PROJETO LEITURA E DIDATIZAÇÃO A MORENINHA JOAQUIM MANUEL DE MACEDO Possíveis dialogismos trabalhados neste Projeto: 1. Representações dos espaços naturais brasileiros (Leitura 1) I. A ilha idílica e paradisíaca d’A Moreninha II. O Brasil sob o olhar dos viajantes europeus III. A natureza brasileira na prosa regionalista do século XX 2. Amores de infância e promessas amorosas em língua portuguesa (Leitura 2) I. Augusto e Carolina: fidelidade e constância amorosa II. Daniel e Margarida: o cumprimento das juras de amor eterno III. Juramentos de amor na música popular 1 3. O indianismo na literatura romântica brasileira: entre a emoção, o heroísmo e a natureza (Leitura 3) I. A história de Ahy e Aoitin em A Moreninha II. A bravura do índio Peri LEITURA 1 REPRESENTAÇÕES DOS ESPAÇOS NATURAIS BRASILEIROS Vicente Luís de Castro Pereira A primeira proposta de trabalho com o romance A Moreninha, sob uma perspectiva dialógica, parte do trabalho com textos que tratam da natureza brasileira. O ponto de partida é a apresentação da idílica ilha de Paquetá, espaço central no qual se desenrola a trama de A Moreninha. O segundo e o terceiro textos consistem nos relatos informativos e documentais feitos por viajantes europeus que estiveram no Brasil: foram selecionados excertos da Carta de Pero Vaz de Caminha e dos estudos acerca da terra brasileira feitos por Ferdinand Denis. Em segui- 2 da, um texto emblemático da fase regionalista do Modernismo brasileiro é apresentado, com o objetivo de expor outras possibilidades de abordagem dos espaços naturais brasileiros: foi selecionado um fragmento do primeiro capítulo de Vidas secas, romance de Graciliano Ramos. Leia os textos com atenção, procurando identificar as relações estabelecidas entre eles, e reflita sobre as questões propostas no decorrer da seção. TEXTO 1 Capítulo III Manhã do sábado 3 [...] Augusto pagou, despediu o seu bateleiro, que se foi remando e cantando com os seus companheiros. Leopoldo deu-lhe o braço, e, enquanto por uma bela avenida, orlada de coqueiros, se dirigiam à elegante casa que lhes ficava a trinta braças do mar, o curioso estudante recém-chegado examinava o lindo quadro que a seus olhos tinha e de que, para não ser prolixo, daremos idéia em duas palavras. A ilha de... é tão pitoresca como pequena. A casa da avó de Filipe ocupa exatamente o centro dela. A avenida por onde iam os estudantes a divide em duas metades, das quais a que fica à esquerda de quem desembarca está simetricamente coberta de belos arvoredos, estimáveis, ou pelos frutos de que se carregam, ou pelo aspecto curioso que oferecem. A que fica à mão direita é mais notável ainda: fechada do lado do mar por uma longa fila de rochedos e no interior da ilha por negras grades de ferro está adornada de mil flores, sempre brilhantes e viçosas, graças à eterna primavera desta nossa boa terra de Santa Cruz. De tudo isto se conclui que a avó de Filipe tem no lado direito de sua casa um pomar e do esquerdo um jardim. Capítulo VI Augusto com seus amores – [...] Se deseja saber o mais interessante episódio da minha vida, entremos nesta gruta, onde praticaremos livres de testemunhas e mais em liberdade. Eles entraram. Era uma gruta pouco espaçosa e cavada na base de um rochedo que dominava o mar. Entrava-se por uma abertura alta e larga, como qualquer porta ordinária. Ao lado direito havia um banco de relva, em que poderiam sentar-se a gosto três pessoas; no fundo via-se uma pequena bacia de pedra, onde caía, gota a gota, límpida e fresca água que do alto do rochedo se destilava; preso por uma corrente à bacia de pedra estava um copo de prata, para servir a quem quisesse provar da boa água do rochedo. Foi este lugar escolhido por Augusto para fazer suas revelações à digna hóspeda. O estudante, depois de certificar-se de que toda a companhia estava longe, veio sentar-se junto da sra. d. Ana, no banco de relva, e começou a história dos seus amores. MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. São Paulo: Saraiva, 2008. (Clássicos Saraiva). I. A ilha idílica e paradisíaca d’A moreninha 1. Os excertos reproduzidos nas páginas anteriores apresentam descrições espaciais1 e permitem desenvolver reflexões a respeito do romance de Joaquim Manuel de Macedo. a) Que aspectos naturais são ressaltados na descrição da ilha onde se passa a maior parte da história? b) Qual o efeito causado pela escolha da ilha como cenário principal de ambientação do romance? c) Mesmo não sendo explicitamente nomeada no romance, desde a publicação do livro sabe-se que o espaço a que o autor se refere é a ilha de Paquetá – na Baía de Guanabara –, a única ilha da região que corresponde às indicações fornecidas pelas descrições. Por que motivo o autor não indicou explicitamente o nome da ilha em seu romance? 1 Descrições espaciais: expressão relativa ao espaço, ao lugar no qual os fatos narrados se desenrolam. 4 d) Qual a importância da gruta no contexto do romance? Que sugestões simbólicas estão implicadas na configuração desse espaço? e) De que maneira as descrições espaciais dos trechos selecionados estão vinculadas à tendência nacionalista do Romantismo brasileiro? TEXTO 2 5 Esta terra, senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é tudo praiapalma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Doiro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que aí não houvesse mais que ter aqui esta pousada para esta navegação de Calicute, isso bastaria. Quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé. CORTESÃO, Jaime. A carta de Pero Vaz de Caminha. Lisboa: Portugália, 1967. TEXTO 3 Quando Américo Vespúcio chegou ao Brasil, ele, que já havia visitado várias regiões da América Meridional, não hesitou, segundo as regras recebidas da cosmografia sagrada, em crer que estava na vizinhança do paraíso terrestre. Por mais poética que possa ser a preocupação do antigo viajante, não há de parecer talvez exagerada aos que têm contemplado a fértil abundância desta magnífica região. Efetivamente, a estas paisagens tão bem desenhadas, com contornos tão pitorescos; esses grandes rios, que se lançam no mar, por entre verdejantes florestas de mangueiras; essas inumeráveis palmeiras, que deixam entrever a grandeza respeitável das antigas florestas; a amenidade habitual da atmosfera; a pompa da vegetação; a cor brilhante dos pássaros e dos insetos; tudo, ao primeiro aspecto, devia produzir a idéia religiosa e poética dos primeiros navegantes. [...] A Ilha de Joanes, ou de Marajó, que interrompe de maneira tão pitoresca a embocadura do Amazonas, ou, para melhor dizer, que se eleva entre o Tocantins e o Maranhão, não tem menos de vinte e sete léguas portuguesas de norte a sul e trinta e sete de leste a oeste. É banhada por vários rios, e o solo, em quase toda a sua extensão, é de uma fecundidade prodigiosa. [...] O que há de positivo é que a Ilha de Marajó é o território mais produtivo da província, e que se podia avaliar em seiscentos ou novecentos mil francos o imposto que dela tirava anualmente o governo; além disso, é deste distrito que Belém extrai seus víveres. [...] As terras banhadas pelo Amazonas e pelo Orenoco são uma região de maravilhas; tem-se aí tudo exagerado. A Ilha de Marajó não é exceção a esses contos fantásticos [...] DENIS, Ferdinand. Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1980. 6 II. O Brasil sob o olhar dos viajantes europeus 2. A imagem paradisíaca da ilha de Paquetá, apresentada por Joaquim Manuel de Macedo em A Moreninha, permite a visualização de um espaço natural muito próximo do lendário Jardim do Éden. A equiparação “desta nossa boa Terra de Santa Cruz” ao paraíso das escrituras bíblicas é um lugarcomum nos relatos informativos dos viajantes europeus que estiveram no Brasil, aparecendo em diversas crônicas e poemas produzidos no decorrer do período colonial. Tomando por base o trecho extraído da Carta de Pero Vaz de Caminha, documento considerado a “certidão de nascimento” do Brasil, responda às questões propostas a seguir: a) Qual é a principal função da Carta de Pero Vaz de Caminha? A quem ela se dirige? 7 b) De que forma a terra brasileira é apresentada pelo cronista? 3. O francês Ferdinand Denis (1798-1890) viveu alguns anos no Brasil e dedicou-se ao estudo da natureza e dos costumes da terra brasileira. Defendendo a relação entre a necessidade de estabelecimento de uma literatura genuinamente nacional e as especificidades naturais e sociais do Brasil, Denis realizou uma descrição minuciosa da natureza peculiar e exótica dos trópicos. Com base na leitura do fragmento apresentado, reflita sobre as questões a seguir: a) Segundo Denis, o que explicaria a identificação, feita pelos primeiros navegadores europeus, das terras brasileiras com o paraíso terrestre? b) Que elementos Denis ressalta na descrição da ilha de Marajó? Sob que perspectiva a descrição é feita? 4. Qual é a semelhança entre as descrições dos espaços naturais brasileiros feitas pelos viajantes europeus e as caracterizações espaciais do romance de Macedo? TEXTO 4 Mudança Entrava dia e saía dia. As noites cobriam a terra de chofre. A tampa anilada baixava, escurecia, quebrada apenas pelas vermelhidões do poente. Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de Fabiano bateu junto do coração de Sinha Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de perder a esperança que os alentava. Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá. Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras, afastando pedaços de sonho. Sinha Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava ensangüentado, lambia o sangue e tirava proveito do beijo. Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do grupo. E Fabiano queria viver. Olhou o céu com resolução. A nuvem tinha crescido, agora cobria o morro inteiro. Fabiano pisou com segurança, esquecendo as rachaduras que lhe estragavam os dedos e os calcanhares. [...] Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira, encaminhou-se ao rio seco, achou no bebedouro dos animais um pouco de lama. Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no chão, bebeu muito. Saciado, caiu de papo para cima, olhando as estrelas, que vinham nascendo. Uma, duas, três, quatro, havia muitas estrelas, havia mais de cinco estrelas no céu. O poente cobria-se de cirros – e uma alegria doida enchia o coração de Fabiano. 8 9 Pensou na família, sentiu fome. Caminhando, moviase como uma coisa, para bem dizer não se diferençava muito da bolandeira de seu Tomás. Agora, deitado, apertava a barriga e batia os dentes. Que fim teria levado a bolandeira de seu Tomás? Olhou o céu de novo. Os cirros acumulavam-se, a lua surgiu, grande e branca. Certamente ia chover. Seu Tomás fugira também, com a seca, a bolandeira estava parada. E ele, Fabiano, era como a bolandeira. Não sabia porque, mas era. Uma, duas, três, havia mais de cinco estrelas no céu. A lua estava cercada de um halo cor de leite. Ia chover. Bem. A catinga ressuscitaria, a semente do gado voltaria ao curral, ele, Fabiano, seria o vaqueiro daquela fazenda morta. Chocalhos de badalos de ossos animariam a solidão. Os meninos, gordos, vermelhos, brincariam no chiqueiro das cabras, Sinha Vitória vestiria saias de ramagens vistosas. As vacas povoariam o curral. E a catinga ficaria toda verde. Lembrou-se dos filhos, da mulher e da cachorra, que estavam lá em cima, debaixo de um juazeiro, com sede. Lembrou-se do preá morto. Encheu a cuia, ergueu-se, afastou-se, lento, para não derramar a água salobra. Subiu a ladeira. A aragem morna sacudia os xiquexiques e os mandacarus. Uma palpitação nova. Sentiu um arrepio na catinga, uma ressurreição de garranchos e folhas secas. [...] A lua crescia, a sombra leitosa crescia, as estrelas foram esmorecendo naquela brancura que enchia a noite. Uma, duas, três, agora havia poucas estrelas no céu. Ali perto a nuvem escurecia o morro. A fazenda renasceria – e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria dono daquele mundo. Os troços minguados ajuntavam-se no chão: a espingarda de pederneira, o aió, a cuia de água e o baú de folha pintada. A fogueira estalava. O preá chiava em cima das brasas. Uma ressurreição. As cores da saúde voltariam à cara triste de Sinha Vitória. Os meninos se espojariam na terra fofa do chiqueiro das cabras. Chocalhos tilintariam pelos arredores. A catinga ficaria verde. Baleia agitava o rabo, olhando as brasas. E como não podia ocupar-se daquelas coisas, esperava com paciência a hora de mastigar os ossos. Depois iria dormir. RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2006. III. A natureza brasileira na prosa regionalista do século XX 5. O trecho da página anterior foi extraído do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos. Trata-se de uma obra representativa da produção ficcional regionalista da segunda fase do Modernismo brasileiro (1930-1945). O espaço desempenha papel fundamental na configuração desse romance, apresentando-se como um local hostil para a família de retirantes nordestinos que protagoniza a história. Com base na leitura desse fragmento e levando em consideração as discussões acerca das representações literárias dos espaços naturais brasileiros desenvolvidas nos itens anteriores, reflita sobre as questões propostas a seguir: a) Sob que perspectiva é feita a descrição do árido sertão nordestino brasileiro? De que forma o espaço influi na ação das personagens? b) É possível afirmar que o retirante Fabiano é capaz de interpretar os sinais do tempo? Justifique sua resposta com exemplos que evidenciem a relação de Fabiano com o espaço que o cerca. c) É possível afirmar que Fabiano idealiza, em sua mente, o espaço em que gostaria de viver e, por conseguinte, a vida que gostaria de ter? Justifique sua resposta. d) Que diferenças podem ser verificadas entre a caracterização do espaço natural brasileiro no romance regionalista de Graciliano Ramos e no romance romântico de Joaquim Manuel de Macedo? 10 11 LEITURA 2 TEXTO 5 AMORES DE INFÂNCIA E PROMESSAS AMOROSAS EM LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo VII Os dois breves, branco e verde O percurso pelas possibilidades de leitura do romance A Moreninha, em diálogo com outros textos, prossegue nesta seção a partir de um novo eixo orientador. Levando em consideração a temática amorosa da obra, serão destacados trechos relacionados ao juramento de amor eterno feito pelos protagonistas, Augusto e Carolina, quando ainda eram crianças. É preciso observar que a fidelidade a essa promessa tornou Augusto um jovem inconstante em suas relações amorosas, na medida em que procurava manter-se firme ao sentimento nutrido e jurado na infância. À mesma ordem de comprometimento está ligado o amor de Daniel e Margarida, casal que protagoniza As pupilas do senhor reitor, romance português de autoria de Júlio Dinis. Novamente as peripécias romanescas giram em torno da aparente inconstância amorosa do rapaz e da fidelidade eterna jurada ao primeiro amor. Um final feliz também aguarda esse casal, após a superação de uma série de obstáculos que colocam à prova a força e a sinceridade de um antigo amor. Finalmente, esta seção apresenta duas canções pertencentes ao repertório da música popular brasileira, nas quais as juras e promessas de amor eterno são reiteradas. Em primeiro lugar, sugere-se um trabalho com o samba intitulado Jura, composto por José Barbosa da Silva (Sinhô). Em seguida, propõe-se o estabelecimento de relações dialógicas com Eu sei que vou te amar, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Leia com atenção os textos selecionados e reflita sobre eles, respondendo às questões propostas a seguir. Ouvindo a sua voz harmoniosa e vibrante, eu não quis saber de fluxos nem refluxos de ondas; corri para elas com entusiasmo e, radiante de prazer e felicidade, apresentei-me à linda menina, embora um pouco molhado mas trazendo a concha desejada. Este acontecimento fez-nos logo camaradas. Corremos a brincar juntos com toda essa confiança infantil que só pode nascer da inocência, e que ainda em parte se dava em mim, posto que já a esse tempo fosse eu um pouco velhaquete e sonso, como um estudante de latim que era, e que por tal já procurava minhas blasfêmias no dicionário. É sempre digno de observar-se esta tendência que têm as calças para o vestido... Desde a mais nova idade e no mais inocente brinquedo aparece o tal mútuo pendor dos sexos... e de mistura umas vergonhas muito engraçadas... Eu cá sempre fui assim; quando brincava o tempo-será, por exemplo, sempre preferia esconder-me atrás das portas com a menos bonita de minhas primas, do que com o mais formoso de meus amigos da infância. Mas, como ia dizendo, nós brincamos juntos, corríamos e caíamos na areia, e depois ríamos ambos de nós mesmos. Tínhamos esquecido todo o mundo, e pensávamos somente em nos divertir, como os melhores amigos. Depois de uma agradável hora passada em mil diversas travessuras, que nossa imaginação e inconstância de meninos modificava e inventava a cada momento, a minha interessante camarada voltou-se de repente para mim, e perguntou: – Sou bonita, ou feia?... Eu quis responder-lhe mil coisas... corei... e finalmente murmurei tremendo: – Tão bonita!... – Pois então, tornou-me ela, quando formos grandes, havemos de nos casar, sim? – Oh!... pois bem!... 12 13 – Havemos, continuou o lindo anjinho de sete anos, eu o quero... Olhe, o meu primo Juca me queria também, mas ainda ontem me quebrou a minha mais bonita boneca... Ora, o marido não deve quebrar as bonecas de sua mulher!... Eu quero, pois, me casar com o senhor, que há de apanhar bonitas conchinhas para mim... Além disso ele não tem, como o senhor, os cabelos louros nem a cor rosada... – Porém, eu gosto mais dos cabelos pretos... – Melhor!... melhor!... exclamou a menina, saltando de prazer. Olhe: os meus são pretos! E nisto ela puxou com a sua pequena mãozinha um de seus belos anéis de madeixa, para mostrar-mo, e largando-o depois, eu vi cair outra vez em seu pescoço, de novo torcido como um caracol. Ainda corremos mais e continuamos a brincar juntos; e, sem o pensar, nós nos esquecemos de procurar saber os nossos verdadeiros nomes, porque nos bastavam esses com que já nos tratávamos, de: meu marido, minha mulher! Capítulo XXIII A esmeralda e o camafeu I. Augusto e Carolina: fidelidade e constância amorosa 1. O romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, apresenta uma história de amor cuja origem remonta à infância do casal protagonista. Quando eram crianças, Augusto e Carolina juraram que se casariam quando crescessem. Ao longo da história, após uma série de peripécias, a promessa se cumpre após o reencontro do casal na ilha de Paquetá. Com base nos fragmentos citados, voltados para o episódio da jura de amor eterno na infância e para a concretização do juramento após o reencontro do casal, responda às questões propostas a seguir: a) Como o primeiro amor aparece caracterizado no romance de Macedo? b) Qual a importância, para o desenvolvimento da narrativa, da promessa de amor eterno feita por Augusto e Carolina? c) Em que medida o tratamento conferido ao amor em A Moreninha se aproxima do conceito romântico de amor? TEXTO 6 A senhora d. Ana e o pai de Augusto entram nesse instante na gruta e encontram o feliz e fervoroso amante de joelhos e a dar mil beijos nos pés da linda menina, que também por sua parte chorava de prazer. – Que loucura é esta? perguntou a senhora d. Ana. – Achei minha mulher!... bradava Augusto; encontrei minha mulher! – Que quer dizer isto, Carolina?... – Ah! minha boa avó!... respondeu a travessa Moreninha ingenuamente: nós éramos conhecidos antigos. MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. São Paulo: Saraiva, 2008. (Clássicos Saraiva). Capítulo IV Dispersas por toda a extensão deste pasto, erravam as ovelhas e cabras de um numeroso rebanho, de que eram os únicos guardadores, um enorme e respeitável cão pastor e uma rapariguita de, quando muito, doze anos de idade. Até aqui nada de notável para o reverendo pároco. Mas o que o maravilhou foi o grupo que formavam, naquele momento, a pequena zagala, o cão e o nosso conhecido Daniel, por via de quem o bom do padre empreendera tão trabalhosa excursão. A pequena sentada junto de uma pedra informe e musgosa, folheava com atenção um livro, dirigindo, de tempos em tempos, meios sorrisos para Daniel, que, deitado aos pés dela, de bruços, com os cotovelos fincados no chão e o queixo pou- 14 15 sado nas mãos, parecia, ao contemplar embevecido os olhos da engraçada criança, estar divisando neles todos os dotes mencionados na canção da Morena, que lhe ouvimos cantar. Jaziam ao lado dos dois uma roca espiada e os livros de Daniel. Completava o grupo o cão, enroscado junto do pequeno estudante com desassombrada familiaridade, e denunciando assim que o conhecimento entre eles, e por conseguinte de Daniel com a pastora, não era já de recente data. [...] E assim acabou a última quadra da xácara, e por algum tempo, as duas crianças se conservaram caladas, como se quisessem seguir ainda, até as derradeiras vibrações, as notas melodiosas daquela voz, ao desvanecerem-se no espaço. Daniel foi o primeiro a romper o silêncio, – Então, vês como a soubeste até o fim? E cantaste-a tão bem! – Ora! – Mas é noite, Guida, repara. Olha que são horas de tu ires juntar o gado. E acrescentou, suspirando melancolicamente: – Daqui a pouco estou eu de volta com o meu latim! E que lição tamanha me marcou o padre esta manhã! [...] – E para que é preciso que saiba estas histórias quem quer ser padre? – Eu sei lá! Mas que estás tu a dizer? Padre! padre! Não me fales em ser padre, Guida. Eles cuidam que eu quero mesmo ser padre, estou querendo. – Então? – Ora quando chegar a hora eu lhas cantarei. [...] – Mas o seu pai mata-o! – Meu pai? Deixa-te disso. Meu pai não há de querer fazer-me padre a força. – Mas o senhor reitor? – O senhor reitor não é cá chamado. Que se meta com a sua vida. Ora é muito boa! – E por que não quer ser padre, Danielzinho? – Olhem que pergunta! Não quero ser padre, porque não quero, porque gosto de ti, e, porque, afinal de contas, hei de vir a casar contigo. – Ora! – Hei de, sim. Verás. E dizendo isso, passou facilmente o braço pelo pescoço da pequena Guida, e pousou-lhe na fronte um beijo que ainda nem sequer a fazia corar. Capítulo XLII [...] Margarida estremeceu e... – vão lá agora acreditar na firmeza do coração humano, quando jura cerrar-se às branduras do sentimento e às explosões da paixão! – e, por um desses movimentos irresistíveis, por uma dessas soluções, com que se dá no amor o passo tremendo e decisivo das confidências, correspondeu a Daniel, apertando-lhe também a mão. Neste momento passou na rua uma rapariga cantando: De pequenina nos montes Nunca teve outro brincar. Nas canseiras do trabalho Seus dias vira passar Daniel olhou para Margarida, que desta vez não desviou também o olhar. E agora, como que o passado inteiro, aquele passado de ambos, lhe apareceu com o prestígio da saudade, e dourouse-lhes o futuro com o fulgor das esperanças. Estes pensamentos trouxeram-lhe o sorriso aos lábios, e a confiança ao coração. Margarida, alvoroçada com as novas sensações recebidas, voltou-se para a irmã, que sorria, porque lhe estava a ler na alma. DINIS, Júlio. As pupilas do senhor reitor. Porto: Civilização, s/d. 16 II. Daniel e Margarida: o cumprimento das juras de amor eterno 2. O romance português As pupilas do senhor reitor, de Júlio Dinis, narra a história de amor de Daniel e Margarida, partindo da infância do casal e de um juramento de união eterna. A partir da leitura dos excertos reproduzidos antes, procure responder às questões propostas a seguir, relacionando as cenas apresentadas com a narrativa do romance A Moreninha. a) Como o primeiro amor aparece caracterizado no romance de Dinis? b) Como a promessa de amor eterno, feita na infância, é retomada nas cenas finais do romance de Dinis? c) Qual a semelhança existente entre os casais protagonistas dos romances em questão? 17 TEXTO 8 Eu sei que vou te amar Eu sei que vou te amar Por toda a minha vida eu vou te amar Em cada despedida eu vou te amar Desesperadamente, eu sei que vou te amar. E cada verso meu será Pra te dizer que eu sei que vou te amar Por toda a minha vida. Eu sei que vou chorar A cada ausência tua eu vou chorar Mas cada volta tua há de apagar O que esta ausência tua me causou. Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver A espera de viver ao lado teu Por toda a minha vida. TEXTO 7 Jura Jura, jura, jura pelo Senhor Jura pela imagem Da Santa Cruz do Redentor Pra ter valor a tua... Tom Jobim e Vinicius de Moraes (1972) III. JURAMENTOS DE AMOR NA MÚSICA POPULAR Jura, jura, jura de coração Para que um dia Eu possa dar-te o amor Sem mais pensar na ilusão Daí então dar-te eu irei O beijo puro da catedral do amor Dos sonhos meus Bem junto aos teus Para fugirmos das aflições da dor José Barbosa da Silva (Sinhô), 1928 3. Para finalizar esta seção, foram selecionadas duas canções representativas do repertório popular da música brasileira do século XX. As letras evidenciam a permanência da temática das juras de amor eterno e permitem estabelecer diálogos com a ficção romântica do século XIX. Com base nos textos lidos, responda às questões a seguir: a) Que semelhanças podem ser verificadas entre as duas letras de música? 18 b) Que relação as canções escolhidas estabelecem com a temática dos romances A Moreninha e As pupilas do senhor reitor? c) É possível afirmar que existe uma permanência de temas românticos nas duas canções selecionadas? Justifique sua resposta. LEITURA 3 O INDIANISMO NA LITERATURA ROMÂNTICA BRASILEIRA: ENTRE A EMOÇÃO, O HEROÍSMO E A NATUREZA 19 Os capítulos IX e X de A Moreninha inserem, no conjunto do romance, a narrativa de um episódio mítico que espelha o amor dos protagonistas Augusto e Carolina. Desse modo, o ponto de partida da presente seção é um trecho da história lendária de Ahy e Aoitin, o casal indígena que, em um passado intemporal – no paraíso edênico anterior à chegada dos colonizadores portugueses –, figura entre os primeiros habitantes do Brasil e, portanto, entre os antepassados de toda a nação brasileira. Essa lenda introduz no romance A Moreninha – cujas personagens provêm do meio urbano (na medida em que a obra se concentra no retrato dos costumes da burguesia brasileira do Segundo Reinado) – um elemento de caráter tipicamente nacionalista, valorizador da figura do indígena brasileiro. Esse procedimento pode ser igualmente observado na produção poética da primeira geração romântica. Para representar esse possível diálogo, foi selecionado um fragmento do romance O guarani, de José de Alencar, no qual são destacados os valores heróicos do bravo guerreiro Peri (sempre pronto a arriscar sua vida para salvar a jovem portuguesa Ceci). O tema da representação do indígena na literatura romântica brasileira constitui o foco deste estudo. TEXTO 9 As Lágrimas de Amor (capítulo ix) – Eu lhe vou contar a história das lágrimas de amor, tal qual a ouvi a minha avó, que em pequena a aprendeu de um velho gentio que nesta ilha habitava. Era no tempo em que ainda os portugueses não haviam sido por uma tempestade empurrados para a terra de Santa Cruz. Esta pequena ilha abundava de belas aves e em derredor pescava-se excelente peixe. Uma jovem tamoia, cujo rosto moreno parecia tostado pelo fogo em que ardia-lhe o coração, uma jovem tamoia linda e sensível, tinha por habitação esta rude gruta, onde ainda então não se via a fonte que hoje vemos. Ora, ela, que até aos quinze anos era inocente como a flor, e por isso alegre e folgazona como uma cabritinha nova, começou a fazer-se tímida e depois triste, como o gemido da rola; a causa estava no agradável parecer de um mancebo da sua tribo, que diariamente vinha caçar ou pescar na ilha, e vinte vezes já o havia feito, sem que uma só desse fé dos olhares ardentes que lhe dardejava a moça. O nome dele era Aoitin; o nome dela era Ahy. A pobre Ahy, que sempre o seguia, ora lhe apanhava as aves que ele matava, ora lhe buscava as flechas disparadas, e nunca um só sinal de reconhecimento obtinha; quando no fim de seus trabalhos, Aoitin ia adormecer na gruta, ela entrava de manso e com um ramo de palmeira procurava, movendo o ar, refrescar a fronte do guerreiro adormecido. Mas tantos extremos eram tão mal pagos que Ahy, de cansada, procurou fugir do insensível moço e fazer por esquecê-lo; porém, como era de esperar, nem fugiu-lhe, e nem o esqueceu. Desde então tomou outro partido: chorou. Ou porque sua dor era tão grande que lhe podia espremer o amor em lágrimas desde o coração até aos olhos, ou porque, selvagem mesmo, ela já tinha compreendido que a grande arma da mulher está no pranto, Ahy chorou. E também porque nas lágrimas de amor há, como na saudade, uma doce amargura, que é veneno que não mata, por vir sempre temperado com o reativo da esperança, a moça julgou dever separar da dor, que a fazia chorar amargores, a esperança que no pranto lhe adicionava a doçura, e, tendo de exprimir a doçura, Ahy cantou. [...] Então ele não mais buscou sua piroga. Saindo da gruta, fez 20 um rodeio e foi, de manso, trepando pelo rochedo, até chegar junto de Ahy, que, com os olhos na praia do lado oposto, esperava ver partir o seu amante e ouvir o seu belo grito: – Sinto amar-te! Mas de repente ela estremeceu, porque uma mão estava sobre seu ombro: e quando olhou, viu Aoitin, que sorrindo-se, lhe disse num tom seguro e terno: – Tu me amas!? Ahy não respondeu, mas também não fugiu dos braços de Aoitin, nem ficou devendo o beijo que nesse instante lhe estalou na face. Desde então foram felizes ambos na vida, e foi numa mesma hora que morreram ambos. A fonte nunca mais deixou de existir e há ainda quem acredite que por desconhecido encanto conserva duas grandes virtudes... Dizem, pois, que quem bebe desta água não sai da nossa ilha sem amar alguém dela e volta, por força, em demanda do objeto amado. E em segundo lugar, querem também alguns que algumas gotas bastam para fazer a quem as bebe adivinhar os segredos de amor. 21 MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. São Paulo: Saraiva, 2008. (Clássicos Saraiva). I. A história de Ahy e Aoitin em A moreninha 1. Com base na leitura do episódio mítico de Ahy e Aoitin (que pode ser lido na íntegra das páginas 71 a 74 desta obra), responda às questões propostas a seguir: a) Qual a relação existente entre a história do casal indígena e a história de amor de Augusto e Carolina? b) Quais são os significados implícitos na configuração do espaço simbólico da gruta? c) De que forma é caracterizado o amor do casal indígena Ahy e Aoitin? d) Qual é a importância do mito de Ahy e Aoitin no contexto do romance romântico brasileiro? TEXTO 10 Dois dias depois da cena do pouso, por uma bela tarde de verão, a família de D. Antônio de Mariz estava reunida na margem do Paquequer. O lugar em que se achava era uma pequena baixa cavada entre dois outeiros pedregosos que se elevavam naquelas paragens. A relva que tapeçava essas fráguas, as árvores que haviam nascido nas fendas das pedras, e reclinando sobre o vale, teciam um lindo dossel de verdura, tornavam aquele retiro pitoresco. Não podia haver sítio mais agradável para se passar uma sesta de estio, do que esse caramanchão cheio de sombra e de frescura, onde o canto das aves concertava com o trépido murmúrio das águas. Por isso, apesar de ficar ele a alguma distância da casa, a família vinha às vezes quando o tempo estava sereno, gozar algumas horas da frescura deliciosa que ali se respirava. D. Antônio de Mariz, sentado junto de sua mulher, contemplava por entre uma abertura das folhas o céu azul e aveludado de nossa terra, que os filhos da Europa não se cansam de admirar. Isabel, encostada a uma palmeira nova, olhava a correnteza do rio, murmurando baixinho uma trova de Bernardim Ribeiro. Cecília corria pelo vale perseguindo um lindo colibri, que no vôo rápido iriava-se de mil cores, cintilando como o prisma de um raio solar. A linda menina, com o rosto animado, rindose dos volteios que a avezinha lhe fazia dar, como se brincasse com ela, achava nesse folguedo um vivo prazer. Mas afinal, sentindo-se fatigada, foi recostar-se em um cômoro de relva, que elevando-se no sopé do rochedo formava uma espécie de divã natural. Descansou a cabeça no declive, e assim ficou com os pezinhos estendidos sobre a grama que os escondia como a lã de um rico tapete; e o seio mimoso a arfar com o anélito da respiração. 22 23 Algum tempo se passou sem que o menor incidente perturbasse o suave painel que formava esse grupo de família. De repente, entre o dossel de verdura que cobria esta cena, ouviu-se um grito vibrante e uma palavra de língua estranha: – Iara! É um vocábulo guarani: significa a senhora. D. Antônio levantou-se; volvendo olhos rápidos, viu sobre a eminência que ficava sobranceira ao lagar em que estava Cecília, um quadro original. De pé, fortemente apoiado sobre a base estreita que formava a rocha, um selvagem coberto com um ligeiro saio de algodão metia o ombro a uma lasca de pedra que se desencravara do seu alvéolo e ia rolar pela encosta. O índio fazia um esforço supremo para suster o peso da laje prestes a esmagá-lo; e com o braço estendido de encontro a um galho de árvore mantinha por uma tensão violenta dos músculos o equilíbrio do corpo. A árvore tremia; por momentos parecia que pedra e homem se enrolavam numa mesma volta, e precipitavam sobre a menina sentada na aba da colina. Cecília ouvindo o grito erguera a cabeça, e olhava seu pai com alguma surpresa, sem adivinhar o perigo que a ameaçava. Ver, lançar-se para sua filha, tomá-la nos braços, arrancá-la à morte, foi para D. Antônio de Mariz uma só idéia e um só movimento, que realizou com a força e a impetuosidade do sublime amor de pai, que era toda a sua vida. No momento em que o fidalgo deitava Cecília quase desmaiada sobre o regaço materno, o índio saltava no meio do vale; a pedra girando sobre si, precipitada do alto da colina, enterrava-se profundamente no chão. Foi então que os outros espectadores desta cena, paralisados pelo choque que haviam sofrido, lançaram um grito de terror, pensando no perigo que já estava passado. Uma larga esteira que descia da eminência até o lugar onde Cecília estivera recostada, mostrava a linha que descrevera a pedra na passagem, arrancando a relva e ferindo o chão. D. Antônio, ainda pálido e trêmulo do perigo que correra Cecília, volvia os olhos daquela terra que se lhe afigurava uma campa, para o selvagem que surgira, como um gênio benfazejo das florestas do Brasil. O fidalgo não sabia o que mais admirar, se a força e heroísmo com que ele salvara sua filha, se o milagre de agilidade com que se livrara a si próprio da morte. ALENCAR, José de. O guarani. São Paulo: Melhoramentos, 1962. II. A bravura do índio Peri 2. No conjunto das obras indianistas do Romantismo brasileiro, o romance O guarani, de José de Alencar, merece lugar de destaque. Nessa obra, a configuração do índio como símbolo do herói nacional, bravo e guerreiro, é emblemática. As questões abaixo permitem refletir sobre a representação do índio como herói brasileiro, em diálogo com o mito indígena presente em A Moreninha. a) De acordo com o trecho reproduzido antes, quais são as principais características que permitem definir Peri como herói? b) Qual é a semelhança existente entre as caracterizações de personagens indígenas nos romances de Alencar e Macedo? c) Em que medida ambos os autores colaboram para o projeto romântico de constituição de uma literatura nacional? PESQUISE E POSICIONE-SE O romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, permite levantar questionamentos acerca da permanência de valores românticos nos dias atuais. Com base no estudo realizado a respeito da obra, reflita sobre as questões propostas a seguir. 24 • Que mudanças podem ser observadas no comportamento dos adolescentes em relação às primeiras experiências amorosas? • Ainda existe a crença em um amor ideal e eterno? As pessoas ainda sonham encontrar a sua alma gêmea? • Que visões a sociedade atual tem a respeito do amor? Em que medida a concepção atual de amor se aproxima e/ou se afasta do conceito romântico de amor? • As atitudes da protagonista Carolina estão próximas ou distantes do comportamento atual das mulheres brasileiras? Justifique sua resposta. • O romance A Moreninha apresenta um retrato dos saraus e das festas de salão do século XIX, característicos da vida da burguesia brasileira no Segundo Reinado. Esses eventos eram muito freqüentados pelos adolescentes do período. Em que medida essas festas se aproximam e/ou se afastam dos eventos freqüentados pelos jovens de hoje? 25