12 Segunda-feira 22 de junho de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia TURISMO Crise e dólar afetam viagens de intercâmbio Procura por pacotes continua elevada, mas decisão tem sido adiada devido ao cenário econômico desfavorável ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC Adriana Lampert [email protected] Mesmo que ainda haja uma procura grande por viagens de intercâmbio para o exterior, o segmento não escapou das consequências do cenário econômico retraído no País, agravado pela volatilidade do dólar. “Houve queda de conversão. Notamos que o desejo das pessoas pelo investimento continua, mas efetivamente as vendas estão mais baixas desde 2014”, admite a supervisora da região Sul da CI Intercâmbio, Ana Flora Bestetti. Segundo a gestora, a instabilidade da economia e a desvalorização do real frente às moedas do Hemisfério Norte têm levado muita gente a adiar o sonho de estudar fora do País. “O nervosismo do mercado de capitais desperta uma tendência do consumidor em esperar a baixa da moeda norte-americana, e alguns já decidiram protelar o intercâmbio para julho de 2016.” Ana Flora observa que também o timing de decisão da compra está maior: se até 2013 o ciclo médio do processo de fechamento de um pacote era de três meses, agora o período se estendeu para um semestre inteiro. Por se tratar na maioria das vezes de um projeto de vida, que refletirá na qualificação profissional, o aprimoramento do idioma em terra estrangeira não precisa ser descartado, e pode sair mais em conta, com algum pla- Optar por cidades que não as capitais, como no caso de Liverpool, é alternativa para economizar nos gastos nejamento, destaca o diretor do IE Intercâmbio, Marcelo Melo. Ele explica que a carga horária é um dos aspectos que vai definir o valor do curso. “Há alternativas de 30 horas, mas também de 18 horas/aula, por exemplo. Além disso, alguns destinos têm opção de aulas à tarde (em geral, a maioria é pela manhã), e, neste turno, os preços, que variam dependendo da escola, podem ser 25% mais baixos.” O diretor do IE adverte que, no entanto, é preciso estar atento e desconfiar quando a oferta for “barata demais”. “Infelizmente, existem escolas que não têm certificado junto ao Ministério de Educação do destino no exterior, e o aluno pode se meter em um barco furado”, explica Melo. Segundo ele, em média, um curso de idioma fora do Brasil, com duração de quatro semanas, custa a partir de R$ 6 mil, independentemente da agência que interceda, incluindo acomodação em casa de família e despesas com visto. Ana Flora faz coro ao alerta e destaca que utilizar os serviços de uma agência idônea e com consultores experientes pode ser um caminho para se evitar frustrações futuras. “Comprar o serviço de uma escola sem referencial pode ser um exemplo de que o barato às vezes sai caro.” Também pesquisar preços e custo benefício com bastante antecedência pode ajudar. “É possível pagar uma viagem inteira antes de ela acontecer. Muitas agências oferecem pacotes que incluem o curso e a hospedagem, com valores parcelados”, lembra a gestora da CI. “Desta forma, quando o intercambista embar- car, só precisa se preocupar com o montante que gastará no decorrer da viagem.” Quem usou até de planilha para contabilizar todos os gastos e focar nas alternativas mais baratas desde o preço do curso até o da alimentação no destino garante que é um trabalho que vale a pena. O analista de sistemas Gabriel Vailati (38 anos) é um exemplo de que planejamento funciona mesmo em época de dólar alto. Ele colocou um limite de custos de R$ 7,5 mil e conseguiu cumprir, utilizando milhas do cartão de crédito para a compra das passagens e seguindo para Liverpool, na Inglaterra, com a maior parte do dinheiro que gastou na viagem pré-pago em cartão Travel Money. “Fiz vários orçamentos. Nesta hora, tem que pechinchar”, recomenda. “Uma boa dica é procurar agências que investem em promoções de dólar travado (cotação fixa) para atrair clientes. Em geral, os preços caem bastante.” Outra forma de poupar encontrada por Vailati, que frequentou um curso de idioma com duração de três semanas e ainda viajou para a Escócia e a Holanda, sem deixar de aproveitar dois fins de semana em Londres, foi justamente fugir das capitais. “Liverpool saiu muito mais em conta”, garante. “Além disso, é uma cidade muito interessante, com uma biblioteca municipal fantástica. Ali passei muitas tardes estudando.” Reduzir o tempo de estadia no exterior é saída encontrada por muitos intercambistas Se no período em que a cotação do dólar esteve baixa os intercambistas brasileiros aproveitaram para esticar o tempo de estudo para uma média de três meses em destinos disputados, como Londres, atualmente, o caminho é inverso. A procura por cursos de idiomas em cidades de interior ou países com moeda mais acessível está maior, na mesma proporção em que o tempo de estudo encurtou para, no máximo, um mês, em média. “É uma alternativa para não abdicar da oportunidade de se capacitar”, afirma a supervisora da região Sul da CI Intercâmbio, Ana Flora Bestetti. Foi o que fez a auditora Sênior da KPMG Auditores Independentes, Paula Machado Correa (29 anos), que se prepara para um curso de inglês com duração de seis semanas no Canadá, para onde embarca em agosto. “O cenário econômico e o preço do câmbio afetou na escolha”, garante Paula. Quando começou a organizar a ideia, há um ano, a auditora já previa uma alta na moeda, mas o planejamento era de um curso de oito semanas. “Optei por reduzir o tempo, o que me gerou uma economia de R$ 2 mil”, calcula a futura intercambista. Ela tem domínio intermediário de inglês e escolheu o Canadá por ser um destino procurado, com custo-benefício mais atrativo que os Estados Unidos. Mesmo assim, foi atrás de visto americano, para aproveitar a proximidade e conhecer Nova Iorque, onde ficará 15 dias após o período de estudos no país vizinho. “Vou gastar, ao todo, em torno de R$ 15 mil”, calcula Paula, que optou por ficar em casa de fa- mília, onde terá garantida as três principais refeições do dia. O curso saiu em conta, considera a auditora: um mês e meio de intensivo do idioma, mais hospedagem e vistos por R$ 9 mil. Outra forma de economizar foi gastar as milhas do cartão de crédito: “menos R$ 3 mil desembolsados”. Diminuir a duração do tempo de intercâmbio ou da carga horária tem sido a alternativa encontrada por outros intercambistas que não querem abrir mão dos EUA como lugar escolhido, aponta o diretor da IE Intercâmbio, Marcelo Melo. Mesmo assim, cerca de 33% dos estudantes resolveram migrar para destinos mais econômicos, cuja a moeda usada não é o dólar, pondera o gestor. “Desde fevereiro deste ano, o curso mais procurado pelos viajantes continua sendo o do idioma inglês, porém, os EUA, que era um dos destinos mais disputados, cedeu lugar para o Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Malta.” Para se ter uma ideia, segundo o diretor do IE, a procura pelo Canadá, que já era um destino bastante demandado, subiu 39%. Já a Austrália, teve um aumento de 21%. “A Nova Zelândia, que tinha uma procura mais tímida, passou a ser uma das mais desejadas e aumentou 14%”, diz Melo. No caso de Malta, o índice é de 12% a mais de intercâmbios fechados. “A escolha do destino faz toda a diferença no rendimento do curso realizado pelo intercambista. Por isso, é muito importante o diálogo entre a agência e o estudante, para que a empresa consiga enquadrar o pacote no perfil e objetivos de cada um.” ANTONIO PAZ/JC Ana Flora dá dicas para quem não quer desistir de estudar fora