Rev Bras Cardiol Invas 2006; 14(2): 178-180. Sánchez AG, et al. Reperfusão Endovascular Pós-Embolia Cerebral Durante Arteriografia Carotídea. Rev Bras Cardiol Invas 2006; 14(2): 178-180. Relato de Caso Reperfusão Endovascular Pós-Embolia Cerebral Durante Arteriografia Carotídea Andrés G. Sánchez1, Antonio M. Kambara1, Samuel M. Moreira1, Marcos Franchetti1, Manuel N. Cano1, Fausto Feres1, Amanda G. M. R. Sousa1, J. Eduardo M. R. Sousa1 RESUMO SUMMARY Relatamos o caso de um paciente de 72 anos que, durante a realização de uma arteriografia carotídea, apresentou embolia arterial intracerebral sintomática. O paciente foi submetido imediatamente à reperfusão endovascular (mecânica) intracerebral com sucesso (clínico e angiográfico). Endovascular Reperfusion following Cerebral Embolism during Carotid Arteriography The article reports the case of a 72-year-old patient who had symptomatic intracerebral arterial embolism during carotid arteriography. The patient was immediately submitted to successful (clinically and angiographically) intracerebral endovascular (mechanic) reperfusion. DESCRITORES: Embolia intracraniana. Reperfusão. Lesões das artérias carótidas, terapia. DESCRIPTORS: Intracranial embolism. Reperfusion. Carotid artery injuries, therapy. A com resultado mantido e lesão moderada (50-69%) no bulbo carotídeo direito. embolia cerebral com ocorrência de acidente vascular cerebral (AVC) maior ou menor é uma complicação rara, que pode ocorrer durante a realização de uma angiografia cerebral diagnóstica (0,8%)1, de um cateterismo cardíaco (0,1%)2 ou de uma angioplastia carotídea (3,2% em 30 dias)3. RELATO DO CASO I. Z., 72 anos, sexo feminino, com história pregressa de angioplastia com implante de stent em artéria carótida interna esquerda, em 1998, por obstrução grave localizada no bulbo carotídeo, apresentava, nos últimos 2 meses, história de episódios de amaurose fugaz, à direita. O exame físico inicial da paciente, incluindo a avaliação neurológica, era normal. O médico que encaminhara a paciente para realização de arteriografia optara por solicitar previamente eco-Doppler de artérias carótidas e vertebrais, que evidenciou stent na artéria carótida interna esquerda 1 Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Invasiva, Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – São Paulo, SP, Brasil. Correspondência: Andrés Gustavo Sánchez. Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese, 500. Ibirapuera - São Paulo, SP. CEP 04012-909. Tel: (5511) 5085-4141. E-mail: [email protected] Recebido em: 06/06/2006 • Aceito em: 19/06/2006 Na angiografia dos vasos cerebrais, foram canuladas de maneira seletiva e estudadas, as artérias vertebrais e a artéria carótida comum esquerda, sem intercorrências, porém, ao término da angiografia da artéria carótida comum direita, a paciente apresentou disfasia, desvio de rima labial para a direita e hemiparesia esquerda, com rápida progressão para hemiplegia. Pela suspeita de embolia arterial intracerebral, optou-se por repetir a angiografia carotídea direita, com estudo da circulação intracerebral correspondente, sendo observada obstrução total do ramo parieto-temporal da artéria cerebral média (Figura 1). Com a localização anatômica, optou-se pela tentativa de recanalização do vaso culpado. Inicialmente, foi canulada a artéria carótida interna direita com cateterguia Judkins de artéria coronária direita (JR) 6F. Foi realizada anticoagulação com heparina não fracionada endovenosa, em dose de 70 UI/kg. Posteriormente, foi ultrapassada a obstrução com guia Floppy® 0,014”, de 300 cm de comprimento e colocado um microcateter proximal à obstrução (Figura 2), tentando-se aspiração do material tromboembólico, sem sucesso. A seguir, foi tentado o resgate deste material com uso de guia tipo laço, também sem sucesso. Administrou-se tirofiban (Agrastat) intracerebral, em dose de ataque de 10 mcg/kg pelo microcateter e, posteriormente, dose de manutenção (0,15 mcg/kg/ 178 Andres.p65 178 13/7/2006, 22:00 Sánchez AG, et al. Reperfusão Endovascular Pós-Embolia Cerebral Durante Arteriografia Carotídea. Rev Bras Cardiol Invas 2006; 14(2): 178-180. min) por 12 horas. Retirado este cateter, foi utilizado um balão (tipo coronária) 2,5x20mm, com o qual ultrapassou-se a obstrução, realizando-se insuflação no local da lesão com pressão de 6 atm. Posteriormente, realizou-se injeção de controle (Figura 3), obtendo-se desobstrução do vaso (sem lesão residual) e o fluxo intracerebral normalizou-se. Dez minutos após a desobstrução, a paciente começou a apresentar recuperação do déficit motor, sendo o exame neurológico totalmente normal, uma hora após o procedimento. DISCUSSÃO O AVC secundário à embolia cerebral é uma complicação pouco freqüente, porém com elevada morbidade e mortalidade. Esta pode ser uma complicação secundária aos procedimentos diagnósticos ou intervencionistas e o tratamento clínico, na maioria dos casos, é a modalidade escolhida, porém os resultados são insatisfatórios. Na última década, surgiram novas opções terapêuticas, na tentativa de diminuir as seqüelas desta complicação. As opções terapêuticas de reperfusão descritas na literatura são: administração de agentes fibrinolíticos endovenosos4-8 ou intra-arteriais9-10, introdução de inibidores da glicoproteína IIb/IIIa11, com ou sem intervenção percutânea associada4,5. Os agentes fibrinolíticos4-8,11,12, quando usados de forma isolada, podem ser ineficazes no tratamento da embolia do material aterogênico11,12. A intervenção percutânea pode ser realizada por meio da aspiração4 do material embólico por microcateter, por resgate com dispositivos como o Snare®12 e/ou ainda pela angioplastia com o balão4,5. Figura 1 - Angiografia da circulação intracerebral, observa-se oclusão de sub-ramo da artéria cerebral média. Figura 2 - Ultrapassagem da obstrução com guia Floppy 0,014” de 300 cm de comprimento, colocação de microcateter no local da obstrução e realização de Tirofiban intracerebral. A angioplastia de vasos intracerebrais é um procedimento atrativo para o tratamento deste tipo de complicação, porém não é isento de complicações. A hemorragia subaracnóidea13, espasmo, embolização distal13, dissecção14 e trombose de stent (quando usado)13-15 são algumas das complicações descritas. O fato de os vasos intracranianos, diferentemente dos vasos coronarianos, serem flutuantes no espaço subaracnóideo e sem suporte de tecido conectivo, aumenta a chance de rotura dos mesmos. Devem ser consideradas as dificuldades técnicas, devido à presença de vasos tortuosos, de fino Figura 3 - Angiografia intracerebral de controle obtendo sucesso angiográfico (sem lesão residual, com fluxo intracerebral normal). 179 Andres.p65 179 13/7/2006, 22:00 Sánchez AG, et al. Reperfusão Endovascular Pós-Embolia Cerebral Durante Arteriografia Carotídea. Rev Bras Cardiol Invas 2006; 14(2): 178-180. calibre e com possibilidade de espasmo, o que pode também levar ao insucesso do procedimento. Além disso, a circulação colateral cerebral é pouco desenvolvida no evento agudo, o que agrava o prognóstico. Portanto, a reperfusão endovascular imediata tem sido considerada uma conduta a ser tomada, em caso de embolia cerebral como complicação de uma angiografia cerebral, de uma angioplastia carotídea ou de um cateterismo cardíaco. Também devemos ressaltar a importância que tem a angiografia da circulação intracerebral prévia à realização de uma angioplastia carotídea, para o conhecimento da anatomia arterial intracerebral, para que, em caso de embolia, possa ser localizado o local a ser tratado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Waugh JR, Sacharias N. Arteriographic complications in the DSA era. Radiology 1992;182:243-6. 2. Wyman RM, Safian RD, Portway V, Skillman JJ, McKay RG, Baim DS. Current complications of diagnostic and therapeutic cardiac catheterization. J Am Coll Cardiol 1988;12:1400-6. 3. Wholey MH, Al-Mubarek N, Wholey NH. Updated review of the Global Carotid Artery Stent Registry. Catheter Cardiovasc Interv 2003;60:259-66. 4. Schroth G, Berlis A, Mayer T, Remonda L, Brekenfeld C, Ozdoba C et al. Therapeutics interventional neuroradiology in acute stroke. Ther Umsch 2003;60:569-83. 5. Tsumoto T, Terada T, Tsuura M, Ryujin Y, Matsumoto H, Masuo O et al. Endovascular therapy for acute thrombotic occlusion of the intracranial artery. Neuroradiology 2004;46:453-8. 6. Tomsick TA. Intravenous thrombolysis for acute ischemic stroke. J Vasc Interv Radiol 2004;15:S67-76. 7. Green DW, Sanchez LA, Parodi JC, Geraghty PJ, Ferreira LM, Sicard GA. Acute thromboembolic events during carotid artery angioplasty and stenting: etiology and a technique of neurorescue. J Endovasc Ther 2005;12:360-5. 8. Alexandrov AV, Demchuk AM, Burgin WS, Robinson DJ, Grotta JC. Ultrasound-enhanced thrombolysis for acute ischemic stroke: phase I. Findings of the CLOTBUST trial. J Neuroimaging 2004;14:113-7. 9. Nakano S, Iseda T, Yoneyama T, Kawano H, Wakisaka S. Direct percutaneous transluminal angioplasty for acute middle cerebral artery trunk occlusion: an alternative option to intraarterial thrombolysis. Stroke 2002;33:2872-6. 10. Tsai Fy, Berberian B, Matovich B, Lavin M, Alfieri K. Percutaneous transluminal angioplasty adjunct to thrombolysis for acute middle cerebral artery rethrombosis. AJNR Am J Neuroradiol 1994;15:1823-9. 11. Fiorella D, Albuquerque FC, Han P, McDougall CG. Strategies for the management of intraprocedural thromboembolic complication with abciximab (ReoPro). Neurosurgery 2004;54: 1089-97. 12. Hasegawa S, Manabe H, Takemura A, Nagahata M. Rescue use of endovascular snare for acute basilar artery embolic occlusion resistant to balloon angioplasty and fibrinolysis therapy. Minim Invasive Neurosurg 2005;48:53-6. 13. Kim JK, Ahn JY, Lee BH, Chung YS, Chung SS, Kim OJ et al. Elective stenting for symptomatic middle cerebral artery stenosis presenting as transient ischaemic deficits or stroke attacks: short term arteriographical and clinical outcome. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2004;75:847-51. 14. Lee JH, Kwon SU, Lee JH, Suh DC, Kim JS. Percutaneous transluminal angioplasty for symptomatic middle cerebral artery stenosis: long term follow-up. Cerebrovasc Dis 2003;15: 90-7. 15. Lylyk P, Cohen JE, Ceratto R, Ferrario A, Miranda C. Angioplasty and stent placement in intracranial atherosclerotic stenoses and dissections. AJNR Am J Neuroradiol 2002;23:430-6. 180 Andres.p65 180 13/7/2006, 22:00