundo, pelo vento. Ambos os meios de produção de energia são limpos e reutilizáveis, mas causam alguns impactos ambientais no local onde são instalados; porém, com um bom planejamento, tornam-se vantajosos. A viabilidade econômica depende da geografia de cada país; quando estes dispõem dos recursos naturais necessários, essas usinas se tornam relativamente baratas. A energia solar é geralmente usada em residências para aquecer a água. Painéis de células fotovoltaicas são instalados nos telhados e absorvem a energia solar e a transformam em elétrica. Ela ainda é pouco utilizada devido ao custo de produção e instalação desses painéis, além da dificuldade que seu armazenamento apresenta, mas é uma opção 100% limpa e reutilizável. ÁRVORES ARTIFICIAIS Uma das pesquisas, realizada na Columbia University, apresenta possibilidade de árvores artificiais que captem CO2. As árvores transformam esse gás em biomassa no processo de fotossíntese, mas a quantidade de CO2 que produzimos é maior do que a que elas podem filtrar. Esse dispositivo ficaria exposto ao vento e teria superfícies artificiais para retirar o CO2 do ar, assim como as folhas. No entanto, como não haveria fotossíntese, ele poderia ficar na sombra. O projeto ainda não está disponível para uso ou comercialização; porém, daqui a alguns anos, pode se tornar uma ideia viável. 113 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 114 FILTROS INDUSTRIAIS Árvores artificiais não são o único método para captar carbono: alguns processos permitem que a captação seja feita antes mesmo de ele atingir a atmosfera. Esse processo consiste em colocar filtros em usinas de energia, uma das maiores fontes de poluentes. O carbono pode ser capturado de três maneiras: pós-combustão, pré-combustão e combustão de oxicombustível. Quando combustíveis fósseis são queimados, eles produzem um derivado conhecido como “gases de escape”, que inclui CO2, vapor de água, óxidos de nitrogênio e dióxidos de enxofre. Na captura pós-combustão, o dióxido de carbono é separado com o uso de um solvente que o absorve. Depois, o solvente é aquecido e libera vapor de água, deixando o CO2 concentrado. Na captura de carbono pré-combustão, carvão, petróleo ou gás natural são aquecidos em oxigênio puro, resultando em uma mistura de monóxido de carbono ou hidrogênio. Depois de tratar a mistura com um catalisador, os gases são colocados em um recipiente, onde eles sobem naturalmente. É colocada amina no topo, então ela se combina com o CO2 e cai no fundo do recipiente. O hidrogênio escapa do recipiente, e a mistura é aquecida para separar o dióxido de carbono da amina. Para realizar a combustão de oxicombustível, o combustível fóssil é queimado em oxigênio, resultando em uma mistura de vapor de água e CO2. Eles são separados por refrigeração e compressão de fluxo gasoso. Os custos desse método são elevados pelo uso do oxigênio, mas os pesquisadores estão buscando um modo de diminuir as despesas. Esses métodos de captura de carbono podem prevenir que 80% a 90% das emissões de uma usina poluam a atmosfera. No entanto, a captura de carbono também apresenta desvantagens: a tecnologia necessária exige uma grande quantidade de energia e altos investimentos – cerca de US$ 1,8 bilhão, segundo a empresa FutureGreen. Além disso, há a questão dos riscos ambientais: o CO2 é armazenado sob o solo ou sob o oceano, e a possibilidade de um vazamento é preocupante. Apesar de nunca ter acontecido, um incidente como esse poderia matar milhares de pessoas e prejudicar o ecossistema em que se encontra. Mais pesquisas e investimentos ainda são necessários, mas a ideia da captura está cada vez mais perto de se tornar realidade. 114 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 115 TINTA ECOLÓGICA Com a população mundial crescendo cada vez mais, novos prédios estão sendo construídos no mundo todo; e, para isso, várias árvores precisam ser derrubadas. Pensando nisso, a fabricante de alumínio Alcoa está desenvolvendo uma tinta ecológica que pode ajudar a diminuir os níveis de poluição da atmosfera. O produto, batizado de EcoClean, possui uma camada de partículas de dióxido de titânio, que, sobre uma superfície de alumínio, absorve a luz do sol. Quando aquecidos, os elétrons da tinta interagem com as moléculas do ar e liberam radicais livres, que destroem poluentes como o óxido de nitrogênio. De acordo com o presidente da divisão de produtos para arquitetura da Alcoa, “uma superfície de 3 mil metros quadrados pintada com o produto equivale a 80 árvores limpando o ar”. No momento, a empresa está testando a tecnologia em um prédio nos Estados Unidos e em outro na Europa. CARROS NÃO POLUENTES Um dos grandes fatores poluentes na atualidade é o trânsito – milhões de carros circulam diariamente, gastando gasolina e liberando dióxido de carbono na atmosfera. Apesar de o governo brasileiro estar tomando algumas atitudes a respeito disso – como o rodízio de placas e a inspeção veicular – não podemos descartar esse problema quando falamos de poluição. Como solução, algumas empresas estão trabalhando em carros que funcionam sem nenhum tipo de combustível prejudicial à natureza. Os mais promissores são os carros elétricos e os movidos a ar. No primeiro caso, o motor a gasolina do carro é substituído por um elétrico. Um conjunto de baterias recarregáveis alimenta um regulador, fazendo com que o veículo possa andar. A cada 80km rodados, seriam necessários aproximadamente 12 quilowatts/hora para recarregar as baterias. Como o preço da eletricidade é menor que o da gasolina, o carro elétrico teria um custo 37,5% menor para ser reabastecido. No entanto, as baterias precisariam ser trocadas a cada três ou quatro anos, e o custo disso giraria em torno de R$ 4.000,00. Para tornar os carros elétricos acessíveis, os pesquisadores dependem do desenvolvimento das células a combustível, uma nova tecnologia para gerar energia. A célula a combustível converte hidrogênio e oxigênio em água, gerando eletricidade no processo. Enquanto baterias e pilhas se esgotam com o tempo, 115 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 116 a célula a combustível pode ser usada indefinidamente, pois os elementos químicos utilizados fluem constantemente para a célula. Provavelmente os carros elétricos do futuro implantarão essa tecnologia, mais ainda é necessário muito tempo de pesquisa para que células a combustíveis sejam seguras e baratas. Já o carro movido a ar funcionará com um motor de dois cilindros: o ar é comprimido e armazenado em tanques de plástico a uma pressão de 300 bar. Um injetor alimenta o ar, que flui dentro de uma pequena câmara, que faz o ar se expandir. O ar empurra os pistões e estes empurram o virabrequim, gerando a potência necessária para o carro se mover. Os tanques desse carro podem transportar cerca de 300 litros de ar – o suficiente para mover o carro por até 200km. Ele poderá ser reabastecido com uma bomba de ar de alta pressão, processo que levará apenas três minutos. Tanto o carro elétrico quanto o movido a ar são criticados por algumas pessoas, pois a produção de energia elétrica da qual eles precisarão irá gerar poluentes. No entanto, sua quantidade será menor do que a gerada pelos carros a gasolina atualmente. Por isso, eles serão substitutos válidos depois de mais pesquisa e desenvolvimento. ASPECTOS ACADÊMICOS A Química Verde ainda é um ramo muito novo da ciência e precisa de pesquisas e investimentos. Para promovê-la, os governos têm proposto premiações e outros prestígios acadêmicos para aqueles que fazem avanços nessa área. O primeiro desses prêmios, de iniciativa dos Estados Unidos, chamado The Presidential Green Chemestry Challenge, premia inovações tecnológicas que possam ser implantadas em indústrias, para a redução de resíduos. Existem cinco categorias: acadêmico, pequenos negócios, rotas sintéticas alternativas, condições alternativas de reação e desenho de produtos químicos mais seguros. Instituído em 1995, o desafio deu origem a premiações parecidas em vários países, como Inglaterra, Austrália, Alemanha e Itália. Esse último também possui um órgão chamado INCA (Consórcio Universitário Química para o Ambiente), que visa reunir grupos acadêmicos envolvidos com Química e ambiente. Todo ano, eles realizam a Escola Internacional de Verão em Química Verde, contando com jovens químicos de 20 países. 116 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 117 Em 1997, a International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) organizou sua primeira conferência internacional sobre Química Verde e, desde então, vem realizando encontros e workshops sobre o assunto. No Brasil, essa área ainda não conta com investimentos ou incentivo por parte do governo. No entanto, algumas instituições de ensino e pesquisa já têm programas de gerenciamento de resíduos bem estruturados. Com a atenção crescente para a Química Verde, talvez no futuro o desenvolvimento dessas tecnologias seja possível em nosso país, já notório por seus recursos naturais. Assim, eles poderão ser aproveitados com o mínimo de prejuízo ambiental. ASPECTOS ESCOLARES Grande parte do sucesso da Química Verde depende de se conscientizar as pessoas sobre sua importância nos dias de hoje. Para isso, é preciso que as escolas encontrem a melhor forma para envolver seus alunos no assunto. Primeiramente, é importante que o termo “sustentabilidade” seja apresentado aos alunos o mais cedo possível; assim, eles estarão familiarizados com a ideia de suprir as necessidades da geração atual sem prejudicar as gerações futuras. Iniciando-se o estudo da Química, os objetivos da Química Verde podem ser apresentados de forma básica e direta: aumentar a eficiência da energia, usar fontes renováveis ou recicláveis e evitar o uso de substâncias bioacumulativas ou tóxicas. Usando-se uma parcela das aulas para mostrar exemplos e vantagens da Química Verde, pode-se possibilitar a formação de futuros profissionais que apliquem essas tecnologias sustentáveis. A infraestrutura das escolas também não pode ser deixada de lado: é importante que os alunos possam contribuir dentro do próprio ambiente escolar e aprendam a fazer isso. A instalação de lixeiras para reciclagem, por exemplo, é simples, mas muito útil nesse aspecto. Outra ideia é orientar os estudantes sobre o que fazer com os cadernos e folhas no final do ano; a quantidade de papel usada em escolas é imensa, e um projeto de reciclagem, além de fundamental para a preservação do meio ambiente, poderia ser uma boa experiência educacional. Com foco em todas essas ideias, as escolas podem preparar uma nova geração que caminhe rumo a um mundo melhor para todos. 117 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 118 CONCLUSÃO A Química Verde não é só uma ciência promissora, como também fundamental no mundo em que vivemos. Projetos que pensávamos não serem possíveis até poucos anos atrás estão se tornando realidade graças a ela. No entanto, ainda é necessário tempo e pesquisa para que ela se torne presente em nosso dia a dia. Para isso, as universidades precisam de investimentos e incentivos do governo. Com algumas ideias apresentadas neste trabalho, além da atenção que a mídia tem dado aos problemas ambientais, talvez a Química Verde ganhe um papel maior na atualidade. Dessa forma, os danos ao meio ambiente poderão ser evitados e minimizados, e nosso mundo se tornará um lugar com melhor qualidade de vida. BIBLIOGRAFIA BBC. Aquecimento global. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/ especial/2253_graficosclima/page2.shtml>. Acesso em: 29 ago. 2011. BONSOR, K. HowStuffWorks. 12 jan. 2009. Disponível em: <http://carros. hsw.uol.com.br/carros-a-ar.htm>. Acesso em: 27 ago. 2011. BRAIN, M. HowStuffWorks. 23 out. 2008. Disponível em: <http://carros. hsw.uol. com.br/carros-eletricos.htm>. Acesso em: 27 ago. 2011. DE TORRESI, S. I. C.; PARDIN, V. L; FERREIRA, V. F. Química sustentável. Quím. Nova. São Paulo, v.33, n. 7, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?pid=S0100-40422010000700001&script=sci_arttext>. Acesso em: 25 ago. 2011. GRIMM, M. Captura de carbono: árvores artificiais sugam CO2 do ar. ago. 2011. Disponível em: <http://sustentabilidade.allianz.com.br/?1593/ captura-de-carbonoarvores-artificiais-sugam-CO2-do-ar>. Acesso em: 26 ago. 2011. LENARDÃO, E. J. Green chemistry: os 12 princípios da química verde e sua inserção nas atividades de ensino e pesquisa. Quím. Nova. São Paulo, v. 26, n.1, jan./feb. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script =sci_arttext &pid=S0100-40422003000100020>. Acesso em: 25 ago. 2011. REDAÇÃO INFO. Tinta faz prédio limpar o ar. Exame Info. 18 ago. 2011. Disponível em: <http://info.abril.com.br/noticias/tecnologias-verdes/tinta-fazpredio-limpar-o-ar-18082011-23.shl>. Acesso em: 28 ago. 2011. 118 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 119 RONCA, D. HowStuffWorks. 26 ago. 2008. Disponível em: <http://ambiente. hsw.uol.com.br/resgate-de-carbono3.htm>. Acesso em: 25 ago. 2011. SANTANA, D. E.; SANTOS, S. Poluição das indústrias no meio ambiente. Colégio Estadual Sete de Setembro. Disponível em: <http://geografia002. blogspot.com/>. Acesso em: 29 ago. 2011. WIKIPÉDIA. Célula combustível. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/ wiki/C%C3%A9lula_combust%C3%ADvel>. Acesso em: 27 ago. 2011. 119 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 121 MENÇÃO HONROSA AS FACES DA QUÍMICA: OS PRIMEIROS PASSOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Estudante: Lora Danna Pereira Sampaio, 16 anos, estudante do 1º ano do ensino médio Professora-orientadora: Lúcia Regina Silva dos Santos Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco – Manaus, AM RESUMO Uma onda de evolução e desenvolvimento envolve-nos de forma imperceptível. Vivemos em meio a um sistema que visa o lucro, no qual a propriedade privada, o acúmulo e a livre concorrência são impostos como prioridades. A presença do comércio, bem como as leis de mercado cada vez mais se direcionam para exploração de recursos naturais. E essas explorações exacerbadas proporcionam consequências que nos afetam diretamente. No decorrer dos anos, mudanças climáticas e também catástrofes ambientais representam bem essas consequências, porém há uma contradição nesse fenômeno de ação e reação. Em meio a esse sistema, também se fazem presentes questões completamente relacionadas a ideais de conscientização. E é nesse momento que entra a sustentabilidade, que, basicamente, é explicada por meio de ações e projetos que visam à garantia de qualidade da água, do solo, do ar, em níveis suficientes para manter a vida animal e vegetação para as gerações futuras. Após essas afirmações, chegamos à seguinte indagação: qual seria o papel da química com relação a essas questões? Não é novidade que a química faz parte de tudo o que é conhecido – como, por exemplo, a produção de iogurte, quando ocorre a fermentação, ou seja, a química pura – e do que não é conhecido. Muitas das suas faces ainda não foram descobertas devido à falta de conhecimento sobre a sua influência e relação com a sustentabilidade. Em um país no qual as riquezas naturais contribuem extremamente na caminhada para o desenvolvimento econômico, a química verde e todos seus processos, lado a lado, com ideais sustentáveis, fariam uma grande distinção em relação ao quadro atual. Para a nossa evolução, depende de cada pessoa ter interesse em conhecer as faces ocultas da química, que nos cercam e influenciam. 121 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 122 INTRODUÇÃO O paradoxo com relação à evolução e ao desenvolvimento de tudo o que envolve o homem quanto à praticidade econômica é notório. Isso é bem marcado por meio das mais conhecidas discussões acerca dos malefícios e benefícios trazidos pelo avanço. Essas discussões representam bastante esse tal paradoxo, já que em determinadas vezes esse desenvolvimento explora nossos recursos naturais; entretanto, vale ressaltar que ainda há maneiras de se reverter esse quadro, em que, cada vez mais, nosso meio ambiente é explorado de forma irracional, maneiras capazes de trazer benefícios à nossa economia com ideais totalmente sustentáveis. Um meio que exemplifica perfeitamente essa representação é a chamada Química Sustentável. É interessante fazer uma análise paralela acerca dos avanços e quebras de paradigmas com relação ao desenvolvimento social, já que a ideia de sustentabilidade, por possuir conotações muito mais abrangentes, avança muito mais rapidamente do que a ideia de Química Verde. Todavia, em parceria, lado a lado, a Sustentabilidade e a Química Verde podem fazer mais diferença, causar melhores impactos. HERANÇA QUÍMICA Devido às pesquisas antropológicas e arqueológicas, temos conhecimento de que antigos povos indígenas que habitavam em nossas terras já tinham como prática o agroflorestamento, o manejo de plantas e a rotatividade de culturas e de roças, antes da chegada dos europeus, evidenciando a importância da prática verde, independentemente do povo que a praticasse. A utilização das propriedades de certas plantas para a produção de perfumes, medicamentos e outros produtos está presente nos mais recentes relatos e descobertas em relação às civilizações antigas. Esse fato pode ser observado em relação a produtos como a mandioca, o cacau e até mesmo a seringueira, com o adensamento (redução de vazios no solo) dessas plantas no interior da floresta, por sociedades pré-coloniais. Logo, com os aprofundamentos em pesquisas e desenvolvimento de novos processos de substâncias químicas naturais e sintéticas, as indústrias continuam encontrando novos compostos a partir de muitas plantas descritas há séculos. 122 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 123 QUÍMICA E ECONOMIA: PARCEIRAS DOS PRIMÓRDIOS As práticas sustentáveis indígenas sempre tiveram um fundamental papel quanto à construção da economia e da sociedade da região amazônica, apesar da importância das chamadas “drogas do sertão”. A partir da primeira metade do século XVII, iniciou-se um processo de exploração da região, no qual o extrativismo das chamadas “drogas do sertão” prevalecia. Porém, para que essas práticas fossem exercidas, se fazia presente a necessidade do conhecimento indígena ancestral acerca do manejo, da coleta e da utilização das plantas. Em determinado momento, antes da chegada dos colonizadores, indígenas americanos descobriram a capacidade de impermeabilização de tecidos e a produção de alguns objetos, por meio do látex proveniente das seringueiras, que mais tarde exerceu importante função em um dos ciclos econômicos mais importantes do Brasil, conhecido como Ciclo da Borracha. AGRONEGÓCIO: OS COMPONENTES QUE VALEM OURO Estava tinto de tintura vermelha pelos peitos e costas e pelos quadris, coxas e pernas até baixo, mas os vazios com a barriga e estômago eram de sua própria cor. E a tintura era tão vermelha que a água não lhe comia nem desfazia. Antes quando saia da água era mais vermelho (...) E estavam cheios de uns grãos vermelhos, pequeninos que, esmagando-se entre os dedos, se desfaziam na tinta muito vermelha de que andavam tingidos. E quanto mais se molhavam, tanto mais vermelhos ficavam. Passagens da Carta de Pero Vaz de Caminha Há tempos, o urucum era apenas um pigmento utilizado pelos índios, para enfeitar o corpo como parte de sua cultura. Hoje, é possível notar uma mudança conceitual em torno disso, pois a proibição de corantes artificiais, sobretudo na Europa, fez com que o urucum se tornasse um componente de enorme influência para o agronegócio, tanto para o mercado interno quanto para o externo. Esses produtos de origem natural com alta contribuição no desenvolvimento econômico da região, apesar da demanda de mercado, ainda não são produzidos em alta escala, tendo havido certa indiferença quanto ao objetivo econômico. Essa situação ocorre devido aos preços que não despertam tanto o interesse dos agricultores. 123 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 124 O produto pode ser mais comercializado, desde que sejam agregados valores que possam estimular o produtor na ampliação de seu cultivo. Isto pode ser obtido, dependendo da organização deles, em, por exemplo, cooperativas e associações. Marli Costa Poltronieri, pesquisadora da Embrapa Amazônica Oriental As relações comerciais que envolvem essa matéria-prima oscilam bastante em função da lei da oferta e da procura. Na última década, o mercado desses grãos passou por diversas variações, porém é interessante destacar que o material genético utilizado é superior ao utilizado no passado, assim, certamente, haverá maior produtividade e qualidade de grãos, tornando-os mais competitivos no mercado interno e externo. É importante lembrar que a demanda do mercado exterior também é crescente, em função do incremento de alimentos coloridos com corantes naturais, assim como as indústrias de cosméticos, farmacêutica e têxtil, que vêm também aumentando, ano após ano, a procura por esse corante. MEGAPOTENCIALIDADE E RECURSOS PROMISSORES Nossa Amazônia, além de ser fértil em riquezas e recursos naturais, é conhecida por ter a maior bacia hidrográfica, a maior floresta tropical, a maior diversidade do planeta. Já foi marcada pela expressão “pulmão do mundo”, mas, curiosamente, também foi denominada “inferno verde”. A grande questão é que representações são apenas algumas formas de reflexo em relação às nossas riquezas e exuberância. O fato é que fomos agraciados pela natureza em nossa região. Inúmeras reservas de água, insumos agrícolas, combustíveis fósseis, minerais, rochas industriais utilizadas na construção civil, e até mesmo pedras preciosas são encontradas em nosso “acervo”. A RELAÇÃO SUSTENTABILIDADE-MINERAÇÃO O setor mineral, uma das bases da economia brasileira, faz uso intensivo de recursos naturais não renováveis e historicamente tem provocado impactos ambientais nos locais onde atua. Apesar dos incômodos causados ao meio ambiente, a mineração é essencial para que a humanidade atinja dois valores socioeconômicos importantes: qualidade de vida e desenvolvimento sustentável. E não há como alcançar esses valores sem a oferta adequada de bens minerais. 124 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 125 AS RESERVAS DA AMAZÔNIA Atualmente o Pará é o estado detentor das maiores jazidas minerais da Amazônia, e é nele que se encontram os maiores investimentos em projetos de exploração e produção mineral. Os processos químicos em relação a essa produção são claros; no entanto, em conjunto com a sustentabilidade, têm maior poder comercial. A mineração, juntamente com a química, é mais um fator benéfico ao crescimento econômico da nossa região. RIO+20, O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A MINERAÇÃO Duas décadas se passaram desde a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida por Cúpula da Terra e ECO ou Rio-92, considerada a mais importante conferência ambiental mundial até hoje. Mesmo depois de tanto tempo, o que se constata é que há muito a fazer na agenda socioambiental mundial, proposta durante o encontro. Em 2012, acontecerá a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (RIO+20). Certamente as questões de extrativismo mineral estarão diretamente correlacionadas aos objetivos dessa conferência. Mas o que esperar da RIO+20? De forma geral, espera-se que as decisões tomadas sejam mais que um balanço dos últimos 20 anos que a separam da Rio-92, marco na história socioambiental mundial que resultou em uma série de documentos importantes, como a Agenda 21, e também nas Convenções sobre Clima e Diversidade Biológica. A inércia de projetos que não saem do papel nos cerca incessantemente, mas, à medida em que eles buscam maior desenvolvimento, também se faz necessária a preocupação com nossos recursos esgotáveis. AS INOVAÇÕES DA QUÍMICA NA INDÚSTRIA TÊXTIL Sem a indústria química, o setor têxtil não existiria. Markus Furrer, vice-presidente da Textile Chemica Sem o desenvolvimento da indústria química no setor têxtil, não teríamos roupas suficientes para atender os bilhões de habitantes do nosso planeta. Elizabeth Haidar, diretora de marketing da Rhodia Fibras 125 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 126 O setor têxtil, evidentemente, é um dos que mais exploram recursos químicos durante seu processo de produção. A química está presente em cada fase dessa produção, da fibra ao tecido. Produtos destinados a acabamentos, tais como corantes e amaciantes, formam uma grande cadeia química na indústria têxtil. Assim, uma série de produtos baseados na nanotecnologia chega ao mercado com grande força. Calcula-se que as fibras químicas, artificiais ou sintéticas, representam 40% do volume total de fibras produzidas, isso se deve à grande influência de tais processos citados anteriormente. A indústria têxtil é uma das mais dinâmicas, portanto sua integração nas ondas ecológicas é certa. Os chamados tecidos funcionais estão no mercado, o que exige determinada adaptação. E também há modificações nos processos de produção. Quanto aos investidores desse ramo, existe um consenso de que, com a evolução dos equipamentos utilizados no beneficiamento dos fios, tecidos e malhas, e também na estamparia, devem chegar cada vez mais ao mercado produtos de alto desempenho que utilizam a menor quantidade de água e energia possível. É impossível desenvolver produtos químicos sem pensar em termos ecológicos e sustentáveis hoje em dia. Jefferson Zomignan, coordenador do Comitê Setorial de Química Têxtil (CSQT) NANOTECNOLOGIA: A EVOLUÇÃO PARA A REVOLUÇÃO Qualquer termo relacionado à nanotecnologia desperta uma espécie de pensamento envolto em ideais futuros. Porém, se uma profunda análise for feita, é possível inferir que temos a capacidade e os recursos disponíveis. Então, o que falta afinal? Hoje, há dezenas de aplicações de materiais dotados de partículas nanoestruturadas, presentes em produtos dos mais variados segmentos econômicos. Entre os usuários atuais dos benefícios proporcionados pela nova ciência, podemos citar as indústrias de plásticos, tintas, borrachas, a eletrônica, a farmacêutica, a automobilística, a têxtil e a de cosméticos. A revolução está apenas no início. Os principais cientistas do mundo garantem que, nos próximos anos, os produtos com a presença de matéria nanoparticulada crescerá de forma exponencial em itens fabricados pelos 126 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 127 mais variados segmentos econômicos. Estima-se que, dentro de uma década, a comercialização de tais produtos deva atingir a casa de US$ 1 trilhão. A nanotecnologia é o estudo da manipulação da matéria em uma escala atômica e molecular. Geralmente lida com estruturas com medidas entre 1 a 100 nanômetros em ao menos uma dimensão e inclui o desenvolvimento de materiais ou componentes, estando associada a diversas áreas (como medicina, eletrônica, ciência da computação, física, química, biologia) nas pesquisas de produção na escala atômica. O princípio básico da nanotecnologia é a construção de estruturas e novos materiais a partir dos átomos (os tijolos básicos da natureza). É uma área promissora, mas está dando apenas seus primeiros passos, mostrando, contudo, resultados surpreendentes (na produção de semicondutores, nanocompósitos, biomateriais, chips, entre outros). Criada no Japão, a nanotecnologia busca inovar invenções, aprimorandoas e proporcionando melhor vida ao homem. Um dos instrumentos utilizados para exploração de materiais nessa escala é o microscópio eletrônico de varredura, o MEV. O objetivo principal não é chegar a um controle preciso e individual dos átomos, mas elaborar estruturas estáveis com eles. Existem muitos debates nas implicações futuras da nanotecnologia, pois os desafios são semelhantes aos de desenvolvimento de novas tecnologias, incluindo questões sobre a toxidade e impactos ambientais dos nanomateriais, os efeitos potenciais na economia global, assim como a especulação sobre cenários apocalípticos. Essas questões levaram ao debate entre grupos e governos a respeito de uma regulação sobre nanotecnologia. CONCLUSÕES Recursos minerais, processos de produção de tecidos, compostos, medicamentos, perfumes, agronegócio e sustentabilidade são, evidentemente, dependentes de processos químicos. A química tem sido conhecida como um fator importante por ser a responsável pela composição de toda matéria, porém se faz necessária uma ampliação de conhecimentos, pelo fato de a química ir muito além disso, como nos processos econômicos citados acima. Portanto, melhor do que ser a “base” para todo desenvolvimento é ser uma “base” que atua corretamente e conscientemente ao lado dos recursos naturais. 127 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 128 A química verde vem causando grande impacto positivo em nossa economia, logo, deve ser incentivada de forma intensiva, para que não sejamos os únicos afetados por seus benefícios, mas também todas as futuras gerações. O crescimento de nossa nação depende exclusivamente de nós mesmos, e dos valores e ideais que decidimos seguir, como afirma Charles Darwin: “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. BIBLIOGRAFIA ALCOA. Mineração e sustentabilidade. 2011. Disponível em: <http://www.alcoa. com/brazil/pt/custom_page/sustentabilidade/mineracao.asp>. CARDOSO, C. Conceituação sobre agricultura sustentável por membros, usuários e terceiros da Rede de Agricultura Sustentável. São Paulo: RAS, 2008. Disponível em: <http://www.agrisustentavel.com/conceito.htm>. FRANCO, C. Mercado de urucum (Bixa orellana L.) no Brasil. Disponível em: <http://www.emepa.org.br/publicac/urucum_mercado.html>. IBRAM. RIO+20, o desenvolvimento sustentável e a mineração. Brasília: Instituto Brasileiro de Mineração. Disponível em: <http://www.ibram.org.br/150/ 15001002.asp?ttCD_CHAVE=146788>. MENDONÇA, J. E. Planeta urgente: a construção da química verde. São Paulo: Planeta Sustentável/Editora Abril, 07 jan. 2011. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/planeta-urgente/construcao-quimicaverde-278368/>. MOREIRA, H. O desenvolvimento sustentável no contexto do setor mineral brasileiro. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/publique/media/desen_sust.pdf>. 128 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 129 MENÇÃO HONROSA PEQUENO, MAS GRANDE SONHADOR Estudante: Maíra Alves Barbosa da Silva, 16 anos, estudante do 1º ano do ensino médio Professor-orientador: Alexandre Barros Oliveira Escola de Educação Básica e Profissional Fundação Bradesco – Campinas, SP RESUMO Este texto, feito em versos, fala sobre a história de um pequeno menino diferente das outras crianças de sua idade, seguindo o enredo desde seu nascimento até o grande momento que marcou para sempre sua vida. Isso porque tinha uma visão diferente do seu mundo: nunca desistiu de seus sonhos, mesmo que parecessem impossíveis e sempre procurava olhar além daquilo que estava à frente, lendo as entrelinhas de seu amor pela Química. 129 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 130 Havia uma vez uma professora que lecionava nas proximidades de um bairro muito simples, para crianças que não podiam pagar uma escola, e que só tinham uma opção de vida, outrora: ajudar seus pais na roça. Descobriu-se na Química, explorando a natureza, lecionava com firmeza, as transformações da matéria. Ela era jovem, vestia suas roupas singelas que cobriam as canelas. Deixava seus cabelos longos caírem por entre os ombros. Adorava seu trabalho, também as crianças, e as levava para ter aula debaixo da árvore das lembranças, ao lado de uma casa cor carmim. Completava o cenário pintado por um querubim, cheio de tranquilidade, onde moravam os passarinhos a cantarolar. Eles até respeitavam a professorinha na hora de ensinar, com o canto a parar. Morava num sítio com seus pais, que ficava perto demais de um lago rodeado de várias espécies de flores, Onde colhia seus amores logo pela manhã, colocando-as na mesa cheia de maçãs que há gerações estava na família, e eles não se desfaziam, jamais. 130 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 131 Em um dia desses, sábado, foi tirar leite junto ao gado, pacientemente, quando avistou um moço, agricultor muito bonito, que lhe acenou disfarçadamente, envergonhado. Suas bochechas pegaram fogo, e suas pernas ficaram bambas como um todo: estava apaixonada. Aquele moço simples fisgara seu coração, como na pescaria da festa de São João. O agricultor era magro, esguio e alto, sempre vestia seu macacão para cuidar daquelas flores que a professorinha iria olhar. Era um gesto que o fazia lembrar dela. Também cuidara dos animais, e de outros bichinhos que por ali moravam. Vivia com seus pais, da mãe cuidava, o pai ajudava quando era inverno e as vacas, preguiçosas, não andavam mais. Tinha que ir tocar os bois, e observava a professorinha logo depois, a ensinar sobre cada parte do ambiente. Aprendia com os olhos que pareciam dois grandes binóculos. Na colheita de estação, o casal apaixonado, unidos por um único assunto: a Química. Na primavera, observavam, atentamente, cada semente, e se guiavam pelos seus estudos. 131 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 132 Ele achava que o campo florido era como o belo sorriso da moça, e foi isso que o encorajou a tomar uma decisão. Resolveu pedir, em um solstício de verão, a mão da moça que havia acertado seu coração com uma flecha de cupido. Não havia incertezas, nem impedimento, casaram-se então. Saíram do cantinho da tranquilidade em busca de vida melhor na cidade, Inebriados pelo monóxido de carbono, e engajados pelo dinheiro. Resolveram, por motivos financeiros, mudar-se para o centro urbano, onde deixaram seus destinos por outros meios, e trouxeram seu filho de apenas um ano. Oportunidades de bons empregos gritavam, e a chance de estabilizar a família aparecia. Felizes de tudo, foram para uma cidade com ar de futuro, onde tudo era muito novo, como construções com janelas que captavam a luz que entrava, e num instante a transformavam. Tudo surgia com a mesma rapidez dos aviões, Mas também o verde ecológico ia perdendo sua vez ficando limitado às praças, ou a algumas zonas verdes. 132 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 133 A vida naquele lugar não era tão fácil quanto no campo, lugar sereno. Ali era difícil respirar e até mesmo andar. Após um tempo naquela cidade abrigada pelo cinza e por barulhos estridentes, Pedro cresceu envolto ao medo. Fruto de uma sabedoria inigualável e do poder de entender a natureza, dos outros garotos começou a se diferenciar daqueles que só queriam saber de no computador mexer, ou sobre jogos conversar. Ele era sedento do desejo de conhecer um mundo intocável e invisível, que não se limitava apenas ao laboratório, e ao experimento exploratório, mas todas as coisas conjuntas, e todas elas, juntas. Via a Química no seu cotidiano, ia melhorando ano a ano, suas experimentações, suas aspirações. Não se contentava com qualquer resposta. Curioso era pouco, seus anseios por aprender não caberiam nem em uma pequena pasta. Seu professor de Química o admirava, pois foi em um trabalho escrito, que sobre os átomos falava, que o menino pode sonhar com o desconhecido. 133 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 134 Se avistasse um menininho de cabelos encaracolados, certinho, dependurando-se sobre uma cadeira para tentar “olhar” mais de perto os pequenos átomos, este menino esperto, deveria ser Pedro. Na escola, era um exemplo a ser seguido, esforçava-se e tirava boas notas, desinibido, para seus pais ficarem felizes. Mas Pedro queria mais e mais quando começava com suas dúvidas rotineiras, e suas diretrizes, ninguém o segurava. Às vezes, ele guardava para si (dentro de suas veias), decidira sem dó buscar respostas por si só. Foi na adolescência o período decisivo para a sua vida, também incisivo para o mundo, que, mais tarde, o conheceria. E Pedro, de alguma forma, ajudaria, por meio da Química, o avanço da tecnologia. Via seus colegas e seus desejos de profissões: “policial”, “veterinária”, mas qual profissão escolher? Zombavam dele por ser tão indeciso e ao mesmo tempo certo nas coisas que fazia, e daquele mundinho que Pedro insistia em querer saber. 134 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 135 Voltando da escola e entrando em sua casa, avistou uma lupa que sua mãe deixara, sem delongas, em cima da escrivaninha ao lado do livro de biomas. Não pensou duas vezes e foi para o quintal, repleto de plantinhas, cuidadosamente colocadas nos vasinhos de cerâmica em um beiral, um verdadeiro jardim de cores e sabores. Tornou a pegar uma pequena folha na mão, a mesma coisa que fazia antigamente, lembrando-se instantaneamente. Ficou ali, sentado no chão por horas observando os secretos visitadores, ele, a folhinha e a lupa. Ansiosamente, Pedro havia descoberto seu rumo, o caminho que percorria seu destino. Mesmo com as contraposições externas, tornou-se um pesquisador de fervor, um homem de caráter limpo, ainda sonhador, muitíssimo famoso na mídia por seus feitos. Voltou-se para a área em que mais queria trabalhar: a Química. Assim, o lugar onde as fases mais importantes passou virou um lugar habitável, longe da suja ganância. Depois de visitar o mundo todo e procurar respostas para perguntas, achou-as bem no lugar onde nunca pensou um dia voltar. 135 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 136 Com grande dominância na área, foi assim a visão ambiental da sua cidade, que, na maior parte, era escura, suja e poluída. Com a ajuda da arte e dos conceitos químicos, ajudava na melhoria de vidas, investindo na ciência Química, decifrando seus mistérios, preparando os novos impérios, da geração mais limpa. Conseguiu terminar suas pesquisas sobre novos materiais recicláveis, e em suas premissas foi desenvolvendo um olhar mais sustentável, mudando, aos poucos, o olhar de toda a população, e também da mídia: sites de notícias, televisão, revistas e jornais. Após conversar com seus amigos sobre métodos de salvar o planeta, e algum tempo depois, quando lhe restaram só dois caminhos com seu microscópio, sozinho, com a inteligência de Lavoisier, teve a brilhante ideia a percorrer. Fundamentou uma tese sobre reutilização de pneus de caminhão e outros veículos, na transformação de pavimentação das ruas de ciclovias da cidade. 136 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 137 Um asfalto especial, construído com pneus usados e muito mais barato, não era coisa de gente banal, era resistente e ecológico. Projetou também um novo plástico reciclado, que foi aplicado na fabricação de quadros de bicicletas. O polímero que ele mesmo descobriu deixou ainda mais leves as “magrelas”. Já estava em certa idade andando com naturalidade, observou, em uma televisão, um anúncio sobre seu nome, após isso, foi pronunciado seu sobrenome. Um grande prêmio em seu campo de visão. Foi com glória que recebeu o prêmio mais importante, o Nobel. Por sua tese e preocupação, com seu povo e sua nação. O prefeito viu seu feito. Consciente, aplicou nas ruas, largas e vastas, a inovação Química do pavimento de Pedro. Ele não deixou barato, o simples fato do pavimento, mais formulou, mais e mais teses e conceitos, do tamanho que sua imaginação o fez. 137 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 138 No seu município, na época de presépio, o cidadão, com respeito, conservou o que é seu de direito, a cidade, seu espaço. Tomando como exemplo o grande feito do moço, deixaram seus carros de lado. A cidade, recebendo o título “Cidade mais verde do Mundo”, pode respirar ar puro. Conservando e revertendo verde em tudo graças ao pequeno menino de perguntas inquietantes, viciantes, e sua curiosidade inigualável sobre o mundo aparentemente inalcançável que a Química oferecia, mas que após o seu feito, virou a matéria que mais divertia, e que era a base das outras, para um planeta mais verde e sustentável, gerando muitos outros como ele, Pedro. 138 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 139 CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta de fazer um texto sobre uma criança que, por meio de sua inocência, entrou para o mundo da Química foi estimular as gerações a buscar o mesmo caminho, não só para o mundo da Química, mas também para as disciplinas escolares que necessitam de um empenho maior do aluno e também para mostrar que, por meio da Química, podemos modificar o meio ambiente onde vivemos, em questões de sustentabilidade e em espaço físico e social (realizações), e de futuro, procurando vivenciar cada ação do personagem, utilizando uma linguagem de fácil compreensão e destinada a todos os leitores. BIBLIOGRAFIA FOGAÇA, J. Introdução à química. Brasil Escola. Disponível em: <http://www. brasilescola.com/quimica/>. Acesso em: 01 set. 2011. 139 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 141 MENÇÃO HONROSA QUÍMICA VERDE E SEUS BENEFÍCIOS NA SOCIEDADE ATUAL Estudante: Natália Balbinott, 15 anos, estudante do 2º ano do ensino médio Professora-orientadora: Roseli de Ré de Oliveira Colégio Tiradentes da Brigada Militar - Passo Fundo, RS RESUMO A sociedade atual tem se preocupado constantemente com o planeta Terra, tentando remediar as situações criadas por ela mesma. Com o avanço na tecnologia e o desenvolvimento de indústrias, o planeta sofreu alterações, tais como o aumento da temperatura e a degradação de recursos naturais. A Química Verde é uma alternativa utilizada para a preservação do planeta Terra, e tem por objetivo encontrar maneiras de modificar a situação criada pelos seres humanos, mantendo ou aumentando o desenvolvimento e a evolução da sociedade sem ou com pouco prejuízo para o planeta. Por meio de seus princípios, a Química Verde apresenta alternativas envolvendo pesquisadores, indústrias e a população em geral, promovendo a diminuição de poluentes e quaisquer outros materiais tóxicos. Neste trabalho, estão expostos detalhadamente objetivos e mudanças propostas pela Química Verde, que têm tido enorme adesão de todas as nações, com o intuito do desenvolvimento sustentável e a preservação do ambiente. 141 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 142 QUÍMICA VERDE E SEUS BENEFÍCIOS PARA A SOCIEDADE ATUAL O meio ambiente se tornou foco de inúmeras campanhas no século XXI. Essa preocupação com a natureza vem desde a década de 70, em que havia “uma busca pela proteção de grandes componentes da natureza e o indivíduo voltou sua atenção para a água, o ar e a vida selvagem.” (TAKEDA, 2009, p. 1). A partir de então, a natureza deixou de ser apenas um componente coadjuvante na vida humana para se tornar a principal causa de preocupações coletivas. No Brasil, as questões ambientais têm sido abordadas com frequência cada vez maior. Os acontecimentos cotidianos, como vazamentos de óleo, contaminação da água, tratamento do esgoto, qualidade do ar nas grandes cidades, efeito estufa e frequentes queimadas em florestas servem para alertar a população sobre os efeitos da intervenção humana no ambiente. Em 1988, houve a realização da Conferência de Toronto sobre as Mudanças na Atmosfera; em 1992, foi realizada a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, popularmente conhecida como ECO-92, que contou “com a participação de 179 chefes de Estado. Nessa reunião, foi elaborado um documento chamado Agenda 21, por meio do qual os países se comprometiam a prezar pelo chamado desenvolvimento sustentável” (SILVA; LACERDA; JUNIOR, 2005, p. 103); e, em 1997, houve o estabelecimento do Protocolo de Quioto, com a instituição de normas referentes à redução da emissão de gases causadores do efeito estufa, além de metas a serem atingidas por países que já contribuíram para a poluição do planeta. Essas foram algumas das mobilizações feitas que preveem a diminuição do número de poluentes presentes no ambiente. Além dessas, muitas outras mobilizações têm sido feitas ao redor do mundo para que haja redução, reutilização e reciclagem de materiais sólidos, uma vez que, quando jogados fora, demoram centenas de anos para se decomporem. Foram, também, assinados acordos entre as nações, nos quais elas se comprometiam a adotar programas de preservação do patrimônio natural e da biodiversidade, além de combater todos os tipos de poluição. A Química é vista como um dos maiores contribuintes para a poluição do planeta, já que “a produção química também gera inúmeros inconvenientes, como a formação de subprodutos tóxicos e a contaminação do ambiente e do próprio homem” (PRADO, 2003, p. 738). Havendo a necessidade de preservar o ecossistema e promover crescimento sustentável, foi instituído um ramo no âmbito da Química conhecido por Química Verde. 142 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 143 A Química Verde é uma nova visão da química, em que se abana a maturidade atingida por este ramo de conhecimento científico ao longo do século XX e se persegue o seu rejuvenescimento com vista a: eliminar os efeitos nocivos para o ambiente e a saúde ecológica e humana da preparação e utilização dos numerosos produtos fabricados pela Indústria Química; e permitir a recuperação da aceitação da química pela sociedade. (MACHADO, 2004, p. 63). Para que seja possível cumprir os objetivos da Química Verde já estabelecidos, é necessário reduzir as práticas que contribuem para a poluição do planeta e tentar substituí-las por outras que preveem o benefício das populações sem causar danos ao ambiente. O grande desafio é a continuidade do desenvolvimento, diminuindo os danos causados ao meio ambiente. Tal fato requer uma nova conduta química para o aprimoramento dos processos, com o objetivo fundamental da geração cada vez menor de resíduos e efluentes tóxicos, bem como da menor produção de gases indesejáveis ao ambiente. Este novo caminho a ser delineado pela química é denominado como química sustentável ou química verde: a criação, o desenvolvimento e a aplicação de produtos e processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a geração de substâncias tóxicas. (PRADO, 2003, p. 738). Além de principal causadora da poluição do planeta através da metalurgia, siderurgia, mineração e produção de alimentos, por exemplo, a Química é o principal remediador da poluição ambiental, contribuindo em processos de despoluição, reciclagem, biodegradação e tratamento da água poluída. A biodegradação, que consiste na ação de micro-organismos que se alimentam de material orgânico, transformando-o em moléculas menores, pode beneficiar-se da química para que os materiais ganhem condições mais favoráveis a sua decomposição, tornando-se mais úmidos, menos resistentes à temperatura e mais expostos ao oxigênio. Procedimentos químicos podem contribuir ainda nos processos de reciclagem, reduzindo assim a produção de lixo e suas consequências poluidoras ao meio ambiente. (GOUVEIA, 2011, p. 1). A solução de algumas questões ambientais pode ser encontrada na Química Verde, já que ela visa a não utilização de reagentes e produtos tóxicos nocivos à vida humana e ao próprio planeta, apoiando, assim, o uso de técnicas sustentáveis de pesquisa e desenvolvimento. 143 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 144 Através dos anos, foram definidos doze princípios básicos da Química Verde. Para que uma indústria, instituição de ensino ou pesquisa adira à Química Verde, é necessário que ela siga doze princípios. O primeiro dos princípios é a prevenção. Seguindo o ditado popular: “antes prevenir do que remediar”, para os que seguem a Química Verde, torna-se melhor e mais barato evitar a formação de resíduos tóxicos no ambiente do que ter de tratá-los posteriormente. Evitar os resíduos contribuiria de maneira significante para o meio ambiente, já que o custo para o seu tratamento é alto. Os resíduos geram perda de matéria-prima, gasto de energia para a sua produção e sua futura reciclagem, sem contar os problemas ambientais decorrentes do seu excesso presente na natureza. O segundo princípio diz que “métodos sintéticos devem ser projetados para maximizar a incorporação de toda a massa dos reagentes no produto. Essa ideia, introduzida por Trost, é conhecida como ‘Economia Atômica’” (SILVA; LACERDA; JUNIOR, 2005, p. 104). Já o terceiro princípio da Química Verde fala sobre a questão da utilização de produtos menos perigosos: “sempre que forem viáveis, as metodologias sintéticas devem usar e gerar substâncias o menos tóxicas possível à vida humana e ao ambiente” (SILVA; LACERDA; JUNIOR, 2005, p. 104). Além de serem causadores de inúmeros danos, alguns dos produtos químicos utilizados nas indústrias causam efeitos irreversíveis ao planeta, e apenas a sua substituição é capaz de resolver tal situação. O desenvolvimento de produtos mais seguros é o quarto princípio. “Os produtos químicos devem ser planificados no nível molecular de modo a cumprir as funções desejadas e a minimizar a sua toxicidade” (MACHADO, 2004, p. 63), tornando-se menos nocivos ao ambiente. O quinto princípio refere-se principalmente às indústrias e à agricultura. Segundo ele, o uso de solventes, agentes de separação, entre outras substâncias, deve ser nulo ou reduzido, utilizando-se materiais inofensivos, se necessário. O sexto princípio atinge o setor industrial e de pesquisa, já que envolve uma busca pela eficiência energética. Segundo ele, Deve-se reconhecer os impactos econômicos e ambientais dos requisitos energéticos dos processos químicos e minimizá-los; quando possível, os métodos sintéticos devem ser realizados à temperatura e pressão ambientais ou próximas destas. (MACHADO, 2004, p. 63). Considerado um dos mais importantes, o sétimo princípio fala sobre a utilização de fontes de matéria-prima renováveis. Tomando como exemplo o petróleo, pode-se perceber que, além de ser um combustível fóssil não 144 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 145 renovável, ele é transformado, em regra, por meio da combustão, em outras alternativas energéticas. Além de ser possível prever o seu esgotamento, a combustão do petróleo resulta em gases poluentes. Sendo assim, a utilização de fontes inesgotáveis reduziria, além do esgotamento dos recursos naturais, a emissão de poluentes na atmosfera, liberados pelo processo de combustão. O oitavo princípio da Química Verde prega a redução de derivativos. A derivatização (uso de reagentes bloqueadores, de proteção ou desproteção, modificadores temporários) deverá ser minimizada ou evitada quando possível, pois estes passos reacionais requerem reagentes adicionais e, consequentemente, podem produzir subprodutos indesejáveis. (PRADO, 2003, p. 739). O nono princípio traz a catálise como solução para os problemas ambientais. Segundo ele, “reagentes catalíticos (tão seletivos quanto possível) são melhores que reagentes estequiométricos” (LENARDAO, et al., 2003, p. 1). O décimo princípio aborda os produtos degradáveis, já que o acúmulo de resíduos é outro grande problema na sociedade atual. “Os produtos químicos precisam ser projetados para a biocompatibilidade. Após sua utilização não devem permanecer no ambiente, degradando-se em produtos inócuos” (UFPEL, 2002a). Ao se referir à análise em tempo real para a prevenção da poluição, o décimo primeiro princípio da Química Verde diz que “as metodologias analíticas precisam ser desenvolvidas para permitirem o monitoramento do processo em tempo real, para controlar a formação de compostos tóxicos” (PRADO, 2003, p. 739). O décimo segundo e último princípio trata da química segura. “As substâncias e a forma como são usadas no processo químico devem minimizar o potencial de acidentes” (SILVA; LACERDA; JUNIOR, 2005, p. 104). Com o passar dos anos, os princípios da Química Verde têm sido inseridos nas indústrias e nos meios acadêmicos em atividades de ensino e pesquisa, mas, para que haja a implantação de medidas sustentáveis nas indústrias, se faz necessária primeiramente a existência de profissionais capacitados que tenham conhecimento dessas novas técnicas. A Química Industrial foi, inconscientemente, grande contribuidora para a poluição do ambiente, porque os químicos não notaram que, conforme mais conhecimento científico ia sendo adquirido, a Química podia ser utilizada de outra forma, sem agredir o ambiente. Há pouco tempo, perceberam que podiam empregá-la de modos alternativos que fossem benignos 145 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 146 para a biosfera. Agora que descobriram a Química Verde, os químicos têm como papel convencer a sociedade de que essa situação pode ser mudada, apresentando alternativas para remediá-la. Embora sociedades norte-americanas, como a American Chemical Society (ACS) e a Royal Society of Chemistry (RSC), disponibilizem materiais referentes à Química Sustentável para utilização em cursos superiores e de grau médio em química – além de muitos artigos referentes a esse tema, publicados em jornais e revistas da área –, a quantidade disponível desses artigos em Língua Portuguesa é muito pequena. Porém, com o passar do tempo, a inserção da Química Verde em instituições de ensino e pesquisa tem uma aceitação cada vez maior, já que ela contribui de maneira significativa para a redução de poluentes no ambiente. A inserção de tópicos de química verde no currículo dos cursos de química e engenharia química está relacionada diretamente com a formação de profissionais químicos mais adequados às exigências do setor industrial. (UFPEL, 2002c). Com a existência de profissionais químicos qualificados e possuidores de conhecimento relativo à Química Verde, com seus doze princípios e sua aplicação na produção industrial, as indústrias seriam capazes de desenvolver e implementar técnicas de redução da poluição, o que acarretaria uma consequente queda nos custos de produção. Muitos cursos trazem a química ambiental como componente curricular, mas são poucos os que ensinam os princípios da Química Sustentável, tais como a prevenção da geração de subprodutos tóxicos, ou ainda, a utilização de produtos provenientes de fontes renováveis. “O interesse em seus materiais educacionais vem crescendo, sendo que muitos recursos educacionais em química verde têm sido desenvolvidos ou estão em pleno desenvolvimento” (PRADO, 2003, p. 743). No âmbito industrial, a implantação de tecnologias limpas e, ao mesmo tempo, rentáveis é um grande desafio. Obviamente a substituição das plantas industriais existentes por novas instalações requer um investimento muito além das possibilidades das empresas, mesmo as grandes corporações multinacionais. Porém, vários químicos trabalham no sentido de desenvolver adaptações em técnicas e produtos que possam levar a uma redução na utilização de matéria-prima não renovável e/ou na produção de resíduos tóxicos. (IFEL, 2002b). 146 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 147 Outra grande preocupação do setor industrial é relacionada às fontes de energia renováveis. Estima-se que em cinquenta anos o mundo sofrerá dificuldades para manter motores a base de petróleo em funcionamento. Com a diminuição de combustíveis fósseis, haverá um consequente aumento no preço para a sua utilização, o que cria a necessidade de mudança de fonte energética. As principais alternativas de fontes de energia que não agridam o meio ambiente são a energia solar, obtida do Sol; a energia eólica, obtida da força dos ventos; a energia das marés, proveniente das correntes marítimas; a biomassa, obtida da matéria orgânica; a hidráulica, obtida por meio da força das águas; entre outras. Esses tipos de fonte de energia são considerados as melhores alternativas energéticas da atualidade, já que são encontradas em abundância na natureza e geram menos impactos ambientais. Atualmente, uma das fontes de energia mais usadas no mundo é a energia nuclear. Muitas manifestações são feitas contra o seu uso, já que pode haver a liberação de material radioativo em caso de acidentes em uma usina nuclear, como já ocorreu na Ucrânia (Chernobyl) e no Japão (Fukushima Daiichi). Além disso, sua fonte também não é renovável, sendo necessária sua substituição futuramente. No Brasil, a produção de biocombustíveis com fontes renováveis e que não liberam gases tóxicos, como, por exemplo, o etanol, a partir da cana-deaçúcar, significa um grande passo para o desenvolvimento do país. É verdade que falta uma política mais efetiva do governo para o setor de biocombustíveis, mas ainda assim há avanços importantes já verificados por pesquisadores da Unicamp (biocombustível a partir do bagaço de cana), UFPR (biodíesel adicionado ao óleo diesel para movimentar ônibus urbano em Curitiba), UFRJ (biodiesel a partir de óleo usado em lanchonete) e dezenas de outras unidades de pesquisa no Brasil, mostrando a viabilidade de uso da biomassa como fonte alternativa viável de energia. (UFPEL, 2002b). O uso do etanol como uma alternativa em prol do meio ambiente, para a geração de energia, já tem tido resultados positivos. A produção do etanol no Brasil tem crescido cada vez mais, mas ainda faltam incentivos e políticas que deem maior competitividade ao etanol com relação aos outros combustíveis (gasolina, por exemplo), como uma menor tributação, investimentos em infraestrutura e em tecnologia referentes à produção do etanol, além de incentivos para a substituição dos outros combustíveis. 147 DIa Mundial da Ciência.qxd:Diversidade Cultural 11/10/11 3:09 PM Page 148 As pesquisas feitas em busca de uma alternativa demonstram a magnitude que a preocupação com o meio ambiente atingiu. Embora haja uma enorme mobilização dos mais diversos setores sociais, ainda se faz necessária uma política de maior investimento em alternativas limpas, bem como de “redução na fonte, tanto no segmento industrial como no acadêmico” (LENARDAO, et al., 2002, p. 1). Em suma, o mundo procura alternativas de desenvolvimento sustentáveis e, com a Química Verde, é possível encontrar meios de fazê-lo. A utilização dos princípios da Química Sustentável no cotidiano torna-se o grande desafio da atualidade. Dessa maneira, a própria Química soluciona problemas por ela criados. BIBLIOGRAFIA GOUVEIA, F. Poluição química e química antipoluição. 2011. Disponível em: <www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br>. Acesso em :10 jul. 2011. LENARDAO, E. J.o et al. “Green chemistry”: os 12 princípios da química verde e sua inserção nas atividades de ensino e pesquisa. Química Nova. São Paulo, v. 26, 2003. MACHADO, A. A. S. C. Química e desenvolvimento sustentável. 2004. Disponível em: <http://www.spq.pt/>. Acesso em: 01 mai. 2011. PRADO, A. G. S. Química verde, os desafios da química no novo milênio. Química Nova, v. 26, n. 5, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/>. Acesso em: 01 mai. 2011. SILVA, F. M.; LACERDA, P. S. B. de; JUNIOR, J. J. Desenvolvimento sustentável e química verde. Química Nova, v. 28, n. 5, 2005. Disponível em: <http://www. scielo.br>. Acesso em: 01 mai. 2011. TAKEDA, T. de O. A preocupação com o meio ambiente nas últimas décadas. 2009. Disponível em: <http://www.jurisway.org.br/>. Acesso em: 01 mai. 2011. UFPEL. Os 12 princípios da química verde. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2002a. Disponível em: <http://www.ufpel.tche.br/iqg/wwverde/html/Princ%E Dpios.htm>. Acesso em: 01 mai. 2011. UFPEL. A indústria e a química verde. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2002b. Disponível em <http://www.ufpel.tche.br/iqg/wwverde/>. Acesso em: 01 mai. 2011. UFPEL. Química verde e educação. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2002c. Disponível em: <http://www.ufpel.tche.br/iqg/wwverde/>. Acesso em: 01 mai. 2011. 148