UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A LINGUAGEM NO ENSINO/APREDIZAGEM DE QUÍMICA Por: Renata Souza e Silva Orientador Prof. Ms. Carlos Cereja Rio de Janeiro 2004 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A LINGUAGEM NO ENSINO/APRENDIZAGEM DE QUÍMICA Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Docência do Ensino Superior. Por: Renata Souza e Silva 3 AGRADECIMENTOS Ao Grande Arquiteto do Universo por ter me proporcionado um ano de muitas novidades e conquistas. Aos meus colegas do curso que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização deste trabalho, a todos vocês, meu eterno agradecimento. Obrigada por terem acrescentado algo de novo em minha vida. 4 DEDICATÓRIA Aos meus pais por terem me concedido o dom da vida. Ao meu marido Renê, que tanto colaborou para o aperfeiçoamento deste trabalho e por ser sempre meu grande amigo. E aos meus sobrinhos Arthur e Ana Isis por me darem muitas alegrias. 5 RESUMO O conhecimento científico, em Química, ensinado na escola é mal digerido, pouco assimilado e rapidamente esquecido. De modo geral sua transferência não lhe assegura um papel integrador, e ele dificilmente é utilizado no dia-a-dia pelo cidadão comum. Muitos profissionais reconhecem que, quase sempre, o ensino tem estimulado a retenção e a repetição, em vez de promover o pensamento reflexivo e a capacidade de elaboração e produção originais. O ensino de Química apresenta livros que a nível de linguagem, parecem incapaz de romper com o hermetismo linguístico que lhe é próprio, tornando-se instrumento de opressão e de discriminação, na medida em que contribui para punir os alunos que, sem compreensão de seus fundamentos, são mal sucedidos quando submetidos ao adestramento para o seu uso. No caso da Química, a desmistificação de sua linguagem ajuda a aproximar o universo imediato do aluno o seu saber especializado. Neste trabalho, busco situar a linguagem utilizada pelos professores e alunos da primeira série do ensino médio de duas escolas da Rede Pública, permeando a linguagem científica e a linguagem cotidiana (senso comum), de modo a verificar se ela, a linguagem, promove o aprendizado e se os alunos conseguem estabelecer relações entre os conteúdos estudos. 6 METODOLOGIA A metodologia utilizada neste trabalho consiste em redimensionar as aulas assistidas em uma única turma da 1a série do Ensino Médio de duas escolas da Rede Pública, buscando compreender se a linguagem utilizada na sala de aula por professores e alunos contribui no processo de ensino/aprendizagem do conhecimento químico. No desenvolvimento deste trabalho, várias indagações permearam o trajeto das investigações. A linguagem utilizada e explorada na sala de aula pelos professores e alunos, contribui no processo de ensino/aprendizagem do conhecimento químico? Será que o professor utiliza uma ponte entre o conhecimento do cotidiano “senso comum” e o conhecimento científico? Será que os alunos conseguem estabelecer relações entre os conteúdos químicos? De um modo geral, ao planejar suas aulas de química os professores preocupam-se em incluir o conhecimento de senso comum ao conhecimento científico, porém, o que se observa nas salas de aula, entretanto, é muito diferente. O ensino privilegia a memorização, a nomenclatura, a descrição, a classificação, a fragmentação, a passividade e a capacidade de obedecer a regras, ainda que sutilmente impostas, em detrimento da compreensão, da reflexão, da crítica, da cooperação e da integração. A maioria dos alunos estuda química unicamente para a prova, sem prazer. Depois de um esforço excessivo de memória, terminam por decorar muitos nomes científicos, fórmulas e soluções de problemas e, tendo se esforçado, acreditam ter aprendido. Por fim, os recursos metodológicos utilizados neste trabalho foram livros didáticos referentes ao assunto, pesquisas da internet, revistas, 7 periódicos e a colaboração dos colegas de profissão que muito me ajudaram, sendo eles Frederico Guilherme Alvarez Gomes do Colégio Estadual Diuma Madeira e Mara Lúcia de Campos Arantes do Colégio Estadual Ministro Orozimbo Nonato e aproveito a oportunidade para agradecer aos dirigentes das escolas por terem aberto as portas de suas instituições com toda a liberdade e carinho para concretização deste trabalho. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I - Conhecimento Cotidiano 12 CAPÍTULO II - Conhecimento Científico 18 CAPÍTULO III – A Linguagem 26 CAPÍTULO IV – O processo de Ensino/Aprendizagem 30 CAPÍTULO V – O Ensino de Química 33 CONCLUSÃO 38 BIBLIOGRAFIA 40 ÍNDICE 44 FOLHA DE AVALIAÇÃO 46 9 “Não importa a palavra, esta corriqueira. Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe, os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”, o “o”, o “porém” e o “que”, incompreensível muleta que me apóia. Quem entender a linguagem entende Deus cujo Filho é o Verbo. Morre quem entender. A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surdamuda, foi inventada para ser calada. Em momentos de graça, infrequentíssimos, se poderá apanha-la: um peixe vivo com a mão. Puro susto e terror.” Adélia Prado 10 INTRODUÇÃO Existe um provérbio chinês que sintetiza muito bem a intenção deste trabalho de monografia: “Se você estiver fazendo planos para um ano, plante arroz... programado para uma década, plante árvores... projetando para uma vida inteira, eduque uma pessoa.” Como aluna do ensino médio tive a oportunidade de aprender profundamente e com prazer, mas por outro lado, na graduação, decepcionei-me bastante com a maneira de ensinar a que fui submetida. Esta decepção, ocorreu logo no primeiro período onde os professores viam o aluno como uma “tabula rasa” e o que ele trazia como bagagem – conhecimentos anteriores – era desconsiderado. Neste sentido, o curso de Química foi para mim, uma experiência desestimulante, cheia de decepções em relação ao aprender. Mesmo assim, tornei-me educadora e acredito que no processo de ensino/aprendizagem, o aluno também tem muito a acrescentar em uma aula, pois ele não é um receptor passivo de conhecimentos: “Na sala de aula não há lugar para ensinar e o aprender de forma isolada. Alunos e professores participam de uma construção compartilhada do saber”. (FREITAS,1998,p.12) Percebo que a Química (a ensinada em nossos colégios) não atrai os alunos e a grande maioria não vê importância no estudo dessa disciplina porque muitas vezes é desvinculada do contexto em que eles vivem. E mais, os livros didáticos geralmente, apresentam a Química como uma ciência dogmatizada, estática, em que todas as verdades são absolutas, dificultando sua aprendizagem. Atualmente, na maioria das escolas, o ensino de química é feito exclusivamente através de um livro-texto cujo conteúdo é transmitido pelo professor. Os textos apresentam fórmulas, “receitas”, classificações, regras práticas, etc., demonstrando uma ciência pronta e definida. Assim, não se consegue aprender química. 11 Talvez a grande responsável por este estado de coisas seja a ausência de diálogo entre a linguagem científica e a linguagem cotidiana, entre a teoria científica e a prática dos fenômenos, tanto os de laboratórios quanto os do dia-a-dia, entre os princípios científicos e os contextos sociais e tecnológicos em que eles se materializam. (MORTIMER,1998,p.115) Segundo CHASSOT (1993,p.39), “A Química é também uma linguagem (...) Assim o ensino de Química deve ser um facilitador da leitura do mundo.” Além disso, estamos engajados numa constante mudança social, onde a Química pode contribuir com a formação do cidadão se tratada convenientemente: “Acredito ser preciso aprofundar questões, organizar debates e, dessa forma, construir conhecimentos capazes de modificar ações pedagógicas, visando favorecer pessoas constantemente excluídas da escola, do círculo e de sua políticas de conhecimento e cultura” (RIBEIRO,1998,p.32). 12 CAPÍTULO I Conhecimento Cotidiano O conhecimento cotidiano guia nossas ações, nossas conversas, nossas decisões: saber algo na vida cotidiana é levar a cabo os tipos de ações cotidianas mais heterogêneas. (Heller, 1989, p. 317) 13 1. COTIDIANO O termo cotidiano envolve sentidos múltiplos, sendo ambíguo. Para uns, trabalhar com o cotidiano trata-se de motivar os alunos com curiosidades, geralmente sobre uma notícia de atualidades como supercondutores, vazamento em usinas nucleares, chuvas-ácidas, tratamento contra câncer, etc. Notícias estas que, comumente são trazidas pelos alunos depois de assistirem reportagens na TV, ou lerem em jornais e revistas, que de um modo geral, acabam ficando sem respostas satisfatórias, pois os professores não têm acesso às fontes de informação mais aprofundadas sobre essas questões. Não são questões propriamente do cotidiano, situam-se entre o sensacional, o fantástico e o superinteressante. Aqueles que trazem esse tipo de questões querem respostas simples e imediatas, pois o interesse é fugaz, sendo difícil estabelecer relações mais profundas entre esse fato isolado e outros conhecimentos. A postura dos professores se divide frente a essa situação: a maioria a ignora, mas há escolas de nível médio que utilizam pedagogias que trabalham em cima do interesse dos alunos, que procuram aproximar o assunto levantado daquilo que se pretende com o ensino de química. Para outros, trabalhar com o cotidiano é buscar ilustrações para o assunto que se está desenvolvendo. São exemplos e contra-exemplos práticos que farão a ponte entre a aula expositiva e os fatos da natureza e da técnica. Isso ocorre quando se exemplifica semi-metais com transistores; ésteres com aromatizantes; ácido clorídrico com gastrite; emulsões coloidais com maionese, etc. 14 Porém, limitam-se apenas na citação e não se estabelecem relações mais amplas, sendo esse, o caso mais comum de ligação com o cotidiano. Cita-se o fato sem que se consiga estabelecer uma relação entre a estrutura e a função. Por exemplo, nas aulas de química orgânica é citado que os ésteres são aromatizantes, mas não se explica como essa estrutura torna a substância sensível ao nariz e outra estrutura não. Outras pessoas já perceberam que não é possível tratar isoladamente os conhecimentos conceituais de química, pois os livros ficam reduzidos a resumos de conteúdo, sem explicações e sem relação entre si. A quantidade de conceitos - ou definições? - e procedimentos que são introduzidos a cada aula, a cada página da maioria dos livros didáticos é muito grande para que seja possível ao aluno, em tão pouco tempo, compreendê-los e ligá-los logicamente numa estrutura mais ampla que dê significado à aprendizagem da química. Quando se fala em trabalhar o cotidiano, os professores têm uma atitude de prevenção imediata, pois sabem que a vida de cada aluno é diferente da de outro, até em uma mesma escola. Esse conceito esconde a realidade de vivermos em uma sociedade de classes. Os jovens pertencentes às diferentes classes sociais, mesmo que a ideologia interfira em sua visão de mundo, têm eles condições concretas de vida diferentes. Alunos com diferentes histórias de vida podem desenvolver e apresentar diferentes leituras ou perfis conceituais sobre fatos químicos, que poderão interferir na aquisição do conhecimento, mais do que a simples memorização. O aprendizado deve ser conduzido levando-se em conta essas diferenças. No processo coletivo da construção do conhecimento em sala de aula, valores 15 como respeito pela opinião dos colegas, pelo trabalho em grupo, responsabilidade, lealdade e tolerância têm que ser enfatizados, de forma a tornar o ensino de Química mais eficaz, assim como para contribuir para o desenvolvimento objetivos dos valores concomitantes do humanos processo que são educativo. (PCN,1999,p.241) Assim, conhecer a estrutura da vida cotidiana e a vivência desse cotidiano, chama-se cotidianidade. Esse traço permeia as classes sociais e não é característico de uma delas, e sim, uma permanência. 1.2 O CONHECIMENTO COTIDIANO E O ENSINO DE QUÍMICA No decorrer da história, o pensamento educacional em ciências sempre procurou levar em conta a importância das relações entre ciência e vida cotidiana, seja como forma de superar um ensino verbal e acadêmico, seja como forma de motivar e provocar interesse nos alunos, seja ainda como forma de garantir o conhecimento das aplicações de conceitos científicos. LESSA (1964), destaca o fato de muitos educadores estrangeiros se surpreenderem ao constatar que nossos alunos mostravam grande facilidade em expor princípios científicos, mas nenhuma capacidade de relacioná-los com eventos cotidianos. Ou seja, os estudantes sabiam expor por exemplo, o princípio do eletromagnetismo, mas desconheciam completamente o funcionamento de uma simples campainha. Muitos trabalhos utilizam o conhecimento cotidiano “senso comum” para despertar o interesse dos alunos, para caracterizar uma relação com temas sociais ou para construir atividades facilitadoras dos processos de 16 ensino-aprendizagem, capazes de superar a excessiva aridez da abstração científica. O conhecimento cotidiano equivale ao conjunto de concepções alternativas ou de representações dos alunos, valorizando seus conhecimentos prévios. Nessa perspectiva, considera-se que apenas os alunos detêm concepções alternativas a serem questionadas. Não se problematiza o fato de que todos nós, professores e pesquisadores, estamos imersos no conhecimento cotidiano. No máximo, possuímos a consciência de que precisamos manter uma vigilância epistemológica constante de nossas próprias concepções. Concepções alternativas ou prévias fazem parte de uma cultura mais ampla: são conceitos que se inter-relacionam a valores culturais, visões de mundo, construídas socialmente, por isso fazem parte do cotidiano de todos nós. LUFT (1988 e 1992), interpreta as relações entre cotidiano e ensino de Química como uma forma de entendermos as relações sociais e econômicas na sociedade. Nesse caso, o cotidiano não é restrito às ações isoladas do dia-a-dia, nem sua relação com o ensino de Ciências se resume à ilustração das aulas com exemplos de aplicações científicas. Ao afirmar que, uma vinculação com o cotidiano melhora necessariamente a aprendizagem em Ciências, isso se torna um certo senso comum educacional e além de exigir de nós, educadores e educadoras em Química, uma problematização maior, especialmente quanto aos aspectos epistemológicos e culturais da questão. Esta questão aponta para o fato de que é necessário discutir que, a dificuldade de interpretação das relações entre cotidiano e ensino de Química se situa em utilizar com frequencia um conceito restrito de cotidiano 17 e de conhecimento cotidiano, negando a existência de uma ruptura entre conhecimento comum e conhecimento científico, tendo uma postura supostamente democrática de valorização dos saberes populares, identificados como os saberes cotidianos dos alunos. Assim, tais problemas tendem a conferir aos professores e aos pesquisadores a ilusão de que, a partir da valorização do senso comum, da utilização de exemplos do dia-a-dia, em suma, da aproximação da Química com o cotidiano, os alunos aprendem melhor, o que, efetivamente, nem sempre ocorre. O conhecimento científico deve ser contextualizado, de modo a acrescentar um novo significado ao cotidiano dos adolescentes, sendo preciso analisar cada problema, objetivando organizar idéias capazes de promover o ensino de Química. 18 CAPÍTULO II Conhecimento Científico “Fazer ciência é observar um fenômeno e interpretá-lo, construindo uma teoria.” 19 2 CONSTRUINDO O CONHECIMENTO O Homem, desde que nasce, adiquire informações do ambiente como: sons, movimentos, textura (pelo tato), sabor, etc. Com base nas informações acumuladas ao longo de sua vivência, ele interage com o meio, fazendo previsões ou simplesmente usando o conhecimento adquirido para tornar melhor e mais segura a sua vida. Uma pessoa comum usa o tempo todo este acervo de conhecimento, chamado de senso comum, em seu dia a dia. Uma criança recém-nascida ainda não tem a capacidade de prever acontecimentos, pois não tem desenvolvido o "senso comum". Assim ela pode, por exemplo, colocar a mão em uma panela quente, mesmo vendo que sob a panela há uma chama ardente. Um adulto prevê facilmente o acidente que pode acontecer caso coloque a mão na mesma panela. Isto ocorre porque ele usa a sua experiência acumulada para "prever" o que acontecerá. Este tipo de ação, embora simples, envolve a utilização de um modelo conhecido: A chama causa queimaduras e objetos metálicos em contato com a chama também causam queimaduras. Assim, o conhecimento científico é construído de maneira semelhante. O cientista usa o conhecimento acumulado para fazer previsões, ou para construir um modelo que explique as suas observações, embora ele também se utilize do seu senso comum, é necessário provar ou testar o seu modelo, pois não raramente o senso comum falha. 2.1 O ENSINO DE QUÍMICA ATRAVÉS DA HISTÓRIA Segundo CASTRO (1992), muitos educadores preconizam que a abordagem histórica dos conteúdos é fator de educação científica, uma vez 20 que assim procedendo o professor estaria aproximando o conhecimento científico do universo cognitivo do aluno, que antes de conhecer constrói historicamente o que conhece. Assim, o estudo da Química a partir de uma perspectiva histórica contribuiria para tal aproximação. BELTRAN e CISCATO (1991) apud MACHADO (1995), apresentam o seguinte relato de experiência que demonstra uma das possíveis alternativas para a prática de uma educação científica respaldada pela abordagem histórica: COMBUSTÃO: DUAS INTERPRETAÇÕES DIFERENTES A partir de uma experiência simples e interessante, onde se procede à queima de uma palhinha de aço, é possível discutir idéias que foram objeto de estudiosos do século XVIII. Stahl e Lavoisier propuseram explicações diferentes para o fenômeno da combustão. Um dos aspectos de maior importância no estudo de reações químicas, no início do estudo de Química no 2º grau é a compreensão da Lei de Lavoisier. Tenho verificado que, em geral, os alunos acham que dominam este assunto. Contudo, ao se depararem com uma situação prática em que é necessário aplicar o conhecimento dificuldades. da Isso lei, eles indicava apresentam que este grandes problema provavelmente é grave também no 1º grau. Para resolver este problema, planejei e apliquei a seguinte aula: Comecei a aula montando uma balança conforme o procedimento descrito abaixo. 21 Construí com arame grosso, um travessão para a balança, com aproximadamente um metro de comprimento. É conveniente o uso de um arame grosso para que o travessão não se curve com o próprio peso. É preciso que tenha pelo menos um metro de comprimento, pois com um comprimento menor a balança teria pequena sensibilidade. Dependurei o travessão da balança em um lugar alto, com a ajuda de um fio. Suspendi os dois pratos às extremidades do travessão usando armações feitas com fio de cobre do tipo usado para enrolar transformadores elétricos. Usei pratos de alumínio, mas poderiam ser de papelão. Para poupar tempo, preparei antes da aula os pratos e suas armações. Equilibrei a balança acertando a distância do suporte dos pratos ao centro do travessão. Testei a sensibilidade da balança. Ela estaria adequada para as experiências que foram feitas em seguida se estivesse sensível à massa de um palito de fósforo. Portanto, coloquei um palito de fósforo em um dos pratos e ela pendeu para o lado em que coloquei o palito. Se ela não estivesse bem sensível, eu deveria desentortar o travessão, deixando-o bem horizontal (reto). Percebi que a curiosidade dos alunos ia aumentando à medida que a balança ia ficando pronta. Demorei aproximadamente uns cinco minutos para montar, equilibrar e testar a sensibilidade da balança. Este foi o tempo suficiente para que todos os alunos estivessem envolvidos no que eu estava fazendo. Daí então, coloquei uma folha de papel um pouco 22 amassada em cada um dos pratos da balança e, após reequilibrar a balança, cortando pedacinhos de papel do lado que estava mais pesado, perguntei: Para que lado vai pender a balança se eu queimar uma das folhas de papel? Quase todos os alunos acharam que a balança penderia para o lado do papel não queimado. Alguns não expressaram sua opinião. Provoquei a queima da folha de papel e verificamos que, realmente, a balança pendeu para o lado que a maioria havia previsto. Sem nada comentar, coloquei em cada um dos pratos um pedaço de vela, de maneira que a balança continuasse equilibrada. Para equilibrar, raspei pedacinhos da vela do lado mais pesado. Depois de reequilibrar a balança, acendi uma das velas e perguntei: O que ocorrerá se eu deixar que ela se queime por algum tempo? Alguns alunos responderam que ela continuaria equilibrada, outros disseram que a balança penderia para o lado da vela que não queimou e um terceiro grupo respondeu que não saberia prever. Solicitei que me explicassem o porquê das previsões. Os alunos que achavam que a balança ficaria equilibrada afirmaram que não iria mudar o peso da vela porque ela apenas derretia. Os que achavam que penderia para o lado da vela que não queimava afirmaram que isto ocorreria porque tudo o que queima fica mais leve. Sem nada comentar, acendi a vela e deixei queimar até que todos estivessem convencidos de que ela pendia para o lado da vela que não queimou. Coloquei, então, amarrada em cada um dos suportes dos pratos, uma palhinha de aço desenrolado 23 para que pudesse ser queimada com facilidade e perguntei: Para que lado vai pender a balança se eu queimar uma das palhinhas de aço? A maioria dos alunos achou que a balança penderia para o lado do material não queimado, como haviam verificado nas vezes anteriores. Poucos alunos acharam que a balança penderia para o lado da palhinha queimada. Sem comentar nada, provoquei a queima do bombril. Para espanto da maioria, a balança pendeu para o lado da palhinha que queimou. Solicitei que eles explicassem o que ocorreu e por que ocorreu. Após ouvirmos várias explicações sobre o fenômeno, entreguei aos alunos o texto que vem reproduzido adiante, “Stahl ou Lavoisier”, e algumas questões que seriam úteis para o entendimento do texto e a discussão que faríamos na aula seguinte. No dia seguinte, fizemos a discussão sobre a experiência e sobre o texto. Percebi uma efetiva compreensão dos fenômenos e um grande interesse na aula”. (MACHADO,1995,p.38) De acordo como experimento supra relatado, é possível abordar dialogicamente a educação dentro de um enfoque histórico, que consegue fugir do habitual e abrir caminho para a crítica, a reflexão e pôr de parte o dogmatismo. Dessa forma, o diálogo, auxilia na educação, da Química em particular, contribuindo com a ruptura dos padrões tradicionais de ensino, que muitas vezes denotam-se nefastos, sendo necessário descobrir caminhos que propiciem ao conhecimento 24 2.2 A DESCOBERTA "A capacidade de pensar por meio de imagens e depois transformá-las em outras dimensões de referências é vital para a arte, a poesia e a ciência. A imaginação é necessária para dar forma a uma teoria ou hipótese. Ela não é, portanto, uma fonte de engano ou de ilusão, mas a capacidade de sentir aquilo que você ainda não conhece, de ser mais do que é possível conhecer." (THOMIPSQN, W. I., 1981) Ensinar química através da descoberta é desenvolver habilidades e atitudes científicas. A descoberta, seja ela qual for, sendo aqui referida à Química, implica especialmente na utilização constante de habilidades como: observar, medir, comparar, formular hipóteses, construir gráficos, analisar e interpretar dados, definir operacionalmente, concluir, dentre outras. A função do professor é ajudar, auxiliar, é criar condições que facilitem essa descoberta. Nessa sua função, o professor pode assumir diferentes e variadas direções. De um lado ele pode preparar todo o cenário da descoberta, orientando o aluno a executar atividades determinadas previamente com o máximo de precisão. São as descobertas dirigidas. Do outro lado, o professor pode deixar o aluno determinar inteiramente as condições da sua descoberta. O aluno escolhe um problema ou assunto para investigar e executa as atividades que ele mesmo determina. É uma descoberta inteiramente sem previsão e preparo prévio do professor, que passa a funcionar como um orientador, propriamente dito. Desse modo, a construção do conhecimento científico mediante o exercício de atividades mais ou menos direcionadas que estimulam o fazer e 25 o pensar, proporcionam o envolvimento dos alunos em atividades de manipulação de materiais e, além disso, promovem a ocorrência de momentos para reflexão, para tomada de decisões e chegada a conclusões, promovendo assim, indivíduos capazes de criar e agir diante situações. Há que considerar também que a ciência é filha da incerteza... e da curiosidade. A escola precisa ensinar química sem corroer a curiosidade, a poesia e a imaginação, tão naturais da infância. A conseqüência da perda de curiosidade é uma parada na construção do pensamento e uma estagnação na forma de perceber o mundo que não se renova mais. Para responder aos desafios da nossa sociedade, precisamos de pessoas capazes de vislumbrar o inusitado, de pensar o que jamais foi pensado, com imaginação e criatividade. A imaginação não é apenas matéria prima para contos de fadas, nem a ciência é feita apenas de fatos concretos. Hoje em dia é vital ultrapassarmos o ensino informativo. Afinal, ciência e muito mais do que um arquivo de conhecimentos. É também uma ação humana e, como tal, se insere na história. Por isso, não está isenta de valores pessoais e sociais. Mais do que um produto para ser acumulado ou adquirido, é um processo, um modo de pensar, de chegar a conclusões coerentes a partir de premissas, de questionar preconceitos, de estimular o equilíbrio entre novas idéias e o conhecimento anteriormente estabelecido. É um fermento essencial para a consciência e a liberdade. A grande tarefa dos professores de ciências e educar para a cidadania, evitando condenar a escola á preparação de indivíduos facilmente manipuláveis. 26 CAPÍTULO III A LINGUAGEM “... a ciência é uma linguagem e que compreendê-la é compreender o livro da natureza...” Galileu 27 3 CONSIDERAÇÕES GERAIS “A linguagem é uma herança social, uma “realidade primeira”, que, uma vez assimilada, envolve os indivíduos e faz com que as estruturas mentais, emocionais e perceptivas sejam reguladas pelo simbolismo.” (PCN,1999,p.125) A linguagem é uma ação humana que movimenta e é movimentada pelo Homem, podendo ser ao mesmo tempo criativa, contraditória, pluridimensional, múltipla e singular. Ela tem por objetivo a interação, a comunicação com o outro, de modo, a articular significados coletivos que variam de acordo com as necessidades e experiências de cada um. O que se espera no âmbito da sala de aula é que a linguagem entre o professor e os alunos, permeie o conhecimento e as formas de conhecer, o pensamento e as formas de pensar, a comunicação e os modos de comunicar, a ação e o modo de agir. Com e na linguagem, o professor e o aluno, transformam o conhecimento, porque o processo de ensino/aprendizagem não é uma via de mão única, é uma relação baseada na reciprocidade. Assim, em muitas das observações feitas em sala de aula, pude observar que essa cumplicidade raramente aconteceu. Acredito que o papel do professor é muito importante e ele precisa procurar o equilíbrio entre dirigir e orientar, pois se desejamos que os alunos aprendam e cresçam, é necessário conhecermos as diferenças entre eles (natureza), suas opiniões a nível individual e coletivo (identidade) e suas bagagens/experiências anteriores (história). 28 3.2 A LINGUAGEM EM QUÍMICA No caso da Química, desmistificar sua linguagem ajuda a aproximação do universo imediato do aluno ao seu saber especializado. A linguagem química, por ser universal, é compreensível por qualquer cidadão no mundo, independente de sua língua de origem. Isso não é um atestado de compreensibilidade, uma vez que a linguagem química continua sendo exclusiva àqueles que iniciam sua leitura. No início, não se segue um critério didático, mas consolida-se ao longo do tempo, de acordo com a experiência do aluno. Por exemplo, o fato de um aluno ler e observar as equações químicas vistas na primeira série, isso não lhe confere que conheçam suas funções propriamente dita, pois no início do ensino médio, soma-se à inexperiência do aluno a ausência de esclarecimentos, por parte do professor, como: a equação química AgNO3 + HCl ----- AgCl + HNO3 é a representação gráfica de uma reação química entre o sal nitrato de prata (AgNO3) e o ácido clorídrico (HCl), que resulta no Cloreto de Prata (AgCl), sal insolúvel, base do processo fotográfico, e no ácido nítrico, HNO3, que é volátil e muito importante na indústria de fertilizantes e de explosivos. Essa reação química acontece (isto é, é espontânea) porque, dentre os produtos formados, há substâncias voláteis e/ou insolúveis. Desse modo, é necessário começar apresentando as substâncias em suas forma natural e realizando a reação química com os alunos, estudando propriedades de reagentes e de produtos passo a passo. Devese também mencionar os processos de obtenção e a utilização de todas as substâncias apresentadas de modo que o fenomenológico (o concreto) venha antes do teórico (o abstrato; átomos, íons, moléculas...) ou do representacional (fórmulas e equações) para que a ligação entre o concreto e o abstrato seja feita de forma natural. 29 “Deve-se considerar que a Química utiliza uma linguagem própria para a representação do real e das transformações químicas, através de símbolos, fórmulas, convenções e códigos. Assim, é necessário que o aluno desenvolva competências adequadas para reconhecer e saber utilizar tal linguagem, sendo capaz de entender e empregar, a partir das informações, a representação simbólica das transformações químicas. A memorização indiscriminada de símbolos, fórmulas e nomes de substâncias desenvolvimento de não contribui competências e para o habilidades desejáveis no Ensino Médio.” (PCN,1999,p.244) De acordo com o Parecer 853/71 do Conselho Federal de Educação, que define o núcleo comum para os currículos de 1º e 2º graus, com base na doutrina da Lei nº 5.692/71, a relação com o cotidiano, "a conexão com o mundo real e com as experiências colhidas em situações concretas", é apontada como tão mais fundamental quanto mais inicial for o nível de ensino 30 CAPÍTULO IV O PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM 31 4 O PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM Tendo em vista um conjunto de princípios que elucidam o processo de ensino/aprendizagem, no âmbito da sala de aula, o professor deve promover reflexões e debates que promovam o pensamento reflexivo e a capacidade de elaboração e produção originais, buscando evitar, desta forma, que o aluno se transforme em um mero copiador, um assimilador passivo de conteúdos. Durante a aula o professor deve desempenhar diferentes funções educacionais, por exemplo: motivar os estudantes a estudar, apresentando um vídeo ou um texto sobre o assunto proposto, pedir a eles que apresentem as suas experiências sobre o assunto a tratar; assegurar aos alunos as informações necessárias, sugerindo leituras em bibliotecas, procurando textos relativos ao tema; e contudo, avaliar os alunos. Segundo BLOOM, et al (1975), a avaliação pode ser considerada um instrumental da prática educacional para verificar se procedimentos alternativos são ou não igualmente efetivos ao alcance de um conjunto de fins educacionais, envolvendo uma coleta sistemática de dados, por meio dos quais se determinam as mudanças que ocorreram no comportamento do aluno, em função dos objetivos educacionais e em que medida estas mudanças ocorrem, tendo o propósito de classificar os alunos ao final de um período de aprendizagem, semestre, ano, mês ou curso, de acordo com os níveis de aproveitamento. Assim, é preciso ensinar para e-du-car. Mas, o que é educar? Segundo FERREIRA (2001), é promover o desenvolvimento da capacidade intelectual, moral e física de alguém, ou de si mesmo; instruir-se. 32 Portanto, educar, é o caminho, é o processo, é a busca de realizações, a fim de promover o amadurecimento humano em todas as direções, proporcionando ao aluno a liberdade de construir suas idéias, suas convicções e suas relações sociais. Entretanto, compete ao professor, a vontade de se fazer da química um instrumento de trabalho capaz de contribuir para a formação de seus alunos, permitindo-lhes o exercício pleno da cidadania, fazendo da química um instrumento de leitura do mundo, que não fique restrita à sala de aula. Contudo, o processo de ensino-aprendizagem em Química inicia-se, qualquer que seja o grau de ensino, com algumas reflexões importantes em relação ao que se deve ensinar, de que forma ensinar e por que ensinar, buscando assim, um caminho alternativo. 33 CAPÍTULO V O ENSINO DE QUÍMICA “O empirismo precisa ser compreendido, o racionalismo precisa ser aplicado. “ Gaston Bachelard 34 5 O ENSINO DE QUIMICA Pesquisas no mundo todo tem sugerido que o ensino de Química é, via de regra, e salvo honrosas exceções, caótico, pouco frutífero e dicotomizado da realidade de professores e alunos. Além disso, como agravante, o ensino de Química apresenta livros que a nível de linguagem, parecem incapaz de romper com o hermetismo linguístico que lhe é próprio, tornando-se instrumento de opressão e de discriminação, na medida em que contribui para punir os alunos que, sem compreensão de seus fundamentos, são mal sucedidos quando submetidos ao adestramento para o seu uso. Nota-se grande ênfase em modelos atômicos, modelos de ligações químicas, classificação de ácidos e bases, nomenclatura de compostos, enquanto uma aproximação com aquela Química que está mais perto do aluno e de sua realidade, (por exemplo a produção de materiais industrializados como plásticos e medicamentos, o tratamento do lixo e da água, o impacto da atividade humana sobre o meio ambiente, etc), via de regra é relegada a plano secundário. Talvez fosse possível migrar da chamada “Química do cotidiano” (como se pudesse haver o oposto de um cotidiano sem Química) para os conceitos fundamentais. Talvez esse caminho favorecesse a construção de um conhecimento mais plausível. Ao decidir sobre o que ensinar, é preciso considerar que os temas ensinados devem estar vinculados à realidade dos alunos, estabelecendo relações entre eles e preparando-os para a vida, e não apenas para passarem de ano. 35 Os conteúdos aprendidos devem ser instrumento de cidadania e de competência social, para que os alunos possam viver e compreender os fenômenos que ocorrem no seu dia a dia e serem capazes de fazer sua leitura, proporcionando-lhes desenvoltura no mercado de trabalho que se encontra cada vez mais exigente em conhecimento. Ao longo de muitas observações, vale ressaltar uma aula que assisti sobre ácidos e bases, muitos exemplos poderiam ter feito parte de alguns momentos da aula, exemplos simples, próximo ao aluno, que com toda certeza eles iriam assimilar e entender melhor o conteúdo, em vez de ficarem restritos ao livro. Neste conteúdo os professores poderiam começar abordando a acidez ou basicidade de materiais próximos aos alunos, como o vinagre, o leite, a urina, etc. e, a seguir, discutir a chuva ácida como um fenômeno químico onde está implícito o conceito ácido-base, pH, reações químicas, etc. A chuva ácida é um assunto que lembra poluição ambiental, industrialização, políticas de meio ambiente e outros assuntos semelhantes. Assim, dessa forma, nos parece ser mais produtivo o ensino/aprendizagem de química em vez de decorar classificações e nomenclatura de ácidos e bases, que por sua vez virão como consequência natural do estudo que se faça. Além disso, deve-se considerar que ensinar da mesma forma todos os alunos é complicado, exigi cautela, pois cada qual com seus universos, culturas e repertórios pessoais diferentes, devem ser sempre considerados e o professor se questionar sobre quem é o aluno que ele deseja educar. Desse modo, o professor de química estará refletindo sobre o que ensinar e conseqüentemente saberá por que ensinar. 36 Não obstante, a Química é uma linguagem e como tal, deve ser um instrumento de leitura e interação com o mundo, via domínio do método científico, assim ensina-se química. Além disso, o ensino de Química deve ser um instrumento para a cidadania, a democracia e o livre pensar, fornecendo ao cidadão a oportunidade de melhorar sua qualidade de vida, na medida em que os qualifique, preparando mão-de-obra competente e especializada de modo a gerar acesso democrático ao mercado de trabalho. Assim, o ensino de Química deve ser, também, um instrumento para a felicidade, a alegria na escola e na vida. Contudo, não existe uma receita de como ensinar. Há, sim, considerações que devem ser analisadas no primeiro momento em que se decide entrar em uma sala de aula e ultrapassar as barreiras de ser apenas um professor, mas sim, um educador, um instrutor. Tendo a necessidade de fugirmos da assepsia no ensino, mostrando os conteúdos vinculados à realidade e não como definidos, prontos, isolados do universo e confinados à sala de aula e ao quadro negro. No ensino de química, é necessário buscar, também, o rompimento com o dogmatismo, sabendo que a ciência não é dogmatizada. É preciso educar para a incerteza, ficar com um olho crítico na história dos acontecimentos e ter em mente que a incerteza gera busca pelo conhecimento, enquanto a certeza (o dogma) conduz à estagnação do pensamento. Dessa forma, é necessário buscar um ensino inovador, capaz de partir do concreto para o abstrato, iniciando daquilo que o aluno já sabe e 37 oportunizando-lhe a construção de conceitos, que não são o mesmo que definições, podendo ser este um caminho natural para a aprendizagem. O ensino de Química, que parte do concreto para o abstrato pode ser conseguido aproximando-se a ciência da realidade do aluno e procurando falar com ele a mesma linguagem, impedindo que o conhecimento seja algo esotérico, acessível a uma “casta” de iniciados. Assim, o conhecimento químico não deve ser entendido como um conjunto de conhecimentos isolados, prontos e definidos, mas sim uma construção da mente humana, em contínua mudança. A linguagem, como parte do conhecimento socialmente produzido, deve permear todo o ensino de Química, possibilitando ao aluno a compreensão do processo de elaboração desse conhecimento, com seus avanços, erros e conflitos. 38 CONCLUSÕES Após análises aqui empreendidas, gostaria de salientar que a linguagem utilizada na sala de aula, trabalha com o ensino de Química com uma noção de cotidiano limitada aos aspectos ilustrativos, e aos dados empíricos mais próximos, além de não contribuir para a facilitação do processo de ensino-aprendizagem, não problematiza as relações sociais mais amplas. Com isso, podemos desenvolver idéias como: "A Química está em toda parte", "Tudo é Química", que só reforçam a concepção de que o conhecimento científico é capaz de dar explicações/soluções para todas as esferas da vida cotidiana. Ou seja, acabamos por supervalorizar a ciência, por mantê-la como um saber onipotente e onipresente, como um conhecimento-chave do mundo, o único legítimo e capaz de dar soluções aos problemas humanos. Por outro lado, ao aproximarmos a química abstrata da concretude do dia-a-dia, podemos fazê-lo de tal forma que alunos transfiram noções cotidianas para os conceitos científicos e deixem de compreender efetivamente esses conceitos. Dessa forma, deve-se fazer a distinção entre conhecimento cotidiano (senso comum) de conhecimento científico, a fim de facilitar a compreensão da química. Não podemos deixar de enfrentar as dificuldades do ensino de química, temos que ter coragem para construirmos estratégias de ensinoaprendizagem capazes de superar problemas dele decorrentes. Não obstante, saliento a importância de não negarmos a cultura do aluno, no processo de ensino-aprendizagem em geral e no ensino de Química em particular. Não podemos desconsiderar os saberes populares 39 como saberes igualmente legítimos, nem tampouco desconhecer que o conhecimento cotidiano permeia o dia-a-dia de todos nós. Pesquisas educacionais há muito vem salientando que a escola é um espaço privilegiado de legitimação de saberes e especialmente nós, educadores em Química, precisamos estar atentos para o desenvolvimento de práticas pedagógicas que permitam o questionamento da linguagem utilizada na sala de aula em relação aos conteúdos aplicados, fazendo com que os alunos aprendam a estabelecer relações entre eles. Não podemos ignorar as dificuldades encontradas por eles, à medida que avançamos nos conteúdos propostos. Precisamos criar alternativas, inovar, buscar novos caminhos capazes de promover este entendimento. Enfatiza-se por demais propriedades periódicas, tais como eletronegatividade, raio atômico, potencial de ionização, em detrimento de conteúdos mais significativos sobre os próprios elementos químicos, como a ocorrência, métodos de preparação, propriedades, aplicações (aspectos históricos e do cotidiano, sociais, econômicos e ambientais) e as correlações entre esses assuntos. O aprendizado de Química pelos alunos implica que eles compreendam as transformações químicas que ocorrem no mundo físico de forma abrangente e integrada e assim possam julgar com fundamentos as informações advindas da tradição cultural, da mídia e da própria escola e tomar decisões autonomamente, enquanto indivíduos e cidadãos. Esse aprendizado deve possibilitar ao aluno a compreensão tanto dos processos químicos em si quanto da construção de um conhecimento científico. 40 BIBLIOGRAFIA BELTRAN & CISCATO. Química. São Paulo: Cortez, 1991. BIZZO, Nélio. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo: Ática, 1998. 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Avaliado por: Conceito: Avaliado por: Conceito: Avaliado por: Conceito: Conceito Final: Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 2004. 46 ATIVIDADES CULTURAIS