Planejamento Participativo em uma Escola Municipalizada Gláucia dos Santos de Souza Orientadora: Ana Cristina Guimarães Rio de Janeiro 2004 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Pós - Graduação "Lato Sensu" PROJETO A VEZ DO MESTRE Planejamento Participativo em uma Escola Municipalizada Monografia de final de curso apresentada na Universidade Cândido Mendes (UCAM - Centro), como requisito parcial para obtenção do grau de Pós-Graduação em Administração Escolar. Por: Gláucia dos Santos de Souza Agradecimentos •Agradeço à Deus em primeiro lugar; •A minha mãe, por me apoiar em mais esse projeto; •A todos os professores do curso PósGraduação em Administração Escolar que contribuíram para o meu crescimento intelectual; •Aos companheiros Cândido Mendes, da pela Universidade luta e por acreditarem na formação especializada de profissionais de Educação. Epígrafe O Planejamento Participativo é compreendido como processo de ação participativa grupal com "pessoas politicamente interagindo em função das necessidades interesses e objetivos comuns". A perspectiva, em vivenciá-lo, é a de proporcionar maior envolvimento na ação educativa considerada como responsabilidade de todos os membros da Comunidade Escolar. (DALMÁS, Ângelo. Planejamento Participativo na Escola. Prefácio de Vianna, 7ª. ed - Vozes, 1986, p.18) Resumo Esta pesquisa tem como objetivo apresentar o planejamento como a etapa mais importante do projeto pedagógico, porque é nela que as metas são articuladas às estratégias e ambas são ajustadas às possibilidades reais. O planejamento escolar é um processo de racionalização, organização e coordenação da atividade do professor, que articula o que acontece dentro da escola com o contexto em que ela se insere.Trata-se de um processo de reflexão crítica a respeito das ações e opções ao alcance do professor. Por isso a idéia de planejar precisa estar sempre presente e fazer parte de todas as atividades-senão prevalecerão rumos estabelecidos em contextos estranhos à escola e / ou ao professor. Sumário METODOLOGIA ................................................................................................. 06 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 07 CAPÍTULO I - PREPARANDO O PROCESSO DE PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO ............................................................................................... 08 CAPÍTULO II - PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO EM UMA ESCOLA ................................................................................................................................. 12 CAPÍTULO III - ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DO PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO NA E.E. CEL. MOREIRA DA SILVA (MUNICIPALIZADA) ......................................................................................... 22 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 32 ANEXO .................................................................................................................. 33 FOLHA DE AVALIAÇÃO .................................................................................. 35 Metodologia Mudanças rápidas de cenário em escala mundial inseridas em ambientes de alta turbulência e tecnologias de comunicação avançado em velocidades crescentes, poderiam supor necessidades de menos "interface pessoal"quando lida - se com planejamento estratégico de longo prazo envolvendo grupos com alto grau de diversidade. O que verifica - se, na clientela da E.E. Cel. Moreira da Silva (Municipalizada), no entanto, é um interesse cada vez maior na criação e desenvolvimento de ambientes de diálogo estruturado entre os mais diversos segmentos sócio e econômicos em interação, ou seja, necessita - se de mais e não menos interface pessoal. Enquanto metodologia participativa baseada no aprendizado de sistemas inteiros, A criação de uma visão de futuro compartilhada permite abordar a complexidade existente entre sistemas abertos, procurando encontrar as bases em comum presentes na diversidade e orientadas fundamentalmente para o futuro. Criar um ambiente participativo desde a fase de planejamento, garantindo legitimidade dos atores que criarão seu próprio futuro, é bastante distinto do processo tradicional de apontar "de cima para baixo" os que aparentemente possuem maiores atributos de planejamento. Neste sentido, o planejamento, desenvolvido na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) enquanto instrumento democrático de participação efetiva, contribuem para o rompimento com a dicotomia entre os que "pensam"e os que "fazem"ainda tão presente nas nossas estruturas organizacionais. Sabe - se ainda, que as pessoas tendem a se relacionar de forma mais comprometida com planos que elas mesmo ajudaram a construir. 06 Introdução O planejamento participativo, compreendido como processo de ação participativa grupal, com pessoas interagindo em função de necessidades, interesses e objetivos comuns, é , no momento, a metodologia mais eficaz no que tange ao envolvimento e engajamento das pessoas de uma comunidade escolar. Com uma reflexão sobre participação e uma proposta de planejamento participativo; a E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) - localizada em Mangaratiba - RJ proporciou processos de elaboração e vivência do mesmo, fez as devidas avaliações e apresentou exemplos, contribuindo, assim, para o enriquecimento, aprofundamento e vivência do planejamento participativo na educação formal. O estudo se justifica pela intenção de proporcionar uma compreensão ampla de planejamento, numa perspectiva utópica, levando-se em conta o entendimento explicitado no opção de pessoa educação e sociedade. Com base nas perspectivas,mantém-se coerência para a concepção de planejamento. Salientando-se aspectos que parece importante serem considerados para o entendimento de metodologias e processos e processos de planejamento que se direcionam na perspectiva utópica. Desta forma o: Capítulo I busca determinados fins, relacionando alguns meios necessários para atingir o planejamento. O capítulo II aborda o planejamento como um instrumento que possibilita ações mais complexas, produtivas e eficazes. O capítulo III revela uma conduta comprometida, contínua e consciente quanto ao Planejamento Participativo na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada). 07 Capítulo I Preparando o Processo de Planejamento Participativo O processo de planejamento participativo, na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) questiona as dinâmicas tradicionais de planejamento, nos mais variados campos de sua prática.Provoca inversão de relações do planejamento tradicional. No processo tecnocrático são verticalistas, enquanto que, no participativo, horizontalistas. Com o aparecimento da visão humanista da pessoa, surge e cresce nova proposta de planejamento, condizente com esse valor. As relações horizontalistas são valorizadas e assumidas. Decidir-se pelo processo participativo é assumir a pessoa como valor essencial e agente do processo. Contrasta com a visão tecnocrática e o posicionamento utilitarista vivenciado pela sociedade atual, segundo a qual a pessoa é objetivo e valor de produção. Opor-se a isto,assumindo a nova proposta, é expor-se a ser rejeitado na ação educativa. Por não adequar-se ao esquema social do mundo capitalista, o planejamento participativo, em uma instituição escolar, com freqüência, é relegado, bem como os que o coordenam. Os envolvidos sofrem restrições e críticas, sendo até afastados de seus cargos e ou transferidos de escola. O reduzido número dos que assumem o planejamento participativo como processo, na escola, encontram-se espalhados pelo Brasil como pequenas ilhas em meio a um infindável oceano. A inviabilidade de encontros e seminários nacionais, para o aprofundamento e partilha, considerando os custos e as distâncias,não permite instalar um processo de reflexão ampla e provocador de propostas desafiadoras, que atentem para o aprofundamento e o estabelecimento de metas unificadas em âmbito nacional. A reflexão, feita sobre as dificuldades que se encontram no processo de planejamento participativo, estabelece a base para se proporem algumas perspectivas de solução. Apresentam-se algumas alternativas de superação das dificuldades apontadas. 08 É fundamental que sejam assumidas, criativamente, como desafio, pelos participantes do processo participativo. De acordo com VIANNA (1986) três são as tarefas possibilitadoras: • sensibilizar não apenas para os problemas dos participantes, mas também para a continuidade de um trabalho participativo, como vistas à solução dos problemas; • provocar posicionamentos críticos sobre a realidade em que os membros estão inseridos; • suscitar motivação com vistas a transformar a realidade de maneira consciente e crítica na perspectiva dos objetivos assumidos. Cabe à equipe, de maneira audaz e decidida, incentivar e desafiar o grupo para o compromisso e a criatividade, colocando-o em contato com o diferente, com o imprevisível, para construir História, para mudar os rumos da História. Superação do medo do novo: ao se iniciar um processo de planejamento participativo vão se delineando, aos poucos, dois grupos distintos, entre os participantes. O primeiro e o maior, o dos motivados, que se envolvem e assumem o processo. O segundo, um grupo menor, formado por aqueles que a incerteza e o desconhecimento do futuro não desafia, mas deprime e leva a permanecer como estão: "Será que vai dar certo";"Para que radicalizar tanto?";"Até agora sempre deu certo, para mudar?";"Vamos modificar alguma coisa e todos estaremos contentes". E assim por diante. O passado dá segurança. Prefere-se a tranqüilidade aos riscos, a escravidão do passado á liberdade de criar. Há sempre a conotação de infantilidade nesta atitude. As crianças só aceitam ir com conhecidos, afastando-se dos desconhecidos. O novo é imprevisível. O futuro, uma incógnita. No entanto, eles nos aproxima do desejado. Trata-se de imitar os jovens em sua criatividade, na busca e no enfrentar os desafios. O passado sustenta e mantém a passividade. O futuro provoca e desafia. Por que teme-lo? Ser criativo é o grande desafio. Compete-lhe criatividade manter viva a chama dos ideais, dos valores e das opções. 09 O enfoque participativo é entendido como um processo estruturado e sistematizado de mudanças nas relações e práticas de trabalho, proporcionando: •Maior motivação e integração dos participantes; •Maior possibilidade do estabelecimento do consenso sobre os aspectos fundamentais da experiência e/ou temas em análise; •Maior conscientização acerca de sua participação e de suas atribuições para a definição ou redirecionamento das atividades; •Obtenção de informações sobre a percepção dos participantes em relação ao Plano, Projeto e/ou ao que está sendo definido; •Articulação entre o planejamento estratégico e o operacional podendo, então, de forma adequada ser definido, inclusive, modelo de gestão; •Maior possibilidade da montagem de um sistema de monitoria bem articulado com o planejado. A condução fundamenta-se na comunicação, participação, consenso e tomada de decisão. Para tanto, usa-se técnicas de moderação e visualização. Pretende-se, apresentar uma síntese dos procedimentos metodológicos que foram desenvolvidos, na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) para alcançar os objetivos da pesquisa. O processo de ação-reflexão-ação é posto em prática através do método ver-julgar-agir, para verificar o quanto a prática se próxima do ideal desejado. Segundo Dalmás (1999)o planejamento relaciona-se com a vida diária do homem. Vive-se planejando. De uma forma ou de outra, de uma maneira empírica ou científica, o homem planeja. Algum grau de planejamento é, e tem sido, conatural a toda atividade humana. Sempre que se buscam determinados fins, relacionam-se alguns meios necessários para atingi-los. Isto, de certa forma, é planejamento. No dia-a-dia enfrentam-se situações que exigem planejamento, porém nem sempre formalizado. No momento em que a realidade se torna mais complexa, obriga-se a uma maior sistematização de pensamento e de ação para poder compreendê-la e transformá-la. Pelo pensamento (reflexão), o homem desenvolve níveis cada vez mais aprimorados de discernimento, compreensão e julgamento da realidade, o que lhe 10 favorece uma conduta comprometida com novas situações da vida Pelo planejamento, o homem organiza e disciplina a ação, tornando-a mais responsável, partindo sempre para ações mais complexas, produtivas e eficazes, tendo presente que "... a crítica permanente em que implica o planejamento, transforma-o num instrumento que possibilita a superação das rotinas, dando à ação humana uma reorganização contínua e consciente"(ELAP. 1977). Assim, é fundamental ter presente e bem definido o horizonte que se pretende atingir e planejar a escola. Considerar o tipo de escola que deve ser para acontecer o homem, a sociedade e a educação que pretende-se. Considerar as relações dentro da escola, os conteúdos a serem trabalhados, as metodologias, a avaliação (...) Tudo é parte de um TODO e tudo partindo do todo deve convergir para ELE. O centro de todo o processo educativo é o aluno, participante e sujeito de sua educação. O educando não é o objetivo de educação mas o sujeito de seu desenvolvimento. Ele é "o principal artífice do seu êxito ou do seu fracasso" Ao ter presente estes conteúdos, parte-se para a elaboração do planejamento, centrado na pessoa participante, livre e responsável. Sabe-se que o planejamento participativo é uma nova maneira grupal de decidir e de agir, ante o difícil momento em que se encontra a educação brasileira. Mesmo assim, renova-se a crença de que o planejamento participativo, assumido como processo transformador, é o caminho mais viável para uma renovação das estruturas e das relações, em uma instituição de educação formal. 11 Capítulo II Planejamento Participativo em uma Escola A participação consiste na vivência coletiva e não na vivência de cada indivíduo. A reflexão comunidade da prática participativa constitui o momento culminante e desencadeador do processo educativo. Para Gutiérrez (1993, p.29) "a educação é uma ação transformadora e consciente que supõe dois momentos inseparáveis: o da reflexão e o da ação". Com isto, pode-se entender que, quando a comunidade reflete sobre casos concretos da problemática organizativa e produtiva de seu dia-a-dia, ela achará, gestionariamente, as melhores e mais adequadas soluções para estes problemas. Esta participação conduz à gestão, pelos próprios interessados, tanto do processo produtivo como no processo organizacional. Na aprendizagem da participação, o aprendiz fica sabendo como detectar tentativas de manipulação bem como a "distinguir a verdadeira participação da simples consulta ao povo"(Bordenave, 1994, p. 73). A comunidade deve mudar sua postura de "recebimento de favores"para aquela de reivindicação de direitos e tentar achar soluções próprias para os problemas que afligem os seus membros. Ao se fazer o diagnóstico participativo sobre uma comunidade, o que se busca é a geração de informações e conhecimentos necessários para a identificação dos problemas e necessidades enfrentadas pelo grupo comunitário. Num momento inicial, "o diagnóstico participativo é um processo contínuo que gera um conhecimento que se enriquece na medida em que a realidade se transforma"(Gutiérrez, 1993, p. 31). Em um segundo momento, o diagnóstico participativo objetivará as propriedades, bem como identificará os recursos (humanos e financeiros) para sua consecução, formulando quais os objetivos das ações. O terceiro passo, é quando envolve-se os beneficiários no processo de pesquisa, proporcionando a objetivação de necessidades sentidas, bem como de necessidades reais não sentidas. O próximo passo é determinar como cada um dos problemas serão abordados. Para agir sobre uma realidade é preciso conhece-la e, para que isto ocorra é 12 preciso levar em consideração ao mesmo tempo que deve ser dado ao grupo estudado a oportunidade de conhecer suas percepções, seus valores suas crenças, bem como seus temores e aspirações para o futuro. Desta maneira, a própria comunidade, organizadamente, poderá levantar os dados necessários para conhecer sua realidade. Quando envolve-se os beneficiários no processo de pesquisa, estamos proporcionando a objetivação de necessidades sentidas, bem como de necessidades reais não sentidas. O planejamento ideal é aquele que envolve as pessoas como sujeitos a partir de sua elaboração, e com presenças constante na execução e avaliação, não apenas como indivíduos, mas sujeitos de um processo que os envolve como grupo, visando o desenvolvimento individual e comunitário. Segundo VIANNA (1986) insiste na perspectiva do homem como ser social que partilha vivências e que busca realização pessoal na participação comunitária. Propõe: Uma nova forma de ação, cuja força reside na participação de muitas pessoas, politicamente agindo em função de necessidades interesses e objetivos comuns. Um planejamento flexível, adaptado a cada situação específica que envolva decisões comunitárias e que se constitua em processos político vinculado à decisão da maioria. Um planejamento que tenha por objetivo final a formação do brasileiro, individual e socialmente considerado, a partir do engajamento da maioria para mudanças estruturais. (p.18) A mesma autora (1986, p. 23) entende que o planejamento participativo se constitui numa atividade de trabalho, que se caracteriza pela integração de todos os setores da atividade humana social, num processo global, para a solução dos problemas comuns. O diálogo-comunicação é elemento essencial no processo de intercâmbio de vivências, experiências, interações, diálogos entre os participantes. Visa-se um planejamento centrado na pessoa, livre e crítica, sujeito de seu desenvolvimento, mas com decisões comunitárias; um processo grupal e participativo que considere as pessoas, com seus valores, sentimentos e situações de ordem sócio-econômico-político-cultural. Este modelo de planejamento, adotado pela E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) obriga a um posicionamento crítico e de participação dos 13 envolvidos, uma consciência crítica da realidade, determinando uma ação coerente e eficaz, a fim de promover as mudanças e as transformações desejadas, com vistas a uma aproximação do ideal projetado. É assumir a práxis, que no entender de FREIRE "é a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo" (1875, p. 40). Sendo um processo de intervenção na realidade, será eficaz na medida em que for comunitário e criativo, aproveitando o conhecimento e o discernimento do grupo, bem como, as soluções que o mesmo apresenta. É o planejamento do grupo-comunidade, vivenciando o processo de açãoreflexão-ação, através do método ver-julgar-agir. Sendo instrumento para o trabalho comunitário por meio de discussões e exercícios que auxiliam a ampla compreensão de uma realidade, analisa-se um problema central e as propostas para soluciona-lo, resultando na elaboração de um plano de ação para combatê-lo. A participação conjunta dos moradores, comitês, instituições governamentais e não governamentais cria elos que promovem compromissos sociais. "A ética de compromissos é a alavanca da mudança" (Brasil 1998, p. 109). Para Cury (1998, p. 65) "os três grandes eixos de um projeto social são: seu planejamento, implementação e avaliação". Não distribuídos de forma linear, eles se interelacionam e ocupam diferentes espaços e tempos na construção desse projeto, assumindo, cada um a seu tempo, o lugar de destaque. O ato de planejar permite a avaliação da situação como um todo, dando a possibilidade de prever as dificuldades e os modos para superá-las. O planejamento aumenta a compreensão do trabalho a ser realizado, permite ver sua complexidade e suas dependências. Também como um facilitador da comunicação grupal, pois mostra o papel de cada dos atores envolvidos no processo o que cada um pensa e qual será o modo de ação, gerando, assim, compromissos e responsabilidades mútuas. Segundo Demo (1996, p. 45), são três os componentes básicos do Planejamento Participativo; 1) formação da consciência crítica e auto-crítica na comunidade, através da qual se elabora o conhecimento adequado dos problemas que afetam o grupo. A comunidade formula, com seu saber e em consórcio com o saber técnico um 14 posicionamento crítico diante da realidade. 2) Dentro de um contexto planejado e em comum identifica e prioriza os problemas, formula estratégias concretas de seu enfrentamento encontra caminhos alternativos e propostas de negociação; 3) A organização do grupo é a estratégia para os dois passos anteriores. Sendo a escola (Municipalizada) um segmento da sociedade. A E.E.Cel. Moreira da Silva comprometeu-se na manutenção relacionados do mundo atual. Em outras palavras, dos esquemas comprometeu-se com a continuidade das relações de dominação e de exploração vigentes, alimentando, constantemente, a opressão e a injustiça. A transformação desta sociedade apontada como o primeiro enfoque sobre tal da educação libertadora. A vivência de uma metodologia participativa na qual as relações solidárias de convivência pontificam, provoca, mesmo que lentamente, a concretização de uma nova ordem social, iniciando pela parcela menor, que é a escola. É preciso proporcionar à pessoa a possibilidade de poder vivenciar uma nova dimensão da vida social, na qual não participe só na execução, mas também discussão dos rumos da instituição escolar. Em outras palavras, presença ativa e criativa na elaboração, execução e avaliação, isto é, na decisão e no fazer do planejamento. O planejamento participativo na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) não poderia reduzir-se a integrar escola-família-comunidade, mas também visar a realização das pessoas e a transformação da comunidade, na qual a escola está inserida. A tradição educativa se firmou numa estrutura eminentemente verticalista. Redimensionar a administração escolar, para uma dimensão horizontal, é uma das dificuldades e, ao mesmo tempo, pressuposto para o planejamento participativo. O encontro de pessoas, por meio do diálogo e do debate, em que discutem , decidem e assumem as realidades comuns, provoca crescimento pessoal e comunitário, tornando possível uma educação escolar mais humana e mais participativa. Trata-se de uma nova maneira de decidir e de agir, a fim de tentar uma saída para a difícil situação em que se encontra a educação formal. 15 A comunidade escolar que se une em torno de uma "idéia-força, nuclear, ampla, complexa e abrangente"(Marques, 1987, p.188), através de uma ação dialógica, integradora e participativa de Homem, encara o participante como sujeito da história, respeitando-se sua dignidade e sua liberdade. Na vivência de um planejamento participativo, em uma escola, Vianna (1986, p. 31) aponta para dois riscos, a que este tipo de planejamento está sujeito, e para os quais deve-se estar atento: • o primeiro refere-se à assessoria especializada, que poderá, antes, durante e após o processo, agir em função da vivência pessoal, manipulando os interesses da maioria comunitária "determinando o que fazer, como, quando e por que decidir e agir"; • o segundo acontece quando a coordenação utiliza a informação e a comunicação para manipular, politicamente, a comunidade educativa, convencendo-a a aceitar seus projetos pseudo-sociais, e consultando-a apenas em aspectos secundários, criando a ilusão de participação, através da não reflexão dos problemas comunitários. Mantém-se, assim, uma adesão acrítica à programação. Apesar dos ricos, tem-se a convicção de que a escola é um lugar possível de educação consciente, crítica, criativa e participativa, desde que seus integrantes acreditem em um processo político de educação, e que possam produzir mudanças nas relações interpessoais e sociais. Segundo Vianna (1986, p. 38) confirma sua viabilidade, desde que os educadores estejam imbuídos de algumas qualidades básicas, afirmando ... ser o planejamento participativo um desafio para os verdadeiros educadores exigindo daqueles que pretendem realiza-lo muita disponibilidade, coragem, persistência, tenacidade, garra, espírito de luta. Não é trabalho impossível, mas plenamente viável, apesar de todos os empecilhos colocados pelo sistema e por educadores descompromissados com a tarefa que abraçaram como profissão: educar as novas gerações de brasileiros consciente e livres. O planejamento participativo,assumido como processo de crescimento pessoal e de transformação social, talvez seja o único caminho viável para se conseguir a renovação profunda das relações na educação formal. 16 Segundo FERREIRA (1984, p. 25) menciona três metodologias de planejamento, apontadas também por GANDIN (1988, p. 131) e SANDRINI (1988,p. 9), que anunciam linhas diferentes de ação que uma instituição pode assumir: a) o primeiro modo é planejar PARA a comunidade: neste modo de planejar, o poder é exercido de maneira autocrática, dominadora e até ditatorial. A participação na preparação e elaboração é nula. No que se refere à execução, é imposta e de modo idêntico quanto aos resultados. A gestão, neste modelo, é uma administração ou direção exercida por alguém e não por todos. É assumida por um pequeno grupo,uma parte, nunca o todo; b) um segundo modo de planejar é COM a comunidade: neste momento o poder está a serviço. A participação da comunidade, na preparação e elaboração do plano, é controlada. A execução do plano acontece a partir do consenso e do resultado de uma negociação. Neste modelo de planejamento existe a co-gestão. Há um pouco de participação da comunidade através das pessoas mais ou menos representativas. Este modelo de planejamento mostra, claramente, que, quem tem o poder nas mãos, cede alguma coisa, não o essencial, para significar que existe participação da comunidade no planejamento. Na realidade, a participação é insignificante e pequena. Às vezes, ilusória. O poder continua nas mãos de poucos, que o controlam constantemente; c) um terceiro modelo é o planejamento da comunidade: aqui o poder é exercido como um serviço. A gestão é da comunidade, e será chamada autogestão. A participação da comunidade na z`preparação, na elaboração do planejamento, em sua execução e em seu resultado é co-responsável e de comunhão. Este modelo é o ideal de planejamento de participação e de gestão. Só assim poderá acontecer participação comunitária para a transformação social em favor da justiça, da fraternidade e da libertação total. A preocupação, no planejamento participativo, se fixa no processo. O que importa é o crescimento das pessoas, a conscientização, seu desenvolvimento e realização pessoal. 17 Nesta perspectiva, cresce o valor da participação que se concretiza na metadologia de trabalho. A ação grupal, na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) reflete constantemente uma metodologia participativa, em que todos têm condições de se envolver ativamente no trabalho, com reflexos nos resultados alcançados pelo grupo. Assume-se o trabalho em comum e é realizado, cada um colaborando com a iniciativa e o esforço pessoal. É o grupo que está envolvido no todo do processo. Não há os que escrevem outros que executam e ainda outros que avaliam. Segundo GANDIN (1991, p. 51) reafirma o posicionamento de se vivenciar uma metodologia "que gere uma dinâmica em que a participação seja o procedimento normal das pessoas". Para que a participação aconteça, o mesmo autor (ibidem)orienta para se "organizar sempre o processo de modo que estejam presentes e interligados três momentos: -- o individual; -- o de subgrupo; -- o de plenário". Retorne-se FERREIRA (ibidem), para enunciar metodologias de participação no planejamento, já abordadas no subitem "Metodologia de Planejamento": a) planejar PARA a comunidade. Existe uma participação imposta na execução, sendo nula na preparação e na elaboração. A participação é de alguns que determinam para os demais; b) planejamento COM a comunidade. É uma participação controlada. É uma espécie de co-gestão; c) planejamento DA comunidade. Autogestão. A comunidade participa da preparação, elaboração, execução e avaliação do planejamento. Assim, o planejamento participativo busca romper a dominação, para assumir um posicionamento de tomada de decisões, para situações, perante as quais todos sejam sujeitos. Na perspectiva da participação não se decide para os outros, mas para si 18 (o grupo): "O que nós faremos?"As decisões são tomadas por todos: pelo grupo e para o grupo. É a autogestão concretizando-se. A escola não tem uma proposta libertadora explicitada. Este fato provoca posicionamento, com freqüência, individualista dos membros da Comunidade Educativa, dificultando a formação da unidade em torno de um mesmo fim. Pó não haver clareza sobre a proposta da instituição, e o que é esperado deles, os membros assumem posicionamentos pessoais, especialmente no trabalho em sala de aula. O envolvimento dos professores por uma educação libertadora acontece em poucos momentos: reflexão diária no início do período, na qual todos são convidados a participar, questionamentos específicos durante as reuniões pedagógicas mensais, textos com reflexões. Há boa aproximação professor-aluno, sobretudo através do diálogo e de alguns debates em sala de aula. No entanto, em geral, desenvolve-se uma ação educativa pautada por uma visão tecnocrática e tradicional. Prova disso são as aulas constantemente expositivas, com poucos debates e análises de textos, e um forte senso de memorização do conteúdo. O crescimento, na teoria pregada, é moroso. A direção procura assumir posicionamentos democráticos, delegando funções e decisões. Faz-se presente nas atividades e cobra responsabilidades. A descentralização está acontecendo. O horizontalismo está crescendo. O reflexo é percebido nas relações mútuas. Aumentam os encontros informais e os momentos de diálogo. O respeito mútuo se evidencia entre os membros da Comunidade Educativa. Existe um relativo controle sobre os Serviços de Orientação e sobre os professores. Há um regulamento específico para o controle disciplinar dos alunos que sofrem pressões, por exclusão de sala de aula, envio aos coordenadores disciplinares, avisos à família, matrícula condicionada e suspensões. A preocupação com a formação para a cidadania é bastante fraca. Os pais têm sua associação e escolhem seus representantes de turma. Os professores têm sua agremiação. Foi reativo Grêmio Estudantil e es realiza a escolha das lideranças de aula. A atuação de todos é quase imperceptível. É pouca a preocupação e o envolvimento com o próprio grupo. E quando acontece, se dá nas promoções de lazer. A consciência social é fraca, pois não há maior envolvimento com os 19 movimentos da comunidade local. As necessidades e preocupações da mesma são quase desconhecidas. A escola cede, algumas vezes, seu espaço físico. A maioria dos pais está praticamente ausente do processo educativo dos filhos. Orientam-se, muitas vezes, por valores ultrapassados ou na base do "levar vantagem", do consumismo, do TER. Pagam o colégio e com isto se dispensam de comprometer-se com a educação deles. Delegam a responsabilidade à escola. Fazemse presentes apenas em momentos comemorativos e datas festivas: Dia das Mães, dos Pais, Festa Junina ... É baixa a presença em reuniões e palestras. O currículo escolar está pouco voltado para as necessidades da clientela, pois esta é quase desconsiderada na definição do mesmo, visto que é definido antes do início do período escolar. A metodologia participativa está desabrochando. No início do ano letivo, os professores, a partir dos objetivos regimentais, elaboraram um diagnóstico da instituição. Mesmo limitado, proporcionou a eles o estabelecimento dos objetivos da comunidade escolar. Foi uma tentativa de elaboração conjunta do plano. Alguns professores empregaram a mesma técnica com alunos, para elaborarem os planos de sala de aula. Freqüentes são os trabalhos de grupo e debates em algumas disciplinas. Variadas são as técnicas de participação vivenciadas. Outros, no entanto, que estiveram ausentes das reuniões, vivem descompromissados, suas aulas são expositivas, com pouco envolvimento dos alunos. Esta contradição metodológica se reflete no desenvolvimento do senso crítico, pois há um grupo que não assume seu desempenho: pouco diálogo, autoritários, acomodados, tratam de maneira alienante os conteúdos, sendo meros repetidores do livro didático, que direciona e aliena. A causa disto talvez seja a insegurança no que se refere ao próprio conteúdo, metodologia específica e despreparo técnico-científico na disciplina, medo de mudar, falsa segurança, provinda dos anos de trabalho e da não atualização. Há esforços de crescimento e de formação pessoal por parte dos professores. Um bom grupo está cursando faculdade a nível de graduação ou de pós-graduação. É freqüente a presença de docentes em encontros e seminários. A maioria se faz presente nas reuniões mensais que a escola realiza. 20 Um bom grupo de professores demonstra crescimento na consciência crítica, numa postura político-pedagógico, face à busca pessoal e incentivo propiciado pela direção, por reflexões no início das reuniões, manhãs de formação, questionamentos nas reuniões, manhãs de formação, questionamento nas reuniões, palestras, debates. O método ver-julgar-agir é bastante praticado por eles. Em contrapartida, há outro grupo de docentes despreocupados com sua atualização, contentes com seu saber, descompromissados com os alunos, repetidores de um conteúdos ultrapassado, cobradores de memorização, e até fazendo piadinhas dos que manifestam preocupação com o social ou questionam a situação atual. Há bom nível de preocupação no que se refere à avaliação da aprendizagem. A maioria dos professores está atrelada a um sistema arcaico de avaliação. Para eles, avaliar é cobrar memorização nas provas e testes, dar nota, tirar nota por indisciplina, aprovar e reprovar o aluno. Desconhecem outro método de avaliar. Há confusão entre sistema de promoção e processo de avaliação. Pode-se concluir que, na perspectiva da Qualidade de Educação, há pouca unidade de ação na perspectiva libertadora. E o senso crítico em geral é fraco e os valores da justiça, da verdade, da liberdade e da fraternidade estão recebendo pouca consideração quanto à sua prática. Necessidades: a) Maior envolvimento da família no processo educativo; b) Explicitação do Referencial Teórico; c) Envolvimento crescente do aluno no processo educativo; d) Fortalecimento de uma formação crítica para a cidadania; e) Conhecimento e vivência da Educação Libertadora; f) Crescimento na prática da metodologia participativa. 21 Capítulo III Análise e Apresentação dos Resultados do Planejamento Participativo na E.E. Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) O presente capítulo apresenta e analisa os resultados da pesquisa realizada na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada), situada à rua Nilo Peçanha, nº 162, Centro - Mangaratiba/RJ. Se o objeto é assumir um processo, pelo qual se visa organizar a ação, em vista de um ideal que se busca, há necessidade de que os que se envolverem estejam suficientemente incentivados, a fim de que se sintam motivados para a participação. Na tarefa de despertar para a participação e o planejamento, é imprescindível que tenha consciência de que, como participantes do processo, são sujeitos e, por isso mesmo, em condições de comprometer-se e assumir. Antes de iniciar o processo, insiste-se em proporcionar ao grupo, um conhecimento e aprofundamento específicos do campo que se trabalhará. O planejamento participativo é um processo, cuja teoria e conteúdo se aprende ao vivenciá-lo. O processo participativo na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) visou envolver todas as pessoas da instituição escolar na busca comum e na responsabilidade pelo todo da instituição. A decisão de partir para a vivência do processo participativo na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) exigiu a opção para assumir sua prática. A construção de um planejamento participativo, em uma instituição de educação formal, tem, no seu primeiro momento ou em sua introdução, alguns requisitos necessários para que sede o inicio da caminhada. São aspectos a serem considerados na elaboração . a) fixação de diretrizes gerais, constituindo o conjunto das definições conceituais, dos objetivos fundamentais e de conteúdos sobre os aspectos teóricos que envolvem a realidade planejada. Estas diretrizes representam o IDEAL que se imagina para uma realidade específica. É a UTOPIA que desafia para o melhor. A utopia provoca um contínuo processo de planejar e 22 replanejar a fim de aproximar a realidade existente do ideal definido. Isto requer uma opção clara de homem, de educação e de sociedade. b) Diagnóstico: para este segundo passo do planejamento, o conhecimento da realidade é imprescindível, pois a elaboração depende de identificação da realidade e das condições existentes. c) Programação : no diagnóstico identificam-se as principais necessidades. Feito isto, define-se a programação para resolver os problemas, atender necessidades e reforçar avanços, a fim de transformar a situação existente. Ao ter presente estes conteúdos, a E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) partiu para a elaboração do planejamento, centrado na pessoa participante, livre e responsável. Sabe-se que o planejamento participativo visa uma nova maneira grupal de decidir e de agir, ante o difícil momento em que se encontra a educação brasileira. Mesmo assim, renova-se a crença de que o planejamento participativo, assumido como processo transformador, seja o caminho mais viável para uma renovação das estruturas e das relações, em uma instituição de educação formal. A escola preocupa-se em formar o aluno para uma sociedade competitiva buscando o melhor atendimento. A escola permanece com as portas abertas para que a comunidade participe ativamente de seus projetos políticos-pedagógico. Assim, a direção e a coordenação da E.E. Cel. Moreira da Silva (Municipalizada), localizada em Mangaratiba- Rio de Janeiro, à rua Nilo Peçanha nº 162, visa oferecer qualidade de ensino para os seus 749 alunos, apresentando educadores com posse de um conjunto de conhecimentos, técnicas, habilidades e acima de tudo competência. Seu horizonte visa a construção da cidadania que inclui a noção, em seu planejamento crítico e construção partilhada. Conscientes desta exigência, os participantes levantaram possíveis dificuldades e apontaram algumas alternativas de solução eficaz no que se refere ao acompanhamento do processo de planejamento participativo. Com isto, pretendeu-se evitar "receitas". E mesmo porque para uma dificuldade existem várias soluções possíveis. E também porque uma solução pode ser válida para várias dificuldades, de acordo com a realidade. E, assim aconteceu. 23 A Diretora Adjunta da E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada), senhora Valéria Walchan opina sobre a importância do Planejamento Participativo: Onde a escola busca a integração e a interdisciplinaridade, adequando e flexionando conteúdos, programações e posturas para o bem comum da Escola. Para que tudo aconteça ele não pode ser "definido"ou fechado, é uma linha contínua onde sempre em grupo, para haver uma avaliação e, ou reavaliação para traduzir de uma maneira organizada e democrática a linha de trabalho da Escola. O ser humano, criado à "imagem e semelhança de Deus", donde provém sua dignidade e liberdade, vive o amor na relação fraterna com as demais pessoas. Na perspectiva cristã , o homem é chamado, com seus irmãos, a plenificar-se em Deus, visando sua realização como ser humano e transcendente. Orientando seu destino, sujeito de seu próprio desenvolvimento, o ser humano faz história na unidade corpo-espírito e projeto sua plena realização. Sua consciência de ser superior ajuda-o a perceber seu passado, situar seu presente e organizar seu futuro. Neste situar-se, ele questiona, busca respostassoluções, propõe e realiza transformações num constante criar e recriar. Consciente de si, do outro e do mundo, a pessoa tem condições de posicionar-se criativamente ante a realidade, assumi-la e transformá-la, na perspectiva democrática e participativa. O homem é um ser livre. E a liberdade implica sempre naquela capacidade que temos, em príncipio, de dispor de nós mesmos a fim de irmos construindo uma comunhão e uma participação que hão de se plasmar definitivas, em três planos inseparável: a relação do homem com o mundo como senhor, com as pessoas como irmão e com Deus como filho (CELAM, 1979, nº 322). Vive, o homem, sua liberdade, posicionando-se ante os valores que lhe são constantemente propostos, em condições de aceitar ou negar, pois "como sujeito construtor da história, livre e solidário, é capaz de amar, mas também de resistir e recusar"(AEC-Br, 1990, p. 12). Ser de comunhão, necessita do outro para relacionar-se. O convívio grupal e a integração comunitária são essenciais. A pessoa politizada, consciente da realidade social, participa e se compromete na construção de uma nova ordem social. A liberdade é uma conquista, que implica em responsabilidade. Para FREIRE (1972) o homem busca libertação das situações que visam dominá-lo e domesticá-lo. Insere-se criticamente na realidade e exerce nela uma reflexão e uma ação transformadora. 24 Assumindo seu papel de agente comprometido com a história, a pessoa se engaja numa ação transformadora eficaz, embasada nos valores transcendentais (AEC-Br, 1990, p. 12), com "atitudes de amor pública, de vontade permanente de participação, de abertura ao outro, do poder de serviço e de encamação na realidade do povo". A sociedade se fundamenta no homem, sujeito do desenvolvimento pessoal e social. Opta-se por uma sociedade que "respeite e defenda os direitos individuais e sociais da pessoa e favoreça o exercício da cidadania" (AEC-Br, 1990, p.11) e estimule as relações democráticas e participativas, assegurando a liberdade de associação e organização. A construção de "uma sociedade livre, justa e solidária" (Constituição Brasileira de 1988, Art, 3, I) se baseia na dignidade da pessoa e no exercício de sua organização e participação nas estruturas sociais. Assim sendo, a pessoa é desafiada a comprometer-se, a dar sua contribuição, para construir uma sociedade na qual os valores da justiça, da fraternidade e da participação sejam respeitados e assumidos. Uma sociedade provocadora de um processo sócio-cultural consciente, livre, criativo, responsável e participativo, voltado para a realidade e orientado para a valorização do homem. Nesta perspectiva, considera-se a posição salientada no Marco Referencial das Comunidades Educativas Lassalistas (MR-CELs, 1987, nº 4.4.8): "Na construção de uma sociedade livre, justa e participativa, imposta serem respeitados os direitos básicos do pluralismo e da liberdade". Idealiza-se uma sociedade na qual os valores da justiça, da fraternidade, da participação, da verdade, sejam respeitados e assumidos. Projeta-se uma sociedade provocadora de "um processo cultural consciente, livre, criativo, responsável, coerente e participativo"(MR-CELs, 1987, nº 4.4.4) e que esteja "voltada à nova realidade, orientada para a valorização do homem e que contribua para o engrandecimento dos valores regionais e nacionais"(idem 4.4.3). Enfatiza-se a afirmação do MR-CELs: A sociedade deve unir esforços para denunciar e combater toda forma de manipulação, alienação, degradação moral e consumismo permissivista, veiculados sobretudo pelos Meios de Comunicação Social (ibidem, 4.3.6). 25 Os bens econômicos constituem elementos valiosos para a realização da pessoa. Visa-se, pois, uma sociedade equânime na distribuição dos mesmos e no plano de atendimento às necessidades básicas da população. Ao mesmo tempo, Toda pessoa tem o direito e o dever de contribuir para o BEM COMUM através do seu trabalho, o qual deverá ser visto como meio de realização da pessoa e da sociedade (ibidem, 4.2.6). O anseio de todos é por uma sociedade democrática. Nesta, a organização e a participação, aliadas à consciência dos direitos e dos deveres, constituem elementos indispensáveis para o exercício da cidadania. Este só é possível numa sociedade democrática, na qual a organização e a participação são elementos essenciais. São manifestações desta vivência democrática a autogestão administrativa, o planejamento participativo, os processos eletivos, os movimentos sindicais. A vivência política, alicerçada no BEM COMUM, promove a humanização e a construção de uma nova sociedade e, ao mesmo tempo, assume a defesa dos direitos da pessoa, sempre que forem desrespeitados, e favorece o crescimento dos indivíduos com vistas à sua plena realização. A educação escolar desempenha importante papel no atual momento histórico brasileiro, tanto em seu aspecto transformador, quanto no criativo, na busca e na promoção de uma nova proposta educacional. Ao assumir o homem como sujeito da história, a ação educativa corresponde é a que considera a pessoa como sujeito de seu processo de desenvolvimento pessoal e social, despertando-lhe a consciência do crescimento em todas as dimensões. A educação é um meio para que o homem, livre e responsavelmente, assuma a plenificação de sua humanidade. A educação favorece e visa uma intensa vivência solidária, pela compreensão e respeito aos direitos pessoais, à organização da comunidade e ao pleno exercício da cidadania . As relações interpessoais, pautadas nos valores do amor e da justiça, orientam a aplicação da metodologia e da avaliação, bem como a seleção das vivências experiênciadas no processo educativo. Neste processo, segundo AEC-Br, 1990, p. 15), ocupará espaço especial 26 o diálogo permanente que desmascara a oposição ou o confronto entre os que sabem, entre os que ensinam e os que só aprendem, entre os que detêm o poder e os que apenas executam tarefas determinadas e prestam contas. Dá-se, assim, o envolvimento ativo do educando em seu processo de aprendizagem, através da participação crítica e criativa na elaboração e a realização do currículo escolar. A educação (MR-CELs, 1987, p. 28) Capacita a pessoa à autodeterminação responsável e criativa. Ajuda na busca, sem detrimento do bem comum, do desenvolvimento de suas potencialidades e da realização de sua própria identidade. A escola, lugar de envolvimento e de compromisso, pautará sua ação por uma educação que favoreça a participação de todos na busca comunitária do bem comum, na perspectiva sócio-política e, ao mesmo tempo, a assunção da "autodeterminação responsável", no plano individual. Além disso, a educação formal favorece o desenvolvimento do senso crítico e criativo pelo processo de ação-reflexão-ação, vivenciando o método ver-julgar-agir, comprometendo-se a ser, viver e de conviver, e na vivência de valores tais como os da verdade, da justiça da partilha, da solidariedade e da igualdade. A educação (CELAM, 1979) nº 1027 visa "personalizar e humanizar o homem". Por isso enfatiza a fraternidade, o diálogo, a verdade, a partilha, a solidariedade, o respeito mútuo e a justiça, como valores inerentes ao ser humano, a fim de que se liberte e comprometa a pessoa consigo mesma, com outro sendo agente de mudanças na instituição e na sociedade. A educação tem por finalidade ser ajuda no crescimento das pessoas para vivenciarem seu projeto de vida. Reafirma-se o posicionamento e opção de Homem, de Sociedade e de Educação, assumidos no Marco Doutrinal, com os quais há compromisso na perspectiva da Educação Libertadora. Ela converte o educando em sujeito do crescimento pessoal, tendo como conteúdo a sociedade em que vive, com vistas a dar-lhe condições de libertar-se de toda a escravidão que o oprime e de realizar-se como pessoa. 27 Assume-se a educação que considera a realidade sócio-econômico-política da pessoa, bem como suas crenças e seus valores, suas possibilidades e seus limites. Tem como característica especial o posicionamento dialético, frente aos conflitos e contradições pessoais e sociais. A escola opta por uma educação formal, na qual o homem se realiza como ente histórico, que se faz na história, na busca de sua identidade na relação consigo, com o outro, com o mundo e com o transcendente. Opta-se por um processo educativo que promove, constantemente, nos educadores e educandos, os valores da justiça, fraternidade, solidariedade, bem comum, liberdade responsável, participação criativa, respeito e serviço mútuo. Assume-se comunitariamente o processo educativo libertador que: • converte o educando em sujeito de seu próprio desenvolvimento; • favorece a transformação grupal, através do respeito mútuo e do diálogo, da participação e do engajamento; da lealdade e da fraternidade; da igualdade e da liberdade; • promove o senso crítico sobre a realidade social, os objetivos, os conteúdos, a metodologia e as relações das pessoas entre si; • fortalece a educação do BEM COMUM, da cidadania; • escolhe conteúdos socialmente eficazes; • revê, sistematicamente, seu currículo: objetivos, conteúdos, metodologias e avaliação de toda a ação educadora; • adota a metodologia participativa, crítica e criativa, em que todos se sintam comprometidos com o planejamento, execução e avaliação de suas atividades; • prioriza a postura profissional consciente e responsável; • envolve a todos, segundo suas funções e tarefas; • provoca o assumir dos pais como "primeiros e principais responsáveis pela educação dos filhos"; • adota, na sistemática de seu trabalho, o processo de ação-reflexão através do método ver-julgar-agir. 28 Opta-se por uma escola democrática, caracterizada pela socialização do poder, divisão de responsabilidades, diálogo permanente entre os membros da Comunidade Educativa, presença espontânea nas programações escolares, prática dos direitos e deveres. Opta-se por uma avaliação diagnóstica da aprendizagem, inspirada na relação de fraternidade nas experiências vivenciadas. O corpo docente e discente, estimulados a realizarem freqüentes auto-avaliações, têm participação e envolvimento no planejamento e na provocação de um processo interior de amadurecimento. Assume-se a Educação de Qualidade, que se manifesta na renovação dos objetivos, dos programas e da metodologia, com vistas a uma educação humana e cristã mais eficaz, na construção coletiva do saber e do agir, na priorização da conscientização, na formação sistemática dos educadores, na integração dos segmentos e elementos, na vivência dos valores evangélico-libertadores: verdade, liberdade, fraternidade e justiça. 29 Conclusão Ao se iniciar, na escola, um trabalho participativo, não se pode desconhecer a realidade em que a mesma está inserida, especialmente em se tratando do processo de participação. Normalmente, durante a elaboração, a vibração e o envolvimento entusiasmam. Mas à medida em que se vivência, surgem dificuldades, conflitos, restrições e oposição. O processo cria sempre maior consciência e envolvimento pessoal. Esta mudança provoca transformação a nível pessoal e relacional. Os meios de comunicação social e, de modo especialíssimo, a televisão, dificultam a reflexão, pois apresentam tudo pronto, direcionando, inclusive, o posicionamento pessoal dos telespectadores, mantendo-os num baixo nível de consciência crítica. Quanto mais alienados forem os assistentes, melhor. Aí estão programas e mais programas com este objetivo. As famílias, de modo geral, vivem em uma estrutura social verticalista, mantida pelos pais que não estão acostumados a participarem e a dividirem seu poder. Dependendo das escolas, os pais pertencem à classe média ou desta para cima. Estão habitualmente às estruturas não participativas da sociedade capitalista. O medo do novo ("como está sempre deu certo, para que mudar?"), o saudosismo ("no meu tempo..."), leva as famílias a se desinteressarem por mudanças provocadas por um processo eminentemente criativo e transformador, pois o envolvimento na vivência do processo participativo provoca mudanças pessoal e engajamento comunitário com vistas à transformação social. Desta forma, no desenvolvimento do processo de vivência do planejamento participativo, uma dificuldade a ser enfrentada é a oposição de um bom número de famílias, por contrastar com a exigência educativa assumida pela escola. Na abordagem feita sobre algumas dificuldades que podem surgir no acompanhamento do processo participativo em uma escola, referentes à metodologia, à avaliação, ao corpo docente, à questão do poder e das pressões que a escola sofre acredita-se haver despertado a consciência sobre as mesmas e delas ter brotado um desafio para a superação. 30 No processo participativo de planejamento da E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada) o resultado final resultou num texto, mais ou menos rico e denso, mas que foi fruto do trabalho e da reflexão do grupo. A metodologia participativa estaria se desabrochando. 31 Referências Bibliográficas • AEC-Br, (Associação de Educação Católica do Brasil). "Compromisso Social do Educador". • BORDENAVE, Juan E. Diaz - Educar para uma sociedade participativa. • CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano). A Evangelização no presente e no futuro da América Latina. Conclusões de Puebla. São Paulo • DALMÁS, Angelo - Planejamento Participativo na escola. • DEMO, Pedro - Avaliação qualitativa - Participação é conquista. • ELAP, (Equipe Latino-Americana de Planejamento) - Seminário de Planejamento. • FERREIRA, Francisco Witaker - Planejamento Participativo: possível ou necessário. • GANDIN, Danilo - Planejamento com prática educativa. • GUTIÉRREZ, Francisco - Educação como práxis política. • MR-CELs (Marco Referencial das Comunidades Educativas Lassalistas). Integração. Porto Alegre: 1987. • VIANNA, Ilca Oliveira de Almeida - Planejamento participativo na escola. 32 ANEXO 33 Anexo 1 Estas fotos representam o Planejamento Participativo na E.E.Cel. Moreira da Silva (Municipalizada), nos dias 02, 03, 04, 05 e 06 de fevereiro do corrente ano. Envolvendo os professores do 1º e 2º segmento. 34 Gláucia dos Santos de Souza PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO EM UMA ESCOLA MUNICIPALIZADA Monografia de final de curso apresentada na Universidade Cândido Mendes (UCAM - Centro), como requisito parcial para obtenção do grau de Pós- Graduação em Administração Escolar. Aprovada em _______ de ______________ de 2004. EXAMINADORA Profª. Ana Cristina Guimarães - Orientadora Universidade Cândido Mendes 35