Projeto viabilizou a criação de uma rádio na Escola Municipal São Rafael, que teve sua rotina alterada com a novidade. Página 15 RICARDO MALLACO CARLOS EDUARDO ALVIM IARA OLIVEIRA Iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte busca esclarecer e orientar carroceiros da cidade, que passam a auxiliar na limpeza urbana. Página 11 Há mais de dez anos moradores do Bairro Califórnia convivem com o mau cheiro e outros incômodos causados por lote “bora-fora”. Página 4 marco jornal Ano 38 • Edição 279 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas Dezembro • 2010 VIDA MAIS DIGNA NA VILA SÃO JOSÉ GABRIELLA PACHECO LAURA MILAN Moradores da Vila São José, na Região Noroeste de Belo Horizonte, aos poucos, veem suas realidades sendo alteradas. Com a implantação do Programa Vila Viva, e de projetos como a Fábrica Social, que oferece cursos de capacitação em costura para as mulheres da comunidade, possibilitando uma nova fonte de renda. Apesar das melhorias, o tráfico de drogas e a violência também se mudaram para os conjuntos de apartamentos, virando obstáculos para a construção de uma vida digna nos novos lares. Páginas 8, 9 e 10 Experiência e liderança a serviço da equipe celeste Córrego dentro de parque no Caiçara é revitalizado NATHÁLIA FREITAS O goleiro Fábio, do Cruzeiro, foi eleito pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) o melhor goleiro do Brasileirão de 2010. Há cinco anos defendendo o time celeste, ele esteve presente nos momentos mais importantes e difíceis do clube nesse período, como na conquista dos títulos do Campeonato Mineiro e a derrota na final da Libertadores da América em 2009. Líder no campo e ídolo na arquibancada, em entrevista ao MARCO, o goleiro lamenta que a seleção brasileira tenha se tornado “um pouco de comércio”, abrindo espaço para ação de empresários. Apesar disso, ainda vê chances de futuras convocações. Página 16 Jovem promessa do gol alvinegro abre o jogo Renan Ribeiro é uma das grandes revelações do Campeonato Brasileiro de 2010. O jovem goleiro, de 20 anos, assumiu a responsabilidade de defender o gol alvinegro em um momento difícil para o clube, e ajudou o Atlético a terminar a competição fora da zona de rebaixamento. Em entrevista ao MARCO, ele garante não ter mágoa de Vanderlei Luxemburgo, que não o aproveitou, mas revela que Dorival Júnior é um treinador mais presente e adepto ao diálogo que o seu antecessor no comando do alvinegro mineiro. Página 16 Motivo de reclamação durante muito tempo por parte dos moradores, por causa da sujeira e mau cheiro de suas águas, o Córrego Cascatinha, que corta o Parque Ecológico do Bairro Caiçara, foi revitalizado por meio de uma drenagem em sua nascente. Além disso, outro projeto visa trabalhar a conscientização ambiental dos moradores do bairro. Apesar das melhorias, o parque, que conta com uma grande área verde, ainda é pouco conhecido e aproveitado pelas pessoas que vivem na região. Página 3 O aumento dos casos de dengue no Bair ro São Gabriel coloca a Região Noroeste de Belo Horizonte em estado de alerta. Para tentar reverter essa situação, está sendo feito um t r a b a l h o q u e b u s c a m o nitorar as equipes de combate às endemias e motivar os moradores a tomar os cuidados necessários para acabar com os focos do mosquito Aedes aegypti. Além disso, é feito também o serviço “bota-fora” para recolher materiais de grande volume que ficam nas r uas ameaçando a limpeza das vias, tornando-se abrigo para os mosquitos. Pagina 5 BRUNO CANTINI / ATLÉTICO MINEIRO / DIVULGAÇÃO WASHINGTON ALVES / VIPCOMM / DIVULGAÇÃO Bairro São Gabriel registra aumento no número de casos de dengue este ano 2 Comunidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorial EDITORIAL Para fechar o ano com histórias que fazem diferença CARROS ESTACIONADOS EM LOCAIS IRREGULARES RENATA FONSECA n BRUNA FONSECA, n PEDRO VASCONCELOS, 4° PERÍODO 3º PERÍODO Durante todo o ano o MARCO procurou relatar e expor os principais problemas enfrentados pelos moradores da Região Noroeste e Nordeste de Belo Horizonte, sempre enfatizando o fator humano das histórias e de seus personagens. Na última edição de 2010 estas histórias reaparecem em destaque. Moradores da Vila São José há muito tempo sofrem com problemas de infraestrutura, e se queixam com frequência da falta de saneamento básico, excesso de lixo e insegurança. Para tentar solucionar alguns destes problemas a Prefeitura de Belo Horizonte tem realizado diversas obras de revitalização da vila. Através do projeto Vila Viva muitos apartamentos novos já foram entregues à moradores da Vila São José, causando grandes transformações em suas vidas. Em matéria especial o MARCO relata estas transformações, conta as histórias dos moradores que já foram realojados e vivem uma nova realidade nos conjuntos habitacionais, uma nova realidade mais confortável, mas ainda, segundo moradores, assombrada pelo fantasma do tráfico de drogas da região. Outra obra que vem sendo comemorada por moradores é a revitalização do córrego do Parque Ecológico do Bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte. O córrego conhecido como "Cascatinha" era um alvo antigo de reclamações. A sujeira e o mau cheiro que afastavam os visitantes fizeram com que os moradores se mobilizassem e exigissem uma postura da Prefeitura. A obra faz parte do Programa de Recuperação e Obras nos Parques (Proparque), que já investiu mais de R$ 3,5 milhões na revitalização de diversos parques de Belo Horizonte. Já no Bairro Califórnia o problema com o lixo ainda não foi resolvido. Moradores convivem com os transtornos causados pela falta de fiscalização em um lote na Rua dos Violões. O lote, que recebeu o apelido de botafora,vem sendo utilizado para depósito de lixo clandestino. Os moradores que convivem com o problema de mau cheiro há mais de dez anos alegam que o lixo é depositado por pessoas de fora do bairro, sobretudo pelos carroceiros, que por sua vez alegam não ter lugar para depositar o lixo. A prefeitura já foi acionada e os moradores continuam aguardando alguma providência. Encontramos em uma outra matéria um bom exemplo para solucionar este problema de depósito de lixo clandestino. O Projeto Carroceiros da Prefeitura de Belo Horizonte estimula o carroceiro a atuar como um agente de limpeza urbana. Para isso foram criadas as Unidades de Recebimentos de Pequenos Volumes (URPV) onde os trabalhadores depositam os entulhos que depois são repassados para a (SLU). Além de trazer benéficos aos cidadão e aos próprios carroceiros, o programa é um importante aliado na defesa do meio ambiente. As chuvas de fim de ano acendem a preocupação do poder público com a Dengue. Segundo dados do Ministério de Saúde o índice de infestação predial no Bairro São Gabriel, Região Nordeste, é um dos mais elevados do município de Belo Horizonte. O MARCO ouviu especialistas e moradores do Bairro São Gabriel que devem trabalhar juntos na tentativa de minimizar os danos causados pela Dengue na região este ano. Para fechar o ano o MARCO traz duas entrevistas pingue-pongue com atletas que brilharam no cenário esportivo brasileiro no ano de 2010, os goleiros Fábio do Cruzeiro e Renan Ribeiro do Atlético. Fábio ganhou este mês o prêmio de melhor goleiro do Brasileirão, em premiação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), já Renan Ribeiro é apontado como uma promessa do futebol brasileiro e foi decisivo para a recuperação do Atlético no Campeonato Brasileiro. Eles abrem o jogo e contam histórias exclusivas do início de suas carreiras. EXPEDIENTE expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: [email protected] Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. José Milton Santos Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Adriana Benevenuto, Bruna Fonseca, Carlos Eduardo Alvim, Cínthia Ramalho, Laura de Las Casas, Pedro Vasconcelos e Samara Nogueira Monitores de Fotografia: Renata Fonseca e Ricardo Mallaco Monitora de Diagramação: Lila Gaudêncio Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares Dezembro • 2010 A placa que sinaliza estacionamento proibido na Rua Dom João Pimenta parece não intimidar os motoristas que param diariamente no local. A largura de sete metros da rua é reduzida a quatro metros ao se formarem extensas filas de carros parados nos dois lados da Dom João Pimenta, no Coração Eucarístico, Região Noroeste de Belo Horizonte. A administradora Danielle Salgado, 25 anos, vive na pele os transtornos causados pelos veículos estacionados irregularmente. Moradora de um prédio localizado à esquina da Rua Dom João Pimenta, ela conta que tem que deixar seu carro estacionado fora da garagem até conseguir entrar no edifício. "O pior dia é sexta feira, é intransitável, além das pessoas que saem da aula (na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC Minas), muitas vão aos bares próximos e estacionam na Dom João", afirma Danielle. O empresário Miro Kohlhofer Wallner, 24 anos, morador da rua desde que nasceu, comenta que os problemas vão além da dificuldade de entrar em sua vaga na garagem. "Todos os dias, volto para casa e não consigo entrar na garagem, além de ter que esperar o A placa não inibe motoristas de esstacionarem dos dois lados da rua. fluxo todo da D. João Pimenta, quando viro o meu carro para entrar (em seu prédio) escuto buzinas de 12 carros, eles tentam passar no estreito espaço que sobra atrás e muitas vezes travam todo o fluxo", observa Miro. "Não posso parar o carro do lado de fora e nem meus convidados, quando faço algo em minha casa", completa. Ele ainda diz que os horários de pico são os de troca de turnos das turmas da PUC, principalmente entre 19 h e 22h30. Outro transtorno é o fato da Rua Dom João Pimenta estar incluída na rota do ônibus 9410. Por causa dos veículos estacionados nos dois lados da rua, o motorista do ônibus muitas vezes não consegue fazer a curva, engarrafando o trânsito. "O carro da minha avó apareceu todo arranhado de azul, sem sombra de dúvidas era a tinta do ônibus que bateu no carro dela e não deu a mínima. Quando subo a rua e vem um ônibus, é praticamente um jogo de tétris para conseguir passar, e os motoristas passam a um milímetro do carro", denuncia o empresário. Danielle Salgado, conta que a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTRANS) já esteve no local várias vezes, porém, após a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que impede o órgão de multar infrações de trânsito, os agentes da BHTrans pararam de ir ao local. Em nota, a Assessoria de Comunicação e Marketing da BHTrans, afirma que a Polícia Militar de Minas Gerais e a Guarda Municipal de Belo Horizonte são as instituições habilitadas a preencher autos de infração de trânsito na capital. A assessoria, entretanto, assegura que semanalmente, a Unidade Integrada de Trânsito (BHTrans e Polícia Militar) fiscaliza as vias no entorno da PUC, para cobrir irregularidades, e lembra que o veículo que estacionar em local proibido poderá ser removido. Tanto Miro quanto Danielle acreditam que deveria haver uma fiscalização mais efetiva, e que os ônibus da linha 9410 não poderia passar na Rua Dom João Pimenta. O empresário ainda propõe que outros retornos mais próximos sejam liberados. "Quando toda a obra de duplicação da Dom José Gaspar iniciou, eu, meus familiares e outros vizinhos tentamos sugerir algumas mudanças, mas o projeto era fechado. Desviaram todo o fluxo de carros para a Dom João Pimenta, é a única forma de retorno legal, as outras formas são proibidas ou muito afastadas", explica Miro, o qual afirma que ele e a vizinhança já solicitaram a mudança da rota do 9410, mas não obtiveram êxito. Falta CRAS na comunidade Sumaré n SAMARA NOGUEIRA, 3º PERÍODO Com o objetivo de amenizar os problemas sociais existentes em diversas áreas de Belo Horizonte, a Prefeitura criou em 2001 o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que descentraliza as políticas públicas sociais. Entretanto, ainda existem comunidades que não são beneficiadas pelo equipamento como a Sumaré, localizada na Regional Noroeste. "A comunidade Sumaré é uma região que possui alto índice de vulnerabilidade social, com problemas, por exemplo, com drogas", afirma Carlos Guilherme, Conselheiro do Conselho Tutelar da Regional Noroeste. O principal critério para que uma comunidade possua CRAS, segundo Shirley Pires, Gerente de Proteção Social da Secretaria de Assistência Social de Belo Horizonte, é o índice de vulnerabilidade social que ela apresenta. Quanto mais auto ele for maior a probabilidade de instalação do equipamento. Entretanto, Shirley explica que a questão da vulnerabilidade não é apenas uma questão de renda, mas também uma questão da qualidade de vínculo social existente entre os moradores. Quanto mais fragmentada a relação entre os moradores, maior o índice de vulnerabilidade de uma comunidade. Cleidnéia Martins Gomes, gerente de políticas nacionais da Regional Noroeste explica que embora a comunidade Sumaré possua problemas sociais que a enquadra nos critérios necessários para implantação, isso ainda não ocorreu pela falta de recursos. "A política social de Belo Horizonte já mapeou as áreas que o CRAS será implantado. Entretanto, esse processo é continuo e depende da disponibilidade de recursos. Então a Vila Sumaré está dentro da programação de instalação do CRAS, mas, dependendo de recursos para isso", conta. Ela ainda acrescenta que o processo da implantação do CRAS em Belo Horizonte é ágil, mas não acompanha as necessidades das comunidades. "As comunidades que ainda não foram contempladas com o equipamento ficam penalizadas, porque o processo de implantação ainda não é tão ágil", desabafa. PRIORIDADES Apesar da comunidade Sumaré atender aos critérios, ainda não é prioridade do governo atual, já que existem outros locais em Belo Horizonte que possuem um nível de vulnerabilidade acima ou equivalente o dela. Venda Nova, por exemplo, explica Shirley, é uma área que apesar de já possuir um CRAS precisa de outro devido ao nível de vulnerabilidade e de sua extensão. "Pelas metas colocadas pelo governo Municipal a gente ainda não tem previsão de instalação de Centro de Assistência social na comunidade Sumaré nesse governo", conta Cleidnéia. Atualmente, existe em Belo Horizonte 26 CRAS que atendem em média cinco mil famílias por comunidade. Essas famílias segundo Shirley, tem a possibilidade de ter um equipamento muito mais próximo de suas casas, o que permite maior facilidade de acesso aos programas que o CRAS encaminha. Ela ainda acrescenta, que o CRAS não está dentro da comunidade só para identificar seus problemas, mas também, suas potencialidades. A partir dessa identificação, a equipe do CRAS, composta por três assistentes sociais, um psicólogo e um coordenador, vai mapear as famílias e de acordo com suas características encaminhá-las para programas de saúde, educação, emprego do BH cidadania e do CRAS. Esse mapeamento é feito a partir do cadastro das famílias da comunidade, que pode ocorrer por demanda espontânea ou por indicação de escolas, Centros de Saúde ou, em casos mais graves, do Conselho Tutelar. 3 Comunidade Dezembro • 2010 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas CÓRREGO É REVITALIZADO NO CAIÇARA Conhecido como “Cascatinha”, o córrego que corta o Parque Ecológico do Bairro Caiçara e que já foi alvo de reclamação pelos moradores do bairro, foi recuperado. Isso aconteceu por causa do empenho da comunidade, da ação da prefeitura e trouxe melhorias para frequentadores do local, que se livraram do mau cheiro que existia por causa da poluição das águas NATHÁLIA FREITAS n DIEGO SCORVO, MARIANA GARCIA, NATHÁLIA FREITAS, YARA FONSECA, 7º PERÍODO Conhecido como "Cascatinha", o córrego localizado no Parque Ecológico do Bairro Caiçara já foi motivo de muita contestação por parte dos moradores da região devido ao seu mau cheiro, causado pela poluição das águas. Entretanto, hoje os residentes da área só têm a comemorar, já que o córrego foi revitalizado pela prefeitura da capital. "Foi uma luta, por mais de dez anos ficamos pedindo para que o córrego fosse limpo. Sua revitalização tem sido uma conquista. Não podíamos deixar que um parque tão bonito pudesse ser ofuscado por uma nascente poluída", afirma a ex-secretária da Associação PróMelhoramento do Bairro Caiçara, Sylvia de Oliveira, que acompanhou todo o processo de ação da comunidade em prol de melhorias no córrego. De acordo com Sylvia, a comunidade já chegou até a realizar feiras e barraquinhas no parque para chamar a atenção das autoridades para a necessidade de despoluição do córrego "Cascatinha". "A nascente era poluída e cheirava muito mal. Isso nos incomodava muito. Hoje, o local já está bem melhor: fizeram uma drenagem e o córrego não é mais aquela coisa feia de antigamente", completa a ex-secretária. "O esgoto aqui era a céu aberto e o cheiro insuportável devido à imundice da água. Além disso, o parque era atrativo para marginais, que aproveitavam o local quase que abandonado, para usar drogas", afirma o aposentado Antônio Evangelista de Paula, tradicional morador do bairro. "Sou morador antigo do Bairro Caiçara. Quando mudei para cá, só havia três casas na minha rua. Conheço o parque desde quando só existia um campinho aqui", diz. Segunda a Assessoria de [ ] “O ESGOTO AQUI ERA A CÉU ABERTO E O CHEIRO INSUPORTÁVEL DEVIDO À IMUNDICE DA ÁGUA” ANTÔNIO EVANGELISTA Comunicação da Fundação de Parques Municipais de Belo Horizonte (FPM), a obra de recuperação do córrego faz parte do Programa de Recuperação e Obras nos Parques (Proparque), que já investiu mais de R$ 3,5 milhões na revitalização de diversos parques de Belo Horizonte. No Parque Caiçara, que tem área total de 11.400 metros quadrados, foram investidos R$ 330 mil nas reformas. A Assessoria de Comunicação da FPM também informou que o projeto foi apresentado na Regional Noroeste para os usuários do parque conhe- cerem e aprovarem sua implantação. "Sempre que posso dou uma corridinha ou uma passada rápida para observar a paisagem. Amo o parque, mas admito que sejam poucas as pessoas com conhecimento sobre o local. Uma pena, pois é um local maravilhoso e que só faz bem à nossa região", comenta o estudante de 18 anos, Frederico Ferreira. Segundo a presidente da Associação do Movimento Comunitário do Bairro Caiçara e Adjacências, Lenice Silva, muita coisa ainda tem que ser feita, entre elas a conscientização ambiental dos moradores da região para que eles reconheçam a necessidade de preservar o córrego. "Não adianta a gente se empenhar para obter melhoria nas nascentes se a população não colaborar. Temos que fazer a nossa parte", ressalta. Para Lenice, os anos de luta para a despoluição do córrego valeram a pena, e o projeto só obteve êxito devido à entrada do Drenurbs, Programa de Recuperação Ambiental da Prefeitura de Belo Horizonte, que trouxe como inovação a proposta de inclusão dos cursos d'água na paisagem urbana, evitando-se as tradicionais canalizações. "Creio que ainda podemos conseguir mais. Ainda temos que continuar a revitalizar o córrego. Mas para quem viveu a realidade da área há 40 anos, posso dizer que hoje está tudo uma maravilha", diz. Apesar da reforma, parque recebe poucos visitantes De acordo com vários moradores da região, o Parque Ecológico do Bairro Caiçara, apesar de revitalizado, continua sendo pouco frequentado pela comunidade. Muitos nem se dão conta da existência do local. "Nunca tinha ouvido falar sobre o parque. Sempre que posso levo meu 13 netos para passear. É bom saber da existência deste território verde, que pode agregar saúde às famílias do Bairro Caiçara", observa a aposentada Linda Ferreira, 67 anos. Linda também chama atenção para uma maior divulgação da área, principalmente feitas pelos meios de comunicação. "Acho importante que existam estratégias de divulgação do parque. É necessário que façamos isso inclusive em nossos jornais do bairro", revela. "Trabalho no bairro e sempre senti a falta de uma área verde. Vi essa região crescer; com meus olhos observei prédios, condomínios e mini-shoppings tomarem conta das ruas e comércios, mas nunca vi uma área limpa, saudável que trouxesse de alguma forma benefícios às famílias do Caiçara", afirma o comerciante Cláudio Henrique, 58 anos. Segundo a ex-secretária da Associação PróMelhoramento do Bairro Caiçara, Sylvia de Oliveira, na época em que ela estava à frente da instituição uma série de eventos eram realizados no parque, como os campeonatos de futebol feminino e masculino. "O futebol feminino era muito interessante. Era o futebol de senhoras mesmo. Fazíamos de tudo para chamar a atenção de autoridades para melhoramentos na região. Hoje, o parque é pouco frequentado mesmo, acredito que o esgoto a céu aberto permanente no local por muito tempo e o grande número de jovens que vinham usar drogas no parque tenha afastado a população da área", enfatiza. Para o estudante Thiago Nunes, de 11 anos, a descoberta de um parque, com quadra de futebol no Bairro Caiçara é motivo de muita alegria. "Minha diversão sempre esteve ligada a jogar futebol. É bom saber que no nosso bairro exista um parque com espaço para gente brincar. É muito legal, gostei bastante. Vou ver se passo a frequentar mais o Parque", acrescenta. A revitalização do parque partiu de um apelo da comunidade que não suportava mais o mau cheiro e a poluição Depois de mais de dez anos, comunidade pode aproveitar os benefícios da revitalização do corrego Cascatinha Parque Caiçara tem mata ciliar com espécies nativas Originário da Fazenda Engenho Nogueira, o Parque Caiçara, também conhecido como "Parquinho", foi implantado em 1996 por meio do Programa Parque Preservado da Prefeitura de Belo Horizonte. Com uma área de cerca de 12.446 m² , o parque é protegido por uma vegetação de mata ciliar com espécies nativas como açoita-cavalo, cedro, ingá, jequitibá e louro pardo. A fauna é composta por aves como bico-de-lacre, pica-pau, rolinha e sabiá e pequenos mamíferos, como micos e gambás. "Moro no bairro há 18 anos e sempre procurei manter contato com o parque, mesmo morando um pouco afastado. Acho importante ter um espaço verde e saudável perto dos nossos olhos, fico feliz em saber que o ginástica, pista para caminhada e brinquedos, além de ser um espaço para contemplação. A revitalização do parque também contou com a adequação dos espaços para garantir acessibilidade aos portadores de deficiência, a construção de nova portaria com guarita e de uma área de convivência, próxima à quadra, com bancos, abrigo e equipamentos de ginástica. O local ganhou também banheiros públicos, novos bancos, bebedouros e lixeiras, além da reforma dos brinquedos e da quadra poliesportiva, a revitalização dos jardins e o tratamento paisagístico das margens do córrego Cascatinha. [ ] “ACHO IMPORTANTE TER UM ESPAÇO VERDE E SAUDÁVEL PERTO DOS NOSSOS OLHOS” nosso bairro é um dos lugares na cidade com esse privilégio", afirma o funcionário público Gilson Fontoura. Como opções de lazer, o parque agora oferece quadra poliesportiva, campo de futebol, equipamentos de 4 Comunidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Dezembro • 2010 DEZ ANOS DE CONVÍVIO COM O LIXO n SAMARA NOGUEIRA, 3º PERÍODO Apelidado pela comunidade do Bairro Califórnia como bota fora, terreno causa transtornos para moradores, pois é usado como depósito de lixo e entulho clandestino, além de servir de atalho para outros locais do bairro RICARDO MALLACO Na Rua dos Violões, no Bairro Califórnia, existe um lote conhecido como bota fora que tem causado transtorno a população que além do mau cheiro, enfrenta dificuldades de locomoção, já que o local é utilizado como atalho para outros locais do bairro. "A gente que mora do lado não importa tanto com entulho não, importa mesmo é com o lixo. Já teve até cavalo morto lá. O cheiro incomoda muito, é muito ruim", afirma Joseane Galvão. Para o secretário adjunto da Regional Noroeste, Nildo Taroni, Belo Horizonte vive hoje uma situação de epidemia de lotes bota-foras, "Nós vivemos uma epidemia, um problema crônico na cidade que é a questão da deposição clandestina de entulho e lixo", revela. Esse problema existe no bairro há 10 anos, sendo que há cinco a associação dos moradores reclama junto à prefeitura à desocupação do lote. "Nós já reclamamos muito com a prefeitura e ela não faz nada, duvido se fosse em um bairro rico se ela já não tinha resolvido. O lixo não é nosso não, são os caminhões de fora que trazem os lixos para cá", afirma Antonio Guerra , Presidente da Associação dos Moradores do Bairro Califórnia. Júlio César Teixeira, diretor da associação, culpa também os carroceiros pela deposição do lixo. "Os entulhos menores são jogados pelos carroceiros, e os maiores pelos caminhões. Entendo os carroceiros pelo fato disso ser o ganha pão deles, então, acho que a prefeitura deveria arrumar um lugar para eles depositarem o lixo", diz. Antonio de Carvalho, 52 anos, morador da Vila Califórnia, e há 40 anos na profissão de carroceiro, diz que utiliza sim o lote por não ter um local oficial O bota-fora serve de atalho para os moradores do Bairro Califórnia, na Região Noroeste da capital, além de ser depósito de lixos e entulhos dos carroceiros para depositar os entulhos que recolhe. "Eu utilizo esse lote, outros lotes ou jogo nas esquinas, quanto menos eu andar melhor para mim. A prefeitura olha o lado dela e não olha os dos carroceiros, eles querem que a gente pare de jogar lixo, mas não arrumam um lugar oficial para a gente depositar". Para ele, o lugar ideal seria na rua do antigo aterro sanitário, localizado na rua Violinos com Clarinetas, já que lá existe um pedaço de terreno que sobrou do antigo aterro da prefeitura. SUGESTÕES Teixeira e Guerra acreditam que a solução do problema seria a instalação de URPV (Unidade Recebimento de Pequenos Volumes) e o aumento da fiscalização, já que só a limpeza, segundo eles, nem sempre realizada pela prefeitura, não esta solucionando o problema. "Em três meses, eles vieram aqui só duas vezes, e agora a gente tem mais um problema, que é a deposição de terras por carroceiros e caminhões, e terra a prefeitura não limpa. Colocar só URPV não adianta, tem que ter a fiscalização, porque se não o povo joga fora da caçamba. Há pouco tempo nós tiramos 1800,00 do nosso bolso para a limpeza", afirma Guerra. Júlio acredita também que além fiscalização e da URPV a prefeitura poderia instalar um sistema de reciclagem no local, onde as pessoas poderiam direcionar seu lixo. "Só a limpeza não adianta. O terreno é limpo e no outro dia já está tudo cheio novamente, os caminhões vem à noite e enchem tudo de novo. Tem que ter uma ação efetiva da prefeitura, se não tiver vai continuar. Limpa, suja, limpa, suja. O ideal seria criar um local igual da Via Expressa, monitorado pela prefeitura onde já é direcionado o tipo de entulho". Entretanto, Taroni, descarta a possibilidade de instalação de URPV no local. "Lá não pode ter URPV porque assim como lá precisa de URPV outros lugares precisam também. Não existe programação de instalação de URPV nesse local", explica o secretário. Taroni também ressalta que boa parte do entulho depositado no lote tem de ir para o aterro sanitário localizado em Sabará e não para unidade de recebimento de Pequenos Volumes. "A URPV é a unidade de recebimento de pequenos volumes como um sofá velho que você tenha em casa ou uma pequena poda que você tiver feito em seu terreno, não é para receber aquele entulho que ta lá aquilo lá tem que ir para aterro sanitário, a única solução para o problema é o aumento da fiscalização", explica. Ele acrescenta que ainda o problema com bota fora no Califórnia é maior porque antes o aterro sanitário era localizado no bairro, então as pessoas ainda não se adaptaram a situação. "O problema ali é maior porque nós tínhamos um aterro sanitário lá, então, o pessoal não estava acostumado a ter essa responsabilidade de levar para Sabará onde a distância é muito maior", ressalta o secretário. Em relação aos carroceiros, o Secretário Adjunto, deixou claro que a prefeitura entende o problema social que a desocupação de um lote utilizado por eles poderia causar. "O grande problema dos carroceiros é que a URPV não tem a função que eles querem destinar o URPV. Você não pode fazer uma reforma, tirar lá vinte carroças de entulhos e jogar no URPV, não é justo. Para solucionar esse problema a prefeitura esta inclusive estudando uma forma de gerar emprego para esse pessoal, que é quase duzentos na Regional Noroeste", relembra. Nos últimos quatro meses, a prefeitura intensificou, segundo Taroni, a fiscalização dos lotes bota fora em Belo Horizonte, e foi montado um mutirão a fim de coibir a ação clandestina que ocorre principalmente durante a noite. Taroni explicou, ainda, que o caso do Califórnia ainda não tenha sido solucionado, por ser demorado, possivelmente ele será nos próximos meses. O secretário alerta que a população pode ajudar na prevenção e combate do depósito clandestino de lixo e entulhos, denunciando no telefone 156 ou pelo site da prefeitura, www.pbh.gov.br. Segundo a assessora de comunicação da prefeitura, Atená Maria de Oliveira, os infratores estão sujeitos a apreensão do veículo e multa de R$ 500,00. "Além de pagarem a multa, eles devem arcar com os custos da apreensão do veículo", acrescenta ela. Terreno abandonado é motivo de reclamações RICARDO MALLACO n CÍNTHIA RAMALHO, SAMARA NOGUEIRA, 4º E 3º PERÍODOS O terreno abandonado traz risco aos moradores da Rua Edson Paes Há mais de 30 anos uma das maiores preocupações dos moradores da Rua Edson Paes, localizada no Bairro Dom Bosco, Região Noroeste de Belo Horizonte, é a existência de um lote abandonado. Situado em uma área de declínio que vai da Rua Edson Paes até a Rua Zoroastro de Souza, o lote tem sido utilizado pela população como bota-fora, moradia e esconderijo de marginais. Rosana Pereira, moradora do bairro há um ano afirma que um dos seus maiores medos é do lote desmoronar com as chuvas de fim de ano, já que sua casa esta localizada em cima dele. "Tenho muito medo do barracão ceder com essa chuva. Eu morro de medo", afirma. Os problemas com o desmoronamento começaram a acontecer, de acordo com Paulo Antônio Reis, morador da Rua Edson Paes há 42 anos, com a duplicação do Anel Rodoviário, na década de 80. Assim, a água que escorria da rodovia tinha o terreno no final da rua como destino, o que ocasionou o desmoronamento de parte do lote. Na parte que desmoronou estava localizada uma pracinha, que acabou sendo destruída quando o lote caiu. "Por causa dos problemas da erosão a pracinha acabou. O poste que iluminava a pracinha teve que ser retirado para não cair também", conta Paulo. Das duas ruas ocupadas pelo lote, a Rua Zoroastro de Souza é a que mais sofre com o desmoronamento, já que se localiza na parte de baixo do terreno. Para tentar resolver a questão, o morador Aloísio Gomes de Faria denunciou, em 1990, a situação na seção ‘Alô, Alô’ do extinto Jornal da Tarde. "Eu fiz essa reclamação duas vezes no Diário da Tarde, mas não adiantou nada", afirma ele. Além disso, em 1998, Aloísio encaminhou um abaixo assinado para a prefeitura, pedindo a construção de um sistema de capitação de água fluvial para amenizar o problema da erosão. O sistema de capitação não foi obtido, porém, a prefeitura construiu um quebra-mola no princípio da rua, o que melhorou a situação, mas não deu fim a ela. Outros moradores também tentam achar soluções para minimizar os impactos causados pela erosão, como é o caso de Florentina Lana, 63 anos, que mora ao lado do lote e é dona de parte do terreno. Florentina colocou pneus e plantou árvores em parte do terreno para evitar um novo deslizamento. Além do perigo de desmoronamento, problemas com pessoas que utilizam o terreno abandonado para usar drogas, manter relações sexuais e até mesmo se esconder da polícia geram incômodo e insegurança aos moradores da Rua Edson Paes. O terreno, por estar abandonado, também é usado como depósito de lixo, o que colabora para a proliferação de doenças como leishmaniose. "O foco [de leishmaniose] é muito grande aqui no Bairro Dom Bosco", conta Paulo Antônio. Procurada pela equipe do Jornal MARCO, Atená Maria de Oliveira, assessora de comunicação da prefeitura, afirmou que o lote tem um dono, porém seu nome não pode ser revelado. Ela esclareceu que o proprietário receberá uma notificação exigindo a limpeza do lote e, caso esta não seja cumprida em 30 dias, ele será multado em R$ 500. Ainda de acordo com a assessora, se o proprietário não der nenhuma satisfação sobre a situação, a SLU vai ao local e realiza a limpeza, porém os custos do serviço ficam em responsabilidade do dono. Comunidade Dezembro • 2010 5 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas DENGUE PREOCUPA O SÃO GABRIEL JULIANA CRISTINA Para tentar diminuir o alto índice de casos de dengue no Bairro São Gabriel, que coloca a Região Nordeste em estado de alerta, o Levantamento de Índice Rápido fornece agentes que vistoriam as casas, além de realizar pesquisas que auxiliam no combate à doença n JULIANA CRISTINA, 7° PERÍODO A coordenadora de combates às zoonoses, Rosângela Porto, mostra um tubo com larvas encontradas em uma casa Para combater a DENGUE – Não deixe água parada em pneus e utensílios. Remova folhas, galhos ou qualquer material que impeça a circulação da água nas calhas da residência; – A vasilha que fica abaixo dos vasos de plantas não pode ter água parada. Deixe estas vasilhas sempre secas ou cobri-las com areia; – Caixas d’água devem ser limpas constantemente e mantidas sempre fechadas e bem vedadas. Ou mesmo qualquer outro tipo de reservatório de água; – Vasilhas que servem para animais domésticos beber água não devem ficar mais do que um dia com a água sem trocar e a vasilha deve ser esfregada com bucha, pois a fricção eliminará ovos que tenham sido depositados pelo mosquito; – Garrafas latas, vasilhas e copos devem ser armazenados em locais cobertos e sempre de cabeça para baixo. Se não forem usados devem ser embrulhados em sacos e descartados no lixo (fechado); – Não descartar lixo em terrenos baldios e manter a lata de lixo sempre bem fechada. FONTE: MINISTÉRIO DA SAÚDE – As piscinas devem ter tratamento de água com cloro (sempre na quantidade recomendada). Piscinas não utilizadas devem ser desativadas (retirar toda água) e permanecer sempre secas; JULIANA CRISTINA Moradora da região, Vanda da Silva, após ter dengue, passou a se preocupar mais com os cuidados contra o mosquito De acordo com dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde o município de Belo Horizonte este ano teve um índice de infestação predial de 0,9% no L.I.R.A. O padrão considerado satisfatório é menor que 1%. Mas, a coordenadora dos agentes de combate às zoonoses no Bairro São Gabriel, Rosângela de Souza Porto, alerta que para o mesmo índice o local apresentou um valor de 2,9%. "É muito alto se comparado à capital, o que coloca a Regional Nordeste em alerta", enfatiza. Rosângela Porto explica que a sigla L.I.R.A significa Levantamento de Índice Rápido, sendo executado por agentes de combates às zoonozes em todos os municípios brasileiros. Em Belo Horizonte, a pesquisa é feita em todas as regionais em uma mesma semana. Segundo ela, o L.I.R.A têm como objetivo avaliar o trabalho de rotina da equipe de combate às endemias e motivar a colaboração dos moradores para acabar com os focos do mosquito Aedes Aegypti. Neste tipo de pesquisa apenas 5% dos domicílios são vistoriados para verificar se há focos de dengue. O agente entra na primeira casa e salta vinte e depois entra na vigésima primeira, assim sucessivamente até atingir os 5% de residências de todo o bairro. Caso o agente encontre larvas ou pupas ele coloca cerca de dez em tubículos de vidro e as envia para análise laboratorial para saber se é mesmo larva ou pupa do Aedes Aegypti. Segundo Rosângela Porto, este levantamento é importante para dar visibilidade se há vetor causador da dengue na região. "Por outro lado se derem negativas as amostras isto não significa que não há Aedes Aegypti. Ele pode estar nas casas não cobertas pelo L.I.R.A. Infelizmente todas as amostras para o L.I.R.A do São Gabriel deram positivas" revela. A Prefeitura de Belo Horizonte realizou, no período entre 16 e 18 de novembro, no Bairro São Gabriel, o serviço de ‘bota fora’ em que um caminhão recolhe materiais de grande volume que não são recolhidos pela coleta de rotina de lixo feita pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Márcia Aparecida Moreira, 38 anos, moradora do São Gabriel, aproveitou a oportunidade e dispensou um sofá des- gastado e dois tambores enferrujados "Não tem jeito a gente acaba acumulando estas coisas que não prestam no quintal. É preciso estar muito vigilante mesmo porque se não vai dar muitos casos de dengue," reflete Márcia Moreira. Dos 43 casos negativos, 19 das amostras de sangue foram invalidadas. Além disso, 194 pacientes não retornaram ao serviço de saúde com o resultado de sorologia para dengue, exame que define se foi ou não acometido pela doença, assim o número de pessoas que tiveram a doença pode ter sido [ ] “SEMPRE FUI CUIDADOSA, MAS OS CUIDADOS NA ELIMINAÇÃO DOS FOCOS REDOBRARAM” VANDA DA SILVA maior do que se tem registrado. Rosemary dos Reis auxiliar de enfermagem da unidade explica que o exame de sorologia não é útil para o tratamento da pessoa com dengue, mas enfatiza a importância dele para dados estatísticos e para vigilância epidemiológica "Este exame serve como referência de qual área está tendo mais casos da doença, portanto aponta para onde as ações devem ser direcionadas. [ ] DE JANEIRO A NOVEM- BRO DESTE ANO FORAM REGISTRADOS 339 CASOS SUSPEITOS DE DENGUE NO POSTO DE SAÚDE SÃO GABRIEL Além de dar a certeza ao paciente que ele teve dengue, portanto com um risco maior de ter hemorragia, caso tenha a doença novamente, embora na primeira infecção já possa apresentar complicações" explica a auxiliar de enfermagem. Ainda de acordo com Rosemary dos Reis, o exame de sorologia é pedido a partir do sexto dia da doença, pois é neste período em que o vírus é detectado circulando no organismo. Segundo a profissional da saúde, na primeira consulta o paciente com sinais e sintomas de dengue faz um exame laboratorial de urgência, o hemograma, que serve para detectar e avaliar o número de plaquetas. E enfatiza o quanto é importante o paciente retornar no quinto dia ou no primeiro dia de melhora da febre para avaliação. "Quando o paciente pensa que está bem, aí pode ser o ponto mais crítico da dengue, porque na pas- sagem de um estado febril, se a temperatura cai de uma vez, o paciente pode ter um choque", explica. Vanda de Fátima Ferreira da Silva, 54 anos, e o filho dela Diego Ferreira da Silva, 24, fazem parte das estatísticas de pessoas do bairro São Gabriel que tiveram dengue em 2010. Eles foram acometidos pela doença em março deste ano. O filho não teve complicações, mas a mãe, no entanto, teve dengue hemorrágica e foi hospitalizada. "No primeiro dia senti sintomas como de uma gripe, mas depois fui sentindo muitas pontadas na barriga, sentia mal estar e suava demais. Desmaiei em casa e fui socorrida pelo meu marido e meu filho", relembra. Vanda conta que um dia antes de se sentir mal o filho já havia ido ao médico e recebido o diagnóstico de dengue "No outro dia fiquei internada no hospital preocupada com ele doente em casa", conta. Segundo Vanda da Silva, esta não é a primeira vez que teve a infecção "Tive dengue há mais ou menos dez anos e neste período meu marido também teve dengue. Todos têm que se conscientizar e não deixar água parada, tenho medo de ter dengue novamente. Sempre fui cuidadosa, mas os cuidados na eliminação dos focos redobraram", conta. CAMPANHA ‘Dengue. Se você agir podemos evitar’. Esta é a campanha deste ano que pretende mobilizar o país contra a doença. De acordo com o site do Ministério da Saúde foi realizada em agosto uma pesquisa nas cidades de Belo Horizonte, Foz do Iguaçu, Brasília, Rio de Janeiro, Rio Branco e Recife com homens e mulheres de 25 a 45 anos que trabalham em diversos setores, exceto os trabalhadores da área de saneamento e saúde. A pesquisa teve como resultado que os adultos entre 25 a 35 anos se preocupam menos com a doença. Os brasileiros entrevistados consideram importante estarem inseridos na luta contra os focos do mosquito e reconhecem o empenho do governo no combate a doença. E eles esperam que a campanha veiculada na mídia seja mais impactante, mostrando dados estatísticos de mortalidade e com participação mais ativa da sociedade. 6 Comunidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Dezembro • 2010 IDOSOS BUSCAM VIDA MAIS SAUDÁVEL n ANDERSON ROCHA, 6º PERÍODO O programa Vida Ativa, realizado pela prefeitura de Belo Horizonte, convida pessoas com mais de 50 anos a se exercitarem duas vezes por semana em praças e quadras da cidade. Ao todo já são 5 mil inscritos ANDERSON ROCHA Era uma daquelas manhãs que pareciam adequadas para uma atividade física: o clima ameno, quase frio, era só mais um convite para o grupo que aguardava pelo início das aulas. Duas vezes por semana, mais de uma centena de pessoas se reúne em uma quadra de esportes, no Bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste da capital, para se exercitar. Às 7h, a rotina encontrada é semelhante à de uma academia comum: alongamentos, música, exercício físico. Só um detalhe diferencia tudo: ali, todos os participantes têm mais de 50 anos. É assim o Vida Ativa, programa da Prefeitura de Belo Horizonte que oferece a oportunidade de se exercitar gratuitamente e com acompanhamento profissional. É o caso de Olmida Marques de Souza, de 93 anos. Ela frequenta o Centro de Referência do Idoso, no Padre Eustáquio, uma das unidades do programa, há três meses. A professora aposentada conta que os exercícios físicos sempre fizeram parte da rotina, mas o diabetes a deixou afastada por oito anos. "Fiquei cega e surda por causa da doença. Eu não conseguia me virar sozinha na cama e precisava de alguém para cuidar de mim, para me levar ao banheiro", explica. Com o tempo e o tratamento com os remédios específicos para o diabetes, a enfermidade foi sendo atenuada. O incentivo para voltar às atividades físicas veio da filha, fisioterapeuta, e o resultado não poderia ser melhor. "Hoje minha saúde está ótima. É muito bom poder fazer exercícios novamente", diz. Assim como ela, cerca de outros cinco mil idosos estão cadastrados no Vida Ativa. Ao todo são 24 unidades em todas as nove regionais de Belo Horizonte. Em todas elas, além das atividades físicas, os participantes têm contato com palestras, passeios e lazer. "O nosso objetivo é contribuir com o envelhecimento saudável e a melhoria da qualidade de vida destas pessoas", explica Ricardo Donizete, supervisor do programa na Regional Noroeste da capital. Segundo ele, as Grupo de inscritos no programa Vida Ativa realiza os exercícios propostos pelos educadores fisicos contratados pelo projeto atividades são seguras para os idosos, já que são de baixo impacto. Antes de se cadastrar, o interessado traz um laudo médico que libera o participante para o exercício. "O atestado é uma segurança, já que às vezes a pessoa tem algum impedimento, como uma artrose (perturbação nas articulações)", explica. Os exercícios não podem ser fortes porque a pessoa idosa não pode ter frequências cardíacas altas. Além disso, há chances maiores de sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral), conhecido popularmente como derrame. Para auxiliar em todos os exercícios, há uma equipe formada por um supervisor e por mais dois profissionais da área de Educação Física (um formado e outro em formação, estagiário). Mesmo sendo exercícios de baixo impacto, as consequências da atividade são muito positivas. Segundo a educadora física, Fabíola dos Santos Silva, 24 anos, o principal benefício visível é a melhoria no equilíbrio e na coordenação motora. "Para os jovens, subir uma escada é a coisa mais simples que existe. Para um idoso, não. Com o passar dos anos, a pessoa mais velha perde o equilíbrio, o que causa quedas e perda progressiva da capacidade de executar simples ações, como lavar uma louça ou dirigir", explica. Além disso, o programa é terapêutico: Fabíola conta que os professores acabam sendo filhos, netos e quase psicólogos. "Muitos sofrem com os filhos, que os abandonaram ou não dão atenção. Eles chegam tristes e conversam com a gente e se sentem melhor", conta. "Gosto demais de trabalhar aqui. É uma honra", complementa. Maria José da Conceição Almeida, 67 anos, é exemplo de como o programa pode ajudar a se sentir melhor. A entrada no programa veio após a morte do marido e o início de uma depressão, há sete anos. "Minhas colegas me convidaram para participar. Insistiram. Comecei a ir por causa delas. Gostei e estou até hoje", conta. Segundo dona Maria, hoje quem ajuda é ela. "Hoje, algumas das amigas até ficam desanimadas em vir. Eu não deixo. Vou lá e chamo pra vir comigo, para que elas fiquem animadas de novo", complementa. A psicóloga Patrícia Freitas, 34, explica que o contato social é muito importante para os idosos. "Para as pessoas nesta faixa etária, é fundamental criar uma rede de relações sociais, uma vez que muitas delas não tem", explica. Segundo ela, é comum muitas senhoras dedicarem a vida na educação dos filhos e, depois, vê-los partir. "Quando os filhos tomam seu rumo, sobra um espaço na vida desses pessoas que é preciso que seja preenchido de maneira positiva e produtiva", afirma. Para o aposentado José das Graças Zacarias, 63, neste um ano no programa, só bons resultados. "Fiquei muito mais disposto. Estou dormindo melhor, me alimentando melhor", conta. Luiz Gonzaga de Magalhães, 68, entrou no programa na mesma época que o colega. Os benefícios também são parecidos. "Estou mais disponível e animado para fazer as coisas", diz. "Jovens ou velhos, na melhor idade, como me sinto ou na idade mais nova, o exercício significa uma vida mais feliz, melhor", afirma Luiz. "Tenho umas amigas muito desanimadas. Arrumam dor para se queixar. É dor aqui, dor ali. Não pode ser assim", complementa Maria José da Conceição Almeida. MINORIA Qualidade de vida não tem sexo. Mas no Programa Vida Ativa, os homens ainda estão em menor quantidade. No Centro de Referência do Idoso, das 320 pessoas cadastradas nos turnos da manhã e tarde, cerca de 80% são mulheres. Para Ricardo Donizete, supervisor do projeto na Regional Noroeste da capital, um dos motivos pode ser que os homens tendem a gostar de atividades de força ou de cartas, por exemplo. "Os exercícios têm alongamento, dança, música. As mulheres parecem se sentir mais à vontade com esse tipo de atividade. Este tipo de atividade costuma agradar mais as mulheres, que parecem se sentir mais à vontade", explica. Luiz Gonzaga de Magalhães, 68, sugere outra explicação. "Os homens parecem não necessitar de exercícios. São orgulhosos ou têm vergonha. E não deviam ter, já que é uma atividade tão boa para todos, homens e mulheres", diz o aposentado que está há um ano e meio no programa. Para a psicóloga Patrícia Freitas, 34, a menor presença de homens em programas e atividades que buscam cuidar da saúde é sintoma de um problema maior. Segundo ela, é característica do sexo masculino a resistência à procura de médicos, o que explica a morte precoce dos homens em comparação com mulheres idosas. Patrícia explica que quando eles chegam a descobrir uma doença grave, elas já estão em estágios avançados. "Analise pelas pessoas que você conhece. Geralmente, quem morre primeiro: o avô ou a avó? O pai ou a mãe?", diz. "Temos um problema de saúde pública. Além do preconceito e da vergonha, os homens precisam cuidar mais da saúde", afirma. Aumenta procura por tratamentos alternativos ADRIANA BENEVENUTO n ADRIANA BENEVENUTO, LAURA DE LAS CASAS, 4º E 3º PERÍODOS Por causa de uma dor nos pés que persistia mesmo depois de muitos remédios e fisioterapia, assistindo a um programa de televisão, a dona de casa Denise Maria de Almeida conheceu um pouco sobre os tratamentos feitos por meio da acupuntura. Moradora da Região Noroeste de Belo Horizonte, Denise foi encaminhada por seu médico homeopata ao Centro de Saúde Carlos Prates, encontrando por lá profissionais da saúde que realizassem esse tipo de cuidado. "Realmente deu certo, porque eu fiquei dez anos sem sentir dor nos pés", conta a dona de casa sobre o tratamento. Desde 2005, o Centro de Saúde Carlos Prates oferece cuidados alternativos como acupuntura e homeopatia para seus pacientes. Segundo um dos dois médicos homeopatas do centro, Celsio Gontijo, a procura tem aumentado bastante, devido a maior divulgação do trabalho. "Procuramos divulgar com o pessoal da rede de saúde", conta o médico que atende no centro há dois anos. Celsio acredita que o que faz as pessoas procurarem por esse trabalho é a possibilidade de um tratamento A acupunturista Soraia Figueredo trabalha no Centro de Saúde Carlos Prates todas as manhãs e demonstra satisfação com a demanda atual mais leve. Para ser atendido no Centro de Saúde, é necessário que o paciente leve algum documento de identidade e um comprovante de endereço no mesmo nome. Caso queira participar dos tratamentos alternativos oferecidos, o paciente deve ser examinado anteriormente por um médico que encaminhará sua ficha para que o homeopata ou acupunturista começe com os cuidados. A dona de casa Denise Maria conta que sempre que têm alguma dor que os remedios não são capazes de curar, recorre á acupuntura. "A melhora é exelente", ressalta. Não é só Denise que acredita no poder das agulhas. A médica acupunturista Soraia Figueredo explica que essa terapêutica não tra- balha com remédios. Segundo ela, as agulhas entram para estimular o potencial de melhora do organismo do paciente. "Até mesmo nas doenças crônicas, além de diminuir a dor, a longo prazo, diminui o uso de medicamentos", completa Soraia. A médica conta que as pessoas procuram a acupuntura para curar desde ansiedade até paralisia facial, mas que 70% dos pacientes procu- ram o tratamento por causa de doenças músculo-esqueléticas e transtornos emocionais. "Tem patologias que a acupuntura trata perfeitamente bem, em outras ela atua como complemento", enfatiza a doutora, que atende cerca de 45 pacientes por semana. A estudante Júlia Farias começou com os cuidados homeopáticos desde o começo do ano, devido a uma forte dor de cabeça. Para a menina, é preciso ter paciência, mas os resultatos aparecem. "Eu quase desisti, mas depois começei a melhorar, foi uma luz, um alívio", conta a estudante. Ela trata com Célsio Gontijo e pretende continuar seu ciclo até obter alta. O médico atende cerca de 25 pessoas por semana, bem menos que na sessão se acupuntura devido ao tempo que suas consultas exigem. "Temos que conversar com o paciente, saber sobre seus problemas, é um trabalho mais aprofundado", explica. Dessa forma, os métodos sem uso de medicamentos convencionais vão ganhando espaço na áerea da saúde, deixando de ser desconhecidos pela comunidade. Para os médicos, é uma satisfação ver o aumento da procura pelo trabalho que oferecem. "Saúde não se compra em farmácia, tem que cultivar", completa a médica Soraia. Campus Dezembro • 2010 7 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas FESTIVAL DE CENAS CURTAS NA PUC n FELIPE AUGUSTO, RAÍSSA PEDROSA, 1º PERÍODO O festival “Mostra a Cara” promoveu uma maratona com dez apresentações de peças teatrais de curta duração em um único dia, encenadas por alunos da Escola de Teatro da PUC Minas. A cena que teve mais votos do público foi "Dorotéia", com texto de Nelson Rodrigues, adaptado e dirigido por Gustavo Freitas, 26 anos, com elenco composto por três homens que interpretaram papéis femininos, sendo que os atores estavam caracterizados com roupas masculinas. "São três homens em cena com atitudes de homem, tudo masculino, mas com o interior feminino, e esse interior a plateia não pode ver, o que pode mostrar mesmo é a masculinidade e mostrando à plateia que somos mulheres somente no texto, o que é bem difícil, porque o texto tem que ser bem falado, interpretado e bem articulado", diz Victor Pedroza, 17 anos, e estudante de teatro há um ano. O festival, realizado em 8 de novembro, na Escola de Teatro da PUC Minas, tem caráter independente. O “Mostra a Cara" é isso: é o ator vir com a ideia dele e dar a cara a tapa, porque é assim que o ator cresce", diz Gustavo. O festival está em sua terceira edição e foi organizado por um grupo de quatro ex-alunos, que também participaram das apresentações com intervenções nos intervalos das cenas. Integrante da comissão de organização e ator da cena chamada "Party Monster", O “Festival Mostra” a Cara foi promovido no dia 8 de novembro, na Escola de Teatro da PUC Minas, por um grupo de quatro ex-alunos da universidade, e esta foi a sua terceira edição. No evento, os atores tiveram a oportunidade de interpretar cenas de grandes autores, como Nelson Rodrigues e Guimarães Rosa RENATA FONSECA A peça “Dorotéia”, de Nelson Rodrigues, foi adaptada por Gustavo Freitas, 26 anos, e encenada por três alunos da PUC Minas, que interpretaram papéis femininos trajando roupas masculinas Gustavo Freitas destaca a importância do festival para os estudantes de teatro. "É um projeto muito bacana que, desde que eu estou na escola, desde 2006, não tinha nenhum festival assim, então é uma coisa de alunos para alunos, que eu acho que me identifiquei muito por isso. Logo na primeira edição eu queria trabalhar na produção, e já na segunda eu entrei na comissão", diz. Entre o público presente, alguns eram familiares dos atores e atrizes, e foram não só para prestigiar como também para dar uma ajuda mais que parcial na votação. Sheyla Fátima Costa, 34 anos, assistente social e esposa de Sérgio Amândula, 36 anos, ator, bonequeiro e contador de histórias que apresentou a cena intitulada "Famigerado", de Guimarães Rosa, diz que dá apoio em todas as aspirações do esposo. "Eu apoio porque ele gosta de fazer, sou a fã número um. Ajudo a decorar textos, a passar a cena. Ele ensaia no chuveiro, tudo para fazer um grande espetáculo", conta. Já Péricles de Souza, jornalista da TV Alterosa, pai de Daniel Tartáglia, 22, também integrante da cena "Dorotéia", foi dar uma força ao filho. "Vim prestigiar o meu filho porque sou seu maior incentivador. Eu mesmo quis fazer teatro, mas com a esposa grávida, trabalhando, tive que priorizar a carreira de jornalista, e ele que nasceu com essa vocação, eu faço questão de apoiá-lo em tudo", afirma. Atores da cena teatral de Belo Horizonte também marcaram presença, como Gustavo Marquezini, 26, ator profissional, ex-estudante da Escola de Teatro da PUC Minas e integrante do "Grupo Oficina Multimédia". "Vim prestigiar o evento. É uma coisa que vem crescendo e espero que um dia este evento seja prestigiado por pessoas do meio artístico, pois tem muita gente boa aí. É uma oportunidade do meio artístico conhecer as revelações do teatro de BH", ressalta. Sobre as cenas apresentadas, Marquezini diz ter gostado bastante, “Acho que o pessoal foi muito bem. Eles erram, aprendem e, através das votações, os próprios atores se avaliam e veem o que têm que melhorar", diz. Outro destaque do festival, Felipe Nogueira, 20 anos, que dirigiu e atuou na cena “Drummondeando”, a segunda mais votada, que recebeu 30 votos, e que literalmente deu sangue em sua apresentação. Enquanto recitava um dos cinco poemas de Carlos Drummond de Andrade que compunham a cena junto ao seu grupo do elenco, foi apoiar uma garrafa no chão, enquanto interpretava Drummond em um momento de embriaguez, quando a garrafa quebrou, cortando sua mão. "No teatro é assim mesmo, foi um imprevisto que eu acabei cortando minha mão, na hora que eu vi saindo sangue, me energizei um pouco, a gente se adapta e não pode sair do estado do personagem, tanto que eu falei com meus colegas de elenco depois, que valeu por que todos mantiveram o estado", conta Felipe Nogueira. Segundo Pedro Piazzi, 20 anos, ex-aluno e organizador do "Mostra a Cara", o evento atingiu seu objetivo. “O festival cumpriu bem seu intuito, de que os alunos expressassem suas ideias, para o público, e sem o direcionamento de um professor, por eles mesmos, como o próprio nome diz, o ator vai lá e mostra a cara", diz. Museu de História Natural terá novidades em 2011 RENATA FONSECA n REBECA PENIDO, 4º PERÍODO Os tapumes na entrada do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, no Coração Eucarístico, sinalizam que em breve o local receberá a construção de um auditório com capacidade para 220 pessoas. O espaço, ao lado do museu, beneficiará principalmente os estudantes de escolas do ensino fundamental e médio, já que palestras e cursos serão oferecidos aos visitantes. O projeto foi aprovado, mas as obras só começam no ano que vem. Mesmo assim, a previsão é de que o auditório fique pronto em 2011, com recursos financiados pela própria universidade e pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). A reforma também contempla a transformação de um pequeno barracão nos fundos em uma oficina de taxidermia, câmera fria e moldes para a conservação do acervo, pois as peças expostas no museu são, na verdade, réplicas de esqueletos. Outras mudanças no local têm como objetivo a inclusão de pessoas com necessidades especiais para que elas tenham contato com algumas peças das coleções. A construção dos chamados jardins de cheiros, canteiros com flores que permitem os deficientes visuais sentirem os objetos, é considerada uma obra simples e em andamento. Segundo o diretor do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, Bonifácio José Teixeira, mudanças para facilitar o acesso estão sempre em pauta nas decisões do museu, e cita as rampas e o elevador como exemplos de acessibilidade. Para ele, as adaptações só não são possíveis em locais cujas características específicas precisam ser conservadas, como a trilha da mata que perderia suas especificidades caso fosse cimentada. "Nestes casos, é difícil modificar porque a ideia é que a pessoa se sinta no meio da mata", explica. Em finalização, as reformas do Cerrado e da Caverna, no segundo andar do museu, estão previstas para o ano que vem. José Bonifácio explica que a parte interativa do projeto ainda não foi concluída, mas adianta que será possível clicar na imagem de um animal da época Pleistocena – entre 1 milhão e 806 mil e 11 mil e 500 anos atrás aproximadamente – e obter informações em áudio e vídeo. Raphael Bastos, 13 anos, que já visitou o museu da PUC com os colegas da escola Desembargador Mário Matos, acredita que os recursos em audiovisual ajudarão o visitante. "É mais uma ferramenta para aprender e se divertir. Torna a ida ao museu mais fácil e agradável para todo mundo", afirma. O Museu de Ciências Naturais da PUC fica à Avenida Dom José Gaspar, 290, no bairro Coração Eucarístico, e está aberto à visitação a partir das 8h30 nas terças, quartas e sextas-feiras, com encerramento das atividades às 17h. Às quintas o horário de funcionamento vai de 13h às 21h. O museu também abre aos sábados e feriados, de 9h às 17h. A entrada custa R$ 4, crianças de até 5 anos e maiores de 60 não pagam. Estudantes da PUC têm acesso livre mediante a apresentação da carteirinha. O Museu de Ciências Naturais abrigará auditório, que começa a ser construído em 2011 8 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório VIOLÊNCIA É OBSTÁCULO NA PROCURA Para oferecer aos moradores da Vila São José melhores condições de vida, por meio de moradias de dois e três quartos em condomínios construídos pela Prefeitura de Belo Horizonte, o programa Vila Viva tem que superar diversos obstáculos. No último dia 10, a Polícia Militar de Minas Gerais realizou operação motivada por denúncias da expulsão de famílias do local, por traficantes. De acordo com a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), por meio de sua Assessoria de Comunicação, a situação voltou à normalidade. Por questão de segurança, os moradores expulsos serão remanejadas para outras unidades residenciais. A Prefeitura está analisando cada caso e até a conclusão das transferências, será pago um aluguel de R$ 300 para cada família. No dia 12 passado, 144 novos apartamentos foram entregues ali. Nesta reportagem do MARCO, são contadas algumas histórias de superação e de dignidade de pessoas em busca de uma vida melhor. n ANA PAULA BRAGA, FELIPE DAMIÃO, LARISSA SOUZA, LAURA MILAN, MATHEUS MACIEL, 7º PERÍODO Sujeira, esgoto a céu aberto, mal cheiro e lixo para todo lado. Ratos, galinhas e porcos brigam pelo mesmo espaço que os moradores da Vila São José, Região Noroeste de Belo Horizonte. Mas, para o aposentado Gilberto Fernandes Conceição, 63 anos, a realidade mudou há um ano, quando realizou um sonho antigo. Ele deixou a vila e foi reassentado em uma das unidades habitacionais do Vila Viva, programa da Prefeitura de Belo Horizonte, em parceria com o Governo Federal. "Tenho mais qualidade de vida e segurança. Aqui, sim, é uma casa digna de morar", avalia. Para ele, não foi difícil se adaptar ao novo ambiente, no qual investiu mais de R$ 5 mil em reformas e novas mobílias. "Acho um absurdo alguns moradores da vila reclamarem deste programa. As nossas condições melhoraram muito. Estamos em uma felicidade total", diz. Na beira do córrego São José, em meio às precárias condições de saneamento da Vila, está a casa de Maria Geralda Cândida, uma aposentada de 60 anos que mora com seus dois filhos adolescentes. Recentemente, seu barraco foi avaliado pela Prefeitura de Belo Horizonte para atender às propostas de reassentamento de todas as 2.400 famílias da região através do programa Vila Viva. Dona Geralda, como é mais conhecida, reclama do valor que foi oferecido pelo imóvel, de R$ 13 mil. "É muito pouco e não dá para pagar um pedreiro para construir outra casa", ressalta. Ela faz parte das 797 famílias que aguardam o término das obras de construção das unidades habitacionais para melhorar logo de vida. "Prefiro aceitar o apartamento porque não vai valer a pena aceitar a indenização em dinheiro", afirma. O valor máximo das indenizações pagas pela Prefeitura de Belo Horizonte na Vila São José é de R$ 152 mil e o mínimo avaliado foi de R$ 2,5 mil. Um apartamento popular de dois quartos, sala, cozinha e banheiro construído pelo programa habitacional do município custa, em média R$ 45 mil, enquanto que um de três quartos sai por, aproximadamente, R$ 55 mil. Outra família que preferiu receber um apartamento do programa foi a da estudante Cândida Vitória, de 13 anos. Depois de ficar no meio de um tiroteio entre traficantes na Vila São José e presenciar um homicídio na porta de sua casa, a adolescente consegue perceber, hoje, o que é morar em segurança junto da comunidade. Há um ano, ela e sua família mudaram para as novas unidades habitacionais do programa Vila Viva. Agora, além de conquistar o próprio quarto e poder dormir confortavelmente sozinha, Vitória foi eleita a síndica mirim do condomínio. Para a jovem, é essencial ser responsável para adquirir respeito com os demais moradores, ainda mais com obri- gações. "Eu quis ser síndica. É legal, mas, ao mesmo tempo, dá trabalho porque tenho que chamar atenção dos meninos que pisam na grama ou rabiscam a parede, por exemplo", avalia Vitória. Ela diz fazer questão de participar de todas as reuniões e sugerir novas ideias. Segundo Nikolas Trevizani, geógrafo e técnico social da Assessoria Social e Pesquisa (ASP), empresa contratada para a realização do trabalho social, sob a coordenação da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), o cargo de síndico mirim surgiu da possibilidade de um diálogo mais próximo e apropriado com as crianças dos condomínios. "A atuação dos síndicos é acompanhada de perto pelos técnicos sociais que promovem capacitações, [ ] “T ENHO MAIS QUALIDADE DE VIDA E SEGURANÇA . AQUI SIM É UMA CASA DIGNA DE MORAR” GILBERTO FERNANDES encontros e discussões dos problemas que estão vivenciando, além de propor ações e melhorias conjuntas", explica. Entre as atividades desenvolvidas pelos síndicos mirins, encontra-se a conservação dos jardins, organização de eleições para troca de síndico, mutirão de limpeza nas áreas comuns, mobilizações para reuniões e a confecção de brinquedos com materiais recicláveis. "Vale destacar que a equipe observou em diversos blocos e condomínios significantes melhorias, justamente em pontos cruciais como a correria nas escadas dos blocos, as mãos sujas nas [ ] “AQUI É MUITO BOM. NÃO TEM MAIS BAGUNÇA E MEUS MENINOS BRINCAM A VONTADE” MARILENE PEREIRA paredes e o futebol no estacionamento", completa. A aposentada Solange Maria Coelho, 50 anos, vizinha do conjunto habitacional acompanhou a obra desde o início. Solange mora com o filho há mais de 20 anos na região e segundo ela, a construção não prejudicou em nada sua vida, ao contrário. "A região está mais iluminada, fiz amizades com os moradores dos apartamentos, está uma tranquilidade só", afirma. VILA VIVA O Programa Vila Viva tem como meta reduzir o déficit habitacional, melhorar e recuperar um estoque de moradias já existentes por meio da reestruturação física e ambiental dos assentamentos, desenvolvimento social e econômico, além da melhoria das condições de vida da população. O objetivo do programa, segundo a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas (Smurb), é reassentar 2,4 mil famílias sendo que, deste total, 1.603 já foram indenizadas. Segundo dados da prefeitura, o programa oferece como principais ações obras de saneamento, remoção de famílias, construção de unidades habitacionais, erradicação de áreas de risco, reestruturação do sistema viário, urbanização de becos, implantação de parques e equipamentos para a prática de esportes e lazer. O empreendimento recebeu cerca de R$115 milhões de investimento e foi o primeiro a ser iniciado na capital mineira com os recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No cronograma de obras na Vila São José, também estão previstas a implantação de áreas de lazer, como parque esportivo e espaço de convivência, construção de redes de água e esgoto e de uma estação do BHBus. 40% da obra de canalização do córrego São José está concluída bem como a abertura de 70% das 25 vias locais. São 1408 unidades habitacionais distribuídas em 88 blocos, sendo 888 apartamentos de dois quartos e 520 apartamentos de três quartos. Até o momento, de um total de 2175 imóveis na Vila, 1774 estão liberados e 401 aguardam a finalização da construção das unidades habitacionais ou a liberação do pagamento da indenização. Com a derrubada dos barracos, serão interligadas as avenidas Pedro II, Tancredo Neves e João XXIII. Esta iniciativa promete resolver o principal gargalo do trânsito na região formando um corredor viário entre as regionais da Pampulha, Noroeste e Centro-Sul da capital. Conforme informações da Smurb, 200 metros da Avenida João XXIII e 600 metros da Avenida Tancredo Neves já foram finalizados. EDUCAR PARA SE ADAPTAR A família da dona de casa, Marilene Pereira, 44, ainda está em fase de adaptação no novo apartamento que ganharam, na Vila São José. A moradora se diz satisfeita com a casa e acredita ter melhorado a qualidade de vida. "Aqui é muito bom. Não tem mais bagunça e meus meninos brincam a vontade. (Minha casa) era perto do córrego e tinha muito lixo e sujeira. Agora aqui é limpinho", diz. Algumas famílias têm problemas de adaptação porque ainda enfrentam dificuldades em conciliar a vida anterior com o novo cotidiano dos prédios. Para a assistente social da Urbel, Flávia Mota, cada morador possui o próprio tempo de se adaptar e de construir sua identidade territorial. "Essa questão depende muito da história de vida, da cultura social daquele morador, que ainda não tem autonomia necessária para reconhecer suas novas condições de moradia. Quando identificamos esse tipo de problema na Vila São José, atuamos com um atendimento mais especializado e direcionado, na tentativa de educar toda a família", afirma. O Programa Vila Viva, implantado pela Prefeitura de Belo Horizonte, ofereceu aos Os barracões da comunidade São José estão sendo substituídos por apartame Especial Vila São José 9 docursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório Dezembro • 2010 A POR VIDA DIGNA PARA MORADORES FELIPE DAMIÃO Perigo causado por usuários de drogas revolta habitantes do programa Vila Viva Não são todos os moradores que estão satisfeitos com a vida nos conjuntos havitacionais viabilizados pelo Vila Viva. Incomodada com a falta de privacidade e a presença constante de usuários de drogas na porta do condomínio, a aposentada M.C.S., não vê a hora de se mudar do novo apartamento de dois quartos em que mora. Segundo ela, por não ter aceito a indenização em dinheiro oferecida pela Prefeitura, a única opção que restou foi morar no conjunto habitacional construído pelo projeto Vila Viva. "Moro em qualquer lugar, menos aqui. Não tenho sossego nem para dormir. Estou tomando até mais remédios do que antes. Meus netos, que são pequenos, nem podem me visitar porque ficam muito expostos ao tráfico", afirma revoltada. O clima entre os moradores de alguns blocos está comprometido. Com apartamentos invadidos há mais de três meses, os moradores se sentem intimidados e recebem constantes ameaças. "Alguns usuários de droga chegaram a arrancar a tampa do hidrômetro para cheirar pó. Além da maconha, que vem gente fumar todas as noites", diz M.C.S. sobre o que enfrenta no dia-a-dia. "Tem gente que vem aqui para matar e que já saiu daqui direto para a cadeia", acrescenta. Segundo o Capitão Roberto Fonseca de Oliveira, da oitava companhia, do 34° Batalhão de Belo Horizonte, o policiamento da região é feito 24h por dia através do GEPAR (Grupo Especialiazido em Áreas de Risco). "Sempre fazemos batidas (policiais) na Vila. Agimos através de abordagens de infratores, imprimindo mandados de busca e apreensão e fazendo visitas sistemáticas a infratores que estão com saída temporária do sistema prisional", afirmou. No dia 10, uma operação policial de grandes proporções fez apreensões de drogas e armas em alguns apartamentos, além de prender sete pessoas suspeitas por participação no tráfico, dos quais seis foram soltas no dia seguinte. Desde então, a presença ostensiva da Polícia Militar no local foi intensificada. De acordo com a Urbel, por meio de sua Assessoria de Comunicação, o trabalho de seus funcionários continuara a ser feito normalmente. Após a descoberta de que famílias foram expulsas de seus apartamentos, a Prefeitura de Belo Horizonte decidiu fazer um recadastramento dos habitantes. A aposentada M.C.S, diz que pretende vender o imóvel que ganhou o mais rápido possível. Ela conta que o apartamento em que mora vale, hoje, cerca de R$ 60 mil. "Não aceito indenização ou vender por um valor menor", ressalta. Ela diz também que mais de 11 moradores do prédio se recusam a pagar taxa de condomínio e que não quer arcar com o prejuízo alheio. "Assumir conta dos outros? Se o povo não quer pagar isso, vão querer cuidar do resto?", indaga a moradora indignada. FELIPE DAMIÃO moradores da Vila São José moradias de qualidade e diminuiu o déficit habitacional entos, onde os moradores passaram a ter serviços de luz, água e saneamento LAURA MILAN Esgoto à céu aberto, mau cheiro e lixos dividiam espaço com os moradores da Vila São José que veem suas realidades mudarem com o Programa Vila Viva Projeto Fábrica Social é alternativa para quem teve aumento de despesas Michele Alves dos Santos, 25, anos, mudou-se para o conjunto habitacional em março do ano passado e sentiu dificuldades em controlar as despesas. Sem costume de pagar contas de água, luz e condomínio, os gastos aumentaram e por consequência, as dívidas. Depois de perder o emprego como vendedora, ela recebeu uma proposta de trabalho na Fábrica Social, projeto de geração de renda do programa Vila Viva. (Leia mais sobre o assunto na página 10 desta edição). "A oportunidade é muito boa, porque eu mesmo nunca tinha sentado em uma máquina na minha vida, eu não sabia nem ligar. Agora além de ganhar um dinheiro para pagar minhas contas, posso ter uma profissão", comenta Michele dos Santos. Depois das assistentes sociais realizarem um diagnóstico com as moradoras da vila e ter como resultado uma grande vocação para a área da costura, o projeto foi implementado. As participantes produzem lençóis e fronhas para serem vendidos para hospitais, além de uniformes e outros produtos. Segundo a monitora Teresa Cristina Teixeira, 38, além do retorno financeiro, a atividade ajuda no bem estar pessoal das integrantes. "A gente percebe que o trabalho ajuda muito na auto estima de cada uma e com isso é possível conseguir resultados maravilhosos. A força de vontade e a determinação em dar uma vida melhor para os filhos, faz com que elas produzem mais, ganhem mais e se sintam bem", observa. Nem todas que iniciaram o processo de aprendizado continuam no progranma. "Algumas chegaram à conclusão que não tinham afinidade com o trabalho, com uma máquina de costura, com uma tesoura. Então, elas perceberam que teriam que procurar outra coisa. Essas que estão aqui sempre tiveram muita vontade de aprender a profissão", explica Teresa. 10 Especial Vila São José jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Dezembro • 2010 FÁBRICA SOCIAL FORMA COSTUREIRAS n ANA MARTINS, DIANA DO VALLE, GABRIELLA PACHECO, WASHINGTON GOMES, Iniciativa da Caixa Econômica Federal, em parceria com a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, a Associação Nova Esperança oferece capacitação às mulheres da Vila São José, que não apenas aprendem diversas técnicas de costura, como também trabalham para gerar uma nova fonte de renda familiar GABRIELLA PACHECO 7º PERÍODO Às margens da antiga favela da Vila São José, na Região Noroeste de Belo Horizonte, está um pequeno negócio, que tem perspectivas de um grande futuro. A Associação Nova Esperança, também conhecida como Fábrica Social, foi uma iniciativa da Caixa Econômica Federal, junto com a prefeitura municipal. O objetivo dessa unidade era trabalhar a geração de renda junto à população que está sendo remanejada da favela para os condomínios do Programa Vila Viva no bairro. Porém, ela fez mais do que isso. Como o próprio nome já expressa, a unidade produtiva deu nova perspectiva de vida para algumas mulheres da comunidade, trazendo, de fato, uma nova esperança para essas moradoras da vila. Apesar de ainda não ter sustentabilidade econômica, a Fábrica Social é a primeira associação do gênero em Minas Gerais e, mais do que isso, representa um exemplo para outras empreitadas de fundo social com objetivos financeiros no estado. O projeto tem sua base nas parcerias. As diretrizes foram apresentadas à Prefeitura de Belo Horizonte pela Caixa Econômica Federal. Na teoria, a ideia é levar formação, conhecimento e produção ao mesmo tempo até a população. O governo municipal comprou a proposta e resolveu aplicá-la, por meio da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). Desde o início, as moradoras têm contado com parceiros dos setores público e privado, que fazem pedidos ou colaboram custeando gastos, como o aluguel. Os principais parceiros foram estabelecidos em um Protocolo de Intenções. De acordo com a coordenadora de trabalho social da Urbel, Flávia Mota, uma pesquisa foi feita pelo departamento jurídico da companhia comprovando que a entidade é a pioneira do tipo no estado. "Ela é a primeira associação já formada, que trabalha com uma rede de parceiros. É diferente de uma cooperativa, elas são mais independentes e têm controle sobre o próprio desempenho", afirma. Iniciada em 2009, a unidade trabalhava com 50 moradores que tiveram capacitação em confecção de silk e costura. Atualmente, 12 mulheres participam do projeto e têm toda sua renda vinda das peças de roupa que produzem. "É bom porque é pertinho de casa e não Na ‘Fábrica dos Sonhos’ uma nova realidade é viável Na Fábrica Social, as mulheres aprendem a costurar através dos cursos de capacitação oferecidos gratuitamente temos que nos preocupar com patrão, somos responsáveis pela nossa própria produção", afirma Andréa Vieira Ferreira, uma das pioneiras na Fábrica. Além de terem sido capacitadas para a costura, as mulheres também passaram por um curso de gestão para que pudessem administrar a Fábrica, que funciona como uma associação de confecção. NEGÓCIOS A base de trabalho hoje continua contando com alguns parceiros, entre eles a Urbel e a Anefis, a Agência de Negócios. Enquanto a primeira investe na capacitação, a segunda é responsável pela assessoria técnica à Fábrica Social. Literalmente, a Agência procura e agenda trabalhos e parcerias com empresas e instituições que venham a precisar dos serviços. Apesar de já ter caminhado bastante, o projeto ainda não se mostrou sustentável e a renda gerada pela produção não é estável, o que impede as costureiras de tocarem o negócio sem a existência de parcerias. "Elas precisam de autonomia", afirma Flávia. Do ponto de vista financeiro, a associação ainda tem que crescer, o que pode acontecer com a ajuda da Agência, que entrou efetivamente no projeto em julho deste ano. Para as associadas, o desafio no momento é o mesmo que elas tinham em suas vidas particulares: sair do aluguel. Para isso, buscam uma sede própria. O objetivo atual das associadas é conseguir a doação de um espaço com a prefeitura. "Sabemos que a prefeitura tem um monte de espaços por aqui, só queremos um que seja nosso para a gente não precisar mais depender de alguém para pagar o aluguel", destaca Andréa Ferreira. CAPACITAÇÃO Atualmente elas têm atendido pedidos de uniformes de uma empresa de segurança, o que exigiu das costureiras uma nova capacitação. "Temos que fazer cursos para encomendas diferentes porque são técnicas completamente diferentes. Teve um cliente que a gente fazia lençóis, isso é bem diferente desses uniformes de agora", conta Andréa. Apesar das queixas sobre a queda de produção durante períodos de curso, a capacitação contínua é essencial para que as costureiras possam atender um número maior de clientes. "Esse mês daria para tirar um salário, mas o curso atrapalhou porque a produção da manhã está parada", revela. Mesmo com isso, Andréa reconhece o benefício que ela e suas colegas receberam. "Aqui a gente tem oportunidade de aprender de graça, um curso desse custa entre R$600 e R$ 700, e aqui é de graça", comenta. Os cursos de formação e capacitação são oferecidos pela prefeitura. O que está sendo desenvolvido, até o mês de dezembro, é o de modelagem, que atraiu até moradores de outros bairros para participarem. "Como em todas as turmas em que trabalho, aqui na Vila São José existem pessoas com habilidade natural para a costura e outras não, algumas esforçadas e outras nem tanto. É sempre assim, sempre tem algum talento e alguém que não leva tão a sério. Mas estou gostando muito de dar o curso e ensinar para essas pessoas", afirma a capacitadora Cleide Nogueira. Um dos participantes de fora que se juntou ao grupo foi o ex-caminhoneiro Murilo Ferreira. Morador do Bairro Gameleira, ele conta que há 30 anos aprendeu a costurar em um curso do Senai, mas nunca levou a profissão à sério. Agora que está aposentado dos volantes, resolveu comandar as máquinas. "Estou achando esse curso ótimo, quero abrir a minha confecção em casa, já tenho as máquinas, mas precisa de muita coragem", relata. A Associação da Vila São José poderia bem se chamar Fábrica dos Sonhos. Ao menos é isso o que as costureiras e associadas deixam transparecer. Apesar das dificuldades, como a falta de estabilidade e dependência financeira, as moradoras conseguem encontrar satisfação ao atuar em um trabalho em que elas recebem sobre o que produzem, sem porcentagem de lucro para o patrão. De acordo com a Urbel, a maioria dos moradores da região tem baixa qualificação e estão desempregados ou fazendo trabalhos temporários, o que pode ser visto como um outro indicador para entender porque algumas das mulheres apreciam tanto o trabalho na Fábrica. "A gente não quer nunca que isso acabe. É um sonho realizado que vamos fazer de tudo para não deixar morrer", destaca Andréa Ferreira, uma das costureiras mais pró-ativas. É ela quem mostra as instalações, conta histórias e demonstra de maneira mais intensa sua alegria no lugar. É ela também quem aponta o motivo de tanta gente ter deixado o projeto. "Aqui ainda não tem estabilidade, não temos fornecedores constantes e nem sustentabilidade. A produção não dá para garantir um salário mínimo para todo mundo", conta. Porém, ela relembra que ter passado pela Fábrica ajudou pessoas que não tinham formação a acharem um espaço no mercado. "Muita gente saiu daqui e está no mercado de trabalho. Elas conseguiram empregos em confecções por causa do que aprenderam aqui", conta. Para quem não pode ou não quis recorrer às outras empresas, a Fábrica Social continua sendo a melhor opção. Andrelina das Graças foi a primeira pessoa a fazer a inscrição no projeto. Há dois anos ela trabalha com costura e, antes de fazer parte da associação, trabalhava em casa consertando roupas. Moradora da Vila São José há 25 anos, ela agora mora em um dos prédios dos condomínios do programa Vila Viva. "Adoro trabalhar aqui, é o melhor emprego que eu já tive. Desde criança que eu gosto de costurar. Eu consertava roupas, mas só comecei a costurar aqui, com o curso daqui. Eu quero ficar aqui até quando existir, todo mundo aqui é meu amigo", destaca. Já para Cláudia Barbosa dos Santos a necessidade é outra. Mãe de um garoto de 4 anos, ela tem epilepsia, o que limita muito suas opções de emprego. Cláudia está na Fábrica Social há cinco meses e, por mais simples que sejam suas funções, adora o que faz. "Sempre vinha aqui procurando oportunidades, porque não posso trabalhar fora. Eu comecei (na Fábrica) na máquina (costurando), mas comecei a passar mal e agora fico na passação (de roupa), alfineto, ponho bolso, arremato", conta. Segundo ela, não se trata somente das funções desempenhadas, mas o emprego fez com que Cláudia se sentisse capaz e responsável. "É meu primeiro emprego, ninguém nunca me deu oportunidade. Então eu sou muito grata, agarrei essa oportunidade com tudo, pois tenho um filho, Cristian Gabriel, para criar. Meu pai me ajuda desde que ele nasceu e eu ajudo lá em casa com o dinheiro que ganho aqui", conta. Cidade Dezembro • 2010 11 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas CARROCEIROS AJUDAM A LIMPAR BH Criado em Belo Horizonte em 1997, o Projeto Carroceiros tem como principal proposta estimular carroceiros da capital mineira a agir como agentes de limpeza da cidade. Por meio da iniciativa, muitos locais, como terrenos abandonados e córregos já estão sendo limpos por esses trabalhadores, que recolhem lixo e volumes de entulho e os encaminham para reciclagem IARA OLIVEIRA n FABIANA SANTOS, FLORA PINHEIRO, IARA OLIVEIRA, JÚNIA VASCONCELOS, MARIANE SCHMITTD, RENATA CARVALHO, 7º PERÍODO Lotes vagos, córregos e ruas são lugares comuns de despejo do lixo e entulho gerados em casa, principalmente por reformas ou construções. Hoje esse lixo pode ter um destino adequado. A população tem à sua disposição um serviço de carroceiros cadastrados que podem ser acionados pelo telefone 156. O Projeto Carroceiros estimula o carroceiro a atuar como um agente de limpeza urbana recolhendo pequenos volumes pela cidade. Para auxiliar nesse trabalho, foram criadas as Unidades de Recebimentos de Pequenos Volumes (URPV) onde estes trabalhadores levam entulho que, posteriormente, são encaminhados a uma das usinas de reciclagem da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Na capital, o projeto foi criado em 1997 e já possui cadastrados 3.650 cavalos marcados e 1.800 veículos emplacados. Segundo Maria Stella Neves, representante do Projeto Carroceiros da SLU e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o projeto pretende reduzir a poluição urbana e o assoreamento de cursos d'água e dos sistemas de drenagem pluvial. "Através do Projeto Carroceiros busca-se a recuperação da qualidade do meio ambiente urbano, e consequentemente torna o carroceiro um agente de ações ambientais", afirma. Em parceria com a UFMG, o projeto busca esclarecer e orientar os carroceiros quanto ao manejo, bem-estar, alimentação e prevenção de doenças nos animais, dentre outras atribuições. É de responsabilidade da Universidade intervir e dar assistência aos animais e melhorar a genética dos mais resistentes e adequados para a tração animal. De acordo com Stella, o controle clínico da saúde do animal é feito a partir da vacinação contra raiva, prevista no código sanitário municipal de Belo Horizonte e da marcação que identifica e controla os animais. "Os carroceiros são orientados em palestras que explicam os cuidados com o meio ambiente, formas de associação e trato dos animais. Além disso, todos recebem uma carteira com os dados pessoais e a identificação do cavalo, que é cadastrado e marcado com nitrogênio líquido", comenta. Com todas as informações e documentações, os carroceiros se sentem mais seguros e inseridos no projeto. "É muito bom ter a documentação dos cavalos e as palestras de leis de trânsito. Para eu andar com a carroça na rua é a mesma coisa que 'tocar' o carro", diz Geraldo Veloso de 54 anos, sendo 35 deles dedicados como carroceiro. Existem 29 Unidades de Recebimento distribuídas por todas as regiões de Belo Horizonte. O material pode ser entregue gratuitamente nestes locais ou pode se contratar um [ ] “PARA EU ANDAR COM A CARROÇA NA RUA É A MESMA COISA QUE TOCAR O CARRO” GERALDO VELOSO carroceiro para buscar o entulho. "O preço cada carroceiro faz o seu, o valor varia de R$ 10 a R$ 20. É bem barato se for imaginar a distância e o tanto de entulho que a gente carrega. Tem dia que tenho que fazer quatro viagens, tem dia que não tem nenhuma", conta Geraldo. As URPVs não recebem lixo doméstico, resíduos industriais, lixo de sacolão, serviços de saúde ou animais mortos. Segundo Wilson Felix Vieira, que trabalha como encarregado da URPV do Bairro Glória, a quantidade de entulho tem aumentado cada vez mais. "Somente [ ] NO BRASIL SÃO RECICLADOS APENAS 10% DO QUE É PRODUZIDO nesta unidade recebemos em torno de 95 toneladas de lixo por dia, trazidos por 30 carroceiros. Três caminhões vêm aqui por dia para recolher o entulho e não dá conta. Sempre tem um vigia nesta unidade para evitar que as pessoas comecem a jogar lixos inadequados", afirma. RECICLAGEM Problemas quanto ao destino correto do lixo de grandes ou pequenas obras têm sido solucionados através do Programa de Reciclagem de Entulho da Construção Civil de Belo Horizonte, que atua em parceria com o Programa de Correção Ambiental e Reciclagem com Carroceiros. Os resíduos recebidos nas URPVs são separados e recolhidos diariamente pela Prefeitura, que direciona o resíduo da Construção civil para as Estações de Reciclagem de Entulho. Segundo Joaquim Pereira, chefe da divisão de reciclagem da usina, situada no Aterro Sanitário da capital, o material recebido passa por uma triagem onde é separado o que pode ser usado na produção do agregado reciclado e o que deve ser descartado. "O entulho recebido pelas usinas deve apresentar, no máximo, 10% de outros materiais como papel, plástico e metal, e ausência de terra, matéria orgânica, gesso e amianto", descreve. O entulho reciclável é britado mecanicamente e esse material pode substituir a brita e a areia em diversas aplicações na construção civil, em especial como base e sub-base de pavimentação asfáltica. Do que é reciclado, 90% são usados em obras públicas e 10% são vendidos. São processadas 170 toneladas de entulho por dia. "Já que nas unidades não é cobrada nenhuma taxa com gerador, transportador, isso serviria como um incentivo para que o poder público possa utilizar em detrimento da diminuição dos gastos", afirma Joaquim. Algumas obras da prefeitura já foram executadas com o material produzido nas usinas, como é o caso da recuperação de vias no Bairro Santa Efigênia, na Avenida Tereza Cristina e obras do programa Vila Viva. O programa de Reciclagem de Entulho da Construção Civil de Belo Horizonte foi criado em 1995 e é referência internacional em tratamento de resíduos deste tipo. Joaquim Pereira ressalta a importância de iniciativas como essa para a redução da produção do entulho. De acordo com ele, os Estados Unidos reciclam 25% dos resíduos da construção civil, na União Européia esse percentual chega a 28%. No Brasil são reciclados apenas 10% do que é produzido. "Programas de reciclagem são muito importantes para a destinação correta e para o meio ambiente, porque tem lugares que o volume desses resíduos chega a 60% do lixo produzido, muito mais do que o lixo doméstico", acrescenta. Já o Projeto Carroceiros recebeu vários prêmios, dentre eles, o segundo lugar do Prêmio Estadual de Sustentabilidade e Gestão Ambiental de Resíduos Sólidos Urbanos. O projeto também foi reconhecido oficialmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fundação Oswaldo Cruz, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Revista Superinteressante. No projeto, os carroceiros recebem orientações sobre manejo, recolhimento dos resíduos e sobre a saúde do animal Entulho da construção civil é reutilizado em grandes obras Com o crescimento desenfreado da cidade e com a aproximação da Copa de 2014, melhorias físicas em várias partes da capital mineira estão sendo feitas. Com isso, há uma grande preocupação em relação ao destino dos resíduos sólidos que serão gerados por essas grandes obras. "A nossa cidade tem passado por um processo de reurbanização, várias avenidas e prédios antigos da capital estão sendo revitalizados, então a geração de resíduos é uma consequência disso tudo", diz o chefe da divisão de reciclagem da Usina de Reciclagem da Prefeitura de Belo Horizonte, Joaquim Pereira. A adoção de práticas sustentáveis durante a Copa do Mundo, será o diferencial do Brasil em relação aos mundiais realizados em outros países. Em Belo Horizonte, o projeto de reforma do estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, é do arquiteto Gustavo Penna, e as primeiras obras na arena já adotaram medidas susten- táveis. A reutilização de materiais foi uma preocupação desde o início da obra, um exemplo são as rampas de acesso que utilizou o concreto proveniente da demolição da arquibancada inferior. E, para garantir o reaproveitamento de boa parte dos resíduos produzidos na obra, os entulhos são enviados à Usina de Reciclagem da Prefeitura de Belo Horizonte. Segundo Joaquim, iniciativas como a adotada no complexo Mineirão-Mineirinho tem acontecido frequentemente nas grandes obras que estão sendo realizadas. "Essas obras já tem suas unidades de reciclagem móveis. A construtora sabe que reciclando aquele material, ele pode ser reinserido na cadeia produtiva, o que gera uma redução de custo na obra", afirma. Dentre as principais mudanças que atingirão BH nestes próximos anos que antecedem a Copa do Mundo 2014, a obra de maior empreendimento é a revitalização do Anel Rodoviário. A inter- venção, será custeada pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) do Governo Federal e está orçada em R$ 837,5 milhões. O projeto prevê obras em 17 trechos, contando com viadutos, trincheiras e passarelas em toda a rodovia. A obra vai acabar com os constantes congestionamentos nas ruas Ivaí e Pará de Minas, na Avenida Abílio Machado, no Anel Rodoviário, com reflexos no trânsito dos bairros Dom Bosco, Alípio de Melo, Glória e Padre Eustáquio, entre outros. Segundo Joaquim, toneladas de resíduos serão produzidos com obras como essas. "Intervenções que reutilizam o seu próprio lixo, colaboram infinitamente com o meio ambiente. Por isso, é importante a conscientização no sentido de reaproveitamento. Acredito que nesse trabalho os caminhoneiros e os carroceiros serão nossos braços direitos, nossa grande ajuda", afirma. 12 Cidade jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Dezembro • 2010 HOSPITAL PEDE DOAÇÕES DE VIDROS n CÍNTHIA RAMALHO, 4º PERÍODO O Hospital Sofia Feldman está com dificuldade em conseguir frascos de vidro para o armazenamento do leite materno destinado a doações. Para reverter essa situação, está sendo feita uma campanha em escolas, faculdades e hospitais RENATA FONSECA Quando Juan Victório, 50 dias, nasceu, pesava 1,570kg. O bebê nasceu prematuro devido a complicações que a mãe, Adma Maria dos Reis, 25 anos, teve durante a gestação. Além disso, o neném não pôde ser amamentado pela mãe nos quatro primeiros dias de vida, já que ela não estava produzindo leite por causa da cesariana. Hoje, após dois meses internado no Hospital Sofia Feldman, onde recebeu leite de doações de outras mães, Juan pesa 2,375kg e já está pronto para ir para casa. Porém, nem todos os bebês internados no hospital conseguem ser alimentados pelas doações, já que faltam frascos de vidro para coletar leite das doadoras. De acordo com Débora Almeida Rocha, nutricionista da coordenação clínica do Hospital Sofia Feldman, a falta de vidros para a coleta está atrapalhando a doação de leite materno, já que muitas mães chegam para doar leite e, sem ter o frasco para armazená-lo, ele acaba sendo perdido. Assim, na hora de alimentar os bebês que necessitam do leite doado, a nutricionista tem que fazer uma seleção dos casos de maior necessidade, pois não há leite suficiente para atender a demanda. "Muitas vezes a gente perde doações porque não temos o vidro. Tem mães que falam 'olha, meu peito está cheio, estou perdendo o leite e não tem o vidro', por causa disso, a gente não consegue passar esse leite pasteurizado para todas as Adma Reis é exemplo de mãe que doa leite para o Hospiral Sofia Feldman, onde são gastos oito frascos de vidros por dia para a armazenagem do leite crianças, a gente tem que escolher qual criança que a vai receber, geralmente são os prematuros de baixo peso", conta. A dificuldade em conseguir vidros para a coleta do leite materno se deve ao fato de que os frascos têm características específicas: devem ser potes de maionese com tampa de plástico. Vidros com tampa de metal, como por exemplo, potes de azeitona, não servem, já que com a tampa de metal, o processo de oxidação ocorre e o leite acaba sendo contaminado, como explica Débora. Ainda segundo a nutricionista, a nova embalagem dos potes de maionese também dificulta o processo de obtenção dos vidros. "As maioneses estão vindo não em potes de vidro, mas em potes de plástico, então essa está sendo a dificuldade. Tem muita gente que ainda guarda, mas a gente está conseguindo as tampinhas, mas não os vidros", afirma. Para tentar reverter a situação e conseguir recolher um número maior de vidros, a equipe do Hospital Sofia Feldman, composta por nutricionistas, nutrólogos e farmacêuticos criou uma campanha para sensibilizar as pessoas a doarem vidros para a coleta de leite. A campanha consiste basicamente em palestras ministradas por nutricionistas em escolas municipais da região do hospital e em faculdades, onde o público é grande e as chances de doações são maiores. Além disso, o hospital tenta arrecadar dinheiro para comprar os potes de vidro de fornecedores do Rio e São Paulo, pois em Belo Horizonte não há fabricantes dos frascos. Porém, o custo é muito alto. Cada pote tem o valor de R$ 3, e o hospital não possui recursos para realizar a compra. A campanha para doação de vidros para o Hospital Sofia Feldman é de grande importância para uma campanha maior de doação de leite materno que está sendo planejada para 2011. De acordo com Débora, o hospital pretende se tornar um banco de leite e, por isso, precisa aumentar o número de doações de leite materno. "Não vai ser apenas o recebimento do vidro que vai fazer a gente virar banco de leite, são outras questões. Mas, se a gente receber mais vidros, consegue fazer mais doações e receber mais leite. A intenção do hospital seria essa até a gente conseguir ter instalações apropriadas para se tornar um banco de leite", explica. Os vidros doados, quando chegam ao hospital, passam por um processo de esterilização, assim, ficam prontos para receber o leite coletado das mães. Ao fim da coleta, os vidros com o leite recolhido são identificados e mandados para o Hospital Odete Valadares, onde acontece a etapa de pasteurização do leite, que o deixa pronto para o consumo dos bebês. Durante essa etapa, muitos vidros mandados pelo Hospital Sofia Feldman são perdidos. "Se eu mando 20 vidros para o Odete, como é ele que faz o trabalho de pasteurização, ele me retorna com 10 vidros. Então já tenho essa perda porque alguns vão ficar lá, é como se fosse uma cota que a gente vai pagar", explica a nutricionista. Ela ainda completa que se fosse banco de leite, o Hospital Sofia Feldman poderia realizar a etapa de pasteurização, o que evitaria a perda de muitos vidros. A mãe de Juan, assim que pôde, quis ser doadora de leite. Adma, além de amamentar o filho, chega a doar cerca de 120 ml de leite a cada vez que faz a coleta e tem consciência da importância da doação de leite materno. "Eu vi que como eu precisei para o meu filho, eu poderia passar para outras mães também que tivessem nenéns que poderiam precisar, quando elas não poderiam estar amamentando com o próprio leite", afirma. Para armazenar o leite coletado por Adma e por outras mães que também são doadoras, o hospital chega a gastar oito frascos de vidro por dia. "Têm mães que conseguem pelo menos uns três vidros por semana de 500 ml. Têm outras que não, só conseguem 120, 150 ml. Se eu for receber uma doação, a mãe tiver com o leite e eu não tiver o vidro, também não adianta. Então, nosso objetivo é ter uma quantidade maior de frascos para que a gente consiga que essa doação seja efetiva, porque a gente está perdendo leite porque não temos frascos para coletar", alerta Débora. As doações de potes, que podem ser de qualquer tamanho, devem ser feitas na recepção do Hospital Sofia Feldman, à Rua Antônio Bandeira, 1060, Bairro Tupi. Táxi adaptado traz conforto a deficientes de BH RENATA FONSECA n MÉRIAN PROVEZANO, 4º PERÍODO Ranulfo ajuda sua passageira a entrar no carro devidamente equipado Em 2009, entrou em circulação o primeiro veículo de táxi adaptado para cadeirantes, em Belo Horizonte. Até hoje, ele é o único na cidade. Mesmo com grande contingente de pessoas portadoras de alguma deficiência física, a capital mineira ainda peca em relação a acessibilidade. O taxista Ranulfo da Silva Lopes, 55 anos, é quem conduz o automóvel, um Fiat Doblô ELX, adaptado. Ele conta que foi um empresário de Belo Horizonte que teve a ideia de investir neste tipo de táxi e que assim, surgiu a oportunidade de trabalhar com esse veículo. Como a demanda é muito alta, ele diz que só consegue atender a seis ou sete pessoas por dia. "A corrida é para ida e volta. Então, quando são seis pessoas, lógico, são doze corridas. Quando são sete, eu tenho catorze corridas", afirma Ranulfo. Em Belo Horizonte, há 7.797 pessoas com problemas físicos e uma frota de 6.028 táxis comuns. A BHTrans admite que seriam necessários de 10 a 50 táxis adaptados para atender a esse segmento. Segundo a assessoria, qualquer um tem a possibilidade de ser um taxista com carro adaptado, basta a pessoa interessada obter o veículo e passar por um curso, já que a forma a se lidar com passageiro e veículo são diferentes. Para o administrador, Alessandro Ribeiro Fernandes, de 37 anos e paraplégico há quatro, por conta de um acidente de moto, é muito pouco para Belo Horizonte ter apenas um veículo de táxi adaptado. Segundo ele, alguns taxistas comuns ficam sem saber o que fazer e muitas vezes os veículos têm portamalas pequenos e difíceis para transportar cadeiras de rodas. Ele conta que os cadeirantes enfrentam grandes dificuldades também com os ônibus, pois os elevadores muitas vezes não funcionam ou não são operados corretamente. Alessandro acredita que apesar disso, a mobilidade e a acessibilidade hoje, em Belo Horizonte, melhoraram bastante, mas que ainda há muitos lugares inacessíveis com calçadas irregulares, com falhas e cheias de degraus. "Falta consciência das pessoas na hora de construir ou reformar os imóveis, pensando sempre que poderá ser utilizado por um deficiente", diz. Fátima Félix, da Coordenadoria de Direito das Pessoas Portadoras de Deficiência, também afirma que apenas um táxi adaptado não é o bastante e que está previsto que se abra 40 licitações, para esse tipo de veículo, em 2011. Ainda de acordo com Fátima, uma das dificuldades em se aumentar a frota de táxis adaptados, é o alto custo do veículo e sua adaptação. Ela assegura que o transporte público melhorou bastante e que até 2014, com a renovação dos ônibus, este estará bem mais acessível, com todos possuindo elevadores e piso rebaixado. INTERNET Alessandro Ribeiro mantém o "Blog do Cadeirante" desde março de 2004. Nele, relata suas experiências do dia a dia, dificuldades, notícias relacionadas e denúncias. Ele recebe muitos agradecimentos pelas informações e dicas que dá em seu blog. Além disso, muitas pessoas fazem perguntas sobre situações enfrentadas e adaptações em carros, casas e edifícios. "O blog surgiu da necessidade de compartilhar experiências com outras pessoas que estão na mesma situação, pois há muita falta de informação sobre os desafios e problemas da vida em uma cadeira de rodas", conta Alessandro. Cidade Dezembro • 2010 13 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas A persistência e a dedicação de alguns moradores tem garantido verduras sem agrotóxicos, frescas, de boa qualidade e por preços bem mais acessíveis para a comunidade do Aglomerado da Serra. O TRABALHO DE POUCOS QUE TRAZ BENEFÍCIOS PARA MUITOS LAURA DE LAS CASAS n LAURA DE LAS CASAS, 3º PERÍODO Há cerca de seis anos, em uma assembleia no Aglomerado da Serra, Região Sul de Belo Horizonte, foi sugerida a ideia de transformar um antigo terreno da prefeitura em uma horta comunitária. Na época, o grupo de 12 pessoas pediu o aval da administração municipal para utilizar a área, e, por meio de um documento, o terreno foi liberado. "A gente entrou aqui, roçou, arrancou os tocos, adubou e plantou", conta Durvalino Quaresma, 65 anos, aposentado que é um dos poucos integrantes do grupo que participa da horta até hoje. A ideia de transformar o espaço vazio em uma área de plantação não teve a contribuiçao de todos os participantes do grupo por muito tempo, mas mesmo com a desistência de boa parte dos integrantes, a horta continua existindo com grandes mudas de diversas verduras, como taioba, inhame, mandioca, almerão, laruta, couve, alfaçe, tomate, limão, maracujina, erva cidreira, entre outras. O aposentado afirma que os moradores do Aglomerado procuram a horta diariamente para O aposentado Durvalino Quaresma ajudou a criar o projeto e trabalha todas as manhãs na horta comunitária; o lucro obtido com a venda das verduras é usado na manutençao da produção. comprar as verduras, que são vendidas por um preço muito mais barato. Por 60 centavos, é possível deixar a horta com uma grande muda de alface. "Quando tem muita verdura nós pegamos um carrinho e saimos pela rua vendendo elas", diz Durvalino. Rosemaire Gomes da Silva, 43 anos, que trabalha na cooperativa de bordados da comunidade, dá total preferência aos produtos plantados na horta. "Além de gostoso e mais barato é mais saudável, pois temos a garantia de que nenhum agrotoxico é usado nesse trabalho. Eu indico pra todo mundo, minha mãe inclusive, depois que eu falei pra ela parar de comprar no sacolão e comprar na horta comunitária, ela não quer saber de outra coisa", afirma a bordadeira. Os lucros com a venda das verduras são usados para a manutenção da mesma, comprando adubo, instrumentos de plan- tio e sementes novas. Durvalino afirma que esse foi um dos motivos para muitos moradores pararem de trabalhar com o plantio. "As pessoas têm que ganhar dinheiro para se sustentar, aqui não dá lucro nenhum, quase, então isso levou muita gente a pular fora. Eu fico triste, mas entendo, as pessoas nao têm culpa", conta o aposentado. Durvalino conta que todos os dias levanta às 6h para se dedicar aos trabalhos na horta, e de lá só sai na hora do almoço. Quando não chove a tarde, volta para trabalhar mais. Para ele, ver a terra totalmente plantada e dando frutos é motivo de muito orgulho. Outro integrante da horta comunitária é o pintor José Timótio Severiano, 66 anos, que trabalha com o plantio todos os sábados. "Toda vida gostei de plantar, faço isso por prazer", conta Timótio. Ele ressalta a importância de terem con- seguido a autorização da prefeitura para tomarem conta do lugar. "Não gostamos de fazer nada escondido. Plantamos com a certeza de não estar fazendo nada errado", afirma o pintor. Para ele, o fato de terem poucos integrantes atualmente na horta não atrapalha. "Desde que tenha uma pessoa pra cuidar, já está valendo, ela nos dá muita alegria", acrescenta o pintor. Bem Me Quer é bem mais do que brincadeira LAURA DE LAS CASAS n LAURA DE LAS CASAS, 3º PERÍODO Depois de uma manhã de aula no Colégio Municipal Benjamin Jacob, próximo à favela Vila Acaba Mundo, localizada no Bairro Sion, regiao Sul de Belo Horizonte, Katielly Moreira, 9 anos, não volta para casa. Ela sabe que um almoço caprichado a espera na Casa de Apoio Bem me Quer, onde a menina passa suas tardes de segunda á quinta, desde o começo do ano. O dia preferido da pequena Katielly é quinta-feira, pois a menina tem sua tão esperada aula de ballet, oferecida pela professora Marise Campos. Lá, além de aulas de dança, Katielly aprende bordado, culinária, psicoterapia individual, momentos de oração, aula de computação, desenvolvimento das lições de casa e coisas básicas como a higiene pessoal. "Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira", conta a menina, com alegria. A “Bem me Quer” é um projeto que acontece há 15 anos, liderado por Pérola Mascarenhas e que sobrevive graças aos cerca de cem associados, que fazem doações mensais para manter as diversas atividades oferecidas para cerca de 40 meninas, de sete a 14 anos, todas moradoras da Vila Acaba Mundo, em dois horários distintos, pela manhã e à tarde. Pérola explica que a ideia para o surgimento desse projeto social veio junto com a vontade de retribuir a sociedade tudo aquilo que teve em sua vida. "Por isso, sempre quis fazer algo destinado a garotas. É um trabalho que tem como única meta a felicidade delas", conta Pérola. DO BEM Para a fundadora, a ideologia que todos da Casa Bem Me Quer devem seguir “vem de um filósofo muito antigo e diz que nossa finalidade é buscar tudo que é bom, tudo que é bonito e tudo que é verdadeiro". Para isso, o foco do projeto é a saúde e a educação das meninas, que contam com a ajuda de quatro educadoras para as atividades diárias. A condição para quem quer participar do projeto é estar matriculada em alguma escola, com frequência regular. Para ser voluntário , basta assinar um termo de compromisso com o trabalho e ter boa vontade. ATIVIDADES Katielly se diverte nos momentos de brincadeiras, mas demonstra reconhecer a importância das outras atividades. "Aqui a gente aprende muito sobre o nosso corpo, sobre cozinhar, a gente aprende até comidas de outros países. E bordar também eu gosto, mas não só pra bordar aqui. Eu aprendo aqui e bordo em casa com a minha mãe também", explica a menina. Todos os dias, antes de voltar para casa, o grupo de garotas toma banho e escova os dentes, para aprenderem corretamente como cuidar do próprio corpo. Um dos momentos de descontração mais esperados pelo grupo de garotas é a roda de canto, que acontece toda quinta-feira, na qual todas as meninas podem soltar a voz e cantar com a ajuda de um microfone. Pérola explica que passa Katielly, à direita, entre outras atividades, observa Generosa e aprende a cozinhar. por algumas dificuldades no dia a dia, no que diz respeito ao interesse pelos estudos e pelo futuro. "Quando as meninas são menores é mais fácil, pois elas nos escutam, mas em contraponto elas não estão tão preocupadas com o futuro. As adolecentes são difíceis. Eu gostaria que houvesse mais interesse, que elas absorvessem mais. Isso tudo é um trabalho lento", reconhece a fundadora. Generosa Costa, uma das educadoras, concorda com Pérola. "Mas elas, apesar de todas serem muito diferentes, são super carinhosas", completa. Apesar das reuniões com as mães terem a presença de pouquíssimas delas, Pérola insiste em compartilhar cada problema e cada conquista com elas. Sempre quando percebe alguma dificuldade maior em uma das meninas, procura a ajuda de psicólogos e logo entra em contato com os pais. "É triste porque as mães são quem menos vêm, são daquelas que mais precisam", conclui. 14 Esporte • Cidadania jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Dezembro • 2010 EX-JOGADORA INCENTIVA O ESPORTE RICARDO MALLACO Aos 44 anos Marlei Barbosa reúne crianças do Bairro Dom Cabral três vezes por semana para jogar futebol. Para ela, o esporte evita o envolvimento com as drogas n LEONOEL PACHECO, 1° PERÍODO Entre os garotos que não perdem as peladas no campo da Praça da Comunidade, localizada no Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, uma jogadora chama atenção. Aos 44 anos, Marlei Barbosa de Andrade é o destaque do time que não tem nome nem uniforme, mas, que se reúne fielmente as terças, quartas e quintas-feiras a partir das 14h. Ex-jogadora de futebol amador pelos times Januarense, Baluarte e Galo de Ouro, há 12 anos, Marlei sai pela vizinhança com o objetivo de tirar as crianças que estão jogando bola na rua, para treiná-las no campinho. Casada e mãe de três filhos, ela explica que sua iniciativa não se resume apenas ao esporte. Para fazer parte dos treinos, Marlei exige que as crianças estejam com boas notas na escola. "A criança tem que possuir um bom desempenho na escola, tirando boas notas e fazer os deveres de casa todos os dias, são os requisitos para participar das atividades", conta. Durante os treinos e jogos, não é permitido falar palavrões ou desrespeitar os colegas. Marlei, que além de jogadora de futebol foi fiscal de segurança, hoje se dedica a cuidar da sua casa, dos filhos e claro, das crianças da vizinhança. Ela também promove partidas de futebol entre os garotos da comunidade e outros times de Belo Horizonte. "O esporte é muito importante para todos, principalmente para as crianças e adolescentes. Porque no seu tempo livre, ocupa esta garotada com algo que fará bem para eles em todos os sentidos. Principalmente para que não entrem no mundo da criminalidade e drogas", explica a treinadora. Após parar de jogar futebol amador, o técnico conhecido no Bairro Dom Cabral como João Baiano, foi quem incentivou Marlei a não desistir do esporte. Ele a treinou em equipes femininas e permitia a participação de Marlei em alguns treinos de times masculinos. A ex-atleta conta que muitas crianças que participam de suas atividades, jogam em clubes importantes de base em Belo Horizonte e Goiás. Os que não seguiram a carreira do futebol, com o bom desempenho na escola se formaram e exercem hoje uma profissão. Gabriel Fiúza Ferraz, 10 anos, não perde um treino Marlei Barbosa ensina crianças a jogar futebol, no Bairro Dom Cabral, e destaca a importância do esporte como forma de livrar a juventude de vícios e conta que seu sonho é ser goleiro. Lucca de Souza Moura, 11 anos, quer ser jogador de futebol e sempre pede a sua treinadora que continue tirando os garotos das ruas e incentivando o esporte e os estudos. Com o apoio dos pais e da comunidade, Marlei consegue que as crianças não deixem de frequentar os treinos, para que possam ter um bom desempenho nos jogos. "A população gosta, pois já me conhece há bastante tempo e tem confiança no meu trabalho, e sempre estou marcando reuniões com os pais para acompanhamento dos garotos no dia a dia", afirma. Apesar da ajuda da população local, existem algumas dificuldades para continuar com o projeto. "Quanto ao apoio para a realização das atividades não tenho nenhum, conto com a ajuda do treinador João Baiano com os uniformes nos dias de jogos e auxiliando no treinamento das crianças. Falta materi- al básico para o treinamento como pratinhos, cone, chuteiras, bolas de futebol proporcionais à idade das crianças, lanches nos intervalos de treinamentos e dias de jogos", explica Marlei. Atleticana de coração, Marlei sempre teve o sonho de ser uma atleta profissional. As dificuldades e falta de auxílio financeiro fizeram com que ela transferisse seu sonho para todas as crianças que ajuda, se realizando a cada conquista dos pequenos. A treinadora quer não só transformálos em jogadores de futebol, mas, principalmente, que eles tenham uma boa formação, evitando as drogas e criminalidade. "Falta muito apoio para o futebol, principalmente para o futebol feminino onde tentei jogar, mas por várias dificuldades não consegui meu objetivo de seguir carreira. Procuro passar para as crianças tudo que aprendi e possa ajudar em seus futuros", conclui. Projeto Convivência de Idosos ajuda Vila São José RENATA FONSECA n SAMARA NOGUEIRA, 3º PERÍODO É em um galpão na Vila São José que todas as quintas-feiras o Grupo de idosos "Reflorescer" se reúne para conversar, dançar, cantar e fazer atividades físicas. Na última quinta-feira, dia 9 de dezembro, às 14h30, o grupo se reuniu ao som das músicas de Roberto Carlos para realizar uma confraternização de fim de ano, nela eles apresentaram musicas natalinas no coral, dançaram e fizeram dinâmicas relacionadas à união. O grupo foi fundado há 13 anos por mulheres da comunidade, que resolveram se reunir para conversar e trocar experiências. "Eu e mais oito mulheres resolvemos fundar o Grupo para a gente ter um meio de comunicação, para a gente trocar experiências e fazer trabalhos manuais", explica Maria Ferreira Pascoal. Com a chegada do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) na Vila São José há seis anos, a coordenação do grupo "Reflorescer" foi transferida para equipe de assistência social e de psicólogos do local, que desenvolveram com os integrantes do grupo o Projeto Convivência de Idosos. O acréscimo do projeto ao grupo aumentou o número de Grupo de idosos se reúne, uma vez por semana, na Vila São José, para trocar experiências e participar de manifestações culturais atividades realizadas por eles, ou seja, o grupo além de realizar atividades manuais, passou a praticar esportes, dançar, cantar, visitar lugares turísticos, realizar projetos sociais, conhecer mais sobre os direitos dos idosos e, principalmente, passaram a refletir e a entender sobre a importância dessas atividades em suas vidas. "Antes era basica- mente artesanal, mas hoje a gente vê a importância da ampliação. Ficar só no trabalho manual, sem reflexão fica esvaziado", afirma Liliane Batista, uma das coordenadoras do projeto. Além dessas atividades são realizadas para o grupo palestras sobre saúde, estatuto do idoso ou outros assuntos requisitados por eles. "A gente procura traba- lhar assuntos relacionados à idade idosa. Mas, também ouvimos do grupo, assuntos que eles têm interesse", explica Liliane. Maria Conceição Sobrinho, uma das integrantes do grupo, conta sobre a importância das palestras. "As palestras são muito boas, ajudam muito a gente. Já vieram médicos, farmacêuticos", afirma. Renato Mota, também coordenador do Grupo de Convivência de Idosos explica sobre a importância que o projeto tem na vida dos integrantes do grupo. "Eles veem isso daqui como espaço deles, um lugar que eles tentam se expressar. Muitos deles só ficam em casa, então esse é o lugar que eles vêm para fazer algo", afirma. Liliane também acrescenta sobre as modificações que ela percebeu com o desenvolvimento do trabalho. "A principal modificação é a autonomia porque quando a gente começou era um grupo ainda muito dependente, o que a coordenação passava todos concordavam. Hoje, é um grupo totalmente participativo. A gente sabe que se não viermos algum dia eles dão conta de fazer o encontro sozinhos", conta. As modificações não são apenas notadas pelos coordenadores. Maria Conceição Sobrinho, por exemplo, afirma que após começar a participar do grupo sua depressão sumiu. Já Orlando Gomes da Silva conta que seu conhecimento sobre saúde melhorou depois que passou a ser mais participativo e menos sozinho. "Mudou muita coisa, eu ficava muito sozinho, aqui eu tenho mais companhia. Aqui é muito bom, a gente aprende sobre a saúde", afirma. Educação Dezembro • 2010 15 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas Projeto Comunica Escola viabiliza a comunicação interna da Escola Municipal São Rafael, Região Leste de Belo Horizonte. O conteúdo da Rádio MP3 é produzido pelos próprios alunos com a ajuda de seus professores e é reproduzido durante o recreio RÁDIO EM ESCOLA MUNICIPAL MUDA A ROTINA DE ALUNOS CARLOS EDUARDO ALVIM n CÍNTHIA RAMALHO, CARLOS EDUARDO ALVIM, 4º E 3º PERÍODOS Quando bate o sinal do recreio a rotina da Escola Municipal São Rafael, no Bairro Pompéia, Região Leste de Belo Horizonte, muda. Entre as brincadeiras, gritos e correria, um som diferente chama a atenção dos alunos: "Bom dia, está no ar a Rádio MP3, comunicando com a escola e com vocês". A voz é da estudante Jennifer Carolina Alves Duarte, 13 anos, que de um pequeno cômodo debaixo da escada, inicia mais uma edição da rádio escolar. Basta tocar a primeira música para que os demais alunos da escola se aproximem da rádio para acompanhar a programação. A euforia é grande, todos querem participar e escolher as canções que serão tocadas por meio das seis caixas de som espalhadas por toda a escola. Foi trabalhando na rádio que Jennifer perdeu a timidez e começou a interagir mais com os ou tros alunos. Ela conta que quando chegou à Escola Municipal São Rafael, não tinha muitos amigos e passava a maior parte do tempo sozinha. A iniciativa deu certo, já que Jennifer, além de locutora, também é responsável por recolher recados para serem dados durante a programação e por isso, já é reconhecida e fez amizade com vários alunos. "Na rádio eu aprendi a conversar mais com os outros meninos. Hoje, eu tenho muitos amigos", afirma. Além de Jennifer, a programação da rádio é feita por outros 19 alunos. Gladson de Souza Santos, 10 anos, é um dos mais novos do grupo. Ele é aluno da 3ª série e mesmo com a pouca idade, já sabe mexer em todos os programas necessários para colocar a rádio no ar. "Eu quis entrar porque é muito bom para comunicar com as pessoas. O que eu mais gosto é de comunicar com as pessoas, passar os recados e tocar as músicas que elas gostam", conta. Bruno Martins está cursando a 8ª série na escola São Rafael e é o DJ da rádio MP3. Ele conta que os estilos musicais preferidos entre os alunos são funk, axé e pagode, além disso, por intermédio do trabalho na rádio, já faz planos para o futuro. "Eu pretendo continuar nessa área. Quando for mais velho, quero ser DJ profissional", diz. Jennifer e Gladson fazem parte do grupo de alunos responsáveis pela rádio Através de oficinas, os alunos aprenderam a criar vinhetas e fazer locuções Aluna da escola há apenas um mês, Lívia Fernanda, 15 anos, está na 5ª série e descobriu a rádio por meio dos novos amigos. Ela conta que acha o trabalho de edição dos programas uma das partes mais difíceis, porém, não esconde a satisfação em participar da rádio. "O que eu mais gosto? De tudo. Acho que todo mundo aqui gosta de tudo. É muito bom", revela. A Rádio MP3 é resultado do Projeto Comunica Escola, que tem atividades dentro do Programa Escola Integrada desde outubro de 2008. A iniciativa promovida pelo Governo Federal, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, busca viabilizar a comunicação dentro das escolas, por intermédio de oficinas e dinâmicas com alunos e com a criação de uma rádio. Para a professora comunitária e coordenadora do Programa Escola Integrada da Escola Municipal São Rafael, Orquídea de Deus, a rádio além de ajudar nos trabalhos, vai favorecer toda a comunidade. "É uma rádio muito versátil. Ela é de utilidade para todos os alunos e também para os moradores. Nós tivemos a preocupação de colocar uma caixa de som direto para a rua. Para qualquer evento, para qualquer coisa que a comunidade queira falar ou comunicar, a rádio será um espaço aberto", diz a coordenadora. De acordo com Orquídea, todo o conteúdo veiculado, vinhetas e músicas, foi produzido e selecionado pelos alunos durante as oficinas. O nome da rádio também foi escolhido por votação entre os estudantes. Valéria Simões de Carvalho, diretora da escola, acredita que a rádio ajudou a melhorar a disciplina. Segundo ela, os alunos que participam do projeto adotaram uma nova postura na escola. "Meninos difíceis, agora são alunos que tem um comportamento bem melhor, são meninos que já dão conta de resolver as questões da rádio, e que procuram melhorar o ambiente escolar", afirma. A professora da 3ª série, Eliana Barbosa vê a rádio como mais uma aliada para o trabalho pedagógico. "A gente pode enriquecer o trabalho da gente com músicas, com recados, com poesias. E eu sinto que eles têm muita vontade de participar da rádio como um espaço democrático", conta. Instrutores nas UMEIs ajudam alunos deficientes RENATA FONSECA n SAMARA NOGUEIRA 4º PERÍODO Desde 2001 crianças e adolescentes com deficiência em Belo Horizonte são beneficiadas na rede pública de ensino, pois contam com a ajuda de estagiários e instrutores para auxiliá-los durante as aulas. Segundo Jussara Fátima Liberal, gerente de educação da Regional Noroeste, a inserção dos estagiários ou instrutores nas escolas aconteceu para facilitar a interação do deficiente com o professor e os outros alunos da sala e, dessa forma, melhorar seu desenvolvimento durante o ano letivo. O projeto atende atualmente a 323 crianças matriculadas em 24 escolas diferentes de Belo Horizonte. Para participar do projeto o candidato, primeiramente, precisa se inscrever no site da PBH e, de acordo com as necessidades das escolas, será selecionado para uma entrevista com a diretora. Entretanto, para que ocorra essa etapa final são levadas em consideração outras características do candidato, como a localização de sua residência. "São consideradas a proximidade da residência dele com a escola e se possui aptidão para trabalhar com crianças", explica Jussara Liberal. Patrícia Cristina dos Santos, mãe de Patrick, que possui deficiência auditiva, diz que depois que a prefeitura disponibilizou uma instrutora de libras na UMEI, o desenvolvimento de seu filho melhorou muito. "Antes da instrutora, no meu modo de ver, ele ia mais para escola para brincar, porque não A instrutora Daniésia Rocha auxilia e acompanha o aluno Patrick Santos durante as aulas fazendo a interpretação de libras para ele entendia o que estava acontecendo, o que estavam falando. Agora já melhorou a escrita, sabe escrever o nome e se comunica mais", afirma. Wuanda Nascimento, estagiária de Maria Eduarda Ferreira, de três anos, que possui paralisia cerebral, também ressalta as modificações no desenvolvimento da criança desde o início do trabalho, em agosto de 2010. "A Maria Eduarda desenvolveu muito. A coordenação motora dela melhorou, ela já pega na canetinha e tenta fazer os desenhos", conta. A mãe de Maria Eduarda, Vera Lucia Ferreira, acredita que o fato da estagiária entender a filha e das duas terem uma ótima relação, ajudou na adaptação e no desenvolvimento dela dentro da escola. "Ela entende as vontades dela, ela sabe o que ela quer e a Maria Eduarda a adora”, ressalta. Além de ajudar as crianças, a presença das estagiárias na sala de aula, segundo a coordenadora da UMEI, Márcia Maria Dias, ajuda também os professores. "Eles ficam menos sobrecarregados e aprendem a lidar mais com as especificidades das crianças com deficiência", afirma. Kênia Rezende, professora de Patrick, também compartilha dessa opinião, pois, afirma que o acompanhamento realizado pelo estagiário não só ajuda os alunos, mas também o seu trabalho. "Ela não está ensinando só ele, ela está me ensinando e está ensinando a turma", explica. A inclusão de crianças com deficiências na sala de aula, segundo a coordenadora da UMEI, é impor- tante, pois, as outras crianças aprendem a lidar com a deficiência com naturalidade. "Para as outras crianças taxadas normais, ter um convívio com crianças especiais é importante, pois eles aprendem a respeitar, aprendem a cuidar, você vê o respeito crescendo com a idade. Além de respeitarem, eles tem normal o diferente. Eu acho isso bonito, porque com isso eles vão chegar lá fora e vão ver pessoas cegas, surdas, ou com qualquer outro tipo de deficiência e não vão se chocar", diz. TREINAMENTO Quando as estagiárias da inclusão são selecionadas elas recebem um treinamento que é comum a todas as demais estagiárias da prefeitura. "Elas recebem um treinamento que é para todos os estagiários da Prefeitura de Belo Horizonte não somente os da inclusão", explica a gerente de educação da Regional Noroeste. Durante esse treinamento é explicado, segunda Wuanda, sobre diversas deficiências físicas ou mentais e sobre os direitos e deveres de um estagiário. Entretanto, para Márcia Dias, deveria existir um treinamento mais específico para cada tipo de deficiência, pois, segundo ela, as estagiárias chegam lá quase sem nenhuma informação, o que dificulta o trabalho. "O treinamento deveria ser obrigatório, eles deveriam vir aqui e treinar as professoras e as estagiárias antes do início do trabalho. Deveriam ensinar como trabalhar com aquela criança, quais vão ser suas limitações, facilidades, porque assim a gente não se cobra tanto. Eu, por exemplo, quando fico sabendo qual vai ser o tipo de deficiência que a próxima criança incluída vai ter, pesquiso na internet e passo para as estagiárias", explica. Além disso, ela também diz que essa é a única deficiência que o programa apresenta, já que, em relação aos materiais como livros, vídeos, cadeiras especiais, que as crianças precisam a prefeitura sempre envia. Jussara Liberal esclarece que, durante o estágio, a Prefeitura envia uma técnica pedagógica, que vai à escola verificar como está sendo realizado o trabalho e oferece mais informações sobre o deficiente que está sendo acompanhado. "A própria escola aponta os casos, e a acompanhante vai vendo a necessidade de estar colocando esses estagiários mais preparados para lidar com as crianças. Mas, para nós, é ainda um desafio lidar com isso", desabafa. entrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevista Entrevista GOLEIROS [ ][ ] “MUITAS PESSOAS “A SELEÇÃO VIROU FALAM QUE CHEGAR NA SELEÇÃO NOVO ATRAPALHA, MAS NO MEU CASO NÃO” UM POUCO DE COMÉRCIO, DE MEIO DE EMPRESÁRIOS, QUE PREJUDICA” CAIO BARROSO DIVULGAÇÃO L O G O N A I C N Ê I R E P X E E O Ã REVELAÇ n Você tinha 15 anos quando você veio para o Atlético- MG, como que foi sua adaptação? Eu vim para cá eu tinha de 14 para 15 anos. Minha mãe teve que vir para cá, ficou umas duas, três semanas aqui, porque eu não estava aguentando, eu só chorava. Ela veio e ficou comigo aqui, ai deu tudo certo. Eu morei aqui na Cidade do Galo 5 anos. Faz um ano que eu saí daqui. n Quando você descobriu que queria ser jogador profissional? Eu sempre gostei de futebol, meu pai sempre gostou de futebol e em Nobres, ele tinha uma equipe amadora e eu sempre convivi dentro desse meio, sempre viajando para onde a equipe viajava e sempre gostando do que eu fazia ali . Daquele meio, convivendo com aqueles jogadores amadores, mas que foram fundamentais para o meu crescimento dentro do futebol, desse gostar de futebol, então foi muito gratificante. n Como foi sua experiência na seleção? A primeira convocação minha foi com 15 anos. Foi uma experiência nova na minha vida, que me ajudou muito. Muitas pessoas falam que chegar à seleção novo atrapalha, mas no meu caso não atrapalhou em nada, me deu mais experiência, mais concentração no que eu estava fazendo, porque a responsabilidade aumenta por ser da seleção. n Sua primeira opção no futebol, foi a posição de goleiro? É, eu sempre gostei de jogar no gol, desde muito novo, desde as equipes escolares, em que eu participava, sempre joguei futsal, primeiramente, depois passei para futebol de campo. O único esporte que eu joguei na linha foi o handebol, e eu gostava muito e já usava bastante as mãos, então eu já tinha facilidade, mas o restante sempre jogando no gol, desde muito novo e sempre gostando do que eu fazia, muitas vezes a pessoa vai para o gol não gostando, por falta de opção na linha e acaba indo para o gol e ai começa a ver que tem condições de seguir naquela posição, mas no meu caso já foi diferente, eu sempre atuei mesmo desde criança no gol e sempre me adaptei muito rapidamente. n O Celso Roth foi o técnico que promoveu sua subida para o profissional. Como que foi trabalhar com ele? Ele conversava comigo para eu continuar trabalhando, continuar dedicando. Ele dizia que para eu manter as boas atuações que eu estava tendo nas categorias de base, na seleção, eu tinha que continuar com o meu trabalho no profissional, que uma hora minha oportunidade ía chegar. n Qual a diferença entre a forma de trabalho de Dorival Júnior e Luxemburgo? O professor Dorival está mais perto do grupo, conversa mais, não é muito de dar tanta dura. Ele tenta resolver o problema mais no diálogo. A diferença eu acho que é isso, o diálogo, e ele estar presente com a gente. n Você tem alguma mágoa do Luxemburgo? Não tenho mágoa nenhuma não. Eu tenho muito a agradecer a ele. Querendo ou não querendo eu aprendi muito com ele. Não tive a oportunidade de jogar com ele, mas aprendi muito também. n Em 2000, você teve uma breve passagem pelo Cruzeiro, participando de apenas dois jogos. Naquele ano, a equipe foi comandada pelo técnico Marco Aurélio e foi campeã da Copa do Brasil. Como foi essa experiência para você? Vim mais para pegar experiência e tive oportunidade de ficar na reserva naquela época do André e tendo oportunidade de participar de um grupo com grandes jogadores, que tinham vivido grandes experiências em outros clubes. Então foi gratificante ter aquela oportunidade de trabalhar naquela época no Cruzeiro, e ainda me tornar campeão da Copa do Brasil. Foi mais um momento que eu aprendi e levei para o resto das equipes que eu passei, a convivência que eu tive aqui e a dedicação, graças a Deus, hoje eu tive a oportunidade de retornar. n Apesar de novo, você já tem uma filhinha. Este tipo de responsabilidade o ajudou a amadurecer? Sim, com certeza. No começo, quando eu fui ter a filha, para mim era a pior coisa que estava acontecendo, mas hoje eu vejo que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. É uma experiência nova, você ganha mais responsabilidade e amadurece mais rápido. Renan Ribeiro criticas, principalmente antes da sua entrada na equipe, o que você acredita que estava acontecendo? Vínhamos sofrendo muitos gols de bola parada. Com o professor Luxemburgo a gente não treinava muito. Então, o diferencial do treinador, do Dorival é a bola parada, e o fato dele estar presente com a gente, conversando com a gente. Eu acho que a minha entrada na equipe foi boa para o grupo todo. Não desmerecendo os outros jogadores que estavam na posição, mas eu acho que eu pude contribuir. n CAIO BARROSO, LÍDIA LIMA, LUIZA SALLES, PATRÍCIA DIAS, 2º PERÍODO Aos 20 anos, Renan Ribeiro terminou 2010 como titular do gol do Atlético-MG e um dos destaques do time alvinegro, a partir da troca de Vanderlei Luxemburgo por Dorival Júnior. Dez anos mais velho, Fábio teve mais uma temporada de sucesso pelo Cruzeiro, coroada com o prêmio de melhor goleiro do Brasileirão, em premiação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Referências para seus torcedores, os dois atletas trazem a paixão pelo futebol desde a infância. O jogador atleticano veio de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, ainda menino para Belo Horizonte, onde atuou nas categorias de base do clube até se firmar como titular. Ele traz na bagagem conquistas como o Campeonato Sul-Americano Sub-20, pela Seleção Brasileira, em 2009 e o Campeonato Mineiro de 2010. Fábio saiu da cidade de Nobres, no Mato Grosso, e está no Cruzeiro, desde 2005, depois de uma primeira passagem sem brilho pelo clube. Pelo time celeste, o camisa 1 foi três vezes campeão mineiro, vice da Libertadores e vive do Brasileiro este ano. Enquanto Renan sonha em chegar à Seleção Brasileira principal, Fábio, que foi campeão Mundial e Sul-Americano, com a equipe Sub-17, em 1997, já foi convocado por Dunga e aguarda chance com Mano Menezes. n Como você encara a responsabilidade de ser goleiro de um grande time do Brasil? Eu encaro isso com muita humildade, muita responsabilidade de estar assumindo a camisa do Atlético. Para mim foi um período longo de trabalho, para eu estar me adaptando mais rápido no profissional, e para quando chegasse minha oportunidade não ser pego de surpresa. n Em relação à rivalidade entre Atlético e Cruzeiro, como foram suas experiências nas categorias de base? Como foi para você o primeiro clássico como profissional, no qual você foi um dos destaques da partida, garantindo um resultado importantíssimo, que tirou o time da zona de rebaixamento e o maior rival da liderança? Na categoria de base eu joguei três clássicos, ganhei dois e empatei um. Agora com o profissional foi uma experiência nova na minha vida. No momento encarei como apenas mais um jogo, claro que com responsabilidade a mais, por ser clássico, mas fico feliz por ter dado tudo certo e o principal foi Atlético estar vencendo. n Você tem se revelado um jogador de muita personalidade, que cobra bastante dos seus companheiros, principalmente da zaga. Como é para você que está começando a carreira agora, sendo mais novo, cobrar de jogadores que já possuem uma história no futebol? Acho que dentro de campo iguala muito. Eles podem ser mais velhos, mas a posição que eu jogo exige muita personalidade e muita responsabilidade. Eles mesmos pedem para que eu ajude, posicionando eles. Por mais experiência que eles tenham, exige muito do posicionamento. Eu que estou vendo tudo. Devo respeito a eles, mas dentro de campo tem que cobrar mesmo. n Você acha que um jogador vindo da categoria de base, realmente tem uma relação diferente com o clube? Quando o jogador vem da base o cara tem mais responsabilidade, a cobrança é maior, porque a origem é a base. O valor que esses jogadores têm é diferente. Fábio Maciel n O setor defensivo vinha sofrendo muitas n Há mais de cinco anos vestindo a camisa do Cruzeiro, você já viveu altos e baixos como titular da meta celeste. Como você vê esta fase de sua carreira? Eu passei momentos de adaptação e isso foi muito importante para meu crescimento como pessoa e também como profissional, eu tinha vivido coisas muito boas dentro de outras equipes, dentro da Seleção Brasileira e nunca tinha passado um momento difícil. Eu tive esse momento aqui no Cruzeiro, logo após a perda do título minero de 2007 para o Atlético, mas Deus foi comigo e me deu uma nova oportunidade de mostrar dentro de campo, porque eu tinha sido contratado pelo Cruzeiro. n Você teve algum problema com alguém da comissão técnica ou alguém da CBF, que impeça sua convocação? Bom, eu fui convocado pela última vez nas primeiras convocações do Dunga, no ano de 2006, onde eu tinha feito um excelente trabalho naquele ano, e tive oportunidade, o Dunga estava assumindo a seleção, depois da derrota na Copa da Alemanha, na saída do Parreira (Carlos Alberto) e eu tive essas oportunidades. Mas a gente fica meio sem saber como estar falando dessas coisas que acontecem dentro da seleção, porque às vezes você acha que esta agradando e às vezes não está agradando, e eu sempre tive dentro da seleção, cresci dentro da seleção, passei por todas as seleções de base e pela seleção profissional. Venho fazendo um ótimo trabalho, tendo uma meta boa de jogos e sempre tentando ter um equilíbrio dentro dessas partidas e no possível, me destacando no momento em que eu sou exigido e eu não posso também ficar pensando no que está acontecendo. n Você acredita que se estivesse atuando em algum time do eixo Rio - SP ou em algum time de expressão do exterior já teria sido convocado pelo Mano Menezes? Eu não gostaria de pensar dessa forma, porque o Cruzeiro hoje é uma equipe grande em todos os aspectos, tanto dentro do Brasil como no exterior, pelas conquistas que tem, pelo histórico, então não gostaria de pensar dessa forma, espero que eles tenham consciência e convoquem quem está melhor no momento, e quem tem condição de vestir a camisa da Seleção Brasileira por merecimento e também por querer estar dentro da seleção. n Faltando pouco mais de três anos para a Copa do Mundo no Brasil, qual é a sua expectativa para estar nesse grupo? Bom, expectativa sempre existe, porque você vem se destacando dentro do seu clube, e seleção sempre foi isso, você se destacar na sua equipe para ter a oportunidade de estar representando seu pais, há alguns anos a gente não esta vendo dessa forma, a seleção virou um pouco de comércio, de meio de empresários, que prejudica e fica sem transparência e até o torcedor começa a ver isso e começa a não torcer pela Seleção Brasileira, por que a gente já viu ai ao longo dessas competições que o Brasil participou, o torcedor muito desacreditado na seleção, mas a expectativa é sempre que melhore com a mudança do treinador e que ele tenha critérios sempre corretos para que possa fazer uma seleção que o povo goste de assistir e goste de torcer.