Problemas na fala atrapalham carreira de reis e plebeus
por Lígia Carvalho
O filme O Discurso do Rei mostra a luta do rei George VI, pai da atual rainha da
Inglaterra, Elizabeth II, para superar a gagueira e conseguir falar em público e, mais
ainda, falar em público com a segurança de um rei. Desesperançoso em relação à cura
do mal que o acompanha desde a infância, George VI acaba realizando um tratamento
pouco convencional com o especialista em discursos Lionel Logue. O filme foi o grande
vencedor do Oscar deste ano, ganhando quatro prêmios (Roteiro Original, Ator, Diretor
e Filme).
Esse tema chama muito a atenção por ser um problema relativamente comum na vida de
profissionais de todo o mundo. Língua presa, troca de letras, gagueira e resistência da
voz são apenas alguns dos muitos distúrbios da fala que podem atrapalhar um
profissional no mercado de trabalho.
Para a diretora da consultoria em recrutamento e seleção InterTalentos, Fábia Machado,
a voz é uma ferramenta importante na comunicação corporativa, tanto nas relações
internas entre colaboradores e diretoria, quanto nas relações com clientes, fornecedores
e parceiros. Ela destaca que comunicação é o meio mais eficaz para se identificar falhas
em diversos aspectos da operacionalidade da companhia e traçar novas estratégias.
Fábia explica que o profissional que consegue traduzir em palavras aquilo que muitas
vezes não está explícito tem a chance de alcançar, com mais rapidez, uma promoção ou
uma recolocação no mercado. Mas, em sua opinião, se enganam aqueles que se deixam
levar apenas por essa competência. “A empresa tem que avaliar, no profissional, outras
características pertinentes para o cargo em que atual ou pretende atuar, assim como deve
avaliar se, de fato, o profissional terá a oportunidade de exercer essa competência.”
Quando questionada sobre pessoas com gagueira especificamente, a diretora afirma que
há vários exemplos de profissionais que fazem um excelente trabalho e são gagos, mas
adverte que se a pessoa não conseguir se comunicar com os outros colegas ou tiver
grande dificuldade de se apresentar em público, é importante que busque ajuda de um
especialista, mesmo que o problema seja apenas o excesso de inibição. Nesse particular,
ela conta a própria experiência: “Eu tinha grande dificuldade para falar em público e fiz
um curso de expressão verbal, o que me ajudou muito; hoje falo com muito mais
facilidade para uma plateia ou grupos de pessoas”.
Ela ressalta que para atrair o ouvinte não basta ter boa desenvoltura na comunicação
oral e que outros fatores como naturalidade, dicção, presença de espírito, gesticulação,
são muito importantes.
Autoestima
Em consonância com a argumentação de Fábia, a coordenadora da Clínica Fale Melhor,
Marisa Mizrahi Farber, garante: “Falar bem é a melhor condição para ter sucesso na
profissão e na vida pessoal”. A clínica que dirige é especializada em distúrbios
relacionados com a fala, tais como motricidade orofacial, linguagem, voz e audição.
Marisa defende que o tratamento fonoaudiológico é fundamental para profissionais que
tenham problemas de fala, uma vez que esses problemas podem afetar sua performance
no mercado profissional. “Uma pessoa sem dificuldades na fala possui mais chances de
se destacar em um ambiente de trabalho porque se torna mais segura e adquire mais
autoestima em razão da maior facilidade de comunicação”, afirma Marisa.
A fonoaudióloga ressalta, entretanto, que, pessoas com gagueira, inibição e vários
outros distúrbios da fala têm plena condição de serem bons profissionais, uma vez que a
dificuldade de comunicação não afeta sua capacidade intelectual. O que lhes falta, na
maioria das vezes, é desenvolver uma habilidade específica relacionada com a
expressão verbal. Segundo ela, a maioria das limitações pode ser superada por meio de
exercícios corretos, prescritos a partir de uma avaliação correta do problema, feita por
um especialista.
Imagem comunicativa
Para a fonoaudiólaga Riva Waitman Salzstein, diretora da Comunik - Consultoria e
Treinamento em Comunicação, o uso eficaz da voz na vida corporativa colabora muito
para gerar uma imagem comunicativa adequada. O profissional representa uma empresa
e, portanto, é esperado que, por meio de sua performance comunicativa, apresente uma
imagem que esteja de acordo com os valores da mesma.
“Entendemos que a qualidade da comunicação de um profissional que atua em âmbito
coorporativo é um diferencial nos seus relacionamentos profissionais, interferindo, com
certeza, na sua performance; a voz é um recurso comunicativo extremamente importante
porque ela é o ‘como falamos’ aquilo que temos a intenção de comunicar”, afirma Riva.
Muitos fonoaudiólogos atuam com diferentes profissionais, como executivos,
jornalistas, professores, advogados, dentre outros, fornecendo recursos para que possam
aprimorar sua competência comunicativa em várias situações de comunicação.
“É importante que o profissional procure o fonoaudiólogo, profissional com graduação
plena para atuar na promoção da saúde, prevenção, avaliação e diagnóstico, orientação,
terapia e aperfeiçoamento dos aspectos fonoaudiológicos: da linguagem oral, da voz, da
fluência, da articulação da fala, dentre outros”, explica Riva.
A diretora comenta que muitas vezes, os problemas de fala contribuem para uma
imagem de mal falante e consequentemente interfere na sua autoestima. A melhora no
desempenho comunicativo de uma pessoa propicia certamente uma melhora na
qualidade de sua vida.
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