“PURO CAPITALISMO OU CAPITALISMO PURO” Aquele que detém o capital financeiro e só se interessa por dinheiro, faz o papel do usurário Shylock na peça de Skakespeare “O Mercador de Veneza”, que é capaz de cobrar seu empréstimo diretamente na “carne” do tomador. Nem todos se comportam desta maneira, mas são necessários certos cuidados ao negociar com os vários tipos de investidor. Investidores financeiros puros tratam somente de seus interesses econômicos, pois essa é sua matéria prima básica, portanto nós empreendedores que possuímos o capital intelectual, para crescer, ficamos na dependência destes possuidores do capital financeiro que cultivam o amor ao dinheiro como seu ideal de vida, que superam em muito o interesse pelo seu negócio. Investidores institucionais, estes se interessam um pouco mais pelo seu negócio, embora o seu principal interesse ainda seja financeiro, pois tem que remunerar os Fundos de Pensão dos funcionários e Fundos de Investimento. Investidores estratégicos se interessam muito mais pelo seu negócio do que qualquer outro tipo de investidor, mas podem tomar o seu negócio para eles, pois são maiores e mais bem organizados, além de possuírem o precioso capital financeiro. Investidores de risco se interessam pelo seu negócio na medida em que o mesmo possa crescer e lhes trazer o merecido retorno sobre o investimento de risco e atuam na gestão estratégica do seu negócio com o intuito de trazer lucro para todos os sócios, correndo o risco junto ao empreendedor, portanto seu interesse é mais econômico do que financeiro. Se não existissem essas diferenças, só teríamos no mercado aves de rapina e predadores ávidos de uma boa carne ali a sua disposição e a mercê de seus interesses, leiam-se juros. Nem tanto a terra e nem tanto ao mar. Um precisa do outro, o investidor necessita do empreendedor para aplicar o seu dinheiro. O Empreendedor necessita de capital para crescer. Os governos devem dar uma chance aos empreendedores, colocando à disposição do mercado programas de incentivo e linhas de crédito a juros baratos, sob pena de condenar toda uma geração, a inércia econômica em função de poucos fundos de capitais de risco disponíveis no mercado. A sociedade indefesa “prefere” ser esfolada por capitalistas e/ou investidores financeiros por absoluta falta de alternativas e, muitas vezes ainda condenam alguns governos que tentam ainda que de maneira primária, fornecer o capital faltante aos homens que almejam construir algo. Esse desamor ao negócio é uma característica individualista do investidor, e esse comportamento não nos levará a bom termo em função da instabilidade econômica. É como se fosse um casamento de interesse, que ao primeiro percalço, segue-se a ruptura do acordo entre as partes. O capital não suporta demora em sua remuneração de juros, nem pensar em fracassos empresariais que levam o seu principal, tanto é que os governos criaram Agências de Fomento, Organismos financeiros como o BNDES e o BID e outros que tentam em vão financiar a produção de bens e serviços em sociedades economicamente organizadas. Ao vermos tantas fusões e aquisições seqüenciais, isto é, uma compra e recompra de empresas privatizadas cujo empreendedor alega que não agüentou a pressão da demanda de mercado, mas já planejava repassar o seu negócio para o próximo oportunista de plantão, é que entendemos como se processa o puro capitalismo. Repassar uma empresa ou negócio como se fosse algo descartável, gera inúmeros prejuízos a todos alem de trazer insegurança para a sociedade e os investidores. Nesse momento percebemos que aquele puro investidor financeiro é um lobo travestido de cordeiro, pois foi oportunista e encontrou um negócio temporário, onde pretendia somente engordar seus lucros optando por uma aplicação alternativa de seu capital que o remunerasse melhor do que as taxas correntes de mercado, ou seja, do custo de alternativas. Esses oportunismos não trazem o desenvolvimento econômico desejado para o Brasil. Seria melhor que o debate entre aquele pró-desenvolvimento e os monetaristas do Governo fosse transformada em ações mais concretas em favor do crédito a juros saudáveis. Portanto, nem falar de Bancos comerciais travestidos de Bancos de Investimentos. Esses odeiam o risco, só apostam temporariamente em certezas, pois na primeira oportunidade, retira seus recursos, o seu aval e deixam o empresário estupefato com o patrimônio em máquinas, equipamentos e pessoas falando sozinho e a sociedade perde como um todo, pois a empresa desaparece, o governo não arrecada mais os impostos, o pessoal perde seus empregos, os fornecedores de máquinas e equipamentos aumentam a sua inadimplência e perdem novas vendas, enfim todos perdem. Será que não haverá bom senso em termos de investimentos? Talvez a nova lei de falências possa minorar os estragos na economia. Nos parece que o bom senso irá prevalecer, pois as linhas de crédito de Banco de Investimento como o BNDES ou de outros órgãos como o FINEP do mesmo Banco, não conseguem interessar os bancos repassadores, pois estes não querem correr riscos, e portanto preferem não emprestar para pequenos e médios empresários em fase de crescimento, muito menos em negócios iniciantes, os chamados “start- up’s. Logo o sistema de repasse a bancos comerciais com esse tipo de comportamento é totalmente ilusório. O jogo continua, pois estes investidores não se interessam por nada que não sejam os lucros e mais lucros, quanto mais, melhor, e riscos, menos riscos, quanto menos, melhor. Logo voltamos ao impasse inicial. Os governos não têm estrutura para disseminar a cultura do empréstimo de riscos ao investidor privado, apesar de termos instituições como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal que algumas vezes arriscam investir em empréstimos menos garantidos ou mais arriscados, no intuito de financiar o crescimento das empresas e algumas vezes não são bem compreendidos pela sociedade que ainda considera que esse não é o papel dessas instituições, pois a população que pagou impostos que geraram o capital dessas instituições não podem correr os riscos com o capital “público”. Grande engano, pois continuam a ser reféns dos predadores, sem outras chances de quebrar estes paradigmas de investidores oportunistas e ainda por cima impedem o crescimento dos negócios como um todo. Por analogia ao reino da vida animal, o predador que acompanha os rebanhos de zebras inertes, que até aceitam a sua convivência, mesmo sabendo que aqueles predadores, vão um dia os abocanhar dentro da fatalidade da cadeia alimentar animal. Quando vemos estes filmes na TV, onde enormes manadas de zebras ou gazelas são acompanhadas pacificamente durante o trajeto da sua migração, pelos leões, que ao menor sinal de fraqueza de uns, devoram suas vítimas no momento de fome. Até nos dá vontade de dizer para as zebras fugirem ou correrem, mas ao vermos a sua passividade, percebemos que esse comportamento animal atávico se repete nas nossas relações comercialfinanceiras, isto é, convivemos pacificamente com os nossos predadores, até que o dia em que estivermos fracos seremos engolidos sumariamente. Conclusão Felizmente temos uma solução melhor para a nossa vida econômica do que aceitar a simplicidade da natureza e a fatalidade de sermos devorados pelos nossos semelhantes. Devemos nos esforçar para estimular o crédito bancário saudável e os investidores de risco, ainda mais que recentemente os Fundos de Pensão estão retomando investimentos em Fundos de Private Equity e a BOVESPA MAIS lançou o Mercado de Acesso para médias empresas, que permitirão acesso mais fácil ao mercado de capitais. Roberto Cintra Leite é sócio-diretor da Cintra Leite Consultores de Gestão Empresarial, empresa especializada em Formatação e Implantação de Sistemas de Governança Familiar, Corporativa e Fundacional. Foi membro da ABVCAP / SP e do subcomitê de Gestão de Riscos do IBGC. É Conselheiro da UCBEU e membro do Conselho Fiscal do CIEE / SP. Site: www.cintraleite.com.br E-mail: [email protected] Tel: 3816-7555 ou 3294-3485