HELANO CARIOCA FREITAS ENVOLVIMENTO DA INTERLEUCINA-18 (IL-18) NA PATOGÊNESE DA MUCOSITE GASTROINTESTINAL INDUZIDA PELO CLORIDRATO DE IRINOTECANO (CPT-11) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Farmacologia. Orientador: Prof. Dr. Ronaldo de Albuquerque Ribeiro FORTALEZA – CEARÁ 2007 HELANO CARIOCA FREITAS ENVOLVIMENTO DA INTERLEUCINA-18 (IL-18) NA PATOGÊNESE DA MUCOSITE GASTROINTESTINAL INDUZIDA POR IRINOTECANO (CPT-11) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Farmacologia. Orientador: Prof. Dr. Ronaldo de Albuquerque Ribeiro Aprovado em: 19 de Dezembro de 2007 BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Prof. Dr. Ronaldo de Albuquerque Ribeiro (Orientador) Universidade Federal do Ceará - UFC __________________________________________________ Prof. Dr. Reinaldo Barreto Oriá Universidade Federal do Ceará - UFC __________________________________________________ Prof. Dr. Fernando de Queiroz Cunha (Professor Titular) Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP/USP À minha Débora, grande amor, Que sempre me dá força pra seguir adiante. Aos meus pais e irmãos, grandes exemplos AGRADECIMENTOS Ao professor Ronaldo de Albuquerque Ribeiro, pelo incentivo à iniciação científica e pelo apoio, exemplo e amizade ao longo dos últimos treze anos. Ao professor Fernando de Queiroz Cunha, pela receptividade em seu laboratório, onde grande parte deste trabalho foi realizada. Às professoras Gerly Anne de Castro Brito e Mariana Lima Vale, pela disponibilidade e ajuda nas análises histológicas e imunoistoquímica. Ao amigo Roberto César Lima, pela imensa colaboração neste trabalho. Aos estudantes, Larissa Eloy, Victor Parahyba, Lorena Granja e Leandro Leite, cuja ajuda foi vital para a conclusão deste trabalho. Aos técnicos Maria Silvandira França Pinheiro (Vandinha), pela ajuda e disponibilidade e José Ivan Rodrigues de Souza, pelo capricho na confecção dos cortes histológicos. À técnica Giuliana Bertozzi, pela ajuda nas dosagens de citocinas em Ribeirão Preto. Aos colegas do Oncocentro, Ana Angélica Andrade, Kelly Carneiro e Roberto Furlani, pelo apoio e compreensão em minhas ausências. Aos meus amigos, a quem procuro nas horas difíceis e com quem desejo comemorar as alegrias. A Marta Edna e Juan, pela receptividade e carinho com que sempre me acolheram em Ribeirão Preto. Finalmente, aos meus pais, pelo sacrifício para priorizar a educação dos filhos. Aos meus irmãos, Max e Fred, pelo exemplo. À minha esposa, Débora, pelo companheirismo em todas as horas. Aos meus sobrinhos, Vitinho e Fredinho, pela alegria que trazem a nossa família e à Nina, companheira das noites em claro. RESUMO Envolvimento da interleucina-18 (IL-18) na patogênese da mucosite gastrointestinal (MGI) induzida por irinotecano (CPT-11). Autor: HELANO CARIOCA FREITAS. Mestrado em Farmacologia, Departamento de Fisiologia e Farmacologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará. Defesa: 20 de Dezembro de 2007. Orientador: Prof. Dr. Ronaldo de Albuquerque Ribeiro. Introdução: MGI é o termo que descreve os efeitos da quimioterapia antineoplásica nas mucosas, podendo acometer o trato alimentar de maneira global ou localizada. 15 a 40% dos pacientes em quimioterapia apresentam algum grau de mucosite. Muito da fisiopatologia da MGI permanece desconhecido. A IL-18 é uma citocina pleiotrópica, com função regulatória sobre o sistema imune e envolvimento nas fases iniciais da inflamação. Objetivo: Avaliar o envolvimento de IL-18 na patogênese da MGI induzida por CPT-11. Materiais e Métodos: camundongos Balb/C IL-18Wt ou IL-18KO, machos, foram tratados durante quatro dias consecutivos com CPT-11 (60mg/Kg, i.p.) ou veículo (0,5 mL, i.p.). Um grupo de animais IL-18Wt recebeu, além do CPT-11, a proteína ligante de IL-18 (IL-18Bp; 200µg, i.p.). Os seguintes parâmetros foram avaliados: diarréia, leucograma, sobrevida, análise histopatológica, atividade de mieloperoxidade (MPO), dosagem de citocinas (TNF-α, IL-1β) por ELISA e imunoistoquímica para TNF-α e IL-1β nas mucosas ileais. Resultados: CPT-11 induziu diarréia significante e promoveu alterações intestinais exuberantes (encurtamento de vilos, achatamento e vacuolização de enterócitos, necrose em criptas e infiltrado inflamatório de leucócitos polimorfonucleares e células mononucleares) Observou-se aumento da atividade de MPO e dos níveis tissulares de TNF-α e IL-1β dosados por ELISA e intensa imunomarcação com anticorpos antiTNFα e anti-IL-1β nesses animais. Além disso, tais animais apresentaram resposta contrátil intestinal exacerbada ao estímulo com colinérgicos (acetilcolina e betanecol). Os animais IL-18KO tratados com CPT-11 apresentaram diarréia estatisticamente menos severa e menor intensidade de alterações morfométricas e histológicas. Não houve aumento de TNFα, mas houve de IL-1β, a atividade de MPO não diferiu da observada nos animais que receberam veículo e não houve aumento de resposta contrátil ao estímulo colinérgico. Os animais que receberam CPT-11 e IL-18Bp apresentaram diarréia estatisticamente menos intensa que aqueles que receberam apenas CPT-11, resposta contrátil estatisticamente menos acentuada e menor atividade de MPO. Entretanto, as alterações morfométricas e histológicas não diferiram das encontradas nos animais tratados só com CPT-11. Conclusão: IL-18 está envolvida na patogênese da MGI induzida por CPT-11. IL-18Bp atenua os eventos envolvidos na MGI induzida por CPT-11 e é um possível candidato a modulador farmacológico desse processo. As alterações contráteis no intestino promovidas pelo CPT-11 parecem ter um componente inflamatório. Palavras-Chave: mucosite, interleucina-18. ABSTRACT Involviment of interleukin-18 (IL-18) in the pathogenesis of gastrointestinal mucositis (GIM) induced by irinotecan (CPT-11). HELANO CARIOCA FREITAS. Post-graduation in Pharmacology. Department of Physiology and Pharmacology, Faculty of Medicine, Federal University of Ceará. Defense: 2007, December 20. Advised by Dr. Ronaldo de Albuquerque Ribeiro. Introduction: The term GIM refers to the adverse effects of cancer chemotherapy on mucosal surfaces, affecting different portions of the alimentary tract. 15% to 40% of patients in chemotherapy present some degree of mucositis. By now, much of GIM pathophysiology remains unknown. IL-18 is a pleiotropic cytokine that exerts regulatory functions over the immune system and is also involved in inflammation. Purpose: The aim of the present study was to elucidate the involvement of IL-18 in the pathogenesis of CPT-11-induced mucositis. Materials and methods: Male IL-18 wild type (Wt) or IL18 knockout (KO) Balb/C mice received CPT-11 (60mg/kg/day, i.p.) or vehicle (0.5ml, i.p.) in a four day schedule. A group of IL-18Wt also received IL-18 binding protein (IL18Bp, 200µg, i.p., 1h before CPT-11). Animals were sacrificed on the fifth day. The following parameters were assessed: histologycal analysis, diarrhea, survival curve, leucogram, myeloperoxidase (MPO) activity assay, ileum levels of TNF-α and IL-1β by ELISA, immunohistochemistry for TNF-α and IL-1β and contractility assay. Results: IL18Wt animals receiving CPT-11 presented diarrhea and intense histological alterations in the ileum (shortening of villi, flattening and vacuolization of enterocytes, cript necrosis and the presence of inflammatory infiltrate). There was also increased MPO activity, increased levels of TNF-α and IL-1β and strong immunostaining for TNF-α and IL-1β in the ileum. In addition, the CPT-11 treated mice presented increased intestinal contractility when stimulated with cholinergic drugs (bethanecol, BCh and acetylcholine, ACh). In contrast, IL-18KO animals treated with the same dose of CPT11 presented less diarrhea and less intestinal histological alterations. There was no increase in MPO activity nor in TNF levels, but in IL-1 levels. In addition, TNF−α and IL1β immunostaining was weaker IL-18KO animals. Also, the intestinal contractility in IL18KO animals was not exarcerbated after a cholinergic challenge. IL-18Wt animals receiving CPT-11 and IL-18Bp did not present significant diarrhea and there was no significant alterations on intestinal contractility after Ach administration. Although MPO activity was not increased in IL-18Bp treated animals, the ileal mucosa presented moderate to severe histological alterations. Conclusion: IL-18 participates in the CPT11-induced GIM. IL-18Bp attenuates some inflammatory (cell infiltrate) and functional (diarrhea and contractility) events of CPT-11-induced GIM. The contractility alterations in CPT-11 treated animals seem to have an inflammatory related component. Key Words: mucositis, interleukin-18. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Constelação de sintomas e alterações clínicas da mucosite gastrointestinal.................................................... 21 FIGURA 2 - Ativação e via de sinalização de IL-18............................... 27 FIGURA 3 - Estrutura química do CPT-11............................................. 31 FIGURA 4 - Metabolismo do CPT-11..................................................... 33 FIGURA 5- Polimorfismos no gene UGT1A1 correlacionam-se com a toxicidade do CPT-11......................................................... 35 FIGURA 6- Escores de diarréia............................................................. 44 FIGURA 7- Efeito da administração de cloridratro de irinotecano (CPT-11) no leucograma de camundongos Balb/c IL18Wt.................................................................................... FIGURA 8- 55 Efeito da administração de diferentes doses de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a curva de sobrevida de camundongos Balb/C IL-18Wt............................................ FIGURA 9 - Fotomicrografias de camundongos Balb/C IL-18Wt e IL18KO injetados com salina 0,9% ou CPT-11..................... FIGURA 10 - 56 57 Efeito da administração de diferentes doses de cloridrato de irinotecano (CPT-11) na morfometria intestinal em camundongos Balb/C IL-18Wt............................................ FIGURA 11 - 58 Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt................................ FIGURA 12 - 59 Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre os níveis de citocinas (TNF-α e IL-1β) no íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt................................ FIGURA 13 - 60 Fotomicrografias de imunomarcação com anticorpos antiTNFα no íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt e IL18KO injetados com salina 0,9% ou CPT- 11........................................................................................ 61 FIGURA 14 – Fotomicrografias de imunomarcação com anticorpos antiIL-1β no íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt e IL-18KO injetados com salina 0,9% ou CPT-11................................ FIGURA 15- 62 Efeito da administração de diferentes doses de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a resposta contrátil do duodeno ao estímulo com betanecol (BCh) em camundongos Balb/C......................................................... FIGURA 16 - 63 Efeito da administração de cloridratro de irinotecano (CPT-11) no leucograma de camundongos Balb/C IL18KO.................................................................................. FIGURA 17 - 68 Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a curva de sobrevida de camundongos Balb/C IL-18KO................................................................... FIGURA 18 - Fotomicrografias de camundongos Balb/C IL-18Wt e IL18KO injetados com salina 0,9% ou CPT-11..................... FIGURA 19 - 69 70 Efeito da administração de cloridratro de irinotecano (CPT-11) na morfometria intestinal em camundongos Balb/C IL-18Wt e IL-18KO.................................................. FIGURA 20 - 71 Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/C IL18KO................................ FIGURA 21 - 72 Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre os níveis de citocinas (TNF-α e IL-1β) no íleo de camundongos Balb/c IL-18KO................................ FIGURA 22 - 73 Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a resposta contrátil do duodeno ao estímulo com acetilcolina (ACh) em camundongos Balb/C IL-18KO............................................................................... FIGURA 23 - 74 Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) no leucograma de camundongos Balb/c IL18Wt tratados com IL-18Bp................................................ FIGURA 24 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a curva de sobrevida de camundongos 79 Balb/C IL-18Wt tratados com IL-18Bp................................ FIGURA 25 – Fotomicrografias de camundongos Balb/C 80 IL-18Wt injetados com CPT-11 com ou sem pré-administração de IL-18Bp............................................................................... FIGURA 26- 81 Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) na morfometria intestinal em camundongos Balb/c IL-18Wt tratados com IL-18Bp................................. FIGURA 27 - 82 Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/c IL18Wt tratados com IL18Bp.................................................................................... FIGURA 28 – 83 Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a resposta contrátil do duodeno ao estímulo com acetilcolina (ACh) em camundongos Balb/C IL-18Wt tratados com IL-18Bp............................................ FIGURA 29 - Modelo hipotético mediadores proposto inflamatórios para a envolvidos cascata na 84 dos mucosite gastrointestinal induzida por CPT-11.................................. 93 LISTA DE QUADROS E TABELAS QUADRO 1- Diarréia: Critérios de toxicidade comum (versão 3.0)............ QUADRO 2 - Sumário de guidelines de práticas clínicas baseadas em 22 evidência para o cuidado de pacientes com mucosite gastrointestinal........................................................................ TABELA 1 - Efeito de diferentes doses de cloridrato de irinotecan (CPT11) na indução de diarréia em camundongos Balb/C...................................................................................... TABELA 2 - 24 54 Avaliação da intensidade da diarréia em camundongos geneticamente depletados de IL-18 (IL-18KO) tratados com cloridrato de irinotecano (CPT-11).......................................... TABELA 3 - 67 Efeito da administração da proteína ligante de IL-18 (IL18Bp) na intensidade da diarréia induzida pelo cloridrato de irinotecano (CPT-11)............................................................... 78 LISTA DE ABREVIATURAS α Alfa D β Beta µL Microlitro µm Micrômetro 5-FU 5-Fluorouracil ACh Acetilcolina AChE Acetilcolinesterase ANOVA Análise de variância APC 7-etil-10-[4-N-(5-ácido aminopentanóico)-1-piperidino]carboxiniloxicamptotecina BSA Albumina sérica bovina CE Carboxilesterase CPT-11 Cloridrato de irinotecano DAB 3,3’ peróxido de diaminobenzidina DMSO Dimetil sulfóxido DNA Ácido desoxirribonucléico ELISA Ensaio imunoenzimático EPM Erro padrão da média H&E Hematoxilina e eosina IFN Interferon IkB Inibidor kappa B IL- Interleucina IL-1ra Antagonista do receptor de IL-1 i.p. Intraperitoneal i.v. Intravenosa KC Quimiocina derivada de queratinócitos kg Quilograma KGF Fator de crescimento de queratinócitos M Molar MAPK Proteína quinase ativada por mitógenos md Mediana mg Miligrama MGI Mucosite Gastrointestinal mL Mililitro mm3 Milímetro cúbico MPO Mieloperoxidase MRP2 Proteína 2 associada a resistência multidroga NF-κB Fator de transcrição nuclear kappa B NK Natural Killer NO Óxido nítrico NPC 7-etil-10-[4-amino-1-piperidino-]-carboniloxiicamptotecina OPD O-fenilenediamine diidrocloreto PBMCs Células mononucleares do sangue periférico PBS Solução tamponada de fosfato pg Picograma PG Prostaglandina PGl2 Prostaciclina P-gp Glicoproteína P PMN Polimorfonucleares PTX Pentoxifilina q.s.p. Quantidade suficiente para rhIL-11 IL-11 recombinante humano RNA Ácido ribonucléico RNAm RNA mensageiro ROS Espécies reativas de oxigênio SCFAs Ácidos graxos de cadeia curta SN-38 7-etil-10-hidroxicamptotecina SN-38G SN-38 glicuronídio s.c. Subcutânea Th T helper TNF Fator de necrose tumoral UDP-GT Uridina difosfato glicuronosil-transferase v.o. Via oral SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 18 1.1 Mucosite gastrointestinal (MGI)....................................................... 19 1.1.1 Aspectos clínicos e abordagem terapêutica atual............................ 19 1.1.2 Fisiopatogenia.................................................................................. 20 1.2 Interleucina-18 (IL-18)........................................................................ 25 1.3 Cloridrato de irinotecano (CPT-11).................................................. 30 1.3.1 Estrutura química.............................................................................. 31 1.3.2 Farmacocinética................................................................................ 32 1.3.3 Mecanismo de ação.......................................................................... 36 1.3.4 Toxicidade......................................................................................... 36 1.4 Justificativa......................................................................................... 38 1.5 Objetivos............................................................................................. 39 2 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................... 40 2.1 Animais de experimentação............................................................. 40 2.2 Drogas, soluções, corantes e anticorpos....................................... 40 2.3 Indução da MGI.................................................................................. 42 2.4 Grupos experimentais....................................................................... 42 2.4.1 Grupo normal.................................................................................... 42 2.4.2 Grupo controle.................................................................................. 43 2.4.3 Grupos teste..................................................................................... 43 2.5 Parâmetros avaliados....................................................................... 43 2.5.1 Diarréia............................................................................................ 43 2.5.2 Leucograma..................................................................................... 44 2.5.3 Sobrevida......................................................................................... 45 2.5.4 Análise histopatológica e morfométrica........................................... 45 2.5.5 Dosagem de mieloperoxidase (MPO).............................................. 46 2.5.6 Dosagem de citocinas (TNF-α e IL-1β) no íleo................................ 46 2.5.7 Avaliação da expressão de citocinas (TNF-α e IL-1β) por imunoistoquímica....................................................................................... 47 2.5.8 Contratilidade in vitro de duodeno................................................... 48 2.6 Análise estatística............................................................................. 49 3 RESULTADOS...................................................................................... 50 3.1.1 Avaliação do leucograma de camundongos Balb/C após a administração de CPT-11.......................................................................... 50 3.1.2 Avaliação da sobrevida de camundongos Balb/C após a administração de CPT-11.......................................................................... 50 3.1.3 Avaliação dos escores de diarréia após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C............................................................................ 51 3.1.4 Alterações nas estruturas histológicas do intestino após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C................................... 51 3.1.5 Alterações nos parâmetros morfométricos do íleo após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C................................... 52 3.1.6 Avaliação da atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/C após a administração de CPT-11.......................... 52 3.1.7 Quantificação dos níveis de citocinas (TNFα e IL-1β) no íleo de camundongos Balb/C após a administração de CPT-11........................... 52 3.1.8 Avaliação da expressão de citocinas (TNFα e IL-1β) no íleo de camundongos Balb/C após a administração de CPT-11........................... 52 3.1.9 Avaliação da resposta contrátil do duodeno ao estímulo com betanecol (BCh) em camundongos Balb/C após a administração de CPT11.................................................................................................................. 3.2. Avaliação de parâmteros relacionados à 53 mucosite gastrointestinal após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C geneticamente depletados de IL-18 (IL-18KO)......................... 64 3.2.1 Avaliação do leucograma de camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11....................................................................... 54 3.2.2 Avaliação da sobrevida de camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11.......................................................................... 64 3.2.3 Avaliação dos escores de diarréia após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C IL-18KO....................................................... 64 3.2.4 Alterações nas estruturas histológicas do intestino após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C IL-18KO.................. 65 3.2.5 Alterações nos parâmetros morfométricos do íleo após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C IL-18KO.................. 66 3.2.6 Avaliação da atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11............ 66 3.2.7 Quantificação dos níveis de citocinas (TNFα e IL-1β) no íleo de 66 camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11............ 3.2.8 Avaliação da expressão de citocinas (TNFα e IL-1β) no íleo de 66 camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11............ 3.2.9 Avaliação da resposta contrátil do duodeno ao estímulo com acetilcolina (ACh) em camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11.......................................................................... 3.3. Avaliação gastrointestinal de em parâmetros relacionados camundongos Balb/C à IL-18Wt 67 mucosite após a administração da proteína ligante de IL-18 (IL-18Bp) e CPT-11.......... 75 3.3.1 Avaliação do leucograma de camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11...................................................... 75 3.3.2 Avaliação da sobrevida de camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11......................................................... 75 3.3.3 Avaliação dos escores de diarréia em camundongos Balb/C IL18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11.................................... 75 3.3.4 Alterações nas estruturas histológicas do íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11.................... 76 3.3.5 Alterações nos parâmetros morfométricos do íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT- 11................................................................................................................ 76 3.3.6 Avaliação da atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT11.................................................................................................................. 77 3.3.7 Avaliação da resposta contrátil do duodeno ao estímulo com acetilcolina (ACh) em camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11............................................................ 77 4 DISCUSSÃO.......................................................................................... 85 5 CONCLUSÕES...................................................................................... 92 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 94 ANEXOS.................................................................................................... 104 18 1 INTRODUÇÃO Ao longo das últimas cinco décadas, o número de agentes antineoplásicos tem crescido exponencialmente e contribuído para o aumento da qualidade de vida e da sobrevida de pacientes com inúmeros tipos de câncer (KENNEDY, 1991). Entretanto, os pacientes passaram a sofrer com efeitos adversos limitantes como náuseas e vômitos, neutropenia, infecções, mucosite gastrointestinal (MGI), entre outros. Além de prejudicar a qualidade de vida dos pacientes, os efeitos adversos relacionados à quimioterapia antineoplásica podem representar prejuízo à eficácia terapêutica, pois são frequentes os atrasos em ciclos de tratamento subsequentes, reduções de doses e baixa aderência por parte dos pacientes (SONIS et al., 2004b; RUBENSTEIN et al., 2004). Nos últimos anos, a qualidade de vida dos pacientes e a paliação dos sintomas, sejam relacionados à doença ou ao tratamento, têm ganho maior atenção por parte dos oncologistas. No início da década de 1990, a chegada ao mercado de uma nova classe de fármacos antieméticos da família dos inibidores do receptor 5-HT3 da serotonina, representou uma inquestionável mudança de paradigma no manejo de náuseas e vômitos relacionados à quimioterapia (KRIS et al., 1989). O melhor suporte hemoterápico e a disponibilidade de fatores de crescimento de granulócitos e de eritropoetina recombinante, também tornou a mielotoxicidade relacionada à quimioterapia bem mais contornável. Entretanto, apesar dos avanços na compreensão e no tratamento de alguns efeitos adversos dos fármacos antineoplásicos, outros ainda permanecem pouco compreendidos, como a MGI, cujo tratamento ainda hoje resume-se predominantemente a analgésicos, higiene da cavidade oral e antidiarréicos. Mucosite alimentar ou gastrointestinal é o termo clínico usado para descrever os efeitos colaterais da quimioterapia antineoplásica e da radioterapia nas mucosas, podendo acometer as mucosas do trato alimentar de maneira global ou localizada. Os pacientes com mucosite oral podem 19 apresentar dor na mucosa oral, eritema, úlceras profundas com formação de pseudomembranas, além de dificuldade de falar e de deglutir. A MGI é caracterizada por náuseas, vômitos, dor abdominal, diarréia aquosa e, em casos mais severos, hemorragia, necrose, formação de fístula e perfuração intestinal (GIBSON et al., 2002; BLIJLEVENS et al., 2007). Sua incidência é variável e influenciada por fatores como idade e nível de saúde bucal do paciente e pelas características do tratamento em questão (PICO et al., 1998). De forma geral, cerca de 15 a 40% dos pacientes em quimioterapia apresentam algum grau de mucosite (PICO et al., 1998, RUBENSTEIN et al., 2004). Entretanto, naqueles submetidos a transplante de medula óssea a incidência pode chegar próximo a 100% (RUBENSTEIN et al., 2004). A ocorrência de mucosite e seu grau de intensidade podem retardar ou impedir a continuação do tratamento antineoplásico. Pacientes que apresentaram mucosite tendem a receber doses reduzidas de quimioterapia nos ciclos subseqüentes ao episódio de mucosite (RUBENSTEIN et al., 2004), Além disso, em pacientes neutropênicos, a presença de mucosite representa um aumento de quatro vezes no risco de sepse (PICO et al., 1998). Portanto, esse efeito adverso tem o potencial de interferir diretamente na eficácia e no risco de um tratamento. O objeto de investigação do presente estudo é a MGI induzida pelo fármaco antineoplásico irinotecano (CPT-11) em camundongos, com especial ênfase ao papel da interleucina-18. 1.1 Mucosite gastrointestinal (MGI) 1.1.1 Aspectos clínicos e abordagem terapêutica atual Os pacientes podem apresentar mucosite em diferentes graus de intensidade. Os quadros mais leves de mucosite oral cursam com dor e eritema da mucosa e os mais graves cursam com ulcerações profundas, formação de pseudomembranas e impossibilidade de alimentação por via oral. A MGI pode 20 estar relacionada a dor abdominal, náuseas, vômitos e diarréia. Clinicamente, a diarréia é o sintoma mais marcante, podendo ser aquosa e em pequeno volume uma ou duas vezes ao dia ou, nos casos mais severos, em número superior a dez episódios por dia. Nos quadros mais dramáticos, pode haver necessidade de nutrição parenteral ou até de intervenções cirúrgicas em casos de perfuração intestinal ou hemorragia maciça (GIBSON et al., 2002; BLIJLEVENS et al., 2007). A Figura 1 ilustra a ampla constelação de sintomas e complicações decorrentes da MGI. O Quadro 1 descreve os critérios de graduação da diarréia formulados pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI –National Cancer Institute), usados universalmente em estudos clínicos e também na prática clínica assistencial. Em 2004, a Seção de Estudos de Mucosite da Associação Multinacional de Terapia de Suporte em Câncer e da Sociedade Internacional de Oncologia Oral publicou o primeiro guideline de tratamento de mucosite alimentar baseado em revisão sistemática da literatura médica publicada entre 1966 e 2002 (RUBENSTEIN et al., 2002). O grupo propôs-se a realizar reavaliações trienais do guideline e, em 2007, foi publicada sua primeira revisão (KEEFE et al., 2007). O Quadro 2 resume as recomendações do guideline para o tratamento da MGI, segmento do trato alimentar de particular interesse para o presente estudo. 1.1.2 Fisiopatogenia Até recentemente acreditava-se que a mucosite relacionada à quimioterapia e à radioterapia ocorria em consequência à lesão direta das células com alto poder de proliferação das camadas basais do epitélio do trato alimentar. Dessa maneira, acreditava-se, o epitélio perdia temporariamente a capacidade de regeneração e a lâmina própria ficava exposta ao conteúdo do lúmen (SONIS, 2004). Nos últimos anos, novas evidências têm revelado maiores detalhes desse processo. Ijiri e Potten (1987) testaram dezoito agentes citotóxicos e mostraram que todos promovem hipoplasia e apoptose em criptas intestinais. Keefe et al. 21 FIGURA 1 – Constelação de sintomas e alterações clínicas da mucosite gastrointestinal Os pacientes com MGI podem apresentar sintomas leves e auto-limitados. Entretanto, esse é um efeito adverso potencialmente capaz de gerar numerosas complicações, incluindo quadros graves e irreversíveis (KEEFE et al., 2007). (2000), avaliando amostras de biópsias da terceira porção do duodeno em 23 pacientes submetidos a vários esquemas de quimioterapia, identificaram a presença de apoptose em criptas no primeiro dia após a quimioterapia. Apenas no terceiro dia foram observadas redução da área dos vilos e hipoplasia de criptas. Tais dados sugerem que a apoptose antecede a hipoplasia em criptas. Evidências mais recentes sugerem também a participação dos componentes da lâmina própria, como as células endoteliais e os fibroblastos, nos eventos iniciais da mucosite induzida por quimioterápicos e por radioterapia. Paris et al. (2001), trabalhando com um modelo de irradiação corporal total em camundongos, evidenciaram a presença de apoptose em células endoteliais da lâmina própria 1 hora após a administração de 8 a 15Gy, com intensidade máxima na quarta hora. No mesmo modelo, a apoptose no epitélio colunar só inicia 10 horas após a dose de 15Gy. A apoptose em criptas 22 QUADRO 1 – Critérios comuns de terminologia para eventos adversos (versão 3.0) - Diarréia Grau 1 Aumento da frequência das evacuações, menor que 4 vezes por dia Grau 2 Aumento da frequência das evacuações de 4 a 6 vezes por dia Necessidade de hidratação venosa <24h Sem interferência nas atividades diárias Grau 3 Aumento da frequência das evacuações ≥ 7 vezes por dia Necessidade de hidratação venosa ≥24h ou hospitalização Interferência nas atividades diárias Grau 4 Risco de vida (ex. colapso hemodinâmico) Grau 5 Morte Fonte: National Cancer Institute ocorre inicialmente através de uma via dependente de p53 e, mais tardiamente, independente de p53 (POTTEN et al., 1998). Em outro modelo de radioterapia em ratos, os autores demonstraram por microscopia eletrônica a presença de apoptose em fibroblasto precedendo a apoptose do epitélio (SONIS et al., 2000). Os detalhes dessas alterações na mucosite induzida por quimioterapia ainda não foram estudados, entretanto, sabe-se que o fármaco antineoplásico ARA-C promove apoptose em fibroblastos associada ao aumento de expressão de p53 e à ativação de caspase-3 e, por esse motivo, Sonis (2004b) propõe que provavelmente a apoptose de fibroblastos ocorra de maneira semelhante tanto na mucosite induzida por radioterapia como na induzida por quimioterapia. Em 2004, Sonis (2004a) propôs um modelo de fisiopatologia para a MGI induzida por quimioterapia e radioterapia, dividindo-a em cinco fases: iniciação, resposta à lesão inicial, amplificação do sinal, ulceração e cicatrização. Essa divisão tem objetivo didático, visto que muitos eventos acontecem de maneira 23 superposta, principalmente quando se considera que o estímulo desencadeador pode ser continuado, em frações diárias. Por exemplo, há esquemas de quimioterapia seqüenciais onde o fármaco é administrado durante alguns dias seguidos. Da mesma maneira, a radioterapia é aplicada normalmente em frações diárias ou até em duas ou três frações por dia. Segundo o modelo proposto por Sonis (2004a), na fase inicial do processo a quimioterapia e a radioterapia seriam responsáveis pela lesão direta do DNA de células da camada basal da membrana epitelial. Em paralelo, seriam geradas espécies reativas de oxigênio. Nessa fase, as alterações ocorreriam na submucosa e culminariam na lesão da mucosa sobrejacente. Na segunda fase, a quebra do DNA ativaria vias de transdução de sinal envolvendo p53 e o fator nuclear kappa-B (NF-κB). Esses fatores de transcrição, principalmente o NF-κB, seriam responsáveis pela amplificação de sinal através da ativação de outros fatores de transcrição como NRF2, ativação de diversas vias de sinalização intracelular incluindo vias de apoptose e produção de citocinas proinflamatórias como TNF, IL-1 e IL-6. Durante o terceiro estágio, ocorreria amplificação ainda maior do sinal inicial, pois o aumento da expressão gênica decorrente da ativação inicial de fatores de transcrição seria responsável pelo acúmulo de inúmeras proteínas no ambiente intracelular. Algumas dessas proteínas, como o TNF, promoveriam retroalimentação positiva através de nova ativação de NF-κB. Além disso, o TNF ativaria várias vias de sinalização culminando na ativação de caspase-3 e apoptose. As principais alterações de mucosa e os sintomas clínicos seriam mais pronunciados na quarta fase da mucosite. Nessa fase, a quebra da barreira de mucosa permitiria a exposição da submucosa às bactérias presentes na cavidade oral e no lúmen intestinal, promovendo uma cascata de eventos inflamatórios iniciada pela ativação de células mononucleares residentes, produção de citocinas, migração celular etc. Em pacientes neutropênicos, esse quadro tem maior risco potencial, já que quebra da barreira mucosa é um fator de risco importante para bacteremia e sepse (PICO et al., 1998). 24 A última fase da mucosite seria a de cicatrização. Uma vez cessado o estímulo, os eventos seriam auto-limitados e a completa recuperação das mucosas ocorreria dentro de dias. QUADRO 2 - Sumário de guidelines de práticas clínicas baseadas em evidência para o cuidado de pacientes com mucosite gastrointestinal Cuidados intestinais básicos e boas práticas clínicas: 1. O painel sugere que cuidados intestinais básicos devam incluir hidratação adequada e que se considere o potencial para intolerância transitória à lactose e a presença de patógenos bacterianos. Quimioterapia e quimioterapia em altas doses: Prevenção 2. O painel recomenda ranitidina ou omeprazol para a prevenção de dor epigástrica após tratamento com ciclosfosfamida, metrotrexato e 5-fluorouracil ou tratamento com 5-fluorouracil com ou sem ácido fólico. 3. O painel recomenda que glutamina sistêmica não deve ser usada para prevenção de mucosite gastrointestinal. Quimioterapia e quimioterapia em altas doses: Tratamento 4. Quando loperamina falha no controle da diarréia induzida por quimioterapia ou quimioterapia em altas doses associada com transplante de medula óssea, o painel recomenda octreotide na dose ≥ 100 µg SC, duas vezes ao dia. Combinação de quimioterapia e radioterapia: Prevenção 5. O painel sugere o uso de amifostina para reduzir a esofagite induzida por quimioterapia e radioterapia concomitantes em pacientes com câncer de pulmão não-pequenas células. Fonte: Adaptado de KEEFE et al., 2007 Recentemente, o grupo de Keefe, utilizando um modelo de MGI induzida por CPT-11 em ratos, demonstrou a presença de NF-κB e de citocinas proinflamatórias (TNF, IL-1e IL-6) a partir de 2 horas após a administração de CPT-11 nas mucosas oral, do jejuno e do cólon, atingindo um pico de 25 expressão na sexta hora (LOGAN et al., 2007). Esse achado fortalece a hipótese de Sonis de que os eventos envolvidos na MGI acontecem de maneira semelhante ao longo das diferentes porções do trato digestório, com possíveis variações relacionadas a particularidades de cada segmento. No mesmo estudo, os autores demonstraram que a elevação de NF-κB, TNF, IL-1 e IL-6 antecede o surgimento das alterações morfológicas de mucosa, como o aumento número de corpos apoptóticos, o achatamento de vilos e criptas e o surgimento de infiltrado inflamatório. Entretanto, o estudo não permite conclusões sobre a relação cronológica entre a produção de NF-κB e a produção de TNF, IL-1e IL-6. O envolvimento de citocinas proinflamatórias na MGI já havia sido descrito por outros autores (SONIS, 2004a; LOGAN, 2007; MELO et al., 2007). Recentemente, em nosso laboratório, foi demonstrado que o pré-tratamento com talidomida e com pentoxifilina, fármacos que interferem na síntese de TNF e outras citocinas, reduz a intensidade das alterações morfométricas e o infiltrado inflamatório na mucosa jejunal de camundongos com mucosite intestinal induzida por CPT-11. Através de imunoistoquímica e da dosagem das citocinas no tecido por ELISA, os autores demonstraram uma menor expressão de TNF-α, IL-1β e da quimiocina KC nesses animais (MELO et al., 2007). 1.2 Interleucina-18 (IL-18) A IL-18 foi descrita pela primeira vez em 1989 como um fator indutor de interferon-γ (IGIF, interferon-γ inducing factor) em células de baço de camundongos (NAKAMURA et al., 1989), entretanto, sua clonagem e batismo só ocorreram em 1995 (OKAMURA et al.). Integra a família da IL-1, com a qual apresenta similaridades nos mecanismos de ativação e de transdução de sinal (DELALEU et al., 2004). Sua produção ocorre em diversos tipos de células, como macrófagos, células dendríticas, células epiteliais, células da micróglia e monócitos e o 26 receptor de IL-18 (IL-18R) já foi descrito em macrófagos, linfócitos, células NK, células endoteliais, células epiteliais e células de músculo liso (DELALEU et al., 2004; REDDY, 2004). Sua liberação para o meio extracelular é feita através de receptores purinérgicos P2X-7 (GRACIE, 2004). As vias de ativação e sinalização da IL-18 estão esquematizadas na Figura 2. Pró-IL-18 é a molécula precursora da IL-18 e não dispõe de atividade biológica. Seu peso molecular é 28 kDa e, para ser ativada, precisa sofrer clivagem enzimática. Sabe-se que a clivagem ocorre no ambiente intracelular, mas há evidências de que a pro-IL18 possa ser secretada e ativada também fora da célula (FANTUZZI et al., 1999;). A enzima ICE (IL-1 converting enzyme ou caspase-1) é uma protease cisteínica citoplasmática que, além de transformar pró-IL-1β em IL-1β, também cliva a pró-IL-18 na posição Asp35, gerando a IL-18, com 24 kDa. Essa é considerada a via “clássica” de ativação da IL-18 (FANTUZZI et al., 1999, DELALEU et al., 2004). Entretanto, ela pode ser ativada alternativamente através da ação da caspase-3 e da caspase-4. A caspase-4 cliva a pro-IL-18 na mesma posição que a ICE (Asp35), mas com eficiência centenas de vezes menor. Já a caspase-3 realiza a clivagem na posição Asp 69, podendo gerar formas de IL18 biologicamente menos potentes ou sem atividade biológica (FANTUZZI et al., 1999; DELALEU et al., 2004). A pró-IL-18 secretada pela célula também pode ser ativada por enzimas extra-celulares expressas constitutivamente por leucócitos, como a proteinase3 (FELDERHOFF-MUESER et al., 2005). O receptor de IL-18 (IL-18R) é um heterodímero formado por uma subunidade alfa (IL-18Rα) que é responsável pela ligação da IL-18 e uma subunidade beta (IL-18Rβ), que aumenta a afinidade de ligação ao ligante e tem papel essencial na transdução de sinal. A ligação da IL-18 ao receptor forma um complexo ternário entre a própria IL-18 e as duas subunidades do receptor (DELALEU et al., 2004; REDDY, 2004). A IL-18 compartilha com a IL-1 e o TNF alguns dos mecanismos de sinalização (ex.: TLR-toll like receptor, Figura ). Uma vez que a IL-18 esteja ligada ao seu receptor, a proteína acessória de IL-1R (IL-1Racp) recruta o MyD88 e a quinase ativadora de IL-1 (IRAK, IL-1R receptor activating kinase). 27 Esta última associa-se à molécula de sinalização TRAF-6, que por sua vez, associa-se com a quinase indutora de NF-κB (NIK, NF-κB inducing kinase) iniciando a cascata de ativação do NF-κB (DELALEU et al., 2004, NOVICK et al., 1999) . A família da IL-18 inclui ainda uma proteína chamada IL-18 binding-protein (IL-18Bp), que é secretada na forma solúvel, sem domínio transmembrana, e tem função análoga à do receptor solúvel de IL-1. Ou seja, a IL-18Bp, liga-se à IL-18 impede sua interação com o IL-18R (DELALEU et al., 2004; NOVICK et al., 1999). Figura 2 – Ativação e via de sinalização de IL-18 Pró-IL-18 é a molécula precursora da IL-18 e não dispõe de atividade biológica. Ela é ativada no meio intracelular pela caspase-1, mesma enzima que cliva a pró-IL-1β. No meio extracelular, a IL-18 pode interagir com seu receptor IL-18R. Uma vez que a Il-18 esteja ligada ao receptor, a proteína acessória de IL-1R (IL-1Racp) recruta o MyD88 e a quinase ativadora de IL-1 (IRAK, IL-1R receptor activating kinase). Esta última associa-se à molécula de sinalização TRAF-6, que por sua vez, associa-se com a quinase indutora de NF-κB (NIK, NF-κB inducing kinase) iniciando a cascata de ativação do NF-κB (DELALEU et al., 2004). 28 Até o momento, foram descritas duas isoformas de IL-18Bp murinas e quatro humanas (IL-18Bp a, b, c, d). As isoformas a e c neutralizam a atividade biológica da IL-18, as outras duas, não. IL-18Bpa é expressa constitutivamente no baço e, em menor quantidade, no cólon, no intestino delgado e na próstata (CORBAZ et al., 2002). O RNA da IL-18Bp é constitutivamente expresso em linfócitos do sangue periférico, baço, timo, cólon, intestino delgado e próstata. Experimentos in vitro demonstraram que essa proteína impede a resposta Th1, bloqueia a produção de IFN-γ induzida pela IL-18, além de bloquear a produção de IL-8 e a ativação de NF-κB (NOVICK et al., 1999). A expressão de IL-18Bp pode ser aumentada pelo próprio IFN-γ, formando uma alça de retroalimentação negativa Esse dado reforça a participação da famíla IL-18 na regulação da resposta imune (CORBAZ et al., 2002). A IL-18 é uma citocina pleiotrópica, reconhecida como um importante regulador da resposta imune inata e adquirida (GRACIE, 2004). Estimula a maturação de células T e células NK, promovendo nestas aumento da expressão de FasL (Fas-ligand) e da citotoxicidade mediada pela ligação FasFasL. Pode estimular tanto respostas Th1, agindo em sinergia com IL-1, como Th2. Quando incubada in vitro com linfócitos T CD4+ sozinha ou em associação com IL-2 ou IL-4, estimula expressão de IgE e induz resposta Th2 (REDDY, 2004; GRACIE, 2004). Em um modelo murino de asma (resposta Th2 típica), linfócitos Th1 de memória podem desencadear resposta Th2 quando o estímulo é apresentado na presença de IL-18 (SUGIMOTO et al., 2004). Em outro modelo murino de infecção por Listeria, a IL-18 em conjunto com a IL-12 estimula células T de memória na ausência de antígeno cognato, desencadeando uma resposta Th1 (BERG et al., 2003). A geração do tipo de resposta Th1 ou Th2 está relacionada a contextos distintos, com diferentes estímulos, células e citocinas coadjuvantes envolvidos. A IL-18 também é capaz de induzir a produção diversas citocinas e mediadores inflamatórios, como TNF-α, IL1β, IL-8, IFN-γ, óxido nítrico e prostaglandinas (CORBAZ et al., 2002). 29 Em modelos experimentais de sepse, o bloqueio de IL-18 com anticorpos anti-IL-18 reduz a lesão de órgãos como fígado e pulmão e os níveis de IFN-γ, MIP-2 e TNF-α, além de aumentar a sobrevida (DINARELLO et al., 2003). Em um modelo de isquemia/reperfusão (I/R) em miocárdio humano perfundido, a expressão de RNAm de IL-18 e os níveis de IL-18 no homogenato estão aumentados após a I/R. A adição de IL-18Bp ao perfusato durante e após a I/R melhora a função contrátil (POMERANTZ et al., 2001). A expressão dos genes de IL-18 e caspase-1 está aumentada no cérebro de ratos com meningoencefalite autoimune experimental durante a fase aguda da doença e nas raízes dos nervos de ratos com polineuropatia desmielinizante inflamatória, também na fase aguda da doença (FELDERHOFF-MUESER et al., 2005). O envolvimento da IL-18 também já foi descrito em inúmeras doenças, como artrite reumatóide, psoríase, artirite juvenil idiopática, diabete melito insulino-dependente, doença de Crohn e esclerose múltipla (CORBAZ et al., 2002; ANDERSON et al., 2006). A expressão de IL-18 está aumentada no soro e na sinóvia de pacientes com artrite reumatóide e artrite psoriásica, assim como nas células epiteliais e nos macrófagos das lesões intestinais em pacientes com doença de Crohn (GRACIE, 2004; CORBAZ et al., 2002). Em um modelo experimental de doença de Crohn em camundongos com imunodeficiência combinada severa (SCID - severe combined immunodeficiency disease) reconstituídos com células T CD62+ CD4+, a IL-18 é fortemente expressa no epitélio intestinal lesado (WIRTZ et al., 2002). Em outro modelo de colite induzida por DSS (dextran sulfate sodium) em camundongos, os níveis de IL-18 no cólon aumentam em paralelo ao aumento da dose de DSS e à progressão da lesão. A administração de IL-18Bp resulta em redução da lesão de maneira dose-dependente. Resultados semelhantes foram obtidos em outro modelo de colite induzida por trinitrobenzeno DINARELLO et al., 2003). Atualmente, portanto, a IL-18 é reconhecida como um importante regulador do sistema imune e um dos mediadores inflamatórios cruciais em diversos processos patológicos, juntamente com IL-1β e TNF-α. Até o presente 30 momento não há estudos descritos na literatura sobre o envolvimento de IL-18 na patogênese da MGI. 1.3 Cloridrato de irinotecano (CPT-11) A Camptotheca acuminata é uma árvore originária da China e do Tibet, onde é conhecida como xi shu (árvore alegre). Em 1966, o programa de triagem do Instituto Nacional do Câncer norte-americano descobriu que a camptotecina, um alcalóide presente em seu tronco, sua casca e em suas flores possuía atividade antitumoral (WALL et. al., 1966). Os primeiros estudos pareciam promissores, mas problemas com a solubilidade da droga e com os efeitos colaterais (mielossupressão e cistite hemorrágica) contribuíram para que o desenvolvimento da mesma fosse adiado indefinidamente. Apenas com a descoberta de seu mecanismo de ação é que a droga voltou a atrair interesse e foram desenvolvidos derivados mais hidrossolúveis (PIZZOLATO et. al., 2003). O CPT-11 foi o primeiro derivado semi-sintético hidrossolúvel da camptotecina a ser testado clinicamente. Os estudos iniciaram na década de 80 no Japão e em 1994 a droga foi aprovada naquele país para uso clínico em pacientes com câncer de pulmão. Em 1995 e 1996 vieram as aprovações para uso em pacientes com câncer de cólon metastático na Europa e nos Estados Unidos, respectivamente (PIZZOLATO et. al., 2003). Atualmente, o CPT-11 é utilizado no tratamento do câncer colorretal metastático (SALTZ et al., 2001; VAMVAKAS et al., 2002; ROSATI et al., 2002), no câncer de pulmão de pequenas células e não-pequenas células (ROCHA-LIMA et al., 2004a; LANGER, 2004), no câncer de estômago (AJANI, 2005; ENZINGER et al., 2005), nos cânceres de ovário (SUGIYAMA et al., 1996), pâncreas (ROCHA-LIMA et al., 2004b) e mama (PEREZ et al., 2004), no linfoma de Hodgkin (RIBRAG et al., 2003), entre outros. 31 1.3.1 Estrutura química FIGURA – 3 Estrutura química da camptotecina, do CPT-11 e de suas formas de equilíbrio pH-dependente. O CPT-11 é um derivado semi-sintético hidrossolúvel da camptotecina. CPT-11 e SN38, seu metabólito mais ativo, possuem um anel α-hydroxi-3-lactona, que é lábil e sofre hidrólise facilmente no lúmen intestinal, de maneira dependente do pH. Em condições ácidas a formação de lactona é favorecida. Em pH fisiológico ou básico, a forma lactona é instável e o equilíbrio favorece a hidrólise para abrir o anel de lactona e levar à formação de carboxilato. A forma lactona tem maior afinidade pela topoisomerase I e possui maior atividade antitumoral (ARIMORI et al., 2001; IKEGAMI et al., 2002). 32 A estrutura química da camptotecina e do CPT-11 (7-etil-10-[4-(1piperidino)-1-piperidino] carboxiniloxi-camptotecina) pode ser vista na Figura 1 1.3.2 Farmacocinética O CPT-11 apresenta uma característica única em relação aos derivados da camptotecina, uma cadeia lateral formada por um dipiperidina ligada à camptotecina por uma ligação carboxil-éster (Figura 1). Essa cadeia lateral confere maior hidrosolubilidade, mas reduz a atividade antitumoral do CPT-11 (PIZOLLATO et. al., 2003). A clivagem dela pela enzima carboxilesterase (CE), encontrada principalmente no fígado e no trato gastrointestinal, forma o metabólito SN-38 (7-etil-10-hidroxicamptotecina), que é até 1000 vezes mais potente que o CPT-11 e é a forma ativa da droga (KAWATO et. al., 1991). CPT-11 e SN-38 possuem um anel α-hydroxi-3-lactona, que é lábil e sofre hidrólise facilmente no lúmen intestinal, de maneira dependente do pH. Em condições ácidas a formação de lactona é favorecida. Em pH fisiológico ou básico, a forma lactona é instável e o equilíbrio favorece a hidrólise para abrir o anel de lactona e levar à formação de carboxilato. A forma lactona tem maior afinidade pela topoisomerase I e possui maior atividade antitumoral (ARIMORI et al., 2001; IKEGAMI et al., 2002). No fígado, a enzima CYP3A4 atua sobre o CPT-11 gerando dois compostos inativos, APC (7-etil-10-[4-N-(5-ácido aminopentanóico)-1- piperidino]-carboniloxicamptotecina) e NPC (7-etil-10-[4-amino-1-piperidino]carboniloxicamptotecina) (HAAZ et. al., 1998; CHESTER et al., 2003; MATHIJSSEN et al., 2004). Apenas o NPC pode ser metabolizado pela CE em SN-38 in vitro, contribuindo para a atividade antitumoral e para a toxicidade do CPT-11 (DODDS et al., 1998; KHERER et al., 2000). A meia-vida do CPT-11, sob a forma de lactona (Figura 2), é de aproximadamente 6,8 horas (5 a 9,6 horas). A meia-vida do SN-38 é maior, de aproximadamente 11,05 horas (9,1 a 13 horas). A depuração sistêmica é de aproximadamente 46,9 L/h/m2 (TAKIMOTO; ARBUK, 2001). E, o volume de distribuição para as doses de 125mg/ m2 e 340 mg/m2, é de 110±48,5 L/ m2 e 234±69,6 L/ m2, respectivamente (ALIMONTI et al., 2004). 33 FIGURA 4 – Metabolismo do CPT-11 No fígado, a enzima CYP3A4 atua sobre o CPT-11 gerando dois compostos inativos, APC (7-etil-10-[4-N-(5-ácido aminopentanóico)-1-piperidino]-carboniloxicamptotecina) e NPC (7-etil-10-[4-amino-1-piperidino]-carboniloxicamptotecina). O NPC pode ser metabolizado pela CE em SN-38. A depuração do SN-38 é feita no fígado pelo polipeptídio A1 da família da uridina difosfato glicosiltransferase 1 (UGT1A1), gerando glicuronídios de SN-38 (SN-38G), que são desprovidos de atividade biológica. CPT11, SN-38 e SN-38G são excretados na bile através das proteínas de transporte MDR1 (multidrug resistance protein 1) e MRP2 (multidrug resistance-associated protein 2) e chegam ao intestino delgado. No intestino delgado, o CPT-11 pode ser clivado pela CE intestinal, formando mais SN-38. Além disso, o SN-38G pode ser desconjugado pela ação de bactérias intestinais produtoras de β-glicuronidase, transformando-se novamente em SN-38. Este, por sua vez, é reabsorvido iniciando um processo de recirculação êntero-hepática (TREINEN-MOSLEN et. al., 2006; HAAZ et. al., 1998; CHESTER et al., 2003; MATHIJSSEN et al., 2004; DODDS et al., 1998; KHERER et al., 2000; PIZZOLATO et al., 2003; GUPTA et. al., 1994; CHU et. al., 1997; IYER et. al., 2002). 34 A depuração do SN-38 é feita no fígado pelo polipeptídio A1 da família da uridina difosfato glicosiltransferase 1 (UGT1A1), gerando glicuronídios de SN-38 (SN-38G), que são desprovidos de atividade biológica. Embora a maioria dos tecidos possa ativar o CPT-11 através da ação da CE, apenas o fígado é capaz de inativar o SN-38 (PIZZOLATO et al., 2003; GUPTA et. al., 1994). Algumas drogas podem interagir com a UGT1A1, como é o caso do ácido valpróico e do fenobarbital. O primeiro inibe a atividade da enzima, aumentando a biodisponibilidade do SN-38. Já o segundo trem efeito oposto, aumentando a reação de conjugação do SN-38 e reduzindo sua biodisponibilidade (GUPTA et al., 1997). Polimorfismos na região promotora do gene UGT1A1 podem implicar em menos glicuronidação de SN-38 e, consequentemente, maior toxicidade. Duas bases extras (TA) na sequência A(TA)6TAA da região promotora resulta em 30 a 80% de redução na expressão da enzima UGT1A1. Assim, a razão metabólica SN-38/SN-38G num paciente homozigoto (TA)7/(TA)7 ou heterozigoto (TA)7/(TA)6 são anormalmente mais altas do que em outro paciente com o genótipo selvagem (TA)6/(TA)6 (ANDO et al., 1998; IYER et al., 1999; JINNO et al., 2003). O CPT-11 pode ser eliminado nas fezes (60-70%), pela bile (25%) e pela urina (10-20%) (ALIMONTI et al., 2004). CPT-11, SN-38 e SN-38G são excretados na bile através das proteínas de transporte MDR1 (multidrug resistance protein 1) e MRP2 (multidrug resistance-associated protein 2) e chegam ao intestino delgado (CHU et. al., 1997; IYER et. al., 2002). No intestino delgado, o CPT-11 pode ser clivado pela CE intestinal, formando mais SN-38. Além disso, o SN-38G pode ser desconjugado pela ação de bactérias intestinais produtoras de β-glicuronidase, transformando-se novamente em SN38. Este, por sua vez, é reabsorvido iniciando um processo de recirculação êntero-hepática que contribui para a intensificação dos efeitos adversos do CPT-11 (TREINEN-MOSLEN et. al., 2006). 35 FIGURA 5 – Polimorfismos no gene UGT1A1 correlacionam-se com a toxicidade do CPT-11. Polimorfismos na região promotora do gene UGT1A1 podem implicar em menos glicuronidação de SN-38 e, consequentemente, maior toxicidade. O acréscimo de duas bases extras (TA) na sequência A(TA)6TAA da região promotora resulta em 30 a 80% de redução na expressão da enzima UGT1A1. Assim, a razão metabólica SN38/SN-38G num paciente homozigoto (TA)7/(TA)7 ou heterozigoto (TA)7/(TA)6 são anormalmente mais altas do que em outro paciente com o genótipo selvagem (TA)6/(TA)6 (ANDO et al., 1998; IYER et al., 1999; JINNO et al., 2003). 36 1.3.3 Mecanismo de ação O CPT-11 é um inibidor seletivo da topoisomerase I. SN38, seu metabólito ativo, é até 1000 vezes mais potente que o CPT-11 na inibição dessa enzima (KAWATO et. al., 1991). A topoisomerase I (Topo I) é uma proteína monomérica que catalisa interconversões entre diferentes estados topológicos do DNA. Ela promove a quebra de ligações fosfodiéster em uma hélice de DNA, permite a livre passagem da outra hélice pela quebra e, logo a seguir, promove a religação, deixando o DNA intacto. Com isso, a Topo I reduz a tensão torsional do DNA através da remoção das espirais durante a replicação e transcrição (LARSEN et al., 1999; TAKIMOTO et al., 2001). A droga forma um complexo ternário estável com o DNA e a Topo I e impede a progressão do garfo de replicação do DNA, bloqueando a replicação. A célula pára na fase S do ciclo celular e, na ausência de correção do dano ao DNA, entra em apoptose (LARSEN et al., 1999; TAKIMOTO et al., 2001). 1.3.4 Toxicidade Diarréia e mielossupressão são os dois efeitos adversos mais típicos e significantes do CPT-11. Neutropenia acontece em até 43% dos pacientes e a diarréia pode atingir mais de 80% dos pacientes, com incidência de graus 3 ou 4 variando de 22 a 29% (PIZZOLATO et al., 2003; ABIGERGES et al., 1995; SALIBA et al., 1998). Além desses, outros efeitos adversos graus 3 ou 4 relatados são náuseas e vômitos (9%), astenia (14%), alopecia (53%), elevação de transaminases hepáticas (8%) e anemia (9%) (ABIGERGES et al., 1995). A diarréia pode acontecer durante ou logo após a infusão ou surgir mais tardiamente, após as primeiras 24 horas. A de início precoce é um efeito colinérgico, frequentemente acompanhado de cólicas, rubor e sudorese, e cede com a administração de atropina. Já a tardia é um dos sintomas ligados à MGI e não está completamente elucidada ainda (HURWITZ et al., 1994). 37 Atualmente, a abordagem mais frequentemente utilizada no manejo da diarréia tardia é a prescrição de loperamida, um antidiarréico sintético que inibe a motilidade e a secreção intestinal ao interagir com receptores opióides e bloquear canais de cálcio (HURWITZ et al., 1994). Entretanto, inúmeras abordagens foram testadas com intuito de amenizar esse limitante efeito adverso. Três estudos clínicos de fase 2 testaram a administração de antibióticos como neomicina, penicilina com estreptomicina ou cefalosporina em pacientes em tratamento com CPT-11. O uso desses antibióticos reduz a quantidade de β-glicuronidase produzida no cólon, limitando a formação de SN-38 a partir de SN-38G (TAKASUNA et al., 1998; TAKASUNA et al., 2006; CHOWBAY et al., 2003). Estudos farmacogenéticos recentes demonstraram uma correlação positiva entre o genótipo do promotor do gene UGT1A1 e a toxicidade do CPT11, especialmente diarréia e leucopenia. Mais de trinta variações polimórficas já foram descritas, mas o polimorfismo TA na região promotora tem sido a alteração de maior repercussão clínica até o momento (ANDO et al., 2000; IYER et al., 2002). Consta na bula do medicamento informação sobre as variações polimórficas associadas a um perfil de toxicidade diferenciado, muito embora ainda não seja rotineira a pesquisa de tais polimorfismos antes da indicação terapêutica de CPT-11. O CPT-11 é um antineoplásico disponível para uso clínico há cerca de uma década e hoje tem amplo uso na Oncologia. A diarréia tardia, uma das manifestações clínicas da MGI, é um de seus efeitos adversos limitantes mais frequentes, atingindo até 80% dos pacientes (SALIBA et. al., 1998). Apesar do conhecimento disponível hoje a respeito da farmacocinética, farmacogenômica e do mecanismo de ação da droga, a única ferramenta clínica para tratar esse efeito adverso atualmente é o uso de antidiarréicos que inibem a motilidade intestinal. A melhor compreensão da fisiopatologia da MGI induzida pelo CPT11 pode contribuir para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas no futuro. 38 1.4 Justificativa A MGI induzida por quimioterapia e por radioterapia é um efeito adverso frequente que pode interferir na qualidade de vida e na eficácia do tratamento antineoplásico e, em casos severos, com potencial risco para a vida dos pacientes. As alterações iniciam-se logo nas primeiras horas após o estímulo (quimioterapia ou radioterapia) nas células da camada submucosa e, no caso do intestino delgado, também nas células tronco da base das criptas. A partir daí, uma sequência de eventos acontece, como a produção de espécies reativas de oxigênio, ativação de NF-κB e a produção de citocinas próinflamatórias (TNF, IL-1, IL-6). Somente num segundo momento ocorre apoptose e necrose de células epiteliais e das demais células das criptas, expondo a submucosa ao conteúdo do lúmen intestinal e aumentando o risco de sepse em pacientes neutropênicos (LOGAN et al., 2007; MELO et al., 2007; PARIS et al., 2001; PICO et al., 1998; SONIS et al., 2000, 2004a, 2004b) . O interesse especial nos aspectos iniciais da MGI implica numa eventual possibilidade de modulação farmacológica do processo. Como hoje ainda não se dispõe de meios efetivos para amenizar os efeitos da mucosite na maioria dos casos (RUBENSTEIN et al., 2002), os pacientes ainda sofrem com sintomas desconfortáveis, com o maior risco de sepse e com a possível redução da eficácia do tratamento oncológico devido a atrasos e reduções de doses (PICO et al., 1998; GIBSON et al., 2002; BLIJLEVENS et al., 2007; KEEFE et al., 2007). O envolvimento da IL-18 já foi descrito em inúmeras doenças, como artrite reumatóide, psoríase, artirite juvenil idiopática, diabete melito insulinodependente, esclerose múltipla e doença inflamatória intestinal (CORBAZ et al., 2002; ANDERSON et al., 2006). Ela é uma citocina pleiotrópica reconhecida como um importante regulador do sistema imune, um dos mediadores inflamatórios cruciais em diversos processos patológicos, juntamente com IL-1β e TNF-α e, até o presente momento, não há estudos descritos na literatura sobre o envolvimento de IL-18 na patogênese da MGI. 39 1.5 Objetivos O objetivo principal desse estudo é investigar o envolvimento de IL-18 na patogênese da MGI induzida pelo fármaco antitumoral CPT-11. Para isso, os seguintes objetivos específicos foram traçados: - Adaptar o modelo de MGI induzida por CPT-11 para camundongos Balb/C, reproduzindo as alterações morfo-funcionais e histológicas clássicas. - Realizar a modulação farmacológica de IL-18 utilizando camundongos IL18KO (disponíveis na espécie Balb/C) e a proteína ligante de IL-18 (IL-18Bp). - Avaliar a contratilidade intestinal de camundongos com MGI induzida por CPT-11. 40 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Animais de experimentação Camundongos Balb/C machos, com peso entre 25 a 30g foram utilizados nos experimentos. Os animais foram provenientes do Biotério Setorial do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Biotério Setorial do Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Dois dias antes dos experimentos eles foram acomodados em gaiolas e permanecem nas mesmas condições nos dias da pesquisa. Todos foram mantidos em ciclos de alternância claro/escuro de 12 horas, em gaiolas ventiladas, com livre acesso a água e à ração balanceada utilizada rotineiramente no biotério. Os experimentos realizados seguiram o Manual Sobre Cuidados e Usos de Animais de Laboratório, estipulados pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA), que segue as normas da National Research Concil (U.S.A., 1996). O projeto foi previamente aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa Animal (CEPA) da UFC (protocolo 02/04 – ANEXO 1). 2.2 Drogas, soluções, corantes e anticorpos - Cloridrato de Irinotecano – CPT11 (Camptosar: ampolas 5mL – 100mg/mL, Pharmacia & Upjohn Co, Kalamazoo, EUA) - Solução salina: cloreto de NaCl a 0,9% (15M): frasco de 500mL (Tayuyna) - Dimetil sulfóxido (DMSO: Sigma Chemical Co., St. Louis, MO) - Álcool etílico 70% (Reagen) - Formaldeído 40% (Reagen) 41 - Hematoxilina (Reagen) - Eosina (Merck) - Hematoxilina de Mayer (Reagen) - Vectastatin – kit ABC (Vector) - Anticorpo IgG monoclonal de coelho anti-TNF-α (Santa Cruz Biotechnology, CA, U.S.A.) - Anticorpo IgG monoclonal de coelho anti-IL-1β (Santa Cruz Biotechnology, CA, U.S.A.) - Anticorpo IgG policlonal de carneiro anti-KC (Santa Cruz Biotechnology, CA, U.S.A.) - Anticorpo primário policlonal de carneiro anti-TNF-α (Santa Cruz Biotechnology, CA, U.S.A.) - Anticorpo primário policlonal de coelho anti-IL-1β (Santa Cruz Biotechnology, CA, U.S.A.) - Anticorpo secundário biotinilado anti-IgG de carneiro (Santa Cruz Biotechnology, CA, U.S.A.) - Anticorpo secundário biotinilado anti-IgG de coelho (Santa Cruz Biotechnology, CA, U.S.A.) - Tampão fosfato de potássio: solução A – 988mL + solução B – 12mL Solução A: KH2PO4 (Synth)................................................................ 6,8g Água destilada ........................................................q.s.p. 1L Solução B: KH2PO4 (Synth)................................................................ 8,7g Água destilada ........................................................q.s.p. 1L - Tampão de brometo de hexadeciltrimetilamônio (HTAB) HTAB (Sigma).................................................................. 5g Tampão fosfato de potássio............................................. 1L - Peróxido de hidrogênio (0,1%) Peróxido de hidrogênio 30% (Vetec)................................ 1mL 42 Água destilada.........................................................q.s.p. 30mL - Solução de o-dianisidina O-dianisidina (Sigma)....................................................... 16,7mL Tampão fosfato de potássio............................................. 10mL H2O2................................................................................. 50µL Água destilada................................................................. 90mL - Líquido de Turk Ácido acético glacial P.A. (Merck).................................... 20mL Violeta de genciana......................................................... 2mL Água destilada................................................................. 1L 2.3 Indução da MGI O modelo de MGI experimental utilizado foi descrito por Ikuno et al. (1995) e adaptado no Laboratório de Farmacologia da Inflamação e do Câncer (LAFICA), Universidade Federal do Ceará (MELO et al., 2007). A dose de 75 mg/Kg/dia de CPT-11 via intraperitoneal (i.p.) por quatro dias seguidos havia sido previamente determinada como aquela capaz de induzir MGI com baixa letalidade em camundongos Swiss. No presente estudo foram testadas as doses de 45, 60 e 75mg/Kg em camundongos C57BL6 e de 60 e 75mg/kg em camundongos Balb/C. 2.4 Grupos experimentais Os animais foram divididos em grupos de, no mínimo seis animais, conforme discriminado a seguir. 2.4.1 Grupo normal 43 Os animais receberam a administração de solução salina (0,5 ml), i.p., por quatro dias seguidos e foram sacrificados no quinto ou no sétimo dia experimental. 2.4.2 Grupo controle Os animais IL-18Wt receberam a administração de CPT-11 60 ou 75 mg/kg/dia, i.p., por quatro dias seguidos e foram sacrificados no quinto ou no sétimo dia experimental. 2.4.3 Grupos teste Animais IL-18KO receberam a administração de CPT-11 60 ou 75 mg/kg/dia, i.p., por quatro dias seguidos. Os animais IL-18Wt receberam a administração de CPT-11 60 mg/kg/dia via i.p. por quatro dias seguidos e de IL18Bp (200µg/dia, i.p., por quatro dias, 1 hora antes do CPT-11). 2.5 Parâmetros avaliados 2.5.1 Diarréia A intensidade da diarréia foi monitorada duas vezes ao dia, durante todo o período experimental (cinco ou sete dias), de acordo com os seguintes escores descritos por Kurita et al. (2000): 0 – normal, ausência de diarréia; 1 – diarréia leve, fezes levemente umedecidas; 2 – diarréia moderada, fezes sem forma ou presença de quantidade moderada de sujidades na região perianal; e 3 – diarréia grave, fezes aquosas com grande quantidade de sujidades na região perianal. Episódios de diarréia até uma hora após a administração do CPT-11 foram considerados como diarréia precoce. Após 6-24 horas da administração, a diarréia foi considerada tardia (KASE et al., 1997; ARIMORI et al., 2001). 44 FIGURA 6 – Escores de diarréia. Intensidade da diarréia: Grau 0 – normal, ausência de diarréia; Grau 1 – diarréia leve, fezes levemente umedecidas; Grau 2 – diarréia moderada, fezes sem forma ou presença de quantidade moderada de sujidades na região perianal; e Grau 3 – diarréia grave, fezes aquosas com grande quantidade de sujidades na região perianal. 2.5.2 Leucograma Os animais foram anestesiados com éter e, em seguida, colhidas amostras de sangue periférico no seio retro-orbital por capilaridade, imediatamente antes do sacrifício. Amostras de 20µL de sangue diluído em 380µL de líquido de Turk foram utilizadas para contagem do número total de leucócitos em câmara de Neubauter, conforme metodologia descrita por Moura et al. (1998). Os valores foram expressos em número total de leucócitos x 103/mm3. 45 2.5.3 Sobrevida A mortalidade dos animais em cada grupo experimental foi registrada diariamente. 2.5.4 Análise histopatológica e morfométrica Após o sacrifício dos animais, foram removidos segmentos do duodeno, jejuno e íleo. Considerou-se como duodeno a porção proximal a 3 cm do ligamento de Treitz; jejuno, a porção que compreende o ponto médio entre o ligamento do Treitz e a válvula íleo-cecal; e íleo, a porção proximal a 6 cm da válvula íleo-cecal (CARNEIRO-FILHO et al., 2004). A seguir, as amostras foram fixadas em formalina tamponada 10% e processados para coloração pelo método hematoxilina-eosina (H&E). A caracterização histopatológica foi realizada através de um microscópio Nikon com um aumento de 100 a 400x. Neste estudo foram analisados o aspecto dos vilos e criptas, bem como presença e intensidade do infiltrado inflamatório. O grau de severidade da mucosite foi graduado de acordo com os seguintes escores descritos por Woo et al. (2000): 0 – ausência de lesão; 1 – menos de 10% das criptas contêm células necróticas; 2 - mais de 10% das criptas contêm células necróticas, mas a arquitetura permanece intacta; 3 – mais de 10% das criptas contêm células necróticas com perda da arquitetura das criptas (< 20%), os vilos encontram-se encurtados e ocorre variável hipertrofia e hiperbasofilia nas criptas remanescentes; 4 – semelhante a 3, entretanto, é mais extensa a perda da arquitetura das criptas e o encurtamento dos vilos. Na análise morfométrica, utilizou-se microscópio Nikon com objetivas 10x e lente ocular micrométrica Leitz Wetzlar 10x. As variáveis morfométricas avaliadas incluíram altura dos vilos, considerada desde o topo até a base, correspondente à junção cripta/vilo, e a profundidade das criptas, definida como a invaginação entre os vilos adjacentes (CARNEIRO-FILHO et al., 2004). 46 Estas medidas realizaram-se com auxílio do programa de computador NIH imageJ (U.S.A., 2005), considerando-se a média aritmética destas medidas obtidas entre cinco a dez locais diferentes. Os valores foram expressos como média ± erro padrão da média (EPM) em micrômetros (µm). 2.5.5 Dosagem de mieloperoxidase (MPO) No momento do sacrifício, uma porção do intestino foi processada para dosagem de MPO, segundo método adaptado pelo descrito por Bradley et al. (1982). As amostras obtidas foram pesadas e mantidas à temperatura de -70°C até realização do ensaio. Durante a determinação, as amostras foram trituradas por duas vezes em homogeneizador Politron Ultra-Turrax em solução tampão, sob condições adequadas de refrigeração. A seguir, estas foram centrifugadas (centrífuga Eppendorf 5804R) a temperatura de 4°C, durante dez minutos, com freqüência de 4.200rpm. O sobrenadante foi colhido e utilizado para determinação de MPO por ensaio imunoenzimático (ELISA) em placa com noventa e seis poços, em realizando-se duas leituras. Os valores encontrados foram expressos em unidade de MPO/mg de tecido. 2.5.6 Dosagem de citocinas (TNF-α e IL-1β) no íleo Após o sacrifício (5° e 7° dia experimental), foram removidos segmentos de íleo e estocados a -70°C. Posteriormente, foi procedida a homogeinização e coleta do sobrenadante para dosagem de TNF-α e IL-1β segundo o método de Safieh-Garabedian et al. (1995). A detecção das concentrações destas citocinas foi realizada por ELISA (CUNHA et al., 1993), de acordo as etapas a seguir: (1) incubação com 2µg/mL de anticorpo anti-TNFα e anti-IL-1β diluídos em tampão de bicarbonato (pH 8.2) - 100µL/poço (placa de 96 poços) por 16-24h a 4°C; (2) lavagem da placa (3x) com PBS-tween 20, 0,1% v/v; (3) bloqueio com albumina bovina 1% diluída em 47 tampão de lavagem, 100µL/poço por duas horas à temperatura ambiente; (4) lavagem da placa (3x); (5) incubação com curva padrão de TNF-α, IL-1β e KC diluída em tampão de lavagem e das amostras a serem dosadas (100µL/poço por 16-24h a 4°C); (6) lavagem da placa (3x); (7) incubação com anticorpo biotinilado diluído 1:1000 em tampão de lavagem contendo 1% de soro normal de carneiro por uma hora à temperatura ambiente; (8) lavagem da placa (3x); (9) incubação com avidinaperoxidase (DAKO) diluída 1:5000 em tampão de lavagem, 100µL/poço por 15 minutos à temperatura ambiente; (10) lavagem da placa (3x); (11) incubação com o-fenilenediamina diidocloreto (OPD) em tampão substrato, 100µL/poço, cobriu-se a placa e deixou-se no escuro 5-20 minutos à temperatura ambiente; (12) a reação foi paralisada com 150µL/poço de H2SO4 1M; (13) leitura em espectofotômetro a 490nm. Os resultados foram expressos em pg/mL como a curva padrão. 2.5.7 Avaliação da expressão de citocinas (TNF-α e IL-1β) por imunoistoquímica A imunohistoquímica para TNF-α e IL-1β foi realizada utilizando-se o método de estreptavidina-biotina-peroxidase (HSU et al., 1981). No quinto dia, os animais foram sacrificados e tiveram o duodeno removido e fixado em formol 10% por 24 horas para confecção de lâminas para imunohistoquímica. Os cortes foram desparafinados, hidratados em xilol e álcool e imersos em tampão citrato 0,1M (pH 6,0), sob aquecimento em forno de microondas por 15 minutos para a recuperação antigênica. Após o resfriamento, obtido em temperatura ambiente durante 20 minutos, foram feitas lavagens com solução tamponada de fosfato (PBS), intercaladas com bloqueio da peroxidase endógena com solução de H2O2 a 3% (15 minutos). Os cortes foram então incubados overnight (4°C) com os anticorpos primários anti-TNF-α e anti-IL-1β, diluídos em PBS com albumina sérica bovina 5% (PBS-BSA) na concentração 1:200 e 1:400, respectivamente. Após lavagem no dia seguinte, foi feita a incubação com anticorpo secundário biotinilado anti-IgG, diluídos 1:200 ou 1:400 em PSA-BSA, por 30 minutos. Depois de lavados, os cortes foram 48 incubados com o complexo estrepto-avidina peroxidase conjugada (complexo ABC Vectastatin) por 30 minutos. Após nova lavagem com PBS, seguiu-se coloração com o cromógeno 3,3 diaminobenzidine-peróxido (DAB), seguida por contracoloração por hematoxilina de Mayer. Por fim, realizou-se a desidratação das amostras e montagem das lâminas. Controles negativos foram processados simultaneamente como descrito acima, sendo que o anticorpo primário foi substituído por PBS-BSA 5%. O grau de expressão foi avaliado utilizando-se os seguintes escores descritos por Yeoh et al.(2005): 0 – sem marcação; 1 – leve marcação; 2 – moderada marcação; 3 – moderada a intensa marcação e 4 – intensa marcação. 2.5.8 Contratilidade in vitro de duodeno. Após o sacrifício dos animais, a cavidade peritoneal dos animais foi exposta e segmentos de duodeno foram retirados, cortados no sentido da musculatura circular e colocados em uma placa de Petri contendo solução nutriente Tyrode modificada (contendo a seguinte composição expressa em mM: NaCl 136; KCl 5; MgCl2 0,98; CaCl2 2,0; NaH2PO4 0,36; NaHCO3 11,9; Glicose 5,5) para limpeza e retirada de tecidos adjacentes. Em seguida, os segmentos de duodeno foram amarrados com linha, suspensos em banho de órgão (20mL de solução Tyrode, aquecida a 37oC, pH=7,4 e aerada continuamente com mistura carbogênica 95% O2/5% CO2) e conectados a um transdutor de força (ADInstruments, modelo MLT0201, EUA) apropriado para registro isométrico de contrações e conectado a um Amplificador (ADInstruments, ML845 Powerlab 4/25, EUA). Os sinais gerados pelo transdutor foram registrados em um Sistema de Aquisição de Dados (Chart Pro, EUA). Após calibração do sistema, foi aplicado ao tecido 1g de tensão de repouso e o tempo de equilíbrio com as condições artificiais do banho foi de 40 minutos. Duas contrações padrão foram inicialmente obtidas com KCl 60mM e em seguida foi feita uma curva concentração-efeito com o agonista colinérgico acetilcolina (ACh em concentrações crescentes e cumulativas variando de 10-10-4M adicionadas ao banho pelo período máximo de 5min para cada 10 49 concentração). Entre as aplicações de KCl e entre a de KCl e a primeira de ACh foi realizada a troca de solução (lavagem do preparo), permitindo a estabilização do padrão contrátil basal antes da adição de novo agente ao banho (Figura 4). Os dados obtidos da curva de ACh foram analisados como percentual de resposta contrátil em relação à média das contrações padrão observadas inicialmente para o KCl 60mM. 2.6 Análise estatística A análise estatística foi realizada com auxílio do software GraphPad Prism, versão 4.01 (2004). Nos escores de avaliação da diarréia e análise do grau de mucosite, os dados obtidos foram expressos como mediana (md) acompanha pelos respectivos valores extremos do rol de dados e comparados através do teste de Kruskal-Wallis com comparação de Dunn. As taxas de sobrevida foram calculadas pelo teste de Kaplan-Meier e os dados analisados pelo teste de Logrank. Nos demais parâmetros, os resultados foram expressos como média acompanhada pelo erro padrão da média (média ± EPM) e para comparação utilizou-se a análise de variância (ANOVA) e teste de Bonferroni. Em todos os parâmetros, considerou-se estatisticamente significante p < 0,05. 50 3 RESULTADOS A indução de mucosite gastrointestinal baseou-se no modelo descrito por Ikuno et al. (1995) e adaptado no Laboratório de Farmacologia da Inflamacão e do Câncer (LAFICA) por Melo et al. (2007). No presente estudo, foram testadas duas doses de CPT-11 (60 e 75 mg/kg i.p. durante quatro dias consecutivos) em camundongos Balb/C. 3.1. Avaliação de parâmteros relacionados à mucosite gastrointestinal após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C 3.1.1 Avaliação do leucograma de camundongos Balb/C após a administração de CPT-11 Os animais tratados com CPT-11 (60mg/kg, i.p., por quatro dias consecutivos) apresentaram leucopenia em relação aos animais injetados com salina, de forma estatisticamente significativa (p<0,001), no quinto e no sétimo dias experimentais (Figura 7). 3.1.2 Avaliação da sobrevida de camundongos Balb/C após a administração de CPT-11 A injeção de CPT-11 nas doses de 60mg/kg e 75 mg/kg por quatro dias consecutivos promoveu aumento na mortalidade dos animais em relação ao grupo controle injetado com salina, de forma estatisticamente significativa (p<0,001) (Figura 8). 56% dos camundongos injetados com a maior dose de CPT-11 morreram no quinto dia experimental e 40% dos que foram injetados com a menor dose morreram no sexto dia experimental. 51 3.1.3 Avaliação dos escores de diarréia após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C A Tabela 1 mostra que o CPT-11 administrado por quatro dias consecutivos induziu diarréia tardia quando comparado aos animais que receberam solução salina. No quinto dia experimental, ambas as doses estiveram associadas a diarréia tardia estatisticamente significante em relação ao grupo controle (p<0,05). Na dose de 60mg/kg, essa diferença também foi observada no sexto dia e, no sétimo dia, apesar de alguns animais já mostrarem sinais de recuperação, outros permaneciam com diarréia severa (graus 2 e 3). Na dose mais alta, a alta mortalidade após o quinto dia nos camundongos Balb/C interferiu na avaliação da severidade da diarréia no sexto e sétimo dias devido ao número de animais reduzido (apenas cerca de 10 a 15% dos animais permanecia vivo no sétimo dia, em geral com diarréia severa). 3.1.4 Alterações nas estruturas histológicas do intestino após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C A Figura 9 mostra as alterações histológicas observadas após a administração de CPT-11 nas doses de 60 e 75 mg/kg por quatro dias consecutivos em camundongos Balb/C. Nos animais injetados com salina, observam-se as estruturas histológicas do íleo em seus aspectos habituais, com a arquitetura preservada. As vilosidades estão íntegras, assim como o epitélio cilíndrico que as recobre. As criptas intestinais estão intactas, com células de Paneth preservadas e facilmente identificáveis. Entretanto, nos animais injetados com CPT-11, o íleo apresenta aspecto distinto. As vilosidades apresentam-se encurtadas e os enterócitos apresentam-se achatados e com vacuolização. Na região das criptas, há células apoptóticas e áreas com extensa necrose. Percebe-se ainda a presença de infiltrado de células inflamatórias. 52 3.1.5 Alterações nos parâmetros morfométricos do íleo após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C Na Figura 10 evidenciam-se as alterações morfométricas no íleo de camundongos Balb/C tratados com CPT-11 (60 e 75mg/kg por quatro dias consecutivos). Em relação aos animais injetados com salina, o comprimento dos vilos apresenta-se reduzido nos animais que receberam CPT-11, nas duas doses testadas, de forma estatisticamente significativa (p<0,001). Da mesma maneira, a profundidade das criptas mostra-se diminuída nos animais tratados com ambas as doses de CPT-11 (p<0,001). 3.1.6 Avaliação da atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/C após a administração de CPT-11 Após a administração de CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos), a atividade de mieloperoxidase no íleo dos animais apresenta aumento progressivo do quinto ao sétimo dia experimental. O aumento da atividade de MPO no sétimo dia apresenta diferença estatisticamente significativa (p<0,001) em relação ao grupo injetado com salina (Figura 11). 3.1.7 Quantificação dos níveis de citocinas (TNFα e IL-1β) no íleo de camundongos Balb/C após a administração de CPT-11 Na Figura 11, evidencia-se um aumento nos níveis de citocinas no quinto e no sétimo dias experimentais após a administração de CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos). No quinto dia a elevação de TNFα e IL-1β é mais marcante, estatisticamente diferente comparada aos animais que receberam salina (p<0,05) 3.1.8 Avaliação da expressão de citocinas (TNFα e IL-1β) no íleo de camundongos Balb/C após a administração de CPT-11 53 Os animais que receberam apenas salina não apresentaram imunomarcação anti-TNFα (Figura 13) e leve imunomarcação anti-IL-1β no epitélio dos vilos e nas criptas (Figura14). Os animais com MGI induzida pelo CPT-11 apresentaram imunomarcação mais acentuada para ambos os anticorpos no epitélio dos vilos, nas criptas e em células da submucosa do que os tratados com salina (Figuras 13 e 14). 3.1.9 Avaliação da resposta contrátil do duodeno ao estímulo com betanecol (BCh) em camundongos Balb/C após a administração de CPT-11 Na Figura 15 evidencia-se que doses crescentes de CPT-11 induzem, de forma dose-dependente, um aumento progressivo de resposta contrátil intestinal ao agente colinérgico betanecol. Esta resposta exuberante é estatisticamente diferente daquela observada em animais injetados apenas com salina (p<0,05). 54 TABELA 1 – Efeito de diferentes doses de cloridrato de irinotecan (CPT-11) na indução de diarréia em camundongos Balb/C. CPT-11 (mg/Kg) Dia Salina 60 75 5o 0 (0-0) 2 (0-3)* 2 (0-3)* 6o 0 (0-0) 2 (0-3)* - 7o 0 (0-0) 1 (0-3) - Os animais receberam CPT-11 (60 ou 75mg/kg) ou salina por quatro dias consecutivos (i.p.). A diarréia foi avaliada de acordo com os seguintes escores descritos por Kurita et al. (2000): 0 – normal, ausência de diarréia; 1 – diarréia leve, fezes levemente umedecidas; 2 – diarréia moderada, fezes sem forma ou presença de quantidade moderada de sujidades na região perianal; e 3 – diarréia grave, fezes aquosas com grande quantidade de sujidades na região perianal. Os valores representam a mediana e a variação e foram analisados pelo teste de Kruskal-Wallis com comparação de Dunn. * Diferença estatística comparado aos animais tratados com salina (p<0,05). O número mínimo de animais utilizados em cada grupo foi oito. 55 Leucócitos x mm 3 10000 7500 5000 * 2500 0 * Salina D5 D7 CPT-11 IL-18Wt FIGURA 7 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) no leucograma de camundongos Balb/c IL-18Wt. Os animais receberam CPT-11 (60 mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.) e foram sacrificados no quinto ou no sétimo dia experimental. O sangue foi coletado por punção na artéria ocular imediatamente antes do sacrifício e a contagem totel de leucócitos foi realizada em câmara de Neubauer, conforme descrito por Moura et al. (1998). Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística, comparação com animais tratados com salina (p<0,001). Número de animais por grupo igual ou superior a seis. 56 Sobrevida (%) 100 50 * * 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Tempo (dias) Salina (n=5) CPT-11 60mg/kg (n=5) CPT-11 75mg/kg (n=5) FIGURA 8 - Efeito da administração de diferentes doses de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a curva de sobrevida de camundongos Balb/C IL18Wt. Os animais receberam CPT-11 (60 ou 75mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.). A sobrevida foi calculada pelo método de Kaplan-Meier e a diferença entre os grupos pelo teste de Logrank. * Diferença estatística comparado aos animais que receberam salina (p<0,05). O número de animais por grupo foi cinco. 57 FIGURA 9 - Fotomicrografias de camundongos Balb/C IL-18Wt e IL-18KO injetados com salina 0,9% ou CPT-11. Os animais receberam CPT-11 60mg/kg i.p. ou salina 0,9% por quatro dias consecutivos e foram sacrificados no quinto dia experimental. O íleo foi removido e processado para a técnica de coloração pelo método H&E (A e B – 100x; C, D, E e F – 400x). A mucosa dos animais que receberam salina está íntegra, com vilos (A e C) e criptas preservados (D). Na mucosa dos animais que receberam CPT-11 os vilos estão encurtados (B, D e F, setas horizontais), há achatamento e vacuolização de enterócitos (D e F, setas horizontais), necrose de criptas (F, seta vertical) e infiltrado de células inflamatórias (cabeças de seta). Comprimento dos vilos (µm) 58 150 * 100 * 50 0 Salina 60 75 CPT-11 (mg/kg) x 4 dias IL-18Wt Comprimento das criptas (µm) 150 * 100 * 50 0 Salina 60 75 CPT-11 (mg/kg) x 4 dias IL-18Wt FIGURA 10 - Efeito da administração de diferentes doses de cloridrato de irinotecano (CPT-11) na morfometria intestinal em camundongos Balb/C IL18Wt. Os animais receberam CPT-11 (60 ou 75mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.) e foram sacrificados no quinto dia experimental. Segmentos do íleo foram removidos, processados e corados pela técnica H&E. Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística, comparação com animais tratados com salina (p<0,001). Número de animais por grupo igual ou superior a seis. 59 Atividade de MPO neutrófilos/mg tecido 4000 * 3000 2000 1000 0 Salina D5 D7 CPT-11 IL-18Wt FIGURA 11 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt. Os animais receberam CPT-11 (60mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.) e foram sacrificados no quinto ou no sétimo dia experimental. Segmentos do íleo foram removidos e congelados em freezer -70°C. O ensaio foi realizado através de método adaptado de Bradley et al. (1982).Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística, comparação com animais tratados com salina (p<0,001). Número de animais por grupo igual ou superior a seis. TNF-α (pg/mg proteína) 60 * 0.2 0.1 0.0 Salina D5 D7 CPT-11 IL-1β (pg/mg proteína) IL-18Wt 0.75 * 0.50 0.25 0.00 Salina D5 D7 CPT-11 IL-18Wt FIGURA 12 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre os níveis de citocinas (TNF-α e IL-1β) no íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt. Os animais receberam CPT-11 (60mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.) e foram sacrificados no quinto ou no sétimo dia experimental. Segmentos do íleo foram removidos e congelados em freezer -70°C. O ensaio foi realizado por ELISA através de método descrito por Cunha et al. (1993).Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística, comparação com animais tratados com salina (p<0,05). Número de animais por grupo igual ou superior a quatro. 61 FIGURA 13 - Fotomicrografias de imunomarcação com anticorpos anti-TNFα no íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt e IL-18KO injetados com salina 0,9% ou CPT-11. Os animais receberam CPT-11 (60mg/kg, i.p.) ou salina 0,9% por quatro dias consecutivos e foram sacrificados no quinto dia experimental. O íleo foi removido e processado para a técnica de imunoistoquímica para detecção de TNFα (aumento de 400x). Controle negativo, íleo de animal tratado com CPT-11 na ausência de anticorpo primário anti-TNFα (A e D). Ausência de imunomarcação anti-TNFα (B e E) em animais injetados com salina. Íleo de animal IL-18Wt tratado com CPT-11 mostrando intensa imunomarcação com anti-TNFα (C) em contraste com imunomarcação leve em íleo de animal IL-18KO que recebeu a mesma dose de CPT-11 (F). 62 FIGURA 14 - Fotomicrografias de imunomarcação com anticorpos anti-IL-1β no íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt e IL-18KO injetados com salina 0,9% ou CPT-11. Os animais receberam CPT-11 (60mg/kg, i.p.) ou salina 0,9% por quatro dias consecutivos e foram sacrificados no quinto dia experimental. O íleo foi removido e processado para a técnica de imunoistoquímica para detecção de IL-1β (aumento de 400x). Controle negativo, íleo de animal tratado com CPT-11 na ausência de anticorpo primário anti-IL-1β (A e D). Imunomarcação anti-IL1β moderada na linha epitelial (B e E) em animais injetados com salina. Moderada imunomarcação anti-IL-1β na linha epitelial e na lâmina própria em animal IL-18Wt injetado com CPT-11 (C) e apenas na linha epitelial em animal IL-18KO (F) que recebeu o mesmo tratamento. 63 FIGURA 15 – Efeito da administração de diferentes doses de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a resposta contrátil do duodeno ao estímulo com betanecol (BCh) em camundongos Balb/C. Os animais receberam CPT-11 (45, 60 ou 75mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.) e foram sacrificados no quinto dia experimental. As amostras de duodeno foram coletadas e colocadas em solução de Tyrod modificada para realização de ensaio de contratilidade in vitro. Os dados obtidos da curva de BCh foram analisados como percentual de resposta contrátil em relação à média das contrações padrão observadas inicialmente para o KCl 60mM. * Diferença estatística em relação ao grupo que recebeu salina (p<0,05). 64 3.2. Avaliação de parâmetros relacionados à mucosite gastrointestinal após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C geneticamente depletados de IL-18 (IL-18KO) 3.2.1 Avaliação do leucograma de camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11 Os animais IL-18KO tratados com CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) apresentaram leucopenia em relação aos animais injetados com salina, de forma estatisticamente significativa, no quinto e no sétimo dias experimentais (p<0,05) (Figura 16). 3.2.2 Avaliação da sobrevida de camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11 Os animais IL-18KO tratados com CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) apresentaram menor mortalidade em relação aos animais com genótipo selvagem para o gene da IL-18 (IL-18Wt). A diferença entre as curvas de mortalidade é estatisticamente significativa (p<0,001). No sexto dia experimental, os animais IL-18KO apresentaram mortalidade 40% menor que o grupo controle (Figura 17). 3.2.3 Avaliação dos escores de diarréia após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C IL-18KO A Tabela 2 mostra que, no quinto e no sexto dias experimentais, a administração de CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) em animais IL-18Wt promoveu diarréia tardia com diferença estatisticamente significante em relação ao grupo controle (p<0,05). Já nos animais IL-18KO, no quinto dia, apenas 25% apresentaram escores 2 ou 3, contra 58% nos animais IL-18Wt. Não houve diferença estatística na mediana dos escores de diarréia nos animais IL-18KO em relação aos animais injetados com salina. 65 3.2.4 Alterações nas estruturas histológicas do intestino após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C IL-18KO A Figura 18 mostra as alterações histológicas observadas após a administração de CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) em camundongos Balb/C IL-18Wt e IL-18KO. Nos animais injetados com salina, observam-se as estruturas histológicas do íleo em seus aspectos habituais, com a arquitetura preservada. As vilosidades estão íntegras, assim como o epitélio cilíndrico que as recobre. As criptas intestinais estão intactas, com células de Paneth preservadas e facilmente identificáveis. Entretanto, nos animais IL-18Wt injetados com CPT-11, o íleo apresenta aspecto distinto. As vilosidades apresentam-se encurtadas e, na linha epitelial, percebem-se muitos enterócitos com vacuolização. Na região das criptas, áreas com evidente necrose estão presentes. Nos animais IL-18KO, as estruturas intestinais estão parcialmente preservadas. Percebem-se vilos com altura normal, mas com epitélio apresentando algumas células contendo vacúolos. A maioria das criptas tem aspecto normal. 3.2.5 Alterações nos parâmetros morfométricos do íleo após a administração de CPT-11 em camundongos Balb/C IL-18KO Na Figura 19 evidenciam-se as alterações morfométricas no íleo de camundongos Balb/CIL-18Wt e IL-18KO tratados com CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) ou com salina. Em relação aos animais injetados com salina, o comprimento dos vilos apresenta-se reduzido nos animais que receberam CPT-11 de forma estatisticamente significativa (p<0,001). Já profundidade das criptas não mostra-se alterada nos animais IL18Wt tratados CPT-11 em relação ao grupo tratado com salina. 66 Nos animais IL-18KO, não houve diferença estatística na altura dos vilos nem na profundidade das criptas em relação ao grupo tratado com salina. 3.2.6 Avaliação da atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11 Após a administração de CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos), a atividade de mieloperoxidase no íleo dos animais IL-18KO não apresenta alteração significativa em relação ao grupo injetado com salina (Figura 20). 3.2.7 Quantificação dos níveis de citocinas (TNFα e IL-1β) no íleo de camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11 Na Figura 21, após a administração de CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) em camundongos IL-18Wt, evidencia-se um aumento nos níveis de TNF e IL-1 no quinto dia experimental. A dosagem dessas citocinas nos animais IL-18KO mostra-se menor que nos animais IL-18Wt, sem significância estatística em relação ao grupo que recebeu apenas salina. 3.2.8 Avaliação da expressão de citocinas (TNFα e IL-1β) no íleo de camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11 Os animais que receberam apenas salina não apresentaram imunomarcação anti-TNFα, mas apresentaram leve imunomarcação anti-IL-1β no epitélio dos vilos e nas criptas. Os animais IL-18Wt com MGI induzida pelo CPT-11 apresentaram imunomarcação mais acentuada de ambas as citocinas no epitélio dos vilos, nas criptas e em células da submucosa (Figura 13). Já os animais IL-18KO apresentaram imunomarcação menos intensa de TNFα em todos esses locais. Tanto os animais IL-18Wt quanto os IL-18KO tratados com CPT-11 apresentaram moderada imunomarcação anti-IL1β na linha epitelial, entretanto, apenas os primeiros apresentaram imunomarcação na lâmina própria (Figura 14). 67 3.2.9 Avaliação da resposta contrátil do duodeno ao estímulo com acetilcolina (ACh) em camundongos Balb/C IL-18KO após a administração de CPT-11 Na Figura 22 evidencia-se que o CPT-11 induz um aumento progressivo de resposta contrátil intestinal ao agente colinérgico ACh. Esta resposta exuberante é estatisticamente diferente daquela observada em animais injetados apenas com salina (p<0,05). No entanto, em animais IL-18KO que receberam CPT-11, a resposta contrátil intestinal à ACh é semelhante àquela observada nos animais tratados apenas com salina. TABELA 2 – Avaliação da intensidade da diarréia em camundongos geneticamente depletados de IL-18 (IL-18KO) tratados com cloridrato de irinotecano (CPT-11). CPT-11 (60mg/Kg) Dia Salina IL-18Wt IL-18KO 5o 0 (0-0) 2 (0-3)* 0 (0-2) 6o 0 (0-0) 2 (0-3)* 0 (0-3) 7o 0 (0-0) 1 (0-3) 0 (0-1) Animais IL-18Wt ou IL-18KO receberam CPT-11 (60mg/kg) ou salina por quatro dias consecutivos (i.p.). A diarréia foi avaliada de acordo com os seguintes escores descritos por Kurita et al. (2000): 0 – normal, ausência de diarréia; 1 – diarréia leve, fezes levemente umedecidas; 2 – diarréia moderada, fezes sem forma ou presença de quantidade moderada de sujidades na região perianal; e 3 – diarréia grave, fezes aquosas com grande quantidade de sujidades na região perianal. Os valores representam a mediana e a variação e foram analisados pelo teste de Kruskal-Wallis com comparação de Dunn. * Diferença estatística comparado aos animais tratados com salina (p<0,05). O número mínimo de animais utilizados em cada grupo foi oito. 68 Leucócitos x mm 3 10000 7500 * 5000 * 2500 0 Salina D5 D7 CPT-11 IL-18KO FIGURA 16 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) no leucograma de camundongos Balb/C IL-18KO. Os animais receberam CPT-11 (60 mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (ip) e foram sacrificados no quinto ou no sétimo dia experimental. O sangue foi coletado por punção na artéria ocular imediatamente antes do sacrifício e a contagem totel de leucócitos foi realizada em câmara de Neubauer, conforme descrito por Moura et al. (1998). Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística em comparação com animais tratados com salina (* p<0,05). Número de animais por grupo igual ou superior a seis. 69 Sobrevida (%) 100 80 60 40 20 * 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Tempo (dias) IL-18Wt IL-18KO FIGURA 17 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a curva de sobrevida de camundongos Balb/C IL-18KO. Os animais receberam CPT-11 (60 mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.). A sobrevida foi calculada pelo método de Kaplan-Meier e a diferença entre os grupos pelo teste de Logrank. * Diferença estatística comparado aos animais IL-18Wt. O número de animais por grupo foi cinco. 70 FIGURA 18 - Fotomicrografias de camundongos Balb/C IL-18Wt e IL-18KO injetados com salina 0,9% ou CPT-11. Os animais receberam CPT-11 (60mg/kg, i.p.) por quatro dias consecutivos e foram sacrificados no quinto dia experimental. O íleo foi removido e processado para a técnica de coloração pelo método H&E (A e D – 100x; B, C, E, F – 400x). Na mucosa dos animais que receberam CPT-11 os vilos estão encurtados (A, B, C setas horizontais), há achatamento e vacuolização de enterócitos (C, seta horizontal), necrose de criptas (C, seta vertical) e infiltrado de células inflamatórias (C, cabeças de seta). Nos animais IL-18KO que receberam CPT-11, a mucosa apresenta menor encurtamento de vilos (D e E), criptas preservadas (F) e menos infiltrado de células inflamatórias na lâmina própria. Comprimento dos vilos (µm) 71 150 100 * 50 0 Salina IL18Wt IL18KO CPT-11 60mg/kg x 4 dias Comprimento das criptas (µm) 100 75 50 25 0 Salina IL18Wt IL18KO CPT-11 60mg/kg x 4 dias FIGURA 19 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) na morfometria intestinal em camundongos Balb/C IL-18Wt e IL-18KO. Os animais receberam CPT-11 (60 mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.) e foram sacrificados no quinto dia experimental. Segmentos do íleo foram removidos, processados e corados pela técnica H&E. Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística, comparação com animais tratados com salina (p<0,001). Número de animais por grupo igual ou superior a seis. 72 Atividade de MPO neutrófilos/mg tecido 10000 * 7500 5000 2500 0 Salina IL-18Wt D5 D7 IL-18KO CPT-11 FIGURA 20 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/C IL18KO. Os animais receberam CPT-11 (60mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.) e foram sacrificados no quinto ou no sétimo dia experimental. Segmentos do íleo foram removidos e congelados em freezer -70°C. O ensaio foi realizado através de método adaptado de Bradley et al. (1982).Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística, comparação com animais tratados com salina (p<0,001). Número de animais por grupo igual ou superior a seis. TNF-α (pg/mg proteína) 73 * 0.2 0.1 0.0 Salina IL-18Wt IL-18KO IL-1β (pg/mg proteína) CPT-11 0.75 * * 0.50 0.25 0.00 Salina IL-18Wt IL-18KO CPT-11 FIGURA 21 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre os níveis de citocinas (TNF-α e IL-1β) no íleo de camundongos Balb/c IL18KO. Os animais receberam CPT-11 (60mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.) e foram sacrificados no quinto dia experimental. Segmentos do íleo foram removidos e congelados em freezer -70°C. O ensaio foi realizado por ELISA através de método descrito por Cunha et al. (1993).Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística, comparação com animais tratados com salina (p<0,05). Número de animais por grupo igual ou superior a quatro. 74 FIGURA 22 – Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a resposta contrátil do duodeno ao estímulo com acetilcolina (ACh) em camundongos Balb/C IL-18KO. Os animais receberam CPT-11 (60 mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.). Os animais foram sacrificados no quinto dia experimental e as amostras de duodeno foram coletadas e colocadas em solução de Tyrod modificada para realização de ensaio de contratilidade in vitro. Os dados obtidos da curva de ACh foram analisados como percentual de resposta contrátil em relação à média das contrações padrão observadas inicialmente para o KCl 60mM. * Diferença estatística em relação ao grupo IL-18Wt que recebeu salina (p<0,05). O CPT-11 não promoveu alteração de contratilidade em animais IL-18KO em relação aos animais que receberam apenas salina. 75 3.3. Avaliação de parâmetros relacionados à mucosite gastrointestinal em camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração da proteína ligante de IL-18 (IL-18Bp) e CPT-11 3.3.1 Avaliação do leucograma de camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11 Os animais IL-18Wt injetados com CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) e tratados com IL-18Bp (200µg/dia por quatro dias consecutivos, 1 hora antes da administração do CPT-11) apresentaram leucopenia em relação aos animais injetados com salina, de forma estatisticamente significativa, no quinto e no sétimo dias experimentais (p<0,001) (Figura 23). 3.3.2 Avaliação da sobrevida de camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11 Na Figura 24 evidencia-se que os animais IL-18Wt injetados com CPT11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) e tratados com IL-18Bp (200µg/dia por quatro dias consecutivos, 1 hora antes da administração do CPT-11) não apresentaram diferença de mortalidade em relação aos animais IL-18Wt injetados apenas com CPT-11. 3.3.3 Avaliação dos escores de diarréia em camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11 Na Tabela 3 evidencia-se que os animais IL-18Wt injetados com CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) e tratados com IL-18Bp (200µg/dia por quatro dias consecutivos, 1 hora antes da administração do CPT-11) não 76 apresentam diferença na mediana dos escores de diarréia em relação aos animais IL-18Wt injetados com salina. 3.3.4 Alterações nas estruturas histológicas do íleo de camundongos Balb/C IL18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11 A Figura 25 mostra as alterações histológicas observadas após a administração de CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) em camundongos Balb/C IL-18Wt e IL-18KO. Nos animais injetados com salina, observam-se as estruturas histológicas do íleo em seus aspectos habituais, com a arquitetura preservada. As vilosidades estão íntegras, assim como o epitélio cilíndrico que as recobre. As criptas intestinais estão intactas, com células de Paneth preservadas e facilmente identificáveis. Entretanto, nos animais IL-18Wt injetados com CPT-11, o íleo apresenta aspecto distinto. As vilosidades apresentam-se encurtadas e, na linha epitelial, percebem-se muitos enterócitos com vacuolização. Nas criptas, áreas com evidente necrose estão presentes. Nos animais tratados com IL-18Bp, observa-se proteção parcial às estruturas histológicas da mucosa. Embora existam áreas de maior preservação das estruturas intestinais, em outras áreas há encurtamento de vilos e achatamento epitelial, assim como necrose em criptas. 3.3.5 Alterações nos parâmetros morfométricos do íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11 Na Figura 26 evidenciam-se as alterações morfométricas no íleo de camundongos Balb/CIL-18Wt injetados com CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) e tratados com IL-18Bp (200µg/dia por quatro dias consecutivos, 1 hora antes da administração do CPT-11). Em relação aos animais injetados com salina, o comprimento dos vilos apresenta-se reduzido tanto nos animais que receberam CPT-11 como nos que receberam CPT-11 e IL-18Bp, de forma estatisticamente significativa 77 (p<0,001). Já a profundidade das criptas não se mostra alterada em nenhum dos dois grupos quando comparada ao grupo que recebeu salina. 3.3.6 Avaliação da atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11 Em animais IL-18Wt injetados com CPT-11 (60mg/kg por quatro dias consecutivos) e tratados com IL-18Bp (200µg/dia por quatro dias consecutivos, 1 hora antes da administração do CPT-11), a atividade de mieloperoxidase no íleo não apresenta alteração significativa em relação ao grupo injetado com salina (Figura 27). 3.3.7 Avaliação da resposta contrátil do duodeno ao estímulo com acetilcolina (ACh) em camundongos Balb/C IL-18Wt após a administração de IL-18Bp e CPT-11 Na Figura 28 evidencia-se que o CPT-11 induz um aumento progressivo de resposta contrátil intestinal ao agente colinérgico ACh. Esta resposta exuberante é estatisticamente diferente daquela observada em animais injetados apenas com salina (p<0,05). No entanto, em animais que receberam CPT-11 e IL-18Bp, a resposta contrátil intestinal à ACh é inferior à observada nos animais tratados com CPT-11 e não difere estatisticamente da resposta obtida em animais animais tratados apenas com salina. 78 TABELA 3 – Efeito da administração da proteína ligante de IL-18 (IL-18Bp) na intensidade da diarréia induzida pelo cloridrato de irinotecano (CPT-11). CPT-11 (60mg/Kg) Dia Salina Salina IL-18Bp 5o 0 (0-0) 3 (1-3)* 0 (0-2) A mucosite gastrointestinal foi induzida através da administração de CPT-11 (60mg/kg, i.p.) por quatro dias consecutivos. Os animais receberam IL-18Bp (200µg/dia, i.p.) ou salina (i.p) por quatro dias consecutivos, 1 hora antes da administração de CPT-11. A diarréia foi avaliada de acordo com os seguintes escores descritos por Kurita et al. (2000): 0 – normal, ausência de diarréia; 1 – diarréia leve, fezes levemente umedecidas; 2 – diarréia moderada, fezes sem forma ou presença de quantidade moderada de sujidades na região perianal; e 3 – diarréia grave, fezes aquosas com grande quantidade de sujidades na região perianal. Os valores representam a mediana e a variação e foram analisados pelo teste de Kruskal-Wallis com comparação de Dunn. * Diferença estatística comparado aos animais tratados com salina (p<0,05). O número mínimo de animais utilizados em cada grupo foi oito. 79 Leucócitos x mm 3 10000 7500 5000 * 2500 0 * Salina IL18Bp CPT-11 IL-18Wt FIGURA 23 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) no leucograma de camundongos Balb/c IL-18Wt tratados com IL-18Bp. Os animais receberam CPT-11 (60 mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (ip) e foram sacrificados no quinto ou no sétimo dia experimental. Um grupo foi tratado com IL18Bp (200mg/dia, i.p., 1hora antes do CPT-11) por quatro dias. O sangue foi coletado por punção na artéria ocular imediatamente antes do sacrifício e a contagem totel de leucócitos foi realizada em câmara de Neubauer, conforme descrito por Moura et al. (1998). Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística, comparação com animais tratados com salina (* p<0,001). Número de animais por grupo igual ou superior a seis. 80 Sobrevida (%) 100 50 * * 0 0 4 8 Tempo (dias) Salina (n=6) CPT-11 (n=6) CPT-11 + IL-18BP (n=5) FIGURA 24 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a curva de sobrevida de camundongos Balb/C IL-18Wt tratados com IL18Bp. Os animais receberam CPT-11 (60 ou 75mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.). Um grupo recebeu IL-18Bp (200mg/dia, i.p., 1 hora antes do CPT-11) por quatro dias. A sobrevida foi calculada pelo método de Kaplan-Meier e a diferença entre os grupos pelo teste de Logrank. * Diferença estatística comparado aos animais que receberam salina (p<0,05). O número de animais por grupo foi cinco. 81 FIGURA 25 - Fotomicrografias de camundongos Balb/C IL-18Wt injetados com CPT-11 com ou sem pré-administração de IL-18Bp. Os animais receberam CPT-11 (60mg/kg, i.p.) por quatro dias consecutivos e foram sacrificados no quinto dia experimental. Um grupo recebeu também IL-18Bp (200µg/dia, i.p., quatro dias). O íleo foi removido e processado para a técnica de coloração pelo método H&E (A – 100x; B, C, D, E, F – 400x). Na mucosa dos animais que receberam CPT-11 os vilos estão encurtados (A, B, C, setas horizontais), há achatamento e vacuolização de enterócitos (C, seta horizontal), necrose de criptas (C, seta vertical) e infiltrado de células inflamatórias (C, cabeças de seta). Nos animais tratados com CPT-11 e IL-18Bp, houve preservação parcial da morfologia da mucosa (D, E, F). Comprimento dos vilos (µm) 82 200 0 * * 100 Salina IL-18Bp CPT-11 IL-18Wt Comprimento das criptas (µm) 150 100 50 0 Salina IL-18Bp CPT-11 IL-18Wt FIGURA 26 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) na morfometria intestinal em camundongos Balb/c IL-18Wt tratados com IL-18Bp. Os animais receberam CPT-11 (60 mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.) e foram sacrificados no quinto dia experimental. Um grupo recebeu tratamento com IL-18Bp (200µg/dia, i.p., 1hora antes do CPT-11) por quatro dias. Segmentos do íleo foram removidos, processados e corados pela técnica H&E. Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística, comparação com animais tratados com salina (p<0,05). Número de animais por grupo igual ou superior a quatro. 83 Atividade de MPO neutrófilos/mg tecido 10000 * 7500 5000 2500 0 Salina IL-18Bp CPT-11 IL-18Wt FIGURA 27 - Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a atividade de mieloperoxidase (MPO) no íleo de camundongos Balb/c IL18Wt tratados com IL-18Bp. Os animais receberam CPT-11 (60mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.) e foram sacrificados no quinto dia experimental. Um grupo recebeu tratamento com IL-18Bp (200µg/dia, i.p., 1hora antes do CPT-11) por quatro dias. Segmentos do íleo foram removidos e congelados em freezer -70°C. O ensaio foi realizado através de método adaptado de Bradley et al. (1982).Os valores representam a média ± EPM e foram analisados pelo teste de Bonferroni (ANOVA). * Diferença estatística, comparação com animais tratados com salina (p<0,05). Número de animais por grupo igual ou superior a seis. 84 FIGURA 28 – Efeito da administração de cloridrato de irinotecano (CPT-11) sobre a resposta contrátil do duodeno ao estímulo com acetilcolina (ACh) em camundongos Balb/C IL-18Wt tratados com IL-18Bp. Os animais receberam CPT-11 (60 mg/kg) ou solução salina 0,9% por quatro dias consecutivos (i.p.). Um grupo recebeu IL-18Bp (200µg/dia, i.p., 1 hora antes do CPT11) por quatro dias. Os animais foram sacrificados no quinto dia experimental e as amostras de duodeno foram coletadas e colocadas em solução de Tyrod modificada para realização de ensaio de contratilidade in vitro. Os dados obtidos da curva de ACh foram analisados como percentual de resposta contrátil em relação à média das contrações padrão observadas inicialmente para o KCl 60mM. a - diferença estatística em relação ao grupo que recebeu salina (p<0,05). b - diferença estatística em relação ao grupo que recebeu apenas CPT-11 (p<0,05). 85 4. DISCUSSÃO A mucosite gastrointestinal (MGI) é um efeito adverso frequente e potencialmente grave do tratamento antineoplásico. Sua incidência varia de 15 a 40% em esquemas de quimioterapia convencional e pode chegar a 100% em pacientes submetidos a transplante de medula óssea (PICO et al., 1998; RUBENSTEIN et al., 2004). A fisiopatologia da mucosite tem sido muito estudada nos últimos anos, especialmente a mucosite oral. Entretanto, o progresso no manejo clínico dos pacientes tem avançado mais lentamente e a compreensão dos eventos envolvidos na patogênese da MGI pode contribuir para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas. Recentemente, Sonis (2004a) propôs um modelo de fisiopatologia para a mucosite oral induzida por quimioterapia e radioterapia, dividindo-a em cinco fases: iniciação, resposta à lesão inicial, amplificação do sinal, ulceração e cicatrização. O autor propõe que a mucosite nas demais regiões do trato disgestório tenham fisiopatogenia semelhante, embora haja muitas diferenças nas mucosas oral e intestinal. Na segunda fase da mucosite, segundo o modelo de Sonis (2004a), a quebra do DNA decorrente da agressão promovida por quimioterapia ou radioterapia ativaria vias de transdução de sinal envolvendo p53 e o fator nuclear kappa-B (NF-κB). Esses fatores de transcrição, principalmente o NFκB, seriam responsáveis pela amplificação de sinal, ativação de diversas vias de sinalização intracelular incluindo vias de apoptose e produção de citocinas proinflamatórias como TNFα, IL-1β e IL-6. Algumas dessas proteínas, como o TNF, promoveriam retroalimentação positiva através de nova ativação de NFκB. Além disso, o TNF ativaria várias vias de sinalização culminando na ativação de caspase-3 e apoptose. Presente desde o início do processo, o TNF teria um papel importantíssimo na fase de amplificação do sinal. Não há dúvida de que a participação de citocinas e quimiocinas na MGI tem grande importância desde o início do processo. Logan et al. (2007) demonstraram a presença de citocinas pró-inflamatórias (TNFα, IL-1β e IL-6) 86 nas primeiras horas após a administração de CPT-11 em ratos. Além de demonstrar a presença de TNFα, IL-1β e da quimiocina Kc, Melo et al. demonstraram a atenuação das alterações de mucosa com a administração de pentoxifilina e talidomida, fármacos que interferem na produção de citocinas, dentre elas TNFα. A demonstração da importância do envolvimento de citocinas e a atenuação da MGI com o bloqueio na produção de algumas delas traz ao horizonte novas perspectivas de intervenção e modulação farmacológica desse processo. A IL-18 é uma citocina pleiotrópica, reconhecida como um importante regulador da resposta imune inata e adquirida que pode estimular tanto respostas Th1 como Th2 (GRACIE, 2004). Dentre outras coisas, ela estimula a maturação de células T e células NK, promovendo nestas aumento da expressão de FasL (Fas-ligand) e da citotoxicidade mediada pela ligação FasFasL. Esta citocina compartilha com a IL-1 e o TNF alguns dos mecanismos de sinalização (ex.: TLR-toll like receptor, Figura 2), iniciando a cascata de ativação do NF-κB (DELALEU et al., 2004, NOVICK et al., 1999) . Ela integra a família da IL-1, com quem tem semelhanças estruturais e compartillha a mesma via de ativação, através da caspase-1. A IL-18 está envolvida em inúmeros processos patolológicos e sua ativação pode anteceder e induzir a produção de TNF e talvez também de IL-1 (DELALEU et al., 2004). Com base nessas observações, a participação de IL-18 na patogênese da MGI torna-se bastante provável e até o momento, não há informações a esse respeito na literatura. O modelo de MGI induzida por CPT-11 utilizado por Melo et al. (2007) foi adaptado em camundongos Balb/C, uma vez que os animais IL-18KO que seriam utilizados pertecem a essa cepa. Melo et al. (2007) utilizaram a dose de 75mg/kg/dia de CPT-11, i.p., por quatro dias consecutivos. Com essa dose, os camundongos Balb/C apresentaram mortalidade de 60% no quinto dia. Uma dose menor, de 60mg/kg/dia, i.p., por quatro dias, foi testada e mostrou-se capaz de induzir MGI de forma satisfatória nessa espécie. Os camundongos que receberam CPT-11, como esperado, apresentaram leucopenia já evidenciada no quinto dia experimental e mantida no sétimo dia. Juntamente 87 com a diarréia, a mielotoxicidade é um efeito adverso limitante do CPT-11 (PIZZOLATO et al., 2003; ABIGERGES et al., 1995; SALIBA et al., 1998). A avaliação da diarréia foi realizada utilizando-se os escores descritos por Kurita et al. (2000). 58% dos camundongos que receberam CPT-11 (60mg/kg/dia, i.p., por quatro dias) apresentaram escore 2 ou 3 no quinto dia experimental e 60% no sexto dia, indicando a presença de diarréia acentuada A atividade de mieloperoxidase (MPO) mostrou-se aumentada nos animais com mucosite induzida por CPT-11 já no quinto dia experimental e, no sétimo dia, o aumento atingiu diferença estatística em relação ao grupo controle tratado com salina. A MPO é uma enzima presente nos grânulos dos neutrófilos e é utilizada como marcador indireto da presença dessas células (BRADLEY et al., 1982). O aspecto morfológico do intestino dos camundongos Balb/C tratados com CPT-11 mostrou-se bem diferente do de animais tratados com salina, havendo encurtamento de vilos e criptas, achatamento e vacuolização do epitélio cilíndrico intestinal, infiltrado de células inflamatórias na lâmina própria, apoptose de células das criptas e necrose de criptas inteiras. Além disso, esses animais também apresentaram elevação dos níveis tissulares de citocinas proinflamatórias (TNFα e IL-1β) no quinto dia experimental e a presença dessas citocinas pôde ser detectada no tecido por imunoistoquímica. O modelo experimental utilizado em camundongos Balb/C conseguiu reproduzir de maneira satisfatória as alterações morfométricas relacionadas à MGI descritas previamente na literatura (MELO et al. 2007; LOGAN et al. 2007). Entretanto, a administração seqüencial de CPT-11 em quatro dias prejudica a avaliação cronológica do processo. Como demonstrado por Logan et al. (2007), as alterações histológicas na mucosa sucedem em horas ou dias o surgimento de mediadores inflamatórios, mas precedem o aparecimento dos sintomas. Detectamos a presença de exuberantes alterações na mucosa intestinal coincidindo com o pico de citocinas (TNFα e IL-1β), mas não dosamos citocinas nos primeiros quatro dias experimentais, visto que os animais ainda estavam em tratamento. Logan et al. (2007) utilizaram um modelo em ratos, com aplicação de CPT-11 em dose única. 88 A investigação da participação de IL-18 na MGI induzida por CPT-11 envolveu a utilização de animais geneticamente depletados de IL-18 (IL-18KO). Esses animais apresentaram leucopenia após a administração de CPT-11 de forma semelhante aos animais selvagens para essa proteína. A ausência de IL-18 parece proteger parcialmente os animais da lesão induzida pelo CPT-11. Os animais apresentam menor mortalidade, menos diarréia e alterações histológicas menos exuberantes, muito embora não haja um bloqueio completo dos eventos inflamatórios envolvidos. A taxa de mortalidade dos animais IL-18KO foi 40% menor em relação aos animais IL-18Wt tratados com a mesma dose de CPT-11. O aspecto histológico comparativo entre intestinos de animais IL-18Wt e IL-18KO com MGI induzida por CPT-11 revela que os animais IL-18KO apresentam alterações com menor intensidade, como vilos mais preservados, menos necrose em criptas e infiltrado de células inflamatórias menos exuberante. Além disso, a atividade de MPO não chega a elevar-se de maneira significativa nesses animais. Os animais IL-18KO tratados com CPT-11 também apresentam níveis de TNFα, mas não de IL-1β, mais baixos em relação aos animais IL-18Wt. Considerando-se que IL-1β e IL-18 partilham a mesma via de ativação através da ação da caspase-1, a ausência de IL-18 não impede a formação de IL-1β, que pode funcionar como uma via alternativa de iniciação da cascata inflamatória (DELALEU et al., 2004). Isso também ajuda a explicar porque não há bloqueio dos eventos inflamatórios, mas atenuação dos mesmos nos animais IL-18KO. Esses animais IL-18KO apresentaram menos diarréia em relação ao grupo de animais IL-18Wt tratado com a mesma dose de CPT-11. Apenas 25% dos animais IL-18KO apresentaram escores 2 ou 3 no quinto dia experimental, contra 58% dos animais IL-18Wt que receberam a mesma dose de CPT-11. Não houve diferença estatística na mediana dos escores em animais IL-18KO tratados com CPT-11 comparados aos animais que receberam apenas salina. Da mesma maneira, a administração da proteína ligante de IL-18 (IL-18Bp) protegeu da diarréia os animais IL-18Wt tratados com CPT-11. 89 IL-18Bp é uma proteína secretada na forma solúvel, sem domínio transmembrana, e tem função análoga à do receptor solúvel de IL-1. Ou seja, liga-se à IL-18 e impede sua interação com o IL-18R (DELALEU et al., 2004; NOVICK et al., 1999). O fato de animais que não expressam IL-18 ou em que sua ação foi bloqueada apresentarem diarréia em menor intensidade abre a perspectiva de uma possível modulação farmacológica da diarréia relacionada à MGI. A diarréia é a manifestação clínica mais marcante da MGI e nos quadros mais dramáticos, pode haver necessidade de nutrição parenteral ou até de intervenções cirúrgicas em casos de perfuração intestinal ou hemorragia maciça (GIBSON et al., 2002; BLIJLEVENS et al., 2007). Em um ensaio de contratilidade para avaliar a resposta contrátil do duodeno dos camundongos Balb/C ao estímulo com acetilcolina (ACh), doses crescentes de CPT-11 induziram, de forma dose-dependente, aumento progressivo de resposta contrátil intestinal ao agente colinérgico. Esta resposta exuberante não ocorreu em animais injetados apenas com salina nem em animais IL-18KO. Da maneira correlata, a exacerbação da resposta contrátil foi inibida em animais IL-18Wt tratados com CPT-11 e que receberam IL-18Bp. A diarréia causada pelo CPT-11 tem dois componentes. A diarréia precoce, que ocorre nas primeiras horas após a administração do CPT-11 e pode vir acompanhada de salivação, diaforese, lacrimejamento e rubor facial, é prontamente revertida com a administração de atropina. Isso porque o CPT-11 é um potente inibidor da enzima acetilcolinesterase (AChE), que degrada a acetilcolina na fenda sináptica (HYATT et al., 2005). A diarréia tardia ocorre alguns dias após a administração do fármaco e sua etiologia é mais complexa. Os níveis sistêmicos de PGE2 encontram-se aumentados, assim como a absorção de água e eletrólitos está prejudicada. Entretanto, a inibição da produção de PGE2 com indometacina não resulta em melhora da diarréia. A PGE2, portanto, não parece ter um papel central desencadeador da diarréia tardia, mas pode agravá-la ao promover diminuição da absorção de água e eletrólitos (KASE et al., 1997). A presença da enzima carboxilesterase no intestino permite a conversão de CPT-11 em SN38G, seu metabólito mais ativo, e as bactérias intestinais 90 também convertem a forma inativa SN-38G em SN-38, possibilitando maior toxicidade direta à mucosa intestinal (KAWATO et. al., 1991). O intestino sofre, portanto, exposição prolongada ao CPT-11 e seus metabólitos ativos. O aumento da resposta contrátil à ACh em animais tratados com CPT-11 poderia estar relacionado à ação colinérgica do fármaco. Entretanto, a diarréia e o aumento da resposta contrátil do intestino em animais tratados com CPT-11 foram revertidos com a administração de IL-18Bp. Isso sugere que o componente inflamatório do processo deve ter influência na gênese da diarréia, além da ação colinérgica da droga. Até 80% dos pacientes em uso de CPT-11 apresentam algum grau de diarréia (SALIBA et al., 1998). Além disso, uma das queixas frequentes de pacientes com diarréia relacionada a mucosite é cólica. O fato de animais IL18KO e animais tratados com IL-18Bp apresentarem diarréia mais branda e menor resposta contrátil após a administração de CPT-11 merece atenção e precisa ser melhor estudado. A loperamida é um antidiarréico com ação sobre receptores opióides, promovendo redução da motilidade intestinal, sendo hoje a ferramenta mais utilizada na clínica para tratamento da diarréia associada ao CPT-11. Esse fármaco, como o IL-18Bp, também promove inibição da resposta contrátil intestinal à ACh (dados não mostrados). Entretanto, a loperamida não tem ação sobre os eventos inflamatórios envolvidos na MGI, enquanto o IL-18Bp, na dose testada, foi capaz de amenizá-los parcialmente. O IL-18Bp desempenha uma função regulatória endógena na via da IL18. Ao ligar-se à IL-18, impede sua interação com o receptor na superfície da célula (DELALEU et al., 2004). No presente estudo, a administração de IL-18Bp promoveu melhora da diarréia, redução da atividade de MPO e reversão da alteração contrátil promovida pelo CPT-11. Entretanto, não houve alteração na sobrevida dos animais e apenas proteção parcial às alterações de mucosa como encurtamento de vilos, necrose de criptas e achatamento do epitélio. A curva de sobrevida de animais tratados com CPT-11 e IL-18Bp possivelmente será diferente se o tratamento com IL-18Bp for mantido além do quarto dia experimental, mantendo a via da IL-18 bloqueada por um tempo mais prolongado. 91 Devido à quantidade da substância disponível ser reduzida, até o momento só foi testada uma dose de IL-18Bp (200µg/dia, i.p., por quatro dias seguidos, 1 hora antes do CPT-11) e em um número reduzido de animais (n=06), o que implica na continuidade da investigação tão logo haja maior disponibilidade da droga. Talvez em doses maiores o IL-18Bp seja capaz de conferir proteção maior à mucosa intestinal, transformando-o em uma potencial ferramenta de modulação da MGI induzida por CPT-11. Enfim, o envolvimento de IL-18 na MGI induzida por CPT-11 parece evidente. O papel desempenhado por essa citocina parece fazer parte dos eventos iniciais da MGI e estar relacionado à intensidade das alterações da mucosa. A modulação com IL-18Bp parece ser um caminho promissor na atenuação dos sinais e sintomas relacionados à MGI e necessita ser estudada de maneira mais profunda. 92 5 CONCLUSÕES Analisados em conjunto, nossos dados permitem concluir especificamente que: - No modelo de MGI induzida por CPT-11 adaptado em camundongos Balb/C, foram observadas alterações morfológicas (achatamento de vilos), funcionais (diarréia) e histológicas (necrose de criptas e infiltrado inflamatório) condizentes com aquelas descritas previamente na literatura em outros modelos animais. - A IL-18 está envolvida nos eventos inflamatórios (infiltração celular) e funcionais (diarréia e contratilidade) da MGI induzida por CPT-11. - O IL-18Bp atenua os eventos inflamatórios (infiltração celular) e funcionais (diarréia e contratilidade) da MGI induzida por CPT-11, constituindose em um possível candidato a modulador farmacológico desse processo patológico. - As alterações contráteis no intestino promovidas pelo CPT-11, além do componente colinérgico previamente descrito, parecem ter um componente inflamatório. 93 FIGURA 29 – Modelo hipotético proposto para a cascata dos mediadores inflamatórios envolvidos na mucosite gastrointestinal induzida por CPT-11. 94 6 REFERÊNCIAS ABIGERGES, D.; CHABOT, G.G.; ARMAND, J. 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