III Congresso Consad de Gestão Pública PERFIL DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE DE UMA REGIONAL DE SAÚDE DO PARANÁ E SUAS CONDIÇÕES DE TRABALHO Stela Maris Lopes Santini Julia Ricetti Skronski Jedliczka Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes Maira Sayuri Sakai Bortoletto Painel 03/011 Capacidades institucionais dos municípios para a gestão PERFIL DOS PROFISSIONAIS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM MUNICÍPIOS DE PEQUENO PORTE DE UMA REGIONAL DE SAÚDE DO PARANÁ E SUAS CONDIÇÕES DE TRABALHO Stela Maris Lopes Santini Julia Ricetti Skronski Jedliczka Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes Maira Sayuri Sakai Bortoletto RESUMO Com a descentralização da gestão dos serviços de saúde para os municípios, foi desencadeada a transferência de decisões e ações antes centralizadas em instâncias estaduais ou federais. Neste processo, os municípios, ao assumirem a gestão do SUS, estruturaram uma ampla rede de serviços de saúde no nível da atenção básica, tornando-se os principais gestores da força de trabalho, através da adesão a muitos programas que exigiram a contratação de um grande numero de profissionais, em especial os das Equipes de Saúde da Família (ESF). As ESF são estruturadas através dos seguintes profissionais: médico, enfermeiro, auxiliares de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS). São responsáveis pelo acompanhamento de um número de famílias em um determinado território e atuam com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes e na manutenção da saúde de sua comunidade. Se, em qualquer dos níveis de atenção à saúde, o papel dos trabalhadores constitui-se em nó crítico, é na atenção básica, onde a prática se constrói pela interação entre os trabalhadores de saúde e os usuários, que o papel dos trabalhadores da saúde torna-se mais central. Este estudo tem como objetivo caracterizar o perfil dos trabalhadores das equipes de Saúde da Família e suas condições de trabalho, enfocando questões de gestão do trabalho, aspectos físicos estruturais do espaço laboral e acidentes de trabalho referidos pelos profissionais. Consiste em um estudo descritivo, com obtenção de dados por meio de um questionário semi-estruturado, aplicado em municípios de pequeno porte (15) da área da 16a Regional de Saúde de Apucarana-Pr, municípios estes com população menor que 5.000hab. até 20.000hab.; contemplando 332 profissionais de 41 Equipes de Saúde da Família. Os profissionais foram convidados a participar com base no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Para análise dos dados foi utilizado o Programa EPI INFO versão 3.5.1. Chegou-se a conclusões importantes que caracterizam tanto os profissionais como suas condições de trabalho, evidenciando a necessidade de se conhecer esta realidade para melhor atuar sobe elas. Na análise das características do Perfil dos profissionais das Equipes de Saúde da Família observou-se uma predominância de profissionais do sexo feminino (85,54%). Quanto a idade, 75,90% dos profissionais são de <30 até 39 anos. Nos profissionais de categorias que exigem nível superior (enfermeiros e médicos), foi verificado que somente 13,25% destes possuem pós-graduação. Nas questões relativas a gestão do trabalho, verificou-se que as Equipes de Saúde da Família foram a porta de entrada de somente 23,94% dos profissionais, sendo que 56,30% foram contratados no período 2005-2008. As equipes de Saúde da Família possuem carga horária padronizada de 40 horas semanais, independente de categoria profissional. No entanto, 26,13% dos profissionais referiram que realizam menos de 40 horas semanais. O tipo de ingresso nas ESF foi de 55,42% através de concurso público, sendo que a modalidade de contratação mais freqüente (53,01%) foi através da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), tendo como empregador diretamente o Município do pesquisado. Em questões salariais, somente 10,00% (33) relatam não estar recebendo salário em dia. No quesito remuneração mensal,73,40% dos profissionais recebem 01 salário mínimo, e somente 4,28% recebem de 08 a 10 salários mínimos; o pagamento de incentivos não é pratica comum, pois 86,30% dos pesquisados declararam não receber nenhum tipo de incentivo além do salário. Outro item importante da Gestão do Trabalho pesquisado foi sobre a existência de Planos de Carreiras, Cargos e Salários (PCCS), item este em que 90,50% dos pesquisados declararam não serem enquadrados. Quanto ao Adicional de Insalubridade, verificou-se que também não há uma uniformidade, pois 58,80% declararam não recebê-lo. Nas questões relativas as condições laborais, as conclusões foram: 64,1% relatam ter acesso a veiculo para trabalho somente quando solicitado ou semanalmente, 76,10% relatam disponibilidade de linha telefônica ou ramal e 58,50% relatam disponibilidade de internet. Já as instalações físicas das Unidades Básicas de Saúde as que tiveram a pior avaliação foram as condições de espaço para a equipe, espaço para o desenvolvimento de atividades individuais e móveis e equipamentos, em que 67,60%, 60,90% e 65,30% respectivamente dos pesquisados consideraram inadequadas. Quanto a disponibilidade de insumos como materiais de expediente, materiais educativos e Equipamentos de Proteção Individual (EPI), somente o último apresentou avaliação preocupante, pois 48,50% relataram insuficiência dos mesmos, o que representa 148 profissionais das quatro categorias pesquisadas. Quanto aos acidentes de trabalho, 37,95% dos profissionais (n126) pesquisados fizeram referencia de terem sofrido, com prevalência de quedas (34,90%), seguido de acidentes com animais (23,80%), acidentes com materiais perfuro cortantes (18,30%) e outros tipos (13,50%). Estudar como se processa a gestão do trabalho na rede de atenção básica do SUS, em municípios de pequeno porte, possibilita compreender as fragilidades deste processo e as possibilidades de seu enfrentamento, bem como pode contribuir para o desenvolvimento de tecnologias de gestão em saúde, uma vez que municípios de pequeno porte representam 73% dos municípios brasileiros e possuem tanto características como necessidades peculiares e que as conhecer as características dos trabalhadores destes municípios também pode contribuir para a elaboração de políticas direcionadas a este público. SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................... 04 OBJETIVOS............................................................................................................... 10 METODOLOGIA......................................................................................................... 11 RESULTADOS........................................................................................................... 14 CONCLUSÃO............................................................................................................ 22 REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 24 4 INTRODUÇÃO As questões de gestão do trabalho, como formação, desenvolvimento e educação em saúde e condições de trabalho estão amplamente contempladas no arcabouço legal do SUS. Desde a 8a Conferência Nacional de Saúde, que serviu de referência para a formulação do SUS, questões relativas ao trabalhado em saúde como remuneração, isonomia salarial, formas de contratação, estabilidade, formação profissional, direito à greve e a sindicalização bem como a instalação de uma mesa de negociação permanente, vem sendo amplamente discutidas. A Constituição Federal de 1988 contemplou temas como formação de recursos humanos na área da saúde (Seção II, art. 200) e a Lei 8080\90, em seus artigos 13, 15, 16, 27 e 30 tratam sobre saúde do trabalhador, política de formação e desenvolvimento de recursos humanos, e normas e padrões para o controle das condições e dos ambientes de trabalho. Já a Lei 8142\90 condiciona o recebimento de recursos financeiros da União pelos Estados, Distrito Federal e Municípios à existência de uma comissão para elaboração de Plano de Cargos e Salários (art. 4o, inciso VI).(BRASIL, 2005). A 1a Conferência Nacional de Recursos Humanos para a Saúde realizada em 1986, teve como tema central a “Política de Recursos Humanos rumo a Reforma Sanitária” e a 2a, ocorrida em 1993, o tema central foi “Os desafios éticos frente às necessidades no setor saúde”, ocasião em que foram discutidos a saúde do povo brasileiro e suas peculiaridades, o processo de implementação do SUS e sua relação com os trabalhadores nas dimensões da formação e desenvolvimento e da gestão do trabalho. Na 12a Conferência Nacional de Saúde em Brasília no período de 07 a 11 de dezembro de 2003, foi reiterado aos gestores das três esferas de governo a imediata adoção da Política Nacional para a Gestão do Trabalho no SUS, como instrumento efetivo para a consolidação do SUS e aprimoramento dos “Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho no SUS (NOB\RH-SUS)”, sendo este um encaminhamento discutido e aprovado desde a Conferência anterior em 2000. Devido à importância do tema, o Ministério da Saúde criou em 2003 a Secretaria da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde (SGTES), a fim de 5 prosseguir e dinamizar a implementação de políticas de valorização do trabalhador em saúde e de seu trabalho. (Brasil 2003) No Pacto de Saúde, resultado de discussões e negociações tripartites, entre Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde CONASEMS, e Conselho de Secretários de Saúde (CONASS), publicado pela Portaria GM 399 de 22\02\06, que contempla o Pacto pela Vida e de Gestão, este por sua vez publicado pela Portaria no 699\GM de 30\03\06, também traz em seu bojo estratégias para potencializar ações no setor de gestão do trabalho em saúde. Nos Termos de Compromisso de Gestão Municipal e Estadual do Pacto de Gestão estão relacionados quesitos mínimos, mais especificamente referindo-se a vínculos de trabalho, espaços de negociação, humanização, participação e democratização das relações de trabalho e educação no trabalho. Neste item a política de recursos humanos foi tratada como um eixo estruturante para o SUS e “deve buscar a valorização do trabalho e dos trabalhadores de saúde, o tratamento dos conflitos, a humanização das relações de trabalho” (Brasil, 2006a, p. 37). No entanto, apesar de muito debatida a gestão do trabalho e de alguns avanços, como sua inclusão no Pacto pela Saúde, e de sua importância, muitos dispositivos ainda se encontram somente no papel. Com os princípios constitucionais da regionalização e hierarquização, os municípios tornaram-se os principais gestores da força de trabalho no SUS, aderindo a muitos programas que exigiram a contratação de um grande número de profissionais, em especial os das Equipes de Saúde da Família (ESF). As ESF são estruturadas através dos seguintes profissionais: médico, enfermeiro, auxiliares de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS). São responsáveis pelo acompanhamento de um número de famílias em um determinado território. Essas equipes atuam com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes e na manutenção da saúde de sua comunidade, conforme Departamento de Atenção Básica (DAB), do Ministério da Saúde (MS). Recentemente foram acrescentadas Equipes de Saúde Bucal, que obedecem praticamente os mesmos princípios e são compostas por odontólogos e auxiliares ou técnicos em saúde bucal. A partir de 2008 foram instituídos os Núcleos de Apoio a Estratégia Saúde da Família - NASF, pela Portaria Ministerial no 154 republicada em 04\03\08. Os NASF’s podem contar com a participação de 6 profissionais de ocupações complementares aos das ESF e de Saúde Bucal, sendo todos de formação superior. No Brasil, segundo dados do MS, o Programa Saúde da Família iniciou-se em 1994 com a implantação de ESF em 55 municípios. Dez anos depois já existiam 4.664 municípios com ESF implantadas, indicando uma expansão de 8.380% no número de municípios. Este número não parou de crescer, pois dos 5.564 municípios brasileiros em 2008, 5.235 possuíam ESF implantadas. Ainda segundo o MS observou-se também que o percentual de cobertura populacional das ESF é mais elevado em municípios de pequeno porte, pois os municípios com população inferior a 5.000hab. passaram de 62,0% para 88,15% de cobertura de 2001 para o ano de 2009; os de 5.000 a 9.999hab. passaram de 51,1% para 84,1%; os de 10.000 a 19.999hab. passaram de 41,80% a 79,3%; os de 20.000 a 49.999hab. passaram de 31,9% a 65,9% enquanto que os de 50.000 a 99.999hab. passaram de 28,3% a 53,7%; os de 100.000 a 249.999hab. passaram de 19,1% a 42,4%; os de 250.000 a 499.999hab. passaram de 18,2% a 30,7% e os de mais de 500.000hab. passaram de 10,7% a 28,8% em igual período, (BRASIL 2009) No Estado do Paraná, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde SESA, o Programa iniciou em 1.994 com a implantação de 04 ESF, em 1.995 este número passou para 44 e em 1.997 havia 99 ESF. A expansão ocorreu no ano de 1.998 tendo como estímulo a criação do incentivo financeiro da parte variável do Piso da Atenção Básica - PAB valor mensal repassado pelo Ministério da Saúde aos municípios que implantassem Equipes de Saúde da Família ou Programa de Agentes Comunitários de Saúde – PACS. Este recurso é destinado a apoiar a implantação de ESF e de ACS, no âmbito municipal, com o propósito de contribuir para a reorientação do modelo de atenção à saúde. No Estado, no ano de 1.998 foram implantadas 189 ESF e em 1.999, 215 ESF e no ano de 2.000 atingiu-se 658 equipes em 219 municípios. Em 2007 atingiu-se 1.563 ESF em 373 municípios (PARANA 2009). Pires defende a posição de que é preciso pensar e propor formas de organização do trabalho que tenham um impacto na qualidade da assistência e, ao mesmo tempo, considerem a possibilidade da realização de um trabalho interdisciplinar, criativo e integrador da riqueza da diversidade de formação dos profissionais da saúde. Um trabalho que possibilite a satisfação pessoal e a integração do potencial humano do trabalhador, com vistas a superar a realidade majoritária do lócus do trabalho com deformidade.(Pires,2000, pg 91). 7 Com a descentralização da gestão dos serviços de saúde para os municípios, foi desencadeada a transferência de decisões e ações antes centralizadas. Neste processo, os municípios ao assumirem a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) estruturaram uma ampla rede de serviços de saúde no nível da atenção básica, tornando-se os principais gestores da força de trabalho. Na atualidade, a Atenção Básica configura-se como a porta de entrada preferencial, o contato prioritário dos usuários com o sistema de saúde. Deve ser desenvolvida por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária (Brasil, 2006b). O processo de estruturação da atenção básica pressupõe uma maior autonomia e poder decisório nas unidades básicas de saúde tendo em vista a necessidade da organização do processo de trabalho e da administração dos trabalhadores de saúde (em maior número e com maior diversidade de formação profissional), não mais vistos como meros insumos, mas como agentes sociais necessários a mudar o jeito de fazer saúde (Mishima, et al, 1997). A Saúde da Família (SF) é uma estratégia prioritária adotada pelo Ministério da Saúde para a re-organização do modelo da atenção e sua expansão, ao longo dos anos, demonstra a vontade política das três esferas de governo em iniciar pela atenção básica a reorganização do modelo de atenção de saúde brasileiro. Isto exigiu dos municípios a contratação de um grande número de profissionais (médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde) estruturados em equipes. Estas são responsáveis pelo acompanhamento de um número de famílias em um determinado território por meio de ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação de doenças e agravos mais frequentes e na manutenção da saúde da comunidade (Brasil, 1997). Em 2001 passaram a integrar as equipes, profissionais da saúde bucal, (odontólogos e auxiliares ou técnicos em saúde bucal) (Brasil, 2001). Em 2008 foram instituídos os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), com a participação de outros profissionais de ocupações complementares aos das Equipes Saúde da Família (ESF) e de Saúde Bucal (ESB), sendo todos de formação superior, buscando instituir a plena integralidade do cuidado físico e mental aos usuários do 8 SUS por intermédio da qualificação e complementaridade do trabalho das ESF (Brasil 2008). No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde – MS (2009), em dezembro de 2008 atuavam no país 29.300 ESF e 17.807 ESB. Neste mesmo período atuavam no Paraná 1.672 ESF e 1.063 ESB, estando presentes nos 399 municípios do Estado, com cobertura de 5.351.311 pessoas, o que representa 51,4% de cobertura populacional (Brasil, 2009). O principal objetivo de reorganizar a atenção básica é a mudança no modelo de atenção à saúde, pois as idéias e os valores oriundos do modelo médicohegemônico ainda são predominantes na sociedade (Feuerwerker, 2005). Para que este processo de mudanças seja efetivo, há necessidade de que elas ocorram em múltiplas dimensões (macro e micro): mudanças políticas, ideológicas, jurídico-legais e organizacionais no nível macro, mas também nas práticas de saúde (nível micro). As práticas de saúde se dão num espaço relacional entre os trabalhadores e entre estes e os usuários. As formas como as tecnologias e processos de trabalho estão organizadas configuram um determinado modelo de atenção (Merhy, 1999). Neste nível do sistema, onde as ações de saúde concretizam-se predominantemente na dimensão das relações interpessoais, é ainda mais central o papel dos trabalhadores da saúde. Daí a importância que assume a estabilidade e o vínculo de trabalho dos profissionais das equipes de saúde, da capacitação permanente, da possibilidade de negociação das condições de trabalho, dos mecanismos de gestão e organização dos processos de trabalho, da fixação através da existência de plano de carreira, cargos e salários, dentre outros aspectos (Lacaz, 2008). De acordo com o Plano Diretor em Municípios de Pequeno Porte, publicado pelo Ministério das Cidades, municípios de pequeno porte são aqueles que possuem população de até 20.000 habitantes e representam 73% dos municípios brasileiros. Ainda segundo o plano, há necessidade da instituição de políticas específicas para esta categoria de municípios devido à carência de estrutura para o planejamento e à baixa capacidade de gestão urbana para exercer a competência municipal constitucional (BRASIL, sd). Esta necessidade é também sentida pelos técnicos das regionais de saúde do Paraná, que são constantemente demandados pelos gestores destes 9 municípios para apoiar a organização do trabalho em saúde, devido principalmente à dificuldade que têm em fixar equipe técnica qualificada. No norte do Paraná, na área de abrangência da Regional de Saúde de Apucarana-Pr, os municípios de pequeno porte representam 83% (oitenta e três por cento) da totalidade dos municípios e, possuem, em sua maioria, uma rede de serviços no âmbito da atenção básica com boa cobertura populacional (próximo de 100%). Este estudo pretende um olhar mais atento sobre as organizações de saúde que operam no nível da atenção básica, com foco nos processos de trabalho que se dão no cotidiano dos serviços de saúde, em municípios de pequeno porte. Estudar como se processa gestão do trabalho, possibilitará compreender as fragilidades deste processo e as possibilidades de seu enfrentamento bem como contribuirá para o desenvolvimento de tecnologias de gestão em saúde adequadas para esse campo. Para compreender as várias faces desse processo, faz-se necessário conhecer o perfil dos profissionais que atuam nessas equipes e suas condições de trabalho, com vistas a cumprir a finalidade do serviço de saúde que é atender as necessidades de saúde dos usuários, e assim implementar uma atenção à saúde que seja resolutiva e integral. 10 OBJETIVOS Este estudo tem como objetivo geral caracterizar o perfil dos trabalhadores das equipes de Saúde da Família e suas condições de trabalho, enfocando questões de gestão do trabalho, aspectos físicos estruturais do espaço laboral e acidentes de trabalho referidos pelos profissionais. Nos objetivos específicos encontram-se a caracterização dos trabalhadores quanto a faixa etária, sexo, tempo de atuação, formação e categoria profissional. Nas questões de gestão de trabalho abordados itens como as formas de inserção dos profissionais nas Equipes de Saúde da Família, suas condições de carga horária, remuneração e vinculo empregatício e outros correlatos. Também são relacionadas as condições físico-estruturais do espaço laboral, como ambiente, disponibilidade de equipamentos, veículos e materiais de consumo. Finalmente, identificar o número e o tipo de acidentes de trabalho referidos pelos profissionais. 11 METODOLOGIA Esta pesquisa consiste em um estudo descritivo de natureza quantitativa. Foi desenvolvida em municípios de pequeno porte da 16a Regional de Saúde de Apucarana (16a RSA) da Secretaria Estadual de Saúde (SESA-PR). A 16a RSA está sediada no Município de Apucarana – PR, na Macrorregião Norte, a 369 km da Capital do Estado, Curitiba, e a uma distância de 60 km dos municípios de Londrina, ao norte e, Maringá, ao noroeste. São Municípios limítrofes de Apucarana e suas respectivas distâncias: Arapongas (17km), Cambira (14km), Califórnia (19km), Rio Bom (28km), Mandaguari (30km), e Sabaúdia (34km). A 16a RSA tem sob sua responsabilidade 17 Municípios, sendo: 04 Municípios com até 5.000 habitantes (23,52%): Kaloré, Marumbi, Novo Itacolomi e Rio Bom, estes totalizando 14.813 habitantes, ou seja, 4,48% da população total da área; 09 Municípios de 5.001 habitantes até 10.000(52,94%): Bom Sucesso, Borrazópolis, Califórnia, Cambira, Grandes Rios, Marilândia do Sul, Mauá da Serra, Sabaúdia e São Pedro do Ivaí, estes totalizando 68.483 habitantes, ou seja, 20,72% da população total da área; 02 Municípios de 10.001 a 20.000 habitantes (11,76%): Faxinal e Jandaia do Sul, estes totalizando 34.061 habitantes, ou seja, 10,30% da população total da área; 01 Município de 50.001 a 100.000(5,88%): Arapongas com 96.669 habitantes, ou seja, 29,25% da população total da área; 01 Município de 100.001 a 500.000(5,88%): Apucarana com 115.323 habitantes, ou seja, 34,90% da população total da área que é de 330.404 habitantes, segundo dados do IBGE, população recenseada e estimada, segundo os municípios - Paraná 2007. Considera-se como municípios de pequeno porte aqueles que possuem população até 20.000 habitantes, que representam 73% dos municípios brasileiros, conforme Plano Diretor em Municípios de Pequeno Porte, do Ministério das Cidades. (BRASIL 2009). Todos os municípios da área da 16a Regional de Saúde de Apucarana aderiram formalmente a Estratégia Saúde da Família (Tabela 1): 12 a Tabela 1: Número de Equipes da Estratégia Saúde da Família na área de abrangência da 16 Regional de Saúde da Família em 2008. MUNICIPIO POPULAÇÃO EQUIPES DE SF Apucarana 115.323 35 Arapongas 96.669 29 Bom Sucesso 6.397 02 Borrazópolis 8.275 03 Califórnia 7.546 03 Cambira 6.862 03 Faxinal 15.527 05 Grandes Rios 7.641 03 Jandaia do Sul 19.534 06 Kaloré 4.664 02 Marilândia do Sul 8.932 04 Marumbi 4.142 02 Mauá da Serra 7.814 02 Novo Itacolomi 2.747 01 Rio Bom 3.260 01 Sabaúdia 5.447 02 S.Pedro do Ivaí 9.569 02 TOTAL 330.349 105 Fontes: CNES (2008), IBGE (2007) Portanto, o local de estudo são os municípios menores de 5.000 até 20.000 hab., ou seja, os municípios de Kaloré, Marumbi, Novo Itacolomi, Rio Bom, Bom Sucesso, Borrazópolis, Califórnia, Cambira, Grandes Rios, Marilândia do Sul, Mauá da Serra, Sabaúdia, São Pedro do Ivaí, Faxinal e Jandaia do Sul, que representam 88,23% do número total de municípios da área da 16a RSA. A população deste estudo foram os profissionais das 41 equipes de Saúde da Família dos 15 (quinze) municípios acima mencionados, sendo: 276 Agentes Comunitários de Saúde 41 Médicos 42 Enfermeiros 41 Auxiliares de Enfermagem, totalizando 400 profissionais, conforme Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde - CNES, competência do mês da aplicação dos questionários nos municípios. 13 Para verificação de questões salariais, foi utilizado como base o salário mínimo nacional, que na ocasião da pesquisa era de R$465,00. A coleta de dados foi efetuada por meio de um questionário auto-aplicável e semi-estruturado com perguntas enfocando o perfil e as condições de trabalho dos profissionais das equipes. O questionário foi elaborado pelas pesquisadoras com base em pesquisas realizadas pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas-RS, pelo Ministério da Saúde e por trabalho realizado em Santa Catarina (SC). O questionário foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina (UEL) em 15/05/09 e aprovado em 18/07/09. Foi testado no mês de julho/09 com profissionais de equipes que não fizeram parte deste estudo. Em seqüência, após consentimento dos profissionais, o questionário foi aplicado pelas pesquisadoras no período de setembro a novembro/09, e digitados no meses de novembro e dezembro/09 . As visitas aos municípios foram agendadas previamente em data e horário mais conveniente, e realizadas nos próprios locais de trabalho, para que maior número de profissionais pudessem estar disponíveis, para evitar perdas e não prejudicar o andamento das tarefas e o desenvolvimento do trabalho destas equipes. O tempo médio para preenchimento dos questionários foi de 45 minutos. Foram considerados como critérios de exclusão aqueles profissionais que, apesar de constarem no cadastro do CNES não estivessem atuando nas equipes, mesmo que em outro estabelecimento municipal de saúde, baseado no relato dos mesmos ou de outros membros da equipe. Para os profissionais que estavam em gozo de férias ou afastados por outros motivos (licença saúde, gestação, premio, etc.) na data da visita, foi solicitado que devolvesse o questionário após retorno ao trabalho. Foram consideradas equipes incompletas aquelas em que o profissional cadastrado no CNES não estava mais trabalhando no município e não foi substituído até a data da visita. Para evitar possíveis erros na digitação e tabulação dos dados, foi realizada dupla digitação. Como existe um número pequeno de equipes em cada município, o que poderia eventualmente propiciar a imediata identificação de determinado profissional, optou-se por utilizar o código dos municípios no CNES para evitar constrangimento dos pesquisados. Para análise dos dados foi utilizado o Programa EPI INFO versão 3.5.1. 14 RESULTADOS Tabela 2: Número e percentual de profissionais das Equipes de Saúde da Família dos Municípios de a Pequeno Porte da 16 RSA-Pr. abrangidos pela pesquisa, em 2009 CATEGORIAS CNES N PESQUISADOS o N o % Auxiliar de Enfermagem 41 33 80,48 Enfermeiro 42 38 90,47 Médico 41 29 70,73 Agente Comunitário 276 232 84,05 400 332 83,00 De Saúde-ACS Total Do total de profissionais constantes no Cadastro Nacional de Estabelecimentos em Saúde (CNES) (n400), no tipo de equipe de Saúde da Família, foram estudados 332, atingindo um percentual de aproveitamento de 83,00%. A diferença (68), correspondente a 17% se deu em função de: 20 profissionais encontravam-se atuando em outros locais nas secretarias municipais de saúde e não especificamente nas Equipes de Saúde da Família (ESF), conforme preconiza a estratégia. Destes, 05 eram Auxiliares de Enfermagem, 02 Enfermeiros, 06 Médicos e 07 Agentes Comunitários de Saúde (ACS), correspondendo a 29,42% da diferença (68). Verificou-se que 06 municípios mantém estes profissionais cadastrados em suas ESF, mas, na prática os mesmos estão desviados do trabalho de suas equipes. 05 municípios estavam com suas ESF incompletas, sendo 19 profissionais assim distribuídos: 01 Auxiliar de Enfermagem, 01 Enfermeiro, 01 Médico e 16 ACS’s, correspondendo a 27,94% da diferença; foram registradas 29 perdas, assim distribuídas: 02 Aux. de Enfermagem, 01 Enfermeiro, 05 Médicos e 21 ACS’s, correspondendo a 42,64 da diferença. 15 Tabela 3: Perfil dos Profissionais das Equipes de Saúde da Família dos Municípios de Pequeno Porte a da 16 RSA – Paraná – Brasil em 2009 Categoria Aux. Enf. Enfermeiro Médico ACS N % N % N % Fem. 32 96,96 36 94,74 05 17,25 211 90,95 284 Masc. 01 3,04 02 5,26 24 82,75 21 9,05 48 Total 33 100,00 38 100,00 29 100,00 232 100,00 332 <30 11 33,34 20 52,63 03 10,35 100 43,10 134 30 a 39 10 30,30 13 34,22 08 27,58 87 37,50 118 40 e + 12 36,36 05 13,15 18 62,07 45 19,40 80 Total 33 100,00 38 100,00 29 100,00 232 100,00 332 Fund. Inc. - - - - - - 07 3,02 07 Fund. Comp. - - - - - - 08 3,45 08 Médio Inc. 01 3,03 - - - - 12 5,18 13 Médio Comp. 26 78,79 - - - - 164 70,68 190 Sup. Inc. 05 15,15 - - - - 23 9,92 28 Sup. Comp. 01 3,03 Pós Total N Total % N Sexo Faixa Etária Estudo 11 28,95 12 41,37 13 5,60 37 - 27 71,05 17 58,63 05 2,15 49 33 100,00 38 100,00 29 100,00 232 100,00 332 Sim 07 21,22 16 42,10 01 3,45 55 23,91 79 Não 26 78,78 22 57,90 28 96,55 175 76,09 251 Total* 33 100,00 38 100,00 29 100,00 230 100,00 330 1995 a 2000 03 9,37 02 5,40 05 17,85 11 4,80 21 2001 a 2004 14 43,75 09 24,33 04 14,30 50 21,73 77 2005 a 2008 14 43,75 19 51,35 14 50,00 137 59,56 184 2009 01 3,13 07 18,92 05 17,85 32 45 Total* 32 100,00 o 1 Emprego Ano de Ingresso 37 100,00 28 100,00 13,91 230 100,00 327 *02 ACS não responderam a questão **01 Aux. De Enfermagem, 01 Enfermeiro, 01 médico e 02 ACS não responderam a questão, totalizando 5. 16 Quanto ao perfil demográfico, observou-se uma predominância de profissionais do sexo feminino em todas as categorias, com exceção da de médico, em que 82,75 destes são do sexo masculino. Nas faixas etárias também há processo similar, em que 80,60% dos profissionais se encontram em idades que vão de <30 até 39 anos. No entanto, 62,70% dos médicos estão em idade de 40 anos ou mais. Nas condições de escolaridade, os profissionais com nível médio completo perfazem 57,22% do total, mas ainda verificamos os que ainda não atingiram tal nível (8,43% do total). Dentre os profissionais que já são graduados, 14,76% já estão cursando ou concluíram nível de pós graduação, inclusive 2,15% dos ACSs. A Estratégia Saúde da Família consistiu de porta de entrada ao mercado de trabalho de 23,94% os profissionais. O período de ingresso se deu com maior ênfase no período de 2005 a 2008(56,27%), no entanto, 23,55% dos profissionais são recém-contratados, isto é, foram admitidos no ano de 2009. Somente 6,42% foram contratados nos primeiros anos de implantação da estratégia (1995 a 2000). Tabela 4: Modalidade de Seleção dos Profissionais das Equipes de Saúde da Família dos Municípios a de Pequeno Porte da 16 RSA-Pr., em 2009 CATEGORIA AUX.ENF N Concurso o ENF. N o MEDICO N o ACS N o TOTAL N o % 21 23 10 130 184 55,42 Teste Seletivo 08 08 03 50 69 20,78 Indicação 03 03 10 33 49 14,75 Outros* 01 04 06 19 30 9,05 Total 33 38 29 232 332 100,00 Público *Seleção interna, entrevista, analise de curriculum Na tabela 4 verificamos que 55,42% dos profissionais foram selecionados através de Concurso Público e 20,78% através de Teste Seletivo, o que na somatória representa 76,20%. No entanto, ainda temos 23,80% selecionados de formas que não obedecem o critério da publicidade e de outros princípios da Administração Pública. 17 Tabela 5: Tipo de Vinculo Empregatício dos Profissionais das Equipes de Saúde da Família dos a Municípios de Pequeno Porte da 16 RSA-Pr, em 2009 CATEGORIA AUX.ENF. N Estatuto Servidor Público do ENF. o N o MÉDICO N ACS o N o TOTAL N o % 09 08 01 45 63 18,97 CLT 18 20 12 126 176 53,01 Contrato Temporário 01 - 03 04 08 2,40 Terceirizado 04 07 04 54 69 20,78 Autônomo - - 07 - 07 2,10 Outros* 01 03 02 03 09 2,71 Total 33 38 29 232 3 32 100,00 *Cargo Comissionado, contrato verbal, licitação Na tabela 5, verificamos que 71,98% dos profissionais são contratados através de vínculo empregatício que preservam garantias trabalhistas (18,97% são estatutários e 53,01% celetistas). Mas 27,98% são contratados via terceirizações, contratos temporários, autônomos e outros, que não oferecem garantias trabalhistas. Na categoria de médico o que mais prevalecem são os de vínculos precários (55,17%). Tabela 6: Remuneração mensal bruta dos Profissionais das Equipes de Saúde da Família dos a Municípios de Pequeno Porte da 16 RSA-Pr. em 2009 o % FAIXA SALARIAL N 01 Salário Mínimo 242 73,34 2 a 3 Salários Mínimos 38 11,51 4 a 7 Salários Mínimos 36 10,90 08 a >10 14 4,25 Total* 330 100,00 *02 Profissionais deixaram de responder esta questão 18 Na questão salarial, 99,13% dos ACS’s e 36,36% dos Auxiliares de Enfermagem recebem somente 1 salário mínimo independente do ano de contratação ou da escolaridade. Na faixa salarial de 2 a 3 salários mínimos encontramos dos 63,63% Auxiliares de Enfermagem e 39,47% dos Enfermeiros. Na faixa salarial de 4 a 7 salários mínimos encontramos 60,52% dos Enfermeiros e 48,15% dos Médicos. Já na faixa salarial de 08 a >10 salários mínimos, representa 4,25% de todos os profissionais, encontram-se 51,85 dos médicos. Tabela 7: Recebimento de Incentivos Salariais pelos Profissionais das Equipes de Saúde da Família a dos Municípios de Pequeno Porte da 16 RSA-Pr., em 2009 CATEGORIA AUX.ENF N o ENF. N o MÉDICO N o ACS N o TOTAL N o % Sim 05 08 02 30 45 13,72 Não 27 30 26 200 283 86,28 Total* 32 38 28 230 328 100,00 *04 profissionais deixaram de responder Tabela 8: Recebimento de Adicional de Insalubridade pelos Profissionais das Equipes de Saúde da a Família dos Municípios de Pequeno Porte da 16 RSA-Pr., em 2009 CATEGORIA AUX.ENF. N o ENF. N o MÉDICO N o ACS N o TOTAL N o % Sim 25 26 08 76 135 41,15 Não 08 12 19 154 193 58,85 Total* 33 38 27 230 328 100,00 *04 profissionais deixaram de responder Não existe homogeneidade quanto a questão do pagamento de Adicional de Insalubridade. Há predominância de pagamento aos profissionais que atuam na área da enfermagem, pois 68,42% dos Auxiliares de Enfermagem e Enfermeiros 75,75% relatam receber. No entanto, 70,37% dos Médicos e 60,95% dos ACS’s referem não receber tal adicional. No caso dos Médicos há necessidade de aprofundamento para verificar se existe relação com o tipo de vínculo empregatício, 19 pois conforme já foi comentado 55,17% destes são contratados com características de precariedade. Tabela 9: Enquadramento em Plano de Carreira, Cargos e Salários - PCCS pelos Profissionais das a Equipes de Saúde da Família dos Municípios de Pequeno Porte da 16 RSA-Pr, em 2009 CATEGORIA AUX.ENF. N o ENF. N MÉDICO o N o ACS N o TOTAL N o % Sim 04 03 - 24 31 9,50 Não 29 34 28 205 296 90,50 Total* 33 37 28 229 3 327 100,00 *05 profissionais deixaram de responder Quanto a um Plano de Carreira, Cargos e Salário - PCCS, 90,50% dos profissionais relatam não serem enquadrados, com distribuição uniforme entre as categorias. Tabela 10: Opinião dos profissionais das Equipes de Saúde da Família quanto a adequação das a instalações físicas das Unidades Básicas de Saúde dos Municípios de Pequeno Porte da 16 RSAPr., em 2009 CONDIÇÕES ADEQUADAS N o % NÃO ADEQUADAS N o TOTAL % N o Iluminação 214 67,70 102 32,30 316 Temperatura 187 58,80 131 41,20 318 Ventilação 175 54,50 146 45,50 321 Espaço próprio 125 39,10 195 60,90 320 Espaço equipe 103 32,40 215 67,60 318 Ruídos Excessivos 116 63,50 202 36,50 318 Condições de higiene 250 77.40 73 22,60 323 Moveis e equip. 112 34,70 211 65,30 323 Manutenção prédio 180 55,90 142 44,10 322 Odores desag. 246 77,60 71 22,40 317 20 Quanto as instalações físicas das Unidades Básicas de Saúde os itens que tiveram a pior avaliação foram as condições de espaço para a equipe, espaço para o desenvolvimento de atividades individuais e móveis e equipamentos, em que 67,60%, 60,90% e 65,30% respectivamente dos pesquisados consideraram inadequadas Tabela 11: Opinião dos profissionais das Equipes de Saúde da Família quanto a disponibilidade de a insumos nas Unidades Básicas de Saúde dos Municípios de Pequeno Porte da 16 RSA-Pr, em 2009 INSUMOS DISPONIVEIS o % Mat. expediente 207 Mat. Educ. saúde NÃO DISPONIVEIS TOTAL o % 66,60 104 33,40 311 195 61,90 120 38,10 315 Kits diversos 239 82,40 51 17,60 290 EPI* 157 51,50 148 48,50 305 N N N o *Equipamento de Proteção Individual Quanto a disponibilidade de insumos como materiais de expediente, materiais educativos e equipamentos de proteção individual - EPI, somente o último apresentou avaliação preocupante, pois 48,50% relataram insuficiência dos mesmos, o que representa 148 profissionais das quatro categorias pesquisadas. Tabela 12: Percepção dos Profissionais das Equipes de Saúde da Família dos Municípios de a Pequeno Porte da 16 RSA-Pr quanto ao desenvolvimento de suas principais atividades, em 2009 ITENS RUIM N o REGULAR % N o BOM % N o MUITO BOM % N o % TOTAL N o Trabalho em Equipe 54 16,46 49 14,94 121 36,90 104 31,70 328 Preenchimento de Formulários 12 3,67 48 14,67 142 43,43 125 38,23 327 Reuniões de 56 17,07 62 18,90 119 36,28 91 27,75 328 58 17,80 54 16,57 130 39,87 84 25,76 326 Equipe Reuniões com a Comunidade 21 Pelo observado nas respostas, os profissionais encontram-se adaptados e entrosados com o trabalho nas ESF, pois as classificações de “bom” e “muito bom” prevaleceram sobre as demais. Tabela 13: Tipos de acidentes de trabalho referidos pelos profissionais das Equipes de Saúde da a Família de Municípios de Pequeno Porte da 16 RSA-Pr, em 2009 CATEGORIA AUX.ENF. N o % 4,55 ENF. N o - MÉDICO % N - o ACS % N 01 2,27 o TOTAL o % N % 41 93,18 44 34,92 Quedas 02 Pérfuro 12 52,17 03 13,05 01 4,35 07 30,43 23 18,25 Transporte - 02 16,67 01 8,33 09 75,00 12 9,53 Animais 01 - 29 96,66 30 23,80 Outros* - 13,50 Total 15 Cortante 3,34 11,90 - - - 03 17,65 01 5,88 13 76,47 17 08 6,35 04 3,18 99 78,57 126 100,00 *pancadas, choques elétricos, torções Acidentes de trabalho relacionados a quedas, transporte, animais e outros são mais freqüentes na categoria de ACS’s, ligados as características de suas atribuições e suas condições de trabalho. No entanto, uma observação preocupante é que dos 23 acidentes com material perfuro cortante, 30,43% foram com ACS’s, o que merece um melhor estudo pois este profissional está se expondo a um risco para o qual não está habilitado. Mas ainda o maior índice deste tipo de acidente é relatado pelos profissionais da área de enfermagem (65,22%) 22 CONCLUSÃO Desde o início da implantação da Saúde da Família houve um estímulo para o aumento da cobertura da população por um número maior de equipes, provocando muitas transformações em curto espaço de tempo, sendo que muitas questões necessitavam de maior planejamento e estruturação, o que pode ter prejudicado a eficácia e eficiência da proposta da atenção básica como porta de entrada do SUS. Apesar das pactuações entre as três esferas de governo e o esforço coletivo para a consolidação da ESF ainda persistem “nós críticos” em vários níveis relativos a gestão e condições do trabalho. Foi observado que 5% dos profissionais relacionados no CNES, estavam atuando em outros locais nas secretarias municipais de saúde que não especificamente nas Equipes de Saúde da Família - ESF, conforme preconiza a estratégia. Constata-se a necessidade de um acompanhamento mais efetivo por parte das instâncias competentes, para evitar estes desvios, pois com certeza a comunidade perde com este fato. Nas responsabilidades municipais na Gestão do Trabalho constantes do Pacto pela Saúde 2006, diz que todo município deve “adotar vínculos de trabalho que garantam os direitos sociais e previdenciários dos trabalhadores da saúde na sua esfera de gestão e de serviços, provendo ações de adequação de vínculos, onde for necessário, conforme a legislação vigente e considerar as diretrizes nacionais para Planos de Carreiras, Cargos e Salários para o SUS-PCCS/SUS, quando da elaboração, implementação e/ou reformulação de planos de carreiras, cargos e salários no âmbito da gestão local”. Com referência a estes pontos que foram pactuados em 2007, na maior parte dos municípios pesquisados ainda existem vínculos de trabalho precários e inexistência de PCCS, o que requer maior empenho de todas as esferas de gestão para propiciar a execução do que foi pactuado, inclusive apoio financeiro e logístico. No caso de um PCCS/SUS seria importante para estimular e incentivar os profissionais tanto em aprimoramento pessoal como em cumprimento de metas, o que poderia oferecer melhores condições de fixação em suas equipes. 23 Como os itens de espaço físico e de móveis e equipamentos foram os que apresentaram as piores avaliações dos profissionais, sugerindo que as equipes foram implantadas sem a devida estrutura física e assim permanecem, prejudicando o desenvolvimento do trabalho. Os Profissionais das Equipes de Saúde estão expostos a determinados acidentes de trabalho e merecem o desenvolvimento de ações preventivas. Pelo estudo, os maiores afetados são os ACSs devido as características de seu trabalho, como quedas, acidentes de transporte e com animais. No entanto, com relação a acidentes com materiais perfuro cortantes, além de medidas preventivas também se faz necessário a organização de uma rede de referência para o atendimento a esses profissionais e a disponibilização de Equipamentos de Proteção Individual. Ainda quanto aos EPIs, estes foram citados por 48,50% dos pesquisados como não disponíveis. Este é um estudo que priorizou os municípios de pequeno porte, visto que são 73% dos municípios brasileiros e possuem peculiaridades que devem consideradas na elaboração de políticas públicas. Foram abordados neste trabalho, algumas questões consideradas de relevância para o bom desenvolvimento das atividades das Equipes de Saúde da Família. No entanto, há necessidade de aprofundamento e desenvolvimento de outras pesquisas para que estas particularidades possam ser melhor compreendidas e adequadas se for o caso, para que o Pacto pela Saúde se consolide no País, Estado e Municípios. 24 REFERÊNCIAS AZEVEDO, C.S.; BRAGA NETO, F.C.; SÁ, M. C. Indivíduos e a mudança nas organizações de saúde: contribuições da psicossociologia. Cad.Saúde Pública 2002; 18:235-247. BRASIL. Confederação Nacional de Municípios. Disponível em: <http://www.cnm.org.br/sites>. Acesso em: 12 mai. 2009. ______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 42.ed. São Paulo: Saraiva, 2009. ______. Decreto no 5.974 de 29 de novembro de 2006. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério da Saúde, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 30 nov. 2006, Seção 1, pág. 8, Ed. 229. ______. Lei no 8142 de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. ______. Ministério da Saúde. Disponível em: <http://www.cnes.datasus.gov.br > competência 12\08, previa data 08\01\09. Acesso em: 12 jan. 2009. ______. Ministério da Saúde. Disponível em: <http://www.saúde.gov.br/dab/ atençãobasica.php#saudedafamilia>. Acesso em: 22 abr. 2009. ______. Ministério da Saúde. 12a Conferência Nacional de Saúde: Conferência Sérgio Arouca: Brasília, 7 a 11 de dezembro de 2003: relatório final/Ministério da Saúde, Conselho Nacional da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 230p.(Série D. Reuniões e Conferências) ______. Ministério da Saúde. Assessoria de Comunicação Social. Lei Orgânica da Saúde. Brasília: Assessoria de Comunicação Social, 1990. 32p. ______. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Princípios e diretrizes para a gestão do trabalho no SUS9NOB/RH/-SUS), 2005. 25 BRASIL. Ministério da Saúde. Orientações gerais para elaboração de editais. Processo Seletivo Público. Brasília – DF 2007 ______. Ministério da Saúde. Pactos pela Vida e de Gestão. Vol 2. Brasília 2006. ______. Ministério da Saúde. Perfil dos médicos e enfermeiros do Programa Saúde da Família no Brasil, 2000. ______. Ministério da Saúde. Princípios e diretrizes para a gestão do trabalho no SUS (NOB/RH-SUS). Brasília 2005. ______. Ministério das Cidades. Plano Diretor em Municípios de pequeno porte. Sd. Disponível em: <http://portal.cnm.org.br/sites/8800/8875/download/2_dia/Plano DiretoremMunicipiosdepequenoporte_Modificada.pdf>. Acesso em: 28 set. 2009. DI LASCIO, R.H.C. Modelo para análise da qualidade de vida no trabalho dos profissionais dos serviços de enfermagem em hospital pediátrico, 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. 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Endereço eletrônico: [email protected] Julia Ricetti Skronski Jedliczka – Enfermeira graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná em 1980, com Especialização em Saúde Pública pela Universidade São Camilo-SP e Especialização em Enfermagem do Trabalho pela Universidade Federal do Paraná em 1981. Cursando o Mestrado Profissional de Gestão de Serviços de Saúde na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Enfermeira do Ministério do Exército, cedida para a Secretaria Estadual de Saúde do a Paraná (SESA), lotada na 16 Regional de Saúde de Apucarana. Endereço eletrônico: [email protected] Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes – Graduação em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Estadual de Londrina (1978), especialização em Curso de Especialização em Saúde Pública pela Universidade Federal do Paraná (1980), mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Londrina (1995) e doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas (2004). Atualmente é Docente Adjunto C da Universidade Estadual de Londrina. Endereço eletrônico: [email protected] Maira Sayuri Sakai Bortoletto – Enfermeira, mestranda em saúde coletiva – UEL (início em 2008). Especialista em: Saúde da família – UEL, Educação Profissinal na área da saúde PROFAE, Auto gestão em saúde – Fiocruz, Ativação do processo de mudança no ensino superior – Fiocruz, Enfermagem do Trabalho - ESAP, Atualização de Processos e Tecnologias de Informação em Saúde – Fiocruz. Desde 2008 faz parte do Centro Brasileiro de Estudo de Saúde (CEBES) e atua como colaboradora na Residência Multiprofissional em Saúde da Família – UEL. Endereço eletrônico: [email protected]