CONTRIBUIÇÕES DA PRÁXIS PEDAGÓGICA SEGUNDO OS SOFISTAS, SÓCRATES E PLATÃO A ARETE NA FORMAÇÃO EDUCACIONAL DO CIDADÃO EM ATENAS Ada Augusta Celestino Bezerra1 Mildon Carlos Calixto dos Santos2 GT2 Políticas Públicas RESUMO Desenvolvemos nosso trabalho partindo do modelo de cidadão em Atenas para podermos entender que sociedade concebida na Grécia antiga, onde a cidadania era exercida por alguns e negada às demais classes que compunham o Estado. E, até que ponto a estrutura política grega vigente justificava o exercício da cidadania por poucos, já que o pensamento da Paidéia refletia a sua realidade sociopolítica. Para esclarecimento destes pontos sustentamos nosso trabalho por meio de uma pesquisa de cunho bibliográfico, ou seja, de uma interpretação teórica e conceitual do pensamento filosófico. Para tal pesquisa, apoiamo-nos no texto principal, Política de Aristóteles, e em comentadores. Estes nos forneceram os materiais necessários para analisarmos o exercício da cidadania na antiguidade, procurando luzes para refletirmos sobre o modelo educacional hoje. Propomos um recorte onde sinalizamos a importância da formação e participação do cidadão para os Sofistas, Sócrates e Platão. Desse modo, tivemos o intuito de ver maneiras de visualizar o cidadão e, conseqüentemente, suas diferenças em propor as formações dos cidadãos, como também de atuação no meio social. PALAVRAS-CHAVE: Cidadania, Filosofia, Educação em Atenas. ABSTRACT We develop our work based on the model citizen in Athens in order to understand that society conceived in ancient Greece, where citizenship was practiced by some and denied to the other classes that comprised the state. And to what extent the current Greek political structure justified the exercise of citizenship by a few, since the thought of Paideia reflected his socio-political reality. To clarify these points we sustain our work through a bibliographical search, ie, a theoretical interpretation of the philosophical and conceptual. For this research, we rely in the main text, Politics of Aristotle, and commentators. They gave us the materials necessary to analyze the 1 Pedagoga, Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Mestra em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Professora Titular III da Universidade Tiradentes – Sergipe, atuante na Graduação e no Curso de Mestrado em Educação. 2 Graduado em Geografia pela Universidade Tiradentes, Licenciado em Filosofia pela Faculdade São Tomás de Aquino, aluno especial do Mestrado em Educação da Universidade Tiradentes e integrante dos Grupos de Pesquisa em Políticas Públicas,Gestão Socioeducacional e Formação de Professor(UNIT/CNPq) e Grupo de Pesquisa Educação e Contemporaneidade (UFS/CNPq). exercise of citizenship in ancient times, looking for lights to reflect on the educational model today. We propose a cut which pointed out the importance of education and citizen participation for the Sophists, Socrates and Plato. Thus, we see the intention of ways to view the citizen and, therefore, propose their differences in the training of citizens, as well as acting in the social environment. KEYWORDS: Citizenship, Philosophy, Education in Athens. A FORMAÇÃO DO CIDADÃO EM ATENAS SEGUNDO SEGUNDO OS SOFISTAS Quando nos voltamos para um estudo mais detalhado sobre a formação dos cidadãos no período clássico da historia grega, podemos focalizar como inovadores e grande contribuidores para uma nova visão sobre a educação o movimento dos sofistas. Tal termo implica uma denominação que originariamente significa “mestre do saber”. Estes, por sua vez, não têm um período determinado dentro da historia, mas sabe-se que teve inicio antes de Sócrates e se estende até alguns anos depois deste pensador. Também sabemos que seus pensadores não são de uma mesma localidade, mas de vários locais. Acrescentamos, além disso, que eles não tinha uma única preocupação, mas cada autor aprofundou-se na questão que mais lhe convinha e, diferentemente dos demais pensadores, até então conhecidos,não tinham morada fixa. A Paidéia dos sofistas era uma colorida mistura de matérias de origem vária. O seu objetivo era a disciplina do espírito, mas não existia entre eles unanimidade quanto ao saber mais indicado para atingi-la, pois cada um deles seguia estudos especializados e, naturalmente, considerava a sua disciplina como a mias conveniente de todas(JAEGER,1995:538). Só que, apesar de especialidades diversas eles tinham afinidades comuns a todos. É exagero dizer [...] que os sofistas nada tinham em comum exceto o fato de serem mestres profissionais. Nenhum campo nos assuntos que ensinavam ou na mentalidade que estes produziam. Um assunto pelo menos todos eles praticavam e ensinavam em comum: a retórica ou a arte do logos(GUTHRIE,1995:46). O movimento dos sofistas surge não involuntariamente, mas para responder aos anseios da sociedade da época. Anseios estes que têm como conseqüência fatores diversos. Contextualizados na polís,desde aspectos sociais, militares até, fundamentalmente, aquele de índole política. Portanto, levemos em conta que o movimento dos sofistas é fruto de uma crise em vários âmbitos das relações sociais. Assim é descrita pelo historiador da filosofia: [...] Todos os caminhos já haviam sido palmilhados e o pensamento “físico” chegaram aos seus limites extremos. [...] Por outro lado, no século V a.C. manifestaram-se fermentos sociais, econômicos e culturais que, ao mesmo tempo, favoreceram o desenvolvimento da sofistica e, por seu turno foram por ele favorecidos. Antes de mais nada, recordamos a lenta, mas inexorável crise da aristocracia, acompanhada pari passu pelo sempre crescente, poder do demos, o povo; o fluxo sempre mais maciço de estrangeiros as cidades, especialmente Atenas, com a ampliação do comércio, que, superando os limites de cada cidade, levava cada uma ao contato com um mundo mais amplo; a difusão dos conhecimentos e experiências dos viajantes, que levavam à comparação entre os usos, costumes e leis helênicos e usos, costumes e leis totalmente diferentes(REALE,1990:74). É preciso ressaltar que, em conseqüência do quadro panorâmico da época, o movimento fez uma verdadeira revolução quando, uma vez esgotada a investigação da physis, que não chegou a uma conclusão coesa, segundo Reale (1990) desloca o eixo da reflexão filosófica da physis e do cosmo para o homem e aquilo que concerne à vida do homem como de uma sociedade. Quando o assunto é relacionado ao homem em sociedade podemos citar problemas como: política, ética, educação e os conflitos da pólis, cidade, que são as preocupações do homem grego no período sofistico. E em especial Atenas onde a democracia estava avançando. Mas dentro destas novas preocupações, uma não teve origem com os sofistas, no entanto, eles foram essenciais para o seu estabelecimento, quando se propuseram ser os sucessores educacionais dos que antes tinham esta missão, os poetas. Portanto esta preocupação foi primeiramente dos poetas. Foi já com Simônides, Teógnis e Píndaro que entrou na poesia o problema da possibilidade de ensinar a arete. [...] Com eles, a poesia tornou-se o palco de uma discussão apaixonada sobre a educação. [...] Os sofistas deram o último passo (JAEGER, 1995:345-346). Ao evidenciarmos importância dos sofistas para a nova concepção de educação queremos ressaltar que a educação da época não mais correspondia ás necessidades do homem da polis, segundo entendimento os sofistas. Isto implica reconhecer a necessidade de um conhecimento e/ou noções mais adequadas ás diversas áreas. A educação imitativa efetivamente não correspondia a tais exigências. Desde Homero a idéia do modelo e do exemplo domina a educação aristocrática. Com o exemplo pessoal coloca-se viva diante dos olhos do educando a norma que deve seguir, e o olhar atento para a encarnação da figura ideal do homem deve movê-lo à imitação(JAERGER,1995:361). Segundo a nova visão a arete, virtude, não estava somente em alguns poucos que recebiam através do sangue nobre e era desenvolvida pela educação imitativa e ginástica, que propocionava a disciplina corporal no educando. Mas, segundo a nova concepção, a virtude é adquirida através da “formação consciente do espírito”. Com isso, há uma ruptura, pois, qualquer homem que se dedique à aprendizagem, ou melhor, que receba um aprendizado adequado poderá desempenhar, com maior eficiência, o seu papel de cidadão. O cidadão é um homem virtuoso e para os sofistas a virtude pode ser ensinada. Só que, a virtude para este é identificada com a técnica e, dentro de todas as técnicas ensinadas pelos demais sofistas, Protágoras colocava a sua como a principal, isto é, a técnica política. Que a “virtude” se podia ensinar era á base da pretensão dos sofistas [...]. As referências de Protágoras, em Platão, à “techne do artesão” e à “arete do artesão” evidenciam que para ele significam a mesma coisa. Ele mesmo consiederava a instrução nas technai especificas, que alguns sofistas ofereciam, como inferior a ele, a “arte política’ ou a “virtude política”, que é sua especialidade pessoal (GUTHRIE,1995:237). Quando os sofistas identificam a virtude com a técnica, fica claro para nós que, diante da situação sociopolítica, que exige do cidadão a maior capacidade possível de desenvolvimento no discurso persuasivo, eles traziam a solução quando ensinavam estas técnicas, tão essenciais para as discussões dentro dos problemas do Estado. Por isso afirma JAEGER (1995) foi das necessidades mais profundas da vida do Estado que nasceu a idéia da educação, a qual reconheceu no saber a nova e poderosa força espiritual daquele tempo para a formação de homens, e a pôs a serviço dessa tarefa. É evidente a ruptura feita pelos sofistas que nos mostra a idéia otimista dele em relação ao homem. Tal idéia está na afirmação que, todo homem pode ser educado. Coisa que os pensadores anteriores (pré-socráticos) não abordaram, visto que, o momento histórico, por eles vivenciado, não tinha como ponto de reflexão as preocupações relacionadas às vivências humanas, e sim, o principio de todas as coisas. Tendo em vista a concpção de educação sofistica, fica superado a velha nobreza de sangue e então, aparentemente, surge uma idéia preliminar, que uma vez instruídos, todos teriam o direito de participar como cidadão da democracia ateniense. De acordo JAEGER(1995) pela primeira vez estende a vastos círculos e dá publicidade total a exigência de arete baseada no saber. Partindo desta idéia, o povo seria diretamente o grande beneficiado, pois estaria desejoso de poder participar do saber para também adentrar na administração da coisa pública. Segundo JAEGER(1995) é certo que em nenhum outro lado tiveram todos, mesmo os simples cidadãos, tantas possibilidades de adquirir os fundamentos de uma cultura elementar, como em Atenas, embora o Estado não tivesse a escola na mão. Porem sabemos que Atenas tinha um contigente de escravos bem numerosos, de lavradores, artesão e metecos (estrangeiros livres que viviam do comércio), que não exerciam a cidadania. Não a exerciam porque os escravos não eram considerados homens racioanais, pois não tinham capacidade de reflexão. Os lavradores, artesão e qualquer um que dependesse do trabalho braçal não tinham tempo nem oportunidade de esmerar-se no saber, tampouco de poderem participar das assembléias, sem abordar que, aquele que se submetia ao trabalho braçal era indigno de tal função. Aos estrangeiros a cidadania era negada, podendo somente viver e desempenhar seus trabalhos. Portanto, restava somente uma pequena parcela da população que tinha o direito de exercer a cidadania, partindo das assembléias públicas na ágora e se ocupando com as decisões da cidade-estado. Na verdade, como conseqüência das novas idéias, houve somente um alargamento da nobreza sanguinea, classe beneficiada na antiga visão, que recebiam os privilégios por hereditariedade para participarem, pois eram homens livres, que não se submetiam a trabalhos braçais e por terem nascidos no estado ateniense, que segundo JAEGER(1995) como membros conscientes da sociedade estatal e obrigados a se colocarem a serviço do bem da comunidade. Entendemos que apesar da proposta inovadora, na verdade os sofistas não conseguiram transpor a barreira que sempre proporcionou uma educação para a elite. Como afirma Jaeger (1995) já desde o começo a finalidade do movimento educacional comandado pelos sofistas não era a educação do povo. No fundo não era senão uma nova forma da educação dos nobres. Desta forma, a nova educação vem para suprir a carência que deixava a educação imitativa.É através dos conteúdos da música,poesia, gramática, retórica e dialética que os sofistas queriam proporcionar um conhecimento geral nos diversos âmbitos que envolviam os homens. Mas, o desenvolvimento da retórica era fundamental para melhorar persuadir, argumentar e discutir na Ágora ateniense. A faculdade oratória[...] Reside antes de mais nada na judiciosa aptidão para proferir palavras decisivas e bem fundamentadas. No Estado democrático, as assembléias públicas e a liberdade de palavra tornaram indispensáveis os dotes oratórios e até os converteram em autênticos leme nas mãos do homem de Estado. Notamos que a grande contribuição dos sofistas para os cidadãos atenienses foi o desenvolvimento da oratória para a participação na democracia, ou seja, nas assembléias. A importância da oratória para os sofistas também revela o relativismo pregado por ele mesmos. Treinavam seus alunos para elogiar e censurar as mesmas coisas, a verdade não mais importa,visto que, o que vale é ter capacidade de argumentação lógica que leve o ouvinte a convencer-se da idéia que é defendida. Com isto, mesmo que o que vai ser defendido, possa ser facilmente derrubado, quando bem argumentado torna-se –á indestrutível. E aqui mostra o pensamento que é fruto da negação de qualquer postulado absoluto. O que vale é o jogo de palavras, não existe uma moral absoluta, verdade, tudo isto é relativo. A FORMAÇÃO DO CIDADÃO EM ATENAS SEGUNDO SÓCRATES Sócrates nasceu em 469 a.C., em Atenas e vivenciou o apogeu de sua cidade. Morreu em 399 a.C., depois de condenado á pena capital por não acreditar nos deuses e por corromper os jovens. Sabe-se que foi contemporâneo de grandes sofistas como Protágoras e que foi um crítico feroz das idéias dos mesmos. Todo ensinamento socrático foi dado nas praças, no mercado. Ele mesmo nada escreveu e tudo o que sabem vem de comentadores e historiadores da época. Mas, fazendo um depuramento das obras de seu amigo que denominamos “fiel discípulo”, Platão, podemos extrair o cerne de seu pensamento. Todo o seu método educacional é em oposição à dos sofistas. Os sofistas são mestres ambulantes vindos de fora, nimbados de um halo de celebridade inacessível e rodeado de um reduzido círculo de discípulos. È por dinheiro que ministram seus ensinamentos. Estes versam sobre disciplinas ou artes especificas e dirigem-se a um público seleto de filhos de cidadãos abastados, desejosos de se instruírem . O palco onde, em longo solilóquio, brilham os sofistas é a casa particular ou a aula improvisada. Em contrapartida, Sócrates é um cidadão simples, a quem todos conhecem. A sua ação passa quase despercebida; a conversa com ele agarra-se quase que espontaneamente, e como sem querer, a qualquer tema de ocasião. Não se dedica ao ensino nem tem discípulos; assim o afirma, pelo menos. Só tem amigos, camaradas(JAGER,1995:523). Apesar de Sócrates afirmar que não se dedicou ao ensino, pois sabia. Ele inicia o seu trabalho educativo quando procura refutar ou comprovar a afirmação do oráculo: Conheceis bem Xenofonte.[...] Indo a Delfos, ousou interrogar o oráculo[...] perguntou-lhe, pois, se havia alguém mais sábio que eu. Ora a Pitonisa (sacerdotisa do templo de Delfos) respondeu que não havia ninguém mais sábio(PLATÃO, 2004:61). A procura de refutação ou confirmação do oráculo era através de diálogos travados com pessoas, segundo Sócrates, mais sábias do que ele. Estes diálogos aconteciam com alguns políticos, poetas e artífices, mas estes, que aparentemente demonstravam muita sabedoria, na verdade, uma grande parte desta sabedoria era enganosa. Demonstravam saber e pensavam que sabiam, quando pouco sabiam. Então, Sócrates destacou-se entre a juventude, com seu método, pois, a sua pedagogia, que era diversa da dos sofistas traziam um complemento. Este complemento está no fato que, nos diálogos travados por Sócrates os jovens suscitavam a crítica a todas as estruturas de poder. O socrático era a ironia, isto é, simulava não saber e lançava questões até que o interlocutor não tivesse mais saída e tomasse consciência da sua ignorância. Utilizava ainda a maiêutica, que se dava quando o interlocutor estava embaraçado pelas perguntas e Sócrates lhe fazia ver alguns problemas, a partir de então o interlocutor fazia uma reflexão, reelaboração de pensamento, e demonstrava a sua nova conclusão, que era o conhecimento verdadeiro que brotava do interlocutor sobre a questão. Quando o nosso pensador utilizava o método da ironia e da maiêutica era porque queria que o interlocutor abandonasse o conhecimento falso, enganoso, que ele tinha como verdadeiro e buscasse, através da reflexão, o conhecimento que tinha dentro de si. Ora, para Sócrates, o homem deveria preocupar-se, primeiramente, com a alma, não com as honrarias, as riqueza ou os problemas da cidade. O homem que demonstrasse ter a virtude, aí sim poderia ocupar-se do bem público. A alma socrática não tem nada em comum com a concepção atual, isto é, dimensão escatológica, mas com episteme, razão, o eu consciente. Também para ele, a virtude, antes de qualquer coisa, era ciência, conhecimento. O pensador ateniense afirmava que, aquele tinha conhecimento, praticava o bem, o bom. O erro só era fruto da ignorância. Esta era a sua concepção ética. Caro cidadão de Atenas, tu que pertences à maior cidade e mais famosa pelo saber e pelo poder, não te envergonhas de fazer caso das riquezas, para guardares quanto mais puderes e da glória e das honrarias, e, depois não fazer caso e nada te importares de sabedoria, da verdade e da alma, para tê-la cada vez melhor? E,se algum de vós protestar e prometer cuidar disso, não o abandonarei, nem irei embora,mas o interrogarei e o examinarei e o convencerei, e, em qualquer momento que me pareça que não possui a virtude, convencido de que a possui, o reprovarei, faz pouquíssimo caso das coisas de grandíssima importância e grande caso das que tem pouco valor.[...] A virtude não nasce da riqueza, mas da virtude vêm, aos homens, as riqueza e todos os outros bens, tanto públicos como privados (PLATÃO, 2004:72-73). Sócrates era contrario a participação das massas proletária, por discordar completamente da participação do povo nas decisões políticas e jurídicas. Para Sócrates, as decisões que deveriam reger o Estado tinham que estar nas mãos de quem tinha um conhecimento elevado. Era indubitável que ele tinha declarado, defeituoso, como norma fundamental, o principio democrático dominante em Atenas, segundo o qual o governo era incumbência da maioria do próprio povo: em sua substituição proclamara, como norma para direção do Estado, o principio superior conhecimento das coisas(JAEGER,1995:514-515). Mas a educação política socrática tinha como destinatário, todos, só que, alguns para o governo e outros para serem governados. Os primeiros devem aderir voluntariamente a uma vida que, por causa da finalidade, deveria ser ascética em busca do autodomínio. Basta-nos, para que destaquemos que a educação socrática dirige-se aos sábios, àqueles que foram naturalmente escolhidos, dotados de virtude, pois só estes podem dominar seus instintos selvagens que estão dentro de todos. Sócrates estava convencido de que, se estes escolhidos tivessem a educação devida, eles atingiriam por eles mesmos o mais alto nível de conhecimento e, além de serem felizes, tornariam os demais homens felizes. E assim dariam os frutos que corresponderiam com os talentos que eles possuíam. A FORMAÇÃO DO CIDADÃO EM ATENAS SEGUNDO PLATÃO Platão nasceu em Atenas no mês de maio de 427 a.C. Faleceu em 348/347 a.C. O nome Platão é apelido, devido aos seus ombros muito largos. Seu nome era Aristocles. Por volta dos vinte anos conheceu Sócrates e começou a segui-lo. Tinha uma boa posição social, pois sua família dispunha de uma fortuna condizente à nobreza, pois isso, pôde receber elevada educação. Junto com alguns companheiros quis interferir no processo contra Sócrates, como fiador do seu mestre.Logo após a morte do mestre, ausentou-se de Atenas por algum tempo porque empreendeu algumas viagens por alguns países. Ele fundou a Academia, escola na qual esteve à frente até a morte. Lá se reunia com alguns outros, uma vez por mês para altas discussões filosóficas. Platão, ao contrario do seu mestre, escreveu muito e é um caso especial entre os filósofos antigos, porque dele conseguiu chegar até nós a sua obra completa. Dentro da obra de Platão existe uma variação de temas, mas apesar de não ter uma vida politicamente ativa, ele escreveu obras de cunho político. A República é uma utopia que nos expressa claramente sua idéia, ou melhor, sua maneira de conceber o Estado, isto porque nesta obra ele reconstrói o Estado. O filósofo está decepcionado com o Estado democrático que levou Sócrates à morte. Todavia,como base do novo Estado, idealizado por Platão, deve estar a preocupação primeira com a educação dos educadores. Quando a preocupação é a educação destes é porque Platão coloca a educação como responsabilidade de todos. Toda a educação é para ele função da comunidade, quer esteja regulamentada pelo Estado, quer atue “livremente”; e Platão, coerente com o seu critério de que só num Estado perfeito se pode realizar a verdadeira educação [...] não é aos educadores mas, a coletividade, que importa os defeitos da educação vigente(PLATÃO,2000:201). É através de uma educação bem planejada, baseada na cultura musical, na ginástica, no aprofundamento das matemáticas e da oratória que acontecia à educação dos guardiões. É evidente que Platão acredita na educação como base fundamental para a formação do governante, porque uma vez educado, as leis que regem a conduta humana passam para segundo plano. E sendo esta idéia corroborada, o outro fator que garante a boa conduta do cidadão é a junção da educação com um forte caráter. A primeira classe social, porém não necessita de educação especial, porque as artes e os ofícios são facilmente aprendidos com a prática.Para as classes dos guardas, Platão propõe a educação clássica, ginástico-musical, com o objetivo de robustecer convenientemente à parte da alma da qual deveriam a coragem e a fortaleza. [...] A educação prevista por Platão os governantes coincidia com os exercícios necessários para o aprendizado da filosofia, suposta a coincidência entre o verdadeiro filósofo e o verdadeiro político(REALE,1990:164-165). Na república platônica O Estado deveria ser dividido em três classes principais,assim como ele divide em três partes a alma: a classe mais baixa, representando a alma apetitiva, incluiria os lavradores, os artistas e os comerciantes; a segunda classe, representando a coragem, seria formada pelos soldados; enquanto a classe mais alta, representando a sabedoria, compreenderia os guardiões. Por conseguinte, a justiça brota do desempenho harmônico das classes. Com isto, compreende-se que a justiça, nada mais é, que cada um dê o máximo de si na classe que está inserido e não queria fazer coisas que competem às outras classes. Segundo Platão (200,p.133) justiça significa guardar apenas os bens que nos pertencem e em exercer unicamente a função que no é própria. De acordo este pensamento, só assim, realizar-se-ia o melhor Estado possível, porque mesmo com tal divisão e tendo que se submeter ao governo dos melhores, todos seriam felizes. Agora julgamos modelar a cidade feliz, não pondo à parte um pequeno número dos seus habitantes para torná-los felizes, mas considerando-o como um todo;[...] caso que devemos obrigar os auxiliares e os guardas a assegurá-la e convencê-los, assim como a todos os outros cidadãos, a desempenharem o melhor possível as funções de que são incumbidos; e, quando a cidade se tiver desenvolvido e estiver bem organizada, deixaremos que cada classe participe de acordo com a sua natureza, da felicidade(PLATÃO,200:117). Como vemos, o governo está nas mãos dos melhores, mas não é uma nobreza de sangue, pois apesar de dar uma importância muito grande ao nascimento para a formação de uma estirpe, ele ainda coloca que é dever dos guardiões, com uma constância, descer até a última classe e procura os melhores e elevá-los á classe dos guardiões. “[...] Dissemos que era preciso relegar para as outras classes a criança medíocre nascidas dos guardas e elevar à condição de guarda a criança bem-dotada nascida nas outras classes (PLATÃO,200:119). A classe dominante, guerreiros e guardiões, não podiam possuir nenhum bem material, pois, quando o homem passa a preocupar-se com os bens materiais facilmente é corrompido. Não fazendo acontecer à justiça entre as classes. Nenhum deles possuiria nada exclusivo, exceto os objetos de primeira necessidade; em seguida, nenhum terá habitação nem loja onde toda a gente possa entrar. Quanto à alimentação necessária a atletas guerreiros sobre e corajosos, recebê-la-ão dos outros cidadãos, como salário da guarda que asseguram, em quantidade suficiente para um ano, de modo a não sobrar e a não faltar; tomarão as refeições juntos e viverão em comum como soldados em campanha (PLATÃO, 2000:113). Casavam-se e tinha filhos, mas as uniões eram temporários e os filhos não permaneciam com eles, mas eram educados pelo Estado obrigando-os a tratar a todos como seus filhos e assim eles formavam uma grande família. Todas as mulheres dos nossos guerreiros pertencerão a todos: nenhuma delas habitará em particular com nenhum deles. Da mesma maneira, os filhos serão comuns e os pais não conhecerão os seus filhos nem estes os seus pais (PLATÃO,2000:160). Para uma melhor seleção é conveniente que os melhores tenham relações com as melhores. Por isso é necessário também a educação das mulheres e colocá-las em proximidade com os homens, isto é, não existe função própria das mulheres e dos homens, mas participando da mesma educação as mulheres desempenharão as mesmas funções dos homens. E lhes acompanharão. É entre estas mulheres que os homens devem estabelecer relações e procriar. Sendo que, a prole vai ser educada por mães que já estão preparadas unicamente para este fim. Este regimento de procriação deve ser controlado pelo Estado. Ora, aqueles e aquelas que tiveres escolhido, tendo domicílio comum, tomando em comum as suas refeições e não possuindo nada de seu, estarão sempre junto; e encontrando-se misturados nos exercícios do ginásio e que concerne o resto da educação(PLATÃO,2000:161). Estas uniões são transitórias e não permanentes. Para o bem do Estado o que vale nas uniões não são os afetos, mas condições de uma boa reprodução para melhorar a qualidade dos cidadãos futuros. Todo este planejamento tem como cume à virtude e a felicidade de todos, pois aqueles que governam,devem antes buscar servir, e não honrarias. E como grande empreendedor para governa tal Estado, está o filósofo, visto que, ou o rei é filósofo ou o filósofo deve ser rei. Enquanto os filósofos não forem reis nas cidades, ou aquele que hoje denominamos reis e soberanos não forem verdadeiramente e seriamente filósofos, enquanto políticos e a filosofia não convergirem no mesmo indivíduo enquanto os muitos caracteres que atualmente perseguem um ou outro desses objetivos de modo exclusivo não forem impedidos de agir assim, não terão fim, meu caro Glauco, os males da cidade, nem, conforme julgo, os do gênero humano, e jamais a cidade que nós descrevemos será edificada(PLATÃO, 2000:160-161). Portanto, Platão também estabelece para seu Estado o governo dos filósofos. Só estes teriam condições, através da reminiscência, chegar ao conhecimento verdadeiro e melhor administração o Estado, enquanto o restante teria que figurar entre os governados. E vejamos como o comentador define o filósofo na visão platônico. Platão concebe o filósofo como um homem de grande memória, de percepção rápida e sedento de saber. Um tal homem despreza tudo o que é minúsculo, o seu olhar eleva-se sempre ao aspecto global das coisas e abarca, de uma vigia altíssima, a existência e o tempo. Não tem a vida em grande apreço nem sente grande apego aos bens exteriores. É estranho a ele tudo o que seja gabolice. É grande em tudo, mas sem por isso deixar de possuir um certo encanto. È um amigo e parente da verdade, da justiça, da valentia, do autodomínio (JAEGER,1995:848). Está claro, no estabelecimento do Estado platônico, que aqueles que possuíam o conhecimento imutável, que contemplavam não as aparências, mas o real, deveriam governar, pois saberiam, melhor que a ninguém, que sua verdadeira função no Estado era servir, e não uma busca desenfreada pelo poder, pelas honrarias. Saberiam manter a ordem, coordenando para que a injustiça nunca acontecesse. E desta forma saberiam conduzir os demais para a felicidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo excursão proposta pelo texto deixamos claro, todo escrito reflexivo de Aristóteles não partiu de elaboração de uma sociedade ideal, mas partiu da sociedade real, precisamente da sua realidade sociopolítica. Como também, da sua concepção de homem, que segundo ele, é um animal político por natureza, isto é, o homem só encontra sua realização plena quando em contato com os demais. O homem é naturalmente um ser de relações. È tendência natural do homem viver em sociedade. Como exigência natural, temos a formação da sociedade que necessita um direcionamento, um governo. Então o governo da polis deveria estar nas mãos dos cidadãos, aqueles que deliberavam na ágora, praça pública, ou exercia a cidadania ocupando uma função em uma das diversas magistraturas. Como colaborador direto dos cidadãos, tínhamos os guerreiros que tinham como função defender a cidade-estado. Estas duas classes formavam a parte principal do Estado. As demais classes, que eram importantes para o abastecimento e manutenção da cidadã-estado, não tinham direito a cidadania. Destarte, era negado a cidadania para os metecos (estrangeiros comerciantes), como também, aos lavradores e artesãos. Os escravos não eram considerados como pertencentes a uma classe social, pois pertenciam ao senhor, eram extensões do mesmo, já que não tinham capacidade reflexiva. Também não gozavam do direito a cidadania os jovens e as mulheres. O cidadão era o homem livre, não estrangeiro, que não desempenhavam nenhum trabalho braçal, pois era coisa servil, indigno para o cidadão, e que participava das assembléias na ágora ateniense. Seu trabalho era pensar para melhorar administrar a coisa pública. A sociedade concebida na Grécia Antiga privilegia a classe dos cidadãos e dos guerreiros em detrimento das demais que compunham o estado. Esta maneira que os filósofos grego tinham de visualizar a sociedade era fruto da sua realidade social, mas eles não observou toda a realidade e transpôs na integra, sem dirigir alguma critica a sociedade em que estavam inseridos. Embora as críticas feitas por eles á democracia, que se encontrava desfigurada, foi pouco relevante, pois o que foi absolvido em seus pensamentos como sendo uma boa proposta para o retorno ao apogeu da democracia fazia parte da realidade sociopolítica, o sistema escravista, por exemplo. Com efeito, se o governo da polis, para os filósofos, era algo sublime, acreditamos hoje que a participação consciente do cidadão em busca do que é melhor para a sociedade é fundamental importância para a elevação de toda humanidade. BIBLIOGRAFIA ARISTÓTELES. Política. Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Martin Claret, 2003. (Coleção obra-primeira de cada autor) ____.Ética A Nicômoco. Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2003. (Coleção obra-prima de cada autor) ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. BITTAR, Eduardo C. B. Curso de Filosofia aristotélica: leitura e interpretação do pensamento aristotélico. Barueri, SP: Manoel, 2003. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil 1988[Organizações, Editora Jurídica da Editora Manole]. Barueri, SP: Manole, 2004. BRUNO, LÚCIA. “Acerca do indivíduo, da prática e da consciência da prática”. In: Educação & Sociedade. São Paulo, SP: Cortez, Ano X, n. 33. ago.1989. BUARQUE, Cristóvam. A revolução das prioridades: da modernidade técnica à modernidade ética. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1994. FARIA, Maria do Carmo Bettencout de. Aristóteles: a plenitude como horizonte do ser.São Paulo: Moderna, 1994. (Coleção Logos) GOMES, Lucrecia Anchieschi e SANTOS, Luciano Pereira dos. Policidadania.São Paulo: Paulinas, 2004. (Coleção mundo possível) GUTHRIE,W.K.C. Os Sofistas. Tradução de João Resende Costa. São Paulo: Paulus,1995. JAEGER,Werner. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995. NÓVOA, Antônio (coord.). Os professores e sua formação. 2. ed. Lisboa: Dom Quixote, 1995. PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2004. (Coleção obra-prima de cada autor) ___. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2000. REALE, Giovane e ANTISERE, Dario. História da filosofia. Antiguidade e Média, Vol. I .São Paulo: Paulus,1990. SANTOS, Milton. O professor como intelectual na sociedade contemporânea. Águas de Lindóia, SP: 1999 (material apostilhado). SERRANO, Jonathas. História da filosofia. Rio de Janeiro: Editora Zelio Valverde, 1944. VERGNIÉRES,Solange. Ética e Política em Aristóteles: Physis, ethos, nomos. Tradução de Constança Marcondes Cesar. São Paulo: Paulus, 1998.(Ensaios filosóficos)