ARTES CÊNICAS PROVA DE HABILIDADE ESPECÍFICA ATUAÇÃO/INTERPRETAÇÃO TEXTO MASCULINO ELE: Vou botar uma música para ela não ir, pretexto, para ela ficar sempre ali de silhueta olhando a cidade lá embaixo, eu vendo na contraluz do sol a anca, perna para sempre, nunca mais partir, ficar olhando, mistério das pernas perfeitas, o mistério das pernas perfeitas, e vai ficar congelada pela música, Beethoven, jazz, B-52, violino, um violino feito o corpo dela que treme um pouco, um vento no cabelo, meu Deus, que linda, estou ficando de pau duro, um violino, vou botar um violino... – Claro... uma das coisas que me acalmam é que eu sei que é bom pra você se separar de mim... aliás, eu acho que te torturava com uma bondade patológica em relação a você. Deixa eu explicar uma coisa: eu acho que estou com a consciência limpa de nunca ter querido o teu mal, eu te olhava sendo objeto do meu amor e ficava inquieto pensando “Esta mulher está sendo torturada pela minha bondade”, eu te dava um mundo muito protegido, eu pensava: “Estou cometendo um crime, estou impedindo que ela conheça a dura face da vida, eu não posso continuar bancando a mãe para ela”, pois eu tinha uma compulsão para te tratar bem, mas eu sabia que estava errado, aliás, eu quero te pedir perdão por isso, o único perdão que eu quero é que você me perdoe de ser bom! Me perdoa de ser bom!!! Trecho extraído da peça “Eu Sei Que Vou Te Amar”, de Arnaldo Jabor. São Paulo: Círculo do Livro, 1986. p. 106 e 16. ARTES CÊNICAS PROVA DE HABILIDADE ESPECÍFICA ATUAÇÃO/INTERPRETAÇÃO TEXTO FEMININO ELA: Por que ele está absolutamente calmo? Calmo com a minha presença e eu me sinto abraçada sem que ele me toque? Eu me sinto dormindo em seu colo apesar de estar longe dele, eu estou em seus braços, sem estar lá. Somos dois bichos calmos, um casal de bichos, juntos e distraídos, seguros, irracionais. E, no entanto, eu vou ter de ir embora... por que eu vou ter de ir embora? A porta está lá pronta para ser aberta, e a rua, meus pés vão descer a rua, e eu vou ver cada fragmento do chão, cada miséria do chão da cidade... – Quer dizer que o senhor é o defensor do mundo harmônico e eu sou a praga... a poluição? Ou seja: o senhor é bom... e eu sou má! E por que nos momentos de amor que você tem por mim eu estou sempre dormindo, feito morta? Aliás, quase me matou com a serpente pra contemplar a minha paz!... Você queria que a cobra me envenenasse e eu morresse ali em convulsões, ali diante do poente! É isto que você queria! Teu mundo perfeito é o seguinte: você livre me observando e eu dormindo, ou morta, ou eu em estado de coisa, parada feito um objeto dos teus sonhozinhos poéticos baixo nível... não tens nenhuma lembrança de mim andando na rua? Comendo cachorroquente? Dando mamadeira para nosso filho? Eu também contemplei o doutor dormindo enquanto eu trocava fraldas! Eu sou boa! E você é mau! Trecho extraído da peça “Eu Sei Que Vou Te Amar”, de Arnaldo Jabor. São Paulo: Círculo do Livro, 1986. p. 93,94 e 47,48.