ID: 24789440
24-04-2009
Tiragem: 20100
Pág: 6
País: Portugal
Cores: Preto e Branco
Period.: Semanal
Área: 28,50 x 35,09 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 4
Paulo Campos, secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e das Comunicações, considera
“Há segmentos no móvel que podem
suscitar o interesse de outros operadores”
“Em 2005, em cada 100 novos clientes de banda larga, cerca de 90 eram do incumbente actualmente, estes
valores oscilam entre os 20 e os 30”, destaca Paulo Campos, secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas
e das Comunicações
Vida Económica – As redes de nova geração são um
dos temas do momento, com algumas personalidades
do sector a afirmarem que o modelo escolhido para o
seu desenvolvimento não é o mais adequado. Como é
que vê estas críticas?
Paulo Campos – Relativamente às redes de nova geração,
há algo que é claro para nós: é que esta é uma área em que
devemos fazer um esforço, toda a sociedade deve fazer um esforço no sentido de aumentar o investimento e de posicionar
a sociedade portuguesa como uma das principais responsáveis pela recepção dessas redes. Desse ponto de vista, fizemos
um caminho, estabelecemos um diálogo com as diferentes
entidades, nomeadamente com os operadores, com o objectivo de percebermos quais seriam as melhores soluções.
Discutiram-se várias opções, sendo que, neste momento,
estamos a trabalhar naquela que vai dar a cada interessado a
oportunidade de investir nas áreas que considera mais adequadas. Nalgumas situações haverá, contudo, competição ao
nível das infra-estruturas e dos serviços.
VE – Estas críticas não fazem sentido. É isso que está
a dizer?
PC – Nós consideramos que este é um modelo adequado,
que incentiva o investimento, que é ágil, flexível. O protocolo que assinámos incluiu, na altura, quatro operadores, sendo
que, entretanto, já aderiram mais dois. Há empresas que estão já a investir em redes de nova geração e o Estado também
se comprometeu a realizar um conjunto de acções, as quais
foram, aliás, concretizadas, nomeadamente do ponto de vista da legislação. O objectivo? Agilizar uma das matérias que
tem maior custo na introdução das redes de nova geração, ou
seja, a introdução de novas condutas.
Aprovámos também uma legislação que facilita este acesso
a todos aqueles que sejam proprietários ou que sejam detentores de infra-estruturas. E, aqui, não só ligadas às comunicações, mas a outras concessões de serviços públicos, mas que
possam disponibilizar aquilo que têm para esta área.
VE – O perigo do monopólio está completamente posto de parte?
PC – Repare, neste momento, fizemos um protocolo com
seis investidores, concorrentes entre si. Aliás, este Governo
tem crédito a seu favor neste contexto. Basta analisar a situação concorrencial que existia na altura em que entrámos para
o Governo e a que existe hoje. Evoluímos de forma favorável
e em todos os indicadores. Em 2005, em cada 100 novos
clientes de banda larga, cerca de 90 eram do incumbente, da
Portugal Telecom. Actualmente, estes valores oscilam entre
os 20 e os 30.
Passámos de uma situação de um mercado com poucas
O mercado das telecomunicações apresenta uma evolução e um
dinamismo comparáveis ao que se passa no resto da Europa. Num
tom optimista, Paulo Campos, secretário de Estado Adjunto
das Obras Públicas e das Comunicações, refere à VE que há
“segmentos no móvel que podem ainda suscitar o interesse de
outros operadores”. “Consideramos que há nichos de mercado
que podem ser trabalhados”, acrescentou Paulo Campos. O
governante dá o exemplo da frequência dos 450 MHz. As suas
palavras são reveladoras: “Temos vindo a trabalhar para ver se é
possível que a oferta seja disponibilizada a uma escala, digamos,
mais relevante”. Sobre as redes de nova geração, a opinião de
Paulo Campos é muito clara: o modelo escolhido é o mais
adequado. É aquele que “incentiva o investimento, que é ágil e
flexível”, afirmou ainda.
alternativas para um outro com vaias alternativas. De tal maneira que as quotas marginais, como já referi, são completamente diferentes. Quero-lhe ainda recordar a separação que
se deu entre o cabo e o cobre. Uma evolução que é, aliás,
comprovada pelo relatório da União Europeia. Este mostra
Portugal como um dos Estados-membros com o maior número de assinantes a utilizarem o operador alternativo.
VE – Uma evolução lenta?
PC – Uma evolução lenta, mas, provavelmente, rápida nos
últimos anos, já que nalgumas matérias o termo de comparação não nos era muito favorável e, agora, é. Estamos no
pelotão da frente.
VE – Já que refere parâmetros europeus, gostaria de
focar a banda larga fixa. Uma área onde não estamos
muito bem situados. Estamos a meio da tabela para baixo. As redes de nova geração vão ser uma oportunidade
para evoluirmos?
PC – Do ponto de vista do acesso à banda larga, não distinguimos muito as tecnologias que lhes servem de suporte.
Na componente fixa, estamos abaixo de meio da tabela, mas
na móvel estamos muito acima, nos lugares mais destacados.
VE – Uma estatística compensa a outra?
PC – Exactamente, nós fizemos um percurso muito bom.
Hoje, temos uma percentagem global de acesso que é bastante animadora e que é, ao mesmo tempo, a resposta a um
conjunto de desafios assumidos pelo Governo português. Estou a falar do acesso à sociedade do conhecimento, da qualificação dos portugueses. Fizemos todo um trabalho nesse
sentido. Gostaria de recordar o programa e-escola e o e-escolinha: os dois muito assentes em banda larga móvel. Muitas
das pessoas que a ele acederam passaram a ter acesso a esta
tecnologia, à sociedade do conhecimento, de acordo com as
prioridades que acabo de referir. E fizeram-no em relação à
banda larga móvel e não à fixa.
VE – O que está a dizer é que queimamos etapas ao
estarmos melhor situados em termos de banda larga
móvel? É um passo que nos coloca à frente de outros
países? É isso?
PC – Podíamos fazer essa leitura. Estou de acordo com
essa interpretação. Ao adoptarmos a banda larga móvel, podemos estar em qualquer sítio, sempre com acesso à sociedade do conhecimento. E isto, apenas, com uma assinatura
e não com várias. As vantagens são diversas, sendo que estas
oportunidades são também um sinal de modernidade.
Aliás, também aqui Portugal compara muito bem, até por-
que, na área do móvel, somos dos países com maior consumo. Os portugueses adoptaram claramente a mobilidade. É
minha convicção que as redes de nova geração vão ter também uma componente de mobilidade e atingir velocidades
de processamento muito elevadas, de alto débito.
VE – Esta será uma oportunidade para termos um
segmento fixo mais competitivo? Esta foi uma área que
sofreu uma série de alterações, com vendas, aquisições
de operadores, saídas do mercado. Como é que vê essa
evolução?
PC – Bem. A convergência é um tema que está cada vez
mais na ordem do dia. O que temos, hoje em dia, fruto da
convergência dos serviços fixo, móvel, dos dados, são operadores globais que prestam serviços globais.
VE – Mas será difícil existir mercado para todos? Há
vozes do sector que dizem que vamos ter, apenas, dois
ou três operadores globais?
PC – A tendência que temos vindo a assistir é de incremento por parte dos diferentes operadores. E podemos analisar mercado a mercado. Temos o exemplo do segmento móvel. Ainda há pouco tempo, tínhamos três operadores. Neste
momento, as ofertas são diversas, e assistimos a um aumento
da concorrência. O mercado pode escolher entre os operadores móveis virtuais, o Phone-ix dos CTT, o Zon Móvel, e os
mais antigos, que lançaram também outras marcas na área.
Quanto ao fixo, devo afirmar que este é bem disputado
por todos os operadores, quando, ainda há pouco tempo,
apenas, uma empresa oferecia este tipo de serviços. O número de áreas cobertas pela desagregação do lacete local é muito
superior à de 2005. Temos uma oferta muito superior àquela
que tínhamos há alguns anos atrás.
VE – Podemos vir a assistir, no médio prazo, a um
processo de concentrações? Um cenário plausível?
PC – É natural que, nalguns momentos, os mercados se
ajustem. Mas também não nos podemos esquecer que isto
pode resultar no surgimento de novos nichos e novas oportunidades, por forma a que outros possam fazer a sua entrada.
O mercado das telecomunicações em Portugal tem dado, a
cada momento, uma boa resposta às diferentes solicitações. É
um mercado muito evoluído do ponto de vista tecnológico.
Em termos de investimento, as telecomunicações apresentam, de igual forma, uma das maiores taxas a nível europeu.
O último relatório da União Europeia afirma-o, sendo que é
também um dos que apresenta um maior número de receitas. O quer dizer que temos, hoje, um mercado de telecomunicações com uma expressão superior à de outros países quer
ao nível do produto quer do investimento.
ID: 24789440
24-04-2009
Tiragem: 20100
Pág: 7
País: Portugal
Cores: Preto e Branco
Period.: Semanal
Área: 28,42 x 19,97 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 2 de 4
“O segmento fixo é, actualmente,
bem disputado por todos os
operadores, quando ainda, há pouco
tempo, apenas um operador oferecia
este tipo de serviços”
VE – De qualquer forma, há quem diga que continuamos a ter preços elevados. Uma queixa que parte
sobretudo da indústria?
PC – Também desse ponto de vista, registámos uma evolução muito positiva. O próprio relatório da União Europeia nos dá conta que, em comparação com outros países,
somos daqueles que praticam uma das tarifas mais baixas e
aos diferentes níveis: grossista e de retalho. Os relatórios da
Autoridade Nacional de Comunicações também o afirmam.
O sucesso de alguns dos produtos e até as taxas relativas à sua
utilização, embora gostemos sempre que os preços sejam os
mais baixos possíveis, devem-se também ao facto de estes serem competitivos em comparação com aquilo que se pratica
noutros países.
Hoje, o mundo muda a uma grande velocidade e, provavelmente, uma boa parte dos agentes das telecomunicações
não estava à espera que o próprio sector mudasse tanto em
tão pouco tempo. O que é verdade é que ele mudou. As estatísticas dizem que ao nível dos preços, das taxas de utilização
comparamos muito bem. Um outro exemplo? Os produtos
inovadores: somos daqueles que mais os utilizamos. No que
diz respeito à cobertura, o relatório da União Europeia refere,
de igual forma, que somos dos países que apresentam as melhores taxas nalgumas matérias. Em termos de concorrência
melhorámos também bastante, e isto não só no móvel, mas
também no fixo, na televisão.
Neste último caso, a oferta por subscrição é muito superior àquela que existia há bem pouco tempo. Hoje, temos
produtos globais a competirem no mercado, como o cabo, o
“Meo”, o “Clix”. Na banda larga, passa-se o mesmo. Recordo-lhe que, em 2005, quando chegámos ao Governo, ainda
nos lembrávamos de ouvir os operadores, em finais do ano
“Em Portugal, a regulação é
independente. Uma boa parte dos
resultados que estamos a obter no
sector devem-se às acções levadas a
cabo pelo regulador”
anterior, a afirmarem que iam abandonar o mercado de banda larga, porque, em Portugal, não era possível continuar.
já referi, a posição que o Estado tomou é conhecida. Assim
sendo, consideramos que essa matéria é, apenas, especulação.
VE – A associação dos operadores, a Apritel, vem,
recorrentemente, a público dar conta do nosso atraso
nesta área?
PC – É normal que os operadores se expressem dessa forma. De qualquer modo, também aí assistimos a uma evolução muito significativa. A Apritel faz, hoje, uma análise que
se aproxima mais daquela que realizamos, reconhecendo,
deste modo, o desenvolvimento que se tem verificado nesta
área.
VE – Sim, mas é uma matéria que podia ter dado azo
a grandes mudanças no sector. Ainda assim, houve consequências importantes, como é o caso do “spin-off” da
Zon. Algo que lhe mereça um comentário?
PC – A posição do Estado é conhecida também foi pública a forma como votámos nesse contexto. Como tal, tudo o
resto é especulação.
VE – Já focou a questão do segmento móvel. Há espaço no mercado para um quarto operador?
PC – Consideramos que há nichos de mercado que podem
ser trabalhados. Acreditamos que há segmentos que podem
ainda suscitar o interesse de outros operadores.
VE – Como por exemplo?
PC – Como por exemplo em frequências ligadas aos 450
Mhz. Temos vindo a trabalhar para ver se é possível que a
oferta seja disponibilizada a uma escala, digamos, mais relevante. Aliás, realizámos um concurso para atribuir uma
licença nesta área.
VE – O desfecho da OPA da Sonaecom sobre a PT
teria sido outro se o Estado não tivesse a presença que
tem na Portugal Telecom?
PC – Repare, a nossa posição relativamente a essa matéria
é conhecida. A decisão foi tomada pelos accionistas numa assembleia geral, respeitando, como é natural, as regras. Como
VE – A Autoridade Nacional de Comunicações é, por
vezes, acusada de parcialidade, de não regular devidamente o sector. Como é que vê estas críticas?
PC – Este é um mercado competitivo, onde cada um
dos operadores tende a sobreavaliar os seus interesses e, por
essa via, a tomarem todos sempre posições de uma forma
que não é independente.
É, por isso, normal que exista quem entenda que as decisões podiam ser de outra forma. Penso que isso faz parte de
um processo normal. Há um conjunto de agentes do mercado que o disputam e há um regulador que toma decisões na
salvaguarda desses próprios agentes e dos consumidores.
Em Portugal, como sabe, a regulação é independente. Não
vou emitir qualquer opinião sobre a regulação, mas quero
dizer que boa parte dos resultados que estamos a obter no
sector se devem a acções levadas a cabo pelo regulador. É
justo referi-lo, assim como também uma boa parte se deve
aos próprios operadores, já que investem e, até em termos
relativos, fazem-no mais cá do que noutros países.
SANDRA RIBEIRO
[email protected]
ID: 24789440
24-04-2009
Tiragem: 20100
Pág: 2
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 17,24 x 12,48 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 3 de 4
Pág. 6
ACTUALIDADE
“HÁ SEGMENTOS NO MÓVEL QUE PODEM
SUSCITAR O INTERESSE DE OUTROS OPERADORES”
O mercado nacional das telecomunicações apresenta uma evolução e
um dinamismo comparáveis ao que se passa no resto da Europa. Paulo
Campos, secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e das Comunicações, defende que há nichos de mercado que podem ser trabalhados.
ID: 24789440
24-04-2009
Tiragem: 20100
Pág: 1
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 22,60 x 8,38 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 4 de 4
Secretário de Estado das Comunicações garante
Cluster industrial das telecomunicações
é um objectivo de curto prazo
A criação de um cluster industrial das telecomunicações é um dos grandes projectos do
Governo “no curto prazo”, afirma, em entrevista à “Vida Económica”, o secretário de Estado
Adjunto das Obras Públicas e das Comunicações.
Paulo Campos diz que o Estado está a fazer grandes investimentos nas áreas da televisão
digital terrestre e das redes de nova geração, onde pretende aumentar a percentagem de
incorporação de conhecimento e produtos nacionais.
Sobre a Portugal Telecom, Paulo Campos considera-a uma empresa estratégica para o Estado.
Págs. 6 e 7
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