UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Isolamento e caracterização do amido de castanha Tese de Mestrado 2º Ciclo de Biotecnologia e Qualidade Alimentar Bruno Tiago Rodrigues Cruz Vila Real, 2012 UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Isolamento e caracterização do amido de castanha Dissertação de Mestrado em Biotecnologia e Qualidade Alimentar Bruno Tiago Rodrigues Cruz Orientador: Professor Doutor Fernando Hermínio Ferreira Milheiro Nunes Vila Real, 2012 Agradecimentos A realização deste trabalho só foi possível devido à ajuda de algumas pessoas, por isso dirijo os meus sinceros agradecimentos: Ao Prof Doutor Fernando Hermínio Ferreira Milheiro Nunes, que me orientou de uma forma exemplar, demonstrou sempre disponibilidade em todos os meus contactos, pelo apoio constante e por todo o conhecimento transmitido. À Dona Paula Almeida Técnica de laboratório, por a sua ajuda e apoio para na experiencia calometria de varrimento diferencial e disponibilidade. Ao Senhor Carlos Matos Técnico de laboratório, pelo material emprestado e a sua ajuda sempre que necessária. À Lisete pela obtenção das várias fotografias no microscópio electrónico de varrrimento e na obtenção dos difractogramas de Raios-X. Aos companheiros de laboratório pela companhia e ajuda, em especial ao André Lemos e à Ana Lordelo pela vossa amizade companheirismo e ajuda incansável. Agradeço também as pessoas que me tem dado apoio durante a minha vida: Toda a minha família em principal ao meu Pai, aos meus avos e aos meus irmãos. À Sara por estar sempre do meu lado em todos os momentos da minha vida e por todo o amor e carinho. Índice Resumo: ____________________________________________________________ Abstract _____________________________________________________________ 1- Introdução__________________________________________________________ 1 1.1– A Castanha _____________________________________________________ 2 1.1.1-Origem ______________________________________________________ 2 1.1.2- A importância da castanha em Portugal ____________________________ 3 1.1.3-Certificação (DOP) ____________________________________________ 6 1.1.4-Caracteristicas nutricionais ______________________________________ 7 1.1.5-Parâmetros de qualidade ________________________________________ 7 1.2-O amido ________________________________________________________ 9 1.2.1- Estrutura ___________________________________________________ 10 1.2.1.1-Amilose _________________________________________________ 10 1.2.1.2-Amilopectina _____________________________________________ 11 1.2.1.3-Material intermediário ______________________________________ 13 1.2.1.4-Estrutura granular _________________________________________ 13 1.2.2-Propriedades físico químicas ____________________________________ 16 1.2.2.1-Gelatinização _____________________________________________ 17 1.2.2.2- Retrogradação____________________________________________ 18 1.2.2.3-Amido resistente __________________________________________ 19 1.2.3- Amido como aditivo alimentar __________________________________ 21 1.2.4- O Amido da Castanha _________________________________________ 21 1.2.5- Métodos de Isolamento de Amido de Fontes Convencionais ___________ 24 1.3-Enquadramento do Trabalho e Objectivos: ____________________________ 26 2-Materiais e Métodos _________________________________________________ 29 2.1-Extracção e Purificação do Amido das Castanhas _______________________ 30 2.2- Caracterização Química do Amido Isolado e Purificado da Castanha. _______ 30 2.2.1 - Determinação do Teor de Humidade _____________________________ 31 2.2.2 - Determinação do Teor de Amido Total e Amido Danificado ____________ 31 2.2.2 - Determinação da Percentagem de Amilose Aparente e Amilose _________ 31 2.2.3 – Determinação do teor de proteína e fósforo. _______________________ 33 2.3 – Determinação da Morfologia e Dimensões dos Grânulos de Amido por Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM). ___________________________ 33 2.4-Determinação da Cristalinidade dos grânulos de Amido por Difractometria de Raio- X ___________________________________________________________ 34 2.5-Estudo do Efeito do Teor de Humidade na Cristalinidade dos Grânulos de Amido. __________________________________________________________________ 35 2.6-Determinação das Características de Gelatinização por Calorimetria de Varrimento Diferencial _______________________________________________ 36 2.7 – Comportamento de Inchamento e Amido Solubilizado. _________________ 36 2.8 – Determinação dos Açúcares Totais pelo Método do Fenol-Ácido Sulfurico. _ 37 2.9 – Determinação da Amilose Lixiviada. _______________________________ 38 2.11-Determinação da Organização do Exterior dos grânulos de Amido por ATRFTIR _____________________________________________________________ 39 2.12- Determinação do Perfil de Peso Molecular da Amilopectina e Amilose por Cromatografia de Exclusão Molecular ___________________________________ 40 2.13- Determinação do Perfil de Viscosidade durante a Gelatinização e Gelificação.41 2.13- Análise Estatística.______________________________________________ 42 3-Discução e Resultados________________________________________________ 43 3.1-Rendimento e Composição Química do Amido Isolado das Diferentes Variedades de Castanha. _______________________________________________________ 44 3.2 – Morfologia dos Grânulos de Amido ________________________________ 51 3.3-Criatalinidade dos Grânulos de Amido, e Efeito do Teor de Água no Grau de Cristalinidade ______________________________________________________ 53 3.4 – Grau de Ordem nos Grânulos de Amido por Espectroscopia de Infravermelho com Transformadas de Fourier (FTIR). __________________________________ 59 3.4 - Determinação das características de gelatinização por calorimetria de varrimento diferencial (DSC) ___________________________________________________ 62 3.5 - Grau de Inchamento dos Grânulos de Amido e Lixiviação da Amilose _____ 66 3.6 – Perfil de peso molecular da amilopectina e amilose por cromatografia de exclusão molecular __________________________________________________ 78 3.7 - Determinação do Perfil Viscoamilográfico das Pastas de Amido de Castanha 84 4- Conclusões ________________________________________________________ 91 5-Bibliografia ________________________________________________________ 98 Resumo: Neste trabalho foi desenvolvido um método suave de isolamento do amido de castanha envolvendo o descasque da castanha, a despelagem, o corte e a liofilização dos frutos de forma a diminuir o seu conteúdo de água e aumentar a sua estabilidade em termos de transformações físico-químicas e bioquímicas. Após liofilização as castanhas foram moídas, embebidas na solução de extracção (solução aquosa contendo 25 mM de bissulfito de sódio) e maceradas durante 1h à temperatura ambiente. Após este período, a mistura foi homogeneizada num homogeneizador Waring durante 3 min à potência máxima. O amido foi purificado por sedimentação, sendo o sobrenadante separado do depósito de amido e a mucilagem castanha presente na superfície removida. Este procedimento foi repetido oito vezes até não se observar a formação da camada mucilaginosa na superfície. O rendimento da purificação foi dependente da variedade de castanha e variou entre 50 a 70%, tendo sido obtido com elevado grau de pureza dado o seu elevado teor de amido, 80 a 93%, baixo teor em proteína (0,4 a 0,6%) e baixo teor de amido danificado (11 a 30%). O amido isolado das quatro variedades de castanha apresentou uma cristalinidade do tipo B. O grau de cristalinidade é dependente da percentagem de humidade dos amidos, variando entre ~50% para um teor de humidade de ~30% e ~10% para um teor de humidade de ~5%. Os grânulos de amido isolados da castanha apresentavam uma forma arredondada e oval irregular. A análise por ATRFTIR mostram que os amidos de castanha isolados das variedades Judia e Martaínha apresentam um nível superior de organização da sua região mais exterior quando comparado com os amidos isolados das variedades Longal e especialmente da variedade Lada. O tamanho dos grânulos de amido isolados a partir das diferentes variedades de castanha apresentou um valor médio de 11 m, tendo-se observado diâmetro de grânulos de amido desde 4 m até 21 m. A percentagem de amilose aparente dos amidos de castanha isolados das diferentes variedades de castanha variou entre 21,0 e 24,8%, com os amidos isolados das variedades Longal e Martaínha com um conteúdo de amilose aparente significativamente superior às outras variedades, sendo o amido isolado da variedade Judia aquele que apresentou um conteúdo de amilose aparente inferior. Para os amidos isolados das variedades Longal e Lada, o conteúdo de amilose e de amilose aparente não apresentaram diferenças significativas. No entanto para os amidos isolados das variedades Martaínha e Judia estes contem amilose complexada com lípidos (em média ~4g/100g de amido). A temperatura inicial de gelatinização variou de 56 a 58ºC, apresenta um máximo entre os 62 e 64ºC e um final de gelatinização de 66-70ºC. O amido isolado das variedades Longal e Lada apresentaram um poder de inchamento significativamente superior ao observado para as variedades Martainha e Judia. Este menor poder de inchamento destas duas últimas variedades pode ser o reflexo do seu conteúdo em amilose complexada com lípidos. A amilopectina presente no amido isolado da variedade Longal foi a que apresentou um peso molecular superior ao das outras variedades (>4 MDa e <2MDa), apresentando-se como um único pico na região de elevado peso molecular do cromatograma. A amilopectina da variedade Lada apresentou-se também com um peso molecular homogéneo na região de elevado peso molecular, embora o seu peso molecular seja inferior ao observado para a amilopectina presente no amido isolado da variedade Longal. A amilopectina isolada da variedade Martaína apresenta uma distribuição de pesos moleculares na região de elevado peso molecular, uma população de amilopectinas com peso molecular semelhante à amilopectina da variedade Longal, e uma população mais abundante de amilopectina com peso molecular inferior a 2MDa. O mesmo acontece para a amilopectina isolada da variedade Judia, embora em termos médios a população de amilopectina de menor peso molecular é superior ao observado para a variedade Martaínha, e menor que a amilopectina isolada da variedade Lada. Os amidos isolados das diferentes variedades de castanha apresentaram diferentes perfis viscomialográficos durante o processo de formação de pastas de amido. A temperatura de gelatinização (temperatura do início do aumento brusco da viscosidade) foi de 56,1 ºC para o amido de castanha isolado da variedade Longal, 57,4ºC para as variedades Martaínha e Lada e de 58,6ºC para o amido isolado da variedade Judia. As temperaturas de gelatinização inferiores do amido de castanha isolados da variedade Longal, mostram uma menor resistência do amido desta variedade para a gelatinização. A temperatura do máximo de viscosidade também variou significativamente entre os amidos isolados das diferentes variedades de castanha, sendo superior para o amido isolado da variedade Martaínha (85ºC), seguido das variedades Judia e Longal (78,6 e 80 ºC, respectivamente), tendo o amido isolado da variedade Lada aquele que apresentou uma menor temperatura de máximo de viscosidade (72,3ºC). A viscosidade máxima dos amidos de castanha variou entre 0,527 Pa.s para o amido de castanha isolado da variedade Judia, e 1,127 Pa.s para o amido de castanha isolado da variedade Longal. A quebra de viscosidade (uma medida da desintegração do amido gelatinizado) foi também superior para o amido de castanha isolado da variedade Longal (0,576) e menor para o amido isolado da variedade Judia (0.159). A viscosidade final (indicativo da capacidade do amido para formar pastas viscosas) para os amidos isolados das castanhas provenientes das diferentes variedades variou entre 0,798 e 1,167, para os amidos isolados das variedades Judia e Longal, respectivamente. Os amidos isolados das diferentes variedades de castanha apresentam diferenças na sua composição química, nomeadamente na quantidade de amilose total e presença de amilose complexada com lípidos, peso molecular da amilopectina e amilose que explicam o seu diferente comportamento quer em termos de grau de inchamento, temperaturas de gelatinização e comportamento de formação de pastas. Estas diferenças nas propriedades reológicas podem ter um impacto significativo na qualidade das castanhas após processamento térmico (assamento e cozedura), bem como no seu comportamento durante os processos tecnológicos de transformação da farinha da castanha e farinha de castanha como por exemplo na produção de marron glacé, doces e outros produtos de pastelaria. Abstract In this work it was developed a soft method for isolation of chestnut starch involving the freeze-drying of fruits in order to reduce its water content and increase its stability in terms of physical, chemical, biochemical transformations. After freeze-drying the fruits were crushed, soaked in the extraction solution (aqueous solution containing 25 mM sodium bisulfite) and macerated for 1 h at room temperature. After this period, the mixture was homogenized in a Waring blender for 3 min at full power. Starch was purified by sedimentation, and the supernatant is separated from the deposit and the mucilage present in the top of starch sediment was removed. This procedure was repeated eight times until no more formation of the mucilaginous layer on the surface was observed. The yield of the purification was dependent on the variety of chestnut and ranged from 50 to 70%, and starch was obtained with high purity because of their high starch, 80 to 93% low protein content (0.4 to 0, 6%) and low damaged starch (1130%). The starch isolated from four varieties of chestnut showed a type B crystallinity. The degree of crystallinity is dependent on the moisture content of the starch, ranging from ~ 50% to a moisture content of ~ 30% and ~ 10% to a moisture content of ~ 5%. The starch granules isolated from chestnut had an irregular rounded and oval shape. The analysis by ATR-FTIR show that the starches isolated from chestnut varieties Judia and Martaínha have a higher level of organization of the outermost region as compared to starch isolated from Longal varieties and especially the Lada variety. The size of the starch granules isolated from different varieties of nuts had a mean value of 11 m, and it was observed diameter of starch granules from 4 to 21 m. The percentage of apparent amylose of the starches isolated from chestnut from different varieties ranged between 21.0 and 24.8%, with varieties of starches isolated Longal and Martaínha with apparent amylose content significantly higher than other varieties, and the starch variety of isolated from Judia was variety the one that showed a lower apparent amylose content. The starch isolated from Longal and Lada varieties, didn‟t contain amylose complexed with lipids. However for starches isolated from the Martaínha and Judia varieties contains amylose complexed with lipids (average ~ 4g/100g starch). The initial temperature of gelatinization ranged from 56 to 58 º C, has a maximum between 62 and 64 º C and a final gelatinization of 66-70 º C. The isolated starch from Longal and Lada varieties showed a swelling power significantly higher than that observed for the varieties Martainha and Judia. This lower swelling power of these last two varieties may be a reflection of its content in amylose complexed with lipids. The amylopectin from the Longal variety starch showed the highest molecular weight of all the varieties studied (> 4 MDa and <2MDa), presenting himself as a single peak in the high molecular weight region of the chromatogram. The amylopectin of the Lada variety was also present as a single homogeneous peak in the high molecular weight region, though its molecular weight is lower than that observed for the amylopectin present in the starch isolated from Longal variety. The amylopectin from Martaínha variety presented a molecular weight distribution in high molecular weight region, a population of amylopectins with molecular weight similar to the Longal variety, and a more abundant population of amylopectins with a molecular weight below 2MDa. The same was observed for the amylopectin isolated from Judia variety, although in average the amylopectin population with a lower molecular weight was higher than that observed for the Martaínha variety, and less than amylopectin isolated from Lada variety. The starches isolated from different chestnut varieties showed different viscoamylographic profiles during the formation of starch pastes. The gelatinization temperature (temperature at the beginning of the sharp increase in viscosity) was 56.1 °C for the starch isolated from Longal variety, 57.4 °C for the Martaínha and Lada varieties and 58.6 °C for the starch isolated from Judia variety. The lower gelatinization temperatures of the starch isolated from Longal chestnut variety shows the lower resistance of the starch from this variety to gelatinization. The temperature of maximum viscosity also varied significantly among the starches isolated from different varieties of chestnuts, being higher for the starch isolated from the Martaínha variety (85 ºC), followed by Judia and Longal varieties (78.6 and 80 °C, respectively), and the starch isolated from Lada variety who had a lower maximum temperature viscosity (72.3 °C). The maximum viscosity of the starches pasted ranged from 0.527 Pa.s for the starch isolated from the Judia variety, and 1.127 Pa.s for the starch isolated Longal variety. The fall of viscosity (a measure of disintegration of gelatinized starch) was also higher than for starch isolated from the Longal chestnut (0.576) than for starch isolated from Judia variety (0159). The final viscosity (indicative of the ability of starch to form viscous pastes) for starches isolated from the chestnuts of the different varieties ranged from 0.798 and 1.167, for the starches isolated from Judia and Longal varieties, respectively. The starches isolated from different chestnut varieties differ in their chemical composition, notably in the total amount of amylose and presence of amylose complexed with lipids, molecular weight of amylopectin and amylose which explain their different behavior in terms of swelling index, gelatinization temperature, gelatinization behavior. These differences in rheological properties may have a significant impact on the quality of the chestnuts after thermal processing (baking and cooking), as well as their behavior during the technological processes of chestnut transformation either of chestnuts and chestnut flours, such as in the production of marron glacé , and other sweet pastries. 1- Introdução 1 1.1– A Castanha 1.1.1-Origem A castanha teve origem na Ásia Menor onde é conhecida por kashtah e provavelmente foi introduzida na Europa através da Grécia, onde a palavra latina Castanea deriva do grego kastanon. (Lage, 2006) Pensa-se que chegou à Península a partir do século IX a.C. pela mão do povo Celta, mas no século I a.C. os romanos propagaram o conhecimento desta cultura pelo Império Romano, pois era ideal para grandes deslocações devido ao seu alto valor calórico e poder de conservação. (Silva, 2007) Apesar de o castanheiro ter sido introduzido em Portugal há muitos séculos, devido ao seu elevado grau de adaptabilidade às nossas condições climatéricas é considerado uma espécie indígena. (Silva, 2007) A castanha é um fruto que vem do Castanheiro pertence à família das Fagaceas e ao género Castanea. Existem 13 espécies frutíferas do género Castanea, mas apenas 4 têm interesse comercial: a Castanea crenata (com origem no Japão), Castanea dentata (originária da América do Norte), Castanea mollissima (indígena da China) e a Castanea sativa, (cultivada na Europa) que é o objecto de estudo. (Silva, 1997) Figura 1- Distribuição geográfica das espécies do género Castanea com importância económica. (Silva, 2007) 2 1.1.2- A importância da castanha em Portugal Em Portugal é cultivado essencialmente o castanheiro da espécie C. sativa. Geralmente é explorado de duas formas distintas, uma com o objectivo de produzir frutos de elevada qualidade e a outra de produzir madeira. Quando objectivo é produzir madeira são utilizados castanheiros bravos designando-se o povoamento por castinçal, mas quando se produz frutos são cultivados castanheiros mansos e dá-se o nome de souto. (Lage, 2006) A castanha teve uma elevada importância durante a Idade Média, principalmente no Nordeste Transmontano onde os seus frutos eram utilizados para a alimentação humana e animal. Em tempos de crise era o único recurso que as populações tinham para sobreviver. (Laje, 2006) D. Afonso III, em 1269 considerava a castanha um elemento essencial à mesa, tendo referido: “E toda regateyra que ouuer uenda eu sa casa manteiga, azeite, mel, vinagre, e castanhas, nozes...”. (Silva, 2007) D. Dinis, “O Lavrador” reconheceu a grande importância da castanha e ordenou a substituição de enormes colónias de carvalhos por castanheiros. Desta forma a castanha tornou-se a base da alimentação sendo o castanheiro considerado a “Arvore Mãe”. (Silva, 2007) Com a introdução do milho e da batata, o aparecimento de doenças (como a tinta e o cancro do castanheiro) e a devastação por fogos levaram ao declínio da sua produção. Contudo actualmente o castanheiro é considerado um recurso valioso, pois os seus frutos são muito procurados pelo consumidor devido ao reconhecimento do seu valor nutricional, ao aparecimento de produtos DOP que garantem a sua qualidade e ao aparecimento de técnicas que permitem um maior controlo das suas doenças. As suas características sensoriais conferem qualidades à castanha que tornam este fruto imprescindível como ingrediente na doçaria, licores, aperitivos e pratos salgados. O seu sabor único acrescenta uma mais-valia à indústria, sendo o “Marron Glacê” o produto mais conhecido e apreciado 3 O castanheiro assume um papel de ex-libris da paisagem local, devido à sua imponência visual, que pela sua rusticidade assume um papel de elevado valor patrimonial e paisagístico. (Silva, 2007) . Figura 2- Castanheiro o Ex-libris da paisagem de Trás-os-Montes (Fotografia capturada pelo autor em Mirandela no Parque Doutor José Gama) Tabela 1 – Produção mundial de castanha no ano 2010 (FAO) Área China República da Coreia Turquia Bolívia Itália Japão Portugal Grécia República da Coreia Democrática França Produção ($1000) 1259843 63925 46016 41665 33206 18275 17420 16253 8321 Produção (MT) 1620000 82200 59171 53577 42700 23500 22400 20900 10700 7415 9536 4 Em termos quantitativos a China é o maior produtor Mundial de castanha, mas as estatísticas disponibilizadas pela FAO não distinguem as diversas espécies frutíferas do género Castanea. Os países Asiáticos que ocupam os dois primeiros lugares da tabela produzem essencialmente as espécies Castanea crenata e Castanea mollissima, que tem uma qualidade inferior à espécie em estudo a Castanea sativa. Se forem considerados apenas os países europeus que produzem a espécie em estudo, a Turquia é maior produtor, a Itália vem em segundo lugar e Portugal ocupa o terceiro lugar. Este lugar de destaque na produção Mundial revela a importância da castanha na economia nacional. Tabela 2 – Exportação mundial de castanha no ano 2009 (FAO) Área Quantidade Valor (toneladas) (1000$) Valor por tonelada ($/Tonelada) China Itália 46703 17592 68346 68049 1463 3868 República da Coreia Portugal 12300 27517 2237 7154 19183 2681 Espanha França Japão Turquia Holanda Áustria 6957 2165 1747 2919 2373 495 14186 10334 6139 4941 3721 1560 2039 4773 3514 1693 1568 3152 Apesar de a China ser o maior exportador de castanha, o valor conseguido por tonelada é o mais baixo dos países representados, isto confirma que a castanha produzida por este país tem qualidade inferior e tem menor valor no mercado internacional. Países como a França e Itália conseguem os valores mais elevados por tonelada, atingindo mais de o dobro do preço da China, o mercado internacional valoriza a qualidade superior da Castanea sativa. Mais uma vez se forem apenas considerados os países europeus, a Itália ocupa o primeiro lugar e Portugal assume uma posição de destaque no segundo lugar. 5 Esta posição é conseguida com o aparecimento de empresas especializadas na transformação e comercialização de castanha como a Agroaguiar e Sortegel, que dão um grande impulso no escoamento da castanha nacional para o mercado internacional, fazendo da castanha portuguesa a quarta mais exportada do Mundo. Com um valor tão elevado de exportação a castanha tem um enorme contributo para a economia nacional. Existem inúmeras variedades cultivadas mas há algumas que tem maiores vantagens frutícolas, e tem maior cotação no mercado com é o caso da Judia, Longal, Lamela, Aveleira e Boaventura que tem um maior interesse no distrito de Bragança, a Judia, Longal, Lada, Negral e Benfeita, estas são as mais abundantes no distrito de Vila Real, a Martainha e Longal, são maioritariamente cultivadas nos distritos de Viseu e Guarda, e por fim a Bária e Enxerta, tem grande interesse no distrito de Portalegre. (Silva, 2007) As variedades em estudo são a: Lada, Martainha, Judia e a Longal. 1.1.3-Certificação (DOP) Este fruto apesar de no passado ter perdido importância, hoje em dia tem ganho maior interesse devido: a sua redescoberta por parte dos consumidores, o seu valor nutricional e a qualidade garantida por produtos DOP. (Silva, 2007) O principal objectivo desta certificação é valorizar, preservar as cultivares de castanheiros tradicionais e conservar o património genético. A nível nacional existem quatro “Denominações de Origem Protegida” (DOP): “Castanha da Terra Fria”- são considerados os frutos das cultivares de Castanheiro Europeu (Castanea sativa Mill) Longal, Judia, Cota, Amarelal, Lamela, Aveleira, Boa Ventura, Trigueira, Martaínha e Negral. Mais de 70% da produção deve corresponder à cultivar Longal, sendo os restantes 30% relativos à produção das outras cultivares mencionadas. Pode ser produzida nos concelhos dos distritos de Bragança e Vila Real. “Soutos da Lapa”- são utilizadas as variedades Martaínha e Longal, A área geográfica de produção abrange algumas freguesias dos concelhos 6 de S. João da Pesqueira, Penedono, Sernancelhe, Moimenta da Beira, Aguiar da Beira, Armamar, Tarouca, Tabuaço, Trancoso e Lamego. “Castanha da Padrela”- castanhas obtidas a partir das variedades Judia, Longal, Lada, Negral, Côta e Preta. A área geográfica abrange algumas freguesias dos concelhos de Chaves, Murça, Valpaços e de Vila Pouca de Aguiar. “Castanha de Marvão”- tem origem nas variedades Bárea, Clarinha e Bravo. A área geográfica abrange os concelhos de Marvão, Castelo de Vide e Portalegre. (Ministério, 2007) 1.1.4-Caracteristicas nutricionais O seu potencial nutricional e farmacêutico já é reconhecido há muitos séculos por diversos autores como Hipócrates, Galeno e Dioscorides, mas sempre com diversas contra-indicações como digestão difícil, enxaquecas e flatulência. Os hidratos de carbono são os principais constituintes da castanha, contabilizando entre 75,32 a 86,31 g/100g matéria seca, sendo o mais abundante o amido, que corresponde a 54,45 a 69,70 g/100g matéria seca. A sacarose é o segundo hidrato de carbono mais abundante apresentando valores compreendidos entre 10,32 a 22,79 g/100g matéria seca, com um teor de cinzas de 1,02 a 3,22 g/100g matéria seca, celulose bruta de 3,58 a 5,96 g/100g matéria seca, gordura total de 0,49 a 2,01 g/100g matéria seca, proteína total de 4,88 a 10,87 g/100g matéria seca, estão presentes: Ca, Mg, Fe, Mn, Cu, Zn, P, K e contem baixo teor de colesterol. (Ertürk et al, 2006) O valor calórico é muito elevado cerca de 200 calorias por 100 g, cerca de duas vezes mais de que o da batata ou banana. 1.1.5-Parâmetros de qualidade Existe um grande número de variedades de castanha e todas elas apresentam características químicas e físicas diferentes, por isso torna-se essencial estabelecer parâmetros de qualidade de forma a diferencia-las. As empresas que trabalham com a castanha utilizam vários parâmetros de qualidade de forma a seleccionar e escolher a melhor castanha. 7 Silva (2007), para estabelecer as características físicas do fruto determinou: Calibre - Quantidade de frutos por kg, e estes podem ser: muito grandes (até 60 frutos), grandes (61 a 70), médios (71 a 90), pequenos (91 a 110) e muito pequenos (mais de 110 frutos). Peso - É pesada uma determinada quantidade de castanha e o peso resultante é dividido pelo numero de frutos. Forma – Com o calculo do índice de forma ((L+E)/(2*C) figura) e índice de esfericidade ((C*L*E)1/3/C figura) é possível determinar a forma da castanha podendo ser: ovóide, ovóide larga, globulosa, elipsóide transversa e elipsoidal transversa larga. Figura 3 – Medições realizadas para o cálculo de L, C e E, para a determinação da forma. (Silva, 2007) Compartimentação – Os frutos são classificadas como monospérmicos quando tem apenas um embrião (característica fundamental para a produção de Marron Glacê) e polispérmicos quando apresentam dois ou mais embriões. Cor – É utlilizado o sistema CIELAB para a determinação da cor. Dureza – Através de uma sonda é quantificada a força máxima exercida para a quebra do tegumento externo. São realizadas também analises aos teores de: água, cinzas, proteína, gordura, açúcares, amido, fibra, ácidos orgânicos, aminoácidos, minerais e compostos fenólicos. Para a elaboração de produtos à base de castanha seria importante a caracterização do amido, pois este é o hidrato de carbono mais abundante. Por esta razão é de prever que o amido da castanha seja determinante para o 8 comportamento da castanha, quer a nível industrial e nutricional, quer a nível da sua apreciação pelo consumidor. Para o controlo de qualidade da castanha existe um regulamento FFV-24 CEPE/ONU que é uma norma de referência de carácter não obrigatório. Esta norma classifica a castanha em três categorias: Categoria Extra: São as castanhas de qualidade superior, de boa aparência e de cor uniforme. Categoria I- Engloba as castanhas de boa qualidade e são permitidos alguns defeitos. Categoria II- As castanhas desta categoria apenas cumprem os requisitos mínimos, são permitidos defeitos na forma e cor. Para todas as categorias existem calibres mínimos das castanhas. 1.2-O amido Na biosfera existem provavelmente mais hidratos de carbono do que todas as outras matérias orgânicas combinadas, isto acontece devido a dois polímeros da Dglicose: o amido e a celulose O amido tem sido estudado na literatura há dois séculos, mas é utilizado pelo homem há milhares de anos. (Kaur et al, 2007) Este é um macro constituinte da maioria alimentos, em que as suas interacções principalmente com a água e lípidos tem uma enorme importância para a indústria alimentar e a nutrição humana. (Copland et al, 2009) As suas propriedades são significativamente influenciadas pelas cultivares e factores ambientais. Aproximadamente, 60 milhões de toneladas são extraídas anualmente em todo o mundo de diferentes culturas de tubérculos, cereais e raízes, cerca de 60% é usado em alimentos (por exemplo, produtos de padaria, molhos, sopas, doces, xaropes de açúcar, gelados, produtos cárneos, substitutos de gordura, branqueadores de café, cerveja, refrigerantes e bebidas) e 40% em produtos farmacêuticos, tais como fertilizantes, sementes, revestimentos de papel, papelão, material de embalagem, adesivos, têxteis, tecidos, fraldas, bioplásticos, materiais de construção, cimento, e de perfuração de petróleo. (Burrell, 2003) 9 Na indústria alimentar o amido tem diversas aplicações, como melhorar a textura, espessante, estabilizante coloidal, gelificante, aumento de volume, retenção de água e viscosidade. (Kaur et al. 2007) 1.2.1- Estrutura O amido é uma estrutura granular (Figura 4) semicristalina e um homopolissacarídeo, composto por dois polissacarídeos a amilose e a amilopectina (que representam cerca de 98-99% do peso seco). (Richard et al, 2004) Encontra-se amplamente distribuído em diversas espécies vegetais, é um hidrato de carbono de reserva, sendo abundante em grãos de cereais, raízes e tubérculos. É a fonte mais importante de hidratos de carbono bio-disponíveis na alimentação humana, representando 80-90% de todos os polissacarídeos da dieta. (Alex, 2001) Este quando observado ao microscópio óptico (especialmente o da batata) apresenta uma estrutura por camadas designada “anéis de crescimento”, esta característica resulta de múltiplos anéis de crescimento, que vão aumentando de diâmetro desde o hilum (centro do grânulo) até à sua superfície, estes anéis representam os períodos diurnos de deposição de amido (Figura 4). (Tester et al, 2004) Os grânulos de amido diferem fisicamente no tamanho (1-100 µm de diâmetro), forma (redonda, lenticular e poligonal) e podem-se encontrar individualmente (simples) ou ligados por clusters (composto). (Tester et al, 2004) 1.2.1.1-Amilose A medição da amilose é um parâmetro de qualidade para a maioria dos produtos à base de amido. Amilose influencia a organização das lamelas cristalinas dentro grânulos, que é importante para as propriedades relacionado com a absorção de água. (Copeland, 2009) Influi em várias características do amido tais como: a sua gelatinização, solubilidade, características de pasta, textura, resistência e tem uma grande importância na retrogradação do amido. (Zhu et al, 2008) 10 É um polissacarídeo de cadeia linear (em alguns casos pode apresentar ramificações muito pouco abundantes), não ramificada, de 250 a 300 resíduos de Dglicopiranose, ligadas por pontes glicosídicas α-1,4 (Alex, 2001) (Figura 4). Figura 4-Estrutura exemplificativa da amilose (Alex, 2001) Pode estar presente sob a forma de complexos amilose-lípidos (LAM – lipid amylose complexes) ou de amilose livre (FAM – free amylose). Os LAM, embora detectados no amido nativo, provavelmente são formados durante a gelatinização. A formação destes complexos, diminuí a quantidade de amilose livre, logo vão ter uma grande influência nas propriedades do amido como: estabilizar o grânulo do amido durante o inchamento e gelatinização (aumento da temperatura de gelatinização), o gel formado apresenta uma maior densidade e são alteradas as suas propriedades de fluxo. (Bhatnagar e Hanna, 1994) 1.2.1.2-Amilopectina A amilopectina é um polissacarídeo, mas contrariamente à amilose, possui elevado número de ramificações, sendo constituída por aproximadamente 1400 resíduos de α-glucose ligadas por pontes glicosídicas α-1,4, e de 2% a 4% ligações α-1,6 (Figura 5). (Alex, 2001) 11 Figura 5- Estrutura exemplificativa da amilopectina (Alex, 2001) A maior parte das espécies de amido contem 30% de amilose e 70% de amilopectina. A estrutura tridimensional da amilopectina é geralmente descrita pelo modelo de “cluster”, este modelo propõe que a molécula de amilopectina é composta por 3 classes de cadeias de glucose (ramificações), A, B e C. As cadeias A ligam-se em clusters apenas nas cadeias B, as cadeias B ligam-se a outras cadeias B ou a cadeias C que contem o açúcar redutor e que é apenas uma por molécula (Figura 6). As cadeias A são as mais pequenas e as cadeias B as maiores, as cadeias B podem ser também subdivididas em cadeias B1, B2, B3 e B4, sendo o grupo B4 as cadeias maiores. (Wang et al, 1998) Figura 6- Modelo de cluster para o arranjo das cadeias de amilopectina. (Wang et al, 1998) 12 1.2.1.3-Material intermediário Existe a possibilidade de um terceiro componente no amido, este é difícil de isolar e purificar logo ainda não há um consenso sobre a sua existência e as suas propriedades. Eliasson (2004), denominou este componente como material intermediário e alguns investigadores classificam as “amiloses ramificadas” com mais de 20 ramificações como intermediarias. Esta “amilose ramificada” é considerada um componente diferente porque a presença de cadeias ramificadas curtas pode contribuir para as propriedades do amido como: menor cristalinidade, temperatura de gelatinização, viscosidade, grau de retrogradação e uma maior digestibilidade. 1.2.1.4-Estrutura granular As moléculas de amilose e amilopectina encontram-se em forma granular são estruturas complexas contendo áreas amorfas e cristalinas, é geralmente aceite que as cadeias mais curtas da amilopectinas estão organizadas em duplas hélices, algumas das quais formam lamelas cristalinas (cristalites). As restantes duplas hélices e as cristalites formam a parte ordenada dos grânulos de amido, que são semi-cristalinos. A parte restante pode ser designada de desordenada ou amorfa. A parte amorfa pensa-se consistir em amilose e em cadeias longas de amilopectina. Há evidências que existem camadas alternadas de material semi-cristalino e amorfo em grânulos de amido (Figura 7). 13 Figura 7- Camadas de lamela cristalina separada por anéis de crescimento amorfos (adaptado de Tester et al, 2004) A presença de cristalites e das restantes duplas hélices provoca a birrefringencia em grânulos de amido e pode ser estudada utilizando a luz microscópio óptico polarizada, surgindo cruz uma típica intersectando o hilum (Cruz de Malta). É geralmente aceite que o eixo óptico coincida com a direcção da cadeia de amido, que é aproximadamente perpendicular à superfície de crescimento do grânulo (Silva, 1997). A região amorfa não contém nenhuma das estruturas ordenadas por definição e não podem ser distinguidos do fundo. O padrão observado leva a toma a forma de uma cruz de malte, que indica que existe um arranjo ordenado das arcas cristalina dentro dos grânulos (Figura 8). (Hoseney, 2007) Figura 8- Amido de milho observado á luz do microscópio óptico de polarizada. (Hoseney, 2007) 14 A birrefringencia é várias vezes confundida com a cristalinidade, mas um material pode ser ordenado e não ser cristalino (Hoseney, 2007) De acordo com as regras de cristalografia interage com ondas electromagnéticas curtas e pode ser observada por Raio-X, que nos dá o padrão de difracção. Esta técnica pode revelar a estrutura do grânulo de amido, quantificar a cristalinidade, bem como identificar as diferentes formas polimorficas (Figura 9). (Tester et al, 2004) Figura 9- Difracção Raio-X de amido de milho (Hoseney, 2007) As duplas hélices da amilopectina que formam a lamela cristalina, estão empacotadas em diferentes formas polimorficas A cristalinidade dos grânulos de amido e composição química variam segundo a origem botânica e grau de maturação do vegetal, a cristalinidade é atribuída principalmente à amilopectina e não a amilose, que embora seja linear, apresenta uma conformação que dificulta sua associação regular com outras cadeias. Estas podem ser classificadas em três tipos de estruturas cristalinas a partir das diferenças dos difratogramas de Raios-X: Amidos de cereais como tipo "A", amidos de tubérculos como tipo "B" e amidos de vagens como tipo "C" (uma mistura de "A" e "B”), em que a castanha é do tipo “B”. Estes tipos de polimorfos diferem na densidade de empacotamento das suas duplas hélices e na quantidade de água ligada na estrutura cristalina sendo a forma A mais densa e liga menos agua que a forma B (Figura 10). (Wang et al, 1998) 15 Como pode ser observado na Figura 10 os polimorfos do tipo B possuem uma estrutura mais aberta e um núcleo hidratado. Figura 10- Polimorfos do Tipo A e B. (Adaptado de Tester et al 2007) O amido tipo “A” é caracterizado por cadeias de amilopectina mais curtas e é mais susceptível a reacções químicas e enzimáticas. (Oates, 1997) Enquanto do tipo “B” apresentam temperaturas de gelatinização menores. (Hizukuri et al., 1983) 1.2.2-Propriedades físico químicas O que torna o amido tão interessante para a indústria e o seu estudo são as suas propriedades físico químicas, pois estas permitem que o amido seja uma mais valia em: produtos de padaria, molhos, sopas, doces, xaropes de açúcar, gelados, produtos cárneos, substitutos de gordura, branqueadores de café, cerveja, refrigerantes e bebidas, fertilizantes, sementes, revestimentos de papel, papelão, material de embalagem, adesivos, têxteis, tecidos, fraldas, bioplásticos, materiais de construção, cimento, e de perfuração de petróleo. 16 1.2.2.1-Gelatinização Quando o amido está em meio aquoso frio, os grânulos incham ligeiramente, porque existe uma difusão e absorção da água nas regiões amorfas (processo reversível pela secagem). No entanto, quando é aquecido em excesso de água, perde a sua estrutura ordenada (birrefringencia) e com a fusão dos seus cristais dá-se a gelatinização (processo irreversível). A gelatinização tem inicio nas regiões amorfas, devido às ligações de hidrogénio serem mais fracas nessas zonas, os grânulos começam a inchar com o aumento da temperatura e a entrada de água no granulo (as moléculas de água formam pontes de hidrogénio entre a amilose e amilopectina, expondo seus grupos hidroxil, o que causa um aumento no inchamento e na solubilidade do grânulo), dá-se a lixiviação da amilose da fase intergranular para a fase aquosa (aumento da viscosidade do meio), a fusão das arcas cristalinas, com o rompimento da estrutura granular e a solubilização total do amido finaliza-se a gelatinização (Figura 11). (Singh et al., 2003) Figura 11- Microscopia eletrônica de varredura; A) grânulos de amido de milho a 25 ºC, B) grânulos de amido de milho a 75°C (Adaptado de Souza e Andrade, 2000) Geralmente a gelatinização ocorre numa faixa ampla de temperaturas característica para cada fonte de amido, a sua extensão é influenciada pela proporção de amilose:amilopectina, estrutura molecular da amilopectina (comprimento de cadeia, extensão de ramificação, peso molecular) e arquitetura granular (proporção de regiões cristalinas e amorfas) e a presença de complexos amilose-lípidos. 17 Altas temperaturas de transição são associadas a altos graus de cristalinidade, os quais fornecem a estabilidade estrutural e tornam os grânulos mais resistentes à gelatinização. (Eliasson, 2004 e Singh et al., 2003) A gelatinização pode ser estudada através da calorimetria de varrimento diferencial (DSC) (Figura 12). Este estudo pode revelar características importantes do amido como a sua temperatura de gelatinização e a energia necessária para se dar a transição, que se pode saber através do fluxo de calor versos temperatura e área do pico. Figura 12-DSC de amido de milho (Hoseney, 2007) 1.2.2.2- Retrogradação Katz (1928) mostrou através de difracção de Raio X que após o arrefecimento e durante o armazenamento, o gel de amido volta a um estado semicristalino, este fenómeno designa-se retrogradação. As moléculas do gel amido começam a associar-se em simples e duplas hélices e dão origem a zonas cristalinas. 18 Isto tem como consequência um aumento da viscosidade da pasta (viscosidade de setback), pode ocorrer a precipitação de cristais insolúveis que dá origem a uma separação de fases e a libertação de água (sinérese) A amilose tem uma maior influência na retrogradação que a amilopectina, porque a sua cinética de retrogradação é muito superior e as estruturas cristalinas por ela formadas tem uma endoterma de fusão de 140ºC a 180ºC, enquanto a amilopectina apresenta uma endorterma de fusão de 45ºC a 60ºC. Existem vários factores com grande influência na retrogradação como: a temperatura e tempo de armazenamento, pH, fonte de amido, presença de outros componentes (lípidos, electrólitos e açúcares) e condições de processamento. A retrogradação tem uma grande importância nos produtos alimentares que contem amido gelatinizado pois altera a sua textura, digestibilidade e a aceitação por parte do consumidor. (Zeleznak e Hoseney 1986) Sabe-se, por exemplo, que a repetição de ciclos congelamento/descongelamento acelera drasticamente a retrogradação e a sinérese, no envelhecimento de pães e produtos de panificação, bem em algumas sobremesas que utilizam o amido como espessante e estabilizante. 1.2.2.3-Amido resistente O amido pode ser hidrolisado através de enzimas e ácidos, por exemplo a nossa saliva e suco pancreático contém a α-amilase, que tem a capacidade de hidrolisar a amilose em glicose e maltose. Mas existe uma parte do amido que atravessa o intestino delgado sem ser hidrolisado, que é denominado de amido resistente (AR). Este termo foi sugerido por Englyst et al. (1982) em que foi definido como o amido que resiste à dispersão em água em ebulição, hidrólise da amilase pancreática e da pululanase. Só a partir 1992 é que o AR foi definido como “ a soma do amido e produtos da sua degradação que não são absorvidos no intestino delgado de indivíduos saudáveis” (Faisant et al 1993), a nova definição relaciona o AR com o seu benefício biológico. No intestino grosso o AR é fermentado e produz: gases, ácidos gordos de cadeia curta (acetato, propionato e butirato) e uma diminuição do pH do cólon. 19 Isto tem como consequência a prevenção de doenças inflamatórias, manutenção do epitélio intestinal e redução do risco de cancro do intestino. Esta propriedade do amido torna interessante a sua utilização como aditivo em alimentos funcionais. O AR pode ser classificado em três tipos: Amido resistente do tipo 1- É o amido que se encontra fisicamente inacessível à digestão, devido à presença de paredes vegetais celulares. Amido resistente do tipo 2- Refere-se ao amido que tem uma estrutura granular mais resistente divido à sua cristalinidade ser do tipo B e também se incluem amidos com elevados teores em amilose. Amido resistente do tipo 3- É todo aquele amido que sofre uma retrogradação, devido ao seu processamento. Amido resistente do tipo 4- É o termo usado para descrever amido modificado quimicamente através de ésteres, fosfatos e éteres. Para utilização como aditivo em alimentos o amido tem uma grande vantagem em relação às fibras, não absorve tanta gordura. Logo este não vai competir com outros ingredientes pela gordura. Isto torna o amido uma escolha mais acertada para a adição em produtos de pastelaria. Segundo Correia e Fontinha (2009), a castanha contem um teor elevado de AR, principalmente a variedade Longal e que “possivelmente, este tipo de materiais apresenta um grande potencial para melhorar as propriedades dos alimentos que os contêm.” 20 1.2.3- Amido como aditivo alimentar Os amidos nativos tem uma desvantagem, as suas características são de dependentes das cultivares e factores ambientais, e é difícil de generalizar sobre as suas características e comportamento. (Burrell, 2003) Esta grande variabilidade é devido à grande complexidade do processo de biosintese do amido. (Copeland, 2009) Para contornar esse problema, reduzir cisalhamento e diminuir a retrodegradação, nos anos oitenta foi generalizado o uso de amidos modificados por via química ou enzimática. Mas em diversos países foram impostos limites de uso. A partir desse momento as indústrias alimentares procuraram de novo os amidos nativos, que não tem limite de uso e permitem identificar os alimentos como naturais. Os amidos tradicionais, nomeadamente o milho, a mandioca, a batata, o trigo, e o arroz, já não conseguem dar uma resposta adequada à indústria. (Silva, 1997) Logo o estudo de amidos nativos não convencionais e com características específicas tem um caminho aberto, como por exemplo o da castanha. 1.2.4- O Amido da Castanha Uma série de estudos recentes mostraram que o amido da castanha (Castanea sativa Mill) apresenta um potencial de aplicação a nível industrial (Demiate, et al 2001, Correia e Beirão-da-Costa, 2010, Correia, et al 2012, Moreira, et al 2012 e Yoo, et al 2012) A forma cristalina do amido de castanha (Castanea sativa Miill e Castanea crenata) foi descrita como do tipo C, mais concretamente do tipo C B (Correia, et al 2012 e Yoo, et al 2012), apresentando uma forma arredondada e oval irregular com um comprimento variando entre 2 a 19 m, com um tamanho médio entre 9-13 m (Correia, et al 2012, e Yoo, S-H; et al 2012), dependendo da variedade e método de isolamento (Castanea sativa Miill e Castanea crenata) e 2.9 a 21.4 m. (Demiate, et al 2001) O teor de amilose do amido de castanha está descrito como variando desde 19,6% (Castanea crenata) (Takeda, et al 1987), 21,5% (Castanea sativa Mill) 21 (Demiate, et al 2001), 27,8% de amilose aparente e 29,6% de amilose total (Castanea crenata) (Yoo, et al 2012) até 51,4 a 56,9% (Castanea sativa Mill), variedades Longal e Martaínha, (Correia, et al 2012) Estas diferenças reportadas no conteúdo de amilose dos amidos isolados das castanhas podem estar relacionados com as diferenças nas espécies botânicas, e para a mesma variedade de plantas com as diferentes variedades, condições de crescimento, grau de maturação e método de isolamento do amido e pré-tratamento da amostra. Vários métodos têm sido utilizados para o isolamento do amido das castanhas, incluindo: despelagem, corte, secagem, moagem e peneiramento (325 USBS), seguido de tratamento químico com NaOH 0,15M para a sua purificação (Demiate, et al 2001), sendo o amido obtido com uma pureza de 96%, contendo 0,83% de proteína, 1.1% de fibra, 1,5% de lípidos e 0,51% de cinzas. Outros métodos descritos incluem: Método alcalino com baixa tensão de corte (0.01M NaOH, 20 min, 20ºC, centrifugação, peneiramento (53 m), neutralização, centrifugação, remoção da camada mucilaginosa na superfície), Método alcalino com elevada tensão de corte (imersão em água 6h, 20ºC, homogeneização em ultraturrax 2000 rpm, 1 min, centrifugação, peneiramento (53 m) e centrifugação); Método enzimático com baixa tensão de corte (Protease, pH 7.5, 37ºC, 6h, centrifugação, peneiramento (53 m) e centrifugação); Método alcalino de baixa tensão de corte com três peneirações sucessivas (0.0625M NaOH, 5ºC, 24h, peneiração por 180 m (2x) seguido de 75 m e 53 m, remoção da mucilagem após centrifugação. (Correia e Beirão-da-Costa, 2010). De todos os métodos analisados, o último método de extracção alcalina com três peneirações sucessivas originou amidos com um maior rendimento (LSA - 20%, HSW 18%, LSE – 23%, LSA3S – 26%) e maior grau de pureza (LSA - 90%, HSW - 86%, LSE – 95%, LSA3S – 97%). No entanto o amido isolado por qualquer um dos métodos apresentou elevados valores de amido danificado, variando entre 52,3% para o método LSA3S até 72,6% para o método HSW. No entanto a farinha de castanha já apresentava um valor elevado de amido danificado (33.2%), sendo provavelmente o resultado do processo de processamento anterior, pois a castanha após descasque foi seca a 40ºC durante 24 h para diminuir o conteúdo de humidade de 49% para 30-35%, e após este período foi seca novamente a 60ºC até reduzir o seu valor de actividade de água para 0,2, processo que demora entre 24 a 30h. 22 Este pré-processamento leva a alterações visíveis nas características do amido tal como referido pelos autores, pois os grânulos de amido na farinha seca já apresentavam algumas fracturas, apresentavam vesículas que saiam de dentro dos grânulos de amido, indicando uma alteração dos grânulos de amido durante o seu pré-processamento (Correia e Beirão-da-Costa, 2009). Além destes factores, durante o processo de secagem da farinha de castanha observou-se o aumento dos açúcares redutores, a diminuição da percentagem de amido, especialmente às temperaturas de 50 e 60ºC, provavelmente devido à acção das enzimas amilolíticas presentes na castanha. O conteúdo de amilose das farinhas secas aumentou entre 33% para a farinha não tratada até ~60% na farinha seca a 60ºC. Outra alteração significativa nas propriedades do amido durante o processo de secagem foi o aumento significativo observado no conteúdo de amido resistente nas farinhas de castanha com o aumento da temperatura de secagem, chegando a atingir valores de 36 a 47% para as castanhas secas a 60ºC. Todos estes dados indicam que o pre-tratamento da farinha de castanha utilizada para a extracção do amido da castanha resultou em alterações significativas na sua estrutura bem como nas suas propriedades, por essa razão, os amidos de castanha obtidos nestes estudos não representam o amido presente nas castanha em fresco. Um outro método utilizado para o isolamento do amido de castanha envolve um método de maceração alcalino. Os frutos descascados foram imersos numa solução de 0,2% NaOH durante 1h, triturados com um homogeneizador de Waring durante 2 min numa solução de NaOH 0,2% (2x). A pasta foi passada por dois filtros sucessivos de 150 m e 53 m. O resíduo foi misturado com uma solução de NaOH 0,2% e homogeneizado mais duas vezes, recolhido, e lavado para remover as proteínas utilizando a solução de NaOH 0,2%, até ao desaparecimento da camada amarela. O precipitado foi lavado com água e neutralizado com HCl 1N, lavado com água e centrifugado. O amido assim obtido foi seco à temperatura ambiente. (Yoo, et al 2012) Um outro método descrito mais recentemente envolve a extracção do amido da farinha de castanha com água (1:2 castanha: água), filtração (2x), ressuspensão em água e sedimentação durante 24 h. Remoção do sobrenadante e lavagem do resíduo com água várias vezes. (Francisco Chenlo, et al (2011) 23 Neste último caso apenas foram fornecidos os valores do teor de amilose da preparação resultante (20.5±0.6%). 1.2.5- Métodos de Isolamento de Amido de Fontes Convencionais O amido pode ser extraído a partir de diferentes fontes vegetais utilizando vários processos, dependendo da fonte botânica e o destino a dar ao amido. A moagem húmida é frequentemente utilizada para a produção do amido de cereais, especialmente do trigo e milho. O propósito da moagem via húmida é a separação do grão nos seus constituintes químicos, incluindo o amido. Os principais passos no isolamento do amido dos cereais incluem maceração, moagem e separação. A maceração é o primeiro passo do processamento crítico na moagem via húmida. Usualmente envolve a utilização de uma solução aquosa de dióxido de enxofre (SO2) e ácido láctico a um dado pH e temperatura durante certos períodos de tempo. Os principais objectivos do processo de maceração são: Libertar os grânulos na estrutura celular empacotada. Isolar o amido com o mínimo de danos e pureza máxima Reduzir ou inibir a actividade de microorganismos indesejáveis. Após a maceração, os grãos são degerminados por moagem grossa, sendo estes separados por densidade, dado que o gérmen é menos denso devido aos seus elevados conteúdo de óleo. O restante material é moído novamente para libertar a maioria do amido que ficou e outros componentes. O amido pode ser separado dos outros componentes por centrifugação, baseado na diferença de densidade entre o amido e os outros componentes como as proteínas. O isolamento do amido do arroz, comparado com o trigo e o milho, é mais difícil e portanto mais caro. O amido no endosperma do arroz encontra-se associado com proteínas que ocorrem como corpos proteico I e II (PBI e PBII). (Adoracion, P.R.,et al 1993). A PBI é uma prolamina, contabilizando 20% da proteina do arroz, enquanto a PBII é uma glutelina, contabilizando 60% da proteína total. Ambas as proteínas são hidrofóbicas e resistem ao inchamento em água a pH neutro. Além disso, a PBII encontra-se entrecruzada por pontes dissulfeto. (Juliano, 1984) 24 Material proteico não caracterizado está também localizado em pequenas bolsas rodeando os corpos proteicos bem como os grânulos de amido individuais. (Bechtel e Pomeranz, 1978) Para além dos problemas associados às proteínas do arroz, os grânulos minúsculos do amido do arroz são lentos a sedimentar em água, resultando em perdas durante a separação e purificação. O amido do arroz tem sido purificado do endosperma por diversos métodos: método alcalino, método de detergente e digestão com proteases. (Juliano, 1984, Maningat, e Juliano, 1979, Maningat, e Juliano, 1980, Morrison, et al 1984) O método alcalino fornece amidos de elevada pureza. O método de detergente é também satisfatório na remoção de proteína e fibra do endosperma do arroz. Para os amidos de tubérculos, tais como o amido de batata, o principal processo de extracção envolve a imersão do tubérculo, desintegração e centrifugação. A imersão é realizada numa solução aquosa contendo bissulfito de sódio a pH controlo para evitar reacções bioquímicas tais como a descoloração dos tubérculos. A desintegração e centrifugação são utilizadas para separar o amido dos outros componentes. Os grânulos de amido não estão uniformemente distribuídos nas paredes celulares dos tubérculos. Eles podem ser libertados dos tubérculos por ruptura das paredes celulares. Isto é realizado durante a desintegração dos tubérculos. O amido pode ser purificado por lavagem, sedimentação e centrifugação. Este pode ser seco, quimicamente modificado ou enzimaticamente hidrolisado para a produção de novos produtos (derivados do amido) e para melhorar as suas propriedades funcionais O isolamento do amido a partir das sementes de legumes é difícil devido a presença de proteína insolúvel e floculento e fibra fina, que diminui a sedimentação e co-assenta com o amido originando um depósito acastanhado. (Hoover, e Sosulski, 1985) O amido de legumes é isolado por técnicas aquosas como também por “pin milling” e classificação por corrente de ar. (Reichert e Youngs, 1978) O processo de purificação do amido, se não realizado com precaução pode levar a alterações significativas na estrutura e propriedades dos grânulos de amido isolados, como por exemplo o tratamento térmico dos grânulos de amido a humidade relativa 25 baixa e elevada temperatura, ou em excesso de água a baixas temperaturas por períodos de tempo prolongados (i.e. anelamento). O anelamento (do inglês annealing), de acordo com a definição de Jacobs e Delcour (1996), é um tratamento físico no qual o amido em excesso de água ou em teor de água intermediário (40% p/p) é exposto durante certo período de tempo, a temperatura superior à de transição vítrea, mas inferior à sua temperatura de gelatinização. O tratamento de anelamento altera a cristalinidade molecular dos grânulos, provocando um aumento das propriedades de viscosidade o que resulta numa alteração no perfil de fusão no DSC do amido. (Wischmann e Nissen, 2002) Em todos os processos de isolamento do amido os grânulos são embebidos e lavados com água durante um determinado período de tempo logo existe um risco dos grânulos de amido sofrerem anelamento é portanto importante ter em consideração. 1.3-Enquadramento do Trabalho e Objectivos: O amido é um dos componentes mais abundantes das castanhas. A forma e as propriedades funcionais do amido variam amplamente entre e dentro da mesma espécie botânica, o que resulta em amidos com propriedades diferenciadas mas que podem também causar problemas de processamento devido a inconsistências no material de partida. Para além disso as suas propriedades dependem também da sua interacção com outros constituintes, particularmente água e lípidos. Ter a capacidade de prever a funcionalidade a partir do conhecimento da sua estrutura, e explicar de que forma o amido interacciona com os outros principais constituintes alimentares permanece um desafio. A amilose influencia o empacotamento da amilopectina em cristalitos e a organização da lamela cristalina dentro dos grânulos, o que é importante para as propriedades relacionadas com a absorção de água. As propriedades térmicas e formação de gel parecem estar relacionadas tanto pelo conteúdo de amilose como pela arquitectura da amilopectina. Enquanto o conteúdo de amilose tem provavelmente um peso importante nas propriedades funcionais do amido, variações subtis na arquitectura molecular da amilopectina introduzem incertezas nas previsões das propriedades funcionais apenas a partir do conteúdo de amilose. 26 A capacidade de relacionar a estrutura dos grânulos de amido com a adequabilidade para um dado processamento alimentar ou a sua qualidade nutricional depende não apenas do nosso conhecimento dos factores genéticos e ambientais que controlam a biossíntese do amido, que por sua vez afectam a morfologia dos grânulos de amido, mas também de que forma o material é processado. Investigações recentes utilizando populações geneticamente diversas de variedades de trigo mostraram que os amidos podem ser quimicamente semelhantes, mas podem apresentar propriedades funcionais significativamente diferentes. No entanto de forma a poder relacionar a sua estrutura com o seu comportamento nos alimentos é necessário que o amido seja isolado destes com a menor alteração possível na sua estrutura. O método de isolamento do amido dos alimentos é importante para a sua composição química e funcionalidade. Vários estudos têm demonstrado a influência do método de isolamento na composição química e propriedades funcionais dos amidos isolados de diversas fontes botânicas. Dos vários métodos recentemente descritos para o isolamento do amido da castanha e utilizados para a sua caracterização química e funcional envolvem métodos de isolamento alcalinos. Utilizando soluções alcalinas com concentrações superiores a 0, 24% (p/v), isto é soluções de NaOH com concentrações molares superiores a 0,06 M, para o isolamento do amido do arroz, verificou-se um inchamento alcalino dos grânulos, resultando numa ruptura significativa da morfologia do grânulo associado com um decréscimo da cristalinidade e entalpia de gelatinização. (Cardoso M. B., et al 2007) A forma cristalina do tipo B parece ser mais afectada com o tratamento alcalino que a forma cristalina do tipo A. (Roberta C. S. Thys, et al 2008) Além disso o pre-tratmento da amostra tem uma influência decisiva nas características do amido isolado. O aquecimento dos grânulos de amido de batata com uma percentagem de humidade entre os 52-59% durante 15 min a 61ºC provocou uma perda de cristalinidade entre 70 a 20%, respectivamente (H. F. ZOBEL, et al 1988), tendo sido observado uma perda de 20% de cristalinidade quando o amido de batata com uma percentagem de humidade de 49% foi aquecido a 60ºC durante 15 min. (Erik Svensson e Ann-Charlotte Eliasson 1995) Um outro factor a ter em conta durante o processo de purificação do amido é o efeito do anelamento. O anelamento pode provocar alterações drásticas nas características de gelatinização. 27 Como resultado do anelamento dos grânulos de amido, a temperatura de gelatinização é aumentada, a gama de temperaturas de gelatinização são diminuídas e a entalpia de gelatinização é aumentada. O anelamento não provoca alterações nos padrões de raios-X. Possiveis explicações para este fenómeno de anelamento incluem: (i) Crescimento e aperfeiçoamento dos cristalitos (ii) Alterações das forças de ligação entre e cristalitos e da matriz amorfa. O anelamento também afecta as características de formação de pastas, observando-se um aumento da temperatura de início do processo de gelatinização, menor viscosidade de pico e aumento da viscosidade das pastas de amido após arrefecimento. O processo de anelamento pode ocorrer mesmo à temperatura ambiente (25ºC), embora de forma bastante limitada, mas aumentando claramente com a temperatura, o tempo do processo e a quantidade de água. (R. F. Tester, et al 1998) O objectivo deste trabalho foi o desenvolvimento de um método de isolamento do amido de castanha utilizando condições suaves para minimizar as alterações na sua composição química e propriedades funcionais de forma a se comparar a estrutura e funcionalidade do amido isolado de quatro variedades de castanha, nomeadamente Longal, Martaínha, Lada e Judia. A caracterização estrutural do amido e a sua relação com as propriedades funcionais do mesmo, ajudará a compreender o comportamento das diferentes variedades de castanha quando processadas quer para consumo humano (processo de cozimento e processo de assamento), bem como a nível industrial para o seu processamento para a produção de marron glacé, o qual envolve tecnologicamente o processamento térmico das castanhas. 28 2-Materiais e Métodos 29 2.1-Extracção e Purificação do Amido das Castanhas Para a extracção e purificação do amido das castanhas utilizaram-se castanhas de 4 variedades, Longal, Martaínha, Lada e Judia. As castanhas foram descascadas, despeladas, cortada em quatro e liofilizadas. Após liofilização as castanhas foram moídas num moinho de café para obter a farinha de castanha. A farinha de castanha (25g) foi misturada com 250 mL de uma solução aquosa de bissulfito de sódio (25 mM) e deixado a humedecer a farinha durante 1h à temperatura ambiente. Após este período a farinha foi homogeneizada no liquidificador de Waring durante 3 minutos à potência máxima. A mistura foi transferida para um copo de decantação, e deixada a sedimentar, tendo-se observado a formação de duas camadas com coloração distinta, uma branca que depositou na parte inferior e uma castanha que depositou na parte superior. O líquido foi separado por decantação e a camada castanha foi removida por raspagem cuidada. O amido foi purificado por decantações sucessivas após ressuspensão em 250 mL de água (8 vezes). Após purificação o amido foi filtrado num kitasato com um funil de buckner através de uma gaze, tendo sido o material lavado com 250 mL de etanol a 95%. O material foi seco à temperatura ambiente. O material obtido foi posteriormente moído num almofariz e peneirada através de um peneiro com um crivo de 0,108 mm. 2.2- Caracterização Química do Amido Isolado e Purificado da Castanha. O amido isolado e purificado a partir das diferentes variedades de castanha após secagem em estufa foi caracterizado quimicamente relativamente ao seu teor em humidade, amilose, proteína e fósforo. 30 2.2.1 - Determinação do Teor de Humidade A determinação do teor de humidade do amido foi efectuada gravimetricamente por secagem em estufa a 130ºC durante duas horas (peso constante). 2.2.2 - Determinação do Teor de Amido Total e Amido Danificado A determinação do conteúdo total de amido total (K-TSTA) e amido danificado (K-SDAM) isolado das castanhas foi determinado enzimaticamente utilizando os kit‟s enzimáticos da Megazyme, de acordo com os métodos AACC (Method 76.13) e AACC Method 76-31, respectivamente. 2.2.2 - Determinação da Percentagem de Amilose Aparente e Amilose Para a determinação da percentagem de amilose aparente e amilose dos amidos isolados a partir das diferentes variedades de castanha estudadas utilizou-se o método colorimétrico baseado na complexação do iodo pelas moléculas de amilose descrito por Chrasil (1987). O teor de amilose aparente e amilose total foi determinado através da ligação de iodo sem e com a extracção de lípidos com 85% de metanol, respectivamente, sendo o teor de amilose complexada com lípidos calculado por diferença entre o teor de amilose total e amilose aparente, quando estes apresentaram valores significativamente diferentes. Para a determinação do conteúdo de amilose aparente, pesaram-se 20 mg de amido e adicionaram-se 5 mL de dimetilssulfóxido (DMSO). A mistura foi aquecida a 100ºC durante 1h num banho de água, com agitação de 15 em 15 min. Para a determinação do conteúdo de amido realizou-se a extracção dos lípidos do amido por extracção com uma solução de 85% de metanol. Pesaram-se 20 mg de 31 amido, adicionaram-se 5 mL da solução de 85% de metanol. Aqueceu-se a mistura a 60ºC durante 30 min, agitando-se de 5 em 5 minutos por forma a ressuspender o amido. Após este período, a mistura foi centrifugada a 6000 rpm durante 10 min. A solução sobrenadante foi separada por decantação. O processo de extracção foi repetido mais duas vezes. Após a extracção dos lípidos adicionou-se 5 mL de DMSO, e o amido foi solubilizado por aquecimento durante 100ºC durante 1h num banho de água, com agitação de 15 em 15 min. A 100 L da solução de amido solubilizado em DMSO foram adicionados 5 mL de uma solução a 0,5% de ácido tricloroacético. Após mistura foram adicionados 50 L de uma solução 0,01N de I2 em KI (1.27 g de I 2/L + 3 g de KI/L) e agitados imediatamente. A cor azul desenvolvida foi determinada a 620 nm após 30 min a 25ºC. A quantificação da amilose foi realizada através da utilização de uma curva de calibração utilizando a amilose da batata (Fluka, ref. 10130) como padrão. O método é linear na gama de concentração de amilose até 2,5 mg de amilose/mL (Figura 13). 1,2 Abs 620 nm 1,0 y = 3,9551x + 0,0059 R² = 0,9983 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 Amilose (mg/mL) Figura 13 – Recta de calibração típica para a determinação do conteúdo de amilose pelo método descrito por Chrasil (1987) 32 2.2.3 – Determinação do teor de proteína e fósforo. A determinação do teor em proteína e fósforo foi realizada por determinação do teor em azoto e fosforo após digestão ácida de acordo com Novozamsky et al (1983) Determinação do N total no digerido foi efectuada por espetrofotometria de absorção molecular em analisador de fluxo segmentado (SanPlus, Skalar, Breda, Holanda), pela reação de Berthelot, adaptado de Houba et al. (1994). A determinação do P total no digerido foi realizada por espetrofotometria de absorção molecular em analisador de fluxo segmentado (SanPlus, Skalar, Breda, Holanda), pelo método do molibdato-ácido ascóbico, adaptado de Coutinho (1996) 2.3 – Determinação da Morfologia e Dimensões dos Grânulos de Amido por Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM). Para a obtenção das fotografias de microscopia electrónica, as amostras de amido seco foram suspensas em água destilada durante 24 h e ocasionalmente sonicada (2 min). Uma gota da suspensão foi aplicada em cola de carbono e seca ao ar. A observação foi realizada num microscópico SEM/ESEM FEI QUANTA – 400 a uma voltagem de aceleração de 12,5 kV a uma pressão de 6 mbar (modo ambiental). A determinação do diâmetro dos grânulos de amido foi determinada utilizando um software de análise de imagem (ImageTool for Windows Versão 3.0), tendo sido sempre utilizado o diâmetro superior dos grânulos de amido. Para a determinação do valor médio do diâmetro dos grânulos de amido foram utilizados pelos menos 20 grânulos de amido. 33 2.4-Determinação da Cristalinidade dos grânulos de Amido por Difractometria de Raio- X A cristalinidade dos grânulos de amido foi determinada com um difractómetro de raios X (PANalytical modelo X‟Perto PRO com detector X‟Celerator) com uma fonte de raios X de cobre KR. As amostras de amido foram preparadas num portaamostras padrão, sendo utilizado o modo rotativo (spinner). As amostras em pó foram expostas a uma radiação de raios X (6kV e 40mA). A região de varrimento do ângulo de difracção 2 foi de 4-60º, e a velocidade de varrimento foi de 0,05º/s. A aquisição foi efectuada na geometria Bragg-Bentano. A determinação quantitativa da percentagem de cristalinidade foi realizada utilizando a aproximação do defeito de cristal, no qual a área da totalidade do espectro de difracção é calculada (At) e a área dos vários picos cristalinos observados no espectro são calculados (Ac) por conexão dos dois pontos de intensidade mínima observados em cada um dos picos (Figura 14), sendo a percentagem de cristalinidade calculada através da seguinte fórmula: 34 Figura 14 – Exemplificação do cálculo do grau de cristalinidade pelo método do defeito de cristal. Cálculo de área total do espectro de raio-X (At, figura superior) e cálculo da área cristalina (Aci, figura inferior). 2.5-Estudo do Efeito do Teor de Humidade na Cristalinidade dos Grânulos de Amido. O teor de humidade dos grânulos de amido foi manipulada por colocação do amido em diferentes atmosferas com uma humidade relativa de equilíbrio conhecidas e constantes, as quais foram obtidas por utilização de água (HRE/100=1) e soluções saturadas de NaCl (%HRE/100=0,7541), Mg(NO3)2.6H2O (HRE/100=0,5447) e NaOH (HRE/100=0,0698). A massa de amido foi monitorizada diariamente até se obter um peso constante (cerca de 5 dias). O teor de humidade das amostras das diferentes amostras de amido foi determinada pelo método descrito em 2.2.1, e o espectro de difracção de raios X foi determinado pelo métodos descrito em 2.4. 35 2.6-Determinação das Características de Gelatinização por Calorimetria de Varrimento Diferencial A temperatura de gelatinização e a entalpia de gelatinização durante o aquecimento foram determinados utilizando um calorímetro de varrimento diferencial (DSC SETERAM 131, França). Cerca de 8 mg de amido e 24 L de água foram adicionados em cadinhos de alumínio e hermeticamente fechados. As misturas foram incubadas à temperatura ambiente durante 24 h. Um cadinho vazio foi utilizado como referencia. A temperatura de varrimento foi aumentada desde 25ºC até 120ºC a 10ºC/min. A temperatura de inicio de gelatinização (T0), a temperatura do máximo do máximo de gelatinização (Tp) e a entalpia de gelatinização (H) foi obtida por análise dos dados no software do instrumento. A amplitude da temperatura de gelatinização R e o índice de altura do pico, PHI foram calculados de acordo com o método descrito por Krueger et al. (1987) 2.7 – Comportamento de Inchamento e Amido Solubilizado. O comportamento de inchamento dos grânulos de amido de castanha foi determinado pelo método de Li and Yeh (2001). As suspensões de amido a 1% (w/v) foram colocadas em tubos de ensaio rolhados de 10 mL e os tubos foram aquecidos a 50, 60, 70, 80 e 90ºC durante 30 min, num banho de água, com ressuspensão do material depositado cada 5 min. Após aquecimento, os tubos foram rapidamente arrefecidos à temperatura ambiente e centrifugados a 4500 rpm durante 15 min. O sobrenadante foi separado, e o amido inchado precipitado foi pesado. O amido 36 solubilizado (SS do inglês “solubilized starch”) foi determinado pela razão do conteúdo total de açúcares no sobrenadante, expressos como anidroglucose, determinado pelo método do fenol-ácido sulfúrico (Dubois, M.; et al 1956), relativamente à massa de amido seco. O poder de inchamento (SP, g/g, do inglês swelling power) foi calculado a partir da seguinte fórmula: 2.8 – Determinação dos Açúcares Totais pelo Método do Fenol-Ácido Sulfurico. O conteúdo em açúcares totais do material dissolvido no sobrenadante foi estimado pelo método colorimétrico do fenol-ácido sulfúrico (Dubois et al., 1956). Adicionaram-se 25 L da solução sobrenadante resultante do processo de gelatinização de amido a um tubo de ensaio de 25 mL. Adicionaram-se 200 L de uma solução de fenol a 5%. Agitou-se os conteúdos dos tubos. Adicionou-se 1 mL de ácido sulfúrico concentrado directamente sobre a superfície da solução contida no tubo, deixando-se em repouso durante 10 min. Após este período a solução foi agitada e deixada a repousar mais 30 min à temperatura ambiente. A absorvância foi determinada a 490 nm utilizando cuvettes de plástico de 1 mL. Para a quantificação dos açúcares foi construída uma recta de calibração de glucose com concentrações entre 12,5mg/mL e 125 mg/mL. Os resultados foram expressos em anidroaçúcares (factor de conversão = 0,9) 37 1,00 y = 49,712x + 0,0109 R² = 0,9995 Abs 490 nm 0,75 0,50 0,25 0,00 0 0,005 0,01 0,015 0,02 Anidroglucose (mg) Figura 15 – Recta de calibração típica para a determinação do conteúdo de açúcares totais, expressos como anidroaçúcares pelo método descrito por Dubois et al. (1956). 2.9 – Determinação da Amilose Lixiviada. O conteúdo de amilose lixivida para a solução durante o processo de gelatinização foi determinado utilizando o método colorimétrico descrito por Chrasil (1987). A 100 L da solução sobrenadante resultante do processo de gelatinização do amido foram adicionados 5 mL de uma solução a 0,5% de ácido tricloroacético. Após mistura foram adicionados 50 L de uma solução 0,01N de I2 em KI (1.27 g de I 2/L + 3 g de KI/L) e agitados imediatamente. A cor azul desenvolvida foi determinada a 620 nm após 30 min a 25ºC. A quantificação da amilose foi realizada através da utilização de uma curva de calibração utilizando a amilose da batata (Fluka, ref. 10130) como padrão. O método é linear na gama de concentração de amilose até 2,5 mg de amilose/mL. 38 2.11-Determinação da Organização do Exterior dos grânulos de Amido por ATRFTIR Utilizando o acessório de Reflectância Total Atenuada (ATR), o feixe de radiação infravermelho atravessa um prisma que está em contacto com a amostra, sendo reflectido internamente do príncipio ao fim do cristal. As condições para a reflexão total interna ocorrem apenas quando seni > n2/n1, onde i é o ângulo de incidência na entrada do prisma, n1 é o índice de refracção do material do prisma (neste caso diamante) e n2 é o índice de refracção da amostra. Nestas condições uma onda evanescente penetra na amostra sendo capaz de interacionar com ela para além da interface prisma-amostra, levando à absorção de radiação do feixe de infravermelho. A intensidade da absorção depende em primeiro lugar do bom contacto entre a amostra e o prisma, e em segundo lugar da profundidade de penetração da onde evanescente. O ATR é frequentemente considerado como um método de superfície. A profundidade de penetração (dp) é definida como a distancia na qual o campo é reduzido por um factor de 1/e, e é expresso por (Harrick NJ., 1967): onde é o comprimento de onda da luz incidente, i é o ângulo de incidência, n1 e n2 são os índices de refracção do cristal de ATR e da amostra, respectivamente. Considerando i=45º, n1=2,4 para o diamante, e n2~1,5, a relação anterior pode ser simplificada para: dp~0,2 A profundidade de penetração está directamente relacionada com o comprimento de onda. Quando maior o comprimento de onda, maior a profundidade de penetração. 39 Os polissacarídeos como o amido absorvem na região entre 1200-800 cm-1, isto é a comprimentos de onda entre 8 e 12 m. Nesta região a profundidade de penetração média é de ~2m. Os especrtros de FTIR foram obtidos num espectrómetro Unicam Professional Series com um detector de DTGS equipado com dispositivo de ATR de diamante de reflectancia única (angulo de incidência de 45º) (golden gate cell, Graseby-Specac Ltd, Orpington, UK). Para cada medição foram efectuados 128 scans com uma resolução de 4 cm-1. 2.12- Determinação do Perfil de Peso Molecular da Amilopectina e Amilose por Cromatografia de Exclusão Molecular Para a determinação do perfil de peso moleculares da amilopectina e amilose foi realizada por cromatografia de exclusão molecular utilizando três colunas em série PolySep-GFC-P 5000 (300 mm x 7,8 mm x 8m, Phenomenex, limite de exclusão 4 MDa, pululanas), Shodex OH pak SB804 HQ (300 mm x 7,8 mm x 8 m, Shodex, limite de exclusão 1 MDa, pululanas) e TSKgel G4000SWXL (300 mm x 7,8 mm x 8 m, TosoHaas, limite de exclusão 700 kDa, dextranas) e o eluente foi monitorizado continuamente utilizando um detector de índice de refracção (RefractoMonitor III, LDC-Milton-Roy). O eluente utilizado foi uma solução tampão de acetato de amónio 25 mM contendo 0,02% de azida de sódio. O Fluxo utilizado foi de 0,4 mL/min e a temperatura das colunas foram mantidas a 40ºC durante a eluição. O eluente foi recolhido com um colector de fracções, em fracções de 0,4 mL. As fracções foram analisadas para o conteúdo de açúcares totais pelo método do fenol-ácido sulfúrico (Dubois et al., 1956), quantidade de amilose (Chrasil, J., 1987), os espectros das 40 fracções foram adquiridos entre 400 e 700 nm para a determinação do comprimento de onda máximo de absorção do complexo amido-iodo. Para a solubilização do amido foram utilizados 25 mg de amostra e esta foi dissolvida numa solução de DMSO:água 90:10 e aquecido a 100ºC durante 1h com agitação de 10 em 10 minutos. O volume de injecção foi 1 mL. O volume de exclusão e volume total foram calibrados com padrões de dextranas e glucose, respectivamente. 2.13- Determinação do Perfil de Viscosidade durante a Gelatinização e Gelificação. O perfil de viscosidade durante a formação de pastas de amido foi analisado utilizando o STARCH PASTING CELL (TA Intruments, UK), acoplado num reómetro AR1000 (TA instruments, UK). Para a análise utilizaram-se 3 g de amido por 25 mL de água. A amostra foi pré-condicionada com um pré-shear a 160 s-1 durante 30 segundos após a temperatura estabilizar a 30ºC. Após este período a velocidade de corte foi reduzida a 60 s-1 e mantida durante 30 s a 30ºC. A temperatura foi aumentada de 30 a 90ºC em 4 min, mantendo a velocidade de corte a 60 s-1, e mantida a 90ºC durante mais 6 min. Após este período a temperatura foi diminuída para 30ºC em 4 min, e mantida a 30ºC durante mais 5 min. A velocidade de corte foi sempre mantida a 60 s-1. Os parâmetros de viscosidade obtidos durante a formação das pastas de amido estão descritos na Figura 16. 41 Temperatura Máximo Viscosidade Viscosidade Final Quebra Assentamento Viscosidade Mínima Temperatura Gelatinização Temperatura (ºC) Viscosidade (Pa.s) Máximo Viscosidade Tempo (min) Figura 16 – Representação do perfil de viscosidade durante a formação de pastas de amido, e dos parâmetros obtidos para a quantificação do seu comportamento. 2.13- Análise Estatística. Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente utilizando a ANOVA de um factor ou a ANOVA factorial dependendo dos resultados a analisar, utilizando o Software Statistica 8.0. As médias signifivativamente diferentes foram testadas utilizando teste post-hoc Fischer LS. O nível de significância para todos os testes estatísticos foi de 95%. 42 3-Discução e Resultados 43 3.1-Rendimento e Composição Química do Amido Isolado das Diferentes Variedades de Castanha. Os amidos de castanha obtidos após isolamento e purificação por decantações sucessivas da farinha da castanha apresentaram uma cor branca característica do amido (Figura 17). Figura 17 – Aspecto do amido isolado das diferentes variedades de castanha estudados. Na Tabela 3, encontra-se descrito o rendimento de amido obtido relativamente à massa de farinha utilizada para a extracção. A percentagem de amido recuperado após o procedimento de purificação utilizado variou entre 34 a 51% da massa de farinha de 44 castanha, o que representará cerca de 49 a 71% do teor de amido provável das castanhas (considerando um teor de 35% de amido e um teor de água de 50%). (Silva, 1997) Tabela 3 – Rendimento de Extracção e Composição Química do Amido Isolado das Diferentes Variedades de Castanha. Variedade Rendimento (%) Humidade Proteína (%)a Fosforo (%) (%) Longal 48.4 12,4±0,3 0,48±0,02 0,00110±0,00001 Martainha 34.1 12,6±0,4 0,51±0,02 0,00098±0,00001 Lada 51.3 10,5±0,4 0,60±0,01 0,00070±0,00001 Judia 45.7 12,2±0,2 0,39±0,02 0,00016±0,00001 a %Proteína = %Azoto x 6.25 Tabela 4 – Amido Total e Amido Danificado Isolado das Diferentes Variedades de Castanha. Variedade Amido Total (%)a) Amido Danificado (%)b) Longal 93,2±1,1a 17,6±1,0a Martaína 86,8±0,2ª,b 11,4±0,1ª,b Lada 92,6±0,8b,c 19,2±0,8b,c Judia 79,7±0,1ª,b,c 29,8±0,3ª,b,c ANOVA 0,00019 0,00017 a) Expresso em peso seco; b) Expresso ao conteúdo de amido total em peso seco 45 Como se pode observar a partir da Tabela 4, o teor de amido das preparações obtidas a partir das variedades Longal e Lada foi cerca de 93%, tendo sido de 87% para o isolado a partir da variedade Martaínha e cerca de 80% para o amido isolado a partir da variedade Judia. Estes resultados, juntamente com a percentagem de proteína presente nos preparados mostram que os amidos foram isolados das diferentes variedades de castanha com elevado grau de pureza. Este método desenvolvido permite o isolamento do amido de castanha com elevado grau de pureza e com alterações muito pouco significativas na sua estrutura pelo menos no que diz respeito ao amido danificado. O teor de humidade dos amidos das castanhas equilibrados ao ar variou entre 10,5 e 12,6%. Este teor em humidade está de acordo com o encontrado para outros amidos isolados de outras fontes vegetais, em que se verifica que o teor de humidade dos amidos de cereais equilibrados ao ar apresentam um teor de humidade entre 10-12% e os amidos de raízes e tubérculos variam entre 14-18%. (Richard et al, 2004) O amido isolado das diferentes variedades de castanha apresentou um baixo teor em proteína (Tabela 3), parâmetro indicativo de uma elevada pureza do material obtido. O amido isolado das diferentes variedades de castanha apresentou um baixo teor em fósforo que variou entre 0,00016 e 0,0011% (Tabela 3). Praticamente todos os amidos estudados apresentam algum teor em fósforo. Este fosforo pode ser derivado dos fosfolípidos mas pode estar também presente no amido como monoesteres de fosfato ligados às moléculas de amilopectina, como por exemplo o amido de batata que pode conter até 0,09% de fosforo e alguns amidos também contem fosfato inorganico 46 Tabela 5 – Conteúdo de Amilose Aparente e Amilose dos Amidos Isolados das Diferentes Variedades de Castanhaa). Variedade Amilose Amilose (%) Amilose-Lipido (%) Aparente (%) Longal 24,7±0,9ª 26,6±1,3ª nsd# Martaínha 24,8±0,8b 28,8±0,8ª,b 3,4 (5,2;1,6)¥ (p<0.0008) Lada 22,9±1,1 24,0±1,2ª,b,c nsd# Judia 21,0±1,2ª,b 26,8±0,5c 4,3 (6,1;2,5) ¥ (p<0.00003) Resultados da ANOVA Factorial a) Variedade p<0,00099 Tipo de Amilose p<0,00001 Interacção p<0,0153 Expressos em relação ao conteúdo de amido. Para cada coluna, a é significativamente diferente dos outros a‟s (p<0.05), Fisher LSD post-hoc.; aparente e amilose não são significativamente diferentes. # ¥ - O conteúdo de amilose - Intervalo de confiança a 95% para a diferença entre o conteúdo em amilose aparente e conteúdo em amilose dos amidos. A percentagem de amilose aparente dos amidos de castanha isolados das diferentes variedades variou entre 21,0 e 24,8% (Tabela 5). O amido isolado da variedade Longal e Martaínha apresentaram um conteúdo de amilose aparente significativamente superior às outras variedades, sendo o amido isolado da variedade Judia aquele que apresentou um conteúdo de amilose aparente inferior (Tabela 5). A amilose presente nos grânulos de amido pode estar na forma de complexo 47 amilose-lípido e desta forma diminuir a capacidade da amilose complexar o iodo, levando a uma subestimativa do verdadeiro conteúdo em amilose dos grânulos de amido (BoIling e Baya, 1975). Além disso, a presença de amilose complexada com lípidos pode alterar significativamente o comportamento dos grânulos de amido durante o processo de inchamento dos grânulos em água quente, geltinização e gelificação. Para determinar o conteúdo de amilose, e por diferença estimar o conteúdo de amilose presente na forma de complexos amilose-lípidos, efectuou-se a extracção dos lípidos potencialmente presentes no amido com uma solução de metanol a 85% (Chasil, 1987) e o teor de amilose foi quantificado após solubilização do amido. Como se pode observar na Tabela 5, para o amido isolado das variedades Longal e Lada, o conteúdo de amilose e de amilose aparente não apresentaram diferenças significativas. No entanto para o amido isolado das variedades Martainha e Judia, o conteúdo de amilose e de amilose aparente foi significativamente diferente. Isto significa que o amido isolado das variedades Martaínha e Judia apresentou amilose complexada com lípidos. A percentagem de amilose dos grânulos de amido é dependente da origem botânica do amido, com os amidos cerosos apresentado conteúdos de amilose inferiores a 15%, os amidos “normais” apresentando conteúdos de amilose entre 20-35% e os amidos com elevado conteúdo de amilose valores superiores a 40%. (Buléon, et al 1998) É de referir no entanto que a determinação do teor de amilose através do método colorimétrico pode sofrer interferência do conteúdo de amilopectina (BoIling e El Baya 1975) e pela estrutura da amilopectina (Morrison e Karkalas, 1990) dado que as cadeias laterais mais compridas presentes na amilopectina também podem complexar o iodo contribuindo para a cor azul desenvolvida por um amido em particular. (Morrison e Karkalas, 1990) 48 A capacidade da amilose formar complexos de inclusão com o iodo é comumente utilizada para a caracterização do amido das diferentes fontes botânicas (Knutson, 1999). Yu, Houtman e Atalla (1996) demonstraram que as estruturas primárias das cadeias de poliiodeto são compostas por subunidades de I 3- e I5 combinadas para formar quatro cadeias dominantes de poliiodetos (I93-, I113-, I133- e I153-) que originam diferentes espectros de absorção quando complexados com a amilose. Os máximos de absorvância desses complexos são 480-510, 610-640, 690-720 e 730-760 nm, respectivamente. Estes espectros sobrepõem-se para originar o espectro característico do complexo amilose-iodo. Variações na concentração de iodo alteram as proporções relativas destas cadeias e a sua estrutura. Também, o tamanho das cadeias de 1,4-αglucana disponível para a formação do complexo influencia as proporções relativas dos espectros individuais. O equilíbrio para a formação do complexo é altamente complicado, dependendo quer do tamanho das cadeias de amilose bem como do tamanho da cadeia de iodeto. Todas as α-glucanas formam complexos de inclusão helicoidais com o iodo, sendo a extensão de ligação do iodo dependente do grau de formação de hélices de uma amilose em particular. Uma hélice capaz de formar complexos de inclusão com o iodo tem de conter seis unidades de glucose por volta (Gidley e Bulpin, 1987). À medida que a cadeia da glucana aumenta, e desta forma o número de voltas da hélice aumenta, aumenta o número de moléculas de iodo que poder ser acomodadas no complexo, aumentando a capacidade de ligação do iodo. O aumento da capacidade de complexação do iodo provoca um deslocamento do máximo de absorção do espectro, havendo uma proporcionalidade entre 1/ max e 1/DP até um DP de cerca de 100 (Banks, Greenwood e Khan, 1971; Bailey e Whelan, 1961), tendo sido estimado um limite de 49 de 642-650 nm (Banks et aI., 1971; John, Schmidt e Kneifel, 1983). Bailey e max Whelan (1961) e Pfannemuller, Mayerhofer e Schulz (1969) demonstraram que a absortividade do complexo aumenta com o aumento da cadeia de -D-glucana, sendo o aumento grande para baixos DP‟s, mas diminuindo progressivamente acima de DP 100. Na Figura 18 de a) a d) apresentam-se os espectros de absorção obtido para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha. Como se pode observar para as variedades Longal, Martaínha e Judia, os espectros obtido apresentam um máximo de absorção a 608 nm, no entanto para a variedade Lada o máximo de absorção ocorreu a 602 nm. Estes resultados sugerem que a amilose presente no amido da variedade Lada apresenta um DP inferior à amilose presente no amido das varidades Longal, Martaínha e Judia. a) b) 0,35 0,40 0,30 0,30 0,25 Absorvância Absorvância 608 nm 608 nm 0,35 0,25 0,20 0,15 0,10 0,20 0,15 0,10 0,05 0,05 0,00 0,00 400 450 500 550 600 650 700 750 800 850 400 900 450 500 550 600 650 700 750 800 850 900 800 850 900 Comprimento de Onda (nm) Comprimento de Onda (nm) c) d) 0,45 0,35 602 nm 608 nm 0,40 0,30 0,35 Absorvância Absorvância 0,25 0,20 0,15 0,10 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,05 0,00 0,00 400 450 500 550 600 650 700 750 800 850 900 400 Comprimento de Onda (nm) 450 500 550 600 650 700 750 Comprimento de Onda (nm) Figura 18 – Espectro de visível do complexo amido-iodo para o amido isolado da variedade: a) Longal; b) Martaínha; c) Lada; d) Judia 50 3.2 – Morfologia dos Grânulos de Amido Os grânulos de amidos isolados de diferentes fontes botânicas apresentam uma morfologia característica (Jane, et al 1994; Ao e Jane, 2007; Perera, et al 2001; Raosavljevic, et al 1998; Gallant e Bouchet . 1986; Hall e Sayre, 1970). A morfologia dos grânulos de amido isolados das diferentes variedades de castanha foi analisada por microscopia electrónica de varrimento (Figura 18). Os amidos isolados das diferentes variedades de castanha apresentam formas ovais e esféricas irregulares. Existe uma dispersão de tamanhos como se pode visualizar na Figura 18. A partir da análise qualitativa do tamanho dos grânulos de amido não existem diferenças notórias no tamanho dos grânulos de amidos das diferentes variedades, embora aparentemente o amido isolado a partir da variedade Judia apresente uma maior proporção de grânulos de amido de dimensões reduzidas. Podemos observar também que o amido isolado pelo método utilizado não danifica os grânulos de amido, já que nas fotografias de SEM não existe a evidência de grânulos de amido danificados. O tamanho dos grânulos de amido isolados a partir das diferentes variedades de castanha apresentou um valor médio de 11 m, tendo-se observado diâmetro de grânulos de amido desde 4 m (menor valor determinado a partir das imagens de SEM) até 21 m (maior valor determinado a partir das imagens de SEM). Os diâmetros dos grânulos de amido isolados a partir do trigo variam entre 2– 3 μm para a fracção B do amido de trigo e 22 – 36 μm para a fracção A, para a batata foram descritos valores que variam entre 15 – 75 μm, para o amido de milho entre 5– 20 μm, e para o amido de arroz o diâmetro dos grânulos de amido variam entre 3 – 8 μm. 51 (Raosavljevic, et al 1998; Zhao e Whistler, 1994; Yanez, et al 1986; Irving, et al 1981; Sugimoto, et al 1981) a b c d Figura 18 – Fotografias de Microscopia Electrónica de Varrimento dos Grânulos de amidos isolados a partir das variedades de castanha a) Longal, b) Martaínha; c) Lada; d) Judia 52 3.3-Criatalinidade dos Grânulos de Amido, e Efeito do Teor de Água no Grau de Cristalinidade Os grânulos de amido, dependendo da sua origem botânica e composição (razão amlose/amilopectina, comprimento das cadeias laterais de amilopectina), exibem dois tipos de padrões de difracção de raios-X, que estão relacionadas com as duas formas cristalinas polimórficas: o Tipo-A principalmente encontrados em amidos de cereais e o Tipo-B observado em amidos de tubérculos e amidos com elevados conteúdos de amilose (Zobel, 1988; Buleon, 1998). Outra forma polimórfica está descrita (designada de tipo C) que foi demonstrada ser derivada da coexistência de cristais A e B nos grânulos de amido. (Buleon, et al 1998) O grau de cristalinidade, que é definido como a percentagem das regiões cristalinas relativamente ao material total, é um parâmetro muito importante já que este influencia as propriedades físicas, mecânicas e tecnológicas do amido. Uma elevada cristalinidade resulta em elevadas temperaturas de gelatinização. (Defloor II, et al 1998) e correspondentemente a maiores máximos de viscosidade. Na Figura 19, apresentam-se os padrões de difracção de raios X obtidos para os amidos isolados a partir das variedades de castanha estudadas. 53 a b 4500 4000 4000 3500 Intensidade (cps) Intensidade (cps) 3500 3000 2500 2000 1500 1000 3000 2500 2000 1500 1000 500 500 0 0 5 10 15 20 25 5 30 10 2 (graus) c 20 25 30 d 4500 4500 4000 4000 3500 3500 Intensidade (cps) Intensidade (cps) 15 2 (graus) 3000 2500 2000 1500 1000 500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 0 5 10 15 20 25 30 5 2 (graus) 10 15 20 25 30 2 (graus) Figura 19 – Espectro de difracção de raios-X dos amidos isolados das variedades de castanha: a – Longal; b – Martaínha; c – Lada; d – Judia Os amidos isolados a partir das diferentes variedades de castanha apresentam um padrão de difracção de raios X do tipo B. Não existem diferenças significativas nos espectros de raios X do amido isolado a partir das diferentes variedades de castanha. Os grânulos de amido com moléculas de amilopectina com cadeias laterais curtas (DP 23-29) apresentam um padrão de difracção de raios-X do tipo A. Outros grânulos de amido contendo moléculas de amilopectina com cadeias laterais compridas (DP 30-44) apresentam um padrão de difracção de raios X do tipo B. 54 Os grânulos de amido contendo moléculas de amilopectina com cadeia laterais entre os dois (DP 26-30) apresentam um padrão de difracção de raios X de tipo C. (Hizukuri, et al 1983 e Hizukuri, 1985) Os espectros de raios-X do amido isolado a partir das diferentes variedades de castanha permitem especular que as moléculas de amilopectina presentes nos grânulos de amido da castanha apresentam cadeias laterais compridas, como o observado para as amilopectinas isoladas a partir de grânulos de amido com uma cristalinidade do tipo B. Como se pode observar na Tabela 6, o grau de cristalinidade dos amidos isolados a partir das diferentes variedades de castanha, e previamente equilibradas numa atmosfera com água (HRE=100%) até peso constante não diferiu significativamente para os amidos isolados a partir das diferentes variedades de castanha, variando entre 44,8% até 51,7%, para uma percentagem de humidade dos amidos entre 28,9% e 30,9%. Como referido no capítulo da introdução, a cristalinidade dos grânulos de amido isolados da castanha foram previamente descritos como sendo do tipo C. A diferença nos resultados obtidos devem-se certamente ao isolamento do amido sob condições alcalinas, bem como o pre-tratamento térmico efectuado à farinha de castanha previamente ao isolamento do amido. 55 Tabela 6 – Teor de água e grau de cristalinidade dos amidos isolados das diferentes variedades de castanha equilibradas em ambientes de humidade relativa de equilíbrio constante e conhecido Variedade %HRE/100 %Humidade Grau de Cristalinidade Longal 1,0 28,9 50,7 0,7541 18,9 36,9 0,5447 15,4 29,5 0,0698 5,1 8,9 1,0 30,9 44,8 0,7541 20,0 34,4 0,5447 15,0 29,3 0,0698 5,6 10,7 1,0 30,7 51,7 0,7541 17,6 36,8 0,5447 14,0 28,9 0,0698 5,7 12,7 1,0 29,0 47,8 0,7541 20,4 32,9 0,5447 15,5 30,7 0,0698 4,9 11,8 Martaínha Lada Judia 56 A diminuição do teor de água dos amidos, realizada por incubação prévia dos amidos em atmosferas com uma humidade relativa decrescente (%HRE/100=0.7541 (NaCl); 0,5447 (Mg(NO3)2.6H2O); 0,0698 (NaOH)) até peso constante, levou à diminuição da percentagem de cristalinidade dos diferentes amidos numa extensão muito semelhante (Figura 20 e Tabela 6). a 5 b 10 15 20 25 30 5 10 c 5 15 20 25 30 25 30 2 (graus) 2 (graus) d 10 15 20 2 (graus) 25 30 5 10 15 20 2 (graus) Figura 20 – Efeito do teor de água no espectro de difracção de raios-X dos amidos isolados das variedades de castanha: a – Longal; b – Martaínha; c – Lada; d – Judia Existe uma correlação significativa entre o teor de humidade dos amidos isolados das diferentes variedades de castanha estudada e o grau de cristalinidade dos 57 mesmos (Figura 21). A variação do teor de humidade dos amidos de castanha é responsável por 95,3% da variação observada no grau de cristalinidade dos amidos de castanha. Grau de Cristalinidade (%) 60 y = 1,5073x + 5,0046 R² = 0,953 50 40 30 20 10 0 0 5 10 15 20 25 30 35 g H2O/100g Figura 21 – Correlação entre a percentagem de humidade dos amidos isolados das variedades de castanha e o seu grau de cristalinidade. Os valores obtidos para o grau de cristalinidade dos grânulos de amido isolados das castanhas estão de acordo com os resultados presentes na literatura. A cristalinidade dos grânulos de amido de ervilha, batata, milho e trigo equilibrados a humidades relativas de equilíbrio moderadas estão na gama de 20-35% (Stephan, 1995; Gidley, et al 1985; Hartley, et al 1995). No entanto a cristalinidade é significativamente reduzida se os amidos são equilibrados em condições de baixa humidade relativa de equilíbrio e aumenta numa certa medida se os amidos são equilibrados a elevados valores de humidade relativa de equilíbrio (Stephan, 1995; Buleon, et al 1987; Cheetham e Tao, 1998 e Hartley, et al 1995) 58 O aumento do grau de cristalinidade dos grânulos de amido com o seu conteúdo de humidade está relacionado com o facto de as regiões cristalinas dos grânulos de amido para existirem necessitam de água estrutural e o aumento do teor de humidade dos grânulos de amido resultam no aumento da mobilidade molecular. (Bogracheva, et al 2001) Geralmente o efeito do conteúdo de água na cristalinidade dos grânulos de amido são mais pronunciados nos amidos apresentando uma cristalinidade do tipo B que nos amidos apresentando uma cristalinidade do tipo A. (Bogracheva, et al 2001) Esta diferente sensibilidade dos amidos apresentando uma cristalinidade do tipo B é o resultado dos cristalitos do tipo B apresentam um teor de água estrutural significativamente superior. (Wang et al, 1998) 3.4 – Grau de Ordem nos Grânulos de Amido por Espectroscopia de Infravermelho com Transformadas de Fourier (FTIR). O método de difracção de raios-X descrito anteriormente permite a medição da estrutura cristalina dos grânulos de amido tendo em conta interacções de longo alcance como o empacotamento das hélices duplas em conjuntos ordenados (Wu e Sarko 1978 e Imberty e Perez,1988) A espectroscopia de infravermelho com transformadas de Fourier (FTIR) é sensível às interacções de curto alcance, supostamente o conteúdo de hélices duplas do amido (Vasco et al 1972; Wilson, et al 1987; Goodfellow e Wilson 1990; Wilson e Belton, 1988; Bernazzani, et al 2000), em contraste com o observado pela técnica de difracção de raios-X (Wilson, et al 1987, Goodfellow e Wilson, 1990). A utilização da 59 técnica de amostragem de reflectância total atenuada (ATR), embora sendo um método expedito de obtenção de espectros de amostras sem pré-tratamento de amostra, é também uma técnica de superfície, permitindo a obtenção de informação da região exterior da amostra. O raio de infravermelho tem a capacidade de penetrar nos primeiros ~2 m da amostra. Esta profundidade de penetração é menor que o tamanho médio dos grânulos de amido, implicando que o espectro de infravermelho adquirido é representativo da parte exterior dos grânulos de amido. Os grânulos de amido exibem estruturas cristalinas-amorfas organizadas em várias escalas de tamanho (French, e Whistler, 1984) o grânulo inteiro de amido (vários m), os anéis de crescimento consistindo em lamelas semi-cristalinas e estruturas amorfas alternadas (~0,1 m), a lamela semi-cristalina constituída por empacotamentos de estruturas amorfas e lamelas cristalinas (~9 nm) (Tester et al, 2004) e as interacções moleculares na forma de duplas hélices empacotadas em cristais e conjuntos de cristais (~0,1 nm). Isso significa que a técnica de ATR-FTIR, adquirindo numa escala microscópica mede a informação global de vários anéis de crescimento, se bem que os mais exteriores, apresentando o potencial do estudo da organização dos grânulos de amido. A superfície e mais genericamente as regiões externas do grânulo de amido apresentam um interesse especial, já que são a interface entre o grânulo de amido e o seu meio envolvente. A informação da quantidade de regiões ordenadas e amorfas presentes no amido são importantes para o entendimento do polissacarídeo quando este é processado, por exemplo tratamentos térmicos, ou para prever as características dos produtos a base de amido quando estes são armazenados. Os espectros de ATR-FTIR obtidos para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha encontram-se descritos na Figura 22. O espectro de FTIR do amido apresenta bandas aos números de onda 1150, 1124 e 1103 cm-1 (alongamento 60 CO, CC com algumas contribuições COH), 1077, 1047, 1022, 994 e 928 cm-1 (deformação COH e modos de vibração CH2) e 861 cm-1 (alongamento simétrico COC e deformação CH) [30, 31]. Não é possível a atribuição inequívoca das bandas, já que muitas bandas resultam de modos de vibração altamente acoplados. (Cael, et al 1975 e Cameron e Moffat, 1984) A razão entre as absorvâncias aos números de onda a 1045 cm-1 , relacionada com a componente ordenada cristalina (Smits, et al 1998) e aquela obtida a 1022 cm-1, relacionado com a componente amorfa (Soest, et al 1995) estão descritas na Tabela 7. Para o amido isolado da variedade Longal o valor observado foi de 0.749, para a variedade Martaínha foi de 0.767, para a variedade Lada de 0.728 e para o amido isolado da variedade Judia o valor foi de 0.779. 1,0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 1081 1061 1041 1021 Número de Onda 1001 981 961 941 (cm-1) Figura 22 – Amplificação do espectro de ATR-FTIR na região entre os 1100 e 940 cm-1 para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha: Longal (-); Martaínha (), Lada (- ) e Judia (-). 61 Tabela 7 – Razão de absorvâncias de infravermelho seleccionadas para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha. Razão de Infravermelho 1045/1022 (cm-1) 1022/995 (cm-1) Longal 0.749 1.039 Martaínha 0.767 1.046 Lada 0.728 0.987 Judia 0.779 1.043 Estes resultados mostram que os amidos de castanha isolados das variedades Judia e Martaínha apresentam um nível superior de organização da sua região mais exterior quando comparado com os amidos isolados das variedades Longal e especialmente da variedade Lada. 3.4 - Determinação das características de gelatinização por calorimetria de varrimento diferencial (DSC) O amido quando aquecido na presença de um excesso de água sofre uma transição de fase ordem-desordem designada por gelatinização, num intervalo de temperaturas característica da fonte de amido. A referida transição de fase está associada com a difusão de água para os grânulos de amido, tomada de água pela região amorfa, hidratação e inchamento radial dos grânulos de amido, perda de birrefringência óptica, consumo de calor, perda de ordem cristalina, desenrolamento e dissociação das duplas hélices (nas regiões cristalinas) e lixiviamento da amilose (Stevens e Elton, 62 1981; Lelievre e Mitchell, 1975; Donovan, 1979; Biliaderis et al, 1980; Hoover e Hadziyev, 1981; Evans e Haismann, 1982; Biliaderis, 1991; Jenkins, 1994). A calorimetria diferencial de varrimento mede as temperaturas de transição de gelatinização, permitindo obter as temperaturas de início da gelatinização (T 0), ponto médio da gelatinização (Tp), ponto de conclusão da gelatinização (T c) e a entalpia de gelatinização (H). As características de gelatinização dos amidos obtidos a partir das diferentes variedades de castanha foram determinadas por calorimetria de varrimento diferencial (Figura 23) Esta transição única observada na análise por DSC corresponde à dissociação das moléculas de amilose e amilopectina presentes nos grânulos de amido e lixiviação da amilose para a fase contínua (Fujita, et al 1992; Liu, et al 1991, Russel e Juliano, 1983) 50 55 60 65 70 75 Temperatura (ºC) Figura 23 – Dados de calorimetria de varrimento diferencial para os amidos isolados das variedades de castanha: Longal (-); Martaínha (-); Lada (-); Longal (-) 63 Tabela 8 – Temperatura inicial, máximo, final e entalpia de gelatinização dos amidos extraídos de diferentes variedades de castanha Amostra T0 (ºC) Tp (ºC) Tc (ºC) Entalpia R PHI (J/g) Longal 57,1 61,9 67,9 10,0 9.6 2,08 Martainha 57,7 62,4 68,1 9,2 9.4 2,00 Lada 55,7 62,6 70,2 7,8 13.8 1,13 Judia 56,1 63,2 71,2 7,3 14.2 1,03 A temperatura de início da gelatinização (T0) foi semelhante para o amido isolado das variedades Longal e Martaínha apresentando um valor médio de 57,4ºC (Tabela 8), sendo ligeiramente inferior para os amidos isolados a partir das variedades Lada e Judia (55,7 e 56,1 ºC, respectivamente). O máximo da gelatinização foi em média de 62,3ºC para o amido isolado das variedades Longal, Martaínha e Lada, sendo de 63,2ºC para o amido isolado da variedade Judia. A temperatura de conclusão do processo de gelatinização foi, em média, para as variedades Longal e Martaínha de 68º C, sendo superiores para as variedades Lada (70,2ºC) e Judia (71,2ºC). A entalpia de gelatinização obtida para os amidos isolados das variedades Longal e Martainha foi em média 9,6 J/g, e os amidos isolados das variedades Lada e Judia apresentaram uma entalpia de gelatinização de 7,7 J/g, em média. As maiores temperaturas de início de gelatinização indicam que mais energia é necessária para iniciar a gelatinização do amido. As diferenças nos valores de entalpia reflectem a fusão dos cristalitos de amilopectina. As variações observadas nos valores de entalpia podem representar 64 diferenças nas forças de ligação entre as hélices duplas que formam os cristalitos de amilopectina, que resultam num diferente alinhamento das ligações de hidrogénio nos grânulos de amido (McPherson e Jane, 1999). A temperatura de início de gelatinização do amido de castanha isolado neste trabalho foi inferior ao descrito anteriormente A gelatinização inicia-se no hilum do grânulo e avança rapidamente para a periferia. A gelatinização ocorre inicialmente nas regiões amorfas, devido ao facto de as ligações de hidrogénio estão enfraquecidas nestas regiões. As diferenças nas temperaturas de transição entre os amidos de diferentes fontes botânicas podem ser atribuídas a diferenças no grau de cristalinidade. Temperaturas de transição elevadas têm sido relacionadas com um alto grau de cristalinidade, que fornece estabilidade estrutural tornando os grânulos mais resistentes à gelatinização. (Barichello et al, 1990) Tester (1997) postulou que a extensão de perfeição cristalina é reflectida nas temperaturas de gelatinização. As propriedades de gelatinização e inchamento são controlados em parte pela estrutura molecular da amilopectina (tamanho das cadeias laterais, grau de ramificação, peso molecular e polidespersidade), composição do amido (razão amilose/amilopectina e conteúdo de fosforo) e arquitectura dos grânulos (razão cristalina/amorfa). (Tester, 1997). A presença de lípidos e uma estrutura granular mais rígida podem aumentar as temperaturas de transição, como observado para os amidos de milho e arroz (Singh & Singh, in press), esta pode ser a razão para o ligeiro aumento da temperatura de gelatinização do amido isolado da variedade de castanha Judia. Dado que a amilopectina apresenta um papel determinante na cristalinidade dos grânulos de amido, a presença de amilose diminui o ponto de fusão das regiões cristalinas e a energia necessária para o início da gelatinização (Flipse et al, 1996). 65 As propriedades únicas do amido isolado das diferentes variedades de castanha são reflectidas pelas diferentes formas dos picos (profundidade, largura e nitidez da transição) que por sua vez são reflectidos nos seus valores de PHI. As relações estruturais entre as regiões amorfas e cristalinas dentro do grânulo de amido são responsáveis pela nitidez da transição e pela temperatura à qual ocorre. O amido isolado das variedades Longal e Martaínha apresentaram um valor de PHI superior aos dos amidos isolados das variedades Lada e Judia, mostrando uma diferença na organização interna dos grânulos de amido dos dois conjuntos de variedades. O amido isolado das variedade Lada e Judia apresentaram uma maior amplitude de temperaturas de gelatinização (14 ºC em média) que os amidos isolados das variedades Longal e Martaínha (9,5 ºC). O valor de R mais elevado sugere a presença de cristalitos com diferentes graus de estabilidade dentro dos domínios cristalinos dos seus grânulos (Hoover et al, 1997). No entanto esta diferença observada na amplitude de temperaturas entre o inicio e o final da gelatinização poderá estar relacionada com a diferente variabilidade de tamanho dos grânulos de amido entre estes dois conjuntos de variedades, bem como pelo seu menor conteúdo em amilose. 3.5 - Grau de Inchamento dos Grânulos de Amido e Lixiviação da Amilose O aquecimento dos grânulos de amido na presença de excesso de água provoca uma alteração irreversível na estrutura e composição dos grânulos de amido, devido ao rompimento da estrutura cristalina dos grânulos de amido permitindo a absorção de água nas regiões cristalinas levando ao seu inchamento. Este inchamento dos grânulos é acompanhado pelo lixiviamento da amilose para a solução e solubilização do amido. 66 O poder de inchamento e solubilidade dos grânulos de amido são uma indicação da força de interacção entre as cadeias de amido nas regiões amorfas e cristalinas. A extensão desta interacção é influenciada pela razão amilose/amilopectina e pelas características da amilose e amilopectina em termos do seu peso molecular e distribuição de pesos moleculares, grau de ramificação e tamanho das cadeias laterais bem como a conformação (Tester, 1997). A diferença nas propriedades de inchamento entre os diferentes amidos está relacionada com a variação na distribuição das cadeias de laterais de amilopectina. No entanto está bem documentado que os componentes minoritários do amido tais como fosfolípidos e monoesteres de fosfato tem também um efeito muito significativo nestas propriedades (Galliard e Bowler, 1987; Lorberth et al, 1998; Noda et al., 2004; Singh et al., 2003; Suzuki et al, 1994; Tester e Morrison, 1990). Estes efeitos adicionais podem sobrepor-se e ocultar a influência da estrutura fina da amilopectina nas propriedades de inchamento e de formação de pastas. Os complexos amilose-lipidos diminuem o inchamento e a solubilização (Swinkels, 1985). O elevado poder de inchamento e solubilidade do amido de batata são provavelmente o resultado do seu maior conteúdo em grupos fosfato da amilopectina, já que a repulsão entre os grupos fosfato em cadeias adjacentes aumentam a hidratação devido ao enfraquecimento da extensão de ligação dentro da região cristalina (Galliard e Bowler, 1987; Tester, 1997) As propriedades de inchamento dos grânulos de amido isolados das diferentes variedades de castanha foram determinadas de forma a verificar o seu comportamento quando aquecido em excesso de água, o efeito da presença de complexos amiloselipidos nos grânulos de amido isolados das variedades de castanha Martaínha e Judia, e 67 correlacionar com a sua funcionalidade em termos de formação de pastas de amido e textura dos géis de amido. Como se pode observar na Figura 24 e Tabela 9 com o aumento da temperatura verificou-se um aumento significativo da quantidade de açúcares solubilizados. O maior aumento verificou-se quando a temperatura aumentou de 50ºC para 60ºC tendo-se observado um aumento em média de 3,5 vezes dos açúcares solubilizados. Este aumento é coincidente com a temperatura de gelatinização determinada por DSC. A quantidade de açúcares solubilizados foi significativamente diferente para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha, tendo o amido isolado da variedade Martaínha aquele que apresentou um valor significativamente inferior de açúcares solubilizados quando comparado com os amidos isolados das outras variedades, não se observando diferenças significativas entre os amidos isolados das variedades Longal, Lada e Judia. 68 g de Açúcares Soluveis/g amido seco 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 40 50 60 70 80 90 100 Temperatura ºC Figura 24 – Variação da quantidade de açúcares solubilizados (expressos em anidroglucose) em função da temperatura para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha. Longal; Martaínha; Lada; Judia. 69 Tabela 9 – Variação do conteúdo de açúcares solubilizados (g anidroglucose/g amido seco) em função da temperatura Longal Martaínha Lada Judia 50 ºC 0.017±0.007 0.010±0.005 0.015±0.005 0.028±0.008 60 ºC 0.056±0.004 0.042±0.010 0.063±0.010 0.055±0.011 70 ºC 0.098±0.018 0.073±0.005 0.085±0.008 0.096±0.003 80 ºC 0.17±0.005 0.12±0.007 0.17±0.001 0.15±0.03 90 ºC 0.21±0.008 0.19±0.009 0.22±0.01 0.22±0.004 Resultados da ANOVA Factorial Variedade p<0.0045 Temperatura p<0.0000001 Interacção p<0.621 Para a mesma temperatura, a é significativamente diferente dos outros a‟s (p<0.05), Fisher LSD post-hoc. O poder de inchamento dos amidos isolados das diferentes variedades de castanha encontram-se representados na Figura 25 e Tabela 10. Como se pode observar a temperatura e a variedade apresentaram um efeito significativo no poder de inchamento, verificando-se simultaneamente uma interacção significativa entre o factor temperatura e variedade. Isto significa que os amidos isolados das diferentes variedades de castanha apresentam um poder de inchamento significativamente diferente entre eles. Com o aumento da temperatura aumentou o poder de inchamento dos grânulos de amido isolados das diferentes variedades de castanha, verificando-se um aumento maior no poder de inchamento quando se passou da temperatura de 50º para 60ºC, onde em média o poder de inchamento duplicou, quando comparado com o aumento 70 observado para as outras temperaturas. Neste aspecto o amido isolado das variedades Longal e Lada apresentaram um comportamento significativamente diferente do amido isolado das variedades Martainha e Judia. O poder de inchamento do amido isolado das variedades Longal e Lada a 90ºC foi significativamente superior ao poder de inchamento do amido isolado das variedades Martainha e Judia. O amido isolado das variedades Longal e Lada apresentaram um poder de inchamento significativamente superior ao observado para as variedades Martainha e Judia. Este menor poder de inchamento destas duas últimas variedades pode ser o reflexo do seu conteúdo em amilose complexada com lípidos pois a presença de complexos amido-lípidos inibem o poder de inchamento dos grânulos de amido. Outra explicação para esta diferença de comportamento dos amidos isolados das variedades Martaínha e Judia poderá estar relacionada com o facto destes dois amidos serem aqueles que apresentam um nível superior de organização da sua região mais exterior quando comparado com os amidos isolados das variedades Longal e Lada, o que poderá limitar os seu inchamento durante o processo de gelatinização. 71 Pode de Inchamento 20,00 17,50 15,00 12,50 10,00 7,50 5,00 40 50 60 70 80 90 100 Temperatura ºC Figura 25 – Variação da quantidade poder de inchamento em função da temperatura para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha. Martaínha; Lada; Longal; Judia. Tabela 10 – Variação do Poder de Inchamento em função da temperatura Longal Martaínha Lada Judia 50 ºC 5.45±0.15a 5.78±0.11b 5.33±0.25c 6.70±0.05ª,b,c 60 ºC 10.66±0.06 10.96±0.23 10.43±0.35 10.35±0.09 70 ºC 11.84±0.44a 11.53±0.27 11.34±0.03 10.95±0.19a 80 ºC 15.30±0.23a,b 12.31±0.21a,c 15.17±0.40c,d 12.97±0.30b,d 90 ºC 19.24±0.35a,b 16.14±0.22a,c 19.95±0.33c,d 16.77±0.51b,d Resultados da ANOVA Factorial Variedade p<0.000001 Temperatura p<0.0000001 Interacção p<0.0000001 Para a mesma temperatura, a é significativamente diferente dos outros a‟s (p<0.05), Fisher LSD post-hoc. 72 Na Tabela 11 e Figura 26 encontra-se descrito o teor de amilose lixiviada dos grânulos de amido durante o processo de inchamento às diferentes temperaturas. Como se pode observar tanto o factor variedade como o factor temperatura foram significativos na quantidade de amilose lixiviada durante o processo de inchamento dos grânulos de amido de castanha, não sendo significativa a interacção entre estes dois factores, temperatura e variedade. Com o aumento da temperatura verificou-se um aumento significativo do teor de amilose lixiviada dos grânulos de amido para os amidos isolados de todas as variedades de castanha. Como observado para o poder de inchamento dos grânulos de amido, o aumento do teor de amilose lixiviada apresentou um maior aumento quando a temperatura de inchamento aumentou de 50ºc para 60ºC quando comparado com o aumento observado para as outras temperaturas (aumento mediano de 12 vezes no conteúdo de amilose lixiviada). O teor de amilose lixiviada foi significativamente superior para o amido isolado da variedade Longal, seguido do amido isolado da variedade Judia, Martaínha e Lada. A 90ºC o teor de amilose lixiviada representou 78% do teor de amilose aparente para o amido isolado da variedade Longal, 79% para o amido isolado da variedade Martaínha, 80% para o amido isolado da variedade Lada e 96% para o amido isolado da variedade Judia. No entanto quando o teor de amilose lixiviada é calculada em relação ao teor de amilose total dos grânulos de amido verificase que o teor de amilose lixiviada para o amido isolado da variedade Longal representa 73% do teor de amilose total e 76% para o amido isolado da variedade Lada, diminuindo para o amido isolado da variedade Martaínha (68%) e sendo de apenas 75% para o amido isolado da variedade Judia. Esta menor lixiviação da amilose para os amido isolados da variedade Martaínha quando comparado com o teor de amilose total dos grânulos de amido deve-se certamente à insolubilização dos complexos amilose – 73 lipidos que são insolúveis em água e não se dissociam até temperaturas de 94-98ºC (Morrison 1988a, Raphaelides e Karkalas 1988). g Amilose/g amido seco 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 40 50 60 70 80 90 100 Temperatura ºC Figura 26 – Variação da quantidade de amido lixiviado em função da temperatura para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha. Martaínha; Lada; Longal; Judia. 74 Tabela 11 – Variação do conteúdo de amilose lixiviada (g/g amido seco) em função da temperatura Longal Martaínha Lada Judia 50 ºC 0.0032±0.0001 0.0001±0.0001 0.0024±0.0001 0.0030±0.0002 60 ºC 0.043±0.0002 0.035±0.001 0.041±0.001c 0.036±0.001a,c 70 ºC 0.079±0.003a 0.069±0.002a 0.069±0.003a,c 0.071±0.006a,c 80 ºC 0.13±0.002a 0.12±0.001 0.12±0.004a,c 0.13±0.008c 90 ºC 0.19±0.003 0.20±0.001 0.19±0.003 0.19±0.0004 Resultados da ANOVA Factorial Variedade p<0.016 Temperatura p<0.00001 Interacção p<0.127 Para a mesma temperatura, a é significativamente diferente dos outros a‟s (p<0.05), Fisher LSD post-hoc. Como se pode observar na Figura 27 existe uma correlação significativa entre o poder de inchamento e o teor de amilose lixiviada dos grânulos de amido. 75 20 Amilose Lixiviada (g/100g) y = 1,3124x - 8,4669 R² = 0,9188 b≠0; p<0,0001 15 10 5 0 5 10 15 20 25 Poder de Inchamento Figura 27 – Relação entre o poder de inchamento dos grânulos de amido isolados das diferentes variedades de castanha e o teor em amilose lixiviada A lixiviação de polissacarideos (amilose e/ou amilopectina dependendo do amido) encontra-se altamente correlacionada com o factor de inchamento. Experiencias com amidos normais e cerosos mostraram que o inchamento é uma propriedade da amilopectina. Em amidos de cereais normais, a amilose e lípidos inibem o inchamento (Tester e Morrison, 1990) 76 20 Amilose Lixiviada (g/100g) 18 16 y = 0,8563x - 1,0961 R² = 0,9575 14 b≠0; p<0,0001 12 10 8 6 4 2 0 0 5 10 15 20 25 Açúcares Solubilizados (g/100g) Figura 28 – Relação entre o teor de açúcares solubilizados durante o processo de inchamento dos grânulos de amido isolados das diferentes variedades de castanha e o teor em amilose lixiviada O teor de amilose lixiviada apresenta uma correlação significativa com o teor de açúcares solubilizados (Figura 28). Tendo em conta o declive observado para a representação do teor de amilose lixiviada em função do teor de açúcares solubilizados podemos observar que cerca de 85,6% do teor de açúcares solubilizados são na realidade amilose (IC95% = 76,7%; 94,6%). A variação do teor de açúcares solubilizados durante o processo de inchamento dos grânulos de amido explica 95,8% da variação observada do lixiviamento da amilose durante o processo de inchamento. 77 3.6 – Perfil de peso molecular da amilopectina e amilose por cromatografia de exclusão molecular As propriedades funcionais do amido dependem em grande medida da estrutura dos seus polissacarídeos, a amilose e a amilopectina. Para além do seu conteúdo, o tamanho e a polidespersidade dos polissacarídeos são importantes para explicar variações nas suas propriedades funcionais e o seu comportamento durante o processamento térmico. A amilose a amilopectina são diferentes no que diz respeito ao seu grau de polimerização e ocorrência de ramificações. A amilose está maioritariamente presente como cadeias lineares com aproximadamente 1500 unidades de resíduos α-Dglucopiranosilos unidos por ligações α-(1→4). A amilose apresenta uma massa molecular de 105-106 Da. As cadeias de amilose são constituídas por 200-700 residuos de glucose o que resulta num peso molecular de 32400-113400 Da. 70 a 80% do amido é constituído por amilopectina, que é uma molécula muito maior com uma massa molecular de 106-108 Da. A amilopectina é um polissacarídeo altamente ramificado composto por aproximadamente 95% de ligações (1→4)-α e 5% de ligações (1→6)-αlinkages. (Robyt JF 2008; Glycoscience, et al 2004) O amido isolado das diferentes variedades de castanha foi analisado por cromatografia de exclusão molecular de elevada eficiência utilizando como detector o índice de refracção. Foram recolhidas fracções de 0,4 mL tendo estas sido analisadas para o teor em açúcares, teor em amilose através do método de ligação do iodo, e comprimento de onda máximo do complexo amido-iodo. Na Figura 29 apresenta-se o cromatograma obtido para o amido isolado das quatro variedades de castanhas estudadas. Como se pode observar, o perfil obtido para 78 os polissacarídeos solubilizados dos diferentes amidos é significativamente diferente, tanto em termos de peso molecular como também em termos de heterogeneidade dos seus componentes. Dado que o amido isolado das diferentes variedades de castanha é maioritariamente constituído por amilopectina, os picos mais intensos observados nos cromatogramas correspondem à amilopectina, o que pode ser confirmado pelo máximo de absorção dos complexos amido-iodo (ver mais à frente). A amilopectina presente no amido isolado da variedade Longal foi a que apresentou um peso molecular superior ao das outras variedades (>4 MDa e <2MDa), apresentando-se como um único pico na região de elevado peso molecular do cromatograma. A amilopectina da variedade Lada apresentou-se também com um peso molecular homogéneo na região de elevado peso molecular, embora o seu peso molecular seja inferior ao observado para a amilopectina presente no amido isolado da variedade Longal. A amilopectina isolada da variedade Martainha apresenta uma distribuição de pesos moleculares na região de elevado peso molecular, uma população de amilopectinas com peso molecular semelhante à amilopectina da variedade Longal, e uma população mais abundante de amilopectina com peso molecular inferior a 2MDa. O mesmo acontece para a amilopectina isolada da variedade Judia, embora em termos médios a população de amilopectina de menor peso molecular é superior ao observado para a variedade Martaínha, e menor que a amilopectina isolada da variedade Lada. 79 Índice de Refracção (normalizado) 1 2000 kDa V0 Vt 0,8 0,6 0,4 0,2 0 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 Tempo (s) Figura 29 – Perfil de exclusão molecular dos polissacarídeos constituintes do amido isolado das variedades de castanha: Longal; Martaínha; Lada e Judia. Como se pode observar nas Figuras 30 a 33, o perfil obtido por detecção por índice de refracção é semelhante ao obtido quando se analisa as fracções recolhidas para o conteúdo em açúcares totais. 80 2000 kDa 630 V0 Vt 620 0,8 610 600 0,6 590 580 ( ; nm) 0,4 máximo Índice Refracção (-); Abs490 nm (-); Abs700 nm (--) 1 570 0,2 560 0 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 550 5000 Tempo (s) Figura 30 – Perfil de exclusão molecular dos polissacarídeos constituintes do amido 2000 kDa 1 630 V0 Vt 620 0,8 610 600 0,6 0,4 580 ( ; nm) 590 máximo Índice Refracção (-); Abs490 nm (-); Abs700 nm (--) isolado da variedade de castanha Longal. 570 0,2 560 0 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 550 5000 Tempo (s) Figura 31 – Perfil de exclusão molecular dos polissacarídeos constituintes do amido isolado da variedade de castanha Martaínha. 81 2000 kDa 630 V0 Vt 620 0,8 610 600 0,6 590 580 ( ; nm) 0,4 máximo Índice Refracção (-); Abs490 nm (-); Abs700 nm (--) 1 570 0,2 560 0 1500 2000 2500 3000 3500 4000 550 5000 4500 Tempo (s) Figura 32 – Perfil de exclusão molecular dos polissacarídeos constituintes do amido 2000 kDa 1 V0 Vt 630 620 0,8 610 600 0,6 0,4 580 ( ; nm) 590 máximo Índice Refracção (-); Abs490 nm (-); Abs700 nm (--) isolado da variedade de castanha Lada. 570 0,2 560 0 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 550 5000 Tempo (s) Figura 33 – Perfil de exclusão molecular dos polissacarídeos constituintes do amido isolado da variedade de castanha Judia. 82 Pode-se observar nos cromatogramas que o comprimento de onda máximo do complexo iodo-amido varia desde 565 nm, observado no inicio dos cromatogramas, valor característico do complexo amilopectina iodo, até cerca de 610-620 nm na região de baixo peso molecular do cromatograma, máximo de absorção característico do complexo amilose-iodo. Estes resultados indicam, como referido anteriormente, que na região de elevado peso molecular se encontra a amilopectina e na região de baixo peso molecular se encontra a amilose. Como se pode também observar a amilose do amido isolado das diferentes variedades de castanha apresenta uma dispersão superior de pesos moleculares, já que a sua presença se estende por uma ampla gama de tempos de retenção, e por isso de pesos moleculares. O máximo de absorvancia dos complexos amilose-iodo foram superiores para as variedades Judia e Martaínha, seguido da variedade Lada e por último a variedade Judia. Esta diferença do comprimento de onda máximo obtido para os complexos amilose-iodo pode estar relacionado com diferenças nos detalhes estruturais da amilose tais como o seu peso molecular, ausência de ramificações. Tendo em conta o máximo de absorvancia dos complexos amilose-iodo pode-se ainda observar que estes se iniciam a um tempo menor para o amido isolado da variedade Longal, seguido pela variedade Martaína e Lada, e por fim a variedade Judia, indicando que a o amido isolado da variedade Longal apresenta em média um peso molecular superior ao das outras variedades, e o amido isolado da variedade Judia contem amilose com um peso molecular inferior ao das outras variedades. 83 3.7 - Determinação do Perfil Viscoamilográfico das Pastas de Amido de Castanha O comportamento de gelatinização e de formação de pastas de amido-água são comumente estudadas utilizando o Rapid Vico-Analyzer (RVA) ou outros dispositivos semelhantes como a Starch-pasting-cell, utilizado neste trabalho, que são viscosímetros de aquecimento e arrefecimento que medem a resistência da amostra a uma tensão de corte controlada. Este tipo de testes são importantes para a caracterização da funcionalidade do amido, já que simulam o processamento alimentar do amido, sendo utilizados para relacionar a funcionalidade com as propriedades estruturais dos amidos (Crosbie e Ross, 2007). A análise viscosimetrica pode detectar diferenças nas propriedades funcionais entre os amidos e a farinhas de diferentes variedades e condições de cultivo que podem não ser evidentes a partir dos resultados obtidos a partir da análise química. (Dang e Copeland, 2004). Os parâmetros obtidos a partir do perfil de gelatinização dos amidos têm sido correlacionados com a textura e qualidade dos produtos obtidos a partir do amido. Por exemplo, elevados valores de quebra é considerado ser um indicador da melhor palatibilidade do arroz cozido (Tran et al, 2001). Os perfis de gelatinização dos amidos de castanha isolados das diferentes variedades estudadas encontram-se representados na Figura 34. Como se pode observar, o amido proveniente das diferentes variedades de castanha apresentaram diferenças significativas nos perfis de gelatinização. Os parâmetros de gelatinização encontram-se descritos na Tabela 12. 84 1,4 100 1,2 1,0 60 0,8 0,6 40 0,4 Temperatura (ºC) Viscosidade (Pa.s) 80 20 0,2 0,0 50 250 450 650 850 1050 0 1250 Tempo (s) Figura 34 – Perfil de viscosidade durante a gelatinização dos amidos de castanha de diferentes variedades. Longal; Martaínha; Lada; Judia; Temperatura. Tabela 12- Temperatura de gelatinização, máximo de viscosidade, breakdown e setback do amido de castanha. Variedade TGel Tmáx ViscMáx ViscMín ViscArref. Quebra Assentameto (ºC) (ºC) (Pa.s) (Pa.s) (Pa.s) (Pa.s) (Pa.s) Longal 56,1 80,0 1,127 0,551 1,167 0,576 0,616 Martainha 57,4 85,0 0,972 0,585 1,176 0,387 0,591 Lada 57,4 72,3 0,806 0,404 0,910 0,402 0,506 Judia 58,6 78,6 0,527 0,368 0,798 0,159 0,430 85 Todos os amidos apresentaram um aumento da viscosidade com o aumento da temperatura (Figura 34). O aumento da viscosidade com a temperatura pode ser atribuído à absorção de água do meio durante o seu inchamento (Ghiasi et al, 1982). A temperatura de gelatinização (temperatura do início do aumento brusco da viscosidade) foi de 56,1 ºC para o amido de castanha isolado da variedade Longal, 57,4ºC para as variedades Martaínha e Lada e de 58,6ºC para o amido isolado da variedade Judia. As temperaturas de gelatinização inferiores do amido de castanha isolados da variedade Longal, mostram uma menor resistência do amido desta variedade para a gelatinização. A temperatura do máximo de viscosidade também variou significativamente entre os amidos isolados das diferentes variedades de castanha, sendo superior para o amido isolado da variedade Martaínha (85ºC), seguido das variedades Judia e Longal (78,6 e 80 ºC, respectivamente), tendo o amido isolado da variedade Lada aquele que apresentou uma menor temperatura de máximo de viscosidade (72,3ºC). A viscosidade máxima dos amidos de castanha variou entre 0,527 Pa.s para o amido de castanha isolado da variedade Judia, e 1,127 Pa.s para o amido de castanha isolado da variedade Longal. A quebra de viscosidade (uma medida da desintegração do amido gelatinizado) foi também superior para o amido de castanha isolado da variedade Longal (0,576) e menor para o amido isolado da variedade Judia (0.159) (Tabela 12). A viscosidade final (indicativo da capacidade do amido para formar pastas viscosas) para os amidos isolados das castanhas provenientes das diferentes variedades variou entre 0,798 e 1,167, para os amidos isolados das variedades Judia e Longal, respectivamente. 86 Os perfis de viscosidade durante o processo de gelatinização e formação de pastas de amido são geralmente atribuídos a dois factores (Schoch e Maywald, 1968): 1) a extensão de inchamento dos grânulos de amido 2) a resistência dos grânulos de amido inchados à temperatura e à tensão de corte. Os padrões de viscosidade observados durante o processo de gelatinização e formação de pastas de amido podem ser classificados em quatro tipos: Tipo A: Amidos de elevado inchamento, por exemplo amido de batata, tapioca, cereais cerosos, e derivados iónicos do amido. Os grânulos destes amidos incham enormemente quando aquecidos em água, e a forças de ligação internas tornam-se ténues e frágeis em relação à tensão de corte. Tipo B: Amidos com inchamento moderado, por exemplo amidos de cereais. Dado que os grânulos de amido não incham excessivamente de forma a torna-los frágeis, estes amidos mostram um pico de viscosidade menor e maior resistência à tensão de corte. Tipo C: Amidos de inchamento restrito, especialmente amidos entrecruzados. O entrecruzamento no interior dos grânulos de amido reduz marcadamente o inchamento e a solubilização, estabilizando os grânulos de amido inchados contra a fragmentação mecânica. O perfil de viscosidade das pastas destes amidos não apresenta máximo de vicosidade, mas mostram uma viscosidade muito elevada que permanece constante durante o aquecimento em água ou aumentam durante o aquecimento em água. Tipo D: Amidos com um inchamento altamente restrito, especialmente os amidos de milho com elevado teor de amilose, contendo 55-70% da fracção linear. Devido à rigidez interna resultante pelo elevado conteúdo de moléculas lineares associadas, os grânulos destes amidos não incham o suficiente para formar uma pasta viscosa quando aquecidos em água em concentrações normais. Desta forma, a 87 quantidade de amido tem de ser duplicada ou triplicada para fornecer uma pasta aquecida viscosa do Tipo C. No entanto, estes amidos ricos em amilose podem fornecer perfis de viscosidade do Tipo A ou B quando aquecidos num solvente que resulta num maior inchamento dos grânulos de amido, por exemplo hidróxido de sódio 0,1N. Os parâmetros de viscosidade durante o aquecimento do amido em excesso de água para a formação de pastas de amido são cooperativamente controlados pelas propriedades dos grânulos de amido inchados e pelo material solúvel lixiviado dos grânulos de amido. (Doublier et al, 1987 e Eliasson, 1986) As propriedades de gelatinização são dependentes da rigidez dos grânulos de amido, que por sua vez alteram o seu potencial de inchamento (Sandhya Rani e Bhattacharaya, 1989), quantidade de amilose que lixiviada para a solução (Morris,. 1990), conteúdo de amido e lípidos dos granulos de amido e pela distribuição dos tamanhos das ramificações das moléculas de amilopectina. A amilopectina contribui para o inchamento dos grânulos de amido enquanto a amilose e o lípidos inibem o inchamento dos grânulos de amido. (Tester e Morrison, 1990) (Miles et al. 1985) relacionou o aumento na viscosidade final com a possível agregação das moléculas de amilose. As diferenças no inchamento dos grânulos de amido (início da viscosidade), temperatura do pico, viscosidade máxima, diminuição da viscosidade por aplicação de tensão de corte entre os amidos de diferentes fontes tem sido principalmente atribuído à amilopectina. (Ring e Stainby, 1985; Doublier et al, 1987; Hoseney, 1994, Bahnassey e Breene, 1994) O peso molecular e a estrutura da amilose e amilopectina contribuem de forma significativa para as propriedades reológicas durante a formação de pastas de amido (Mua e Jackson, 1997). Amilopectinas de baixo peso molecular com elevados graus de 88 ramificação (>1,5), cadeias laterais curtas (DP 15-18) apresentam temperaturas de pico superiores e baixas viscosidades máximas e resultam numa perda menor de viscosidade pelo stress aplicado durante a formação de pastas (J. P. Mua e D. S. Jackson* 1997). As amilopectinas apresentando elevados pesos moleculares apresentaram maiores viscosidades máximas, menores tempos de pico e menores temperaturas de pico. Mua e Jackson (1997) também relacionaram os elevados valores de setback com a amilose. O comportamento observado para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha podem ser explicados tendo em conta o peso molecular das amilopectinas bem como o conteúdo e peso molecular da amilose. O amido isolado da variedade Longal apresentou um máximo de viscosidade superior ao amido isolado das outras variedades, sendo esta a que apresenta o amilopectinas com maior peso molecular, e a variedade Judia aquela que apresenta uma menor viscosidade máxima, sendo a que apresenta uma maior abundancia de amilopectinas de menor peso molecular. Para o amido isolado das variedades Martaínha e Longal, a diferença observada relativamente ao comportamento das variedades Longal e Judia, bem como a sua relação com o peso molecular das amilopectinas presentes não é assim tão evidente. Embora o amido isolado da variedade Lada apresente uma população de amilopectinas com um peso molecular mais homogéneo quando comparado com as amilopectinas presentes no amido da variedade Martaínha, esta última apresenta uma abundancia relativa de amilopectinas de elevado peso molecular que não estão presentes no amido isolado da variedade Lada. Os valores de viscosidade após arrefecimento podem ser explicados pelos diferentes conteúdos de amilose dos amidos, já que os amidos isolados das variedades Longal e Martaínha apresentaram um maior conteúdo de amilose, embora no caso do 89 amido isolado da variedade Martaínha existem a presença de amilose complexada com lípidos que está também relacionada com um menor inchamento dos grânulos de amido durante o aquecimento. Também o peso molecular da amilose presente nos amidos isolados das variedades Longal e Martaínha foram superiores aos pesos moleculares da amilose presente nas variedades Lada e especialmente da variedade Judia, podendo desta forma ser explicado as diferenças observadas no valor de viscosidade após arrefecimento. Estes resultados estão de acordo com os resultados obtidos por Mua e Jackson (1997), em que observaram valores de viscosidade final após arrefecimento superiores para amiloses com pesos moleculares superiores. 90 4- Conclusões 91 Neste trabalho foi possível isolar, com um bom rendimento e elevado grau de pureza, o amido de diferentes variedades de castanha utilizando um método suave envolvendo a extracção aquosa com uma solução aquosa de bissulfito de sódio 25 mM. As características físico-químicas do amido isolado com este procedimento foram significativamente diferentes daquelas descritas recentemente na literatura, estando relacionado com os métodos mais drásticos quer de pré-preparação de amostra quer de metodologia de extracção. Este método de isolamento do amido de diferentes variedades de castanha permitiu observar a diversidade de estruturas e propriedades funcionais dos amidos presentes nas castanhas. Sendo o amido o principal componente das castanhas certamente que esta diversidade nas suas propriedades funcionais, dependentes das suas características estruturais, poderá explicar o comportamento das diferentes variedades durante o processamento, quer para consumo final quer para a sua transformação industrial noutra gama de produtos como o marron glacé, doces e produtos de pastelaria. O teor de amilose dos amidos de castanha variou entre 24% (Lada) e 29% (Martainha), com duas variedades apresentando complexos amilose-lípido (Martaínha e Judia) e outras não (Longal e Lada). O conteúdo de fosforo dos amidos foi muito baixo, variando entre 0,00016 e 0,0011%. Os amidos isolados das diferentes variedades de castanha apresentam formas ovais e esféricas com um diâmetro médio de 11 m e uma dispersão de tamanhos compreendidos entre 4 e 21 m. Todos os grânulos de amido apresentaram um polimorfismo do tipo B. O grau de cristalinidade é dependente da percentagem de humidade dos amidos, variando entre ~50% para um teor de humidade de ~30% e ~10% para um teor de humidade de ~5%. Os amidos isolados das diferentes variedades de castanha apresentaram diferentes níveis de organização da sua região mais exterior, com o amido isolado das variedades Judia e Martaínha apresentando um nível superior de organização da sua região mais exterior 92 quando comparado com os amidos isolados das variedades Longal e especialmente da variedade Lada. A temperatura e entalpia de gelatinização encontrado para o amido isolado das diferentes variedades de castanha também apresentaram ligeiras diferenças. A temperatura de início de gelatinização variou entre ~57 ºC para o amido isolado das variedades Longal e Martaínha e ~56 ºC para os amidos isolados das variedades Lada e Judia. O máximo da gelatinização foi em média de 62,3ºC para o amido isolado das variedades Longal, Martaínha e Lada, sendo de 63,2ºC para o amido isolado da variedade Judia. A temperatura de conclusão do processo de gelatinização foi, em média, para as variedades Longal e Martaínha de 68º C, sendo superiores para as variedades Lada (70,2ºC) e Judia (71,2ºC). O amido isolado das variedades Lada e Judia apresentaram uma maior amplitude de temperaturas de gelatinização (14 ºC) que os amidos isolados das variedades Longal e Martaínha (9,5 ºC). Esta diferença observada na amplitude de temperaturas entre o início e o final da gelatinização poderá estar relacionada com a diferente variabilidade de tamanho dos grânulos de amido entre estes dois conjuntos de variedades. A entalpia de gelatinização obtida para os amidos isolados das variedades Longal e Martainha foi em média 9,6 J/g, e os amidos isolados das variedades Lada e Judia apresentaram uma entalpia de gelatinização de 7,7 J/g, em média. O amido isolado das variedades Longal e Martaínha apresentaram um valor de PHI superior (2.04) aos dos amidos isolados das variedades Lada e Judia (1.08), mostrando uma diferença na organização interna dos grânulos de amido dos dois conjuntos de variedades. Os amidos isolados das variedades Longal e Lada apresentaram um poder de inchamento significativamente superior ao observado para as variedades Martaínha e Judia. Este menor poder de inchamento destas duas últimas variedades pode ser o 93 reflexo do seu conteúdo em amilose complexada com lípidos. Esta diferença de comportamento dos amidos isolados das variedades Martaínha e Judia poderá estar também relacionada com o seu nível superior de organização da sua região mais exterior quando comparado com os amidos isolados das variedades Longal e Lada, o que poderá limitar o seu inchamento durante o processo de gelatinização. Durante o processo de inchamento dos grânulos de amido, a quantidade de açúcares solubilizados foi significativamente diferente para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha, tendo o amido isolado da variedade Martaínha aquele que apresentou um valor significativamente inferior de açúcares solubilizados quando comparado com os amidos isolados das outras variedades, não se observando diferenças significativas entre os amidos isolados das variedades Longal, Lada e Judia. A 90ºC o teor de amilose lixiviada representou 78% do teor de amilose aparente para o amido isolado da variedade Longal, 79% para o amido isolado da variedade Martaínha, 80% para o amido isolado da variedade Lada e 96% para o amido isolado da variedade Judia. No entanto, o teor de amilose lixiviada em relação ao teor de amilose total dos grânulos de amido foi para o amido isolado da variedade Longal 73%, 76% para o amido isolado da variedade Lada, diminuindo para o amido isolado da variedade Martaínha (68%) e sendo de apenas 75% para o amido isolado da variedade Judia. A menor lixiviação da amilose para os amido isolado da variedade Martaínha quando comparado com o teor de amilose total dos grânulos de amido deve-se certamente à insolubilidade dos complexos amilose–lípidos às temperaturas utilizadas. O teor de amilose lixiviada apresenta uma correlação significativa com o teor de açúcares solubilizados, representando cerca de 85,6% do teor de açúcares solubilizados. Em termos de peso molecular dos polissacarídeos constituintes do amido, verificou-se que a amilopectina presente no amido isolado da variedade Longal foi a 94 que apresentou um peso molecular superior ao das outras variedades (>4 MDa e <2MDa), apresentando-se como um único pico na região de elevado peso molecular. A amilopectina da variedade Lada apresentou-se também com um peso molecular homogéneo na região de elevado peso molecular, embora o seu peso molecular seja inferior ao observado para a amilopectina presente no amido isolado da variedade Longal. A amilopectina isolada da variedade Martaína apresenta uma distribuição de pesos moleculares na região de elevado peso molecular, uma população de amilopectinas com peso molecular semelhante à amilopectina da variedade Longal, e uma população mais abundante de amilopectina com peso molecular inferior a 2MDa. O mesmo acontece para a amilopectina isolada da variedade Judia, embora em termos médios a população de amilopectina de menor peso molecular para a variedade Judia é superior ao observado para a variedade Martaínha, sendo também menor que o peso molecular da amilopectina isolada da variedade Lada. A amilose do amido isolado das diferentes variedades de castanha apresenta uma dispersão superior de pesos moleculares, apresentando um peso molecular inferior ao da amilopectina das mesmas variedades. A amilose presente nos grânulos de amido isolado da variedade Longal apresenta em média um peso molecular superior ao das outras variedades, seguido pela variedade Martaínha, Lada e por último a amilose presente no amido isolado da variedade Judia contem amilose com um peso molecular inferior ao das outras variedades. Esta diferença no peso molecular da amilose presente no amido isolado da variedade Judia poderá explicar a sua maior lixiviação quando comparado com a amilose lixiviada na variedade Martaínha, apesar de ambas apresentarem complexos amilose-lipidos. Os amidos provenientes das diferentes variedades de castanha apresentaram diferenças significativas nos perfis viscoamilográficos. A temperatura de gelatinização 95 (temperatura do início do aumento brusco da viscosidade) foi de 56,1 ºC para o amido de castanha isolado da variedade Longal, 57,4ºC para as variedades Martaínha e Lada e de 58,6ºC para o amido isolado da variedade Judia. A temperatura do máximo de viscosidade também variou significativamente entre os amidos isolados das diferentes variedades de castanha, sendo superior para o amido isolado da variedade Martaínha (85ºC), seguido das variedades Judia e Longal (78,6 e 80 ºC, respectivamente), tendo o amido isolado da variedade Lada aquele que apresentou uma menor temperatura de máximo de viscosidade (72,3ºC). A viscosidade máxima dos amidos de castanha variou entre 0,527 Pa.s para o amido de castanha isolado da variedade Judia, e 1,127 Pa.s para o amido de castanha isolado da variedade Longal. A quebra de viscosidade (uma medida da desintegração do amido gelatinizado) foi também superior para o amido de castanha isolado da variedade Longal (0,576) e menor para o amido isolado da variedade Judia (0.159). A viscosidade final (indicativo da capacidade do amido para formar pastas viscosas) para os amidos isolados das castanhas provenientes das diferentes variedades variou entre 0,798 e 1,167, para os amidos isolados das variedades Judia e Longal, respectivamente. O comportamento observado para os amidos isolados das diferentes variedades de castanha podem ser explicados tendo em conta o peso molecular das amilopectinas bem como o conteúdo e peso molecular da amilose. O amido isolado da variedade Longal apresentou um máximo de viscosidade superior ao amido isolado das outras variedades, sendo esta a que apresenta o amilopectinas com maior peso molecular, e a variedade Judia aquela que apresenta uma menor viscosidade máxima, sendo a que apresenta uma maior abundância de amilopectinas de menor peso molecular. Embora o amido isolado da variedade Lada apresente uma população de amilopectinas com um peso molecular mais homogéneo quando comparado com as amilopectinas presentes no amido da variedade Martaínha, esta última apresenta uma 96 abundancia relativa de amilopectinas de elevado peso molecular que não estão presentes no amido isolado da variedade Lada. Os valores de viscosidade após arrefecimento podem ser explicados pelos diferentes conteúdo de amilose dos amidos, já que os amidos isolados das variedade Longal e Martaínha apresentaram um maior conteúdo de amilose, embora no caso do amido isolado da variedade Martaínha existem a presença de amilose complexada com lípidos que está também relacionada com um menor inchamento dos grânulos de amido durante o aquecimento. Também o peso molecular da amilose presente nos amidos isolados das variedades Longal e Martaínha foram superiores aos pesos moleculares da amilose presente nas variedades Lada e especialmente da variedade Judia, podendo desta forma ser explicado as diferenças observadas no valor de viscosidade após arrefecimento. Os amidos isolados das diferentes variedades de castanha apresentam diferenças na sua composição química, nomeadamente na quantidade de amilose total e presença de amilose complexada com lípidos, peso molecular da amilopectina e amilose que explicam o seu diferente comportamento quer em termos de grau de inchamento, temperaturas de gelatinização e comportamento de formação de pastas. Estas diferenças nas propriedades reológicas podem ter um impacto significativo na qualidade das castanhas após processamento térmico (assamento e cozedura), bem como no seu comportamento durante os processos tecnológicos de transformação da farinha da castanha e farinha de castanha como por exemplo na produção de marron glacé, doces e outros produtos de pastelaria. 97 5-Bibliografia 98 A. Buléon, P. Colonna, V. Planchot, S. Ball, (1998) Starch granules: structure and biosynthesis, International Journal of Biological Macromolecules 23 85–112. Adoracion, P.R., Li, X.L., Okita, T.W. & Juliano, B.O. (1993) Characterization of poorly digested protein of cooked for his rice protein bodies. Cereal Chemistry 70 101–105. Alex L.; (2001). Bioquímica da digestão e absorção de macronutrientes, Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Curso de Nutrição, page 5-6. Ao, Z.; Jane, J.(2007). 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