Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais Aplicadas Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas Capital intelectual e a criação de valor nas empresas brasileiras Flavio L. Richieri São Paulo 2007 Flavio L. Richieri CAPITAL INTELECTUAL E A CRIAÇÃO DE VALOR NAS EMPRESAS BRASILEIRAS Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas Orientador: Prof. Dr. Leonardo Fernando Cruz Basso São Paulo 2007 FICHA CATALOGRÁFICA Richieri, Flavio L. Capital Intelectual e a criação de valor nas empresas Brasileiras / Flavio Luiz Richieri -- São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007. Nnn f.; 30 cm. Dissertação – Mestrado Bibliografia 1. Administração de empresas 2. Capital intelectual 3. Ativos intangíveis 4. Gestão do conhecimento 5. Geração de valor. I. Título. CDD – 658 Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Professor Dr. Manasses Claudino Fontelis Coordenadora Geral da Pós-Graduação Professora Dra. Sandra Maria Dotto Stump Diretor da Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Professor Dr. Reynaldo Cavalheiro Marcondes Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Administração de Empresas Prof. Dra. Eliane Pereira Zamith Brito Dedico esta dissertação à minha esposa, cúmplice e eterna companheira Kátia e às minhas amadas filhas, Bheatriz e Júlia. Vocês são meu porto seguro e minha maior fonte de força e inspiração. AGRADECIMENTOS “Sinto que da vida, eu sempre recebi muito mais do que sonhei !” Esta frase, que ouvi há pouco tempo, quando um amigo recebia uma homenagem, reflete exatamente como me sinto neste momento. Não creio que haja no mundo pessoa com mais a agradecer do que eu ! Portanto, quero aqui, de coração, agradecer: A Deus por uma vida cheia de paz, saúde, amor, realizações, desafios e, aprendizagem. Ao meu orientador, Prof. Dr. Leonardo F. C. Basso por seu irrestrito apoio, conhecimento, entusiasmo, paciência e confiança. Aos professores Dr. Diógenes L. Martin e Dr. Rubens Famá, cujas recomendações durante o processo de qualificação foram fundamentais ao desenvolvimento desta pesquisa, e o apoio durante a fase de análise dos dados foi inestimável. A toda equipe do Mackenzie pelo suporte e pelos ensinamentos, em especial, aos professores Dr. Wilson T. Nakamura, Dr. Eduardo K. Kayo e Dra. Eliane P. Z. Brito. A todos os colegas de curso com que tive a honra de conviver, dividindo alegrias, angústias e realizações. Dentre eles, minha admiração e um obrigado muito especial para: Eduardo, Rogério, Celso, Cardoso, Alexandre, Necésio e Kerr. Aos amigos: Élcio, Sidney, Regina, Rodolpho, Richard, e ao meu irmão Fernando. As várias conversas com cada um de vocês, o incentivo que recebi de vocês, além das suas críticas e sugestões, foram vitais para a realização deste trabalho. Aos senseis Ono Shihan, Lila e Ricardo, que através do caminho do budo, nesses mais de 16 anos de treinamento, tem me ensinado sempre o valor do refinamento, da disciplina e da persistência. Aos meus pais Sérgio e Teresa, aos meus padrinhos Tizano e Lizete e aos meus avós Lauro e Custódia, que se constituem na base da minha formação como indivíduo, que sempre me apoiaram, e, desde cedo, me ensinaram através de seu exemplo, o valor da educação, da integridade e da responsabilidade. Em especial, à minha esposa Kátia e às minhas filhas, Bheatriz e Júlia, por entenderem a minha ausência e as limitações que esse processo impôs à família, e por estarem sempre ao meu lado me aceitando, incentivando e amando. “A sabedoria tem início na curiosidade” Sócrates RESUMO As evidências apontam para uma participação crescente do capital intelectual e dos ativos intangíveis na economia. Esse fato torna crítico encontrar formas para medir o capital intelectual das empresas e entender a relação deste com a criação de valor das mesmas. Afetando assim, não apenas os gestores, que possuem um acesso diferenciado e abrangente aos diversos aspectos operacionais das empresas, mas principalmente, os investidores e demais partes interessadas externas às empresas. Para os últimos, a construção de índices capazes de medir capital intelectual da empresa, desenvolvidos com base em informações financeiras e contábeis disponíveis, e o estudo da associação desses índices, com a geração de valor das empresas, podem fornecer uma perspectiva nova e fundamental para a análise de investimentos em empresas intensivas em capital intelectual. Esta dissertação faz uso do CIV (Calculated Intangible Value) e do ICE (Intelectual Capital Efficiency), como medidas de estoque e fluxo de capital intelectual respectivamente. Através de tratamento estatístico por regressões multivariadas, e do uso de modelos estáticos de dados em painel (panel data), efetua-se a análise da influência desses índices de capital intelectual, na geração de valor das empresas, aqui medida através dos índices de: ROE (retorno sobre patrimônio líquido); ROA (retorno sobre ativos) e ROS (retorno sobre vendas). O estudo é feito com base numa amostra não probabilística, utilizando dados secundários provenientes da base de dados do anuário “Maiores e Melhores” da revista Exame e contendo 628 observações relativas a 237 empresas no período entre 2000 e 2005. Responde-se assim à questão: Qual é a relação entre o estoque e o fluxo do capital intelectual e a geração de valor da empresa ? Os resultados da pesquisa mostram a existência de relação positiva em relação ao CIV e ao ICE e as variáveis dependentes ROE, ROA e ROS. Mostram ainda que o capital intelectual parece ser um direcionador mais relevante do que o estoque de ativos físicos e financeiros para a geração de valor das empresas. Palavras-chave: Capital intelectual, Ativos Intangíveis, Ativos de conhecimento Geração de valor, Avaliação de empresas, Gestão do conhecimento, Dados em Painel. Linha de pesquisa: Valoração de empresas. ABSTRACT There are evidences suggesting a growing importance of the intellectual capital (IC) and the intangible assets in the economy. Therefore, it is critical to find ways to measure the companies IC, and to understand the relationship between it and their value generation. The pressure for it, affects not only managers, who have a broad and differentiated access to all the operational aspects of their companies, but specially, investors and other stakeholders that are external to these companies. For the former, the formulation of indexes, capable to measure the stock and the flows of companies IC, based on the financial information available, and the analysis of the association, between these indexes and companies value generation, can bring a completely new perspective, fundamental for supporting their investment decisions in intellectual capital intensive companies. This dissertation makes usage of CIV (Calculated Intangible Value) and ICE (Intellectual Capital Efficiency) to measure IC stock and flows respectively. Through the usage of multivariate regressions and application of static panel data models, the influence of IC indexes on companies value generation is analyzed. The value generation perspective is captured by using: ROE (Returnon-Equity), ROA (Return-on-Assets) and ROS (Return-on-Sales) ratios. The research utilizes a non-probabilistic sample, built with secondary data coming from the Exame magazine “Maiores e Melhores” annual survey database, which contains 628 observations from 237 companies in the period between years 2000 and 2005. The following question is addressed: What is the relationship between the stock and flow of IC and company’s value generation ? Results found, suggest the existence of a positive relation between both CIV and ICE and the dependent variables ROE, ROA and ROS. It also shows that IC seems to be a more relevant indicator of value generation than the stock of financial and physical assets. Key-words: Intellectual capital (IC), Intangible assets, Knowledge assets, Value generation, Valuation, Knowledge management (KM), Panel data. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Capital intelectual e geração de valor – Mapa Sistêmico ........................................23 Figura 2 - Capital Intelectual e geração de valor – Diagrama de Estoque e Fluxo...................24 Figura 3 - Capital Intelectual e geração de valor – Problema de pesquisa ...............................25 Figura 4 - Demonstrativos financeiros padronizados – Balanço Patrimonial...........................29 Figura 5 - Demonstrativos financeiros padronizados – Demonstração do Resultado ..............30 Figura 6 - Demonstrativos financeiros padronizados – DVA...................................................30 Figura 7 - Raízes conceituais do Capital Intelectual.................................................................43 Figura 8 - Capital intelectual e valor de mercado.....................................................................53 Figura 9 - Classificações do Capital Intelectual .......................................................................57 Figura 10 - Taxonomia dos Ativos Intangíveis ........................................................................58 Figura 11 - A transformação da vantagem competitiva na era da tecnologia de informação e dos mercados ubíquos...............................................................................................................74 Figura 12 - Cálculo do CIV para a empresa Petrobrás. ............................................................88 Figura 13 - Processo de escolha de estimadores em painéis de dados estáticos.....................116 Figura 14 - Relações e impacto do Capital Humano na geração de valor das empresas........139 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Evolução do estudo sobre capital intelectual..........................................................41 Quadro 2 - Análise de índices usando medidas contábeis simples de desempenho .................71 Quadro 3 - Etapas para o cálculo do CIV .................................................................................85 Quadro 4 - Descrição dos parâmetros utilizados ....................................................................106 Quadro 5 - Descrição das variáveis utilizadas ........................................................................107 Quadro 6 - Modelos de Regressão..........................................................................................108 LISTA DE EQUAÇÕES Equação 1 - Cálculo ROE .........................................................................................................31 Equação 2 - Cálculo ROA ........................................................................................................31 Equação 3 - Cálculo ROS .........................................................................................................32 Equação 4 - Cálculo CE...........................................................................................................33 Equação 5 - Cálculo END_GERAL .........................................................................................34 Equação 6 - Cálculo CRESC_VENDAS ..................................................................................34 Equação 7 - Cálculo VAICTM ...................................................................................................96 Equação 8 - Cálculo ICE ..........................................................................................................97 Equação 9 - Cálculo de VA – Método 1 ...................................................................................98 Equação 10 - Cálculo de VA – Método 2 .................................................................................98 Equação 11 - Cálculo de VA – Método 3 .................................................................................99 Equação 12 - Cálculo VACA....................................................................................................99 Equação 13 - Cálculo VAHU .................................................................................................100 Equação 14 - Cálculo ST ........................................................................................................101 Equação 15 - Cálculo STVA...................................................................................................101 Equação 16 - Termo erro composto – Heterogeneidade e Erro Ideosincrático ......................112 Equação 17 - Transformação em primeira diferença..............................................................112 Equação 18 - Estimador de Efeitos Aleatórios .......................................................................115 Equação 19 - Termo erro auto-regressivo de Baltagi e Wu....................................................127 Equação 20 - Cálculo de ρ com base na estatística DW........................................................128 Equação 21 - Cálculo do ICE através do VAHU....................................................................137 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Amostra : Número de observações por ano e por setor ..........................................105 Tabela 2: Estatística descritiva das variáveis estudadas .........................................................118 Tabela 3: Evolução das variáveis ao longo do período analisado. .........................................119 Tabela 4: Análise das variáveis por setor da economia ..........................................................124 Tabela 5: Análise de correlação entre as variáveis .................................................................125 Tabela 6: Retorno sobre PL (ROE) - Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em Painel ................................................................................................................................................126 Tabela 7: ROE – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel .........128 Tabela 8: Retorno sobre Ativos (ROA) – Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em Painel ......................................................................................................................................130 Tabela 9: ROA – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel .........130 Tabela 10: Retorno sobre Vendas (ROS) – Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em Painel ......................................................................................................................................133 Tabela 11: ROS – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel ........133 LISTA DE ABREVIAÇÕES AFTF Accounting for the Future CE Capital Employed CFROI Cash Flow Return on Investment CIV Calculated Intangible Value CVA Cash flow value added CWP Citation Weighted Patents DRE Demonstrativo de Resultados do Exercício DVA Demonstrativo de Valor Adicionado DW Durbin-Watson EBIT Earns Before Interest and Taxes EBITDA Earns Before Interest Taxes Depreciation and Amortization EVA Economic Value Added FASB Financial Accounting Standards Board GLS Generalized Least Squares GMM Generalized Method of Moments HRCA Human Resource Costing HU Human Capital IAM Intangibles Asset Monitor IASB International Accounting Standards Board ICE Intellectual Capital Efficiency IDE Intangible Driven Earnings KCE Knowledge Capital Earnings KCV Knowledge Capital Value KSC Knowledge Capital Scorecard LSDV Least Squares Dummy Variable M/B Market-to-Book ML Maximum Likelihood MQG Mínimos Quadrados Generalizados MQO Mínimos Quadrados Ordinários MVA Market Value Added NOPAT Net Operating Profit After Taxes OLS Ordinary Least Squares P&D Pesquisa e Desenvolvimento RBV Resource Based View ROA Return-on-Assets ROE Return-on-Equity ROI Return-on-Investment RONA Return on Net Assets ROS Return-on-Sales ST Structure Capital STVA Structure Capital Value Added TSR Total Shareholder Return TVC Total Value Creation VA Value Added VAHU Value Added Human Capital VAIC Value Added Intellectual Coefficient VBA Value Based Accounting VCF Valor de Crescimento Futuro VIF Variance Inflation Factor VRIO Value, Rare, Imitable, Organization SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................17 1.1 Problema de pesquisa................................................................................................22 1.2 Objetivo ....................................................................................................................26 1.3 Hipóteses de pesquisa ...............................................................................................27 1.3.1 Estoque de capital intelectual...................................................................................27 1.3.2 Eficiência no uso do capital intelectual....................................................................27 1.4 Variáveis da Pesquisa ...............................................................................................28 1.4.1 Descrição das Variáveis Utilizadas..........................................................................29 1.5 Estrutura do trabalho.................................................................................................35 2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................36 2.1 Capital Intelectual - Visão geral ...............................................................................36 2.1.1 Ativos Intangíveis......................................................................................................36 2.1.2 Evolução histórica e o crescimento da importância do capital intelectual .............40 2.1.3 O Capital Intelectual e a Teoria da Firma ...............................................................46 2.1.4 Efeitos do Capital Intelectual no cenário econômico...............................................52 2.2 Classificação e constituintes do capital intelectual...................................................56 2.2.1 Capital humano.........................................................................................................58 2.2.2 Capital estrutural......................................................................................................60 2.3 Atributos econômicos particulares dos intangíveis ..................................................62 2.4 A influência dos ativos intangíveis na geração de valor...........................................67 2.4.1 Métricas de criação de valor ....................................................................................68 2.4.2 Capital intelectual, vantagem competitiva e criação de valor .................................73 2.5 Medidas de estoque de capital intelectual.................................................................76 2.6 CIV como um direcionador de valor da empresa .....................................................83 2.7 Medidas de fluxo de capital intelectual ....................................................................89 2.8 VAICTM como um direcionador de valor da empresa ..............................................96 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................102 3.1 Tipo e Método de Pesquisa .....................................................................................102 3.2 População e Amostra ..............................................................................................102 3.3 Composição da Amostra.........................................................................................103 3.4 Tipos de Dados e Instrumentos de Coleta...............................................................104 3.5 Operacionalização das Variáveis Utilizadas...........................................................107 3.6 Tratamento Estatístico dos Dados...........................................................................108 3.6.1 Pooled cross sections..............................................................................................111 3.6.2 Primeira Diferença .................................................................................................111 3.6.3 Efeitos Fixos ...........................................................................................................113 3.6.4 Efeitos Aleatórios....................................................................................................115 3.6.5 Critérios de comparação de modelos de dados em painel .....................................116 4. RESULTADOS DA PESQUISA..........................................................................118 4.1 Estatística Descritiva...............................................................................................118 4.2 Análise de Correlação.............................................................................................125 4.3 Modelos Estáticos de Dados em Painel .................................................................126 4.3.1 Retorno sobre Patrimônio Líquido .........................................................................126 4.3.2 Retorno sobre Ativos...............................................................................................130 4.3.3 Retorno sobre Vendas.............................................................................................132 4.4 Modelos de Dados em Painel Dinâmicos ...............................................................135 4.5 Análise dos Resultados ...........................................................................................136 4.6 Limitações do Estudo..............................................................................................140 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................142 6. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................145 7. APÊNDICES .........................................................................................................150 Apêndice A – Modelos de regressão, relação das variáveis e fórmulas de cálculo................151 Apêndice B – Heterogeneidade observada em relação aos estimadores de efeito fixo para o ROE das empresas ..................................................................................................................152 Apêndice C – Resultados das análises dos modelos dinâmicos de dados em painel..............153 17 1. Introdução Embora os estudos sobre capital intelectual tenham se tornado mais freqüentes apenas nos últimos 10 anos, o termo “capital intelectual” já conta com quase 50 anos e, o primeiro estudo a constatar de forma empírica a relevância do capital intelectual e dos ativos intangíveis no desempenho das organizações remonta ao século XVII (STEWART, 1998 :XVI; STEWART, 2001: XIV). A importância do tema atinge hoje tamanha proporção, que para alguns autores (TEECE, 2000: 29; NONAKA e TAKEUCHI, 1997 :37-40; GRANT, 1996 :122), a própria “Teoria da Firma” necessita ser revista. Quando falamos de capital intelectual, nos deparamos com diversas definições, sendo que, cada uma delas possui particularidades que, em alguns casos são bastante sutis, e em outros, nem tanto. Cabe ressaltar que, ainda que alguns atribuam significados distintos aos termos capital intelectual, ativos intangíveis e ativos de conhecimento, no âmbito desta dissertação, de forma consistente com Stewart (1998 e 2001), Lev (2001 e 2003) e Andriensen (2004) entre outros, esses três termos serão utilizados como possuindo o mesmo significado. Nos últimos 200 anos, trabalho e capital tem sido considerados os principais fatores de produção a determinar a riqueza das corporações, porém, as economias mais desenvolvidas passaram, no último século, por uma grande transformação e estão atualmente, calcadas em capital intelectual e em ativos omitidos dos demonstrativos contábeis, pois extraem seu valor de atividades ligadas ao processamento de informações, ao desenvolvimento e à transferência e aplicação de conhecimento (TEECE, 1998 :75 ; FIRER e WILLIANS, 2003 :348). 18 Nessa economia centrada nos intangíveis, os serviços são tão importantes quanto os produtos, e o conhecimento embarcado em ambos cresce rapidamente (ANDRIENSEN, 2004 :5). De forma geral, a natureza da vantagem competitiva e a capacidade de gerar valor das empresas, mudou do físico para o intangível. A geração de valor das empresas, se apóia hoje sobre padrões e metodologias proprietárias, direitos autorais, patentes, relacionamento com clientes, fornecedores e parceiros, marca e reputação, entre outros fatores associados ao capital intelectual da empresa (EDVINSON, 2003 :19). Em síntese, encontramos na economia atual, uma série de evidências de que: a) a indústria está se “desmaterializando“ com o aumento do componente intelectual e a redução do físico; b) os ativos físicos e financeiros apresentam cada vez mais características de “commodities” e não conseguem proporcionar uma posição competitiva favorável e sustentável para as empresa e; c) é crescente o afastamento entre os fluxos de informação e os fluxos de produtos e serviços. Segundo Stewart (2001 :12), as empresas nos EUA utilizam atualmente 20% menos capital físico que há 25 anos atrás para gerar suas receitas e quando observamos o valor de mercado de empresas como: Google, eBay e YouTube, para mencionar apenas algumas em maior evidência no momento, encontramos um claro exemplo de que a informação passou a possuir “valor próprio”, dissociado das noções normais da economia tradicional de produtos e serviços. (TEECE, 1998 :59; STEWART, 1998 :11-13). 19 Face às evidências da crescente importância dos ativos intangíveis e considerando a hipótese de mercado eficiente, é natural observarmos o contínuo afastamento entre o valor de mercado e o valor patrimonial das empresas. Edivinson (2003 :30) exemplifica esse afastamento ao mostrar que no final do ano 2000, 74% do valor de mercado da BP (British Petroleum), 82% da 3M e 85% da ABB estavam associados com ativos intangíveis. Mesmo considerando que essa distância entre o valor de mercado e o valor patrimonial das empresas, é, na média, menor hoje do que durante o auge da euforia das empresas “pontocom”, ela ainda permanece significativa e retomou uma trajetória de crescimento nos últimos anos, pois os principais recursos responsáveis pela geração de caixa futuro, não são mais refletidos nos relatórios contábeis das empresas. Dessa forma, por não fornecerem uma visão clara da totalidade dos ativos que as empresas dispõem para gerar valor, os relatórios contábeis na sua forma atual, mostram-se cada vez menos relevantes e as avaliações dos investidores, em relação às empresas intensivas em capital intelectual, parecem inadequadas causando um erro sistemático no preço dos papéis dessas empresas e conduzindo o mercado de ações a uma volatilidade excessiva (HAND e LEV, 2003 :2; EDIVINSON, 2003 :62-79). A necessidade de mudanças fica evidente ao lembrarmos que um dos principais objetivos das demonstrações contábeis das empresas (aquele por trás da criação da própria contabilidade como hoje a conhecemos) é dar visibilidade sobre o que cada empresa possui e sobre o quão eficiente ela é ao utilizar seus ativos para gerar valor (ROSS et. Al. 2002; BREALEY e MYERS, 2003). 20 Essa visibilidade, bem como a possibilidade de comparar as empresas, são fundamentais para que investidores e gestores possam ter subsídios para tomar suas decisões. No entanto, com esse afastamento entre valor de mercado e valor contábil das empresas verificado, as informações e relatórios financeiros convencionais passaram a apresentar sérias limitações (CHEN et. Al., 2005; STEWART, 1998; ROOS et. Al.; 1997; LEV, 2001). Essas limitações do sistema contábil e das avaliações fundamentalistas, feitas somente com base em índices e indicadores financeiros, se mostram ainda mais sérias quando penetramos no campo da inovação. Como apontam Deng, Lev e Narin (1999 :20-21), a dificuldade de conseguir informações confiáveis e adequadas, que dêem suporte às decisões de investimento, é ainda maior, já que as empresas raramente divulgam dados sobre o volume e a natureza de suas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Fica claro, portanto, que uma grande questão hoje em dia é: como medir e quantificar adequadamente o impacto dos intangíveis a fim de determinar o valor real das empresas (ROSS et. Al., 2002; BREALEY e MYERS, 2003). Ou ainda, são as empresas que apresentam um maior estoque ou fluxo de capital intelectual aquelas que geram maior valor para os seus acionistas e proprietários ? Com base no estudo de Kujansivu e Lönqvst (2005) sobre métricas de estoque e fluxo de capital intelectual, e construindo sobre as bases de um conjunto de trabalhos recentes realizados internacionalmente (FIRER e WILLIAMS, 2003; VAN DER ZAHN, 2004; CHEN et Al., 2005), esta dissertação tem o intuito de contribuir para elucidar a questão da influência do capital intelectual na geração de valor das empresas brasileiras. 21 Para alcançar esse objetivo, este trabalho inicialmente procurará definir e conceituar, sob a óptica dos principais estudiosos do tema, o capital intelectual, seus componentes e sua relevância para a criação de valor nas empresas; serão também descritas as principais métricas propostas na literatura para se avaliar o capital intelectual. Na seqüência, fazendo uso do CIV (Calculated Intangible Value) e o ICE (Intelectual Capital Efficiency) como medidas de estoque e fluxo de capital intelectual respectivamente, através de através de tratamento estatístico por regressões multivariadas, usando modelos estáticos de dados em painel, efetuar-se-á a análise de uma amostra não probabilística, constituída a partir de dados secundários de empresas brasileiras provenientes de diversos setores. Através dessa análise procuraremos testar a validade do ICE e do CIV como direcionadores do desempenho financeiro e da capacidade de geração de valor das empresas da amostra. 22 1.1 Problema de pesquisa Nos últimos anos, o capital intelectual como área de estudo têm se desenvolvido consideravelmente, e ainda que hoje não existam mais dúvidas sobre o papel central do capital intelectual na geração de riqueza das empresas e na economia como um todo, ou no fato de que o sistema contábil tradicional, cada vez é menos efetivo em capturar e refletir o valor correto das empresas, muito ainda há por ser feito antes que tenhamos todas as respostas apropriadas para lidar com essa nova realidade. Como é possível identificar e medir quantitativa e qualitativamente, sob a óptica de um investidor ou uma parte interessada externa à empresa, o capital intelectual da mesma, e com base nisso, estimar a capacidade dessa empresa gerar valor são as questões que este projeto de dissertação pretende ajudar a esclarecer. Essas questões são ainda mais relevantes no contexto atual haja visto que, nos últimos 3 anos, temos verificado mudanças significativas no mercado de capitais brasileiro. Por um lado temos um número cada vez maior de investidores individuais, negociando títulos no mercado de ações, por outro, observamos cada vez um número maior de empresas cujo maior ativo é seu capital intelectual. Alguns exemplos (e sua área de atuação) são: Submarino (varejo por Internet), TOTVs e Datasul (Tecnologia da Informação e Sistemas de Gestão), Anhangüera Educacional (Educação Superior), DASA (Diagnósticos Laboratoriais), CSU (Administração de meios eletrônicos de pagamentos). Comum a todas essas empresas é o fato que os seus demonstrativos contábeis falam muito pouco sobre a sua capacidade de gerar valor, de forma que, o ágio (ou deságio) que o mercado atribui às mesmas é impossível de ser explicado de forma racional e objetiva. 23 Tendo demonstrado a relevância das questões propostas, é importante ressaltar que, de forma a investigá-las adequadamente, em função das intrincadas e obscuras relações entre o estoque total de recursos tangíveis e intangíveis com que conta uma dada firma, e entre esse estoque de recursos disponíveis e a efetiva utilização dos mesmos no processo de geração de valor, devemos considerar uma abordagem que procure verificar simultaneamente a influência dos estoques e dos fluxos relativos ao capital intelectual. As figuras Figura 1 e Figura 2 abaixo procuram mostrar, sob a ótica dos sistemas dinâmicos, esse amplo contexto onde se insere o problema de pesquisa a ser desenvolvido nesse estudo. + + Estoque de Ativos físicos e financeiros + Eficiência no uso do Capital Intelectual + disponível + Eficiência no uso dos Ativos físicos e financeiros existentes + + Capacidade de gerar valor + + + Estoque de Capital Intelectual + Figura 1 - Capital intelectual e geração de valor – Mapa Sistêmico Fonte: elaborada pelo autor 24 Investindo em Ativos tangíveis Estoque de Ativos físicos e financeiros disponíveis Reduzindo estoque de Ativos físicos e financeiros Valor total gerado pela empresa Gerando valor Ampliando o Capital intelectual Estoque de Capital Intelectual Distribuindo valor Perdendo Capital intelectual Figura 2 - Capital Intelectual e geração de valor – Diagrama de Estoque e Fluxo Fonte: elaborada pelo autor Como pode ser deduzido através dessas figuras, a questão do capital intelectual e a geração de valor nas empresas, possui diversos aspectos relevantes passíveis de análise, sendo que há supostamente, uma série de inter-relações entre os diversos constructos pertinentes ao tema. No entanto, dada a natureza investigativa desse estudo, e o estado seminal dessa área de pesquisa, que ainda carece de referencial teórico detalhado sobre vários desses constructos e inter-relações, esta dissertação procurou estudar o tema através do modelo de causalidade unilateral representado na Figura 3 a seguir. 25 Capital intelectual e geração de valor Estoque de Capital Intelectual Indicador: CIV Eficiência no uso do Capital Intelectual Indicador: VAICTM ICE (VAHU+STVA) C o n t r o l e Estoque de ativos físicos e financeiros Geração de valor Indicadores: ROE, ROS, ROA Indicador: VAICTM CE Nível de endividamento da empresa Indicador: END_GERAL Crescimento das vendas Indicador: CRESC_VENDAS Figura 3 - Capital Intelectual e geração de valor – Problema de pesquisa Fonte: elaborada pelo autor Como podemos observar na referida figura, a inexistência de um modelo conceitual amplamente aceito, determinou cautela adicional, que se reflete na adoção das 3 variáveis de controle, acima representadas, no modelo de pesquisa. Dessa forma, o presente estudo pode ser descrito nos seguintes termos: Geração de valor da empresa = f (estoque de capital intelectual, eficiência no uso do capital intelectual, estoque de ativos físicos e financeiros, nível de endividamento da empresa, crescimento das vendas da empresa) 26 1.2 Objetivo O objetivo geral dessa pesquisa será: analisar o impacto do capital intelectual na capacidade das empresas brasileiras de gerar valor. Os objetivos específicos são as etapas que devem ser cumpridas para que o pesquisador possa alcançar o objetivo geral (RICHARDSON et al, 1999). Os objetivos específicos permitem que uma pesquisa atinja o objetivo geral (LAKATOS et al, 1995). Dessa forma, são objetivos específicos a serem mencionados: • Fazer uma revisão bibliográfica das principais métricas para capital intelectual encontradas na literatura. • Fazer uma revisão bibliográfica das principais métricas para mensurar criação de valor • Verificar o efeito do estoque de capital intelectual das empresas na sua capacidade de gerar valor. • Verificar o efeito da eficiência (fluxo) das empresas no uso dos seus ativos intangíveis na sua capacidade de gerar valor. • Verificar o efeito do estoque de ativos físicos e financeiros das empresas na sua capacidade de gerar valor. • Verificar o efeito do nível de endividamento das empresas na sua capacidade de gerar valor. • Verificar o efeito do crescimento das vendas das empresas na sua capacidade de gerar valor. 27 1.3 Hipóteses de pesquisa A formulação das hipóteses tomou por base o referencial teórico desenvolvido no capítulo 2, além dos estudos empíricos já realizados para testar as teorias existentes. As hipóteses foram construídas ao redor dos dois indicadores de capital intelectual escolhidos, e que, potencialmente, explicam a capacidade das empresas gerarem valor. 1.3.1 Estoque de capital intelectual Esperava-se encontrar uma relação positiva entre o estoque de capital intelectual e a geração de valor da empresa permitindo a rejeição da hipótese 0,1 abaixo: Hipótese 0,1: O estoque de capital intelectual das empresas não afeta a sua capacidade de geração de valor. 1.3.2 Eficiência no uso do capital intelectual Da mesma forma, esperava-se rejeitar a hipótese 0,2 conforme definida a seguir: Hipótese 0,2: Não existe diferença na capacidade de gerar valor entre as empresas com maior e menor eficiência no uso do capital intelectual. 28 1.4 Variáveis da Pesquisa Variáveis são aspectos observáveis de um fenômeno e, devem apresentar variações em relação aos fenômenos estudados (RICHARDSON et al., 1999:117). São denominadas variáveis independentes aquelas que “influenciam, determinam ou afetam outra variável; são fatores determinantes, condições ou causas para determinado resultado”. Assim sendo, variáveis dependentes são aqueles “valores (fenômenos, fatores) a serem explicados ou descobertos, em virtude de serem influenciados, determinados ou afetados pela variável independente” (LAKATOS e MARCONI, 1991 :138). Conforme definido por Richardson et al. (1999 :121), nesta dissertação buscou-se explorar as associações entre as variáveis dependentes (ROE, ROS e ROA), escolhidas para mensurar a geração de valor das empresas e, as variáveis independentes: • Estoque de capital intelectual (CIV) • Eficiência no uso do capital intelectual (ICE) Foram também utilizadas as seguintes variáveis de controle: • Estoque de físicos e financeiros (CE) • Nível de endividamento (END_GERAL) • Crescimento das vendas (CESC_VENDAS) A seção 1.4.1 detalha cada uma destas variáveis. 29 1.4.1 Descrição das Variáveis Utilizadas Com o intuito de facilitar a homogeneização dos termos empregados nessa dissertação e, esclarecer cada um dos componentes que serão utilizados na definição operacional das variáveis, são apresentados a seguir nas figuras : Figura 4, Figura 5 e Figura 6, exemplos de demonstrativos financeiros padronizados conforme definidos pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). 1- BALANÇO PATRIMONIAL Passivo Ativo (1) Circulante (4) Circulante Disponibilidades Empréstimos e financiamentos Contas a receber de clientes Contas a pagar a fornecedores e empreiteiros Estoques Salários e encargos sociais Outros (2) Tributos e contribuições Total Ativo Circulante Outros Total Passivo Circulante (5) Realizável a longo prazo Imobilizado Diferido Exigível a longo prazo Total Passivo (6) Patrimônio líquido Capital social Reservas de lucros (3) Total Ativo Total Patrimônio Líquido (7) Figura 4 - Demonstrativos financeiros padronizados – Balanço Patrimonial 30 2- DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO (1) Vendas totais (-) Impostos e contribuições sobre vendas e serviços (2) (=) Receita operacional líquida (-) Custos dos produtos e serviços (3) (=) Lucro bruto (-) Despesas operacionais (4) (=) Lucro operacional (EBIT) (+) Resultado financeiro líquido (5) (=) Lucro antes do imposto de renda e da contribuição social (LAIR) (-) Imposto de renda e contribuição social (6) (=) Lucro líquido do exercício Figura 5 - Demonstrativos financeiros padronizados – Demonstração do Resultado 3- DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO Geração do valor adicionado Distribuição do valor adicionado (1) Receita bruta Total de gastos com salários e benefícios dos empregados (4) (b) (-) Aquisição de produtos para revenda (+) Impostos e tributos (5) (b) (-) Serviços contratados (+) Juros (6) (b) (-) Materiais & Insumos adquiridos (+) Dividendos (7) (+) Lucros Retidos (8) (=) Valor adicionado total distribuído (9) (=) Valor adicionado bruto (2) (-) Depreciação, amortização e exaustão (=) Valor adicionado líquido (+) Recebido de terceiros (3) (=) Valor adicionado total a distribuir Figura 6 - Demonstrativos financeiros padronizados – DVA 1.4.2.a Geração de Valor Conforme descrito detalhadamente na seção 2.4 deste trabalho, na busca de medidas objetivas não dependentes de ajustes contábeis controvertidos, definiremos geração de valor em termos da lucratividade das empresas utilizando índices construídos através de medidas contábeis simples. 31 A perspectiva de geração de valor que este estudo procurou captar foi a geração de valor para os acionistas e proprietários das empresas analisadas. Porém, cabe ressaltar que a amostra tomou em conta empresas privadas de capital aberto, empresas privadas de capital fechado e empresas públicas, atuando em diversos setores da economia. Em virtude dessa heterogeneidade, e do fato de várias das empresas não possuírem um valor de mercado claramente definido e identificável, tornou-se impossível a utilização de algumas métricas mais específicas como o retorno total ao acionista (TSR – Total Shareholder Return). Dessa forma, optou-se neste estudo por medir-se “Geração de valor” através dos índices1: • “ROE – Retorno sobre patrimônio líquido” (Return on equity) ROE = Lucro líquido do exercício (Figura 5: ítem 6) / Patrimônio líquido total (Figura 4: ítem 7) Equação 1 - Cálculo ROE • “ROA – Retorno sobre ativos (Return on assets) ROA = Lucro líquido do exercício (Figura 5: ítem 6) / Ativo total (Figura 4: ítem 3) Equação 2 - Cálculo ROA 1 A seção 2.4.1 na pág. 68 descreve todas as métricas de geração de valor consideradas e descreve em detalhes os fatores que justificaram a escolha dos 3 índices definidos. 32 • “ROS – Retorno sobre vendas” (Return on sales) ROS = Lucro líquido do exercício (Figura 5: ítem 6) / Vendas totais (Figura 5: ítem 6) Equação 3 - Cálculo ROS Cada um desses índices buscará captar um aspecto da geração de valor das empresas, porém, sob a ótica dos proprietários e acionistas, o ROE será o principal índice considerado. 1.4.2.b Estoque de capital intelectual Como pode ser verificado na seção 2.5 dessa dissertação, muitas são as propostas encontradas na literatura para medir e atribuir valor ao estoque de capital intelectual de uma empresa. No entanto, se por um lado o número de alternativas é grande, por outro, estamos longe de um modelo de aceitação ampla. Nesta dissertação, a variável independente “Estoque de capital intelectual” será medida através do Valor Intangível Calculado – CIV(Calculated Intangible Value). O cálculo do CIV encontra-se descrito em detalhes na seção 2.6 deste documento. Estoque de capital intelectual = CIV 33 1.4.2.c Eficiência no uso do capital intelectual A variável independente “Eficiência no uso do capital intelectual” busca analisar a capacidade da firma em converter o capital intelectual empregado no negócio em valor, já que, segundo Pulic (2000 :706), “o objetivo de qualquer negócio é claro: gerar o máximo de valor adicionado possível, a partir de uma dada quantidade de capital (físico, financeiro e intelectual)”. Seguindo o modelo utilizado por Kujansivu e Lönnqvist (2005 :4) e Van der Zahn (et al. 2004 :13), para mensurar essa variável, foi utilizado o índice Eficiência do Capital Intelectual – ICE (Intellectual Capital Efficiency) cuja forma de cálculo detalhada encontra-se descrita na seção 2.8 (pág. 108) desse documento. Eficiência no uso do capital intelectual = ICE 1.4.2.d Estoque de ativos físicos e financeiros A variável independente “Estoque de ativos físicos e financeiros” representa a totalidade de recursos tangíveis utilizados pela empresa. Conforme definido por Pulic (2000 :706) ela é definida pela soma de “tudo que foi aplicado na empresa” e, para efeitos desta dissertação, esse estoque é medido através do “Capital empregado” (CE) da empresa, aqui definido como: Estoque de ativos físicos e financeiros = CE = Ativo total (Figura 4: ítem 3) – Passivo circulante (Figura 4: ítem 5) Equação 4 - Cálculo CE 34 1.4.2.e Nível de endividamento geral Capon et Al. (1990 :1149) ao efetuarem a análise de 320 estudos empíricos, apontam a existência de relacionamento entre o nível de endividamento das empresas e o desempenho financeiro das mesmas. Dessa forma, foi definido para esse estudo, uma variável cujo objetivo é mensurar esse nível de endividamento das empresas, e controlar a sua influência nas variáveis dependentes analisadas. A Equação 5 a seguir descreve o cálculo dessa variável. END_GERAL = Passivo total (Figura 4: ítem 6) / Ativo total (Figura 4: ítem 3) Equação 5 - Cálculo END_GERAL 1.4.2.f Crescimento em vendas Evidências empíricas apontam para a existência de um relacionamento positivo entre o desempenho financeiro e o crescimento em vendas das empresas (LEV et Al.,2003 :171; CAPON et Al.,1990 :1149). Para medir e controlar essa possível influência, foi inserido no modelo de estudo desta dissertação a variável de controle definida conforme a Equação 6 abaixo. CRESC_VENDAS = ((Vendas totais no ano atual (Figura 5: anterior (Figura 5: Equação 6 - Cálculo CRESC_VENDAS ítem 6)) – 1) * 100 ítem 6) / Vendas totais no ano 35 1.5 Estrutura do trabalho A presente dissertação encontra-se dividida em cinco capítulos. No primeiro capítulo foi apresentada uma introdução ao objeto de estudo, a justificativa da sua escolha, os objetivos propostos e as hipóteses que se busca comprovar e as métricas a serem utilizadas. No segundo capítulo será apresentado o referencial teórico que embasa os principais estudos sobre o capital intelectual das empresas e sua influência na capacidade da empresa gerar valor para os seus proprietários. No terceiro capítulo será apresentada uma descrição sobre a metodologia de pesquisa empregada nesta dissertação. No quarto capítulo serão apresentados os resultado empíricos obtidos. Finalmente, no quinto capítulo são apresentadas as conclusões e considerações finais. 36 2. Referencial teórico 2.1 Capital Intelectual - Visão geral O capital intelectual, enquanto área de estudo atravessa domínios funcionais, sendo objeto de pesquisa nas áreas de economia, administração, psicologia e ciências da computação para mencionar apenas algumas. No entanto, na área de administração de empresas, sob ótica de finanças e valoração empresarial, qualquer tentativa de definir e contextualizar o tema deve partir da visão contábil e, dos ativos intangíveis. 2.1.1 Ativos Intangíveis Se por um lado os ativos intangíveis têm sido estudados no Brasil desde o início da década de 70 (MARTINS, 1972), estamos longe de se haver chegado a um consenso sobre a medida exata de sua relevância. Em verdade, não temos hoje sequer uma definição para os ativos intangíveis que seja aceita de forma universal. Do ponto de vista contábil, podemos tomar como ponto de partida a definição aceita com base nas normas contábeis norte americanas (FASB – Financial Accounting Standards Board) que, como mostrado por Hand e Lev (2003: 305), é: todo o custo de desenvolvimento ou aquisição de direitos ou benefícios econômicos que são “não físicos” mas, que podem ser reconhecidos no balanço das empresas. Outra importante definição é a proposta nas normas do IASB (International Accounting Standards Board) que classifica como intangíveis todos os ativos não monetários, identificáveis, porém, sem substância física, mantidos para uso na produção ou fornecimento de bens ou serviços, alugados para outros ou, para fins administrativos (ANDRIENSEN, 2004: 62). 37 Ainda em relação a essa mesma definição, considera-se um ativo qualquer recurso controlado pela empresa, decorrente de eventos passados e sobre os quais, um fluxo de benefícios econômicos futuros é esperado. Quando combinamos estas duas definições percebemos que, sob o aspecto contábil, um ativo intangível necessita atender a três requisitos: • precisa ser identificável; • a empresa deve ter controle sobre ele e; • o mesmo deve ser capaz de gerar benefícios econômicos futuros. Roos et Al. (2002 :592) chamam a atenção para as divergências entre as definições propostas pelos dois principais sistemas contábeis e apontam que a definição do FASB é mais restrita pois, se foca nas regras de reconhecimento contábil vigentes e dessa forma, não contempla os ativos intangíveis gerados internamente (self-generated). Reilly e Schweis (1998 apud KAYO, 2002) expandem o conjunto de requisitos necessários para qualificação de um ativo intangível sob o aspecto contábil e, mencionam seis atributos: • estar sujeito a uma identificação específica e descrição reconhecível; • estar sujeito à existência e proteção legal; • estar sujeito ao direito de propriedade privada e esse direito deve ser legalmente transferível; • existir alguma evidência tangível ou manifestação da existência do ativo intangível (como contratos, licença de uso, documento de registro, lista de clientes, demonstrativos financeiros, etc.); • ter sido criado em um momento ou evento identificável; • estar sujeito a ser destruído ou eliminado em um momento ou evento identificável. 38 Enquanto sob a óptica contábil, encontramos definições bastante restritivas, quando buscamos uma definição para os ativos intangíveis (ou ativos de conhecimento) sob a óptica da literatura econômica, encontramos um conceito muito mais abrangente. Podemos dizer que: “ativos intangíveis são quaisquer itens não físicos que tenham a habilidade ou potencial de fornecer benefício econômico futuro para e firma”(HAND e LEV, 2003 :305). Hand e Lev (2003 :7), em consonância com a definição econômica apresentada, definem como ativos intangíveis “todos os recursos não físicos que sejam fontes de valor (concedendo direito a benefícios futuros) gerados pela inovação (descoberta), desenhos organizacionais únicos, ou práticas de recursos humanos”. Ao compararmos as definições contábil e econômica, verificamos que a primeira acaba por contemplar unicamente uma parcela da parte “estrutural” do capital intelectual, desconsiderando assim, todos os demais componentes como, por exemplo, o capital humano. Esse fato é justificado pela impossibilidade de se estabelecer controle suficiente e da incerteza sobre o retorno futuro decorrente da ação das pessoas que compõem a organização (ANDRIENSEN, 2004 : 63). Para Andriensen (2004 :63) a única categoria de intangíveis que atende à característica de controle por parte da firma é a “propriedade intelectual” que, de acordo com Stallworth e DiGregorio (2004), se constitui no capital intelectual protegido legalmente, incluindo assim patentes e marcas registradas, software e licenças de uso. Dessa maneira, sob a óptica contábil, até o momento, os ativos intangíveis foram sempre definidos em termos de propriedade intelectual ou goodwill (STALLWOTH e DIGREGORIO, 2004 :10). 39 O termo goodwill enseja a diferença entre o valor total pago por uma empresa num processo de aquisição e, o valor de mercado dos ativos tangíveis dessa empresa adquirida. Ele ocorre todas as vezes em que empresas são adquiridas por preços superiores ao valor justo de mercado de todos os ativos contábeis da empresa adquirida, descontados os respectivos passivos (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :207). Dessa forma, o goodwill se mostra muito mais abrangente que as próprias definições contábeis de ativo intangível apresentadas, pois inclui uma série de recursos intangíveis (tais como reputação da empresa, carteira de clientes, localização física privilegiada, etc.) que, mesmo não se enquadrando na definição contábil, tornam-se passíveis de reconhecimento quando da ocorrência de uma operação de compra e venda de empresas (ANDRIENSEN, 2005 :64 ; KAYO, 2002: 10). Essa diferença no tratamento entre goodwill e demais ativos intangíveis se explica pelo fato de todo o sistema contábil ser baseado em transações e em medidas identificáveis. Portanto, o mesmo se concentra apenas nos intangíveis adquiridos, naqueles passíveis de reconhecimento e no goodwill (ANDRIENSEN, 2005: 64). De qualquer forma o tratamento contábil para o goodwill varia de país para país, sendo que, em alguns deles como Holanda e Inglaterra, é permitida a baixa imediata do goodwill contra a conta de reservas sem passar pelo demonstrativo de resultados. No caso da maioria dos países, inclusive Estados Unidos e Brasil, o goodwill deve ser capitalizado e amortizado ao longo do tempo (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :207- 215). 40 Sob a óptica da geração de valor, qualquer que seja o tratamento contábil dado ao goodwill, ele pode gerar distorções nos cálculos. A questão essencial, por trás do tratamento do goodwill, está relacionado com a natureza intrínseca do mesmo, ou seja, trata-se de um ativo com vida útil finita (wasting asset), devendo ser depreciado; de um ativo que não se valoriza nem desvaloriza, ou de um ativo que se valoriza e que deve ser reconhecido através de gastos negativos de amortização (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :211). Essa é apenas uma das questões ainda não plenamente respondidas em relação ao tratamento contábil dos intangíveis adquiridos. No entanto ainda que os ativos intangíveis conforme definidos contabilmente sejam importantes, sob a óptica de geração de riqueza e vantagem competitiva para a empresa, eles representam apenas a “ponta do iceberg” (STEWART, 2001 : X). 2.1.2 Evolução histórica e o crescimento da importância do capital intelectual Tendo oferecido uma definição inicial do capital intelectual, sob a ótica contábil, através da exposição das principais características e desafios impostos pelos ativos intangíveis, cabe agora avançar na discussão do tema, demonstrando como o capital intelectual, vêm, ao longo do tempo, suscitando reflexões importantes juntos aos mais diversos estudiosos na medida em que transforma o panorama dos negócios. Quando Drucker (1993) definiu a sua “sociedade do conhecimento” (sociedade póscapitalista) destacando a transformação, iniciada em 1945, pela qual passa a economia e que está convertendo os ativos intangíveis (conhecimento) no principal recurso produtivo das empresas, os primeiros passos de pesquisadores na área do capital intelectual já contavam com mais de 20 anos. 41 Kannan e Aulbur (2004 :395) apontam Penrose (1959) como primeira pesquisadora a definir as organizações como “repositórios de conhecimento”. Os mesmos autores, após pesquisas feitas com base em mais de 100 artigos sobre teorias e modelos de mensuração do capital intelectual, selecionaram com base no número de citações e discussão com experts, uma série de autores e achados de grande relevância ao estudo do capital intelectual. O Quadro 1 abaixo apresenta em ordem cronológica uma síntese desse trabalho. Ano: Contribuição: Autor: Penrose Machlup Karl Sveiby Kaplan e Norton Davemport Nonaka e Takeuchi DiMattia e Oder Philips Edvinson e Mallone 1959 1962 1986 1988 1992 1994 1995 1997 1997 1998 Tobin 1998 Harvey e Lusch 1999 Carley Lev 2000 2000 A organização como um repositório de conhecimento Modelo da Função produção de conhecimento (Knowledge production function ) Necessidade de adicionar-se uma perspectiva comportamental para monitorar os ativos intangíveis Criação do "Monitor de ativos intangíveis" (Intangible asset monitor ). Criação do modelo de "Balanced scorecad". Gerir o conhecimento não uma questão meramente de tecnologia mas também uma questão de gerenciar relações sociais. Conhecimento (idéias, habilidades e experiência) pode ser capturado e compartilhado Organizações tem perdido uma quantidade significativa de informação e experiência através da saída de pessoas. Existe retorno sobre os investimentos em ativos de conhecimento. Definição teórica do capital intelectual e a primeira aplicação em uma organização através do "Navegador Skandia" (Skandia navigator). A organização habilitada pelo conhecimento utiliza as habilidades e o conhecimentos de todos os seus funcionários, independente da função dos mesmos. Organizações utilizam apenas 10% do conhecimento dos seus profissionais - sistemas mais eficientes são necessários. Tentativa de avaliar lado do passivo dos ativos intangíveis. Pesquisa sobre a questão do impacto de uma atividade/pessoa em particular na criação futura de valor para a empresa. Medidas de performance e da arquitetura organizacional baseadas em análise de redes sociais. Criação do Knowledge capital scorecard. Quadro 1 - Evolução do estudo sobre capital intelectual Fonte: adaptado pelo autor de KANNAN e ALBUR (2004 :393-399) 42 De acordo com Stewart (2001 :XIV), o termo capital intelectual foi utilizado pela primeira vez em 1958, por analistas financeiros que avaliavam o mercado de ações de empresas muito pequenas e focadas em ciência (science-based companies). Na segunda metade da década de 1980, se iniciou um período de intensa atividade onde os principais conceitos relativos ao capital intelectual começaram a ser cunhados e, sob a liderança de Karl Sveiby em 1989, aconteceram as primeiras iniciativas visando medir e divulgar os ativos intangíveis das empresas (ANDRIESEN, 2004). Seguindo-se às iniciativas embrionárias de Sveiby, tivemos na década de 1990, a publicação de diversos trabalhos e livros sobre o tema que acabaram por compor a base conceitual que dá suporte ao estudo do capital intelectual até os dias de hoje. Roos et Al. (1997 :15) nos mostram que as rotas teóricas que hoje dão suporte ao conceito de capital intelectual derivam de duas escolas de pensamento: a corrente da estratégia e a corrente da medição. A Figura 7 mostra a evolução e o relacionamento dessas correntes de pensamento. 43 Organizações que aprendem Gestão de conversação (Conversation management ) Inovação Desenvolvimento de conhecimento Gestão do conhecimento Estratégia Competências Essenciais (Core competencies) Alavancagem de conhecimento Ativos invisíveis (Invisible assets ) Capital Intelectual Contabilidade de recursos humanos Medição Balanceado (Balanced) Painéis de controle (Scorecards) Financeiro Figura 7 - Raízes conceituais do Capital Intelectual Fonte: ROOS et al. (1997 :15) As contribuições da corrente da estratégia se concentram na análise de dois pontos principais: as formas como o conhecimento é criado, e como ele pode ser melhor aproveitado. No caso da corrente da medição, suas raízes remontam aos anos 70 com o desenvolvimento da contabilidade de recursos humanos (ROOS et. Al., 1997 :15-19). A convergência dessas escolas de pensamento e o aumento da atividade de pesquisa ao redor do tema capital intelectual têm se intensificado, na medida em que cresce a importância do mesmo, para a criação de valor das empresas. 44 Stewart (2001 :8) aponta que, em 1999, os ativos intangíveis se tornaram o artigo de maior valor a ser exportado pelos EUA. No ano seguinte, o investimento das corporações norte-americanas em ativos intangíveis, praticamente se igualou ao investimento em ativos convencionais, atingindo o patamar de US$ 1 trilhão (HAND e LEV, 2003 :4). Esses exemplos nos dão noção da importância atual do capital intelectual. Como veremos na próxima sessão, a realidade atual das empresas, cada vez mais apoiadas no uso de capital intelectual, faz com que a própria definição da “firma”, até então vista como: “um conjunto de ativos que pertence aos acionistas, mas que é administrado para eles por gestores contratados”, precise ser revista (STEWART, 2001: 22-23). Esses crescentes investimentos em intangíveis podem, em parte, ser explicados pela “comoditização” dos ativos financeiros e físicos, que, cada vez mais, estão disponíveis também aos competidores e conseguem no máximo, gerar um retorno sobre investimento competitivo (HAND e LEV, 2003 :1). Em virtude disso, segundo Stewart (2001 :23-25), a busca de vantagem competitiva apenas através do uso mais eficiente dos ativos tangíveis (work-the-assets) por parte da empresa, trata-se de uma estratégia que todos os concorrentes podem e acabam por seguir, e que em algumas indústrias, chegou ao seu limite. A conseqüência disso é que não há mais como gerar vantagem competitiva através de trabalho “não especializado”, ou de uma máquina a ser adquirida, pois qualquer competidor pode fazer o mesmo (STEWART, 2001 :25). 45 Andriensen (2004 :7) sugere que essa importância dos intangíveis decorre da combinação de 3 fatores, que levam à uma “descontinuidade” na economia. Os fatores são: • Globalização; • Desregulamentação de setores chaves da economia; • Crescimento exponencial do ritmo da mudança tecnológica. Dentre estes três fatores, é o impacto da globalização do comércio aquele mais comentado na literatura de negócios (científica ou não). As enormes transformações provocadas pela globalização, decorrem da drástica intensificação da concorrência (LEV, 2001 :9). Essa “hipercompetição” têm progressivamente forçado a redução de barreiras comerciais (como proteções e subsídios) e o aumento do fluxo de informações, criando assim mercados completamente novos através da ampliação do que é negociável (TEECE, 1998 :5657). A realidade é que, no cenário econômico globalizado, não há como impedir os concorrentes de copiar ou aperfeiçoar rapidamente produtos e processos produtivos, num contexto que é marcado pela mobilidade (de pessoas, produtos e informação), pela “engenharia reversa” e por tecnologias amplamente disponíveis (DAVENPORT e PRUSAK, 1998 :19). Com respeito à desregulamentação da economia, segundo aspecto crítico para que possamos entender a crescente importância do capital intelectual, a abertura de setores chaves nos mais diversos países, quer seja na área de “utilities” (energia, telecomunicações, transportes, etc.) ou de serviços financeiros, é outra importante força determinando a eliminação de monopólios e a intensificação da concorrência, nos mais diversos setores da economia (ANDRIENSEN, 2004:7). 46 O terceiro fator crítico é a mudança tecnológica cada vez mais rápida e dramática. Para, Deng, Lev e Narin (1999 :20), a inovação e a mudança tecnológica são os maiores direcionadores do crescimento e da produtividade das empresas. No caso específico das tecnologias de informação e comunicação, seu rápido desenvolvimento resultou no declínio do custo de processamento de informações e na criação de redes globais de informação, oferecendo assim, acesso global à informação e ao conhecimento (ANDRIENSEN, 2004:7). E é exatamente através do aumento da velocidade da transferência do conhecimento, e da extensão do acesso desse conhecimento às pessoas e grupos, que o desenvolvimento tecnológico tem potencializado o crescimento do capital intelectual das empresas (DAVENPORT e PRUSAK, 1998 :149-172). Em decorrências dessas transformações no cenário de negócios, cada vez mais fica improvável que qualquer empresa possa controlar o fornecimento de um recurso natural ou produto básico e as oportunidades para o estabelecimento de diferenciais competitivos, só podem vir de conhecimento “proprietário”, competências únicas, uma marca forte, ou de outros componentes do capital intelectual (STEWART, 2001 :23; ANDRIENSEN, 2004 :7). 2.1.3 O Capital Intelectual e a Teoria da Firma De acordo com o que foi exposto até agora, fica claro que, na medida em que o capital intelectual passa a se constituir no mais importante motor do desempenho das empresas e do crescimento econômico, é necessário que se pondere os efeitos deste na própria “Teoria da Firma”. As “Teorias da Firma” se constituem em modelos conceituais, abstrações das organizações do mundo real, que buscam prever e explicar a estrutura e os comportamentos das empresas. Na realidade, cada uma delas foi concebida tendo em vista um conjunto particular de comportamentos e estruturas a serem explicados (GRANT, 1996 :109). 47 Qualquer teoria da firma deve ser capaz de lidar efetivamente com duas questões (HOLMSTROM e TIROLE, 1989 apud. CONNER, 1991: 123): a) Qual é a razão de existir da firma ? b) O que determina seus limites em termos de escala e escopo ? Dentre as principais proposições para a teoria da firma, numa seqüência cronológica, podemos identificar cinco escolas principais (CONNER, 1991 :123). • Teoria da escola neoclássica de competição perfeita • Teoria da escola da Organização Industrial (conforme proposta por Bain) • Teoria da escola de Schumpeter • Teoria da escola de Chicago • Teoria dos Custos de Transação Mesmo que, em essência, todas essas escolas coincidam em que o objetivo máximo da firma é a maximização dos lucros, cada uma delas, apresenta importantes diferenças em relação aos meios pelos quais as empresas buscam realizar esse objetivo (CONNER, 1991 :123). Iniciando pela visão dos neoclássicos (Marshall, Jevons, Menjers, Walras, entre outros), herdeiros da tradição de Adam Smith, o objetivo da firma é combinar recursos de forma a produzir um produto acabado. A alocação de recursos se dá com base nas regras de oferta e demanda de um mercado constituído por consumidores racionais e totalmente informados. Ao longo do tempo, cada empresa (consideradas de forma homogênea), ao buscar maximizar seus lucros, gera um equilíbrio de mercado que resulta em ausência de retorno econômico para todas as firmas, já que todas são igualmente capazes de combinar os insumos e recursos produtivos. 48 Os limites de escala são definidos por fatores tecnológicos e gerenciais, enquanto as empresas são vistas como entidades de um único produto (MOSS, 2001 :51; CONNER, 1991 :123-124). Construída para endereçar questões relativas às grandes corporações, surgidas nos EUA à partir do final do século IXX, a visão da escola da organização industrial (Bain, Weiss, Scherer, Tirole e outros) considera que, as firmas existem para restringir o fluxo produtivo (e a oferta de produtos) através do exercício de seu poder de monopólio e/ou através de conluios com outras empresas. Controlando a oferta, é possível inflar os preços “artificialmente”, ampliando as margens e o lucro da empresa. Em relação à escala e escopo, a intervenção governamental é vista como a única limitação capaz de limitar o crescimento contínuo das firmas em busca de suas posições monopolísticas. A escola da organização organizacional confere um peso muito maior às características particulares de cada empresa, e aceita a possibilidade de que existam diferenciais de desempenho que possam ser mantidos ao longo do tempo (CONNER, 1991 :124-125). Mesmo não fazendo menção específica, é a visão de Schumpeter sobre a teoria da firma, que primeiro insere aspectos do capital intelectual em seu contexto. Sob essa ótica, o propósito das firmas é gerar oportunidades competitivas através da criação e adoção de inovações tecnológicas, que tornem obsoletas as posições competitivas dos rivais. É a capacidade de gerar e aplicar inovações radicais (uma das facetas do uso do capital intelectual) em busca da conquista de poder de monopólio, que define os limites da firma em termos de escala e escopo (CONNER, 1991 :127-128). 49 Rejeitando o foco em inovação, a visão da escola de Chicago (Stigler, Demsetz, McGee, entre outros), novamente traz para o cerne da questão a teoria de formação de preços da escola neoclássica. Ao fazer isso, de acordo com os seus proponentes, a razão de existir da firma passa a ser melhorar continuamente sua eficiência na produção e distribuição de bens e serviços. A posição monopolista desejada para maximizar lucros se torna então, decorrente de um nível de eficiência superior aos dos concorrentes. Ao mesmo tempo, o nível de integração vertical, o escopo e tamanho da empresa, são definidos em função do ponto onde ela deixa de ter ganhos de eficiência (CONNER, 1991 :129-130). Finalmente, de acordo com a escola dos custos de transação (Coase e Williamson), existem dois métodos alternativos para a coordenação da produção: o mercado de fatores, ou a firma. Sendo assim, a existência da firma (bem como a extensão dos seus limites horizontais e verticais) se explica na medida em que ela se constitua numa forma mais efetiva, do ponto de vista dos custos, de alocar os recursos e insumos necessários à produção e distribuição dos bens e serviços (CONNER, 1991 :130-131). No entanto, de acordo com a visão dessa escola, a alocação via firma deve ser vista como a última das opções, já que a organização interna apresenta sempre um maior custo burocrático e um menor nível de intensidade de incentivos, quando comparada com a alocação híbrida ou via mercado (WILLIAMSON, 1991 :83). No entanto, todo o racional construído por essa escola, considera a existência de direitos de propriedade claramente definidos e passíveis de serem impostos por força de leis (WILLIAMSON, 1991 :83). 50 Essa premissa básica, claramente não é valida em se tratando de capital intelectual. Milgrom e Roberts (1992 :321) apontam, por exemplo, algumas complicações decorrente da aplicação dos preceitos da escola de custos de transação, na alocação do capital humano. Por ser, de forma geral, não negociável e freqüentemente, ser “coespecializado” (cospecialized) com o capital humano de outras pessoas, são necessários arranjos organizacionais complexos para proteger os investimentos em capital humano. Arranjos esses que parecem ir contra a minimização dos custos de transação. Para lidar com esta e com outras particularidades do capital intelectual, Grant (1996 :112), propõe a construção de uma nova teoria da firma. Na visão do autor, “a existência da firma representa uma resposta à assimetria fundamental na economia do conhecimento: a aquisição do conhecimento requer uma maior especialização do que é necessário para o seu uso”. Também Teece (2000 :29), questiona a capacidade das teorias da firma vigentes em lidar com o capital intelectual e afirma que: “a essência da firma é a sua habilidade em criar, transferir, empacotar, proteger e explorar ativos de conhecimento”. Dessa forma, para o mesmo autor, a abrangência da firma em termos de integração vertical e horizontal, não seria apenas determinada apenas por custos de transação, mas sofreria forte influência de questões como imitabilidade/replicabilidade e da natureza tácita do conhecimento. Enfatizando a aplicação do conhecimento (no lugar da sua geração), Grant (1996 :112) propõe que as firmas existam como instituições, porque criam condições para que os indivíduos integrem seus conhecimentos especialistas, de forma a produzir bens e serviços. 51 Essa nova razão de ser da firma, que num primeiro momento pode parecer somente um caso particular da teoria dos custos de transação, possui aspectos próprios bastante relevantes. De acordo com essa nova visão, a vantagem da alocação via firma no processo produtivo, não é a eliminação de custos de transação, decorrente de processos burocráticos verticais impostos, mas a criação de um modelo de governança que permita a integração do conhecimento de vários indivíduos no processo produtivo (GRANT, 1996 :113). A grande questão a ser observada é a interdependência entre os ativos do conhecimento. Se dois pesquisadores, de áreas diferentes, querem escrever um artigo juntos, a eficiência não será maximizada se um tentar aprender tudo o que o outro sabe, mas sim, estabelecendo um modo de interação que permita a integração do conhecimento dos dois, minimizando o tempo gasto transferindo conhecimento entre eles. Para lidar de forma apropriada com a interdependência, a perspectiva do capital intelectual nos faz dar ênfase no aspecto empreendedor da governança corporativa, e não no seu aspecto administrativo (TEECE, 2000 :29). Dessa forma, os princípios de desenho e definição organizacional, sob a ótica do capital intelectual, acabam sendo conflitantes com as teorias da firma anteriormente definidas (GRANT, 1996 :120). Sendo assim, considerando que a firma exista para integrar o conhecimento especializado de diversos indivíduos, pois essa integração não é passível de ser feita de forma eficiente através do mercado, as fronteiras verticais e horizontais, devem ser avaliadas com respeito ao seu nível de eficiência na utilização do conhecimento (GRANT, 1996 :119). 52 Portanto, a integração vertical na mesma firma, deve ser buscada nos casos onde existe interdependência de conhecimento entre os processos produtivos, pois ainda que o mercado transfira produtos de forma eficiente, a transferência de informação não se dá da mesma maneira (DEMSETZ, 1991 apud. GRANT, 1996 :119). No caso da diversificação, como o conhecimento é, em grande grau, não específico a um produto, a utilização efetiva do mesmo exige empresas com diversos produtos. Ao mesmo tempo, como o processo de aquisição e integração dos diversos tipos de conhecimento necessários para a criação de um produto, é difícil e custoso para ser executado, é de se esperar uma prevalência das empresas de produto único (GRANT, 1996 :120). Ou seja, fica evidente que para responder a essa questão, temos que observar a congruência entre os domínios de produtos e de conhecimentos da firma, de forma a buscar o nível de diversificação que maximize o uso do seu capital intelectual. Uma vez tendo considerado a natureza e dimensão dos impactos do capital intelectual na teoria da firma fica aparente, que os mesmos devem também, ser considerados num contexto mais amplo. 2.1.4 Efeitos do Capital Intelectual no cenário econômico Um dos efeitos mais visíveis da crescente importância do capital intelectual para o resultado das empresas, é o afastamento do valor de mercado e do valor contábil das empresas verificado nos últimos anos. A Figura 8 representa essa relação entre capital intelectual e valor de mercado das empresas. 53 Modelo do Capital Intelectual Valor total de mercado Ativos tangíveis Ativos intangíveis -Capital Humano -Capital Estrutural -Capital Relacional Figura 8 - Capital intelectual e valor de mercado Fonte: STEWART (2001 :13) No período compreendido entre 1982 e 2002, o valor médio da razão “valor contábil sobre valor de mercado” (M/B) das empresas que compõe o índice S&P500 da bolsa de valores norte-americana, cresceu 400% (HAND e LEV, 2003 :4). Ainda para ilustrar o papel preponderante do capital intelectual, cabe mencionar que, quando em 1996 foi feita a oferta pública inicial das ações da empresa Sabre, criada a partir da divisão da American Airlines que operava o sistema de reservas “online” da companhia, o mercado atribuiu à empresa recém criada, cujo único ativo era a infra-estrutura computacional necessária para operar o sistema, um valor igual ao da segunda maior empresa aérea do mundo com mais de 650 aviões, além de um extenso conjunto de ativos físicos (LEV, 2001:24). 54 A capacidade de analistas e investidores estimarem o valor de empresas, cada vez mais intensivas em ativos intangíveis, com base nas informações públicas disponíveis mostrase limitada. Lev (2000 :2) chama a atenção para uma “contínua deterioração da associação estatística entre o preço das ações e as variáveis financeiras chaves, tais como lucros, valor contábil ou fluxos de caixa”. Da mesma forma, Stewart (1998 :55), afirma que o mercado normalmente atribui um valor equivocado aos ativos intelectuais. Em termos gerais, a importância das informações públicas contábeis para os investidores e mesmo para os gestores, tem diminuído de forma rápida (LEV, 2000 :2-3). Essa perda de relevância decorre, em grande parte, do tratamento contábil distinto dado aos ativos físicos e aos intangíveis. Enquanto os ativos físicos e financeiros são reportados no balanço contábil, os intangíveis, de forma geral, desaparecem ao serem lançados juntamente com despesas regulares no demonstrativo de resultados (LEV, 2001 :79). O tratamento de ativos intangíveis como despesas, conforme determinam as práticas contábeis vigentes, leva no caso das empresas intensivas em capital intelectual, a uma avaliação inferior ao valor real das mesmas. O inverso ocorre com as empresas (geralmente companhias maduras) menos dependentes dos intangíveis que obtêm do mercado uma supervalorização com base na sua lucratividade histórica (LEV, 2000 :18). Para Lev (2001 :83) a raiz do tratamento contábil diferenciado dos ativos intangíveis decorre, sobretudo, da grande incerteza sobre o retorno futuro dos investimentos em intangíveis, e se por um lado existe uma premente necessidade de melhoria do tratamento contábil dado ao capital intelectual, por outro o sistema atual serve a interesses de gestores e investidores informados. 55 De forma geral, o sistema atual infla os resultados futuros de lucratividade e crescimento, já que o custo associado ao retorno trazido pelos intangíveis normalmente foi lançado em períodos contábeis anteriores causando assim, problemas de assimetria de informações (LEV, 2001 :85-90). A assimetria de informações é definida como uma situação onde existem diferenças em relação à quantidade e qualidade da informação disponível entre as distintas partes interessadas, e essa assimetria gera problemas sociais e privados, já que alguns indivíduos ou grupos, ao estarem melhor informados sobre as perspectivas futuras da empresa, podem auferir ganhos anormais às custas das partes menos informadas (LEV, 2001 :93). De acordo com Aboody e Lev (2000 :2749), todo investimento corporativo gera assimetrias de informação, pois os gestores acompanham continuamente os resultados desses investimentos e contam com informação detalhada permitindo uma análise “ativo por ativo”, enquanto os “outsiders” dispõem apenas de informação agregada e disponível em momentos específicos. Além disso, em função dos investimentos na criação de ativos intangíveis possuírem características únicas, que não permitem a sua comparação com outras empresas ou projetos, os efeitos das assimetrias no caso do capital intelectual são ainda maiores. Como o ganho dos investidores informados cresce com a variabilidade do valor da firma, e sabendo-se que essa volatilidade é maior nas empresas mais intensivas em capital intelectual, as conseqüências sociais da assimetria de informações se potencializam. Isso torna ainda mais crítico encontrar formas de melhorar o processo de divulgação de informações associadas aos intangíveis, ao mesmo tempo em que se adotam regras estritas em relação às operações de “inside trading” (LEV, 2001 :94-95; ABOODY e LEV, 2000 :2751). 56 Finalmente, alguns outros efeitos dessas sérias deficiências de informação em relação ao capital intelectual das empresas são (LEV, 2001 :95-96): • geração de um custo excessivo de capital; • problemas em relação aos sistemas de compensação dos empregados; • a criação de oportunidades para aquisições hostis de empresas que se encontrem com seu valor de mercado sub-avaliado. Em face a essas questões, se torna fundamental ampliar a compreensão sobre como se compõe o capital intelectual das empresas, como podemos mensurá-lo e qual o seu real efeito na capacidade de geração de valor das empresas. 2.2 Classificação e constituintes do capital intelectual Da mesma forma que não encontramos consenso nem ao menos em relação à definição contábil de ativos intangíveis, muitas são as visões em relação aos constituintes do capital intelectual (ANDRIENSEN, 2004 :60). Porém, mesmo que a existência desses diversos modelos e classificações para o capital intelectual possa parecer indesejável, ela é uma conseqüência natural da pouca maturidade dessa área de estudo (BONTIS, 2001 :59). As gravuras Figura 9 e Figura 10 abaixo mostram algumas das diversas classificações utilizadas pelos estudiosos na área de capital intelectual. Na seqüência, detalharemos os componentes da classificação que será adotada neste trabalho. 57 Visão Geral das Classificações do Capital Intelectual Capital Intelectual Capital Intelectual Capital Humano Capital Organizacional Capital Relacional (Relational Capital) • Holistic value approach (ROOS) • Inclusive value methodology (M’PHERSON) Capital Estrutural Capital Humano Ativos Centrados em Pessoas Conhecimento Ativos de Infrraestrutura Ativos de Propriedade Intelectual • Intellectual capital audit (BROOKING) Empregados Clientes Competência Atitude Relacionamentos Organização Capital Individual Renovação e Desenvolvimento • Intellectual capital index (ROOS et al.) Educação formal Experiência e habilidades adquiridas Atitude do pessoal Competência social Abilidade de solucionar de problemas Capital “Clientes” • Konrad Group Capital Humano Capital “Clientes” Estrutura interna Capital Estrutural Capital Intelectual Ativos Intangíveis Competência dos empregados Tecnologia Capital de Know-how Capital Estrutural Agilidade Intelectual Processos • Intellectual capital statement (MOURITSEN et al.) Capital Intelectual Capital Humano Capital de Inovação • Intellectual capital dynamic value (BOUNFOUR) Capital Intelectual Ativos de Mercado Capital de Mercado Estrutura externa • Intangible asset monitor (SVEIBY) Figura 9 - Classificações do Capital Intelectual Fonte: adaptado pelo autor de ANDRIENSEN (2004 :61) Capital Estrutural Capital Organizacional Capital de Inovação Capital de Processos • Skandia novigator (EDVINSSON) • VAICTM (PULIC) 58 Ativos Intangíveis Ativos Humanos Ativos de Inovação Ativos Estruturais Ativos de RelacionaMento (com públicos estratégicos) • Taxonomia dos Ativos Intangíveis (KAYO) Figura 10 - Taxonomia dos Ativos Intangíveis Fonte: KAYO (2002 :19) 2.2.1 Capital humano Um componente comum a todas as classificações de capital intelectual apresentadas é o capital humano. Esse componente possui suas raízes no campo de estudo da economia e nos efeitos produtivos da qualidade e da competência dos trabalhadores. Em sua obra “A riqueza das nações”, Adam Smith já alertava para os efeitos da divisão do trabalho (SMITH, 2003), e ao analisar os determinantes dos salários, propunha que a educação e a aprendizagem deveriam ser considerados investimentos nos seres humanos (NERDRUM e ERIKSON, 2001 :128). Mesmo sem utilizar o termo capital humano, Alfred Marshall foi o primeiro a relacionar a educação com o fator de produção homem e propor que os investimentos nas pessoas devessem ser analisados como capazes de aumentar a capacidade produtiva de um país (MARSHALL, 2003). 59 Para Marshal (1890 :496 apud NERDRUM e ERIKSON, 2001 :128), o mais valioso tipo de capital é aquele investido nos seres humanos, dessa forma, a hipótese central de sua teoria é que, para as economias sub-desenvolvidas, a escassez de capital humano qualificado se constitui num desafio ainda maior que a escassez de capital físico. As bases da teoria econômica moderna do capital humano surgiram no início do século XX com Irving Fisher. O autor postulava que qualquer estoque de riqueza (material ou não), capaz de elevar os fluxos de “income”, deveria ser classificada como capital (NERDRUM e ERIKSON, 2001 :128-129). Partindo dessa proposição, Theodore W. Schultz (sob uma óptica “macro-econômica) e, Jacob Mincer (sob a óptica “micro-econômica”) elaboraram, de forma independente, a “Teoria do Capital Humano”, à partir da final da década de 1950 (NERDRUM e ERIKSON, 2001 :128-129). A teoria considera o capital humano como análogo às formas convencionais de capital, aplicando assim o modelo teórico neoclássico para análise. Dessa forma, o acúmulo de capital humano pode ser medido a partir dos gastos com educação formal, e com o acúmulo de conhecimento e informação produtivas que o indivíduo realiza ao longo de sua existência, com objetivo de melhorar a sua condição econômica de vida (BECKER, 1964). A “Teoria do Capital Humano” representa assim, uma proposta alternativa de desenvolvimento econômico, e segundo Becker (1964), a produtividade nas sociedades modernas depende antes de tudo, dos investimentos feitos na aquisição de conhecimento e na especialização profissional. 60 Sob a óptica do capital intelectual, o capital humano é um constituinte que se refere ao valor que os indivíduos podem produzir (KANNAN e AULBUR, 2004 :389), e ainda que Malhotra (2003 :3) afirme que ele abrange todos os recursos humanos da empresa, assim como os de seus clientes e fornecedores, para a maioria dos autores, apenas os recursos dos empregados e gestores da empresa (visão interna) são considerados (KUJANSIVU, 2003 :3; EDVINSON e MALONE, 1997 :34-35). Esse valor representado pelo capital humano das organizações decorre, segundo Roos et. Al. (1997 :34-41), da competência adquirida dos profissionais, ou seja, dos conhecimentos e aptidões dos mesmos, de características comportamentais das pessoas que compõem a organização (“atitude”), e da capacidade dessas em inovar e aplicar seu conhecimento em situações novas e diferentes (“agilidade intelectual”). Se por um lado o capital humano apresenta uma grande complexidade na sua gestão, fazendo com que um dos objetivos da empresa ao gerir seu capital intelectual seja buscar continuamente converter capital humano em capital estrutural (LEV, 2001 :35-36), por outro, Teece (1998 :66) aponta que a natureza tácita do capital humano dificulta a sua imitação, tornando mais sustentável a vantagem competitiva dele decorrente. Também Stewart (1998 :76) chama a atenção para a importância do capital humano, apontando que o “valor marginal do investimento em capital humano é cerca de três vezes maior do que o valor do investimento em equipamentos”. 2.2.2 Capital estrutural Além do capital humano, parcela do capital intelectual associada aos indivíduos que compõem a organização, de forma geral, todas as taxonomias reconhecem também uma outra parcela, que está diretamente ligada à empresa, seus sistemas, processos e conteúdo proprietário e, sobre a qual a organização consegue ter “controle” efetivo. 61 Para Roos et. Al. (1997 :42) essa parcela do capital intelectual associado à organização é chamada de capital estrutural. O capital estrutural inclui todos os sistemas computacionais e bases de dados, organogramas e descritivos de processos, bem como, toda a propriedade intelectual e quaisquer outros itens cujo valor para empresa seja superior ao valor material do mesmo (ROOS et. Al., 1997 :42). Esse capital estrutural, normalmente de propriedade da empresa, é definido por três importantes constituintes: ativos de relacionamento, ativos de “organização” e ativos de renovação e desenvolvimento (inovação). Kayo (2002 :19) ao propor uma taxonomia que torne mais uniforme as classificações do capital intelectual, classifica como ativos de relacionamento, todas as marcas, direitos autorais, contratos com clientes, fornecedores, distribuidores, licenciados e “franquiados” que a empresa possui. Na visão de Roos et. Al. (1997 :44) também fazem parte do capital de relacionamento da empresa, a reputação e lealdade conquistadas junto a todos os seus “stakeholders”. Um aspecto interessante dos ativos de relacionamento é a sua relativa capacidade de “auto-renovação” (self-renewal), haja visto que, novos relacionamentos podem se originar daqueles já existentes, ainda que nenhum esforço consciente seja feito nesse sentido (ROOS et. Al., 1997 :46). O capital organizacional, segundo componente do capital estrutural, inclui todas as manifestações do capital intelectual associadas à estrutura interna e às operações da empresa. Trata-se de capital cuja propriedade integral é da empresa, e que em alguns casos, é passível de comercialização ou licenciamento por parte desta. Essa característica lhe confere um “valor de mercado” permitindo, eventualmente, a sua avaliação e seu reconhecimento contábil. 62 É necessário que a empresa continuamente desenvolva e “alimente” seu capital organizacional. Esse objetivo é atingido, normalmente, através de iniciativas com o objetivo de converter capital humano em capital organizacional (ROSS et. Al., 1997 :46-47). O terceiro e último componente do capital estrutural são os ativos de renovação e desenvolvimento. Esses incluem o resultado de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, patentes, fórmulas secretas, know-how tecnológico entre outros (KAYO, 2002 :19). Roos et. Al. (1997 :51-52) descrevem esse componente como, compostos por “todos os itens que foram construídos ou criados e que irão ter um impacto no valor futuro da empresa”. No contexto desse estudo, a preocupação com a natureza e o efeito dos componentes do capital intelectual será deixada em segundo plano, já que o estudo busca verificar o efeito do capital intelectual (como um todo) na capacidade da empresa em gerar valor. Assim sendo, adotaremos aqui uma taxonomia equivalente às proposições de Edvinson (1997) e Roos (1997) no seu primeiro nível, considerando assim que o capital intelectual é composto por: capital humano e capital estrutural. Tendo concluído, com a definição da classificação de capital intelectual a ser utilizada, a parte do referencial teórico que buscou caracterizar, de forma ampla, o capital intelectual, para melhor compreender os efeitos do mesmo na geração de valor das empresas, passamos agora a analisar algumas características econômicas particulares dos ativos do conhecimento. 2.3 Atributos econômicos particulares dos intangíveis O potencial do capital intelectual em gerar valor para as empresas está diretamente relacionado a um conjunto de características econômicas particulares que afetam os ativos intangíveis. 63 Lev (2001 :21) menciona que as leis econômicas fundamentais de balanceamento de custos e benefícios, se aplicam aos ativos intangíveis da mesma forma que aos ativos físicos e financeiros. Porém, se na visão tradicional sobre o funcionamento dos mercados, derivada de Marshall e Chanberlain, as premissas são a existência de retornos decrescentes e o uso de funções produção idênticas para todos os participantes, no caso das empresas intensivas em conhecimento, freqüentemente verificamos a existência de retornos crescentes. Esses retornos crescentes decorrem de fatores como: a) padrões e efeito de redes, b) custos de troca amplificados pelo investimento prévio dos clientes, c) existência de grandes investimentos iniciais e custos marginais de produção reduzidos e, e) ganhos de eficiência através da experiência e aprendizagem (TEECE, 2000 :7-8). Sendo assim, podemos considerar que os principais benefícios associados ao capital intelectual decorrem das características de “não-rivalidade” (nonrivalry/nonscarcity) e dos “efeitos de rede” (network effects) desfrutados por esses. Cabe aqui ressaltar que nesse contexto o termo “não-rivalidade” (nonrivalry/nonscarcity), conforme definido por Lev (2001 :22), diz respeito à característica presente na maior parte dos ativos intangíveis de possuir usos alternativos que não concorrem entre si (nonrivalry) de forma que, em um mesmo momento, podem estar sendo empregados em múltiplos usos sem que o uso de uma determinada forma, prejudique ou elimine a possibilidade do mesmo intangível ser empregado de outra forma. Ao mesmo tempo, o controle de propriedade apenas parcial (partial excludability), o risco inerente dos investimentos nesses ativos, e o fato dos mesmos serem, via de regra, “não negociáveis” (non-tradability), constituem-se nos três principais direcionadores de custo que afetam os ativos intangíveis, restringindo o seu potencial de geração de valor (LEV, 2001 :21). 64 De forma geral, o efeito positivo dos ativos intangíveis na lucratividade e no valor de mercado das empresas, decorre fundamentalmente da combinação das economias de escala no lado da oferta, e dos “efeitos de rede” no lado da demanda (HAND e LEV, 2003 :306; ANDRIENSEN, 2004 :4). Ao contrário dos ativos físicos e financeiros, os ativos intangíveis em função de serem “não-escassos”, possuem um custo de oportunidade, além do investimento inicial, que é insignificante. Esses ativos se caracterizam assim por apresentar um grande “sunk cost” e um custo marginal próximo de zero (LEV, 2001 :22-23). Essa característica faz com que a “escalabilidade” desses ativos não encontre outro limite que não, o tamanho do mercado. Dessa forma, os ativos intangíveis, no lugar de apresentarem “retornos por escala” decrescente como os ativos físicos, freqüentemente, apresentam um “retorno por escala” crescente, beneficiando-se cada vez mais com a ampliação do volume (HAND e LEV, 2003 :327). Segundo Lev (2001 :25-26), um dos efeitos da escalabilidade ilimitada dos intangíveis pode ser observado na parcela de mercado detida pelos líderes de um dado setor. Enquanto em setores intensivos em ativos tradicionais, as empresas líderes, tipicamente, detém fatias inferiores a 25% do mercado total, em setores intensivos em capital intelectual, é freqüente encontrarmos empresas com mais de 70% de market share. Outro fator que contribui para a criação desses quase monopólios em alguns setores são os “efeitos de rede” (network effects). O mimetismo organizacional e a busca pelo compartilhamento de uma mesma plataforma operacional favorecendo ações colaborativas, acabam por criar um processo de reforço que faz com que os clientes existentes atraiam novos clientes, ainda que a empresa fornecedora não faça esforço algum nesse sentido. 65 O resultado final desse processo é a rápida aquisição de um monopólio por parte da empresa. Além disso, em função dos altos custos de mudança, esse monopólio tende a se perpetuar (HAND e LEV, 2003 :327). Ainda que as características econômicas anteriormente mencionadas façam dos intangíveis fontes importantes de geração de valor para as empresas, vários aspectos relacionados à complexidade da sua gestão, impõem limites para a sua utilização. Lev (2001 :32) chama esse fatores de “deseconomias” gerenciais (managerial diseconomies), e se por um lado essas “deseconomias” são a maior restrição ao crescimento e uso dos intangíveis, a superação destas, através do uso de sistemas de informação e processos gerenciais mais adequados, promete grandes recompensas. Uma das maiores fontes de complexidade na gestão dos ativos intangíveis, é o fato dos mesmos possuírem um perfil de “risco-retorno” incomum em relação aos investimentos (HAND e LEV, 2003 :326). Considerando um cenário de monopólio, a possibilidade de um retorno sobre investimento (ROI – Return on Investment) muito alto com ativos intangíveis existe, sendo maior e mais provável do que no caso de um investimento em ativos tangíveis. Esse fato se explica pela ausência de produtos substitutos próximos para os ativos intangíveis em questão. Por outro lado, em se tratando de investimentos em ativos intangíveis, a hipótese mais provável é sempre a de perda total do investimento, o que é pouco provável de acontecer no caso de um investimento em ativos tradicionais. Estudos empíricos demonstram que existe viés nos processos de inovação, já que apenas uns poucos produtos são bem sucedidos, enquanto a grande maioria, não obtém êxito (LEV, 2001 :39). 66 Outro motivo para o perfil de risco enviesado dos intangíveis, segundo Andriensen (2004 :5), é que os investimentos em capital intelectual, tais como: P&D (pesquisa e desenvolvimento), treinamento e aquisição de tecnologias, são mais concentrados nos estágios iniciais do desenvolvimento de um novo produto, quando o nível de incertezas é muito maior do que em estágios mais avançados desse processo de desenvolvimento de produtos. Um segundo aspecto importante que torna complexa a gestão dos ativos intangíveis, é a impossibilidade de restringir o seu uso. Isso ocorre não apenas em função de violações de patentes e marcas registradas, ou da cópia não autorizada de conhecimento explicito, mas também, da transferência de conhecimento tácito para um concorrente que contrata profissionais chave da empresa (LEV, 2001 :33-37). Para Andriensen (2004 :5), a última característica dos ativos intangíveis que dificulta a sua administração é a inexistência de mercado para a negociação dos mesmos. A falta de mercados dificulta a real avaliação desses ativos e impede a alocação ótima de recursos e investimentos. A inexistência de mercados organizados para a comercialização dos intangíveis, que para alguns é decorrente da falta de “contratos completos” (LEV, 2001 :43), torna ainda mais importante a efetiva avaliação do capital intelectual das empresas e a compreensão de seu efeito na geração de valor das mesmas. Com base na série de características econômicas apresentadas, nos concentramos agora em verificar como, de acordo com os principais autores, o capital intelectual se constitui num recurso estratégico capaz de gerar valor. 67 2.4 A influência dos ativos intangíveis na geração de valor A geração de valor constitui-se no objetivo central de qualquer empresa. Estudos conduzidos nos últimos 200 anos na área de economia demonstram que é somente através da busca sustentável e contínua da maximização dos seus lucros, que a empresa pode atender aos objetivos, não apenas de seus acionistas, mas de todas os demais “stakeholders”. (JENSEN, 2001 :299-304). Para Barney (2002 :26-33), a definição de criação de valor está associada à capacidade da empresa de gerar lucro econômico, ou seja, de através do uso de seus recursos gerar valor econômico superior ao esperado pelos donos desses recursos. São as empresas que obtém lucro econômico acima do normal do setor, que desfrutam de vantagem competitiva nesse setor ou mercado. Em função do alto grau de mobilidade, e da vasta gama de alternativas de investimento, as empresas necessitam tornarem-se competitivas não apenas nos mercados comerciais, mas também, nos mercados de capitais (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :20-23). Com base nos atributos econômicos dos ativos intangíveis descritos na seção 2.3, é possível observar o potencial em termos de geração de valor que estes apresentam. Através do constante desenvolvimento e efetiva utilização do seu capital intelectual, as empresas criam inúmeras oportunidades para aumentar sua produtividade, quer seja ampliando a eficiência dos ativos tangíveis existentes, ou reduzindo a necessidade destes. Além disso, através da inovação e do relacionamento estreito com clientes e fornecedores, é possível a introdução de produtos e serviços diferenciados de alta margem, bem como a criação de mercados completamente novos (LEV, 2001 :51-77). 68 Para prosseguir no estudo da influência do capital intelectual na geração de valor, fazse necessário agora, definir de forma mais clara geração de valor, tanto de forma ampla com, principalmente, dentro do contexto deste trabalho. 2.4.1 Métricas de criação de valor Se por um lado parece haver pouca discordância sobre o fato da geração de valor ser a mais importante e objetiva medida de desempenho de uma empresa, existem diversas formas de definir e mensurar geração de valor. O “MVA - Valor de mercado agregado”(Market value added), o “EVA – Valor econômico adicionado” (Economic value added) e o “CFROI – Retorno sobre o investimento em termos de fluxos de caixa” (Cash-flow return on investment), são apenas algumas das métricas de geração de valor que têm recebido maior destaque nos últimos anos (YOUNG e O’BYRNE, 2003 : 331-367). Para melhor compreenção das características das diversas métricas de geração de valor, Young e O’Byrne (2003 :369-372) propõem uma classificação das métricas por categoria de análise. Dessa forma, definem cinco grupos de métricas: medidas de lucro residual, componentes de lucro residual, medidas baseadas no mercado, medidas de fluxo de caixa, medidas de lucro. Fazem parte do primeiro grupo o EVA, o lucro econômico (definido como EVA não ajustado), e o valor adicionado em caixa (CVA). Essas métricas são obtidas através da subtração dos custos de capital do lucro operacional, independente do mesmo ser medido através de regime de competência de caixa (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :369). No segundo grupo estão as medidas de lucratividade, utilizadas no cálculo das métricas do primeiro grupo, porém que não consideram os custos de capital. 69 São representantes dessa classe de medidas: o lucro antes de despesas financeiras e do imposto de renda (EBIT), lucro antes de despesas financeiras e do imposto de renda acrescido de depreciações e amortizações (EBITDA), NOPAT (Net Operating Profit After Taxes) e RONA (Return On Net Assets), entre outras. O grupo “Medidas baseadas no mercado” englobal medidas como: retorno total do acionista (TSR- Total Shareholder Return), MVA (Market Value Added), o retorno em excesso e o valor de crescimento futuro (VCF). Tais medidas são bastante interessantes em função de serem as únicas a refletir espectativas do valor futuro dos investimentos, no entanto, não podem sem calculadas nos níveis divisionais e apenas são passíveis de aplicação em empresas de capital aberto. As medidas de fluxo de caixa, criadas para contornar os efeitos da contabilidade em regime de competência, incluem o fluxo de caixa das operações, fluxo de caixa livre e CFROI entre outras métricas. Finalmente, Young e O’Byrne (2003 :370) mencionam as métricas que tradicionalmente tem sido empregadas há décadas por executivos e analistas tais como: lucro líquido e lucro por ação. Na busca de medidas objetivas de performance, Barney (2002 :32-73) pesquisou e agrupou diversos indicadores em três grupos: medidas contábeis simples de desempenho histórico, medidas contábeis ajustadas de desempenho histórico e, outras medidas. 70 Dentre essas três classes de medidas propostas por Barney (2002 :32-33), as medidas contábeis simples de desempenho histórico, ainda que apresentem limitações em função das variações e aplicações das práticas contábeis geralmente aceitas (GAAP), do foco no curtoprazo, e da dificuldade de avaliar recursos e ativos intangíveis, são aquelas que apresentam maior popularidade e aceitação como indicadores de desempenho, e a despeito das deficiências apontadas, são capazes de oferecer uma grande quantidade de informações relevantes sobre a operação das firmas. A composição de índices com base nessas medidas contábeis simples é a forma mais usual de se aferir o desempenho das empresas (BARNEY, 2002 :32). Alguns desses índices, com a sua respectiva fórmula de cálculo e interpretação, podem ser encontrados no Quadro 2 mostrado a seguir. 71 Índice Fórmula de cálculo Retorno sobre os ativos ROA=lucro depois de impostos / ativo total (ROA) L u c r a t i v i d d a e d e Í n d i c e s Í n d i c e s l i q u i d e d z e a l a v a n c a g d e e m Í n d i c e s Í n d i c e s A t i v i d a d d e e Retrono sobre patrimônio (ROE) Margem bruta Interpretação Mede o retorno total dos investimentos da firma. o ROE=lucro depois de impostos / total do patrimônio Mede o retorno total dos investimentos em patrimônio da líquido firma. MB=vendas-CPV / vendas Valor residual para cobertura de despesas e impostos, visando geração de lucro. Fluxo de Caixa por ação (Lucro após impostos - pgto. de dividendos sobre as Mede o lucro disponível para os proprietários de ações ações preferenciais) / Número de ações ordinárias ordinárias. Mede a expectativa sobre o desempenho da empresa (Preço de mercado / número de ações) / (Lucro após uma alta relação p/e indica que o mercado espera um alto nível de performance no futuro. impostos / número de ações) (Lucro após impostos + depreciação) / Número de Mede a disponibilidade de recursos para financiar ações ordinárias atividades acima do nível de custos atuais. Índice de liquidez corrente Ativo circulante / Passivo de curto prazo Lucro por Ação (EPS) Relação Preço e Lucro (p/e) Mede a capacidade da firma de pagar as suas dívidas de curto prazo usando seu ativo circulante. Mede a capacidade da firma de pagar as suas dívidas de curto prazo usando seu ativo circulante, sem vender o Índice rápido (quick ratio ) (Ativo circulante - estoques) / Passivo de curto prazo seu estoque. Endividamento sobre ativo Passivo total / Ativo total Medida do nível de endividamento usado para financiar as operações da empresa. Endividamento sobre patrimônio líquido Passivo total / Patrimônio líquido Mede a relação entre capital de terceiros e capital próprio na empresa. Índice de cobertura de juros (Times interest earned ) Lucro antes de despesas financeiras e impostos / Total das despesas financeiras Medida de quanto os lucros da empresa podem cair sem comprometer o pagamento das obrigações financeiras. Giro de estoque Custo de mercadorias vendidas / Estoque médio Mede a velocidade com que a empresa está girando o seu estoque. Giro de contas a receber Vendas a prazo no ano / contas a receber Mede o tempo médio que a empresa leva para receber as suas vendas a prazo. Tempo médio de cobrança Mede o tempo médio que a empresa leva para receber após efetuar uma venda. Contas a receber / Média diária de vendas Quadro 2 - Análise de índices usando medidas contábeis simples de desempenho Fonte: BARNEY (2002 :33-34) O emprego de índices no lugar de medidas de lucro residual expressas em valores como o EBIT, é justificado pelo fato dos mesmos permitirem que sejam considerados aspectos relativos à eficiência na utilização do capital e dos ativos (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :391). 72 Dessa forma, sem penetrar mais profundamente no âmbito da discussão sobre qual das métricas de desempenho existentes é a melhor, ou menos ainda, qual é o melhor conjunto de métricas já que “diferentes métricas servem a diferentes propósitos” (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :390), discussão essa que foge ao escopo dessa dissertação, para efeitos desse trabalho, em consonância com Barney (2002 :32-37), e buscando medidas objetivas, definiremos “geração de valor” para os proprietários e acionistas, em termos do “ROE – Retorno sobre Patrimônio Líquido”(Return on Equity). Além deste, utilizaremos também dois outros índices de lucratividade: “ROA – Retorno sobre ativos (Return on assets) e “ROS – Retorno sobre vendas” (Return on sales). Através da utilização desses índices de lucratividade, esperamos conseguir capturar a capacidade de geração de valor da empresa, da forma mais ampla possível, independente do seu porte, setor de atuação, ou ainda, de ser uma empresa com ações na bolsa ou não. As fórmulas de cálculo adotadas nesta pesquisa, já foram previamente definidas e encontram-se descritas na seção 0 desta dissertação. Uma vez concluída a definição de geração de valor no âmbito deste trabalho, passamos agora a explorar a relação entre capital intelectual e vantagem competitiva. 73 2.4.2 Capital intelectual, vantagem competitiva e criação de valor Se por um lado, para ser viável, a empresa necessita obter vantagem competitiva em seu mercado, criando maior valor econômico que suas rivais (BESANKO et Al., 2006 :372), por outro, no contexto econômico atual, a redução do custo de informação, o aumento do número de mercados disponíveis, a liberalização dos mercados de produtos e de trabalho, além da desregulamentação dos fluxos financeiros internacionais, estão transformando as bases da competição no nível das firmas e erodindo a maioria das fontes tradicionais de vantagem competitiva (TEECE, 2000 :4). Para Bessanko et Al. (2006 :370-371), as baixas barreiras de entrada e uma oferta homogênea por parte de todos os concorrentes, cria um ambiente competitivo, que progressivamente, dissipa a rentabilidade até que o lucro econômico de todos os produtores passe a ser nulo. O processo de liberalização de mercados e de redução de barreiras (tarifárias ou não), que presenciamos desde os anos 60, faz com que produtos acabados, serviços e demais fatores de produção, fluam de forma muito mais livre que no passado. Se aliarmos a isso a redução dos custos de transporte de produtos e de informação, notamos que as tradicionais barreiras comerciais e uma posição privilegiada num mercado local, já não são mais efetivas para garantir uma posição competitiva privilegiada para as empresas (TEECE, 2000 :5). Esse processo de transformação das fontes de vantagem competitiva pode ser verificado no digrama da Figura 11. 74 Redução de custos e aumento da velocidade do fluxo de informações Expansão do mercado de produtos intermediários Maior acesso a ativos complementares Eliminando as fontes tradicionais de vantagem competitiva Conhecimento tácito e outros intangíveis são as únicas fontes de vantagem competitiva remanescentes Lucros “Supernormais” (Supernormal Profits) “Competências dinâmicas” refletem a capacidade da firma de explorar seus ativos intangíveis Figura 11 - A transformação da vantagem competitiva na era da tecnologia de informação e dos mercados ubíquos. Fonte: TEECE (2000 :4) As novas bases para a diferenciação e para a criação de valor são, segundo Teece (2000 :4), o desenvolvimento e a aplicação inteligente de ativos intangíveis. Dentro de uma visão da “teoria baseada em recursos” (RBV - Resource based view), essa afirmação decorre do fato de que a vantagem competitiva no nível da firma, só pode ser obtida através da posse da propriedade e uso de ativos “não negociáveis” (non-tradable assets) (TEECE, 2000 :11). Construindo sobre os princípios da economia “Ricardiana”, de que os possuidores de fatores de produção de qualidade superior e oferta inelástica obtém lucro econômico (economic rents), e do princípio da “heterogeneidade dos recursos” de Penrose, os proponentes da RBV atribuem figura chave à posse e à exploração de recursos financeiros, físicos, humanos e organizacionais, no estabelecimento de uma posição de vantagem competitiva por parte das firmas (BARNEY, 2002 :152-158). 75 De uma forma mais concreta, Barney (2002 :159-161), propõe que as premissas de heterogeneidade e imobilidade, necessárias para que um recurso possa se tornar fonte de vantagem competitiva para a empresa, possam ser traduzidas através do modelo VRIO (“VRIO framework”). O modelo propõe uma análise das atividades da firma, em busca de recursos utilizados que sejam: valiosos, permitindo que a empresa responda adequadamente às ameaças e oportunidades do ambiente; raros, de forma que as demais firmas não possuam esse recurso ou competência valiosa; imperfeitamente imitável, fazendo com que as empresas que ainda não possuem o recurso contem como uma desvantagem de custo para obtê-lo e; organizados, que a firma esteja organizada para explorar plenamente o potencial competitivo do recurso (BARNEY, 2002 :159-172). Tendo por base o modelo VRIO, podemos analisar uma importante dicotomia em relação ao capital intelectual descrita por Teece (2000 :13-22). De um lado temos que, quanto maior a codificação do conhecimento mais eficiente economicamente é a sua transferência por toda a organização, ou seja, os custos de transferência do conhecimento aumentam quando cresce a parcela do conhecimento tácito no capital intelectual. Ao mesmo tempo, a maior facilidade de transferência de um dado conhecimento acaba por reduzir o controle da firma sobre o mesmo. Isso se explica pela maior facilidade de replicação por um concorrente, que o conhecimento codificado apresenta. Os mecanismos de proteção contra a apropriação não autorizada restringem-se, nesse caso, aos mecanismos legais de eficiência altamente variável dependendo da situação, setor industrial e país envolvido. 76 Da mesma forma, o capital intelectual sob a forma de tecnologia de processos é mais efetivo, sob o aspecto de proteção intelectual, do que aquele sob a forma de tecnologia de produtos (TEECE, 2000 :14). É crítico, portanto, para a capacidade de geração de valor da firma (e para o seu sucesso), a sua habilidade em criar, transferir, proteger e explorar os seus ativos de conhecimento. No entanto, a maneira como a empresa identifica ameaças e oportunidades no mercado, e responde a esses estímulos re-configurando seus ativos (tangíveis ou não), sua estrutura organizacional e suas competências, de forma a gerar valor, é ainda mais relevante do que a simples posse de um conjunto qualquer de recursos (TEECE, 2000 :26-31). Tendo revisado as principais relações descritas na literatura entre capital intelectual e geração de valor, e tendo também definido os aspectos da geração de valor que serão medidos e analisados nesta dissertação, devemos agora verificar os mecanismos disponíveis para que possamos medir e capturar o estoque e o fluxo de capital intelectual das empresas do estudo. 2.5 Medidas de estoque de capital intelectual De forma geral em se tratando de modelos de avaliação do capital intelectual, quer seja aqueles que utilizam as informações financeiras disponíveis, ou os que observam e analisam atividades internas das empresas, tais como nível de gastos como P&D (pesquisa e desenvolvimento) e quantidade de patentes produzidas entre outros, a grande maioria têm se focado na tentativa de quantificar o estoque de conhecimento ou de capital intelectual que a empresa possui num dado momento (STEWART, 1998; MALHOTRA, 2002). Dessa forma, existe na literatura, um grande número de mecanismos propostos para se avaliar o estoque de capital intelectual de uma empresa. 77 Mesmo não sendo objetivo desse estudo analisá-los extensivamente, há alguns que, em função de sua relevância e de forma a justificar a escolha do sistema de mensuração que será aplicado neste estudo, merecem ser brevemente comentados. Dentre os modelos existentes, a diferença entre valor de mercado e valor contábil, é sem dúvida, a forma mais comum (e talvez a mais controvertida) para mensurar o estoque de capital intelectual de uma empresa. Para calcular esse valor basta subtrair o valor contábil da empresa, do seu valor de mercado, encontrando assim, o valor atribuído pelo mercado ao capital intelectual na empresa. Se na simplicidade do cálculo e na disponibilidade de informações (ao menos no caso das companhias negociadas em bolsa) estão as maiores vantagens desse modelo de avaliação, o valor do capital intelectual dessa forma definido, poderá apresentar indesejáveis e grandes oscilações, dependendo da fase na qual se encontra o mercado acionário como um todo e de outros fatores, como a inflação por exemplo, que não têm qualquer relação com o capital intelectual e seus componentes (ANDRIENSEN, 2004 :340-343). Bastante similar à razão valor de mercado/valor contábil (M/B) é o coeficiente q de Tobin, desenvolvido pelo ganhador do prêmio Nobel de economia em 1981, James Tobin. No caso deste, consideramos os custos de reposição dos ativos tangíveis da empresa (no lugar de seu valor contábil). Dessa maneira, o “q de Tobin” acaba sendo mais eficiente que a relação M/B, pois permite a execução de importantes ajustes no valor dos ativos físicos, proporcionando assim uma avaliação mais coerente desses. Porém, esse método também sofre o impacto das oscilações do mercado, que alteram o valor do quociente sem que tenham qualquer relação com o aumento ou redução do capital intelectual da empresa (MALHOTRA, 2002). 78 A relação valor de mercado e valor contábil, da mesma forma que o “Q de Tobim” são exemplos de métricas que buscam avaliar o estoque de capital intelectual, a partir do valor de mercado da empresa (market capitalization). Dessa forma, não contém informação sobre os componentes por trás do capital intelectual da empresa, são aplicáveis somente às empresas de capital aberto com ações em bolsa, e se prestam somente para ilustrar o valor financeiro do capital intelectual ou como parâmetro de comparação entre empresas de um mesmo setor (MALHOTRA,2003 :11-12; BOUTEILLER, 2002 :5-6). Uma abordagem distinta para atribuir valor financeiro ao estoque de capital intelectual é a da avaliação “ativo-por-ativo”. O método Criação de Valor Total – TVC (Total Value Creation) foi concebido pelo instituto Canadense de contadores (Canadian Institute of Chartered Accountants). Fazendo uso do cálculo do fluxo de caixa descontado, o TVC analisa cada ativo intangível identificado, como um projeto com fluxo de caixa próprio, e projeta a partir do impacto futuro desses, o retorno total dos acionistas (TSR – Total Shareholders Return) esperado. O fato do modelo ter sido concebido com uma “orientação futura” (“foward-looking approach”), concentrando-se somente nos fluxos de caixa futuros é uma das principais fontes de crítica do mesmo já que, os “sunk costs” associados aos ativos intangíveis não são considerados nos cálculos (BOUTEILLER, 2003 :7). Também fazendo uso da abordagem “ativo-por-ativo”, o método das Citações de Patentes Ponderadas – CWP (Citation-Weighted Patents), busca medir o valor econômico do processo de inovação da empresa, como forma de explicar o valor de mercado da mesma (ANDRIENSEN, 2004 :291-292). 79 Através do método, o valor de um portfólio de patentes pode ser calculado através de uma série de índices tais como: número de patentes sobre vendas, custo de patentes sobre vendas, etc. Dessa forma, as empresas podem comparar-se com seus concorrentes (benchmark) e suportar melhor suas decisões de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) (MALHOTRA, 2003 :10). Um aspecto interessante do método é a constatação de que, o número de citações de uma patente, é um direcionador mais eficiente do valor de mercado da empresa do que o número de patentes por ela possuído (BERG, 2002 :27). No entanto, segundo Andriensen (2004 :292-293), o índice apresenta como importantes pontos falhos, o fato de ser limitado a patentes, não considerando assim outros recursos intangíveis. Além disso, em função do longo tempo necessário para registrar uma patente, e do tempo normalmente transcorrido entre a criação da patente e sua citação, os índices associados ao CWP de uma empresa podem estar refletindo uma realidade da empresarial de 15 anos atrás. Além dos modelos já citados, Malhotra (2003 :9), descreve uma classe de modelos de avaliação baseados em painéis de controle (scorecards). Dentre esses, o “Monitor de Ativos Intangíveis” – IAM (Intangibles Asset Monitor), concebido por Karl Erik Sveiby, merece destaque em função de ter sido criado com a intenção de complementar os sistemas contábeis e fornecer aos stakeholders uma visão mais abrangente da firma, da qualidade de sua gestão e de seu grau de confiabilidade (ANDRIENSEN, 2004 :318-320). 80 O método considera que o valor de mercado de uma empresa é decorrente do seu patrimônio visível, em conjunto com três classes de ativos intangíveis: estrutura externa, estrutura interna e competências individuais. Dessa forma, um conjunto extenso de indicadores financeiros e “não-financeiros” é definido para permitir o acompanhamento e a gestão de cada uma dessas classes de intangíveis (BERG, 2002 :21-25). Ainda que se constitua num framework bastante abrangente, que se propõe a representar cada um desses três componentes do capital intelectual sob as perspectivas de crescimento, eficiência e estabilidade, trata-se de um modelo que recebe ajustes em cada empresa, não permitindo a comparação entre elas (ANDRIENSEN, 2004 :320-321). Uma sexta forma proposta para calcular o valor dos ativos intangíveis, também regularmente mencionada na literatura, e que é considerada bastante robusta na sua capacidade de predição, é o “Valor do Capital Conhecimento” (KCV - Knowledge Capital Value), desenvolvida por Baruch Lev como parte do seu “Painel de controle do capital conhecimento” (KCS - “Knowledge Capital Scorecard”) (KANNAN e AULBUR, 2004 :406). Lev (1999), ao definir a metodologia, partiu do conceito de ganhos normalizados (“normalized earnings”) anuais da empresa, ou seja, o lucro líquido ajustado para eventos extraordinários ou únicos. Esses ganhos normalizados devem ser definidos para os últimos três exercícios da empresa, depois, é feita também uma projeção dos ganhos normalizados para os próximos 3 anos. Com base no resultado desses seis períodos, é calculada uma média aritmética ponderada dos ganhos normalizados, dando maior peso aos períodos futuros. 81 O passo seguinte, consiste no cálculo dos ganhos decorrentes dos ativos físicos e financeiros. Para efetuar esses cálculos Lev (1999; GU e LEV, 2002), considera um taxa de retorno após impostos de 7% para os ativos físicos e 4,5% para os ativos financeiros. A diferença entre os ganhos normalizados e os ganhos provenientes dos ativos físicos e financeiros, resulta nos “Ganhos do capital conhecimento” - KCE (“Knowledge Capital Earnings”) ou “Ganhos direcionados por intangíveis” - IDE (“Intangible Driven Earnings”). O valor do IDE da empresa é então, através de um modelo de avaliação de três estágios, projetado para três períodos futuros: os próximos 5 anos, de 5 a 10 anos e de 11 anos à perpetuidade. Os fluxos dessas projeções do IDE, trazidos a valor presente com uma taxa de desconto do capital do conhecimento (knowledge capital discount rate), definida como sendo a lucratividade média (lucro após impostos) dos setores de software e biotecnologia (estimada em 10,5%), define o valor do capital intelectual da empresa. Se por um lado o método tem muitos méritos por outro, seu direcionamento futurístico, sua relativa complexidade de cálculo, a consideração que a taxa de retorno sobre os ativos físicos e financeiros é igual à contribuição desses para os ganhos da empresa, e a possibilidade de geração de resultados incoerentes entre empresas que encontram-se em momentos diferentes nos seus ciclos de investimento, são motivos freqüentes de críticas ao método (KANNAN e AULBUR, 2004 :406; ANDRIENSEN, 2004 :325; BOUTEILLER, 2002 :7). A última métrica do estoque de capital intelectual a ser descrita nesta dissertação é o “Valor Intangível Calculado” - CIV (Calculated Intangible Value). 82 Utilizando uma metodologia adaptada do cálculo de valor de marcas, o CIV busca medir o impacto econômico dos intangíveis através do calculo da diferença entre o retorno que a empresa obtém sobre os seus ativos tangíveis, e um concorrente médio com ativos semelhantes (STEWART, 1998). Apesar de ter surgido primeiro, e mesmo compartilhando com o KCV de Lev (1999) as virtudes e problemas de um método baseado em retorno excedente (Excess Earnings), o método não conquistou, até o momento, grande popularidade e existem poucas evidências empíricas sobre o seu uso (LONNQVIST e KUJANSIVU, 2005 :4). A premissa de que o prêmio de performance é decorrente apenas do capital intelectual, o fato de que os ativos intangíveis que contribuem para o retorno normal (normal earnings) não são medidos, e a impossibilidade de aplicar-se o método às empresas com retornos abaixo da média da indústria, são as principais fontes de críticas ao CIV (ANDRIENSEN, 2004 :290-291; BOUTEILLER, 2002 :7). A despeito disso, o método apresenta características únicas que são bastante desejáveis (LONNQVIST e KUJANSIVU, 2005 :3). No contexto deste estudo, essas características são: • Dependência única de informações contábeis e financeiras básicas; • Passível de aplicação a um grande número de empresas; • Sólida base contábil Em função dessas características mencionadas, o CIV é a metodologia mais adequada, dentre todas analisadas, para, no contexto desse estudo, medir o estoque de capital intelectual das empresas da amostra. Dessa forma, é conveniente nos aprofundarmos mais no estudo do funcionamento e dos detalhes envolvidos com o cálculo do CIV. 83 2.6 CIV como um direcionador de valor da empresa Segundo Stewart (1997), o CIV foi desenvolvido pela NCI Research, em associação com a Kellogg School of Business na Northwestern University. O objetivo da NCI era encontrar uma forma de avaliar os ativos intangíveis de forma a facilitar a obtenção de crédito bancário para as empresas intensivas em capital intelectual. Da mesma forma que o KCE (Knowledge Capital Earnings), descrito na seção anterior, o EVA (Economic Value Added) e o VAICTM(Value Added Intellectual Capital), que serão apresentados na seção 2.7, o CIV faz parte de uma classe de modelos baseados em “retorno sobre ativos”. Esses modelos são de especial relevância em função de apoiarem-se em regras e métricas contábeis tradicionais, permitindo assim a comparação (benchmarking) entre empresas e facilitando a comunicação e aceitação junto à comunidade financeira (MALHOTRA, 2003: 12). A base conceitual para o cálculo do CIV foi extraída das metodologias usadas para cálculo de valor de marcas. Considera-se nessas metodologias, genericamente designadas como retorno excedente (Excess Earnings), que o retorno obtido por uma empresa, que é superior ao de um concorrente de similar porte, advém do valor econômico das marcas que essa empresa possui (STEWART, 1997). 84 No caso de CIV, o mesmo princípio é aplicado e o prêmio de performance da empresa, é atribuído não apenas à marca, mas ao conjunto completo dos seus ativos intangíveis. Sendo assim, o valor presente do lucro líquido adicional obtido pela empresa, é igual ao valor monetário do seu capital intelectual (STEWART, 1997; ANDRIENSEN, 2004; LUTHY, 1998). Um dos motivos da preferência, pela comunidade financeira, de métodos baseados em retorno excedente, como metodologia de avaliação de ativos intangíveis, é a sua proximidade com o procedimento, aceito pela receita federal norte-americana desde 1920, para cálculo do valor justo (fair value) de goodwill e outros ativos intangíveis. Esse procedimento, estabelecido inicialmente com o objetivo de calcular o valor da perda das companhias produtoras de bebidas alcoólicas durante a vigência da “Lei seca” nos EUA, numa versão revisada, é atualmente descrito na regra IRS 68-609, e continua vigente (LUTHY, 1998). As etapas envolvidas no cálculo do CIV, conforme descritas por Stewart (1997) podem ser vistas na Quadro 3 . 85 Etapa 1 Tomar o lucro antes dos impostos (pg. 30, Figura 5: item 5) da empresa para um período de 3 anos (LAIRano1, LAIRano2, LAIRano3) (a). Calcular a média dos lucros antes dos impostos (LAIRmed. = (LAIRano1 + LAIRano2 + LAIRano3 )/3).(b) Etapa 2 Tomar o valor médio dos ativos tangíveis (pg. 29, Figura 4: item 3) para um período de 3 anos (ATano1, ATano2, ATano3) (c). Calcular o valor médio dos ativos tangíveis da empresa.(d) Etapa 3 Calcular o valor do ROA (ROA= b/d). (e) Etapa 4 Identificar o valor médio de ROA no setor. (f) Etapa 5 Calcular o “retorno excedente” bruto da empresa (REBe= b-(d * f)). (g) Etapa 6 Calcular o “retorno excedente” líquido aplicando a taxa média de impostos (RELe=g * Aliq. Impostos). (h) Etapa 7 Trazer à valor presente o “prêmio de retorno” aplicando a taxa de retorno apropriada (CIV = h / Taxa Desconto). Quadro 3 - Etapas para o cálculo do CIV Fonte: preparado pelo autor com base em LUTHY (1998 :9-10) 86 Da mesma forma que qualquer um dos métodos de avaliação de ativos intangíveis existentes, o CIV conta com uma série de defensores e um significativo contingente de críticos. Assim sendo, ainda que a validade do CIV como uma importante metodologia para demonstrar o valor financeiro do capital intelectual (MALHOTRA, 2003), e calcular, usando informação pública disponível, o valor do prêmio de performance dos ativos intangíveis (ANDRIENSEN, 2004), não seja passível de questionamento, Bouteiller (2002), advogando em favor da abordagem de “opções reais” para avaliação do capital intelectual das empresas, nos alerta para o fato de que se atribuir o prêmio de performance de uma empresa, apenas aos ativos intangíveis, pode ser abusivo. Outra ressalva, é o fato de que os intangíveis que contribuíram para o retorno não excedente (normal earnings) não são considerados, e em função disso, nem todo o valor do capital intelectual é capturado pelo CIV (ANDRIENSEN, 2004). Gu e Lev (2001) apontam que, calcular o valor de retorno justo (fair return) sobre os recursos tangíveis e financeiros utilizados, não é o mesmo que medir a contribuição destes para os lucros. A geração de valor depende da sinergia entre ativos tangíveis, financeiros e intangíveis, assim sendo, não é possível separar claramente os lucros decorrentes de cada um desses recursos. De qualquer forma, todas as metodologias que visam permitir a avaliação do capital intelectual, dentro de uma abordagem positivista, considerando que valor é algo objetivo e passível de medição, e que se dedicam a medir esse valor, através de uma visão “de fora para dentro” da empresa, ao serem forçadas a utilizar informação contábil pública como ponto de partida, acabam por compartilhar entre si as mesmas limitações (KANNAN e AULBUR, 2004). 87 A despeito disso Sveiby (2002), Luthy (1998) e Andriensen (2004) apontam esses métodos como superiores aos demais, e recomendáveis em situações onde o objetivo da avaliação é melhorar os mecanismos de divulgação externa e análise preço justo de uma empresa intensiva em capital intelectual. Kujansivu e Lonnqvist (2005 :3-4), argumentam que, ainda que existam poucas evidências empíricas sobre a utilização do CIV, o método em função de sua relativa facilidade de aplicação, possibilidade de avaliação em empresas de capital aberto públicas e privadas, além de não depender de projeções de estimativas futuras de lucro, é o único método passível de aplicação em estudos da natureza deste, onde é necessário o cálculo do estoque de capital intelectual de um número significativo de empresas ao longo de diversos anos. Mesmo sendo mais objetivo e direto que outros métodos baseados em retorno sobre ativos, o CIV depende de valores nem sempre fáceis de definir e obter no contexto brasileiro. Para efeitos desse estudo, serão utilizados os seguintes valores para o cálculo do CIV das empresas da amostra: • Cálculo de retorno sobre ativos do setor: Média aritmética entre o valor médio do setor na amostra utilizada e o valor apontado na relação das “500 Maiores” da revista Exame. • Taxa média de impostos: 35 % • Taxa de desconto: rendimento da caderneta de poupança (T.R. + 6% a.a.) 88 De acordo com os critérios propostos, apresentamos a título de exemplo, na Figura 12 a seguir, o cálculo do CIV para a Petrobrás S.A. considerando as informações financeiras para os exercícios de 2003, 2004 e 2005, e o valores hipotéticos de: retorno do setor, taxa média de impostos e custo de capital, conforme descritos. Resultado Antes Tributação/Participações Ativo Total ROA Petrobras ROA Setor Valor Médio 2005 2004 2003 33.299.964 25.305.625 25.267.832 27.957.807 154.013.146 137.635.945 119.822.653 137.157.248 20,38% 15% Retorno Normal Petrobras REBPetrobras Aliquota Média de Impostos RELPetrobras Custo de Capital CIV Petrobras 20.573.587,20 7.384.219,80 35% 4.799.742,87 9,176% 52.308.712,81 Valor de Mercado Petrobras 161.016.000,00 Figura 12 - Cálculo do CIV para a empresa Petrobrás. Fonte: elaborado pelo autor com base nos relatórios anuais divulgados pela empresa. 89 2.7 Medidas de fluxo de capital intelectual Sem questionar a importância do estoque de capital intelectual na geração de valor, e a necessidade de mensurá-lo, devemos também considerar que, o fluxo de capital intelectual, ainda que menos discutido na literatura sobre o tema, possui também relevância. Ross et al. (1997 :52-53) definem uma interessante analogia, ao compararem o uso apenas de medidas de estoque para compreender o capital intelectual de uma empresa, com o uso do balanço contábil como único instrumento financeiro de apoio para gerir a mesma. Sem questionar a importância do balanço contábil como uma representação do estoque de ativos tangíveis da empresa num dado momento, ele não nos esclarece de onde vem a alteração ocorrida nesse estoque, entre dois períodos contábeis. Seguindo ainda essa mesma analogia, é também fundamental considerar o fluxo decorrente desse estoque de ativos, que no caso dos relatórios contábeis, pode ser visto no demonstrativo de resultados do exercício (DRE). Da mesmo forma, para poder efetivamente estudar o efeito do capital intelectual de uma empresa na sua capacidade de gerar valor, devemos nos preocupar em medir não apenas o estoque de capital intelectual da mesma mas também, os fluxos decorrentes desse capital. Em função disso, metodologias que concentram seu foco na mensuração dos fluxos do capital intelectual e seu efeito na geração de valor da organização, tem começado a receber merecido destaque na literatura (CHATZKEL, 2002 :108-113). Mesmo não sendo uma medida específica do capital intelectual, o “Valor Econômico Agregado – EVATM” (Economic value added), criado pela Stern Stewart &Co., tem recebido grande destaque específica sobre o tema (KANNAN e ALBUR, 2004 :404-405; ANDRIENSEN, 2004 :234; SVEIBY, 2002 :4; MALHOTRA, 2003 :12). 90 Na sua forma básica, o EVA é o resultado obtido quando descontamos o custo do capital do “Lucro operacional líquido após imposto de renda – NOPAT” (Net operating profit after taxes). Dessa forma, trata-se de um indicador de desempenho baseado em lucro econômico, e portanto, uma medida de fluxo (YOUNG e O’BYRNE, 2003 :43-45). Dessa forma, o EVA cresce na medida em que o custo médio de capital é inferior ao retorno líquido sobre os ativos. Assim sendo, considerando o argumento implícito de que o capital intelectual contribui para a maximização do retorno sobre os ativos tangíveis, o EVA se prestaria como um indicador capaz de medir a performance de uma empresa ao gerir os seus ativos de conhecimento (ANDRIENSEN, 2004 :294). Se por um lado o EVA apresenta a desejável característica de ser aplicável tanto à empresa inteira quanto a uma divisão ou departamento, muitas são as críticas em relação à sua eficácia como medida de capital intelectual (ANDRIENSEN, 2004 295-297). Para Kannan e Albur (2004 :405), o EVA não contribui para a compreensão dos recursos intangíveis da empresa, ou como cada um colabora com a eficiência da organização. Os autores criticam ainda a falta de homogeneidade das variáveis de cálculo e os ajustes necessários para o cálculo do EVA, o que torna complexo o seu uso para efeitos de comparação. Com proposta semelhante à do EVA, porém, com metodologia de cálculo baseada em fluxos de caixa descontados, a “Contabilidade para o futuro – AFTF” (Accounting for the future), é uma outra medida de fluxo que figura, no trabalho de diversos autores, como apropriada para a mensuração do capital intelectual (SVEIBY, 2002 :4; MALHOTRA, 2003 :11). 91 A metodologia foi originalmente proposta por Humphney Nash em 1998, como um modelo de “contabilidade baseada em valor” (VBA - Value based accounting), que tem por base a contabilização, com base no valor econômico, dos itens contábeis e não no seu custo de aquisição ou “valor justo de mercado” (fair market value) (NASH, 1998). O AFTF compara o valor no início e no final de um período, e calcula assim, o valor adicionado no período como a diferença entre os dois. Dessa maneira o AFTF, mesmo sendo mais direto e objetivo no cálculo, apresenta sob a óptica da avaliação do capital intelectual, as mesmas características positivas e negativas observadas em relação ao EVATM. A terceira metodologia a utilizar fluxos, que figura na literatura como uma das existentes para mensuração do capital intelectual (MALHOTRA, 2003 :12; SVEIBY, 2002 :4), é a “Contabilidade e custeio de recursos humanos – HRCA” (Human resource costing and accounting). Na realidade, a HRCA trata-se de uma área de estudos extremamente ampla, que inclui uma grande variedade de métodos e, que conta com mais de 35 anos de história (ANDRIENSEN, 2004 :304-307). Sob a óptica de avaliação de capital intelectual, o HRCA pode ser classificado como mais um modelo de medição baseado em retorno sobre ativos. De acordo com o método, o capital intelectual da empresa é o resultado da divisão da contribuição dos ativos humanos, controlados pela empresa, e dos gastos com salários capitalizados (MALHOTRA, 2003:12). 92 Se por um lado, existe um grande número de estudos produzidos com base no HRCA sendo que, vários deles, se focaram nos efeitos produzidos pela aplicação da metodologia (algo praticamente inexistente em relação ao capital intelectual), por outro, o foco único da metodologia no capital humano, deixando fora do cálculo os demais componentes do capital intelectual, fazem do HRCA uma métrica de eficiência questionável quando o objetivo é estimar o total de capital intelectual com que conta uma empresa. Além das métricas já descritas, ao mencionarmos metodologias para mensuração do capital intelectual, não podemos jamais deixar de nomear o Skandia NavigatorTM , já que esta é a única metodologia a figurar na quase totalidade da literatura sobre o capital intelectual. Criado na gigante empresa sueca de serviços financeiros Skandia, por uma equipe liderada por Leif Edvinsson e em uso pela mesma desde 1993 como ferramenta de reporte de resultados e comunicação com o mercado, o modelo foi concebido considerando-se que todos os ativos invisíveis de uma empresa são intelectuais por natureza, de forma que, a totalidade da diferença entre valor contábil e valor de mercado da empresa representa o capital intelectual da mesma (ADRIENSEN, 2004 :346). O navegador é composto por mais de 160 indicadores, compreendendo unidades, valores monetários e percentuais relacionados com 5 grandes áreas de atenção na a empresa: foco financeiro, clientes, processos, pessoas e renovação e desenvolvimento (EDVINSON e MALONE, 1997). Dentre esses indicadores, 112 foram selecionados como sendo recomendados e aplicáveis a qualquer empresa, na divulgação ao mercado de seus ativos intangíveis. Para calcular o valor monetário do capital intelectual, 9 indicadores são combinados utilizando pesos pré-definidos, para compor o valor geral do capital intelectual (C), e essa parcela é multiplicada então, pelo coeficiente de eficiência do capital intelectual (i), que se constitui assim, numa medida do fluxo de capital intelectual da empresa (BONTIS,2001 :46). 93 A relevância do Skandia Navigator ao estudo do capital intelectual das empresas é bastante clara, porém, da mesma forma que os demais métodos baseados em scorecards, o método se presta mais como ferramenta para o diagnóstico e acompanhamento do capital intelectual no âmbito de uma empresa, do que como método para avaliação e comparação entre empresas (ANDRIENSEN, 2004 :350-351; MALHOTRA, 2003 :9). Além desse, temos o IC-IndexTM como um outro importante modelo de avaliação do capital intelectual presente na literatura. Sendo também baseado em “scorecards”, seu foco principal é monitorar a dinâmica dos vários componentes do capital intelectual e correlacionar as mudanças no valor do capital intelectual, com as mudanças no valor de mercado das empresas (MALHOTRA, 2003 :10). Bontis (2001 :47-48) considera que o IC-IndexTM é um “exemplo de modelo de segunda geração”, que busca consolidar uma série de indicadores individuais num índice único refletindo o valor do capital intelectual da empresa. Esses diversos indicadores individuais, de forma semelhante ao que ocorre no caso do Skandia NavigatorTM, são agrupados em 4 sub-índices: capital de relacionamento, capital humano, capital de infra-estrutura e capital de inovação (MALHOTRA, 2003 :9). Da forma como proposto por Ross et al. (1997), o modelo do IC-IndexTM é muito mais descritivo do que prescritivo. O conjunto exato de indicadores a serem selecionados não é definido, e a proposta é que esses indicadores devam ser específicos para cada firma, sendo selecionados com base na estratégia da empresa. O modelo também não propõe de forma objetiva, como atribuir pesos e agrupar os indicadores de maneira a compor o índice final. 94 Andriensen (2004 :311-314) aponta como maior problema do modelo IC-IndexTM, conforme proposto, reside na consolidação dos indicadores, já que a falta de normalização dos mesmos, e a consolidação através de adição, podem ser inapropriadas na maioria dos casos. No contexto desse estudo, a necessidade de aplicar-se o modelo de forma consistente a um universo representativo de empresas, torna o IC-IndexTM também um modelo inadequado, haja vista que os indicadores base são específicos para cada empresa analisada. O último dos modelos de mensuração do capital intelectual baseado em fluxos, a ser comentado nesse trabalho, e que também se baseia em metodologia de adição de valor, porém possui um foco específico no capital intelectual, é o “Coeficiente Intelectual de Valor Adicionado” (VAICTM – Value Added Intellectual Coeficient). Desenvolvido por Ante Pulic e outros colaboradores, no Centro Austríaco de Pesquisas de Capital Intelectual, a metodologia têm merecido a atenção de diversos pesquisadores, tendo sido empregada em estudos recentes conduzidos na Europa, África e Ásia (KUJANSIVU e LÖNNQVIST, 2005; FIRER e WILLIANS, 2003; CHEN e CHENG, 2005; PULIC, 2000b). As evidências empíricas trazidas por esses estudos, têm demonstrado uma relação próxima entre o VAICTM, sobretudo no caso de alguns de seus componentes, e o valor de mercado e diversos aspectos de desempenho das empresas pesquisadas. Mesmo assim, Andriensen (2004 :364-371), critica algumas das premissas centrais sobre as quais o VAICTM é construído, tais como o cálculo do capital estrutural com base na diferença entre os valores do capital financeiro e o capital humano da empresa. 95 Além disso, ainda que o argumento de que gastos com funcionários não devam ser tratados meramente como despesas, mas sim como investimentos, e que dessa forma, os mesmos se constituem numa “proxy” válida do capital humano, seja coerente e consistente com os estudos econômicos na área, Andriensen (2004 :368) defende o ponto de vista de que, apenas uma parcela desses gastos possa receber tratamento de investimento gerando expectativa de benefícios futuros. A despeito das críticas, o fato do método utilizar apenas informação contábil auditada, em conjunto com sua aplicabilidade a diversos níveis de análise (empresa, setor/indústria e nacional), e a capacidade de utilização do método com grandes amostras, fruto da objetividade e consistência dos seus cálculos, fazem do VAICTM um método relevante para estudos como o presente. Além disso, no contexto nacional, os resultados promissores obtidos em estudos exploratórios anteriormente realizados, também contribuem favoravelmente para a escolha do VAICTM como medida de fluxo a ser usada nessa dissertação (BASSO, MARTIN e RICHIERI, 2006). Da mesma forma fizemos em relação ao CIV, iremos agora detalhar mais o método do VAICTM, sua fórmula de cálculo e seus constituintes. 96 2.8 VAICTM como um direcionador de valor da empresa Construído sobre os modelos conceituais do “Navegador Skandia” (Skandia Navigator) e da rentabilidade dos ativos, o VAICTM analisa a performance atual da empresa, definida como a sua capacidade de gerar valor, em relação às classes de capital por ela utilizados: capital financeiro, capital humano e capital estrutural (PULIC, 2000a). A premissa básica é que, quanto maior o VAICTM de uma dada empresa, melhor os seus gestores estão utilizando os recursos disponíveis, tangíveis ou não, de forma a gerar valor (VAN DER ZAHN et al., 2004 :13). O índice é composto de três sub-índices principais: VACA, VAHU e STVA, que relacionam o valor adicionado total (VA) da empresa, com cada uma das classes de capital empregado. Como pode ser verificado abaixo, a soma algébrica desses três coeficientes, resulta no VAICTM da empresa, que, dessa forma, se converte num indicador do nível de eficiência da empresa como um todo. VAICTM = VACA + VAHU +STVA Equação 7 - Cálculo VAICTM 97 Em se tratando especificamente do capital intelectual, a soma algébrica do capital humano e do capital estrutural, denominada “Eficiência do Capital Intelectual – ICE” (Intellectual Capital Efficiency), define a participação do capital intelectual na eficiência total da empresa (VAN DER ZAHN et al., 2004 :13). ICE = VAHU + STVA Equação 8 - Cálculo ICE Considerando basicamente informações contábeis e financeiras, o VAICTM e seus componentes, são capazes de produzir medidas objetivas sobre a capacidade de geração de valor da empresa e revelar as origens dessa (PULIC, 2000a.). Além disso, nos paises onde o Demonstrativo de Valor Adicionado (DVA) é um relatório contábil obrigatório (ou amplamente aceito e voluntariamente utilizado), as informações necessárias para compor os indicadores estão facilmente ao alcance de investidores, gestores e demais partes interessadas. O método proposto por Pulic (2000a), considera que a empresa gera valor, ou seja, a diferença entre suas saídas (através dos produtos e serviços vendidos), e suas entradas (seus gastos com a produção e comercialização desses produtos e serviços), utilizando-se de recursos financeiros (capital tangível); humanos e estruturais (capital intelectual). Mesmo se tratando de uma proposta clara e pragmática de mensuração, a exata constituição e as fórmulas de cálculo de seus componentes, não são definidas de forma tão concreta e detalhada. 98 Em Pulic (2000b), o autor apresenta os resultados cálculo do VAICTM para 250 empresas públicas na Europa, associando-o com o “valor de mercado adicionado” (MVA Market Value Added) das mesmas empresas. Ao confrontar as informações financeiras originais dessas empresas, com os valores utilizados no estudo, verificamos que o autor considerou a seguinte fórmula para calcular o valor adicionado (VA) das empresas: VA = Lucro operacional (pg. 30, Figura 5: item 4)+ Depreciação (pg. 30, Figura 6: item 2) + Total de gastos com salários e benefícios dos empregados (pg. 30, Figura 6: item 4) Equação 9 - Cálculo de VA – Método 1 Também em relação ao cálculo do VA, Andriensen (2004 :365), afirma que o mesmo pode ser calculado através da seguinte fórmula: VA = Lucro bruto (pg. 30, Figura 5: item 3) – Despesas administrativas e vendas + Total de gastos com salários e benefícios dos empregados (pg. 30, Figura 6: item 4) Equação 10 - Cálculo de VA – Método 2 Por outro lado, Firer e Willians (2003), Chen e Cheng (2005), Kujansivu e Lönqvist (2005), ao efetuarem os seus estudos, optaram por calcular o valor adicionado (VA) nos moldes propostos por Riahi-Belkaoui (2003) e, pela visão do stakeholder. 99 Dessa forma esses autores consideraram a seguinte equação para o cálculo do valor adicionado: VA (pg. 30, Figura 6: item 3) = = Vendas (pg. 30, Figura 6: item14 – Produtos e serviços adquiridos de 3os. (pg. 30, Figura 6: itens b) - Depreciação (pg. 30, Figura 6: item 2) = Salários (pg. 30, Figura 6: item 4) + Juros (pg. 30, Figura 6: item 6) + Impostos (pg. 30, Figura 6: item 5) + Dividendos (pg. 30, Figura 6: item 7) + Lucros Retidos (pg. 30, Figura 6: item 8) Equação 11 - Cálculo de VA – Método 3 Considerando esta última fórmula de cálculo mais robusta, e visando assegurar a comparação dos resultados deste com os demais estudos efetuados, utilizaremos neste trabalho a definição e a fórmula de cálculo do valor adicionado (VA) consistente com RiahiBelkaoui (2003). A identificação do valor total gerado pela empresa (VA) é o ponto de partida para o cálculo do VAICTM. O primeiro componente do índice (VACA), é obtido através da divisão entre o valor total gerado (VA), cuja fórmula de cálculo pode ser vista em “Equação 11”, e o capital físico/financeiro total empregado pela empresa (CE), conforme definido na “Equação 4” na página 33 desta dissertação (PULIC, 2000a). VACA = VA / CE Equação 12 - Cálculo VACA 100 Como pode ser observado através da forma de cálculo do ICE, o VAICTM considera que o capital intelectual da empresa se compõe de dois componentes: capital humano e capital estrutural. Essa classificação utilizada, adotada no “Navegador Skandia” desde 1996, é até hoje defendida por diversos autores ( ROOS et al.,, 1997; STEWART, 1998 e LEV, 2001). Pulic (2000a.) propõe que uma medida objetiva do capital humano de uma empresa é o volume total que organização depende, através de salários e demais benefícios, com os seus profissionais, já que trata-se da compensação oferecida por toda a competência, criatividade e motivação destes. Dessa maneira, o segundo componente do VAICTM (VAHU), é obtido através da divisão entre o valor total gerado pela empresa (VA) e o total de gastos com salários e benefícios dos empregados (HU). VAHU = VA/HU Equação 13 - Cálculo VAHU Em se tratando do capital estrutural, a literatura define o mesmo como sendo inversamente proporcional ao capital humano. Partindo dessa premissa, Pulic (2000a), afirma que seu valor pode ser obtido através da diferença entre o “capital intelectual total” e o “capital humano”. 101 Expandindo essa definição, o VAICTM propõe o cálculo do valor do capital estrutural da empresa (ST) através da diferença entre o “valor adicionado total” (VA) e o “capital humano” (PULIC, 2000a). ST = VA - HU Equação 14 - Cálculo ST Havendo calculado o valor do capital estrutural da empresa (ST), Pulic (2000a) prossegue no cálculo do terceiro componente do VAICTM (STVA), que é o quociente da divisão entre o valor do capital estrutural da empresa (ST) e o valor total gerado pela empresa (VA). STVA = ST / VA Equação 15 - Cálculo STVA Podemos perceber que o VAICTM não apresenta, ao final do processo, um valor monetário para o capital intelectual da empresa, mas sim um conjunto de direcionadores capazes de representar: o nível de eficiência total da empresa (VAIC), das classes de recursos por ela utilizados (VACA, VAHU e STVA) e, do capital intelectual da mesma (ICE). Dessa forma, através do uso do ICE, em conjunto com o CIV, esperamos ser capazes de capturar e medir não apenas o valor do capital intelectual das empresas da amostra, mas também, de poder colocar em perspectiva o nível de eficiência que cada empresa está apresentando ao utilizar o seu capital intelectual (capital humano + capital estrutural) para gerar valor. 102 3. Procedimentos Metodológicos 3.1 Tipo e Método de Pesquisa Considerando a forma de classificação proposta (KÖCHE 1997 :122-125), a presente dissertação utiliza o tipo de pesquisa descritivo, não experimental. As relações entre as variáveis envolvidas foram estudadas através de constatação a posteriori não havendo manipulação a priori das mesmas. Em relação ao método de pesquisa, conforme a classificação proposta por Richardson (et Al., 1999), foi utilizado o método quantitativo de pesquisa. Segundo o mesmo autor (1999 :70) trata-se este de um método amplamente utilizado em estudos descritivos que procuram descobrir e classificar a relação entre variáveis ou a relação de causalidade entre fenômenos (RICHARDSON et Al., 1999 :70). Dessa forma, o capital intelectual e seus componentes foram quantificados através de índices específicos criados com base nas informações financeiras das empresas e, utilizaramse técnicas estatísticas como base do processo de análise desses índices na criação de valor das empresas que compuseram a amostra. 3.2 População e Amostra Em função de aspectos como custo, tempo e quantidade elevada de elementos, freqüentemente, se torna impossível obter informações de todos os indivíduos, empresas ou elementos que formam parte de um grupo que se deseja estudar. Assim sendo, o pesquisador é obrigado a trabalhar apenas com uma parte dos elementos que compõe o grupo e, as técnicas de amostragem são fundamentais para permitir a seleção de amostras apropriadas à pesquisa em questão (RICHARDSON et Al., 1999 :157). Segundo Lakatos e Marconi (1991 :163) : “A amostra é uma parcela convenientemente selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo”. 103 O objetivo básico do uso efetivo das técnicas de amostragem é permitir a escolha de uma parcela da população estudada para que, à partir dessa amostra, possamos obter resultados que possam ser generalizados, como se toda a população tivesse sido verificada (LAKATOS e MARCONI, 1991 :223). No caso da presente dissertação, a população escolhida para a pesquisa é aquela constituída pelas 1000 maiores empresas brasileiras selecionadas de acordo com os critérios da 33ª. edição do anuário “Maiores e Melhores” da revista Exame, elaborado pela Editora Abril em conjunto com a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). 3.3 Composição da Amostra Para Lakatos e Marconi (1991 :223) dois são os métodos para composição de uma amostra: o método probabilístico e o método não probabilístico. Em se tratando de amostras não-probabilísticas, Richardson (et al., 1999 :160-161) descrevem duas formas: amostra acidental e, amostra intencional (ou seleção racional). No caso da amostra acidental, trata-se essa de um subconjunto qualquer da população formado pelos elementos cuja obtenção foi possível. Mesmo que os resultados obtidos não possam ser generalizados para a população, esse tipo de amostragem pode ser “de grande utilidade em um primeiro contato com o problema de investigação, quando o pesquisador ainda não tem suficiente clareza sobre as variáveis a considerar” (RICHARDSON et al., 1999 :161). No caso desta dissertação, o número de empresas com informações válidas registradas na base de dados com as informações do anuário “Maiores e Melhores”, para os anos estudados, definiu o tamanho máximo da amostra. 104 Dentre essas, foi aplicado um processo de amostragem não-probabilística acidental, ou por conveniência, considerando a disponibilidade de informações financeiras, necessárias para o cálculo dos índices (CIV e VAICTM) e das variáveis dependentes a serem utilizadas. 3.4 Tipos de Dados e Instrumentos de Coleta No trabalho de pesquisa os pesquisadores podem fazer uso de dois tipos básicos de dados: dados primários e dados secundários. Dados primários são aqueles coletados com o objetivo de solucionar um problema específico de pesquisa. Enquanto isso, os dados secundários são quaisquer dados que foram anteriormente coletados para outros propósitos que não a solução do problema em questão (MALHOTRA al. 2000 :71). Dessa forma, a análise dos dados secundários disponíveis deve ser sempre a primeira ação na busca pela solução de um problema de pesquisa em função dos inegáveis benefícios de tempo e custo oferecido já que a composição de uma amostra significativa através de coleta primária de dados freqüentemente se mostra inviável. Nesta dissertação, a preocupação com a avaliação do capital intelectual sob a óptica de um elemento externo à empresa que, conte apenas com informações contábeis e financeiras divulgadas pelas empresas para suportar as suas análises, constitui-se num incentivo adicional ao uso de dados secundários na pesquisa. Assim sendo, foram utilizados basicamente dados secundários, e as hipóteses foram testadas com base em dados coletados pela Editora Abril em conjunto com a Fipecafi, dados estes, disponíveis na base de dados do anuário “Maiores e Melhores” da revista Exame. A amostra foi composta pelo maior número possível de empresas com dados válidos e disponíveis para o período compreendido entre 1998 e 2005. 105 Em função da metodologia de cálculo do CIV (ver Quadro 3 pág. 85), as observações relativas aos anos de 1998 e 1999 não puderam ser utilizadas na amostra e, pela mesma razão, as observações onde as empresas apresentam retorno inferior ao retorno médio do mercado para o mesmo período, não foram consideradas. Também foram excluídas da amostra, as empresas classificadas como pertencentes aos setores: bancos, e clubes e confederações, em função da particularidade de suas operações, e de seus relatórios contábeis. Dessa forma, partindo de um universo de 935 empresas, perfazendo um total de 2981 observações, foi selecionada uma amostra contendo 628 observações relativas a 237 empresas no período entre 2000 e 2005. A Tabela 1 abaixo mostra como as observações da amostra final utilizada se distribuem em termos de setores econômicos. Tabela 1: Amostra : Número de observações por ano e por setor SETOR ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR AUTOMOTIVO COMÉRCIO VAREJISTA COMUNICAÇÕES CONFECÇÕES E TÊXTEIS CONSTRUÇÃO ELETROELETRÔNICO FARMACÊUTICO, HIGIENE E COSMÉTICOS MATERIAL DE CONSTRUÇÃO MECÂNICA MINERAÇÃO PAPEL E CELULOSE PLÁSTICOS E BORRACHA QUÍMICA E PETROQUÍMICA SERVIÇOS DE TRANSPORTE SERVIÇOS DIVERSOS SERVIÇOS PÚBLICOS SIDERURGIA E METALURGIA TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO TELECOMUNICAÇÕES Total Fonte: Elaborado pelo autor. 2000 8 9 5 10 1 3 3 9 1 3 1 2 5 1 12 4 14 6 3 2 102 2001 7 11 4 7 2 1 2 9 1 3 2 1 2 1 12 4 2 18 9 1 4 103 2002 6 13 4 9 1 1 3 7 1 2 2 2 3 1 8 1 2 14 10 1 5 96 2003 8 11 2 10 1 2004 6 10 3 13 1 1 6 1 3 1 4 4 1 7 2 2 8 1 1 1 5 5 2 9 3 2 28 11 2 7 120 22 13 1 7 105 2005 4 8 3 12 1 1 2 3 1 1 1 6 3 2 4 5 3 27 7 2 6 102 Total 39 62 21 61 7 6 13 42 6 13 8 20 22 8 52 19 9 123 56 10 31 628 106 Na execução da pesquisa, foram considerados os parâmetros disponíveis na base de dados do anuário “Maiores e Melhores” da revista Exame, descritos no Quadro 4 abaixo : Base de dados maioresemelhores.com.br Parâmetro Unidade Ativo total ajustado US$ Milhões Crescimento das vendas % Endividamento geral % Lucro líquido ajustado Nome da Empresa Passivo circulante Patrimônio líquido ajustado Riqueza criada Salários Setor US$ Milhões US$ Milhões US$ Milhões US$ Milhões US$ Milhões - Descrição Variável Total de recursos à disposição da empresa. Inclui o valor das duplicatas descontadas (reclassificadas no passivo circulante). Valores ajustados para efeitos inflacionários (IGP-M) e convertidos pelo dólar PTAX de 31/12/2005. AT Calculado com base na evolução da receita bruta de vendas em R$ (corrigido pela variação do IGP-M) de uma ano para o outro. CRESC_VENDAS Soma do passivo circulante com o exigível a longo prazo em relação ao ativo total ajustado. END_GERAL Lucro líquido apurado depois de reconhecidos os efeitos da inflação nas demonstrações contábeis. Estão ajustados os juros sobre capital próprio, considerados como despesas financeiras. Patrimônio líquido legal atualizado pelos efeitos da inflação. Representa a contribuição da empresa Quadro 4 - Descrição dos parâmetros utilizados Fonte: Elaborado pelo autor. LL NOME_EMP PC PL VA SALARIOS SETOR 107 3.5 Operacionalização das Variáveis Utilizadas O modelo econométrico utilizado neste estudo fez uso de oito variáveis métricas que se encontram relacionadas no Quadro 5 abaixo. Um maior detalhamento dessas variáveis pode ser encontrado na seção “1.4.1 Descrição das Variáveis Utilizadas” desta dissertação. Tipo Variável Descrição Fórmula de Cálculo Unidade Métrica - Regressando ROE Retorno sobre patrimônio líquido” (Return on Equação 1, pg. 31. Unidade Métrica - Regressando ROS Retorno sobre vendas” (Return on sales) Equação 3, pg. 32. Unidade Métrica - Regressando ROA Retorno sobre ativos (Return on assets) Equação 2, pg. 31. Unidade Métrica - Regressor CIV Valor Quadro 3, pg. 85. Bilhões US$ Equação 8, pg.97 Unidade Equação 4, pg. 33. Bilhões US$ equity) intangível Intangible Value) Calculado (Calculated - Mede o estoque de capital intelectual da empresa. Métrica – Regressor ICE Eficiência do Capital Intelectual – ICE (Intellectual Capital Efficiency) – Mede a capacidade da empresa em utilizar o seu capital intelectual para criar valor econômico. Métrica – Regressor CE Capital empregado (CE) - Representa a totalidade de recursos tangíveis utilizados pela empresa. Métrica – Regressor END_GERAL Nível de endividamento geral da empresa. Equação 5, pg. 34. Unidade Métrica - Regressor CRESC_VENDAS Crescimento em vendas da empresa. Equação 6, pg. 34. Unidade Quadro 5 - Descrição das variáveis utilizadas Fonte: Elaborado pelo autor. 108 3.6 Tratamento Estatístico dos Dados Para permitir a análise dos dados, as variáveis descritas na seção 3.5 foram então combinadas de forma a compor os três modelos de regressão apresentados no “Quadro 6” mostrado à seguir. ROE = β + β1 CIVit + β2 ICEit + β3 CEit + β 4END_GERALit + β 5CRESC_VENDASit + εit (1) ROA = β + β1 CIVit + β2 ICEit + β3 CEit + β 4END_GERALit + β 5CRESC_VENDASit + εit (2) ROS = β + β1 CIVit + β2 ICEit + β3 CEit + β 4END_GERALit + β 5CRESC_VENDASit + εit (3) Quadro 6 - Modelos de Regressão Fonte: Elaborado pelo autor. O processo de estimação aplicado às regressões definidas fez uso do modelo de dados em painel (Panel Data Model), como ferramental econométrico de forma a estudar a influência das variáveis independentes na geração de valor das empresas. Essa escolha se justifica pelo estado inicial do capital intelectual como área de estudo, em conjunto com grande número de fatores que podem, potencialmente, influenciar as variáveis dependentes estudadas. Nesse contexto, o problema de viés decorrente de variáveis omitidas torna-se crítico. Dessa forma, a utilização de dados em painel surge como uma alternativa para, mesmo sem que possamos observar diretamente (ou mesmo identificar) essas variáveis omitidas, lidar com os problemas de correlação decorrentes da heterogeneidade (entre empresas ou grupos de empresas) de forma a obter estimadores consistentes (WOOLDRIDGE, 2002 :247-251; ARELLANO, 2003 :7-8; STOCK e WATSON, 2004 :188; MARTIN et Al., 2005 :11). 109 No entanto, cabe ressaltar que em se tratando de dados em painel, podemos assumir que as observações sejam distribuídas de forma independente ao longo do tempo já que, procuramos seguir os mesmos indivíduos ao longo do tempo. Sendo assim, modelos e métodos especiais se fazem necessários para a análise desses dados (WOOLDRIDGE, 2003 :426-427). De forma geral, podemos identificar na literatura duas grandes classes de modelos de análise de dados em painel: os modelos estáticos, e os modelos dinâmicos. Enquanto os modelos estáticos de dados em painel consideram que os regressores são estritamente exógenos, os modelos dinâmicos, por sua vez, incluem entre as variáveis explanatórias, defasagens da variável dependente. Dessa forma, com os modelos dinâmicos, torna-se possível medir o efeito ao longo do tempo, das variáveis explanatórias na variável dependente, observando assim a velocidade de ajuste do modelo através dos coeficientes das variáveis defasadas inseridas no modelo (ARELLANO, 2003 :129). Na presente dissertação, o trabalho de análise foi executado com base nos modelos estáticos de dados em painel. Ainda que tenhamos verificado a existência de autocorrelação em alguns dos modelos analisados, a proposta de que a geração de valor de uma empresa num dado período esteja relacionada com a sua geração de valor em qualquer outro período, não encontra suporte teórico sólido. 110 Inicialmente, foram analisados e comparados os seguintes modelos de regressão: a) Dados de corte agrupados e mínimos quadrados ordinários (OLS Pooled); b) Transformação em primeira diferença e mínimos quadrados ordinários (OLS Pooled Differeneces); c) Modelo com efeitos fixos “Within” d) Modelo com efeitos fixos “Between” e) Modelo de efeitos aleatórios - Mínimos quadrados generalizados com transformação Whitin/Between (GLS w/b); f) Modelo de efeitos aleatórios - Mínimos quadrados generalizados utilizando resíduos (GLS Residuals); g) Modelo de efeitos aleatórios - Maximum-Likelihood (ML) Na seqüência, a despeito da falta de suporte teórico que aponte na direção dos modelos dinâmicos, dado o caráter exploratório deste trabalho, foi também efetuada a estimação, para efeitos de comparação, através do modelo dinâmico de dados em painel, com uso de instrumento do tipo GMM (Generalized Method of Moments) e estimação em 1 estágio. Os modelos estáticos de dados em painel utilizados neste trabalho estão descritos a seguir2. 2 Para referências sobre o modelo dinâmico utilizado ver: ARELLANO e BOND, 1991. 111 3.6.1 Pooled cross sections O uso de amostragem aleatória de uma mesma população, obtida em diferentes momentos, permite um processo de estimação mais preciso e, testes estatísticos mais confiáveis já que torna possível o uso de um número maior de observações. (WOOLDRIDGE, 2003 :427). Esse processo de agrupamento de observações de períodos diferentes (pool) permite ainda, que sejam observadas as mudanças nas variáveis explicativas ao longo do tempo possibilitando assim, que seja estudado o efeito de mudanças de políticas e ou alterações conjunturais, ocorridas num dado momento (WOOLDRIDGE, 2003 : 432-438). Quando não existem mudanças estruturais ao longo do tempo, as observações dos diversos períodos podem ser reunidas num único pool e, estimadores podem ser obtidos através de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) (MARTIN et Al., 2005 :11). Ainda que os estimadores obtidos através de pooled cross-setions sejam o tipo mais simples de estimadores para modelos de dados em painel e, provavelmente não sejam os adequados na maioria das situações, eles possibilitam uma base de comparação vital com outros modelos mais complexos (COTTRELL e LUCCHETTI, 2006 :69). 3.6.2 Primeira Diferença Se considerarmos que cada uma das unidades seccionais possa apresentar características particulares não consideradas no modelo estudado (heterogeneidade não observada), freqüentemente, no uso do modelo de pooled cross-sections, com problemas de correlação entre os regressores e o termo erro (εε). 112 Para lidarmos com esse problema, podemos considerar que o termo de erro (εit) da equação é composto, sendo constituído por dois componentes: a heterogeneidade não observada (αi), que se supõe fixa ao longo do tempo, e o erro ideosincrático (υit) que representa os fatores não observados, que variam ao longo do tempo e afetam a variável dependente. Dessa forma, podemos representar genericamente esse erro composto, num modelo genérico com uma única variável explicativa como apresentado na “Equação 16” abaixo : yit=β0 + β1xit + εit yit = β0 + β1xit + αi + υit Equação 16 - Termo erro composto – Heterogeneidade e Erro Ideosincrático Porém, mesmo que o erro ideosincrático (υit) não esteja correlacionado com a variável explicativa xit , os estimadores obtidos por MQO serão enviesados e inconsistentes no caso de existir correlação entre αi e xit (WOOLDRIDGE, 2003 :439). A estimação por primeira diferença lida com esse problema de correlação considerando apenas a variação da variável dependente e dos regressores, entre dois períodos observados. Essa transformação (primeira diferença), descrita na “Equação 17” abaixo, elimina a heterogeneidade não observada (α α), permitindo que estimadores eficientes sejam obtidos através de MQO (STOCK e WATSON, 2004 :189; WOOLDRIDGE, 2003 :441). ∆yi = δ0 + β∆ xi + ∆ υi Equação 17 - Transformação em primeira diferença. 113 Para permitir inferência estatística é fundamental garantir homocedasticidade na equação de primeira diferença. Dessa forma a eventual presença de heterocedasticidade deve ser testada e, caso necessário, corrigida (WOOLDRIDGE, 2003 :441). Se por um lado a, transformação por primeira diferença se constitui num mecanismo simples e efetivo para lidar os efeitos da heterogeneidade não observada, por outro ela não oferece condições de se estudar o efeito de α na variável dependente. Além disso, é importante mencionar que a transformação em primeira diferença reduz significativamente a variação nas variáveis explicativas, podendo assim se converter num problema já que, para a obtenção de estimadores através de MQO é fundamental garantir que os regressores apresentem um mínimo de variação ao longo das observações (WOOLDRIDGE, 2003: 440). 3.6.3 Efeitos Fixos A transformação em primeira diferença é apenas uma das formas de tratamento do efeito fixo (heterogeneidade não observada) (WOOLDRIDGE, 2003: 461). Um segundo classe de estimadores que, considera que a heterogeneidade (α α) se constitui num efeito específico de cada unidade seccional e, que permanece fixo ao longo do tempo, são os estimadores de efeitos fixos. Para lidar com os efeitos desse efeito fixo, podemos considerá-lo no intercepto da equação. Ou seja, permitimos n interceptos distintos, através da adição de uma variável dummy para cada empresa (STOCK e WATSON, 2004 :190). Esse método chamado de regressão de variáveis dummy (LSDV – Least Squares Dummy Variable regression), ainda que geralmente apresente um R2 bastante elevado, não é um método muito prático em se tratando de painéis com um número grande de observações seccionais distintas (WOOLDRIDGE, 2003: 466). 114 Outra alternativa ao método LSDV, que permite a obtenção dos mesmos estimadores, é a transformação pela “subtração da média da entidade” (transformação within). Nesse método, inicialmente se calcula a média de cada unidade seccional para depois, calcular a diferença entre cada observação e o valor médio das unidades seccionais (STOCK e WATSON, 2004 :191-192; GREENE, 2000 :560-561). Essa transformação, que considera a diferença entre uma média ao longo do tempo e um fator não observável específico para cada unidade seccional, produz um tipo de informação designada por Wooldridge (2003 :462) como “normalizada no tempo” (time demeaning), eliminando assim a heterogeneidade não observada (αi) e permitindo o emprego de MQO para cálculo dos estimadores. Uma terceira forma de se obter estimadores usando MQO em painéis de efeito fixo é através do uso da transformação “between”. Nesse caso, considera-se como base para a transformação a diferença entre cada observação e os valores médios entre as unidades seccionais (e não, dentro das observações de cada unidade seccional). No entanto, de acordo com Wooldridge (2003 :462) os estimadores para efeitos fixos, obtidos através da transformação between, possuem aplicação bastante restrita já que ignoram informações importantes sobre como as variáveis mudam ao longo do tempo. Além disso, são ainda viesados caso (α αi) esteja correlacionado com os regressores e, mesmo que não exista tal correlação, o uso dos modelos de efeitos aleatórios é uma alternativa mais recomendável. 115 3.6.4 Efeitos Aleatórios O modelo de efeitos fixos é uma abordagem adequada no caso de estarmos seguros de que as diferenças entre as unidades seccionais podem ser vistas como mudanças nos parâmetros da função de regressão (GREENE, 2000 :567). No entanto, o uso de efeito fixo ou transformação por primeira diferença tem como objetivo eliminar αi que, se supõe correlacionado com os regressores. Caso não exista tal correlação, a eliminação de αi resultará em estimadores ineficientes (WOOLDRIDGE, 2003 :469). Nesses casos, se recomenda o uso dos modelos de efeitos aleatórios, que além das premissas consideradas no modelo de efeito fixo, assumem que αi é independente de todas as variáveis explicativas, em todos os períodos de análise (WOOLDRIDGE, 2003 :469). Dessa forma o intercepto passa a ser uma variável aleatória (υi), definida com base numa fração (λ λ) do valor médio ao longo do tempo e um termo erro aleatório (GREENE, 2000 :567-568). A equação transformada por efeito aleatório é apresentada à seguir na “Equação 18”: yit – λ yi(méd.) = β(1 – λ) + β1(xit1 – λ xi1(méd.)) + ... + βk(xitk – λ xik(méd.)) + (υit – λ υi(méd)) Equação 18 - Estimador de Efeitos Aleatórios O estimador de efeitos aleatórios pode ser assim obtido através do método de Mínimos Quadrados Generalizados (GLS – Generalized Least Squares) e/ou Máxima Verossimilhança (ML – Maximum Likelihood), utilizando a equação acima descrita porém, substituindo-se o parâmetro λ (que nunca é conhecido na prática) por λestimado. (WOOLDRIDGE, 2003 :471). 116 3.6.5 Critérios de comparação de modelos de dados em painel Em se tratando de modelos estáticos de dados em painel, o processo de escolha do modelo mais apropriado envolve a comparação de três modelos básicos: Modelo de Pooled Cross-Sections, Modelo de Efeitos Fixos e, Modelos de Efeitos Aleatórios. Esse processo encontra-se representado na “Figura 13” apresentada a seguir: Escolha de estimadores em painéis de dados estáticos Pooled Cross-Section X Efeitos Fixos Teste F H0: Todas as unidades seccionais possuem o mesmo intercepto. rejeita Modelo de Efeitos Fixos rejeita aceita Teste de Hausman H0: As estimativas obtidas por MQG são consistentes. Modelo Pooled Cross-Sections aceita Pooled Cross-Section X Efeitos Aleatórios Teste Breush-Pagan H0: Variância de υi = 0 aceita rejeita Modelo de Efeitos Aleatórios Figura 13 - Processo de escolha de estimadores em painéis de dados estáticos. Fonte: Elaborado pelo autor. A existência de heterogeneidade entre unidades seccionais é um dos critérios que faz com que o modelo de pooled cross-section seja ineficiente para a análise dos dados. A significância dessa heterogeneidade não observada (efeito de grupo) pode ser testada através de um teste F para a hipótese nula (H0) de que todas as unidades seccionais possuem um mesmo intercepto. A não rejeição dessa hipótese se constitui em evidência a favor do modelo de pooled cross-sections (GREENE, 2000 :562; WOOLDRIDGE, 2003 :431-432). 117 Da mesma forma, a comparação entre o modelo de pooled cross-sections e o modelo de efeitos aleatórios, pode ser efetuada através do teste LM proposto por Breush-Pagan. O teste é feito contra a hipótese nula (H0) de que a variância do intercepto υi é igual a 0. A não rejeição desta hipótese vai contra a premissa central do modelo de efeitos dinâmicos, que propõe que o intercepto se constitui numa variável aleatória a ser estimada (COTTRELL e LUCCHETTI, 2006 :72). Finalmente, a decisão entre o modelo de efeitos fixos e o modelo de efeitos aleatórios, depende de se considerar que a heterogeneidade entre os elementos seccionais é um parâmetro a ser estimado ou, o resultado de uma variável aleatória. Quando as observações não podem ser consideradas como tendo sido extraídas aleatoriamente de uma população maior, Wooldridge (2003 :473) recomenda que consideremos a heterogeneidade (αi) como um parâmetro a estimar, utilizando assim o modelo de efeitos fixos. A existência de correlação entre αi e alguma variável explicativa, também determina o uso do modelo de efeitos fixos (ou transformação por primeira diferença). Dessa forma, o teste de Hausman pode ser utilizado contra a hipótese nula (H0) de que não existe correlação, e que os estimadores de efeitos aleatórios são consistentes (WOOLDRIDGE, 2003 : 473). 118 4. Resultados da Pesquisa 4.1 Estatística Descritiva A Tabela 2 apresentada abaixo mostra os valores mínimos e máximos das variáveis estudas, suas médias e o desvio-padrão (σ) das mesmas. Tabela 2: Estatística descritiva das variáveis estudadas Variável ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS N 628 628 628 628 628 628 628 628 Geral Média 0.201435 0.089112 0.092293 1.314858 10.48996 1.346371 0.514499 6.436502 σ 0.1903346 0.0706538 0.0958392 4.373081 22.69514 3.946137 0.1851649 16.86214 Min. -1.181949 -0.086614 -0.216999 0.001213 -1.687405 0.010611 0.077 -72.72 Max. 1.518851 0.486052 0.577178 60.65433 382.8307 45.66183 0.9803 127.51 Fonte: Elaborada pelo autor. Ao analisar os dados da tabela acima podemos verificar que os retornos médios sobre patrimônio líquido (ROE), ativos (ROA) e vendas (ROS) foram de: 20,14%, 8,91% e 9,23% respectivamente; todos apresentando alta variabilidade. O nível médio de endividamento da amostra foi de 51,14% do total do ativo e as vendas apresentaram um crescimento anual médio de 6,4%. Podemos ainda notar que o valor médio do estoque de capital intelectual das empresas, medido através do CIV, foi de R$ 1.314 milhões. Esse valor foi ligeiramente inferior ao estoque médio de ativos físicos e financeiros (CE) de R$ 1.346 milhões verificado. 119 Também chama a atenção o valor da eficiência do capital intelectual (ICE) encontrado. Esse valor é bastante superior aos valores encontrados em estudos anteriores realizados em outros países (FIRER e WILLIANS, 2003 : 355; CHEN et Al., 2005 :168; VAN DER ZAHN, 2004 :21; KUJANSIVU e LONNQVIST, 2005 :8), sendo ainda superior ao valor médio encontrado por Basso, Martin e Richieri (2006 :14). Esse valor pode indicar a possível presença na amostra (haja vista que a base reflete algumas das “maiores e melhores” empresas em operação no Brasil), de um número significativo de organizações com altos níveis de eficiência no uso de seu capital intelectual. Podemos verificar, através da Tabela 3 a evolução dos valores dessas variáveis ao longo do período de seis anos analisado. Tabela 3: Evolução das variáveis ao longo do período analisado. Variável ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS Variável ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS 103 103 103 103 103 103 103 103 2002 Média 0.168338 0.07808 0.078669 0.851516 11.13655 1.27985 0.521238 5.289721 120 120 120 120 120 120 120 120 2004 Média 0.228814 0.099157 0.099039 1.198906 9.595323 1.2311 0.530843 0.121627 N ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS Variável 102 102 102 102 102 102 102 102 2000 Média 0.152947 0.073774 0.086674 1.502925 7.105401 1.29745 0.469091 0.073062 N N Fonte: Elaborada pelo autor. 2001 σ 0.1122811 0.0488897 0.0951154 6.137028 6.02311 3.46604 0.1847298 0.1851772 Min. -0.001558 -0.00109 -0.000995 0.006618 1.649081 0.021887 0.1426 -0.2776 Max. 0.641269 0.230306 0.504409 60.65433 38.41206 27.86469 0.875 0.8736 N Min. -1.181949 -0.067135 -0.051288 0.011292 1.550315 0.011758 0.077 -44.09875 Max. 1.080432 0.313729 0.480805 7.814053 227.406 29.16832 0.9432 74.36 N Min. -0.078351 -0.043524 -0.03097 0.011902 1.94519 0.010611 0.1191 -0.1485 Max. 0.876149 0.341499 0.508631 30.84159 89.16899 35.71241 0.9803 0.6632 N 103 103 103 103 103 103 103 103 Média 0.158138 0.0721 0.06883 1.262479 7.137647 1.312996 0.496629 0.087263 105 105 105 105 105 105 105 105 Média 0.205098 0.092899 0.105533 1.49489 8.813527 1.340363 0.526275 -0.031917 120 120 120 120 120 120 120 120 Média 0.276444 0.11755 0.118132 1.55908 17.83441 1.686902 0.515077 0.086232 σ 0.177677 0.065276 0.077457 4.683729 4.981846 3.449991 0.19419 0.190642 Min. -0.267241 -0.086614 -0.216999 0.004376 -1.687405 0.02946 0.1307 -0.2552 Max. 1.333655 0.362644 0.325834 45.52853 27.85557 27.77959 0.9544 127.51 Min. -0.265803 -0.070013 -0.057033 0.004555 1.739056 0.015561 0.1326 -0.7272 Max. 0.659032 0.327395 0.362414 50.15329 26.83999 33.39368 0.872 0.2709 Min. 0.042218 0.020039 0.008547 0.001213 1.835542 0.017287 0.1414 -0.484 Max. 1.518851 0.486052 0.577178 38.32557 382.8307 45.66183 0.9127 0.4791 2003 σ 0.2047501 0.0631679 0.090153 1.563487 22.5307 3.65785 0.1919337 15.74696 σ 0.148004 0.066688 0.096086 5.044844 5.777437 3.688417 0.179066 0.139889 2005 σ 0.1742294 0.0741476 0.0996522 3.203541 9.932403 3.864729 0.1847557 0.1407223 σ 0.24393 0.084872 0.109065 4.005262 45.02629 5.148543 0.172668 0.154582 120 Enquanto o ROA e o ROS cresceram de forma discreta no período, notamos um acentuado crescimento do ROE médio na amostra a partir de 2002. Em relação às variáveis independentes CIV e ICE, é interessante observar que ambos apresentaram uma forte expansão em 2005, porém considerando todo o período analisado, verificamos que enquanto o CIV apresentou um comportamento bastante irregular, o ICE demonstrou uma trajetória de crescimento continuado, indicando assim que as empresas analisadas têm se tornado, progressivamente, mais eficientes em aplicar o seu capital intelectual de forma a gerar valor econômico. Podemos também perceber que o nível de endividamento das empresas cresceu pouco menos de 5 pontos percentuais no período, que o crescimento das vendas teve o seu pior resultado em 2003 com uma retração de mais de 3%, e que o estoque de ativos físicos e financeiros das empresas da amostra cresceu mais de 37% em 2005. 121 Os gráficos “Gráfico 1”, “Gráfico 2” e, “Gráfico 3” apresentados a seguir, ilustram de forma mais clara como se comportaram cada uma das variáveis estudadas ao longo do tempo. 0.3 0.2764444 0.25 0.2288137 0.2 0.205098 0.1529474 0.1683381 0.15 0.1581378 0.1181324 0.1055333 0.1 0.0990386 0.1175499 0.0866737 0.0786688 0.0991566 ROE 0.0928991 0.0720996 ROA 0.0780801 0.0737741 ROS 0.0688303 0.05 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Gráfico 1: Evolução das variáveis dependentes Fonte: Elaborada pelo autor. 20 1.8 17.83441 18 1.6 1.55908 1.502925 16 1.49489 14 1.4 12 1.262479 1.2 11.13655 8.813527 1 7.105401 10 1.198906 9.595323 8 7.137647 6 CIV 0.851516 4 ICE 0.8 2 0 0.6 2000 2001 2002 2003 2004 Gráfico 2: Evolução do capital intelectual das empresas da amostra Fonte: Elaborada pelo autor. 2005 122 1.8 0.6 1.686902 1.6 0.5 0.5212379 0.5262752 0.5308425 0.5150767 0.4966291 1.4 0.4690912 0.4 1.312996 1.29745 1.340363 1.27985 1.2 1.2311 0.3 1 END_GERAL CRESC_VENDAS 0.2 CE 0.8 0.1216274 0.6 0.1 0.07306176 0.08726302 0.08623179 0.05289721 0.4 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 0.2 -0.03191684 -0.1 0 Gráfico 3: Evolução das variáveis de controle Fonte: Elaborada pelo autor. Podemos ainda observar, através da “Tabela 4” na pág. 105, como os valores médios das variáveis estudas se modificam em relação aos diversos setores econômicos representados na amostra. Os setores que apresentaram maior nível de geração de valor foram: Serviços Diversos (maior ROE), Farmacêutico, Higiene e Cosméticos (maior ROA) e, Mineração (maior ROS). Em relação ao estoque de capital intelectual das empresas, é curioso observar que os três setores com maior valor médio de CIV são: Química e Petroquímica; Telecomunicações e Mineração. Vemos também que, o setor de Tecnologia e Computação, ocupa apenas a 16ª posição em relação a esse parâmetro. 123 No quesito eficiência no uso do capital intelectual (ICE), os setores: Mineração, Construção e Telecomunicações, ocupam respectivamente, as 3 primeiras posições e Tecnologia e Computação, é o 19º colocado. Esses resultados, aparentemente contraditórios, se explicam possivelmente, pela característica particular da amostra que, após análise criteriosa, evidencia que, em alguns setores, estão concentradas apenas um pequeno número de empresas com alto nível de eficiência e posição de grande destaque mundial no seu setor. Dessa forma, cabe ressaltar que, a descrição dos valores por setores está aqui colocada apenas para caracterizar melhor a amostra utilizada e não se presta, conforme já mencionado no tópico “População e Amostra” na página 17, a qualquer tipo de inferência. 124 Tabela 4: Análise das variáveis por setor da economia Setor N ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO 39 ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR 62 AUTOMOTIVO 21 COMÉRCIO VAREJISTA 61 COMUNICAÇÕES 7 CONFECÇÕES E TÊXTEIS 6 CONSTRUÇÃO 13 ELETROELETRÔNICO 42 FARMACÊUTICO, HIGIENE E COSMÉTICOS 6 MATERIAL DE CONSTRUÇÃO 13 MECÂNICA 8 Variável Média σ Min. Max. ROE 0.211723 0.110127 0.065285 0.5439453 0.086671 0.054205 0.022064 0.2303064 ROA ROS 0.062721 0.04825 0.009735 0.2213641 CIV 0.971894 1.546797 0.011377 7.091692 8.041316 6.532133 2.276223 31.02348 ICE CE 0.728258 0.861466 0.044912 4.927184 END_GERAL 0.572756 0.182706 0.1307 0.8271 CRESC_VENDAS 2.848205 11.28004 -16.64 29.39 ROE 0.169042 0.086952 0.020366 0.5182323 ROA 0.073012 0.03939 0.01514 0.1808524 ROS 0.028004 0.028378 0.004009 0.193678 0.354005 0.635082 0.012284 3.676863 CIV ICE 11.14849 19.59191 -1.687405 155.1231 CE 0.311564 0.486799 0.011758 2.814749 END_GERAL 0.544258 0.157261 0.1983 0.9057 CRESC_VENDAS 4.080484 16.77482 -72.72 31.62 ROE 0.161628 0.105748 0.029242 0.4014576 ROA 0.063942 0.040068 0.013387 0.1536001 0.051658 0.039882 0.005159 0.1460461 ROS CIV 1.460154 2.27435 0.004376 7.925255 ICE 4.344988 2.656294 1.835542 11.21885 1.018243 1.315083 0.045526 4.05087 CE END_GERAL 0.5863 0.097792 0.4004 0.7017 CRESC_VENDAS 10.50762 22.18111 -29.94 64.21 ROE 0.143145 0.096002 -0.033039 0.3977031 ROA 0.046304 0.032521 -0.005504 0.1383209 ROS 0.017713 0.013085 -0.00217 0.0602394 CIV 0.145543 0.155235 0.004829 0.7591383 4.394797 1.661074 2.409968 9.907274 ICE CE 0.145918 0.363225 0.015369 2.837613 END_GERAL 0.643156 0.170523 0.261 0.9127 CRESC_VENDAS 7.28459 14.38847 -20.78 57.52 ROE -0.003028 0.20085 -0.267241 0.2717391 ROA 0.01273 0.049898 -0.070013 0.0871467 ROS 0.009865 0.041841 -0.057033 0.07583 0.206258 0.094413 0.024285 0.2930171 CIV ICE 3.06552 0.82724 2.077461 4.692082 CE 0.202607 0.138146 0.111163 0.5102397 END_GERAL 0.708886 0.12229 0.5953 0.9544 CRESC_VENDAS -4.68 13.20185 -23.02 12.24 ROE 0.101905 0.053512 0.06338 0.207247 ROA 0.063462 0.032194 0.039245 0.1270424 0.060108 0.023782 0.036214 0.1018116 ROS CIV 0.306957 0.131943 0.166571 0.5477453 ICE 3.419386 0.56865 2.863448 4.330062 0.27707 0.07637 0.205746 0.3932321 CE END_GERAL 0.37165 0.051879 0.2752 0.4229 CRESC_VENDAS -0.398333 10.24846 -13.7 15.35 ROE 0.094094 0.045756 0.020388 0.1712844 ROA 0.077135 0.039054 0.01586 0.1470648 ROS 0.1068 0.060061 0.006457 0.2117726 CIV 0.800525 0.709052 0.007083 2.290214 20.24226 62.2465 2.128803 227.406 ICE CE 0.821802 0.95898 0.070492 3.884042 END_GERAL 0.179731 0.082853 0.077 0.4244 CRESC_VENDAS 6.304616 20.60618 -28.46 48.95 ROE 0.052947 0.243687 -1.181949 0.6590323 ROA 0.02984 0.059811 -0.086614 0.1579423 ROS 0.025136 0.054256 -0.072408 0.1681949 0.525651 0.479892 0.041789 2.206907 CIV ICE 7.90701 7.033851 1.94519 26.48935 CE 0.243513 0.238775 0.045573 1.006102 END_GERAL 0.504705 0.23051 0.1478 0.9803 CRESC_VENDAS 4.133311 18.52676 -27.76 61.51907 ROE 0.557349 0.301515 0.279192 1.137551 ROA 0.276934 0.090701 0.106763 0.3455879 0.081317 0.030329 0.051812 0.139829 ROS CIV 0.742616 0.373511 0.087693 1.065716 ICE 5.97981 1.392372 3.253522 7.126355 0.134343 0.050617 0.070329 0.1870909 CE END_GERAL 0.46545 0.15237 0.3325 0.6962 CRESC_VENDAS -1.258333 8.862208 -13.32 7.73 ROE 0.142568 0.08563 0.074741 0.3976697 ROA 0.088413 0.028562 0.063462 0.1711173 ROS 0.109625 0.055864 0.056746 0.2138912 CIV 0.255409 0.217418 0.030194 0.7283906 8.362284 4.076951 4.378096 14.91489 ICE CE 0.421005 0.074933 0.348819 0.6443242 END_GERAL 0.318431 0.132184 0.1509 0.5697 CRESC_VENDAS 5.116154 8.132156 -8.36 18.3 ROE 0.271867 0.102283 0.114273 0.4412023 ROA 0.156049 0.046356 0.086676 0.2230277 ROS 0.110464 0.02009 0.08333 0.1463288 0.771768 0.28255 0.250846 1.077361 CIV ICE 4.168901 0.822788 3.319862 6.058434 CE 0.379512 0.083881 0.269526 0.5476294 END_GERAL 0.401525 0.102053 0.2415 0.5241 CRESC_VENDAS 7.42625 8.857409 -11.27 17.11 Fonte: Elaborada pelo autor. Setor N MINERAÇÃO 20 PAPEL E CELULOSE 22 PLÁSTICOS E BORRACHA 8 QUÍMICA E PETROQUÍMICA 52 SERVIÇOS DE TRANSPORTE 19 SERVIÇOS DIVERSOS 9 SERVIÇOS PÚBLICOS 123 SIDERURGIA E METALURGIA 56 TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO 10 TELECOMUNICAÇÕES 31 Variável ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS Média 0.493148 0.229536 0.31507 2.734736 38.51104 4.015187 0.469295 18.03 0.207274 0.121573 0.226994 1.008457 9.112727 1.046284 0.381946 0.635455 0.164483 0.067776 0.045032 0.291377 4.605667 0.38071 0.58025 8.805 0.266007 0.146566 0.111305 4.641025 11.01406 4.075231 0.425402 7.900769 0.248632 0.076204 0.060675 0.692215 4.435414 0.65768 0.642616 18.63211 0.749 0.166453 0.091567 0.421806 4.92698 0.128875 0.742622 8.787579 0.182853 0.066283 0.123304 1.482961 13.70152 2.057836 0.557037 5.455414 0.246803 0.130478 0.141191 1.157764 8.359868 0.816929 0.411066 9.66375 0.301477 0.106041 0.057922 0.312382 4.088623 0.195408 0.59082 11.33 0.124674 0.071214 0.092554 2.863258 0.442581 16.29585 3.272884 1.929355 σ 0.342659 0.100478 0.129329 3.226859 62.61885 7.696694 0.131662 19.69139 0.097065 0.049436 0.111731 0.910932 3.402414 0.790406 0.13725 12.30295 0.061938 0.022239 0.01329 0.221067 0.639286 0.13407 0.034015 8.611101 0.150848 0.08237 0.063281 13.70271 5.874568 10.86085 0.12404 13.75839 0.172952 0.055555 0.0868 0.701604 2.367344 1.031426 0.175804 33.81413 0.306475 0.051235 0.049581 0.463529 2.422916 0.127119 0.119569 11.15551 0.164992 0.039972 0.099213 1.715369 34.32607 2.891862 0.165742 16.09222 0.154921 0.064359 0.094364 2.247057 5.485149 1.305509 0.167835 18.50504 0.188236 0.053793 0.024445 0.172518 3.024586 0.126129 0.130368 25.21573 0.064228 0.042186 0.05525 3.535257 0.102435 4.858343 3.363836 8.308041 Min. 0.159298 0.090454 0.056333 0.148435 9.081522 0.070195 0.2167 -8.13 0.054266 0.035941 0.048759 0.06492 3.863647 0.249652 0.1585 -25.52 0.075396 0.033642 0.022947 0.045503 4.056808 0.153493 0.5407 -0.1 0.070608 0.056586 0.025656 0.009709 3.243856 0.070346 0.1934 -20.12 -0.019723 -0.015562 -0.216999 0.034918 0.352478 0.010611 0.211 -12.91 0.385193 0.119362 0.031389 0.049666 2.127298 0.024607 0.5157 -14.17 0.015931 0.006849 0.001701 0.001213 1.550315 0.031573 0.1851 -62.49 0.037438 0.022676 0.013599 0.011497 2.825448 0.049463 0.1326 -17.36 0.063708 0.030695 0.030889 0.03468 2.06758 0.04005 0.4731 -16.27 0.011768 0.006142 0.010143 0.0076 0.2044 6.698229 0.170144 -15.78 Max. 1.518851 0.421616 0.577178 12.09942 217.8684 25.49667 0.7671 71.17 0.39657 0.25852 0.504409 3.085892 15.86537 3.209053 0.6681 24.04 0.252157 0.093651 0.057105 0.596613 5.867051 0.504321 0.6286 26.47 0.846485 0.486052 0.283742 60.65433 26.82585 45.66183 0.7122 44.27 0.674968 0.210388 0.21514 2.253529 11.66574 4.613413 0.8725 127.51 1.333655 0.262319 0.154731 1.508429 8.209253 0.356928 0.9105 20.41 1.176358 0.223626 0.480805 7.047474 382.8307 13.41605 0.875 76.59 0.688961 0.307261 0.417806 11.92018 38.42352 7.703044 0.7627 74.36 0.641269 0.179373 0.094531 0.482067 9.61369 0.402816 0.8635 66.32 0.264606 0.1789 0.232567 11.69813 0.6264 25.17793 10.72689 18.12 125 4.2 Análise de Correlação Na Tabela 5 abaixo são apresentados os coeficientes de correlação, que medem a intensidade ou grau de associação linear entre as variáveis empregadas no modelo de estudo. Com exceção das três variáveis dependentes, que por medirem diferentes aspectos da capacidade da empresar gerar valor, devem, portanto, apresentar um nível de associação linear considerável entre si, é esperado que as demais variáveis possuam coeficientes Pearson com valores baixos. No entanto, percebemos que existe um nível de correlação elevado entre as variáveis CIV e CE, o que poderia recomendar a supressão de uma delas do modelo. Porém, ao investigarmos mais detalhadamente a tolerância e o fator inflação de variância (VIF – Variance Inflation Factor), buscando um eventual problema de multicolinearidade, não encontramos indícios que sugerissem a existência de qualquer viés de especificação no modelo, ou a necessidade de eliminação de alguma variável (GUJARATI, 2000 :317-344). Tabela 5: Análise de correlação entre as variáveis ROE ROA ROS CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS ROE 1.000 0.762 0.359 0.089 0.237 (0.033) 0.247 0.149 ROA Fonte: Elaborada pelo autor. 1.000 0.543 0.127 0.187 (0.004) (0.193) 0.152 ROS 1.000 0.238 0.131 0.256 (0.263) 0.049 CIV 1.000 0.060 0.813 (0.024) 0.054 ICE 1.000 0.056 0.010 0.138 CE 1.000 (0.067) 0.011 END_GERAL 1.000 0.047 CRESC_ VENDAS 1.000 126 4.3 Modelos Estáticos de Dados em Painel 4.3.1 Retorno sobre Patrimônio Líquido Quanto ao efeito do capital intelectual em relação à variável dependente ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido), a Tabela 6 abaixo, consolida os resultados obtidos através da análise dos modelos estáticos de dados em painel. A seqüência de investigação seguiu o modelo sugerido por Wooldridge (2003 :426483) e utilizada também por Martin et Al. (2005 :11-15). Tabela 6: Retorno sobre PL (ROE) - Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em Painel ROE CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS Constant. R2 W(j) AR(1) AR(2) Breusch-Pagan F(236, 386) Hausman test OLS (pooled) 0.0130954 *** 0.00183917 *** -0.0133267 *** 0.235455 * 0.00107506 ** 0.0548052 *** 0.1587989 * * * LM = 106.692 * 4.11934 * H = 16.0054 * Efeito Fixo OLS (Pooled Diff) OLS Within 0.00607660 ** 0.00697238 * 0.000202886 0.000793054 -0.006657 *** -0.00394542 0.161383 0.248724 0.000563178 0.000628349 0.0192082 * 0.03558401 0.05921003 * *** * OLS Between 0.0277662 * 0.00178251 * -0.0258466 * 0.290954 * 0.00149623 0.0322631 0.2359898 * n.d. n.d. Efeito Aleatório GLS (w/b) GLS (residuals) ML 0.00820038 * 0.00837616 * 0.00824436 * 0.0011147 * 0.00116583 * 0.0011414 * -0.00772283 ** -0.00801699 ** -0.00783615 ** 0.284186 * 0.272271 * 0.272722 * 0.000795213 ** 0.000812354 ** 0.00080013 ** 0.0481758 * 0.0518555 *** 0.052066 * 0.1420436 0.1354525 0.1320704 * * * - * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10% Fonte: Elaborada pelo autor. Podemos observar que as evidências são contrárias ao modelo de Pooled CrossSections, já que rejeitamos as hipóteses de que todas as unidades seccionais possuam o mesmo intercepto (teste F) e que a variância de υi seja igual a 0 (teste Breush-Pagan). Na comparação entre os estimadores de efeito fixo e efeito aleatório, em função do teste de Hausman, somos forçados a rejeitar a hipótese de que as estimativas obtidas por MQG (efeitos aleatórios) sejam consistentes. 127 Dessa forma, concluímos que as evidências são favoráveis aos estimadores de efeito fixo; porém, observamos a presença de autocorrelação nos modelos. Essa autocorrelação encontrada poderia ser considerada como um indício favorável ao uso dos modelos dinâmicos de dados em painel (MARTIN et Al. 2005 :12). No entanto, conforme já descrito na seção 3.6 (pág. 108) desta dissertação, não encontramos fundamento teórico que justifique a aplicação dos modelos dinâmicos. Além disso, considerando que utilizamos um painel com um número relativamente pequeno de períodos (micropanel), a correção da autocorrelação e a posterior adoção dos estimadores de efeitos fixos ou efeitos aleatórios ao painel corrigido, aparece com uma alternativa mais recomendável (JUDSON e OWEN, 1996 :1-3 ; YAFFE, 2003: 8). Dessa forma, foi utilizado o procedimento de correção proposto por Baltagi e Wu (1999 :814-818), apropriado a painéis de dados “não balanceados” como o que foi utilizado neste estudo. O método em questão, considera que a parcela υ do termo erro composto descrito na Equação 16 (pág. 112), pode ser dividido conforme representado na equação abaixo. υit = ρ * υi(t-1) + zit (onde | ρ | < 1 e zit é IID3(0, σ2u) Equação 19 - Termo erro auto-regressivo de Baltagi e Wu 3 Independente e Identicamente Distribuída ( Independently and Identically Distributed) 128 A partir da Equação 19, ρ foi definido com base no valor da estatística de DurbinWatson (DW) de forma que: ρ = 1 – (DW /2) Equação 20 - Cálculo de ρ com base na estatística DW Com base no valor de ρ estimado, todos os dados do painel foram ajustados. Nesse processo, um período de observação é perdido por empresa. Os novos coeficientes obtidos através dos estimadores de efeito fixo (within) e efeito aleatório (GLS – w/b) corrigidos para autocorrelação, se encontram na Tabela 7, em conjunto com os novos valores calculados para os testes F e Hausman. Tabela 7: ROE – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel ROE Efeito Fixo Efeito Aleatório CIV 0.0058599 * 0.0084889 * ICE 0.0044583 * 0.0013067 * CE -0.0040687 -0.0089737 END_GERAL 0.3283249 * 0.2805713 * CRESC_VENDAS 0.000434 0.000895 Constant. -0.0107349 0.042255 R2 0.1235 0.1492 W(j) * * F(158, 227) 4.19 * Hausman test H = 13.78 ** * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10% Fonte: Elaborada pelo autor. Observamos que os indícios são favoráveis ao modelo de efeito fixo, e que os coeficientes dos regressores CIV e ICE, após a correção, mantiveram-se positivos, porém, passaram a ser altamente significativos. 129 Percebemos também que o coeficiente de determinação dos modelos (R2) aumentou indicando um melhor grau de ajuste do modelo. A opção pelos estimadores de efeito fixo permitiu também que fosse calculado o valor da heterogeneidade por empresa em relação ao ROE. Os valores estimados, à título de referência, encontrada-se no: Apêndice B – Heterogeneidade observada em relação aos estimadores de efeito fixo para o ROE das empresas. Com base nos valores encontrados podemos com segurança rejeitar a hipótese 0,1 e hipótese 0,2, e confirmar, conforme o esperado com base no referencial teórico, a existência de uma relação positiva entre o capital intelectual e o retorno sobre o PL das empresas. De acordo com os resultados encontrados, ceteris paribus, é sugerido que uma ampliação de US$ 17 milhões no estoque de capital intelectual da empresa (medido através do CIV) traria um incremento de 0,01 ponto percentual do seu ROE. Da mesma forma, em relação à eficiência no uso do capital intelectual, estima-se que um aumento de 2,243 unidades (ou 21,35% considerando o valor médio da amostra) no valor do ICE, traria ao ROE da empresa, um crescimento de 1 ponto percentual. Em relação às variáveis de controle, o único coeficiente que se mostrou estatisticamente significativo foi o da variável END_GERAL, sugerindo que as empresas que utilizam mais o capital de terceiros para conduzir os seus negócios, são capazes de proporcionar um maior nível de retorno sobre o capital dos seus donos ou acionistas. 130 4.3.2 Retorno sobre Ativos Em relação à variável Retorno sobre Ativos (ROA), conforme podemos observar na Tabela 8 abaixo, uma vez mais encontramos evidências em favor do modelos de efeitos fixos e novamente, identificamos a presença de autocorrelação. Tabela 8: Retorno sobre Ativos (ROA) – Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em Painel CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS Constant. R2 W(j) AR(1) AR(2) Breusch-Pagan F(236, 386) Hausman test OLS (pooled) 0.00612273 *** 0.000524951 *** -0.00603610 *** -0.0817171 * 0.000513416 * 0.122420 * 0.1409577 * * * LM = 393.69 * 6.63419 * H = 35.1091 * ROA Efeito Fixo OLS (Pooled Diff) OLS Within OLS Between 0.00259679 ** 0.00309869 *** 0.0130646 * 0.000117525 0.000334732 0.000587971 ** -0.00219297 -0.000920077 -0.0119417 * -0.127321 * -0.0434351 -0.0914054 * 0.000349786 ** 0.000356527 ** 0.000857921 ** 0.00788569 * 0.125889 * 0.1198649 0.086911 0.2199896 * * * ** * n.d. * n.d. Efeito Aleatório GLS (w/b) GLS (residuals) ML 0.0034572 * 0.00346208 * 0.0034203 * 0.000409009 * 0.000413853 * 0.000408087 * -0.00283631 ** -0.00288077 ** -0.00279424 ** -0.0656794* -0.067255 * -0.0661339 * 0.000421707 * 0.000421868 * 0.000416999 * 0.117555 * 0.118217 * 0.117689 * 0.1347262 0.1297873 0.1273017 * * * * * * - * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10% Fonte: Elaborada pelo autor. Efetuada a correção através do procedimento de Baltagi e Wu, foi possível obter os novos estimadores de efeitos fixos e efeitos aleatórios apresentados na Tabela 9 à seguir. Tabela 9: ROA – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel ROA Efeito Fixo Efeito Aleatório CIV 0.0026993 * 0.0034491 * ICE 0.0010188 ** 0.0003346 * CE -0.0015919 -0.0032958 * END_GERAL -0.0780824 ** -0.0643359 * CRESC_VENDAS 0.0002915 ** 0.000422 * Constant. 0.1222539 * 0.1159608 * R2 0.1177 0.1376 W(j) * * F(158, 227) 4.61 * Hausman test H = 7.21 * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10% Fonte: Elaborada pelo autor. 131 Podemos observar através no novo valor do teste de Hausman, que após a correção, no caso da variável ROA, as evidências passaram a ser favoráveis ao modelo de efeitos aleatórios. Tomando então os valores estimados para os coeficientes, obtidos através dos estimadores de efeitos aleatórios, percebemos que, quando medimos a geração de valor da empresa através do uso do ROA, podemos também rejeitar a hipótese 0,1 e hipótese 0,2 propostas. Assim sendo, confirmamos também a existência de uma relação positiva entre o capital intelectual e o retorno sobre os ativos das empresas. Notamos ainda que, no caso do ROA, o valor dos coeficientes é inferior que aqueles estimados para o modelo econométrico do ROE, indicando assim que, na amostra analisada, o impacto do capital intelectual foi maior na capacidade das empresas gerarem valor para os seus donos e acionistas do que na eficiência total do uso dos seus ativos. Considerando os resultados encontrados, ceteris paribus, é necessária uma variação de US$ 29 milhões no estoque de capital intelectual da empresa (medido através do CIV), para se verifique uma mudança de 0,01 ponto percentual do seu ROA. Em relação à eficiência no uso do capital intelectual, considerando o valor médio da amostra, é necessário um aumento de 28,6% (equivalente a 3 unidades no valor do ICE) para cada 0,1 ponto percentual de variação no ROA, ceteris paribus. Podemos também perceber que no caso do modelo do ROA, os coeficientes de todos os demais regressores são significantes ao nível de 1%. Dessa forma, verificamos que, ao contrário do modelo do ROE, o coeficiente da variável explicativa END_GERAL, apresenta sinal negativo indicando que as empresas da amostra, com maior percentual de capital de terceiros na sua estrutura, apresentaram um menor nível de retorno sobre os seus ativos. 132 Notamos ainda, que o coeficiente do regressor CE também apresentou sinal negativo, indicando um efeito negativo do aumento de recursos físicos e financeiros na capacidade da empresa gerar valor sob a óptica do ROA, ceteris paribus. Finalmente, da mesma forma, podemos observar que na amostra estudada, identificamos uma relação positiva entre o nível anual de crescimento das vendas da empresa (CRESC_VENDAS) e o seu ROA. 4.3.3 Retorno sobre Vendas O terceiro índice de geração de valor analisado foi o retorno sobre as vendas (ROS). A inclusão desse índice no estudo, se explica pela presença de empresas de serviços na amostra. Essas empresas apresentam, tipicamente, um nível mais baixo de ativos físicos e financeiros, quando confrontadas com as empresas de atividade industrial, fazendo com que os seus índices de ROA que não sejam comparáveis. Apesar disso, observamos através das medidas de dispersão apresentadas na Tabela 2 (pág. 118), que na amostra avaliada, os valores médios e os desvios padrão obtidos para os índices de ROA e ROS tem valores bastante próximos. A despeito dessa proximidade, os coeficientes obtidos mostraram algumas particularidades relevantes a serem destacadas, justificando assim, a sua manutenção no estudo. Na Tabela 10 abaixo, podemos encontrar os resultados das análises usando os diversos estimadores de efeitos fixos e efeitos aleatórios disponíveis. Nesse caso, podemos observar que o teste de Hausman sugere a utilização da estimação através do método de efeitos aleatórios. 133 Notamos ainda, como nos casos anteriores, a presença de autocorrelação, que a exemplo do que foi feito em relação às análises anteriores, foi corrigida através do método proposto por Baltagi e Wu. Tabela 10: Retorno sobre Vendas (ROS) – Resultados dos Modelos Estáticos de Dados em Painel CIV ICE CE END_GERAL CRESC_VENDAS Constant. R2 W(j) AR(1) AR(2) Breusch-Pagan F(236, 386) Hausman test ROS Efeito Fixo Efeito Aleatório OLS (pooled) OLS (Pooled Diff) OLS Within OLS Between GLS (w/b) GLS (residuals) ML 0.00223869 0.00317101 *** 0.00441385 0.00137897 0.00426163 * 0.00424072 * 0.0042444 * 0.000478079 *** 0.0000807848 0.000177265 0.000405443 0.000211329 *** 0.000212448 *** 0.000211669 *** 0.00361494 0.00867946 0.00430594 0.0056757 0.00372648 * 0.00367474 * 0.0036826 * -0.130998 * -0.107701 * -0.0450746 *** -0.146989 * -0.0810629 * -0.0817089 * -0.081098 * 0.000218772 -0.000029299 -0.00000447941 0.000507006 0.0000208159 0.0000216622 0.0000210218 0.145457 * 0.00316759 *** 0.152027 * 0.12236 * 0.122788 * 0.122471 * 0.145481 0.1379129 0.1118376 0.1755903 0.127125 0.1260984 0.1257955 * * * * * * * * ** n.d. * * * * * n.d. LM = 683.352 * 13.9059 * H = 8.18922 * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10% Fonte: Elaborada pelo autor. Observando os valores dos coeficientes após a correção, apresentados na Tabela 11, verificamos que persistem as evidências em favor do modelo de efeitos aleatórios. Tabela 11: ROS – Resultados Corrigidos dos Modelos Estáticos de Dados em Painel ROS Efeito Fixo Efeito Aleatório CIV 0.0035167 * 0.0041653 * ICE 0.0008757 *** 0.0002572 ** CE 0.0049732 ** 0.004209 * END_GERAL -0.0848954 ** -0.0858131 * CRESC_VENDAS -0.0001256 0.0000416 Constant. 0.119421 * 0.1218816 * R2 0.1095 0.1258 W(j) * * F(158, 227) 7.92 * Hausman test H = 3.85 * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10% Fonte: Elaborada pelo autor. 134 Novamente, analisando os coeficientes encontrados para as variáveis CIV e ICE, podemos rejeitar a hipótese 0,1 (p-value < 1%) e hipótese 0,2 (p-value < 2 %) propostas. Confirmamos assim, a existência de uma relação positiva entre o capital intelectual e o retorno sobre as vendas nas empresas analisadas. Também foram significantes os coeficientes de todos os demais regressores, à exceção da variável CRESC_VENDAS. Da mesma forma que no caso do ROA, os resultados indicam que a uma variação de US$ 28,5 milhões no estoque de capital intelectual da empresa (CIV), ceteris paribus, corresponde uma mudança de 0,01 ponto percentual no ROS da empresa. No caso da variável ICE (eficiência no uso do capital intelectual), a análise do impacto no ROS, se mostrou mais sensível que no caso do ROA. Considerando o valor médio da variável, podemos verificar que um aumento de 11% no ICE ( 1,15 unidades) seria capaz de elevar em 0,1 ponto percentual o ROS, ceteris paribus. Também observamos que, novamente, o coeficiente da variável explicativa END_GERAL apresentou sinal negativo, indicando que as empresas da amostra que privilegiaram o capital próprio na sua estrutura de capital, apresentam um maior retorno sobre suas vendas. O coeficiente do regressor CE também se apresentou significativo, apontando para a existência de uma relação positiva entre o nível de recursos físicos e financeiros e a capacidade da empresa gerar valor (sob a óptica do ROS), ceteris paribus. 135 4.4 Modelos de Dados em Painel Dinâmicos Conforme exposto na seção 3.6 (pág. 108), o presente estudo se concentrou na análise dos dados obtidos através do uso de modelos estáticos de dados em painel. No entanto, em linha com a natureza exploratória desta dissertação e em função da autocorrelação verificada nos modelos, foram também calculados os estimadores para os modelos dinâmicos de dados em painel, utilizando GMM (Generalized Method of Moments) como instrumento, nos moldes propostos por Arellano e Bond (1991). De forma geral, os valores encontrados foram consistentes com aqueles descritos nas seções anteriores, suportando as análises efetuadas com base nas técnicas de dados em painel com efeitos fixos e efeitos aleatórios corrigidos para autocorrelação já apresentadas. De qualquer forma, todos os valores dos coeficientes estimados pelo método GMM e os valores dos testes estatísticos pertinentes, encontram-se disponíveis para referência no Apêndice C. Uma vez mais, cabe ressaltar que a escolha dos modelos estáticos aqui empregados foi decorrente de: • Ausência de suporte teórico sobre a existência de relação entre a capacidade de geração de valor da empresa, com a geração de valor da mesma, apresentada em períodos anteriores; • O estudo ter sido conduzido com base num “micro-painel” de dados, apresentando um grande número de unidades seccionais observadas ao longo de número pequeno de períodos. 136 4.5 Análise dos Resultados Como pudemos constatar três nas seções anteriores, os dados analisados, de forma geral, confirmam a maioria das proposições do referencial teórico. Em linha com os objetivos traçados para este estudo, foi possível comprovar o impacto do capital intelectual na geração de valor das empresas (medido sob as perspectivas do ROE, ROA e ROS), através da rejeição das hipóteses: • Hipótese 0,1: O estoque de capital intelectual das empresas não afeta a sua capacidade de geração de valor. • Hipótese 0,2: Não existe diferença na capacidade de gerar valor entre as empresas com maior e menor eficiência no uso do capital intelectual. Ainda que trabalhos anteriores tenham avançado na direção da comprovação financeira da relevância do capital intelectual nas empresas brasileiras (KAIO, 2002; OMAKI, 2005; PEREZ e FAMÁ, 2006), esta dissertação buscou ampliar a profundidade de estudo do tema ao mensurar quantitativamente o nível deste impacto. Na comparação entre os efeitos do capital intelectual e dos ativos tangíveis na geração de valor, com base nos resultados encontrados, parece interessante ressaltar o fato da influência negativa do estoque de ativos físicos e financeiros das empresas no ROA das mesmas. Sob essa mesma ótica, é também interessante notar o fato de que o coeficiente da variável CE, na equação do ROE, não pode ser considerado estatisticamente diferente de zero. Esse resultado, a ser confirmado em estudos futuros, indicaria que, frente ao capital intelectual, o nível de capital empregado físico e financeiro não é relevante para a geração de valor para os sócios e proprietários. 137 Dessa maneira, analisando os resultados obtidos para as equações do ROA e do ROS, conforme indicado pelos dados da amostra estudada, não apenas o impacto da variável CIV é mais relevante do que o da variável CE como também, o aumento do nível de ativos físicos e financeiros parece reduzir (ao menos em relação a um aspecto) o desempenho das empresas, contrariando a lógica de negócios vigente na maioria das organizações. Em se tratando do retorno sobre vendas (ROS), encontramos uma relação positiva entre as variáveis CE e ROS; relação essa, praticamente igual àquela entre CIV e ROS. Esses achados parecem demonstrar de forma clara, a importância do estoque de capital e das ações tomadas para a ampliação do mesmo nas empresas. Quando concentramos nossa atenção na eficiência da utilização do capital intelectual, novamente comprovamos a sua relevância em relação às três medidas de geração de valor utilizadas. É interessante observar que, considerando a fórmula de cálculo da variável ICE ( ver Equação 8 na pág. 31), podemos perceber a importância da relação entre o valor adicionado da empresa e o total de gastos e salários da mesma. Se re-escrevermos a equação de cálculo para o ICE, com base na nesta relação, obtemos a fórmula apresentada na Equação 21 abaixo: ICE = 1 + (VAHU – 1/VAHU) Equação 21 - Cálculo do ICE através do VAHU 138 Percebemos assim uma nova perspectiva do índice ICE, que em conjunto com a análise dos coeficientes para esta variável obtidos na pesquisa, fornece indicativos que confirmam a importância atribuída por alguns autores (STEWART, 1998 :97-114; LEV, 2001 :35; EDVINSON e MALONE, 1997 :35) das empresas buscarem continuamente a conversão de capital humano em capital estrutural (de forma a ampliar a relação VAHU gerando o mesmo VA usando menos HU). Ao mesmo tempo, essa relação também fornece respaldo a uma segunda abordagem (e complementar à primeira) ao desenvolvimento do capital intelectual, que propõe a aplicação do seu capital humano em atividades que proporcionem lucros “supra normais”, conforme proposto por Teece (2000 :12-13) (ampliando a relação VAHU gerando mais VA com um mesmo nível de HU). No esquema gráfico apresentado na Figura 14 procuramos demonstrar, com mais clareza, a importância dessas duas estratégias em relação ao capital humano das empresas e o seu impacto esperado, de acordo com os resultados encontrados, na geração de valor das empresas. 139 Uso mais efetivo de Capital Estrutural (ST) Pessoas mais produtivas Maior Geração de Valor (ROE, ROA, ROS) Menor necessidade de Capital Humano (HU) para gerar um dado nível de Valor Adicionado (VA) Maior ICE Maior VAHU (VA/HU) Maior geração de Valor Adicionado (VA) para um dado nível de Capital Humano (HU) Inovação e criação de vantagem competitiva Capital Humano (HU) qualitativamente superior Figura 14 - Relações e impacto do Capital Humano na geração de valor das empresas Fonte: Elaborada pelo autor. Um terceiro aspecto importante, diz respeito ao nível de endividamento das empresas. Foi possível observar uma forte influência do nível de endividamento das empresas nas variáveis dependentes, sobretudo no caso do ROE, que se mostrou positivamente influenciado por um maior nível de endividamento. Na medida em que se considera que as empresas, de forma geral, se tornam cada vez mais intensivas em capital intelectual, esse resultado parece contrariar a expectativa de crescimento da participação do capital próprio na estrutura de capital das empresas, decorrente dos resultados encontrados por Kaio (2002 :117-119). 140 Ainda que os resultados, relativos ao nível de endividamento das empresas, encontrados possam ser considerados contraditórios, já que, no caso das variáveis ROA e ROS, a relação encontrada entre endividamento e geração de valor tenha sido negativa (em linha com a expectativa inicial do trabalho), considerando que o ROE é, dentre os índices analisados, aquele que melhor capta a geração de valor sob a óptica dos acionistas e proprietários, o resultado é digno de destaque, sugerindo a necessidade de maior investigação sobre o tema estrutura de capital e geração de valor em empresas intensivas em capital intelectual. Finalmente, é também curioso observar que o regressor CRESC_VENDAS, índice tão valorizado por gestores e analistas de mercado, mostrou-se não significante em relação às variáveis ROE e ROS; e no caso da variável ROA, apesar de significante, sua influência é muito inferior que a das demais variáveis estudadas. 4.6 Limitações do Estudo O tamanho e a natureza da amostra, decorrente da falta de informações financeiras e abrangentes sobre as empresas no Brasil, se constitui na primeira limitação deste estudo. O problema da falta de informações disponíveis e confiáveis é particularmente relevante em se tratando daquelas necessárias para compor alguns dos índices usados no trabalho (como é o caso do total anual dos gastos com salários e benefícios). Em estudos similares, realizados em países que adotam o DVA como um relatório contábil obrigatório, os pesquisadores puderam sempre contar um número de observações muito superior ao que foi utilizado nesta dissertação. Um segundo fator limitante é a falta de instrumentos de avaliação do capital intelectual que tenham sido extensivamente provados e que sejam passíveis de aplicação em grandes amostras. 141 De forma a minimizar essa limitação, todo o cuidado foi tomado na revisão do referencial teórico, em busca dos instrumentos mais adequados à realidade e à necessidade do estudo. Ao final desse processo de revisão, consideramos que o CIV e o ICE se constituem em indicadores capazes de capturar e medir (ao menos em parte), o estoque e o fluxo de capital intelectual de cada empresa. Porém, nenhum dos dois está isento de críticas, sobretudo sabendo que ambos utilizam apenas informações financeiras básicas na sua composição. Finalmente, ainda que, nos últimos 10 anos, muito tenha sido escrito e pesquisado sobre o capital intelectual e seu impacto no desempenho das organizações, ainda são bastante incipientes as pesquisas que buscaram quantificar, de forma mais ampla, esse impacto. Dessa forma, os resultados aqui obtidos devem ser considerados dentro do contexto de um trabalho exploratório, que procurou construir sobre os achados dos principais estudos disponíveis sobre o tema, mas que ao mesmo tempo, optou pelo risco da inovação e fez uso de constructos e de um modelo de pesquisas inédito ainda carentes de validação. 142 5. Considerações Finais A crescente dependência das empresas, nos mais diversos setores, do seu capital intelectual para a condução de seus negócios, cria novos desafios para gestores, acadêmicos e investidores. Por não estarem refletidos nos demonstrativos contábeis e financeiros das empresas, esses ativos intangíveis, não podem ser avaliados e adequadamente considerados, de forma da fornecer o apropriado suporte às decisões de investimento dessas (/nessas) empresas. Várias alternativas têm sido testadas, ao longo dos anos, na busca de se encontrar uma forma apropriada para: a) mensurar o capital intelectual das empresas; e b) estudar o efeito deste na geração de valor das mesmas. No entanto, com raras exceções, os estudos conduzidos têm se concentrado em apenas um desses dois objetivos. Ou buscam formas de aferir o capital intelectual, normalmente de forma específica para cada empresa, sem se importar com o resultado deste no desempenho financeiro das empresas; ou então, procuram pesquisar, de forma pontual em pequenos grupos de empresas, o impacto dos ativos do conhecimento nos resultados dessas, porém utilizando proxies e critérios pouco objetivos para capturar o valor do capital intelectual das mesmas. Ao mesmo tempo, alguns estudiosos do capital intelectual, especialmente na Europa, começam a estudar a relação entre o estoque de capital intelectual e os fluxos que o compõe, tornando assim ainda mais complexa a mensuração e verificação do impacto do capital intelectual. A motivação para esses estudos, que se apresenta como bastante coerente, é entender a relação entre o valor do capital intelectual de uma empresa num dado momento, e a eficiência que as empresas demonstram ao utilizar esse capital intelectual disponível para gerar valor. 143 Essa diferenciação é de grande importância sob a ótica da valoração empresarial, haja visto que, em se tratando de empresas intensivas em capital intelectual, o valor dessas depende fundamentalmente da expectativa de seus fluxos de caixa futuros, da sua capacidade de gerar valor. Sendo assim, objetivo geral desta dissertação é demonstrar evidências de que tanto o estoque de capital intelectual quanto, a eficiência das empresas no seu uso, possuem influência significativa na capacidade da empresa geral valor. Para perseguir esse objetivo, foram pesquisadas 237 empresas no Brasil no período entre 2000 e 2005. O teste da primeira hipótese nula mostrou evidências de que o estoque de capital intelectual afeta positivamente a geração de valor, influenciando o ROE, o ROA e o ROS das empresas pesquisadas. A segunda hipótese testada também confirmou as expectativas baseadas no referencial teórico, apontando uma relação positiva entre o nível de eficiência das empresas no uso de seu capital intelectual e as variáveis financeiras: ROE, ROA e ROS. O estudo dos coeficientes das variáveis mostrou que o estoque de capital intelectual parece possuir um maior impacto, do que seus fluxos, nos índices financeiros analisados; porém do ponto de vista de gestão, é na eficiência no uso do capital intelectual que se encontra o ponto de maior alavancagem da geração de valor. Em relação às diversas perspectivas da geração de valor estudadas, os resultados mostram que a perspectiva dos sócios e proprietários (ROE), é aquela que é positivamente mais afetada pelo capital intelectual. Foram ainda encontradas evidências de que, sob a ótica do ROE, os regressores associados ao capital intelectual, são direcionadores mais efetivos da geração de valor que o nível de capital físico e financeiro empregado na empresa. 144 Os resultados encontrados também suportam as proposições do referencial teórico de que a aplicação efetiva do capital humano na geração contínua de inovação, e a busca da conversão de capital humano em capital estrutural, são estratégias com grande potencial de influenciar positivamente o desempenho da empresa. O estudo confirmou ainda, um crescimento do valor do estoque de capital intelectual das empresas no período analisado, conforme é sugerido na literatura. No entanto, para o período analisado, não encontramos evidências de crescimento na eficiência no uso do capital intelectual. Em termos gerais os resultados obtidos contribuem para elucidar a questão de pesquisa proposta. Também oferecem evidências empíricas adicionais sobre relação entre estoque e fluxos de capital intelectual, e sobre a influência do capital intelectual e o desempenho financeiro das empresas no Brasil. Os modelos econométricos construídos oferecem ainda, um apoio prático adicional, em termos de estimação e valoração, com o qual podem contar todos aqueles interessados na avaliação de empresas e negócios intensivos em ativos intangíveis. A continuidade deste estudo, com a utilização de uma base ainda mais representativa e um horizonte de tempo maior, a análise detalhada dos efeitos do capital intelectual em diferentes industrias, a criação e posterior comparação entre um grupo de empresas intensivas em capital intelectual e outro não, e a análise de defasagens dos regressores associados ao capital intelectual, são algumas das recomendações para estudos futuros. Além destas recomendações, é fundamental prosseguir, através de outros estudos, na validação das metodologias utilizadas para a mensuração do capital intelectual, e na contínua busca de alternativas, até que se tenha chegado num modelo, que nos permita ter certeza sobre a nossa capacidade de captar e mensurar esses ativos intangíveis, cada vez mais vitais. 145 6. Bibliografia ABOODY, D.; LEV, B. Information asymmetry, R&D and insider gains. The Journal of Finance, Vol. LV, No. 6, 2000. ANDRIESSEN, D. Making sense of intellectual capital: Designing a method for the valuation of intangibles. Butterworth-Heinemann, 2004. ARELLANO, M. Panel data econometrics. Oxford University Press, 2003. ARELLANO, M.; BOND, S. Some tests of specification for panel data: Monte Carlo evidence and an application to employment equations. The Review of Economic Studies, Vol. 58, 1991. BALTAGI, B. H.; WU, P. X. Unequally spaced panel data regressions with AR(1) disturbances. Econometric Theory. 1999. 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ROE Equação 1 31 ROA Equação 2 31 ROS Equação 3 31 CIV Quadro 1 85 ICE Equação 11, Equação 4, Equação 13, 99, 33, 100, 101, Equação 14, Equação 15 e Equação 8 97 CE Equação 4 33 END_GERAL Equação 5 34 CRESC_VENDAS Equação 6 34 152 Apêndice B – Heterogeneidade observada em relação aos estimadores de efeito fixo para o ROE das empresas ROE - Heterogeneidade (Efeito Fixo) Cód. Companhia 2 3 11 15 17 26 28 31 48 59 73 74 76 90 98 99 110 123 130 138 139 145 148 156 158 161 166 167 172 177 178 189 201 204 206 207 208 217 218 226 227 240 243 245 247 252 254 256 269 272 283 289 298 300 313 329 331 332 333 334 336 340 351 355 361 362 366 382 384 388 394 401 402 408 409 419 456 Setor QUÍMICA E PETROQUÍMICA ELETROELETRÔNICO SIDERURGIA E METALURGIA SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SIDERURGIA E METALURGIA SIDERURGIA E METALURGIA SERVIÇOS DE TRANSPORTE COMÉRCIO VAREJISTA ELETROELETRÔNICO FARMACÊUTICO, HIGIENE E COSMÉTICOS CONFECÇÕES E TÊXTEIS SERVIÇOS PÚBLICOS SIDERURGIA E METALURGIA SIDERURGIA E METALURGIA ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO TELECOMUNICAÇÕES ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR CONSTRUÇÃO ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO QUÍMICA E PETROQUÍMICA COMÉRCIO VAREJISTA SIDERURGIA E METALURGIA MATERIAL DE CONSTRUÇÃO ELETROELETRÔNICO SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS PAPEL E CELULOSE SERVIÇOS PÚBLICOS ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR QUÍMICA E PETROQUÍMICA SIDERURGIA E METALURGIA SIDERURGIA E METALURGIA ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR CONSTRUÇÃO COMÉRCIO VAREJISTA ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS DIVERSOS TELECOMUNICAÇÕES AUTOMOTIVO QUÍMICA E PETROQUÍMICA QUÍMICA E PETROQUÍMICA COMÉRCIO VAREJISTA COMÉRCIO VAREJISTA ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR COMÉRCIO VAREJISTA SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS MECÂNICA AUTOMOTIVO SERVIÇOS PÚBLICOS ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO COMÉRCIO VAREJISTA COMÉRCIO VAREJISTA ELETROELETRÔNICO QUÍMICA E PETROQUÍMICA ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO SERVIÇOS PÚBLICOS ELETROELETRÔNICO SIDERURGIA E METALURGIA TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO Fonte: Elaborada pelo autor. ROE - Heterogeneidade (Efeito Fixo) α 0.1025 (0.3348) 0.4426 (0.1278) 0.5955 0.0529 (0.1472) 0.0106 0.0107 (0.1031) 0.3139 (0.0523) (0.1456) 0.1524 0.0846 (0.0651) (0.2045) (0.1300) 0.0785 (0.0236) 0.4690 (0.1149) (0.0058) (0.0176) (0.2531) (0.1256) (0.0076) (2.1097) (0.2074) (0.0935) 0.0452 (0.0888) 0.2042 0.0609 0.0974 0.2982 0.0037 0.0255 (0.1349) (0.0139) (0.0181) 0.0508 (0.1923) (0.0725) (0.0491) (0.1564) 0.0927 (0.0339) (0.0612) (0.1337) 0.3646 0.7013 (0.1643) (0.2987) 0.0653 0.0461 (0.0108) 0.0677 0.0725 (0.0758) (0.1078) 0.0199 (0.0532) (0.0852) 0.1026 (0.0326) (0.0726) 0.0519 (0.2614) (0.0656) (0.2975) 0.0076 (0.0650) (0.0631) (0.1396) 0.0378 0.1337 Cód. Companhia 464 467 470 472 479 514 519 520 524 527 529 532 537 540 542 543 548 555 558 573 581 584 592 594 619 631 632 633 635 636 644 653 664 678 683 688 690 707 710 711 713 719 738 739 751 753 758 771 773 775 779 795 805 808 812 823 830 839 842 843 853 854 872 885 886 887 892 903 905 907 911 914 915 919 923 927 932 Setor SERVIÇOS PÚBLICOS COMÉRCIO VAREJISTA SERVIÇOS DIVERSOS PAPEL E CELULOSE ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR ELETROELETRÔNICO TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO SERVIÇOS PÚBLICOS COMÉRCIO VAREJISTA COMÉRCIO VAREJISTA COMÉRCIO VAREJISTA ELETROELETRÔNICO COMÉRCIO VAREJISTA AUTOMOTIVO ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR AUTOMOTIVO MINERAÇÃO SERVIÇOS DIVERSOS AUTOMOTIVO MINERAÇÃO ELETROELETRÔNICO ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO MINERAÇÃO QUÍMICA E PETROQUÍMICA ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO QUÍMICA E PETROQUÍMICA ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR ATACADO E COMÉRCIO EXTERIOR QUÍMICA E PETROQUÍMICA PLÁSTICOS E BORRACHA QUÍMICA E PETROQUÍMICA SERVIÇOS DE TRANSPORTE QUÍMICA E PETROQUÍMICA COMÉRCIO VAREJISTA SERVIÇOS PÚBLICOS PAPEL E CELULOSE SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS MATERIAL DE CONSTRUÇÃO MINERAÇÃO SERVIÇOS PÚBLICOS SIDERURGIA E METALURGIA COMUNICAÇÕES ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO ELETROELETRÔNICO TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO QUÍMICA E PETROQUÍMICA COMÉRCIO VAREJISTA ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO ELETROELETRÔNICO SERVIÇOS DE TRANSPORTE TELECOMUNICAÇÕES TELECOMUNICAÇÕES TELECOMUNICAÇÕES SIDERURGIA E METALURGIA MATERIAL DE CONSTRUÇÃO SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS PÚBLICOS SERVIÇOS DE TRANSPORTE QUÍMICA E PETROQUÍMICA SERVIÇOS PÚBLICOS SIDERURGIA E METALURGIA SIDERURGIA E METALURGIA MINERAÇÃO SIDERURGIA E METALURGIA PAPEL E CELULOSE SIDERURGIA E METALURGIA PLÁSTICOS E BORRACHA SERVIÇOS DIVERSOS TELECOMUNICAÇÕES TELECOMUNICAÇÕES TELECOMUNICAÇÕES TELECOMUNICAÇÕES ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO MECÂNICA SIDERURGIA E METALURGIA α 0.0720 (0.0653) 0.3208 0.1332 (0.0478) (0.1278) 0.3198 (0.0511) 0.0743 0.0581 (0.2464) (0.1334) (0.0432) (0.1451) (0.0024) (0.0251) (0.0814) 0.4329 0.4940 (0.0559) 0.1938 (0.2246) (0.0449) (0.0797) 0.0078 (0.0340) (0.0415) (0.0446) 0.0470 (0.1122) (0.0408) (0.0573) (0.1615) 0.1500 (0.0643) (0.1970) 0.0397 (0.0770) (0.1614) 0.0133 0.4642 (0.0015) 0.0943 (0.1932) (0.0595) (0.0373) (0.0179) (0.0500) 0.0829 0.1286 (0.1352) (0.2445) (0.0729) (0.1497) 0.0198 0.0359 0.0023 (0.0186) 0.0163 0.0480 0.0890 0.0160 0.1406 0.3623 0.0607 0.0532 0.0148 0.1357 (0.0614) 0.4983 0.0279 (0.0577) (0.0962) (0.0659) 0.0071 0.1884 0.0495 153 Apêndice C – Resultados das análises dos modelos dinâmicos de dados em painel ROE Modelo Dinâmico GMM (Arellano-Bond) DROE(-1) -0.104361 *** DCIV_K 0.00515923 ** DICE 0.00285846 *** DCE_K -0.00472685 DEND_GERAL 0.188471 ** DCRESC_VENDAS 0.000472881 DCIV_K(-1) 0.00184772 *** DICE(-1) 0.00361605 DCE_K(-1) -0.00263859 DEND_GERAL(-1) 0.404539 * DCRESC_VENDAS(-1) -0.0000999701 Constant -0.0149858 T2003 0.0229491 T2004 0.00383329 T2005 0.0722662 * W(j) 799.4 * m2 -1.765 Sargan 209.5 * * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10% Fonte: Elaborada pelo autor. ROA Modelo Dinâmico GMM (Arellano-Bond) DROE(-1) -0.00861332 DCIV_K 0.00211823 *** DICE 0.00137455 * DCE_K -0.00131534 DEND_GERAL -0.128959 * DCRESC_VENDAS 0.000463621 ** DCIV_K(-1) 0.000775662 *** DICE(-1) -0.000336078 DCE_K(-1) -0.00075827 DEND_GERAL(-1) 0.181583 * DCRESC_VENDAS(-1) 0.0002278430 Constant -0.00635427 T2003 0.0229194 * T2004 -0.00119199 T2005 0.0249527 * W(j) 154.2 * m2 -0.9012 Sargan 202.5 * * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10% Fonte: Elaborada pelo autor. 154 ROS Modelo Dinâmico GMM (Arellano-Bond) DROE(-1) -0.0946173 DCIV_K 0.00344599 DICE 0.000460571 DCE_K 0.0108179 * DEND_GERAL -0.14973 * DCRESC_VENDAS 8.59275E-05 DCIV_K(-1) 0.00214098 ** DICE(-1) 0.00128969 DCE_K(-1) -0.0117639 * DEND_GERAL(-1) 0.202139 * DCRESC_VENDAS(-1) 0.0001130360 Constant 0.00144252 T2003 0.0123693 T2004 -0.0147925 *** T2005 0.00468478 W(j) 177.4 * m2 0.5711 Sargan 204.0 * * significante a 1%, ** significante a 5%, *** significante a 10% Fonte: Elaborada pelo autor.