SERVIÇO SAÚDE O peso do saber Shutterstock Aproveite a volta às aulas para ficar de olho na quantidade de material que seu filho leva na mochila. Especialistas recomendam que as crianças não carreguem mais que 10% do seu peso 32 • Fevereiro 2012 • REVISTA DO IDEC V itor Zelic, de 10 anos, pesa 34 kg. Ele é aluno do 5o ano do Colégio Santa Maria, em São Paulo (SP), e sua mochila de rodinhas, sem material algum, pesa 2 kg. É consenso mundial entre os pesquisadores de dor lombar que uma criança não deve carregar, puxar ou empurrar mais que 10% do peso do seu corpo. Ou seja, Vitor deveria transportar, no máximo, 3,4 kg, mas sua mochila pesa cerca de 5 kg (2 kg da mochila, mais 3 kg do material). Estudos científicos mostram que quando a criança carrega com frequência peso superior aos 10% do seu peso, ela pode sentir dores no pescoço (torcicolo), nos ombros, nas costas e nos braços. “Mochilas muito pesadas modificam Cuidados Na hora da compra l Verificar o peso da mochila vazia. Preferir mochilas, lancheiras, cadernos e estojos mais leves. l l Optar por mochilas com poucos bolsos e divisórias, pois quanto mais espaço houver, mais coisas a criança tende a carregar. No dia a dia l Carregar a mochila nos dois ombros. l Regular as alças para que a mochila fique bem apoiada nas costas. l Acomodar os livros e cadernos mais pesados na divisória mais próxima das costas. Levar só o material que será usado no dia e evitar carregar objetos desnecessários, como brinquedos, jogos etc. l l Trocar os cadernos por fichário. l Se a escola alugar armários, deixar lá o material que não será usado para fazer o dever de casa. l Ao subir ou descer escadas com a mochila de rodinhas, erguê-la com os dois braços, abraçando-a ou colocando-a nas costas, se tiver alças. a postura e a marcha, alterando o centro de equilíbrio”, explica Filumena Gomes, do Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com o ortopedista Alexandre Fogaça Cristante, do grupo de coluna do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), a maioria dos problemas relacionados a sobrecarga e má postura aparece a longo prazo, na fase adulta, e pode ser irreversível, como hipercifose, escoliose e, mais raramente, hiperlordose (no caso de crianças que já têm predisposição). Veja ilustrações à página 34. Cristante recomenda que as crianças usem mochila de rodinhas ou de três pontos de apoio (dois nos ombros e um na cintura) e que nunca a carreguem em um ombro só, sobrecarregando apenas um lado do corpo. “As alças da mochila de três pontos devem ser reguladas de forma que ela fique bem ajustada ao corpo, com a base acima da cintura. Ela não deve ficar solta nem com elevação acima dos ombros”, orienta. A fisioterapeuta e professora do curso de fisioterapia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Susi Mary de Souza Fernandes, concorda com o dr. Cristante que puxar e empurrar é melhor que carregar, mas lembra que a criança que usa mochila de rodinhas tende a levar mais coisas para a escola, muitas delas desnecessárias. Com a mochila excessivamente carregada, a criança vira o tronco de forma que a coluna se posicione assimetricamente. “As dores nas costas são multicausais, mas o excesso de peso e a assimetria da postura são os grandes responsáveis pelas alterações posturais”, informa a fisioterapeuta. Para a pediatra Filumena é essencial verificar o peso da mochila antes de comprá-la. Susi concorda. Em sua pesquisa de mestrado, realizada durante seis meses em uma escola particular de São Paulo, ela verificou que a maioria das mochilas de rodinhas vazia pesava mais que 10% do peso do aluno que a levava. “Algumas pesavam 7 kg, outras até 11 kg!”, destaca. Especialista em saúde escolar, ela defende a obrigatoriedade de informar, na etiqueta do produto, o peso da mochila vazia. EM BUSCA DA SOLUÇÃO Em muitas escolas, os alunos podem deixar seu material em armários; para isso pagam uma taxa. “As escolas acham que oferecendo esse ‘serviço’ resolvem o problema, mas não, por que as crianças fazem muita lição de casa e precisam do material para isso”, pondera Susi. Em sua pesquisa de mestrado, ela verificou que o melhor a fazer é orientar estudantes, pais e professores. “Depois de seis meses orientando os alunos, verifiquei que a maioria deles modificou os hábitos, passou a carregar menos peso e muitos até trocaram de mochila”, conta. Para a fisioterapeuta, as escolas deveriam planejar melhor os horários REVISTA DO IDEC • Fevereiro 2012 • 33 Pablo Paulse SERVIÇO SAÚDE das crianças, de forma que elas não tivessem muitas matérias diferentes no mesmo dia. SEM CERTIFICAÇÃO As mochilas escolares não são certificadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). “Nós fizemos uma consulta pública para a normatização de materiais escolares em julho de 2010, mas as mochilas escolares ficaram de fora porque entendemos que elas não representam risco para a criança. O que provoca risco é seu uso inadequado”, afirma Leonardo Rocha, chefe substituto da Divisão de Programas de Avaliação da Conformidade do Inmetro. Rocha se surpreendeu com a informação de que muitas mochilas de rodinhas vazias ultrapassam o peso recomendado por especialistas. “Esse dado pode nos levar a verificar melhor essa questão”, diz. Lisa ou estampada? 34 • Fevereiro 2012 • REVISTA DO IDEC por exemplo, que os pais expliquem aos filhos que as pessoas não são todas iguais e, portanto, não precisam ter os mesmos produtos, e que é possível fazer escolhas mais baratas e criativas; e também que os incentivem a usar a mochila do ano anterior se ela ainda estiver inteira. Shutterstock/Montagem Idec A s crianças não querem mochilas lisas, elas preferem as que são estampadas com o seu personagem de desenho animado ou de história em quadrinhos preferido. De acordo com Ekaterine Karageorgiadis, advogada do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, a publicidade dirigida a crianças é apelativa e se aproveita da vulnerabilidade infantil para incrementar a venda de produtos. “Nós lutamos para que haja regulamentação do tema no Brasil, com a inclusão de publicidades televisivas, anúncios na internet, brindes com alimentos, disposição dos produtos nos pontos de venda e de embalagens chamativas”, diz. Ekaterine defende que as crianças sejam educadas para entender que tudo o que consumimos gera impacto social, ambiental e econômico para toda a sociedade. Ela sugere,