Módulo 3 – GÊNEROS TEXTUAIS IMPRESSOS 1º Etapa: Contexto de Produção e Gêneros – íntegra do texto GÊNERO DE DISCURSO 1 A noção de gênero remonta à Antiguidade. Posteriormente, é retomada pela tradição da crítica literária que classifica as produções escritas segundo certas características: formais (poesia, romance etc.) ou estético-culturais (romantismo, realismo etc.). Já no uso corrente, ela é um meio para o indivíduo localizar-se no conjunto das produções textuais existentes no mercado editorial (autobiografia, romance histórico etc.). Finalmente, a noção de gênero é estudada pela lingüística contemporânea, sobretudo por disciplinas como a Análise de Discurso e Análise textual. Na Antigüidade, coexistiram dois tipos de atividade discursiva. O primeiro nasceu na Grécia pré-arcaica e corresponde ao fazer dos poetas que eram encarregados de representar o papel de intermediários entre os deuses e os humanos, de um lado celebrando os heróis, de outro interpretando os enigmas que os deuses enviavam aos humanos. Assim, foram codificados gêneros tais como: o épico, o lírico, o dramático, o epidítico etc. O segundo teve nascimento na Grécia clássica e desenvolveu-se na Roma de Cícero. Surgiu como resposta às necessidades de gerir a vida da cidade e os conflitos comerciais, fazendo da fala pública um instrumento de deliberação e de persuasão jurídica e política. Na tradição literária, presume-se que o gênero pode permitir a seleção e classificação dos diferentes textos literários que pertencem à prosa ou à poesia. Isso se deu ao longo dessa tradição literária, segundo critérios que nem sempre são da mesma natureza. 1. Critérios ao mesmo tempo de composição, de forma e de conteúdo que distinguem os gêneros: poesia, teatro, romance, ensaio. Depois, no interior desses: poesia (soneto, ode, balada, madrigal etc); narrativa (épico, elegíaco etc.); teatro (tragédia, drama, comédia etc.). 2. Critérios que remetem a diferentes modos de conceber a representação da realidade, definidos por meio de textos ou manifestos, tendo por função fundar Escolas, e que corresponderam a períodos históricos: os gêneros romântico, realista, naturalista, surrealista etc. O problema apresentado por essas classificações é que um mesmo tipo de texto pode acumular vários desses critérios de modo homogêneo (a tragédia, no século XVII, sob forma teatral, com estrutura particular) ou heterogêneo (o fantástico que se encontra em diferentes épocas, sob diferentes formas, em diferentes estruturas). Em semiótica, análise do discurso e análise textual, encontra-se de novo essa noção aplicada igualmente aos textos não literários. Mas aqui, diferentes definições se opõem, cada uma filiando-se a posicionamentos teóricos diversos. Embora as fronteiras que delimitam esses diferentes posicionamentos sejam tênues, é possível distinguir vários pontos de vista. 1. Funcional: procura estabelecer funções com base na atividade linguageira. Há classificações baseadas no esquema da comunicação, propostas por Jakobson (1963): função emotiva, conativa, fática, poética, referencial e metalingüística. 2. Enunciativo: iniciado por Benveniste (1966), apóia-se no “aparelho formal da enunciação” e propõe uma oposição entre discurso e história (e/ou discurso X narrativa). 3. Comunicacional: para Bakhtin (1984), por exemplo, os gêneros dependem da “natureza comunicacional” da troca verbal, o que lhe permite distinguir duas grandes categorias de base: produções “naturais”, espontâneas, pertencentes aos “gêneros primários” (aqueles da vida cotidiana), e produções “construídas”, institucionalizadas, pertencentes aos “gêneros secundários” (aquelas produções elaboradas, literárias, científicas etc.) que derivariam dos primários. 2 A diversidade dos pontos de vista mostra a complexidade da questão dos gêneros, incluindo as denominações, já que alguns falam de “gêneros de discurso”, outros de “gêneros de textos”, outros ainda de “tipos de textos”. Não esquecer! Para definir a noção de gêneros, leva-se em conta: a ancoragem social do discurso, sua natureza comunicacional, as regularidades composicionais dos textos ou ainda suas características formais. Podemos pensar que esses diferentes aspectos estão ligados, o que cria, aliás, afinidades em torno de duas orientações principais: a que está mais voltada para os textos, justificando a denominação gênero de texto, e a mais voltada para as condições de produção do discurso, que justifica a denominação gênero do discurso. Referências Bibliográficas BAKHTIN, Mikail. Esthétique de la création verbale. Paris: Gallimard, 1984. BENVENISTE, Émile. Problèmes de Linguistique Générale I. Paris: Gallimard, 1966. JAKOBSON, Roman. Essais de Linguistique Générale. Paris: Minuit, 1963. 3