ZONA DE FRONTEIRA: RESSONÂNCIAS CRÍTICAS NA OBRA DE MILTON HATOUM
BORDERLINE: CRITICAL RESSONANCES IN MILTON HATOUM’S WORKS
Paulo César Silva de Oliveira*
Resumo
Este artigo parte da análise introdutória da obra do escritor amazonense Milton Hatoum e, a partir
dela, procura traçar um perfil das discussões críticas em torno das relações entre mundo, texto e
crítica. O artigo visa, ainda, a investigar de que modo o saber literário se insere na discussão
crítica, estabelecendo entre-lugares, brechas, nas quais a amplificação interpretativa não só é
necessária, mas indissociável de toda condição de leitura na prosa contemporânea.
Palavras-chave: Teoria Literária, História, Literatura Brasileira, Políticas Textuais.
Abstract
An introductory analysis of the Amazonian writer Milton Hatoum is the starting point of this article,
and it aims at establishing a broad scope to the critical discussions on the connections among
world, text and criticism. The article will also study how literary issues are set in the critical debate,
creating in-between places, gaps, in which a broad interpretative view is not only necessary but
inseparable from all reading conditions concerning contemporary prose.
Key words: Literary Criticism, History, Brazilian Literature, Textual Policies.
1 Introdução
Para os estudos contemporâneos, as relações entre o saber literário e os outros saberes são
particularmente complexas. As fronteiras e os limites entre o que é o saber contido na literatura,
em suas relações com as teorias disponíveis e aquelas a serem pensadas, não deixam de ser
circunscritos pela velha relação entre as correntes textualistas e as influências contextuais
percebidas no âmbito da leitura de uma obra literária. No caso da produção ficcional de Milton
Hatoum, essas relações vão requerer do crítico certos modos de entrada que permitam
estabelecer nas obras aberturas interpretativas, o que, em nosso artigo, de antemão, definiremos
como “primeira aproximação”, dados os limites inerentes a esta publicação.
Por conta ainda do espaço, optamos por não resumir os três romances escritos até o momento
por Hatoum, entendendo que ele é autor bem divulgado e lido, tanto pelo público, em geral,
quanto no âmbito da academia, o que os mais de 100 mil livros vendidos pelo amazonense, até o
momento, comprovam (Conde, 2008, p. 1).
Relato de um certo Oriente, Dois irmãos e Cinzas do Norte compõem, até o presente, uma trilogia
ficcional cujo epicentro dramático se desenvolve na mítica Manaus imaginada por Hatoum.
Permitimo-nos afirmar que, dentre os três romances, a narrativa de Cinzas do Norte é a mais
econômica, no sentido de que o jogo do narrador, conforme estruturado no Relato de um certo
Oriente, e a elaboração do intricado labirinto de acontecimentos e emoções de Dois irmãos
cedem, nas Cinzas do Norte, a uma prosa controlada por dois narradores: Lavo, narrador
principal, que ocupa quase toda a cena do romance; e outro, Ranulfo, cuja narrativa epistolar
evoca a técnica semelhante à do Relato, sem o emaranhado deste. As cartas de Mundo o tornam
um terceiro narrador, mas sua marca é menos constante, embora seu caráter de personagem
central lhe confira o epicentro da narrativa.
Centralizaremos nossa análise, embora não exclusivamente, neste romance, no qual
estabeleceremos certos modos de entrada para nossa leitura.
Em Cinzas do Norte, encontraremos um Hatoum que retoma e amplifica suas obsessões,
entretanto mais concentrado na reflexão histórico-política, que ganha cores mais fortes do que
nos romances anteriores. De passagem, Cinzas do Norte evoca discussões agudas sobre autoria,
memória, repetição e originalidade, além de trazer à baila (e agora já estamos no domínio mais
específico da teorização) discussões acerca das relações entre as correntes textualistas e as
relações contextuais evocadas pelas obras literárias, tema que ocupou e ainda ocupa lugar de
relevância nas investigações de teóricos do porte de Edward Said e que reverbera nas reflexões
fundamentais de Elias Canetti, Zygmunt Bauman, Toni Negri e Peter Sloterdijk, para ficarmos
apenas nos nomes que traremos à discussão em nosso trabalho.
Defenderemos, em duplo movimento, os direitos do texto “a dizer tudo”, conforme a distinção feita
por Jacques Derrida (1995, p. 47), em sua definição de literatura, quando observa que as
estratégias literárias criam um ambiente propício à demolição do pensamento dicotômico, pois, em
um lance de jogo, o texto reafirma e reconduz a história e o contexto ao Lavo dos direitos textuais.
Nesse lance, nesse jogo, a obra de Hatoum se impõe como leitura fundamental. A ela nos
lançaremos.
2 Textualismo, Contextualismo: fronteiras minadas
No Relato de um certo Oriente (doravante citado apenas como Relato), já quase ao final da
narrativa, a voz que inaugura a narrativa é representada pela neta de Emilie. Essa voz também
encerra o Relato. Suas palavras nos interessam sobremaneira para início de debate. A citação é
longa, porém essencial:
O teu presságio me deu trabalho. Gravei várias fitas, enchi de anotações uma dezena de
cadernos, mas fui incapaz de ordenar coisa com coisa. Confesso que as tentativas foram
inúmeras e todas exaustivas, mas ao final de cada passagem, de cada depoimento, tudo se
embaralhava em desconexas constelações de episódios, rumores de todos os cantos, fatos
medíocres, datas e dados em abundância. Quando conseguia organizar os episódios em
desordem ou encadear vozes, então surgia uma lacuna onde habitavam o esquecimento e a
hesitação: um espaço morto que minava a seqüência de idéias. E isso me alijava do ofício
necessário e talvez imperativo que é o de ordenar o relato, para não deixá-lo suspenso, à
deriva, modulado pelo acaso. Pensava (ao olhar para a imensidão do rio que traga a
floresta) num navegante perdido em seus meandros, remando em busca de um afluente
que o conduzisse ao leito maior, ou ao vislumbre de algum porto. Senti-me como esse
remador, sempre em movimento, mas perdido no movimento, aguilhoado pela tenacidade
de querer escapar: movimento que conduz a outras águas ainda mais confusas, correndo
por rumos incertos (Hatoum, 1989, p. 165).
Neste parágrafo, poderíamos sintetizar a poética de Hatoum, mas essa reflexão vai além de uma
poética de autor; ela se presta mesmo ao que a literatura pós-moderna possui de mais vital e
complexo: a organização do relato, na qual entre-lugares vão surgindo e fugindo ao controle do(s)
narrador(es), apontando, de passagem, para o fato de que a verdade do que se narra está
condicionada, porém não aprisionada, à possibilidade da verdade histórica. Uma e outra verdade
são condicionadas à idéia de ruína; ruína essa que desloca o papel da história como modelo de
compreensão da verdade do mundo, arrastando-a, desse modo, para o âmbito da representação
poética dos fatos e evidências. Daí, a impossibilidade de ordenar os fatos, apontada pela
narradora. Vem deste entre-lugar a imagem do navegante a buscar um “leito maior”, mas “perdido
no movimento” que o conduz a águas e rumos cada vez mais incertos. Nasce desse conflito,
dessa errância, o paradoxo da narrativa pós-moderna: é preciso narrar, embora a narrativa
imponha a impossibilidade de narrar como pré-condição para o relato. É preciso compreender e
questionar a história; entretanto, o que chega ao leitor são fragmentos de memória, pequenos
discursos que, agrupados, não formam um todo – um “leito maior” – compreensível, em que
possamos vislumbrar a verdade por inteiro. A narrativa de Hatoum pode ser entendida como uma
alegoria sobre os impasses da narração, sobre os caminhos e descaminhos, quer seja da história
de uma nação, ou dos indivíduos em sua constante busca pela verdade acerca de um passado
nebuloso e desordenado.
O trecho citado apresenta ainda para a reflexão teórica contemporânea um problema de difícil
solução, que compromete tanto o empirismo quanto o racionalismo como métodos para a
investigação textual. Em uma definição bastante simplista, o empirismo é comumente entendido
como o conhecimento que deriva da experiência, enquanto o racionalismo pressupõe a existência
de categorias preexistentes que se conjugam na aquisição do conhecimento. Para as teorias
críticas mais recentes, em especial aquelas oriundas da revolução pós-estruturalista, via Derrida e
Foucault, especialmente, a crença em uma origem, em uma verdade dada de antemão pela
presença, fica seriamente abalada quando exposta à escritura, mais especificamente à escritura
literária: questiona-se o papel centralizador do autor, advogando mesmo, como fazem Derrida e
Foucault, sua morte; nega-se o leitor como uma presença entificável e identificável; aponta-se,
enfim, a paternidade da escrita como impossibilidade. A desconstrução opera em uma linha tênue,
que não admite a interpretação empírica ao mesmo tempo em que descarta o racionalismo por
entender que a história não pode ser compreendida sob um crivo de origem, nem como presença
ou algo que se desenvolva de forma linear. A impossibilidade de organização do relato irá,
metaforicamente, remeter ao próprio dilema das interpretações críticas, fazendo destas uma
espécie de alegoria do impasse, expressa na idéia de um “remador” ao sabor dos eventos,
conduzindo o narrador-organizador do relato a “rumos incertos”.
As relações entre o mundo subjetivo – que emerge do relato possível – e o mundo objetivo – que
requer do narrador uma desejável aproximação empírica e, por vezes, cartesiana com as noções
de real, realidade e história – vão se estabelecendo na prosa ficcional de Hatoum como metáforas
de toda a condição narrativa. Em Cinzas do Norte, essas relações se aprofundam e nos motivam
a defender a tese de que, com esse romance, Hatoum assume uma posição de crítica históricopolítica, mais contundente e mais incisiva do que nas narrativas anteriores, visando a uma
discussão acerca da construção da idéia de nação no embate com os ideais de gerações ceifadas
em seus sonhos e utopias. Hatoum nos presenteia com uma visão ácida, porém necessária,
acerca do mundo contemporâneo, ameaçado pelo obscurantismo da reflexão acrítica e pelo
desprezo à história, pelo contexto, que por vezes conduzem o pensamento a uma zona de
irreflexão perigosa e, por que não dizer, danosa, ao questionamento reflexivo e combativo.
Essa vontade de representação do local, em Cinzas do Norte, é metaforizada em Lavo, um dos
narradores do percurso histórico-ficcional, cuja visão da realidade se opõe à de Mundo,
personagem central do romance, para quem o desejo de libertação pela arte o leva a desejar a
viagem, o incerto, o mundo – não por acaso substantivo homólogo à aférese de nome, Raimundo:
Mundo sabia que dificilmente eu sairia de Manaus; nas cartas que lhe enviei, insisti nesse
assunto, dizendo que minha cidade era minha sina, que eu tinha medo de ir embora, e mais
forte que o medo era o desejo de ficar, ilhado, enredado na rotina de um trabalho sem
ambição. Eu declamava, quase brincando, os versos decorados no Pedro II, que uma noite
ele recitou com pompa, afogado na bebida e na esbórnia da Castanhola: “Ingrato o filho que
não ama os berços do seu primeiro sol”. Ria e me provocava: “Acho que sou esse filho,
mesmo sem querer ser...” (Hatoum, 2005a, p. 269).
Em sua definição de cultura, Edward Said (1983) nos dirá que é nela que podemos buscar a
variedade de sentidos e idéias contidos nas frases pertencer à ou pertencimento a um lugar
(belonging to or in a place) e estar em casa em um lugar (at home in a place). Essa distinção
encena, em Cinzas do Norte, as diferenças e semelhanças entre Lavo e Mundo. O primeiro
estabelece uma relação de pertencimento ao lugar, na qual se conjugam destino gregário (o
gregarismo é um tema fundamental em Hatoum, que povoa suas tramas com personagens
inapelavelmente “atados” ao lugar) e inadequação ao lugar, outro tema recorrente. Por isso, Lavo
dialogará, sobremaneira, ainda que de forma invertida, devido a seu temperamento, com a
personagem Omar, de Dois irmãos (Hatoum, 2000). Ranulfo, de Cinzas do Norte, também é uma
aproximação pertinente com Omar, dado o seu misto de rebeldia e dependência para com a figura
feminina. Assim como Omar, o favorito de Zana, a matriarca de Dois irmãos, Ranulfo desenvolve
uma relação complexa de atração e repulsão, amor e ódio por sua irmã, Ramira.
O sentimento de pertencimento aponta, na obra de Hatoum, possibilidades de compreensão do
mundo essencialmente contradicotômicas. Conforme a pista fornecida pelo próprio Hatoum,
“Manaus parece um ímã, mas ao mesmo tempo uma catapulta. Me atrai violentamente e depois
me joga para fora” (Hatoum, 2008b, p. 1). Outra indicação nos é fornecida em sua recém-lançada
novela, a partir da epígrafe, retirada de um poema do grego Konstantinos Kaváfis (apud Hatoum,
2008a, p. 7):
Não encontrarás novas terras, nem outros mares.
A cidade irá contigo. Andarás sem rumo
Pelas mesmas ruas. Vais envelhecer no mesmo bairro,
Teu cabelo vai embranquecer nas mesmas casas.
Sempre chegarás a esta cidade. Não esperes ir a outro lugar,
Não há barco nem caminho para ti.
Como dissipaste tua vida aqui
Neste pequeno lugar, arruinaste-a na Terra inteira.
A epígrafe pode ser um resumo do drama de Mundo em Cinzas do Norte. Sua relação tensa com
o pai e sua relação conturbada com o lugar, a Manaus em franca decadência, em sua pretensão
de novo Eldorado, e a época sombria – o período do golpe militar, a partir de 1964 – serão
moduladas junto com sua paixão pela arte, expressa na pintura, o que leva Mundo a um estado
permanente de tensão entre pertencimento e estar em casa em um lugar. Após a morte do pai, e a
conseqüente venda dos bens da família, culminando na ida de Mundo à Europa, para seguir o
sonho da pintura, Lavo permanece sob os efeitos do que para ele é a maldição do lugar, do
pertencimento, enquanto Mundo se vê sob o crivo daquilo que Kaváfis expressa no poema: “A
cidade irá contigo”. Mundo expressa e representa o que o próprio Hatoum entende como catapulta
e ímã. Chamaremos a isso efeito de catapulta e efeito de ímã. Nas regras de atração e recusa
que compõem os dois efeitos, as brechas que se instalam são como metonímias do universo
poético de Hatoum. E norteiam suas obras, obsessivamente. Exemplifiquemos.
Um panorama bastante amplo das personagens de Hatoum pode nos esclarecer muito a respeito
destes efeitos de catapulta e ímã. Emilie (Relato), Zana (Dois irmãos) e Alice (Cinzas do Norte)
são matriarcas excessivas, passionais; Soraya Ângela (Relato) e Zana (Dois irmãos) são irmãs
nebulosamente ligadas aos irmãos, com as implicações de incesto e mistério acerca de seu
passado. As relações entre irmãos (conflituosas, como as de Omar e Yakub, em Dois irmãos;
misteriosa e com insinuações de incesto, como as de Soraya Ângela e os irmãos cognominados
“os inomináveis”) ocorrem em menor escala, porém não são menos importantes em Cinzas do
Norte. Elas constroem a cena familiar, cuja tensão entre subjetividade e alteridade provoca vários
centros reguladores. Em comum, sofrem todas elas desta “maldição do lugar”.
Em princípio, afirmaremos que os conflitos no âmbito da casa ocupam a cena de todas as três
narrativas. A estrutura dos três romances possui elementos comuns. Em primeiro lugar, os
personagens centrais das tramas já estão mortos, o que nos permite dizer que todos os relatos
são, de fato, uma recuperação do passado por intermédio da memória. Em segundo lugar, os
narradores de Hatoum são sempre personagens secundários, que participaram ou souberam dos
eventos, mantendo certa distância em relação aos fatos narrados. A opção por narradores
homodiegéticos tem uma função precípua: manter a veracidade do relato no horizonte do leitor,
que é chamado a participar dos eventos, ora como uma espécie de ouvinte privilegiado, no caso
do Relato, pois pode compor e comparar as várias narrativas em um todo mais harmonioso do
que os narradores entre si são capazes de compor; ora como um ouvinte criterioso, recolhendo as
razões que movem os conflitos entre Omar e Yakub, em Dois irmãos; ou, ainda, atuar como
narratário privilegiado de Lavo, em Cinzas do Norte. Lembremos que Mundo é quase sempre o
narratário intradiegético, mas somente nos momentos em que a narrativa se torna epistolar, visto
que é o destinatário das cartas de Lavo. A última carta, de Mundo a Lavo, já no final da narrativa,
será incorporada à série de relatos anteriores, mostrando que a verdade está sempre sujeita a
diversas intromissões que desarticulam a história como fato dado. O leitor, portanto, será uma
espécie de terceiro elemento estrutural dos romances, e seu papel é de fundamental importância
para o estabelecimento de uma memória articulada à questão do tempo, sendo este uma quarta
questão, sobre a qual dedicaremos algumas reflexões mais apuradas.
O tempo histórico que recobre cada uma das narrativas de Hatoum vai da Manaus do início do
século XVIII, no mais recente Órfãos do Eldorado, até o final da década de 70, em Cinzas do
Norte. Menos no Relato e mais contundentemente em Dois irmãos e Cinzas do Norte, os
acontecimentos históricos são como que um pano de fundo aparentemente secundário, mas ao
final vão se revelando, de forma quase alegórica, retratos de uma paisagem nacional cujo tema da
nação está no palco central das discussões. Se bem observarmos os três romances e a novela
recentemente lançada, perceberemos que o percurso histórico das obras de Hatoum recobre
momentos de reflexão sobre a idéia de nação por meio do eterno conflito entre indivíduo e
sociedade, corroborando a velha problemática de Jean-Jacques Rousseau, para quem há uma
relação problemática indissolúvel entre subjetividade e coletividade.
O romance familiar, no qual a casa representa o espaço privilegiado das tensões, conjuga-se ao
romance histórico, em que a decadência política do país acompanha e pontua a decadência da
família e vice-versa. Nos romances, há um texto subterrâneo, um rio caudaloso, correndo por
terra, carregando em seu curso paixões proibidas, amores condenados, expurgados, tortura,
animalidade, desprezo, maldade. Nesse córrego, por vezes silencioso, eclodem paixões
incestuosas, mães devoradoras dominam a cena em que pais fracos são coadjuvantes, invertendo
o princípio do patriarcalismo como norma. Como dissemos anteriormente, o espaço deste trabalho
nos permite uma leitura introdutória, mas somente a análise minuciosa de cada um dos romances
poderá dar conta da complexa relação entre a história subjetiva dos personagens no âmbito da
casa e o ambiente histórico no qual o problema da nação vai se configurar. Por ora, como também
já dissemos anteriormente, insistiremos na análise de Cinzas do Norte. Expostas as idéias, de
forma bastante genérica, passemos a discutir as relações entre ficção e teoria, a partir do
pressuposto de que a obra de Hatoum pensa a nação a partir do local, e com isso provoca centros
reguladores, com os quais a crítica literária terá de lidar, em função de uma possível resposta às
questões demandadas pelo texto ficcional.
3 Zonas de Fronteira: a ficção provoca a teoria
Em primeiro lugar, afirmaremos que a obra de Milton Hatoum se estabelece por meio de uma
economia interna, a qual nos permite pensar a idéia da nação sob o âmbito da cultura. Essa
questão se concentra nas discussões travadas, contemporaneamente, entre cultura,
subjetividade, nacionalidade e história. Portanto, mais do que uma aproximação de cunho
estrutural com a obra, queremos estabelecer certas “políticas textuais” a partir da leitura dessa
ficção singular. Longe de querermos esgotar o conceito de cultura, cuja amplitude excede o
espaço de que dispomos para tal discussão, gostaríamos, no entanto, de traçar alguns pontos de
consonância entre dois pensadores, abrindo a discussão com Sloterdijk (2002):
Cultura, no sentido normativo, é mais do que nunca necessário lembrar, abrange a
quintessência das tentativas de provocar a massa em nós mesmos para decidir-se contra simesmo Ela é uma diferença para melhor que, como todas as diferenciações relevantes,
somente perdurará enquanto e sempre que for feita (p. 117).
Nesse sentido, o elogio da cultura será compreendido como exercícios de admiração e
provocação. Para entendermos o que se anuncia em Sloterdijik, no conceito de cultura como
“provocação à massa”, precisamos remeter o leitor às fontes desse conceito, ou seja, às teorias
de Elias Canetti (2007): “Sólo imerso en la masa puede el hombre redimirse de este temor al
contacto” (p. 8). Nesse texto de 1960, Canetti aborda de forma original os tipos de organização
coletiva abrigados sob o conceito de “massa”. Como sua reflexão é minuciosa e bastante
específica, interessa-nos, aqui, recuperar a relação estabelecida por Canetti entre indivíduo e
coletividade. Para o pensador, existem quatro propriedades principais na divisão da massa:
primeiramente, a massa sempre quer crescer; em segundo lugar, no interior da massa reina a
igualdade; terceiro, a massa ama a densidade; e, por fim, a massa necessita de uma direção.
Nessa conjunção de fatores, a história se manifesta como atividade da massa, na qual a questão
do indivíduo se insere de forma bastante singular. Ao pleitear a compreensão do fenômeno
coletivo como um fenômeno "da massa” e não “de massa”, Canetti nos lembra que, por meio
desse movimento, que é, ao mesmo tempo, de realização de uma meta e de uma viagem, a
vivência individual ainda se conserva, ainda que no processo tal vivência seja ainda “massa”.
Nesse trajeto, divisamos o indivíduo em seu “contexto de massa”, inserido em um conjunto de
fenômenos que, no âmbito da cultura, provoca aquilo que Sloterdijk chamou de “a massa em nós”.
Em um dos acenos de Sloterdijk, relacionado à origem da relação entre sujeito, coletividade e
coerção, o pensador vai nos mostrar a origem comum entre subjetividade e sujeição. Dirá ele que
servidão e sujeito possuem uma origem comum, algo que Marx já havia percebido ao conceituar
as duas formas de compreensão das massas nas sociedades de classe:
Tornadas desprezíveis ou desumanas, as maiorias nas tradicionais de classe, segundo
Marx, são divididas de duas formas: politicamente, em ordens de dominação em processo
de deformação, cujo resultado é o homem oprimido, servil; e socialmente, no sistema de
trabalho esvaziante, cujo resultado é a psique proletária (Sloterdijk, 2002, p. 63-64).
Sob esse prisma, Sloterdijk recupera o conceito tradicional de Marx, em que se vê o homem
cindido entre a luta contra a expropriação via dominação e o sistema da divisão do trabalho, que o
leva à alienação. A essas duas formas usuais de compreensão do pensamento de Marx, Sloterdijk
propõe uma terceira, a qual, em nossa época, terá que ser acrescida de uma reflexão sobre a
massa que inclua o indivíduo “provocado pela cultura”. Este terá que dar respostas ao que, em
uma sociedade midiática, se manifesta no “temor ao contato” de que fala Canetti. O caminho da
reflexão sobre a terceira forma de desprezo, segundo Sloterdijk, começa em Nietzsche e alcança
seu ápice em Martin Heidegger. Em Heidegger, a evocação ao estar-aí [Dasein], conforme
Sloterdijk (2002),
inclui todos os indivíduos, sem exceção, na desprezabilidade do resultado primeiramente
válido: estamos mesmo a tal ponto infiltrados pelos outros, de sua parte já minados, que sob
nenhuma circunstância estamos em condições de ir ao encontro da nossa “própria”
existência (p. 74).
É a partir da guinada conceitual de Heidegger que Sloterdijk unirá os tênues fios do pensamento
de Marx, passando por Nietzsche, e que visa a estabelecer uma “terceira forma de desprezo”,
necessária à análise da contemporaneidade:
A terceira forma de desprezo do homem, sua exposição no sistema de comunicações
vulgarizantes, prostituintes e flexibilizantes – esse câncer interativo da era da mídia – ainda
está fora do campo de visão dos revolucionários do século XIX; somente alguns artistas
eminentes, Baudelaire e Mallarmé sobretudo, reagiram com profética veemência à
crescente fixação do homem no rebaixamento por meio de comunicações triviais (p. 64).
É nesse ponto que queremos nos deter, ao surpreender a ficção de Hatoum no embate entre
sujeitos, buscando sentidos para suas existências em um mundo cujo contorno se reveste de
novas formas de desprezo do homem. Daí, a importância que Hatoum confere ao papel do sujeito
e da cultura na problematização dos mecanismos coletivos, subjetivos e culturais de sua produção
romanesca.
No estágio contemporâneo, da relação entre o destino da massa e a movimentação das forças do
capital, a cultura passa a um patamar de essencial relevância, visto que a atração do homem para
a massa – condição da constituição coletiva humana – será manipulada com vistas à banalização
da vida e dos ideais do espírito, dispersando, assim, os mecanismos de reflexão e radicalização,
bem exemplificados na recusa de Mallarmé e Baudelaire em relação ao rebaixamento do homem
às forças da trivialidade. Desse modo, Sloterdijk (2002) concluirá que, nas sociedades pósmodernas, as massas não mais se orientam “pelas suas próprias experiências corporais, mas se
observam apenas por meio de símbolos das comunicações de massa, de discursos, modas,
programas e celebridades” (p. 20). O que diferenciaria a massa clássico-moderna da massa pósmoderna midiatizada, ainda segundo Sloterdijk (2002, p. 24), seria o direcionamento “fascistóide”
dos afetos para as finalidades de uma sociedade de comunicação intensa, na qual os valores
mais verdadeiros do sujeito e da subjetividade serão homogeneizados a ponto de não se perceber
mais a massa no sujeito e o sujeito na massa.
Esse fenômeno se manifesta, nos regimes totalitários, em sua conclamação às massas numéricas
a apoiar o projeto de nação, o que, bem sabemos, ocorreu durante o período do regime militar, em
que a motivação nacionalista ocupou os corações e mentes do país, direcionando-os a um
determinado “projeto de nação”. Aquele projeto visava, ainda, à anulação da subjetividade em prol
do bem comum e da massa, impondo uma forma de idealismo que, em Cinzas do Norte, Hatoum
tão bem desconstrói. No embate ideológico entre as personagens Mundo e Lavo, a primeira
afirmará a necessidade de rejeitar os símbolos de uma herança patriarcal oligárquica e
repressora, recusa sempre associada à busca da verdade por meio da arte; e esta não se
manifesta apenas na defesa da subjetividade, mas também na refutação de uma pretendida
uniformização da massa proposta pelo regime de exceção; já a personagem Lavo, embora seu
caráter conciliatório a coloque em uma posição intermediária, nem de crítica, nem de adesão ao
sistema vigente, será pensada como aquela que, sendo fiel ao lugar, incorpora, por meio de seu
gregarismo um tanto covarde, a figura do conformismo. A cidade-sina será homóloga à sina da
nação, pensada de forma a homogeneizar as relações interpessoais sob a égide de um destino
comum. Desse modo, a rebelião de Mundo será sempre um modo de não se conformar com a
unidade imposta, bem como se manifestará na desconfiança em relação às dicotomias
apresentadas nessa sociedade repressora. A reflexão proposta em Cinzas do Norte é de tal forma
contundente, com respeito à contradição entre sujeito e nação, entre o particular e o local, que
nos leva a crer em uma poética de autor, cuja função seria fazer, pela arte e na arte da narrativa, a
história falar. Como bem disse Toni Negri (2000), citado por Raúl Sánchez (2000), “La función
constitutiva de las prácticas artísticas implica que su función central no consiste em contar
histórias, sino em crear dispositivos em los que la historia puede hacerse” (p. 13). Para Negri, o
contexto sensível permeia o contexto político, e essa é uma clara negação das formas de
interpretação artística que demitem o político e o pensamento combativo em nome de uma arte
apenas formalista, por um lado, ou meramente “engajada”, por outro:
Así, pues, sentidos, valores, sujetos, no pueden ser más que construídos. No preceden por
arriba sino que brotan por abajo, no anticipan sino que concluyen. Son produtos de la
estructura. Es um trabaljo coletivo el que produce la singularidad. Es la multitudo de los
elementos narrativos, de los hilos estructurales, de los reseaux significativos la que
construye el sujeto (Negri, 2000, p. 58).
O embate entre dois modos de interpretação do papel da arte, um, textualista, formalista, e outro,
contextual e coletivo, nutre o debate crítico contemporâneo, mas uma forma de apaziguar essas
tensões estaria presente no próprio fazer artístico, mais especificamente em seu produto, ou seja,
o objeto de arte.
Em Cinzas do Norte, as reflexões sobre os processos narrativos e sobre a possibilidade de
recuperação da verdade pela arte são compreendidas como um projeto inviável, nos mesmos
moldes daquilo que Machado de Assis, de forma pioneira, já nos dera, ao mostrar, em Dom
Casmurro, por meio do projeto frustrado de Bentinho, que a verdade do que aconteceu em seu
passado não seria jamais dada, já que nem ele era mais o que foi, nem aquilo que se passou
representava, no presente, o mesmo que representara no passado. Daí que narrar é um processo
“arruinado”; ou, parodiando Walter Benjamin, um processo em que a ruína do que foi se dará
somente por “lampejos” e a verdade será sempre uma sombra do acontecimento que se perdeu
para sempre em sua verdade totalizada. Entretanto, a condição de todo sujeito está calcada na
necessidade humana de narrar. Narrar quando já não se pode mais narrar; narrar quando já não é
preciso mais narrar; narrar, ainda que isso seja uma impossibilidade.
Toda a narrativa evoca um determinado contexto, que não se explica nem se esgota na narração;
não dá conta da intencionalidade daquele que narra nem explica a totalidade histórica na qual
aquela narrativa esteve envolvida e se nutriu. A condição de narrar não demite o contexto nem é
apenas pura vontade estrutural. Os discursos são construídos à sombra frondosa de uma história
irrecuperável no sentido da totalidade e, portanto, toda teleologia será arrastada para o fracasso.
Todo discurso traz em si a marca de sua estruturação; tudo se dá por meio da estrutura, mas a
estrutura ausente a toda essa idéia formalizante está a acenar para o pensamento: ela é a
possibilidade de criação de mundos, de reflexão acerca dos movimentos históricos e da massa,
do indivíduo e da coletividade, que faz do material literário um campo de possibilidades tão mais
fértil do que qualquer outra área do saber.
Por isso, os embates das correntes teóricas, em verdade, encenam a própria dinâmica do texto
literário em sua capacidade de esquivar-se à teoria, de recusá-la, implícita ou explicitamente,
quase como profissão de fé. Paradoxalmente, é a teoria, e somente ela, que possibilita ao texto o
diálogo, pois o retira do âmbito da intencionalidade pura e simples do autor e da sombra de todo
biografismo para apanhá-lo na relação com um leitor privilegiado, o leitor-crítico, ou nas malhas da
intentio lectoris, de que falava Umberto Eco (1986, 1993, 1994). Por isso, defendemos a idéia de
que Cinzas do Norte é um romance histórico com pretensões a ser uma metaficção historiográfica,
conforme a teoria de Linda Hutcheon (1991): “... a metaficção historiográfica procura
desmarginalizar o literário por meio do confronto com o histórico, e o faz tanto em termos
temáticos como formais” (p. 145). Talvez seja esse o ponto de equilíbrio no embate da teoria
literária contemporânea com o fenômeno ficcional: compreender que a ficção pós-moderna revela
o passado ao presente, inserindo no discurso ficcional o discurso da história, impedindo uma
reapropriação do passado que, ainda segundo Hutcheon, não pode mais ser conclusiva ou
teleológica.
Portanto, será talvez com as palavras de Mundo, em carta a Lavo, ao final da narrativa de Cinzas
do Norte, que poderemos, de forma adequada, ainda que inconclusiva, reiterar a força dos
mecanismos ficcionais frente aos reclames da teoria, força essa que, ao contrário dos
apocalípticos e apressados, conclamam a teorização e a reflexão e não a demitem:
Pensei em reescrever minha vida de trás para frente, de ponta-cabeça, mas não posso, mal
consigo rabiscar, as palavras são manchas no papel, e escrever é quase um milagre... Sinto
no corpo o suor da agonia. Amigo... e não primo. Esse teto baixo, paredes vazias, ausência
de cor e de céu... O sol e o céu do Rio e do Amazonas... nunca mais... Só essas paredes, e
esse cheiro insuportável... Agora escuto a minha própria voz zunindo, fraca, dentro de
mim... Não posso mais falar. O que restou de tudo isso? Um amigo, distante, no outro lado
do Brasil. Não posso mais falar nem escrever. Amigo... sou menos que uma voz... (Hatoum,
2005, p. 311).
4 Nação, Identidade e Fragmento: possíveis conclusões
Na impossibilidade do ponto final, cabem apenas algumas considerações acerca da obra
“provocadora” de Milton Hatoum. Em que consiste essa provocação? Milton Hatoum surge em
livro para a ficção brasileira em 1989, com o Relato de um certo Oriente. Sua originalidade e o
espaço conquistado entre nossos grandes ficcionistas contemporâneos não se deram por meio de
uma linguagem revolucionária, à Guimarães Rosa, nem por meio de uma temática originalíssima,
a qual abriria novos caminhos para a narrativa ou demandaria novas inserções canônicas ou veios
experimentais. Na contramão de tudo isso, sua prosa é construída por meio de uma escrita que
sublinha sobremaneira as formas tradicionais da escrita literária. Hatoum é quase um clássico.
Entretanto, o que faz dessa prosa a (e essa observação é personalíssima, de cunho estritamente
crítico-pessoal) mais vigorosa no panorama ficcional atual? A obra de Hatoum está o tempo todo a
“provocar a massa em nós”, se nos for novamente concedida essa apropriação da frase de
Sloterdijk, que por sua vez ecoa o pensamento de Elias Canetti, o qual reverbera ainda nas
reflexões críticas de Toni Negri e, mais recentemente em Giorgio Agamben, de quem nos
escusaremos falar neste trabalho, dadas as nossas limitações. Em nossa modesta opinião, sua
força reside em alguns fatores, dois dos quais repetimos incessantemente ao longo de nosso
trabalho, e cujo caráter introdutório queremos reafirmar.
O primeiro fator se deve ao fato de que Hatoum irá trabalhar as relações entre memória,
memorialismo, história e nação como questões imbricadas na poética narrativa de que pretende
dar conta. Hatoum não se concentra na ficcionalização pura e simples da história, mas na reflexão
acerca da história pelo ficcional, que é, ao mesmo tempo, metaficcionalização do relato histórico e
historicização da metaficcionalidade. Não temos nas mãos apenas uma prosa que visa à
ficcionalização da nação, mas, sim, uma reflexão sobre as possibilidades da narrativa como
elemento de compreensão histórica do fenômeno da nação. Isto é, as condicionantes ficcionais
que permeiam a construção de uma narrativa sobre a história e que buscam, ainda, a
configuração de uma idéia de nação são homólogas à própria condição do Brasil como país, cuja
identidade é essencialmente multicultural. Assim, ao idealismo de uma sugestão óbvia de
compreensão do Brasil como nação multicultural, a prosa de Hatoum propõe um para-além: a
multiculturalidade como forma de acesso às questões originárias sobre nosso caráter indefinido de
povo, país, etnia, raça etc., porém sem essencializar tais questões sob qualquer fórmula de
“constituição da identidade”.
Chegamos ao segundo ponto de inflexão, que nos é caro para que compreendamos o alcance
das “provocações da massa em nós” levadas a cabo pela prosa de Hatoum.
A pergunta obsessiva que da obra do amazonense retiramos e que nos move é a sempre
persistente idéia de identidade. Lemos Hatoum como o ficcionista da identidade, mas um tipo de
identidade perdida nas brumas da desapropriação, seja ela histórica, cultural, antropológica,
filosófica. Identidade é símbolo de uma busca impossível, e se dá por meio da narração. A
fabulação nos romances de Hatoum, especialmente em Cinzas do Norte, transcorre em níveis de
atração e repulsa pela idéia de identidade plena. A noção de sujeito em Hatoum é homóloga à
noção de sujeição ou servidão, como nos apontou Sloterdijk, e discute, por meio da questão da
identidade, isto é, ou mais precisamente, por meio da idéia de uma identidade essencialmente
brasileira, a impossibilidade da essencialização do ser; de se defender uma ontologia que reduza
a natureza do ser brasileiro, ou do ser da nação a categorias dicotômicas, as quais não traduzem
a complexidade daquilo que nos forma como sujeitos da massa.
A questão da identidade forma uma espécie de zona de fronteira, que nos leva, em Milton
Hatoum, a pensar a idéia de nação e nacionalidade como algo imaginado nas frestas, em entrelugares. O poder, ou os poderes da ficção, nesse caso específico, caso quase único na prosa
brasileira atual, estão a nos reapresentar o mundo, não mais pelos caminhos apontados a partir
de 1922, mas no embate com as formas complexas de organização identitária, sejam elas locais
ou universais, nacionais ou planetárias, individuais ou da massa.
Perceber o alcance deste movimento da diferença e na diferença pode ser uma das chaves para
se entender o universo de Milton Hatoum, mas também pode apontar para os diversos modos de
acesso à compreensão do que somos, da matéria que nos forma, a qual, se já não pode ser
essencializada em termos de verdade, poderá, ao menos, dar conta dos processos vitais que nos
impelem ao futuro, à idéia de sujeito reflexivo, residindo na base de toda idéia de subjetividade, do
conceito de humano e, originariamente, na idéia de Ser.
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Dados do autor:
*Paulo César Silva de Oliveira
Doutor em Ciência da Literatura/Poética – UFRJ – e Professor Titular de Literatura Brasileira e
Teoria Literária – Universidade Iguaçu/UNIG
Endereço para contato:
Rua Costa Bastos 77, apto. 102 – Santa Teresa,
20.240-020 Rio de Janeiro/RJ – Brasil
Endereço eletrônico: [email protected]
Data de recebimento: 7 jun. 2008
Data de aprovação: 10 out. 2008
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zona de fronteira: ressonâncias críticas na obra de milton hatoum