ZONA DE FRONTEIRA: RESSONÂNCIAS CRÍTICAS NA OBRA DE MILTON HATOUM BORDERLINE: CRITICAL RESSONANCES IN MILTON HATOUM’S WORKS Paulo César Silva de Oliveira* Resumo Este artigo parte da análise introdutória da obra do escritor amazonense Milton Hatoum e, a partir dela, procura traçar um perfil das discussões críticas em torno das relações entre mundo, texto e crítica. O artigo visa, ainda, a investigar de que modo o saber literário se insere na discussão crítica, estabelecendo entre-lugares, brechas, nas quais a amplificação interpretativa não só é necessária, mas indissociável de toda condição de leitura na prosa contemporânea. Palavras-chave: Teoria Literária, História, Literatura Brasileira, Políticas Textuais. Abstract An introductory analysis of the Amazonian writer Milton Hatoum is the starting point of this article, and it aims at establishing a broad scope to the critical discussions on the connections among world, text and criticism. The article will also study how literary issues are set in the critical debate, creating in-between places, gaps, in which a broad interpretative view is not only necessary but inseparable from all reading conditions concerning contemporary prose. Key words: Literary Criticism, History, Brazilian Literature, Textual Policies. 1 Introdução Para os estudos contemporâneos, as relações entre o saber literário e os outros saberes são particularmente complexas. As fronteiras e os limites entre o que é o saber contido na literatura, em suas relações com as teorias disponíveis e aquelas a serem pensadas, não deixam de ser circunscritos pela velha relação entre as correntes textualistas e as influências contextuais percebidas no âmbito da leitura de uma obra literária. No caso da produção ficcional de Milton Hatoum, essas relações vão requerer do crítico certos modos de entrada que permitam estabelecer nas obras aberturas interpretativas, o que, em nosso artigo, de antemão, definiremos como “primeira aproximação”, dados os limites inerentes a esta publicação. Por conta ainda do espaço, optamos por não resumir os três romances escritos até o momento por Hatoum, entendendo que ele é autor bem divulgado e lido, tanto pelo público, em geral, quanto no âmbito da academia, o que os mais de 100 mil livros vendidos pelo amazonense, até o momento, comprovam (Conde, 2008, p. 1). Relato de um certo Oriente, Dois irmãos e Cinzas do Norte compõem, até o presente, uma trilogia ficcional cujo epicentro dramático se desenvolve na mítica Manaus imaginada por Hatoum. Permitimo-nos afirmar que, dentre os três romances, a narrativa de Cinzas do Norte é a mais econômica, no sentido de que o jogo do narrador, conforme estruturado no Relato de um certo Oriente, e a elaboração do intricado labirinto de acontecimentos e emoções de Dois irmãos cedem, nas Cinzas do Norte, a uma prosa controlada por dois narradores: Lavo, narrador principal, que ocupa quase toda a cena do romance; e outro, Ranulfo, cuja narrativa epistolar evoca a técnica semelhante à do Relato, sem o emaranhado deste. As cartas de Mundo o tornam um terceiro narrador, mas sua marca é menos constante, embora seu caráter de personagem central lhe confira o epicentro da narrativa. Centralizaremos nossa análise, embora não exclusivamente, neste romance, no qual estabeleceremos certos modos de entrada para nossa leitura. Em Cinzas do Norte, encontraremos um Hatoum que retoma e amplifica suas obsessões, entretanto mais concentrado na reflexão histórico-política, que ganha cores mais fortes do que nos romances anteriores. De passagem, Cinzas do Norte evoca discussões agudas sobre autoria, memória, repetição e originalidade, além de trazer à baila (e agora já estamos no domínio mais específico da teorização) discussões acerca das relações entre as correntes textualistas e as relações contextuais evocadas pelas obras literárias, tema que ocupou e ainda ocupa lugar de relevância nas investigações de teóricos do porte de Edward Said e que reverbera nas reflexões fundamentais de Elias Canetti, Zygmunt Bauman, Toni Negri e Peter Sloterdijk, para ficarmos apenas nos nomes que traremos à discussão em nosso trabalho. Defenderemos, em duplo movimento, os direitos do texto “a dizer tudo”, conforme a distinção feita por Jacques Derrida (1995, p. 47), em sua definição de literatura, quando observa que as estratégias literárias criam um ambiente propício à demolição do pensamento dicotômico, pois, em um lance de jogo, o texto reafirma e reconduz a história e o contexto ao Lavo dos direitos textuais. Nesse lance, nesse jogo, a obra de Hatoum se impõe como leitura fundamental. A ela nos lançaremos. 2 Textualismo, Contextualismo: fronteiras minadas No Relato de um certo Oriente (doravante citado apenas como Relato), já quase ao final da narrativa, a voz que inaugura a narrativa é representada pela neta de Emilie. Essa voz também encerra o Relato. Suas palavras nos interessam sobremaneira para início de debate. A citação é longa, porém essencial: O teu presságio me deu trabalho. Gravei várias fitas, enchi de anotações uma dezena de cadernos, mas fui incapaz de ordenar coisa com coisa. Confesso que as tentativas foram inúmeras e todas exaustivas, mas ao final de cada passagem, de cada depoimento, tudo se embaralhava em desconexas constelações de episódios, rumores de todos os cantos, fatos medíocres, datas e dados em abundância. Quando conseguia organizar os episódios em desordem ou encadear vozes, então surgia uma lacuna onde habitavam o esquecimento e a hesitação: um espaço morto que minava a seqüência de idéias. E isso me alijava do ofício necessário e talvez imperativo que é o de ordenar o relato, para não deixá-lo suspenso, à deriva, modulado pelo acaso. Pensava (ao olhar para a imensidão do rio que traga a floresta) num navegante perdido em seus meandros, remando em busca de um afluente que o conduzisse ao leito maior, ou ao vislumbre de algum porto. Senti-me como esse remador, sempre em movimento, mas perdido no movimento, aguilhoado pela tenacidade de querer escapar: movimento que conduz a outras águas ainda mais confusas, correndo por rumos incertos (Hatoum, 1989, p. 165). Neste parágrafo, poderíamos sintetizar a poética de Hatoum, mas essa reflexão vai além de uma poética de autor; ela se presta mesmo ao que a literatura pós-moderna possui de mais vital e complexo: a organização do relato, na qual entre-lugares vão surgindo e fugindo ao controle do(s) narrador(es), apontando, de passagem, para o fato de que a verdade do que se narra está condicionada, porém não aprisionada, à possibilidade da verdade histórica. Uma e outra verdade são condicionadas à idéia de ruína; ruína essa que desloca o papel da história como modelo de compreensão da verdade do mundo, arrastando-a, desse modo, para o âmbito da representação poética dos fatos e evidências. Daí, a impossibilidade de ordenar os fatos, apontada pela narradora. Vem deste entre-lugar a imagem do navegante a buscar um “leito maior”, mas “perdido no movimento” que o conduz a águas e rumos cada vez mais incertos. Nasce desse conflito, dessa errância, o paradoxo da narrativa pós-moderna: é preciso narrar, embora a narrativa imponha a impossibilidade de narrar como pré-condição para o relato. É preciso compreender e questionar a história; entretanto, o que chega ao leitor são fragmentos de memória, pequenos discursos que, agrupados, não formam um todo – um “leito maior” – compreensível, em que possamos vislumbrar a verdade por inteiro. A narrativa de Hatoum pode ser entendida como uma alegoria sobre os impasses da narração, sobre os caminhos e descaminhos, quer seja da história de uma nação, ou dos indivíduos em sua constante busca pela verdade acerca de um passado nebuloso e desordenado. O trecho citado apresenta ainda para a reflexão teórica contemporânea um problema de difícil solução, que compromete tanto o empirismo quanto o racionalismo como métodos para a investigação textual. Em uma definição bastante simplista, o empirismo é comumente entendido como o conhecimento que deriva da experiência, enquanto o racionalismo pressupõe a existência de categorias preexistentes que se conjugam na aquisição do conhecimento. Para as teorias críticas mais recentes, em especial aquelas oriundas da revolução pós-estruturalista, via Derrida e Foucault, especialmente, a crença em uma origem, em uma verdade dada de antemão pela presença, fica seriamente abalada quando exposta à escritura, mais especificamente à escritura literária: questiona-se o papel centralizador do autor, advogando mesmo, como fazem Derrida e Foucault, sua morte; nega-se o leitor como uma presença entificável e identificável; aponta-se, enfim, a paternidade da escrita como impossibilidade. A desconstrução opera em uma linha tênue, que não admite a interpretação empírica ao mesmo tempo em que descarta o racionalismo por entender que a história não pode ser compreendida sob um crivo de origem, nem como presença ou algo que se desenvolva de forma linear. A impossibilidade de organização do relato irá, metaforicamente, remeter ao próprio dilema das interpretações críticas, fazendo destas uma espécie de alegoria do impasse, expressa na idéia de um “remador” ao sabor dos eventos, conduzindo o narrador-organizador do relato a “rumos incertos”. As relações entre o mundo subjetivo – que emerge do relato possível – e o mundo objetivo – que requer do narrador uma desejável aproximação empírica e, por vezes, cartesiana com as noções de real, realidade e história – vão se estabelecendo na prosa ficcional de Hatoum como metáforas de toda a condição narrativa. Em Cinzas do Norte, essas relações se aprofundam e nos motivam a defender a tese de que, com esse romance, Hatoum assume uma posição de crítica históricopolítica, mais contundente e mais incisiva do que nas narrativas anteriores, visando a uma discussão acerca da construção da idéia de nação no embate com os ideais de gerações ceifadas em seus sonhos e utopias. Hatoum nos presenteia com uma visão ácida, porém necessária, acerca do mundo contemporâneo, ameaçado pelo obscurantismo da reflexão acrítica e pelo desprezo à história, pelo contexto, que por vezes conduzem o pensamento a uma zona de irreflexão perigosa e, por que não dizer, danosa, ao questionamento reflexivo e combativo. Essa vontade de representação do local, em Cinzas do Norte, é metaforizada em Lavo, um dos narradores do percurso histórico-ficcional, cuja visão da realidade se opõe à de Mundo, personagem central do romance, para quem o desejo de libertação pela arte o leva a desejar a viagem, o incerto, o mundo – não por acaso substantivo homólogo à aférese de nome, Raimundo: Mundo sabia que dificilmente eu sairia de Manaus; nas cartas que lhe enviei, insisti nesse assunto, dizendo que minha cidade era minha sina, que eu tinha medo de ir embora, e mais forte que o medo era o desejo de ficar, ilhado, enredado na rotina de um trabalho sem ambição. Eu declamava, quase brincando, os versos decorados no Pedro II, que uma noite ele recitou com pompa, afogado na bebida e na esbórnia da Castanhola: “Ingrato o filho que não ama os berços do seu primeiro sol”. Ria e me provocava: “Acho que sou esse filho, mesmo sem querer ser...” (Hatoum, 2005a, p. 269). Em sua definição de cultura, Edward Said (1983) nos dirá que é nela que podemos buscar a variedade de sentidos e idéias contidos nas frases pertencer à ou pertencimento a um lugar (belonging to or in a place) e estar em casa em um lugar (at home in a place). Essa distinção encena, em Cinzas do Norte, as diferenças e semelhanças entre Lavo e Mundo. O primeiro estabelece uma relação de pertencimento ao lugar, na qual se conjugam destino gregário (o gregarismo é um tema fundamental em Hatoum, que povoa suas tramas com personagens inapelavelmente “atados” ao lugar) e inadequação ao lugar, outro tema recorrente. Por isso, Lavo dialogará, sobremaneira, ainda que de forma invertida, devido a seu temperamento, com a personagem Omar, de Dois irmãos (Hatoum, 2000). Ranulfo, de Cinzas do Norte, também é uma aproximação pertinente com Omar, dado o seu misto de rebeldia e dependência para com a figura feminina. Assim como Omar, o favorito de Zana, a matriarca de Dois irmãos, Ranulfo desenvolve uma relação complexa de atração e repulsão, amor e ódio por sua irmã, Ramira. O sentimento de pertencimento aponta, na obra de Hatoum, possibilidades de compreensão do mundo essencialmente contradicotômicas. Conforme a pista fornecida pelo próprio Hatoum, “Manaus parece um ímã, mas ao mesmo tempo uma catapulta. Me atrai violentamente e depois me joga para fora” (Hatoum, 2008b, p. 1). Outra indicação nos é fornecida em sua recém-lançada novela, a partir da epígrafe, retirada de um poema do grego Konstantinos Kaváfis (apud Hatoum, 2008a, p. 7): Não encontrarás novas terras, nem outros mares. A cidade irá contigo. Andarás sem rumo Pelas mesmas ruas. Vais envelhecer no mesmo bairro, Teu cabelo vai embranquecer nas mesmas casas. Sempre chegarás a esta cidade. Não esperes ir a outro lugar, Não há barco nem caminho para ti. Como dissipaste tua vida aqui Neste pequeno lugar, arruinaste-a na Terra inteira. A epígrafe pode ser um resumo do drama de Mundo em Cinzas do Norte. Sua relação tensa com o pai e sua relação conturbada com o lugar, a Manaus em franca decadência, em sua pretensão de novo Eldorado, e a época sombria – o período do golpe militar, a partir de 1964 – serão moduladas junto com sua paixão pela arte, expressa na pintura, o que leva Mundo a um estado permanente de tensão entre pertencimento e estar em casa em um lugar. Após a morte do pai, e a conseqüente venda dos bens da família, culminando na ida de Mundo à Europa, para seguir o sonho da pintura, Lavo permanece sob os efeitos do que para ele é a maldição do lugar, do pertencimento, enquanto Mundo se vê sob o crivo daquilo que Kaváfis expressa no poema: “A cidade irá contigo”. Mundo expressa e representa o que o próprio Hatoum entende como catapulta e ímã. Chamaremos a isso efeito de catapulta e efeito de ímã. Nas regras de atração e recusa que compõem os dois efeitos, as brechas que se instalam são como metonímias do universo poético de Hatoum. E norteiam suas obras, obsessivamente. Exemplifiquemos. Um panorama bastante amplo das personagens de Hatoum pode nos esclarecer muito a respeito destes efeitos de catapulta e ímã. Emilie (Relato), Zana (Dois irmãos) e Alice (Cinzas do Norte) são matriarcas excessivas, passionais; Soraya Ângela (Relato) e Zana (Dois irmãos) são irmãs nebulosamente ligadas aos irmãos, com as implicações de incesto e mistério acerca de seu passado. As relações entre irmãos (conflituosas, como as de Omar e Yakub, em Dois irmãos; misteriosa e com insinuações de incesto, como as de Soraya Ângela e os irmãos cognominados “os inomináveis”) ocorrem em menor escala, porém não são menos importantes em Cinzas do Norte. Elas constroem a cena familiar, cuja tensão entre subjetividade e alteridade provoca vários centros reguladores. Em comum, sofrem todas elas desta “maldição do lugar”. Em princípio, afirmaremos que os conflitos no âmbito da casa ocupam a cena de todas as três narrativas. A estrutura dos três romances possui elementos comuns. Em primeiro lugar, os personagens centrais das tramas já estão mortos, o que nos permite dizer que todos os relatos são, de fato, uma recuperação do passado por intermédio da memória. Em segundo lugar, os narradores de Hatoum são sempre personagens secundários, que participaram ou souberam dos eventos, mantendo certa distância em relação aos fatos narrados. A opção por narradores homodiegéticos tem uma função precípua: manter a veracidade do relato no horizonte do leitor, que é chamado a participar dos eventos, ora como uma espécie de ouvinte privilegiado, no caso do Relato, pois pode compor e comparar as várias narrativas em um todo mais harmonioso do que os narradores entre si são capazes de compor; ora como um ouvinte criterioso, recolhendo as razões que movem os conflitos entre Omar e Yakub, em Dois irmãos; ou, ainda, atuar como narratário privilegiado de Lavo, em Cinzas do Norte. Lembremos que Mundo é quase sempre o narratário intradiegético, mas somente nos momentos em que a narrativa se torna epistolar, visto que é o destinatário das cartas de Lavo. A última carta, de Mundo a Lavo, já no final da narrativa, será incorporada à série de relatos anteriores, mostrando que a verdade está sempre sujeita a diversas intromissões que desarticulam a história como fato dado. O leitor, portanto, será uma espécie de terceiro elemento estrutural dos romances, e seu papel é de fundamental importância para o estabelecimento de uma memória articulada à questão do tempo, sendo este uma quarta questão, sobre a qual dedicaremos algumas reflexões mais apuradas. O tempo histórico que recobre cada uma das narrativas de Hatoum vai da Manaus do início do século XVIII, no mais recente Órfãos do Eldorado, até o final da década de 70, em Cinzas do Norte. Menos no Relato e mais contundentemente em Dois irmãos e Cinzas do Norte, os acontecimentos históricos são como que um pano de fundo aparentemente secundário, mas ao final vão se revelando, de forma quase alegórica, retratos de uma paisagem nacional cujo tema da nação está no palco central das discussões. Se bem observarmos os três romances e a novela recentemente lançada, perceberemos que o percurso histórico das obras de Hatoum recobre momentos de reflexão sobre a idéia de nação por meio do eterno conflito entre indivíduo e sociedade, corroborando a velha problemática de Jean-Jacques Rousseau, para quem há uma relação problemática indissolúvel entre subjetividade e coletividade. O romance familiar, no qual a casa representa o espaço privilegiado das tensões, conjuga-se ao romance histórico, em que a decadência política do país acompanha e pontua a decadência da família e vice-versa. Nos romances, há um texto subterrâneo, um rio caudaloso, correndo por terra, carregando em seu curso paixões proibidas, amores condenados, expurgados, tortura, animalidade, desprezo, maldade. Nesse córrego, por vezes silencioso, eclodem paixões incestuosas, mães devoradoras dominam a cena em que pais fracos são coadjuvantes, invertendo o princípio do patriarcalismo como norma. Como dissemos anteriormente, o espaço deste trabalho nos permite uma leitura introdutória, mas somente a análise minuciosa de cada um dos romances poderá dar conta da complexa relação entre a história subjetiva dos personagens no âmbito da casa e o ambiente histórico no qual o problema da nação vai se configurar. Por ora, como também já dissemos anteriormente, insistiremos na análise de Cinzas do Norte. Expostas as idéias, de forma bastante genérica, passemos a discutir as relações entre ficção e teoria, a partir do pressuposto de que a obra de Hatoum pensa a nação a partir do local, e com isso provoca centros reguladores, com os quais a crítica literária terá de lidar, em função de uma possível resposta às questões demandadas pelo texto ficcional. 3 Zonas de Fronteira: a ficção provoca a teoria Em primeiro lugar, afirmaremos que a obra de Milton Hatoum se estabelece por meio de uma economia interna, a qual nos permite pensar a idéia da nação sob o âmbito da cultura. Essa questão se concentra nas discussões travadas, contemporaneamente, entre cultura, subjetividade, nacionalidade e história. Portanto, mais do que uma aproximação de cunho estrutural com a obra, queremos estabelecer certas “políticas textuais” a partir da leitura dessa ficção singular. Longe de querermos esgotar o conceito de cultura, cuja amplitude excede o espaço de que dispomos para tal discussão, gostaríamos, no entanto, de traçar alguns pontos de consonância entre dois pensadores, abrindo a discussão com Sloterdijk (2002): Cultura, no sentido normativo, é mais do que nunca necessário lembrar, abrange a quintessência das tentativas de provocar a massa em nós mesmos para decidir-se contra simesmo Ela é uma diferença para melhor que, como todas as diferenciações relevantes, somente perdurará enquanto e sempre que for feita (p. 117). Nesse sentido, o elogio da cultura será compreendido como exercícios de admiração e provocação. Para entendermos o que se anuncia em Sloterdijik, no conceito de cultura como “provocação à massa”, precisamos remeter o leitor às fontes desse conceito, ou seja, às teorias de Elias Canetti (2007): “Sólo imerso en la masa puede el hombre redimirse de este temor al contacto” (p. 8). Nesse texto de 1960, Canetti aborda de forma original os tipos de organização coletiva abrigados sob o conceito de “massa”. Como sua reflexão é minuciosa e bastante específica, interessa-nos, aqui, recuperar a relação estabelecida por Canetti entre indivíduo e coletividade. Para o pensador, existem quatro propriedades principais na divisão da massa: primeiramente, a massa sempre quer crescer; em segundo lugar, no interior da massa reina a igualdade; terceiro, a massa ama a densidade; e, por fim, a massa necessita de uma direção. Nessa conjunção de fatores, a história se manifesta como atividade da massa, na qual a questão do indivíduo se insere de forma bastante singular. Ao pleitear a compreensão do fenômeno coletivo como um fenômeno "da massa” e não “de massa”, Canetti nos lembra que, por meio desse movimento, que é, ao mesmo tempo, de realização de uma meta e de uma viagem, a vivência individual ainda se conserva, ainda que no processo tal vivência seja ainda “massa”. Nesse trajeto, divisamos o indivíduo em seu “contexto de massa”, inserido em um conjunto de fenômenos que, no âmbito da cultura, provoca aquilo que Sloterdijk chamou de “a massa em nós”. Em um dos acenos de Sloterdijk, relacionado à origem da relação entre sujeito, coletividade e coerção, o pensador vai nos mostrar a origem comum entre subjetividade e sujeição. Dirá ele que servidão e sujeito possuem uma origem comum, algo que Marx já havia percebido ao conceituar as duas formas de compreensão das massas nas sociedades de classe: Tornadas desprezíveis ou desumanas, as maiorias nas tradicionais de classe, segundo Marx, são divididas de duas formas: politicamente, em ordens de dominação em processo de deformação, cujo resultado é o homem oprimido, servil; e socialmente, no sistema de trabalho esvaziante, cujo resultado é a psique proletária (Sloterdijk, 2002, p. 63-64). Sob esse prisma, Sloterdijk recupera o conceito tradicional de Marx, em que se vê o homem cindido entre a luta contra a expropriação via dominação e o sistema da divisão do trabalho, que o leva à alienação. A essas duas formas usuais de compreensão do pensamento de Marx, Sloterdijk propõe uma terceira, a qual, em nossa época, terá que ser acrescida de uma reflexão sobre a massa que inclua o indivíduo “provocado pela cultura”. Este terá que dar respostas ao que, em uma sociedade midiática, se manifesta no “temor ao contato” de que fala Canetti. O caminho da reflexão sobre a terceira forma de desprezo, segundo Sloterdijk, começa em Nietzsche e alcança seu ápice em Martin Heidegger. Em Heidegger, a evocação ao estar-aí [Dasein], conforme Sloterdijk (2002), inclui todos os indivíduos, sem exceção, na desprezabilidade do resultado primeiramente válido: estamos mesmo a tal ponto infiltrados pelos outros, de sua parte já minados, que sob nenhuma circunstância estamos em condições de ir ao encontro da nossa “própria” existência (p. 74). É a partir da guinada conceitual de Heidegger que Sloterdijk unirá os tênues fios do pensamento de Marx, passando por Nietzsche, e que visa a estabelecer uma “terceira forma de desprezo”, necessária à análise da contemporaneidade: A terceira forma de desprezo do homem, sua exposição no sistema de comunicações vulgarizantes, prostituintes e flexibilizantes – esse câncer interativo da era da mídia – ainda está fora do campo de visão dos revolucionários do século XIX; somente alguns artistas eminentes, Baudelaire e Mallarmé sobretudo, reagiram com profética veemência à crescente fixação do homem no rebaixamento por meio de comunicações triviais (p. 64). É nesse ponto que queremos nos deter, ao surpreender a ficção de Hatoum no embate entre sujeitos, buscando sentidos para suas existências em um mundo cujo contorno se reveste de novas formas de desprezo do homem. Daí, a importância que Hatoum confere ao papel do sujeito e da cultura na problematização dos mecanismos coletivos, subjetivos e culturais de sua produção romanesca. No estágio contemporâneo, da relação entre o destino da massa e a movimentação das forças do capital, a cultura passa a um patamar de essencial relevância, visto que a atração do homem para a massa – condição da constituição coletiva humana – será manipulada com vistas à banalização da vida e dos ideais do espírito, dispersando, assim, os mecanismos de reflexão e radicalização, bem exemplificados na recusa de Mallarmé e Baudelaire em relação ao rebaixamento do homem às forças da trivialidade. Desse modo, Sloterdijk (2002) concluirá que, nas sociedades pósmodernas, as massas não mais se orientam “pelas suas próprias experiências corporais, mas se observam apenas por meio de símbolos das comunicações de massa, de discursos, modas, programas e celebridades” (p. 20). O que diferenciaria a massa clássico-moderna da massa pósmoderna midiatizada, ainda segundo Sloterdijk (2002, p. 24), seria o direcionamento “fascistóide” dos afetos para as finalidades de uma sociedade de comunicação intensa, na qual os valores mais verdadeiros do sujeito e da subjetividade serão homogeneizados a ponto de não se perceber mais a massa no sujeito e o sujeito na massa. Esse fenômeno se manifesta, nos regimes totalitários, em sua conclamação às massas numéricas a apoiar o projeto de nação, o que, bem sabemos, ocorreu durante o período do regime militar, em que a motivação nacionalista ocupou os corações e mentes do país, direcionando-os a um determinado “projeto de nação”. Aquele projeto visava, ainda, à anulação da subjetividade em prol do bem comum e da massa, impondo uma forma de idealismo que, em Cinzas do Norte, Hatoum tão bem desconstrói. No embate ideológico entre as personagens Mundo e Lavo, a primeira afirmará a necessidade de rejeitar os símbolos de uma herança patriarcal oligárquica e repressora, recusa sempre associada à busca da verdade por meio da arte; e esta não se manifesta apenas na defesa da subjetividade, mas também na refutação de uma pretendida uniformização da massa proposta pelo regime de exceção; já a personagem Lavo, embora seu caráter conciliatório a coloque em uma posição intermediária, nem de crítica, nem de adesão ao sistema vigente, será pensada como aquela que, sendo fiel ao lugar, incorpora, por meio de seu gregarismo um tanto covarde, a figura do conformismo. A cidade-sina será homóloga à sina da nação, pensada de forma a homogeneizar as relações interpessoais sob a égide de um destino comum. Desse modo, a rebelião de Mundo será sempre um modo de não se conformar com a unidade imposta, bem como se manifestará na desconfiança em relação às dicotomias apresentadas nessa sociedade repressora. A reflexão proposta em Cinzas do Norte é de tal forma contundente, com respeito à contradição entre sujeito e nação, entre o particular e o local, que nos leva a crer em uma poética de autor, cuja função seria fazer, pela arte e na arte da narrativa, a história falar. Como bem disse Toni Negri (2000), citado por Raúl Sánchez (2000), “La función constitutiva de las prácticas artísticas implica que su función central no consiste em contar histórias, sino em crear dispositivos em los que la historia puede hacerse” (p. 13). Para Negri, o contexto sensível permeia o contexto político, e essa é uma clara negação das formas de interpretação artística que demitem o político e o pensamento combativo em nome de uma arte apenas formalista, por um lado, ou meramente “engajada”, por outro: Así, pues, sentidos, valores, sujetos, no pueden ser más que construídos. No preceden por arriba sino que brotan por abajo, no anticipan sino que concluyen. Son produtos de la estructura. Es um trabaljo coletivo el que produce la singularidad. Es la multitudo de los elementos narrativos, de los hilos estructurales, de los reseaux significativos la que construye el sujeto (Negri, 2000, p. 58). O embate entre dois modos de interpretação do papel da arte, um, textualista, formalista, e outro, contextual e coletivo, nutre o debate crítico contemporâneo, mas uma forma de apaziguar essas tensões estaria presente no próprio fazer artístico, mais especificamente em seu produto, ou seja, o objeto de arte. Em Cinzas do Norte, as reflexões sobre os processos narrativos e sobre a possibilidade de recuperação da verdade pela arte são compreendidas como um projeto inviável, nos mesmos moldes daquilo que Machado de Assis, de forma pioneira, já nos dera, ao mostrar, em Dom Casmurro, por meio do projeto frustrado de Bentinho, que a verdade do que aconteceu em seu passado não seria jamais dada, já que nem ele era mais o que foi, nem aquilo que se passou representava, no presente, o mesmo que representara no passado. Daí que narrar é um processo “arruinado”; ou, parodiando Walter Benjamin, um processo em que a ruína do que foi se dará somente por “lampejos” e a verdade será sempre uma sombra do acontecimento que se perdeu para sempre em sua verdade totalizada. Entretanto, a condição de todo sujeito está calcada na necessidade humana de narrar. Narrar quando já não se pode mais narrar; narrar quando já não é preciso mais narrar; narrar, ainda que isso seja uma impossibilidade. Toda a narrativa evoca um determinado contexto, que não se explica nem se esgota na narração; não dá conta da intencionalidade daquele que narra nem explica a totalidade histórica na qual aquela narrativa esteve envolvida e se nutriu. A condição de narrar não demite o contexto nem é apenas pura vontade estrutural. Os discursos são construídos à sombra frondosa de uma história irrecuperável no sentido da totalidade e, portanto, toda teleologia será arrastada para o fracasso. Todo discurso traz em si a marca de sua estruturação; tudo se dá por meio da estrutura, mas a estrutura ausente a toda essa idéia formalizante está a acenar para o pensamento: ela é a possibilidade de criação de mundos, de reflexão acerca dos movimentos históricos e da massa, do indivíduo e da coletividade, que faz do material literário um campo de possibilidades tão mais fértil do que qualquer outra área do saber. Por isso, os embates das correntes teóricas, em verdade, encenam a própria dinâmica do texto literário em sua capacidade de esquivar-se à teoria, de recusá-la, implícita ou explicitamente, quase como profissão de fé. Paradoxalmente, é a teoria, e somente ela, que possibilita ao texto o diálogo, pois o retira do âmbito da intencionalidade pura e simples do autor e da sombra de todo biografismo para apanhá-lo na relação com um leitor privilegiado, o leitor-crítico, ou nas malhas da intentio lectoris, de que falava Umberto Eco (1986, 1993, 1994). Por isso, defendemos a idéia de que Cinzas do Norte é um romance histórico com pretensões a ser uma metaficção historiográfica, conforme a teoria de Linda Hutcheon (1991): “... a metaficção historiográfica procura desmarginalizar o literário por meio do confronto com o histórico, e o faz tanto em termos temáticos como formais” (p. 145). Talvez seja esse o ponto de equilíbrio no embate da teoria literária contemporânea com o fenômeno ficcional: compreender que a ficção pós-moderna revela o passado ao presente, inserindo no discurso ficcional o discurso da história, impedindo uma reapropriação do passado que, ainda segundo Hutcheon, não pode mais ser conclusiva ou teleológica. Portanto, será talvez com as palavras de Mundo, em carta a Lavo, ao final da narrativa de Cinzas do Norte, que poderemos, de forma adequada, ainda que inconclusiva, reiterar a força dos mecanismos ficcionais frente aos reclames da teoria, força essa que, ao contrário dos apocalípticos e apressados, conclamam a teorização e a reflexão e não a demitem: Pensei em reescrever minha vida de trás para frente, de ponta-cabeça, mas não posso, mal consigo rabiscar, as palavras são manchas no papel, e escrever é quase um milagre... Sinto no corpo o suor da agonia. Amigo... e não primo. Esse teto baixo, paredes vazias, ausência de cor e de céu... O sol e o céu do Rio e do Amazonas... nunca mais... Só essas paredes, e esse cheiro insuportável... Agora escuto a minha própria voz zunindo, fraca, dentro de mim... Não posso mais falar. O que restou de tudo isso? Um amigo, distante, no outro lado do Brasil. Não posso mais falar nem escrever. Amigo... sou menos que uma voz... (Hatoum, 2005, p. 311). 4 Nação, Identidade e Fragmento: possíveis conclusões Na impossibilidade do ponto final, cabem apenas algumas considerações acerca da obra “provocadora” de Milton Hatoum. Em que consiste essa provocação? Milton Hatoum surge em livro para a ficção brasileira em 1989, com o Relato de um certo Oriente. Sua originalidade e o espaço conquistado entre nossos grandes ficcionistas contemporâneos não se deram por meio de uma linguagem revolucionária, à Guimarães Rosa, nem por meio de uma temática originalíssima, a qual abriria novos caminhos para a narrativa ou demandaria novas inserções canônicas ou veios experimentais. Na contramão de tudo isso, sua prosa é construída por meio de uma escrita que sublinha sobremaneira as formas tradicionais da escrita literária. Hatoum é quase um clássico. Entretanto, o que faz dessa prosa a (e essa observação é personalíssima, de cunho estritamente crítico-pessoal) mais vigorosa no panorama ficcional atual? A obra de Hatoum está o tempo todo a “provocar a massa em nós”, se nos for novamente concedida essa apropriação da frase de Sloterdijk, que por sua vez ecoa o pensamento de Elias Canetti, o qual reverbera ainda nas reflexões críticas de Toni Negri e, mais recentemente em Giorgio Agamben, de quem nos escusaremos falar neste trabalho, dadas as nossas limitações. Em nossa modesta opinião, sua força reside em alguns fatores, dois dos quais repetimos incessantemente ao longo de nosso trabalho, e cujo caráter introdutório queremos reafirmar. O primeiro fator se deve ao fato de que Hatoum irá trabalhar as relações entre memória, memorialismo, história e nação como questões imbricadas na poética narrativa de que pretende dar conta. Hatoum não se concentra na ficcionalização pura e simples da história, mas na reflexão acerca da história pelo ficcional, que é, ao mesmo tempo, metaficcionalização do relato histórico e historicização da metaficcionalidade. Não temos nas mãos apenas uma prosa que visa à ficcionalização da nação, mas, sim, uma reflexão sobre as possibilidades da narrativa como elemento de compreensão histórica do fenômeno da nação. Isto é, as condicionantes ficcionais que permeiam a construção de uma narrativa sobre a história e que buscam, ainda, a configuração de uma idéia de nação são homólogas à própria condição do Brasil como país, cuja identidade é essencialmente multicultural. Assim, ao idealismo de uma sugestão óbvia de compreensão do Brasil como nação multicultural, a prosa de Hatoum propõe um para-além: a multiculturalidade como forma de acesso às questões originárias sobre nosso caráter indefinido de povo, país, etnia, raça etc., porém sem essencializar tais questões sob qualquer fórmula de “constituição da identidade”. Chegamos ao segundo ponto de inflexão, que nos é caro para que compreendamos o alcance das “provocações da massa em nós” levadas a cabo pela prosa de Hatoum. A pergunta obsessiva que da obra do amazonense retiramos e que nos move é a sempre persistente idéia de identidade. Lemos Hatoum como o ficcionista da identidade, mas um tipo de identidade perdida nas brumas da desapropriação, seja ela histórica, cultural, antropológica, filosófica. Identidade é símbolo de uma busca impossível, e se dá por meio da narração. A fabulação nos romances de Hatoum, especialmente em Cinzas do Norte, transcorre em níveis de atração e repulsa pela idéia de identidade plena. A noção de sujeito em Hatoum é homóloga à noção de sujeição ou servidão, como nos apontou Sloterdijk, e discute, por meio da questão da identidade, isto é, ou mais precisamente, por meio da idéia de uma identidade essencialmente brasileira, a impossibilidade da essencialização do ser; de se defender uma ontologia que reduza a natureza do ser brasileiro, ou do ser da nação a categorias dicotômicas, as quais não traduzem a complexidade daquilo que nos forma como sujeitos da massa. A questão da identidade forma uma espécie de zona de fronteira, que nos leva, em Milton Hatoum, a pensar a idéia de nação e nacionalidade como algo imaginado nas frestas, em entrelugares. O poder, ou os poderes da ficção, nesse caso específico, caso quase único na prosa brasileira atual, estão a nos reapresentar o mundo, não mais pelos caminhos apontados a partir de 1922, mas no embate com as formas complexas de organização identitária, sejam elas locais ou universais, nacionais ou planetárias, individuais ou da massa. Perceber o alcance deste movimento da diferença e na diferença pode ser uma das chaves para se entender o universo de Milton Hatoum, mas também pode apontar para os diversos modos de acesso à compreensão do que somos, da matéria que nos forma, a qual, se já não pode ser essencializada em termos de verdade, poderá, ao menos, dar conta dos processos vitais que nos impelem ao futuro, à idéia de sujeito reflexivo, residindo na base de toda idéia de subjetividade, do conceito de humano e, originariamente, na idéia de Ser. Referências ARANTES, Paulo. Nação e reflexão. In: ABDALA JR., Benjamin; CARA, Salete de Almeida (Org.). 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