Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 1 de 22 ____________________________________________________________________ João S. Furtado [email protected] site em parceria com Teclim www.teclim.ufba.br/jsfurtado Gestão com responsabilidade socioambiental • A empresa e a sociedade São Paulo – Março 2003 Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 2 de 22 ____________________________________________________________________ Gestão com responsabilidade socioambiental reúne textos de livre acesso e uso, para organizações e pessoas interessadas em Responsabilidade Socioambiental (RSA), do ponto de vista da produção e consumo de bens e serviços sustentáveis. Por simplicidade, os temas poderão ser referidos como capítulos, mas são blocos independentes e não numerados, que poderão receber revisões, inclusões ou reordenações. Temas abordados Visão e motivações & Gestão e planejamento estratégico socioambiental Desenvolvimento Sustentável & comunidade Indicadores de sustentabilidade & de ecoeficiência A empresa e a sociedade Princípios de RSA, Códigos de conduta & Capacitação para RSA Ferramentas e tecnologias socioambientais Temas e ações com RSA Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 3 de 22 ____________________________________________________________________ A EMPRESA E A SOCIEDADE A compilação de informações e os comentários são apresentados com o propósito de contribuir para construção de uma agenda positiva e transparente, a fim de estabelecer o diálogo que conduza à criação de organizações que respondam, cada vez mais, para a melhoria social e ambiental, nos âmbitos local, regional e planetário. É preciso considerar que a RSA não deve ser confundida com conformidade a legislações específicas; não está restrita às grandes organizações, mas assumida por todas, independente do porte, natureza jurídica, tipo de atividade ou negócio e do setor onde atua e (iii) precisa estar focada na produção e consumo sustentáveis de bens e serviços. As esperanças de grande período de progresso, a partir de 1950, foram marcadas pelo surgimento de instituições de governo global: ONU, FMI Fundo Monetário Internacional, OMC, Banco Mundial e Comunidade Econômica Européia. O modelo econômico concentrou bens e estabeleceu o pensamento unitário do mercado livre, desregulamentado e privatizado, defendido por governantes, promovido por poucas, mas fortes organizações supranacionais e disseminado pela globalização do poder exercido pelas grandes corporações transnacionais. É impossível, portanto, abordar o papel da empresa, sem considerar o processo de globalização, seus impactos, conseqüências e desdobramentos. A internacionalização da economia e as conseqüências políticas, sociais e ambientais são motivo de debates. Neste universo, a questão da RSA prevalece entre os extremos e aflora – tal qual o iceberg em diferentes níveis de importância e divergências. Em 1995, a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development)1 havia mencionado a existência de 40.000 grandes firmas-parentais e cerca de 250.000 afiliadas estrangeiras. Os maiores ativos estrangeiros estavam concentrados em 25 corporações transnacionais, sendo que várias destas eram economicamente mais fortes do que nações ou grupos de países. O relatório da UNCTAD, de 1999, menciona 60.000 corporações e 500.000 afiliadas2. Com isso, foi consolidado o poder internacional de (i) corporações multinacionais (com domicílio determinado), (ii) corporações transnacionais (sem pátria própria), e (iii) empresas afiliadas3, em diversas partes do planeta. Hoje, importantes tópicos em política internacional dominam as discussões sobre a sobrevivência humana e os negócios das grandes corporações, tendo em conta o papel destas em relação (i) ao desenvolvimento sustentável, (ii) à governança corporativa global e (iii) à interferência desta nas políticas nacionais, determinada pelos investimentos estrangeiros diretos nos PNDs Países Não Desenvolvidos. 1 http://www.unctad.org/en/docs/wir95ove.en.pdf http://www.riia.org Briefing Papers. Halina Ward. 2001. Governing multinationals: the role of foreign direct liability. Briefing Paper New Series No. 18 Feb. 2001. 3 http://www.riia.org/riia/index.html Halina Ward. 2001. Governing multinationals: the role of foreign direct liability. The Royal Institute of International Affairs. Briefing Paper New Series Nr. 18. 2 Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 4 de 22 ____________________________________________________________________ Ação corporativa: contradições As informações foram obtidas através da Internet4. Algumas opiniões divergentes dificilmente serão harmonizadas, ao passo que outras poderão tornar-se irrelevantes, desatualizadas ou superadas, ao longo do tempo, por mudança de atitude ou de opinião dos respectivos autores. O teor, natureza e conteúdo dos textos usados são da responsabilidade de quem os produziu. Não houve julgamento ideológico, se a favor ou contra a RSA, nem de intenções ou agendas ocultas dos autores ou suas organizações. Na maior parte, não há identificação dos autores das informações acessadas, sugerindo que os pontos de vista ou afirmações são de caráter institucional. No geral, são produzidos por pessoas que participam de ONGs que se declaram apolíticas, apartidárias e de interesse público, mantidas com doações ou contribuições de associados. Outros são textos da responsabilidade de organizações governamentais ou de agências multilaterais, inúmeras destas patrocinadas, construídas sob a égide, ou em parceria com ONU Organização das Nações Unidas. Várias ONGs são pró-corporativas e abordam questões relacionadas a negócios, livremercado, globalização e desregulamentação. Outras se declaram comprometidas com causas pluralísticas, enquanto algumas têm como objetivo a fiscalização da conduta das empresas, em particular as corporações transnacionais. Não foi feito julgamento de valor das fontes usadas para retratar a situação da RSA para as organizações. Portanto, a autenticidade, confiabilidade e transparência das informações não estão sendo co-validadas. Apenas foram incluídas para que o leitor pudesse formar seu próprio juízo. É importante enfatizar que o nome da ONG não expressa, necessariamente, a missão, nem o objetivo da organização. Conselho Nacional não significa, necessariamente, ente acadêmico, da mesma forma como outros títulos, sinônimos de filantropia, não expressam, necessariamente, tal missão. Conselho Público não representa participação social aberta. Isto não implica, nem pressupõe, que os conteúdos, princípios e critérios apresentados por ONGs – ativistas, de interesse social ou pró-corporativas – sejam prejulgados como tendenciosos. Algumas ONGs declaram-se paladinas independentes das causas que defendem, mas, são consideradas, por outras, como lobistas disfarçados, para defesa de grupos com interesses particulares. Contestam-se, reciprocamente, com base em argumentos que julgam verdadeiros e suficientemente sólidos para justificar suas opiniões, em detrimento dos oponentes. Muitas vezes, o fazem a partir de citação de autores que ocupam posições importantes em entidades acadêmicas e técnico-científicas de reconhecimento público. Isto acontece, por exemplo, nas questões importantes para a RSA das organizações, como aquecimento do planeta, banimento de amianto, dioxinas, substâncias desorganizadoras do sistema endócrino, PVC, entre outros. 4 Foram utilizados os programas de buscas (browsers) comuns e, em especial, www.copernic.com e www.wisenut.com Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 5 de 22 ____________________________________________________________________ Os questionamentos encontrados têm forte motivação ideológica, mas não escapam de algumas constatações importantes a respeito da relação entre a sociedade humana e o ambiente natural. • • • • • O problema é de natureza complexa5 e não pode ser resolvido a partir de dados fragmentados, do discurso político sem fundamento, da moral do capital monetário, nem da visão acadêmica baseada em disciplinas isoladas do conhecimento. Trata-se, de fato, de um sistema heterogêneo que, para ser visto por inteiro, precisa resolver algumas situações essenciais. Os ricos não discutem o excesso de consumo e as desigualdades, e condenam o crescimento populacional dos pobres. Os pobres não discutem o crescimento populacional e condem o excesso de consumo e as desigualdades. A sustentabilidade não é contabilizada e os ricos não assumem os custos ambientais, mas, ao contrário, transferem-nos para as comunidades mais pobres. Diferenças de foco É importante reconhecer, desde já, a grande e principal diferença de foco entre as organizações pró-corporativas e as de interesse social. • • Líderes de empresas e de entidades representativas de negócios, de agências multilaterais e governantes em muitos países, inclusive no Brasil, defendem modelos voluntários, alimentados por auto-declarações. O desempenho socioambiental é entendido como ação desregulamentada. ONGs de interesse social reclamam da falta de regulamentos públicos essenciais, de mecanismos para auditagem externa obrigatória, de transparência e de falta de acesso público às informações de importância socioambiental, acompanhados de instrumentos para punição e rebaixamento de infratores e faltosos. Para estes, o desempenho socioambiental deveria estar sujeito a auditagem externa e conformidade legal. O primeiro grupo é representado por grandes corporações, suas entidades representativas e agências de governos, pródigos em propagar suas contribuições para o desenvolvimento sustentável. O grupo de negócios dispõe de forte organização financeira e institucional cujos paradigmas têm grande aceitação nos meios acadêmicos e governamentais. Com freqüência, seus porta-vozes têm assento e participação na formulação de políticas públicas em questões socioambientais, nos níveis nacionais e internacionais. O segundo grupo é relacionado ao ativismo ambiental, sem penetração relevante nos meios acadêmicos e governamentais. Com freqüência, são considerados destrutivos ou nãocolaborativos, especialmente quando se trata de ONGs que acompanham as ações das corporações (corporate watch) ou que denunciam infrações ou práticas de promoção de atributos embientais inexistentes [greenwashing] nos produtos, auto-declarações ambientais camufladas [whitewashing] e o uso indevido de rótulo, símbolo ou da logomarca patrocinada pelas Nações Unidas [bluewashing], para identificar ações de RSA. Ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, nota-se que, no Brasil, as ONGs não corporativas não têm acesso facilitado a núcleos acadêmicos, ao contrário do que ocorre com as ONGs empresariais e as empresas, propriamente ditas. As desigualdades no compartilhamento dos bens comuns globais e o domínio das corporações representam o centro de interesse – ou expressam o discurso – de ONGs e 5 David C. Korten. 1996. Quando as corporações regem o mundo. Futura, 417 pp. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 6 de 22 ____________________________________________________________________ pessoas 6. Para avaliar a situação de maneira ampla, é necessário ou, no mínimo, recomendável conhecer os argumentos e comentários emitidos por organizações que monitoram o desempenho e, em particular, discordam da conduta socioambiental corporativa7. Mercado No mundo atual, prevalece o entendimento de que o consumo é a chave para a felicidade e de que o mercado é o âmbito onde são realizadas trocas, compra e venda de bens e serviços. "A idéia humana baseada em valores humanos, leis e normas"8. Para a sociedade contemporânea, o mercado é visto como a entidade que determina e conduz os interesses e o destino dos povos; o universo no qual as empresas – especialmente as grandes corporações – vêem os acionistas, de um lado, e os negócios, de outro. Para isso, várias ONGs empresariais defendem que o mercado precisa ser livre, desregulamentado9. Há, também, a afirmação de que o mercado deve incorporar a eficiência e inovação como necessidades para o progresso sustentável do homem. Assim, será preciso levar em conta o meio no qual os negócios não sejam distorcidos por subsídios, tarifas e barreiras nãotarifárias10. Por outro lado, há críticos ao mercado (absolutamente) livre11 que reconhecem a necessidade, visão ou esperança, de natureza pluralística – segundo a qual o mercado deve atender a interesses mais amplos de pessoas e organizações, comportando agentes externos e internos, com funções reguladoras e de consumo. Ao contrário da visão globalista convencional, o entendimento socioambientalista vê o mercado como um sistema onde coexistem: • • 6 agentes internos, representados por negócios, interesses sociais e ambientais, inclusive das classes de baixa renda, excluídas e minoritárias e os paradigmas ambientais, tecnológicos e industriais emergentes; e agentes externos, caracterizados por o governo - incumbido de estabelecer as condições essenciais para a competitividade honesta, a valoração do capital moral, dos bens públicos, dos preços dos recursos de pleno custo, da distribuição justa e da sustentabilidade ecológica o e sociedade ou setor cívico, para a qual devem ser criados bons empregos, proteção à saúde segurança do trabalhador e da comunidade, ambiente limpo, http://iisd1.iisd.ca/pcdf/corporat.htm; David C. Korten. 1996. Quando as corporações regem o mundo. Edit Futura, 417 pp e outros mais recentes, citados em http://iisd1.iisd.ca/pcdf/2000/FEASTA%20Civilizing%20Human%20Society.htm http://iisd.ca/pcdf/post-corp/contents.htm 7 www.corpwatch.org - http://www.thirdworldtraveler.com/TWTwebsite_INDEX.html http://www.ink.uk.com/cw_p.htm - http://www.essential.org - http://www.bapd.org/gcotch-1.html http://www.globalcircle.net - http://www.igc.org/igc/en/hl/10004204076/hl1.html http://www.corpwars.net/news/prop/cwatch.html - http://lists.essential.org/1996/dioxinl/msg00764.html - http://www.eco-action.org/efau/contacts.html http://www.derechos.net/links/ngo/issue/corp.html - http://www.moenviron.org/corpwatchlinks.htm , entre outras. 8 WBCSD. 2002. The business case for sustainable development. 9 http://environmental.networkroom.com/index.html - Free market net. 10 WBCSD. 2002. Idem. 11 David C. Korten. 1996. Quando as corporações regem o mundo. Ed. Futura, 417 pp. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 7 de 22 ____________________________________________________________________ estabilidade econômica, famílias e comunidades fortes garantidas, e outros atributos de qualidade de vida. A visão de mercado é relevante, para a discussão da RSA das organizações, considerando-se que, também neste caso, há diferenças de enfoque. A proposta socioambientalista é de que o setor cívico deveria estabelecer a função de governo, para o funcionamento ideal do mercado. Entretanto, a globalização inverte a ordem e estabelece as regras de mercado que determinam a conduta do governo e do setor cívico. MERCADO Sistema onde coexistem Mercado pluralístico • negócios Agentes • interesses sociais e ambientais, inclusive das classes excluídas e minoritárias • e paradigmas ambientais, tecnológicos e industriais emergentes Mercado livre global internos Agentes externos Governo Setor cívico Consumo sustentável Organizações de diferentes setores revelam comportamento socioambiental distinto e, por conseqüência, causam diferentes impactos ou danos. A análise das características de diferenciação, volume e padronização dos produtos e processos e de desempenho no mercado, combinada com os aspectos ambientais, resultou na identificação de segmentos com diferentes níveis de impactos12. Embora a visão das questões socioambientais seja relativamente homogênea, representa ponto de partida útil para comparações (bechmarking) setorial. Setor econômico concentrado Minerais não-metálicos (cimento), química e petroquímica, hidrelétricas, ferrovias, construção pesada, papel e celulose, máquinas e equipamentos, fertilizantes. Efeitos ambientais interdependentes, envolvendo outras empresas do setor. Adoção de “gestão limpa” e atendimento a demandas ambientais externas. Estratégias socioambientais: redução de impactos, conformidade legal, redução de insumos industriais, forte interação com a comunidade, especialmente para preservação da imagem. 12 Andrade & col. 2002. Gestão ambiental. Makrom Books, 231 pp. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 8 de 22 ____________________________________________________________________ Setor econômico semicontrado Bens de consumo não-duráveis, como alimentos, têxteis, confecções, metalurgia, plásticos e borracha, madeira e móveis. Forte dependência de mão-de-obra e de consumidores assalariados, da rede de distribuidores e sob a influência da globalização da economia e de políticas públicas. Estratégias socioambientais: prevenção de impactos dentro e fora da planta industrial; conformidade legal; redução de insumos produtivos; prevenção de perdas; oferta de produtos ambientalmente amigáveis. Setor econômico misto Bens de consumo duráveis, típicos da indústria automobilística e eletroeletrônica. Alta diferenciação de produtos, preparada para fluxos de participação no mercado, altos investimentos na estrutura de vendas, controle sobre a demanda e produtos com obsolescência rápida e forte dependência a produtores de bens intermediários e com atenção às variáveis ambientais. Estratégias socioambientais: redução de impactos dentro e fora da planta e na cadeia de negócios; conformidade legal; redução de insumos industriais. Setor de empresas diferenciadas Bens de consumo não-duráveis e diferenciados, como farmacêutica, bebidas e fumo, higiene e limpeza. Baixa diferenciação tecnológica, pluralidade de sites de produção, para otimizar acesso a matérias primas, distribuição e comercialização. Empresas pequenas em grande número, para atendimento à demanda de grandes empresas. As organizações estão sob forte influência ambiental determinada pelo mercado, taxações e políticas governamentais. Estratégias socioambientais: prevenção de impactos; oferta de produtos ecologicamente diferenciados, em resposta a demandas crescentes; redução de impactos dentro e fora da planta industrial; redução de insumos em toda a cadeia. Setor de empresas competitivas Bancos, seguradoras, financeiras, creditícias, corretoras e financeiras em geral. Fortes barreiras para novas concorrentes, elevada regulamentação governamental e dependência a macroeconomia. Estratégias socioambientais: oferta de produtos ecologicamente diferenciados, em atendimento à crescente demanda de produtos verdes; redução de riscos e impactos dentro e fora da planta industrial; eliminação de perdas. Setor de serviços especializados Fornecimento de insumos para os demais setores, como agências de publicidade, consultorias especializadas, auditorias, profissionais especializados. Produto representado por alto conteúdo tecnológico e conhecimento, com forte dependência de pessoal qualificado, informações especializadas, bases e bancos de dados. Estratégias socioambientais: redução de riscos e impactos dentro da organização; redução de insumos de produção. Setor de serviços públicos Órgãos da administração direta e indireta, federal, estadual e municipal, empresas públicas, de economia mista, fundações, etc. Multiplicidade de estruturas e organizações, monopolizantes em muitos casos. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 9 de 22 ____________________________________________________________________ Estratégias socioambientais: redução de riscos e impactos internos e preservação da área de escritórios. Globalização e corporações A globalização é defendida como a "compressão do mundo e a intensificação da consciência do planeta como um todo" e "a interdependência e consciência global que antecede o advento da modernidade capitalista" 13. É considerada como ideologia da inevitabilidade, dádiva e fruto de forças históricas imutáveis, onde não há escolha: uma questão de adaptar-se e aprender a competir com os vizinhos.14 Uma nova ordem mundial, para o planeta sem fronteiras e empresas sem nacionalidade, operando em mercado desregulamentado, privatizado, sem barreiras cambiais e sem protecionismo. É a iniciativa que garante o livre fluxo de comércio e investimento, através das fronteiras e que resulta na integração da economia internacional. Para os países menos desenvolvidos, a globalização permite acesso ao capital externo, a mercados globais, tecnologias avançadas e a quebra de monopólios de produtores domésticos protegidos, mas ineficientes, resultando em crescimento mais rápido, redução da pobreza, democratização e padrões mais elevados de emprego e ambiente 15. A globalização é considerada a essencialidade que veio para ficar e que modifica a maneira como as firmas realizam seus negócios, em vista da velocidade com a qual o capital, bens e serviços viajam ao redor do mundo. A força impulsionadora de responsabilidade para o desenvolvimento sustentável, não mais como custo, mas, como necessidade para a sobrevivência das empresas 16, com base em importantes tendências: • • • • • • maior uniformidade de processos mudança na prática de manufatura-de-produto para o comércio-de-serviços descentralização corporativa, com aumento da importância das empresas no hemisfério sul estabelecimento de padrões e regras globais, por organizações multilaterais, para gestão ambiental e tecnologia de comunicação ampliação do espectro das partes interessadas e aprimoramento do arcabouço legal, nacional e internacional, fazendo com que os limites de comando-e-controle sejam conhecidos e, por isso, estabelecidas novas abordagens de colaboração para solução de problemas ambientais emergentes. Para os globalistas, trata-se de movimento a ser celebrado; que torna as economias mais eficientes, indivíduos mais abastados, sociedades mais livres; podendo ser "cruel" e mesmo "brutal e caótico"; que exige custos "ocasionalmente terríveis", mas que, na média, aprimora grande parte da humanidade. Que aumenta as desigualdades, deixa algumas pessoas para 13 . http://www.emory.edu/SOC/globalization/theories.html The Globalization Website. Teoria da cultura mundial 14 David C. Korten. 1996. Quando as corporações regem o mundo. Futura, 417 pp. 15 http://www.cato.org/current/globalization/index.html Cato Institute. Globalization. 16 http://www.unrisd.org/engindex/publ/news/17eng/flaherty.htm Margaret Flaherty and Ann Rappport 1997. Corporate environmentalism: from rhetoric to results. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 10 de 22 ____________________________________________________________________ trás, mas ajuda milhões a darem um salto para frente. Que pode piorar governos ruins, mas que não deve ser responsabilizada por isso. Que não destrói, mas melhora a geografia 17. A ideologia da globalização confunde-se com a de mercado - e vice-versa. Defensores do binômio mercado livre-globalização enfocam o "crescimento verde" com base em princípios coerentes com a globalização18: • • • • • exigir políticas de governo do tipo "não-cause-danos", reconhecendo que os homens de negócio obtêm melhores resultados ambientais aprimorar a proteção ambiental permitindo que o mercado funcione e encontre a solução para os problemas ambientais aperfeiçoar os programas de educação ambiental punir os reais poluidores, não os erros de formulários, deixando que os indivíduos e os negócios encontrem os melhores meios de atender os padrões promover o ambientalismo de base-comunitária ou de soluções locais. Mesmo para os que criticam os efeitos danosos sobre a proteção do trabalho, direitos humanos e ambiente19, a globalização é reconhecida como fator de integração de bens, serviços, idéias, informação e tecnologia. Para esses, alguns países ficarão para trás. Mas, o comércio dará oportunidade de crescimento econômico para nações empobrecidas; reduzirá os preços internacionais, aproximará os países e estimulará maior cooperação. A visão otimista20 é de que a mentalidade do empresariado está realmente mudando, para melhor e que, localmente, há diversos exemplos de que a RSA das corporações tem aumentado muito nos últimos anos. A prática de ações sociais beneficia não só os que são por elas auxiliados como também a própria empresa e seus funcionários, trazendo, por conseqüência, consideráveis ganhos competitivos. Ademais, os investidores têm dado uma atenção muito especial às empresas socialmente responsáveis, e elas sabem disso. Poucas são as grandes companhias multinacionais que não enxergam a veracidade da interpretação de que “a preocupação com o meio ambiente não é um ônus, e sim um bônus”, o mesmo se aplicando às ações sociais como um todo. Antiglobalização Do ponto de vista mais amplo, os efeitos da globalização não se limitam à economia, mas assumem características multidimensionais, interligadas e que abrangem as dimensões: militar, econômico-produtiva, financeira, comunicação-cultural, religiosa, afetivointerpessoal, científico-tecnológica, populacional-migratória, ecológica-ambiental, epidemiológica, policial-criminal e política21 . 17 Aspas colocadas pelo autor. http://www.emory.edu/SOC/globalization/reviews/micklethwait.html John Micklethwait and Adrian Wooldrige. A Future Perfect: the challenge and hidden promise of globalization. 18 http://www.ncpa.org/ba/ba262.html NCPA 1998. Green growth: five principles for a better environment. 19 http://www.monmouth.com/~uahc/reform/uahc/csa/member/globalizationmemo.htm UAHC-CCAR Joint Commission on Social Action. Memorandum. Nov. 2000. Globalizarion - human rights, labor rithts and environmental impact. 20 Comunicação pessoal. Dra. Paula Bennati - Advogada e Consultora em Meio Ambiente - Durvalino Picolo Advogados Associados S/C - Rua Zacarias de Góis, 1288 - Campo Belo -São Paulo - SP 21 http://www.ciaonet.org/isa/vie01 - Eduardo Viola. 1999. Multidimensionality of globalization, environmentalism, and the new transnational social forces. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 11 de 22 ____________________________________________________________________ Contrapondo-se aos globalistas, cresce, mundialmente, número de pessoas e organizações que criticam, protestam ou chegam a condenar a globalização, pelo principal fato de ter dado origem à expansão das corporações multinacionais (com nacionalidade) e transnacionais (sem cidadania identificada) e o incontrolável aumento do poder econômico, político, social e ambiental delas sobre os povos e governamentes22. As principais críticas estão centradas na ideologia, atitudes e justificativas da globalização, e nas justificativas, segundo as quais: • • • • consumerismo é igual a felicidade são as restrições governamentais que impedem o desenvolvimento social e econômico a fábrica (que polui) dá oportunidade econômica aos pobres o maior progresso econômico é igual a maior emprego e maior produtividade. Há afirmações de que a globalização cria o fluxo de tecnologias "sujas" para países com menor exigência ou padrão socioambiental, resultando n a externalização de custos, especialmente para os mais pobres e na exploração de ecossistemas além da capacidade de recuperação. A manifestação de vários grupos sociais, lobistas, organizações ativistas, inclusive extremistas mais violentos, defensores de diferentes causas e objetivos, é analisada como potencial ameaça à segurança pública e nacional23. No conjunto, são reações contra as organizações globais - como o Fundo Monetário Internacional, Conferência Mundial do Petróleo, Organização dos Estados Americanos (OEA), consideradas pontas-de-lança das corporações multinacionais, cujo poder tornou-se causador de: • • • • destruição de culturas e promotor de injustiça social abuso dos direitos humanos, práticas injustas de trabalho - inclusive de trabalho escravo e condições de habitabilidade falta de preocupação com o ambiente, uso de pesticidas e outras substâncias tóxicas e perigosas, destruição de florestas naturais, bioengenharia de cultivos agrícolas, má gestão dos recursos naturais e causador de danos ecológicos conluio com regimes repressivos, de um lado e sobreposição a governos nacionais eleitos. Para os críticos da globalização, vários fenômenos aconteceram, em conseqüência da expansão do poder corporativo, ou como fruto da combinação desse com outros processos globalizantes 24. • • 22 Superconcentração da decisão sobre o comércio mundial, em apenas cerca de 500 corporações. Desorganização do Estado-político, com a criação de agências de governo global, como ONU, FMI, BIRD (Banco Mundial), GATT-OMC, NAFTA (Área de Livre David C. Korten. 1996. Quando as corporações regem o mundo. Futura, S. Paulo, 417 pp http://www.csis-scrs.gc.ca/eng/miscdocs/200008_e.html Anti-globalization - A spreading phenomenon. Aug. 22, 2002. 24 David C. Korten. Citado acima. - http://www.radicalmiddle.com/manifestos.htm http://www.hampshire.edu/offices/ome/iso/ford/june.shtml http://www.wealth4freedom.com/truth/chapter11.htm http://www.divinerightocapital.com/change.htm - http://www.csisscrs.gc.ca/eng/miscdocs/200008_e.html http://www.monmouth.com/~uahc/reform/uahc/csa/member/globalizationmemo.htm . 23 Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 12 de 22 ____________________________________________________________________ • • • • • • • • Comércio das Américas), APEC (Comunidade Econômica do Pacífico), Masstrich (Comunidade Econômica Européia). Tecnologias organizacionais globais, tipificadas pelo dowsizyng gerador de desemprego em massa, causadoras de crises pessoais e familiares; controle de câmbio para garantia do valor da moeda pelas corporações transnacionais; livre migração de capital e de plantas industriais, para onde o lucro fosse mais fácil e maior; integração multinacional da produção, matérias primas e produtos, com externalização de custos sociais e ambientais. Alteração da legislação nacional e internacional dificultando ou impedindo que as organizações transnacionais - em especial seus dirigentes - pudessem ser alcançados pela lei. Impedimento do uso de restrições ambientais nacionais para solução de problemas causados pela falta de harmonização de padrões, prevalecendo os mais baixos, com aceitação da decisão da OMC para arbitragem internacional. Desintegração social marcada por pobreza, desemprego, desigualdades, violência, criminalidade, desagregação familiar, migrações, doenças crônicas e defeitos genéticos. Desintegração ambiental caracterizada pela exploração de recursos naturais além da capacidade de recuperação dos ecossistemas, concentração de lixo e resíduos, principalmente tóxicos e perigos, desertificação, rebaixamento do lençol freático, externalização (socialização) de custos ambientais para a sociedade, em particular para os pobres. Concentração de renda e avaliação do progresso pelo aumento do número de milionários e bilionários, ao invés da redução da pobreza. Ampliação dos direitos de propriedade e dos direitos exclusivos do proprietário, em que o fraco acaba sem direitos. O aumento da velocidade dos giros financeiros e o fortalecimento da hegemonia dos países ricos (Grupo G-7/8) debilitaram os Estados nacionais, especialmente os periféricos e fragilizou as instituições no âmbito de cada País. Desemprego, pobreza e danos ambientais expandiram-se em velocidade fantástica. Ocorreu aumento da informalização no mercado de trabalho, particularmente nos países emergentes25. As reações mais violentas contra a globalização são motivo de análises de segurança, mas apontam para a existência de mensagens otimistas que apostam na reestruturação e aumento da transparência das corporações26. Há o reconhecimento de que as práticas adotadas para privatizações e outras medidas para abertura nacional ao mercado global não trouxeram melhorias para a população na última década, em preços, qualidade, riquezas; nem que os investimentos externos fluiram para as economias, para criar novas oportunidades de emprego. Ao contrário, pioraram as condições de emprego e renda, encareceram os preços27. Entretanto, as causas não estão apenas no modelo de globalização, cabendo responsabilidades à arquitetura do sistema político e cultura cívica. A fragmentação política é grande, faltam acordos para legislação e cidadãos com alto compromisso com a lei e grande capacidade de organização autônoma para finalidades públicas. 25 Mercadante, Aloizio. 2002. O Fórum social e a democracia global. Folha de São Paulo, 10 de fevereiro de 2002, pág. B2. 26 Anti-globalization - A spreading phenomenon. Já mencionado. 27 Daniel Piza. Entrevista. Populismo, tentação permanente da América Latina. Héctor Aguilar Camín. Jornal O Estado de S. Paulo, 9 de junho de 2002, pág. A20. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 13 de 22 ____________________________________________________________________ Para advogado com atuação no âmbito das corporações28, somente será possível implementar o "código de responsabilidade corporativa" se houver mudança na legislação que estabelece a constituição da corporação, uma vez que esta inibe, no seu fundamento, a responsabilidade social e isenta os dirigentes de ações civis. Com isso, prevalece o estímulo para a razão de ser que hoje prevalece - qual seja - ganhar dinheiro, de qualquer maneira, para o investidor. Para outros29, as corporações multinacionais são capazes de influenciar, determinar e coordenar, de suas sedes, as atividades de suas afiliadas, em qualquer parte do mundo. Portanto, devem responder por produtos e atitudes socioambientais negativas. Mudanças de atitudes, acordos e ações voluntárias para mudança de conduta socioambiental das corporações globais não são consideradas suficientes e não têm o efeito de jurisprudência internacional que submetesse as organizações parentais, em suas próprias sedes, a ações civis por danos e crimes socioambientais causados nos países onde atuam, através de subsidiárias, filiais ou associadas, independente do país de origem. Ações dessa natureza, impetradas por trabalhadores, comunidades prejudicadas ou ONGs já estão sendo julgadas contra empresas com sede no Canadá, Reino Unido, EUA e Austrália, por infrações cometidas em diferentes países da África e América Latina. O tema é complexo, uma vez que comporta: reações diplomáticas de intervenção estrangeira em assuntos domésticos; alegações de fórums indevidos; diferenças e entendimentos de juízes e advogados sobre a legislação a prevalecer; corrupção; uso político de ameaça de relocação das corporações, para regiões ou países com menor exigência legal ou de padrões de desempenho; restrição total ou parcial dos relatórios de desempenho socioambiental (transparência); dificuldade para identificar a "melhor prática" e os "padrões internacionais"; dificuldade para delimitar os limites da responsabilidade corporativa. Infelizmente, a legislação internacional sobre questões de RSA não acompanhou a intensidade e rapidez da expansão das corporações pelos continentes e a predominância das organizações sediadas nos países ricos30. Com isso, houve considerável prevalência das nações desenvolvidas, tanto na regulamentação, como nos processos de decisão sobre litígios nas áreas de comércio, saúde, ambiente, etc. Assim, os interesses das corporações também passaram a ser melhor defendidos e prevalecendo, quase sempre, na agenda de outras nações. É forçoso reconhecer que a legislação brasileira tem se mostrado eficaz quanto à responsabilização da pessoa (física ou jurídica) causadora de danos ambientais. Os dirigentes das grandes corporações têm pleno conhecimento (e se intimidam) com a possibilidade de serem indiciados pelo dano ambiental decorrido das atividades exercidas pela sua empresa. Todos conhecem a Lei de Crimes Ambientais, Lei nº 9.605/98, e seu decreto regulamentador, que também trata da responsabilização administrativa, Decreto nº 3.199/99. A principal questão é se o braço da lei vai até o final da ação. 28 http://www.divinerightocapital.com/change.htm - Robert Hinkley. 2002. Corporate social Responsibility Report. How corporate law inhibits social responsibility. Jan/Feb 2002. Business Ethics. www.business-ethics.com 29 http://www.riia.org/riia/index.html Halina Ward. 2001. Governing multinationals: the role of foreign direct liability. Briefing Paper New Series nr. 18. Feb. 2001 30 Comunicação pessoal, por gentileza da Dra. Paula Bennati - Advogada e Consultora em Meio Ambiente - Durvalino Picolo Advogados Associados S/C - Rua Zacarias de Góis, 1288 - Campo Belo -São Paulo - SP. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 14 de 22 ____________________________________________________________________ Além de mudanças na legislação internacional, há sugestões para solução de problemas da globalização através de iniciativas de parte dos governos31. 1. Colocar as pessoas, em primeiro lugar. As ações da OMC devem ser reavaliadas com base no impacto dos acordos como GATS (Acordos Gerais de Comércio e Tarifas) e TRIPs (Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual) sobre as populações mais pobres e para compartilhar benefícios econômicos com justiça. 2. Restaurar o controle nacional sobre o desenvolvimento - Permitir que os países determinem seu próprios trajetos, livres da ideologia de organismos globais (Banco Mundial e FMI) e determinando condições para o desempenho e investimento de multinacionais em seus próprios territórios. 3. Abolir o protecionismo em países mais ricos - Eliminar barreiras, a fim de permitir que os países não desenvolvidos tenham acesso aos mercados mais ricos, especialmente nos subsídios para o setor agrícola. 4. Dar prioridade para os pobres - Favorecer a distribuição e equidade. 5. Responsabilizar as multinacionais - Estabelecer meios legais para que as multinacionais sejam responsabilizadas pela prática de padrões socioambientais elevados, sob a monitoria de mecanismo internacional de regulamentação de atividades e auditoria independente. 6. Construir espaço democrático para o debate genuíno - Tornar as decisões de organizações globais (OMC, FMI, Banco Mundial) menos sujeitas ao poder econômico das nações mais ricas, para não marginalizar as nações mais pobres. 7. Regulamentar os mercados de capital - Criar medidas para evitar a ação predatória do investidor financeiro, provocando crises para as economias nacionais e estimulando o fluxo financeiro dos países desenvolvidos para os não desenvolvidos. Lucro a qualquer preço ou distribuição de riquezas e benesses? O modelo econômico convencional encontra-se disseminado em todos os países. Na busca do alinhamento global, governantes e líderes de outras nações o introduziram em políticas públicas de natureza institucional, econômica, social e ambiental, expandindo o pensamento econômico unitário. Várias organizações esforçam-se para mudança de foco. As diferenças dos valores, mostrada pelo IGP Índice Genuíno de Progresso em relação ao PNB Produto Nacional Bruto são expressivas. Além disso, deverão ser considerados outros índices não-monetários, como a Pegada Ecológica32. A incorporação dos novos conceitos socioambientais e econômico-ambientais ficou, assim, na dependência do comportamento das grandes corporações, levando-se em conta o poder ou a influência que exercem sobre os governos de vários países. 31 http://pilger.carlton.com/globalisation/multinationals Globalisation. Alternatives. Seven solutions. Ecological footprint http://www.lead.org/leadnet/footprint http://www.rprogress.org/programs/sustainability/ef - http://www.ire.ubc.ca/ecoresearch/ecoftpr.html - http://www.ecouncil.ac.cr/rio/focus/report/english/footprint - http://www.dieoff.com/page110.htm 32 Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 15 de 22 ____________________________________________________________________ É preciso relembrar que o poder das grandes corporações33 é demonstrado por vários fatos: • • • • dominam 33% do comércio global e 80% dos investimentos e estabelecem as regras do processo de globalização entre as 100 maiores economias mundiais, 51 são corporações transnacionais e 49 são países as 200 maiores corporações dominam de mais de 25% das atividades econômicas mundiais, concentradas em cinco setores: trading, automobilístico, bancos, varejo e eletrônica os maiores faturamentos anuais globais estão nas mãos de 9 transnacionais Corporação Exon Mobil Wal Mart GM Ford Motor Daimler Chrysler Shell British Petroleum GE Mitsubish Toyota • • • • US$Bi 210 193 184 180 150 149 148 129 126 121 Significado > PIB 169 entre 192 países PIB do Brasil > PIB da Dinamarca 2 x > PIB da Nigéria > PIB da Noruega excluindo-se 9 países (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Brasil, Canadá e China) a soma do PIB Produto Interno Bruto de outras 182 nações é de US$6,9 trilhões, enquanto as vendas das 200 grandes corporações chegam a US$7,1 trilhões (o PNB mundial foi da ordem de US$29,6 trilhões, em 1997) as ONGs corporativas - como International Chamber of Commerce, European Roundtable of Industrialistas, Transatlantic Business Dialogue, Chemical Manufacturers Association, etc. - reúnem as corporações líderes mais poderosas do mundo e concentram enorme poder de lobby para influenciar políticas globais sobre o comércio e investimento a eliminação de empregos, pelas 200 maiores corporações (nos últimos anos), chegou a 18,8 milhões, dentre a força de trabalho mundial de 2,6 bilhões de pessoas, devendo ser considerado que as grandes corporações afetam, praticamente, todas as nações34 as grandes corporações transnacionais não têm crescido, mas fundidas e enriquecidas, e aumentada a comercialização intra-firmas (intra-trading). Comentários locais destacam que: 33 Top 200: the rise of global corporate power. Sary Anderson and John Cavanagh. http://www.globalpolicy.org/socecon/tncs/top200.htm; ILO Multinational Corporations http://www.itcilo.it/english/actrav/telearn/global/ilo/multinat/multinat.htm http://pilger.carlton.com/globalisation/multinationals - Revista Veja. 20/março/2002, p. 105. 34 A prática de downsizing é recomendada como estratégia gerencial, adotada por inúmeras empresas. As consequências, do ponto de vista social, são maléficas: causa desemprego permanente, perda de patrimônio (casa própria) e aumento da taxa de suicídio. Segundo John Orlando. The fourth wave: the ethics of corporate dowsizing. http://www.fctstaff.bucknell.edu/pagana/mg312/orlando.html Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 16 de 22 ____________________________________________________________________ • • • dos 100 maiores PIBs do mundo, 50 são de empresas e os demais 50 de países ricos. O faturamento em 2002, das 10 maiores corporações mundiais, foi 40% superior ao PIB de todos os países da América Latina, inclusive o México. O faturamento das 5 maiores empresas norte-americanas é 60% maior que o PIB do Brasil35 as multinacionais que operam no Brasil cresceram 146% na década liberal de 90, sem contribuir, proporcionalmente, para ampliação da capacidade exportadora do País36 a globalização aumentou a velocidade dos giros financeiros, fortaleceu a hegemonia dos países ricos (Grupo G-8) e o poder das grandes corporações, debilitando os Estados nacionais, especialmente os periféricos e fragilizou as instituições no âmbito de cada País. Desemprego, pobreza e danos ambientais expandiram-se em velocidade fantástica. Ocorreu aumento da informalização no mercado de trabalho, particularmente nos países emergentes37. Não há como ignorar que o progresso tecnológico e a oferta de bens e serviços ocorreram em grande velocidade. Entretanto, as críticas ao domínio mundial pelas grandes corporações aumentam38 e as estatísticas mundiais revelam a falta de equidade no compartilhamento dos bens globais comuns e das benesses. Ao invés da aldeia global, está ocorrendo o apartheid econômico global. Há a visão de que, se o mundo tivesse apenas 100 habitantes39, 61 seriam asiáticos, 12 europeus, 13 africanos e 14 americanos do norte ao sul. Metade seria de homens e metade de mulheres, sendo 26 brancos e 74 não-brancos; 67 não-cristãos. Apenas 6 habitantes, dos 100, dominando 59% da riqueza mundial e 80 vivendo na pobreza. 33 morreriam de fome e apenas 7 teriam educação superior.40 Cerca de 4,8 bilhões, do total de 5,6 bilhões de habitantes do mundo, vivem em países onde a média da Renda Per Capita é menos do que US$1.000 por ano. A desregulamentação e privatização são reverenciadas pela academia e por ícones de negócios. Entretanto, não contribuíram para a solução de problemas representados por riscos da poluição (chuva ácida, desertificação, erosão, oxidação), insegurança no emprego, prevenção de acidentes, utilidade social de produtos, desorganização e exclusão social, pobreza, conflitos étnicos, pandemias, crime organizado e outras dimensões na tríade socialambiental-seconômica. O mercado livre passou a ser considerado perverso. Para isso, são usados, como exemplos, os efeitos nacionais (acelerados a partir de 2001) para a Argentina - ou os danos provocados por ação corporativa, demonstrado pelo escândalo na empresa Enron em 2001-2002. • 35 A catástrofe da Argentina (ano 2002) mostra como um país, após cumprir as principais regras do pensamento econômico unitário, viu-se na direção do caos econômico, político e social. Para alguns, a causa foi atribuída à incompetência e desgoverno de dirigentes; para outros, aquelas mais a corrupção em vários segmentos das elites. Helio Mattar. 2002. consumo consciente e responsabilidade social. Diálogos Akatu, pág. 3-10. Instituto Akatu, S.Paulo. 36 Fernandes, Fátima. 2002. Folha de São Paulo, 10 de fevereiro de 2002, pág. B1. 37 Mercadante, Aloizio. 2002. O Fórum social e a democracia global. Folha de São Paulo, 10 de fevereiro de 2002, pág. B2. 38 http://www.globalpolicy.org/socecon/tncs/index.htm 39 http://www.worldbank.org/depweb/english/modules/economic/gnp/index.htm 40 http://www.luccaco.com/terra/terra.htm Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 17 de 22 ____________________________________________________________________ • O caso da Enron foi visto como fruto do modelo de mercado livre, desregulamentado e privatizado, onde são permitidas cooptação, corrupção e desonestidade, em todos os níveis de poder41, e interpretado como fato gerado nos intestinos da economia42. Em julho de 2002, foram revelados desvios de conduta na demonstração de resultados financeiros de grandes corporações, da ordem de 50 bilhões ou mais de US Dólares, colocando em dúvida a honestidade de empresas paradigmas do modelo capitalista global. A realidade mostra que grandes parcelas de homens e mulheres, as pessoas que formam a sociedade humana, não constituem, na prática, partes interessadas, segundo o próprio jargão das organizações. São partes excluídas do sistema. Há defensores do mercado livre e desregulamentado para quem as iniciativas de RSA são atribuição de governos e de organizações sociais, particularmente as igrejas. Para outras, entretanto, as a empresa é um ente criado pela sociedade, da qual recebe a permissão para operar e que, por isso, deve cumprir obrigações sociais e ambientais, como parte da própria estratégia central de negócios. Para estes, as organizações produtoras de bens e serviços são parte do ambiente, já definido como fruto da combinação dos meios físico, biológico e cultural. Conformidade e pró-ativismo empresarial Para investir, produzir e vender bens e serviços, na sociedade humana43, as organizações precisam atender normas e regulamentos estabelecidos e obter a permissão formal de agências que governam o Estado44. A licença para operar implica em assumir responsabilidades e desempenhar ações sociais e outras de caráter ambiental, estabelecidas na legislação e regulamentos específicos que variam de uma nação para outra. Entretanto, várias questões socioambientais não são objeto de conformidade e contribuem para impactos negativos importantes, especialmente as que afetam as correlações entre a atuação das empresas e a coesão e estabilidade da sociedade. É necessário, portanto, que as organizações reconheçam que o impacto socioambiental por elas provocado está diretamente relacionado à natureza das atividades ou negócios, do porte dos efeitos e dos impactos e de outras características relativas a aspectos específicos de cada organização. 41 Sheila Mcnulty. Lobby da Enron atingia todos os poderes. Folha de S.Paulo, Caderno Dinheiro B, pág. 10. 2 março 2002. 42 [email protected] "corporate control of politics, executives getting rich while their company sinks, employees laid off by the thousands, 401(k) plans tanking, messes left by deregulation, a corporate board asleep at the switch. All are themes in the Enron soap opera, yet not one is unique to Enron. The problems the scandal reveals are systemic. The individuals involved may have been uniquely greedy and unethical, but they were empowered by a system that exalted greed as it diminished ethics and accountability" Waving Goodbye to the Invisible Hand: What Enron teaches us about economic system design. By Marjorie Kelly Author, The Divine Right of Capital Publisher, Business Ethics magazine. San Francisco Chronicle Sunday 2-24-02 e Business Ethics, PO Box 8439, Minneapolis, MN 55408. 43 Agrupamento de pessoas que vivem sob normas de conduta comuns. 44 O termo Estado é usado para representar o conjunto de poderes políticos de uma nação. Governo significa a organização encarregada de administrar os interesses do Estado. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 18 de 22 ____________________________________________________________________ Assim, qualquer que seja o tipo e porte, a organização - especialmente as corporações e, dentre estas, as transnacionais - precisa desempenhar papéis socioambientais proporcionais à sua capacidade, proximidade, conscientização, conhecimento e responsabilidade por impactos. Mas, sem que isso lhe confira - especialmente para as corporações transnacionais o direito e o poder para estabelecer escolhas políticas e sociais para a nação45 . Empresa com fins lucrativos e RSA A concentração de riqueza nas empresas fez com fossem indagadas quais seriam as limitações para se governar o futuro das sociedades e a própria sustentabilidade do planeta 46. Ou por que as pessoas que ocupam posições na alta administração das grandes empresas consideram as ações de RSA descabidas para a empresa de negócios, apesar dos inúmeros exemplos ao contrário47. A revisão do pensamento acadêmico internacional e os efeitos da atuação social na dinâmica empresarial em organizações brasileiras selecionadas48, revelou resultados positivos e negativos no desempenho gerencial, econômico-financeiro, mercadológico e em inovação, algumas vezes não percebidos no mercado, nem pela própria organização. Com isso, levantase a contradição sobre o papel da empresa em relação aos demais membros da sociedade humana. Criar riquezas apenas para os proprietários e acionistas? Neste caso, tal ‘como o Estado Feudal, a corporação considera-se uma peça de propriedade, não uma comunidade humana, de maneira que possa ser possuída e vendida pela classe de proprietários’49. Criar e distribuir riquezas? Aqui, leva-se em conta que os "Indivíduos e grupos participantes no processo de criação de riqueza, seja intencionalmente ou por conseqüência, são as partes interessadas da corporação"50. Críticos mais contundentes afirmam que os acionistas são os donos e consideram a corporação como um objeto que pode ser possuído e cujos senhores (os acionistas) podem fazer o que desejarem como o objeto de sua propriedade, mesmo quando a venda envolve valores intangíveis, como a qualidade e capacidade de recursos humanos51. Para uns (infelizmente poucos, na prática), "a maioria das organizações avançadas está consciente de que não basta desempenhar bem, financeiramente, mas também assumir a responsabilidade por qualquer impacto social potencial causado pelas 45 www.un.org/documents/ecosoc/cn17/background/ecn171998-bp8.htm Corporate management tools for sustainable development. UN Commision on Sistainable Development. 20 April-1May 1998, 10 pp. 46 Mattar, Hélio. 2002. Já mencionado. 47 http://www.zadek.net/publishedreports.html Weiser, John & Zadek, Simon. Nov. 2000. Conversations with disbelievers. 128 pp. 48 Fernanda Gabriela Borger. 2001. Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. Tese. USP, FEA, 246 pp. 49 http://www.business-ethics.com. 50 www.rotman.utoronto.ca/~stake/Consensus.htm 51 www.divinerightocapital.com/excerpts Comentários sobre “The Divine Right of Capital”, Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 19 de 22 ____________________________________________________________________ atividades"52. Ou que "os líderes mundiais de negócios devem ajudar a construir os pilares sociais e ambientais requeridos para sustentar a nova economia global e fazer com que a globalização trabalhe para todos os povos do mundo"53Há quem pense que - apesar do avanço em RSA - as empresas "não destinarão uma parte significativa de seus lucros para que sejam distribuídos na sociedade, pois este não é seu papel"54. A "licença para operar", concedida pela sociedade, aponta para necessidade de auditoria ou verificação de como a organização conduz seus negócios, quanto aos efeitos ou impactos sociais, éticos e ambientais, como é exigido, por exemplo, pela auditoria fiscal. Esta tendência - crescente na Europa - resulta do entendimento de que as partes interessadas (stakeholders) "têm o legítimo direito de saber o que está acontecendo, senão para exercer alguma influência"55. Opiniões ainda mais profundas denunciam casos de violação, por grandes corporações transnacionais, de princípios como os estabelecidos pelo acordo Global Compact, no nível das Nações Unidas56. O Global Compact é um código de conduta voluntário, de âmbito global, proposto e implementado pela ONU, pelo qual as empresas – grandes corporações – se comprometem a atender os princípios, abrangendo direitos humanos, trabalho e ambiente. Empresa e sustentabilidade Vários paradigmas socioambientais, criados a partir do início da década de 90, estão provocando mudanças nas relações entre a empresa e a sociedade. Merecem destaque, para exemplificar, Economia de estado estável, Pegada ecológica, Fardo ecológico, Código de conduta, Responsabilidade social corporativa, Desenvolvimento sustentável, Resultado Final Tríplice, entre outros. Para enfrentar os novos desafios, as empresas dispõem de ferramentas e tecnologias organizacionais e operacionais 57para: • medição – Capital natural, Capacidade de carga, Indicadores, Intensidade de material (e energia) por unidade de serviço, Emissão zero; • visão – Sistema de produto, Fator 4, Fator 10, Passos naturais • e organização – Ecoeficiência, Produção Limpa, Produção eco-inteligente, Avaliação do Ciclo-de-Vida de produto (Gestão integrada de Produto), Design para o ambiente (Ecodesign), Sistema de Gestão Ambiental, Estudo de Impacto Ambiental, Relatório de Impacto Ambiental, etc. As questões mais relevantes, hoje, são: 52 www.thencbs.co.uk/body_social_intro.html http://www.unglobalcompact.org/un/gc/unweb.nsf/content/whatitis.htm United Nations SecretaryGeneral Kofi Annan 54 Leal, Guilherme. 2002. Responsabilidade social empresarial, p. 17-19, em , em Diálogos Akatu. A gênese do consumidor consciente. Instituto Akatu. ano 1, nr. 01. 55 www.cbs-network.org.uk/socaudhi 56 Bruno, Kenny. 2002. Greenwash +10. The UN’s Global Compact, Corporate Accountability and Johannesburg Earth Summit. www.corpwatch.org/campaings/PCD.jsp?.articleid=1348 57 Temas abordados em outros textos da série Gestão com responsabilidade socioambiental. 53 Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 20 de 22 ____________________________________________________________________ • • • como a empresa se torna responsável, perante a sociedade? quais as atitudes e procedimentos para o alinhamento dos princípios de Desenvolvimento sustentável no eixo de negócios? o que fazer para que, além do retorno ou lucro para o Capital monetário investido, a empresa alcance bom desempenho em relação ao Capital Social ou Humano e ao Capital Natural? A necessidade de encontrar respostas para tais questões ainda é discurso, de parte de dirigentes e de grande número de colaboradores (denominação atual para os funcionários) e dos próprios consumidores. Pesquisa mundial com mais de 25.000 consumidores em diversos países, mostrou que a qualidade dos negócios vai além de cumprir a lei, pagar os impostos e dar emprego. Dois, em cada três consumidores, disseram que a empresa deve contribuir para objetivos mais amplos da sociedade58. Outras pesquisas, com dirigentes na Europa do norte, sinalizam que as empresas estão no caminho do desenvolvimento sustentável59. Neste sentido, é importante reforçar o relacionamento que está sendo feito, por especialistas e empresas de análise de tendências, entre Desenvolvimento sustentável e Resultado Final Tríplice 60, considerados megatendências ou direcionadores globais para as empresas existentes e que deverão surgir no futuro. Perfil geral da empresa com RSA 1. Assumir a responsabilidade pelas conseqüências de seus atos, bens e serviços introduzidos no ambiente público, perante todas as partes interessadas (stakeholders), incluindo-se os acionistas e investidores (stockholders ou shareholders). 2. Integrar, em suas atividades e negócios, as ações e iniciativas relacionadas ao desenvolvimento (não meramente o crescimento) econômico, o bem estar e equidade social e a sustentabilidade da qualidade ambiental. 3. Aperfeiçoar o uso continuado das melhores práticas. 4. Aumentar, continuamente, a transparência de suas práticas, abrangendo (a) o consumo de bens naturais, (b) os investimentos e os resultados benéficos e maléficos em relação ao Capital monetário, Capital humano ou social e Capital natural. Ações e iniciativas gerenciais e tecnológicas 1. Identificar a legislação e regulamentação aplicáveis à organização e o setor no qual opera; os paradigmas e direcionadores mais relevantes e relacioná-los aos modelos gerenciais, industriais e tecnológicos adotados ou prevalentes, levando em consideração o mercado local, nacional, regional ou global, de acordo com o campo e porte de atuação da organização. 2. Analisar, dominar e estabelecer o engajamento das partes interessadas, a fim de alinhar as atividades da organização ao atendimento dos interesses, necessidades e 58 Wilson, M * Lombardi, Rose. 2001. Globalization and its discontents: the arrival of Triple-BottomLine Reporting, entre outros artigos. www.pcwglobal.com (pesquisar Triple Bottom Line) 59 Pesquisar no site da Price Waterhouse, www.pcwglobal.com. 60 Temas abordados em capítulos distintos da série Gestão com responsabilidade socioambiental. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 21 de 22 ____________________________________________________________________ expectativas daqueles, tomando as necessárias medidas para eliminar conflitos entre estas, de um lado e, de outro, os objetivos econômicos da empresa, segundo a visão dos proprietários, acionistas e investidores. 3. Interpretar o conceito de Desenvolvimento Sustentável, segundo os negócios e atividades da organização e traduzi-lo, em linguagem apropriada, através de documento de política (governança organizacional), de modo a ser compreendido pelo quadro de colaboradores, em particular, e das demais partes interessadas, em geral. 4. Identificar os principais aspectos e questões que intervêm ou interferem nas relações entre os elementos socioambientais e o comercio local, nacional, regional ou global de produtos e serviços, no campo ou área de interesse da organização, inclusive a visão de futuro, através de cenários envolvendo aspectos socioambientais. 5. Estabelecer os objetivos gerais da organização, relacionados ao Desenvolvimento Sustentável de modo que (a) façam parte do processo de decisão de negócios, no nível da administração superior, (b) sejam alinhados ao eixo de atividades e negócios e (c) possam ser inseridos no modelo de Planejamento Estratégico da organização. 6. Estabelecer sistema para relacionar as ações socioambientais às diferentes unidades operacionais e centros de custos orçamentários, tomando como referência o eixo central de atividades ou negócios, as metas e objetivos da organização. 7. Estabelecer objetivos socioambientais a serem alcançados em cada unidade operacional da organização, levando em conta aspectos de conformidade negocial ou de atribuição socioambiental interna e qualidade socioambiental externa. 8. Estabelecer o modelo de Gestão e Planejamento Socioambiental Integrado, levando em consideração (a) os compromissos econômicos, éticos e socioambientais e (b) os princípios de Desenvolvimento Sustentável, bem como o alinhamento de todos ao eixo de atividades da organização. 9. Elencar e atribuir valores indicativos de relevância e prioridade para os conceitos, ferramentas e tecnologias socioambientais aplicáveis à política de atuação da organização, visando a construção e o aprimoramento de melhores práticas gerenciais de base socioambiental. 10. Consolidar a capacitação interna para gestão de projetos de base socioambiental, com especial foco na identificação e solução de problemas ou de identificação e aproveitamento de oportunidades. 11. Implementar e consolidar a capacitação interna para arrumação da casa ou uso de medidas voluntárias de bom senso – Good housekeeping e de supervisão gerenciada de produto (Product Stewardship), com foco em (a) prevenção de perdas de água, energia, materiais, emissões e resíduos e (b) aprimoramento de melhores práticas. 12. Definir áreas ou questões relevantes, para atendimento continuado, tais como: energia, água, matérias primas e insumos, resíduos e lixo industrial, processo produtivo de bens e serviços, desempenho de contratados e fornecedores, saúde e segurança dos colaboradores internos, dos moradores do entorno e dos consumidores, em geral; qualidade socioambiental das partes interessadas, preparação e prontidão para acidentes, entre outros. Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Empresa e a sociedade. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 22 de 22 ____________________________________________________________________ 13. Estabelecer mecanismos e processos de aferição de recursos usados e valores incorporados, do ponto de vista econômico, social e ambiental. 14. Criar indicadores de desempenho, relacionando as atividades benéficas e maléficas da organização, com foco em Desenvolvimento Sustentável e Ecoeficiência. 15. Estabelecer e implementar, em bases de aprimoramento contínuo, o processo de avaliação de desempenho tríplice – econômico, social e ambiental – e de comunicação auditada por partes independentes, das melhores práticas, da contabilização e do desempenho, para todas as partes interessadas, de acordo com o princípio de acesso público às informações sobre segurança e risco de processos e produtos.