ANÁLISE DO SETOR DE ZINCO PELOS MODELOS DE PORTER E AUSTIN Flávio Hasenclever Borges Mestrando em Engenharia Industrial pela PUC-Rio Rua Marquês de São Vicente, 225 22453-900 – Rio de Janeiro – RJ Paulo Roberto Tavares Dalcol Departamento de Engenharia Industrial PUC-Rio Rua Marquês de São Vicente, 225 22453-900 – Rio de Janeiro – RJ Abstract: In terms of consume and demand, zinc is the fourth metal lagging behind only of iron, aluminum and copper. Its importance tends to increase, in the next years, due to its growing rate of application perspectives, guided buy developing countries such as Brazil. Being aware of the important of studying this industrial sector, the present paper approaches several variables and possibilities of the zinc industry. The main objective is to fulfill a literature gap providing not only a technical view – as almost the totality of the papers which concerns zinc industry – but mainly a focus on strategic and administrative topics. Key-words: Zinc Industry, Industrial Sector Analysis, Competitive Advantage 1 - Introdução O Modelo para Análise da Estrutura de uma Indústria idealizado por Porter (1986) é uma metodologia genérica e aplicável a todo tipo de indústria. Essa análise fundamenta-se no entendimento de cinco forças competitivas a saber: 1) Ameaça de Novos Entrantes; 2) Rivalidade Entre Empresas Existentes; 3) A Ameaça de Produtos Substitutos; 4) Poder de Negociação dos Compradores e 5) Poder de Negociação dos Fornecedores. A análise estrutural tem como objetivo identificar as características básicas da indústria com foco na sua economia e tecnologia, por considerar estes fatores preponderantes na determinação do ambiente. O conhecimento destas forças faz vir à tona os pontos fortes e fracos da empresa, além de situar a mesma em relação a seus concorrentes. Porter (1992) considera a concorrência em uma indústria como uma “rivalidade ampliada”, uma vez que os concorrentes não se limitam aos participantes estabelecidos, mas sim a todos os atores envolvidos: clientes, fornecedores, substitutos e entrantes. A intensidade de determinada força varia em função do tipo de indústria estudada. No caso da siderurgia, por exemplo, as forças que merecem destaque são as que dizem respeito à concorrência de estrangeiros e materiais substitutos. Fatores de curto prazo, cujas conseqüências são de caracter transitório como flutuações econômicas, picos de demanda, escassez de matériaprima, entre outros, têm significado tático e não são abordados na análise. De forma análoga, Austin (1990) desenvolveu um modelo para análise do ambiente organizacional com foco principal em países em desenvolvimento. Esses dois modelos são usados no presente artigo com o propósito de preencher uma certa lacuna existente na literatura, que trata da indústria de zinco, procurando apresentar tópicos de importância estratégica para este setor. 2 – A Análise da Estrutura da Indústria de Zinco Quando se fala em indústria de zinco, inicialmente tem que se fazer a distinção entre empresas do setor que trabalham com metalurgia e que trabalham com a mineração do metal. O foco será dado nas primeiras. Outra informação importante diz respeito à abrangência dessa análise. A idéia é fazê-la em âmbito nacional, porém com a abertura de mercado e a globalização, acrescido do fato do zinco ser um bem de commodities, com preços e regras determinados na LME (London Metal Exchange, bolsa que opera em Londres no mercado de futuros dos principais metais não-ferrosos) , faz-se necessário muitas vezes a abordagem em termos mundiais. 2.1 – A Ameaça de Novos Entrantes A ameaça de novos entrantes nesse setor ocorre normalmente através de aquisições ou alianças (muitas vezes através da formação de joint-ventures). Por ter barreiras de entrada altas, o número de empresas que compõem esta indústria é muito reduzido. No Brasil existem apenas dois smelters (nome comumente dado às empresas do setor e que significa fundidor, fábrica de fundição) e não existe perspectiva de entrada de nenhum novo. O que existe é a previsão de aquisições de parte dessas firmas por outros grupos, que permitiriam, através dessa injeção de recursos financeiros, o financiamento para o aumento da capacidade produtiva de cada uma das plantas. No mundo existem cerca de 74 smelters em operação e a previsão de novas plantas até 2006 é de apenas 5 unidades, sendo estas na África, na Austrália, América do Norte e duas na Ásia (Brook Hunt, 1999). O grande capital necessário para a implantação de uma nova usina é a maior barreira de entrada e talvez explique o número reduzido de entrantes para um setor que tem uma demanda crescente e excelentes perspectivas para o futuro, conforme será analisado item 4. 2.2 – Rivalidade entre Empresas Existentes As empresas nacionais que operam nesse segmento são duas. Uma é a Cia Mineira de Metais (CMM), empresa do grupo Votorantim, responsável por cerca de 60% da produção nacional (BNDES, 1998; Cé, 2000). A outra é a Cia Paraibuna de Metais (CPM). Além da metalurgia, a CMM está presente também na mineração de zinco, o que lhe confere uma vantagem competitiva em relação à concorrente. O fato de possuir minas reduz sua dependência do concentrado de zinco importado, matéria-prima para a produção de zinco primário. Já a CPM importa todo seu concentrado de zinco. Os altos custos fixos pressionam as empresas a minimizar a capacidade ociosa de forma a gerar algumas vezes um súbito aumento de oferta. A variação na produção depende fundamentalmente dos preços na LME. Segundo Cé (2000), a China, como maior produtor mundial, tem uma grande flexibilidade na variação de sua produção: maior produção quando os preços do zinco estão acima de US$ 1.100/tonelada e menor quando o preço cai abaixo dos US$ 950/tonelada. O custo total do zinco metálico é formado pelo preço do concentrado acrescido do custo da metalurgia (Treatment Charge - TC). Ressalte-se que a margem do smelter é reduzida face à valorização do preço do concentrado que representa cerca de 77,5% do preço do metal. Algumas vezes o smelter funciona apenas como prestador de serviço às mineradoras. O TC é calculado de acordo com fórmula contratual em função dos custos de tratamento, da variação do preço LME do zinco (tendo como base o valor de US$1.100/t) e dos teores de zinco e outros metais contidos. No período 1988/98, o TC variou de um mínimo de US$ 219/t, quando o preço do zinco era de apenas US$ 978/t, a um máximo de US$ 381/t quando o preço do metal alcançou US$ 1.639/t. Na tabela 2.1 a seguir, apresenta-se a evolução da composição do custo do zinco nos últimos anos em função do preço médio LME do metal. Deve-se destacar a regularidade da remuneração final do smelter, cuja receita final representa em torno de 22,5% do preço LME do zinco (BNDES, 1998). Preço Mineração Metalurgia Médio Custos Margem % TC % Receita do LME Margem / Preço Total Smelter / Preço 1988 1.424 693 404 28,4 327 22,9 1989 1.639 798 460 28,1 381 23,2 1990 1.471 716 416 28,3 339 23,1 1991 1.115 543 324 29,0 248 22,2 1992 1.220 594 351 28,8 275 22,5 1993 978 476 282 28,8 219 22,3 1994 1.021 497 296 29,0 228 22,3 1995 1.055 513 306 29,0 235 22,3 1996 1.049 511 304 29,0 234 22,3 1997 1.303 635 373 28,6 295 22,6 1998* 1.080 526 314 29,1 240 22,2 Tabela 2.1.: Evolução da composição do custo/preço do zinco Fonte: Zinc and its Markets Seminar ’98 - Metal Bulletin e BNDES. * 1º Semestre/1998. Ano A LME vem se recuperando e a expectativa é que se manterá em um patamar de US$1.200/tonelada (Cé, 2000). Essa previsão na evolução dos preços, baseia-se nos fundamentos mais influentes no comportamento do mercado, tais como sazonalidade do consumo mundial, as operações momentâneas do mercado financeiro, entre outros. É importante ressaltar ainda que o zinco, como todas commodities, sofre interferências dos grandes investidores nas bolsas de metais, de acordo com as estratégias específicas de cada um e com a distribuição de riscos da própria carteira de investimentos. Toda essa descrição visa mostrar que, no caso das empresas brasileiras, a competitividade não se baseia tanto em uma guerra de preços. A produção brasileira gira em torno de 2 a 3% da produção mundial (estimativa do autor), consequentemente o poder de manipular os preços de mercado através de oscilação de oferta é quase nulo. Quanto às barreiras de saída na indústria de zinco, deve-se destacar que elas são altas. Por ser intensiva em capital, com altos investimentos em ativos especializados, os valores de liquidação dos bens são baixos ou possuem altos custos de transferência. Dívidas com clientes e fornecedores e acordos trabalhistas dificultam a saída de uma empresa do setor. 2.3 – A Ameaça de Produtos Substitutos O zinco é na verdade a grande ameaça como substituto aos seus concorrentes, devido a uma série de características que lhe são conferidas. É caracterizado, principalmente, pela sua propriedade eletroquímica protetora contra a corrosão, sendo deste modo muito utilizado para revestir metais, principalmente o aço. Trata-se de um metal maleável, sendo que suas propriedades físicas lhe conferem facilidade de moldagem e de trabalho mecânico. O principal uso do zinco metálico é a galvanização, tanto na produção de chapas zincadas pelas siderúrgicas, como em galvanoplastias para acabamento e proteção anti-corrosiva de peças metálicas. Este uso responde por 47% do consumo mundial. Além destes, o zinco é matéria-prima para ligas metálicas como latão e bronze, que respondem por 20% do consumo, além de ser utilizado em pigmentos, pilhas secas e outros usos diversos. Quanto à sua utilização em ligas metálicas, estudos comparando ligas de zinco ao bronze, mostram que as primeiras possuem menor coeficiente de fricção, maior capacidade de carga, maior resistência ao desgaste e melhores características de retenção à lubrificação. Como os custos de ligas de zinco são inferiores aos bronzes, espera-se um aumento em sua utilização. As ligas feitas em zinco são mais fáceis de usinar. A montagem de componentes é feita com pressão e baixos custos. O zinco requer menos energia para ser obtido, a partir de seu minério, do que os materiais concorrentes; suas ligas também requerem menos energia para serem fundidas. “À medida que os preços de energia continuarem a aumentar, a vantagem econômica da utilização das ligas de zinco tenderá a aumentar. O alumínio puro requer três vezes mais energia para fundir que o zinco. O bronze quase o dobro” (Faria, 2000, p. 95). Ainda segundo Faria (2000), algumas características como excelente acabamento superficial, resistência ao centelhamento e propriedades não magnéticas – possibilitando seu uso na indústria eletrônica – tornam as ligas de zinco uma opção bastante atrativa. Na galvanização – processo químico que consiste no depósito de finas camadas de um metal sobre outro – o zinco se mostra uma unanimidade. Seus requisitos limitam os teores de contaminantes de forma a garantir a qualidade final do material a ser revestido. O zinco toma cada vez mais projeção, uma vez que o consumo de aços eletrogalvanizados, utilizados nas indústrias de bens de consumo duráveis, vem crescendo significativamente nos últimos anos em virtude de uma demanda por aços com boas características de conformabilidade, soldabilidade e, principalmente, elevada resistência a corrosão. “O revestimento de zinco é cada vez mais aceito e tem-se mostrado como excelente proteção contra corrosão para chapas de aço. As condições e a qualidade do pós-tratamento e pintura são decisivos para o bom desempenho dos diversos bens de consumo durante o uso” (Oliveira, Corrêa, Verona e Paiva, 2000, p. 109). O zinco é o melhor substituto para o cádmio e o chumbo, que são metais também utilizados quando se deseja proteção à corrosão. Nos setores de injetados e de centrifugados, o zinco não vem obtendo um crescimento significativo, devido à existência de outras alternativas de metais mais leves e até mesmo do plástico (Cé, 2000). 2.4 – Poder de Negociação dos Compradores O zinco geralmente ocorre na natureza combinado com o enxofre na forma de esfalerita (ZnS), principal mineral de zinco primário, e que corresponde a mais de 90% da produção mundial de zinco primário. A presença de outros minerais nos depósitos de zinco permitem a extração conjunta desses metais. Portanto, na recuperação do zinco a partir do concentrado sulfetado (ZnS), as plantas podem produzir uma enorme gama de subprodutos na forma de elementos e compostos tais como o cobre, cádmio, mercúrio, prata, ouro, chumbo, cobalto, índio, germânio, selênio, além do enxofre que geralmente é recuperado como ácido sulfúrico, dióxido de enxofre líquido, entre outros. Essa recuperação dependerá dos teores dos outros elementos contidos, mercado, relação custo-benefício (Magalhães, 2000). Essa variedade contribui para uma pulverização dos compradores por vários produtos. Como as vendas não se concentram em grande parte num único comprador e nem para uma única indústria, o poder dos compradores não se torna uma arma muito significativa. Uma atenção deve ser dada, no entanto, quanto ao fato dos produtos desta indústria serem normalmente bens de commodities (pouco diferenciáveis, sem marca), de forma que a ameaça de fornecedores alternativos é sempre uma forma de poder de barganha por parte dos compradores. No caso do mercado brasileiro, este fato é atenuado pelo número reduzido de concorrentes nessa indústria. 2.5 – Poder de Negociação dos Fornecedores O insumo principal desta indústria é o concentrado de zinco. Os fornecedores desse insumo são grandes mineradoras que exploram as minas que contêm este minério. No Brasil as duas empresas que atuam no setor de metalurgia do zinco adquirem de formas distintas sua matéria-prima. A CMM é integrada verticalmente para trás. Esta empresa é detentora das duas únicas minas de minério de zinco em atividade no país: a de Vazante e a de Morro Agudo, ambas em Minas Gerais. Portanto, grande parte de suas necessidades são supridas pela própria empresa, o que a imuniza de sofrer quaisquer tipo de retaliação ou exigências por parte dos fornecedores, lhe conferindo uma ligeira vantagem competitiva. No caso da CPM, suas necessidades de matéria-prima são supridas por meio de fornecedores estrangeiros. Todo concentrado de zinco consumido é importado. 3 – Modelo de Análise Ambiental De forma a complementar a análise baseada em Porter (1986), será aplicado o modelo de análise estratégica de Austin (1990). Este foi desenvolvido para se analisar o ambiente organizacional no qual é mostrado de forma sistemática a influência dos diversos fatores externos à empresa nas suas metas e políticas operacionais. A justificativa principal para sua utilização reside no fato desse ter sido elaborado com foco nos países em desenvolvimento, além de ter como elemento diferencial a explicitação da influência das ações governamentais tanto no ambiente macroeconômico quanto no ambiente microeconômico (Zanquetto Filho e Figueiredo, 1999). Austin (1990) argumenta que existe a necessidade de se ter como ponto de partida a visão das forças que modelam esse ambiente, reconhecendo suas conexões e interdependências. Para tanto, analisa-se estas forças em duas dimensões complementares. A primeira refere-se à avaliação dessas forças externas, denominadas por Austin (1990) fatores ambientais, em quatro categorias: 1)econômica; 2)política; 3)demográfica e 4)cultural. A segunda, focaliza o ambiente de negócios em 4 níveis, quais sejam: 1)internacional; 2)nacional; 3)industrial e, 4)empresarial. A relação entre os fatores e os níveis é total, ou seja, em cada nível agem os fatores políticos, econômicos, culturais e demográficos. As ações desencadeadas em cada um dos níveis podem afetar os demais, devida a sua interatividade. Cabe ressaltar que, assim como foi feito na aplicação do modelo de Porter (1986), só serão abordados aqui os itens de maior relevância, uma vez que o modelo de Austin (1990) é bastante genérico. 4 – Análise Ambiental Aplicada à Indústria de Zinco 4.1 – Fatores Econômicos Recursos Naturais: A produção mundial de zinco triplicou desde 1973 (Misi, 2000). Caso novas descobertas não houvessem ocorrido e, consequentemente, as reservas estivessem estabilizadas desde aquela época, já teria havido completa exaustão das reservas existentes. Diferentemente de outros metais, como o chumbo ou o alumínio, a produção de zinco é alimentada apenas com 30% de matéria-prima secundária ou reciclada. Além disso, é esperado uma aumento considerável da produção primária nos próximos 25 anos devido ao incremento do uso do aço galvanizado. Todas as grandes áreas continentais do mundo, com exceção da América do Sul, possuem reservas consideradas de classe mundial - “world class reserves”-, ou seja, depósitos individuais caracterizados por enormes concentrações metálicas, com reservas medidas acima de 5 milhões de toneladas de metal contido. Grandes e importantes depósitos de metais base, tendo o zinco como principal componente, encontram-se localizados principalmente em bacias sedimentares Protezóicas (2500milhões a 543 milhões de anos). O Brasil, que ocupa cerca de 50% da área total do continente Sul Americano e que possui uma enorme distribuição de bacias sedimentares Protezóicas espalhadas em quase todo o seu território, estranhamente não possui nenhum depósito que possa ser considerado de classe mundial. A questão acima constituiu o tema central que norteou um recente encontro técnicocientífico realizado em Salvador, no final de 1998: O “Workshop” Depósitos Brasileiros de Metais Base. Dentre às várias conclusões do evento, expressas através de um documento denominado Carta de Salvador, destacam-se as seguintes: • Existem fortes evidências geológicas, geotectônicas e geoquímicas sobre a provável existência de grandes depósitos de metais base não ferrosos em nosso território; • A razão principal pela qual nenhum grande depósito foi até agora descoberto em território brasileiro, deve-se à brutal queda de investimentos em levantamentos geológicos básicos e exploração mineral, a partir de 1983, e que perdura até hoje; • A ausência de dados tem sido muito prejudicial para o estabelecimento de estratégias de exploração mineral. As empresas de mineração e exploração não se sentem seguras em realizar investimentos, porque faltam dados essenciais e interpretações adequadas, capazes de permitir o estabelecimento de modelos estratégicos de exploração. Segundo Misi (2000, p. 51), “a quase completa retração dos investimentos governamentais e privados em levantamentos básicos e em exploração mineral, que perdura por quase 20 anos, pode ser a principal razão da não revelação de grandes depósitos de zinco em nosso território”. O longo período de ausência governamental traz inúmeras consequências negativas perceptíveis até aos leigos no assunto. A começar por fazer o Brasil ser um importador de zinco, uma vez que “não possui” matéria-prima suficiente para a produção do zinco requerido no mercado interno (Cé, 2000). Trabalho: O avanço tecnológico, os novos métodos de gestão da produção somados a uma maior difusão de equipamentos de automação eletrônica, vêm gerando grandes ganhos de produtividade do trabalhador no setor de zinco. Um exemplo é o da CPM em que sua produção já foi de 60000 toneladas/ano empregando cerca de 1100 funcionários, e hoje gira em torno de 75500 toneladas/ano com um mão-de-obra ao redor de 400 funcionários. Capital: As perspectivas para o setor são bastante positivas, tanto em termos nacionais quanto internacionais. O crescimento previsto até 2002 para o mercado brasileiro de zinco é de cerca de 6% ao ano (Brook Hunt, 1999), taxa bem superior à taxa de incremento no consumo global cuja previsão é de 1.8% (BNDES, 1998), que por sua vez já é muito boa. Analisando não só o futuro mas também o passado recente, considerando o ano de 1992 como base 100, o Brasil aumentou o seu consumo de zinco em mais de 80%, o que significa um aumento do consumo anual bastante significativo e bem acima do PIB (Cé, 2000). A abertura de mercado, que permitiu ao consumidor maiores opções na escolha de produtos de melhor qualidade, exerceu um importante impacto no aumento do consumo per capita de zinco. Contudo este consumo deve aumentar ainda mais, já que no Brasil ele é de 1Kg/habitante/ano; na Europa é de 6Kg/habitante/ano e nos EUA é de 4Kg/habitante/ano. No setor automotivo tem-se que, no Brasil, utiliza-se 4.1 kg de zinco por carro, enquanto nos EUA esse valor é de 8.2 kg. Na linha branca brasileira, que até a pouco tempo não usava chapas galvanizadas, a previsão de utilização é de 40% em 2002, enquanto que no mundo esse consumo já é de 50% (Cé, 2000). A importação de veículos, geladeiras, e outros produtos de melhor qualidade, fabricados a partir de chapas galvanizadas, é um fator determinante na rápida atualização da indústria nacional, evidenciada pela inauguração ainda no ano de 2000, de duas novas linhas contínuas de galvanização a quente: a Galvasud da CSN/Thiessen, no estado do Rio de Janeiro e a Unigal da Usiminas/Nipon Steel, em Minas Gerais. Com a vinda de empresas estrangeiras, além de se ter tido um acréscimo real de investimentos financeiros em segmentos já tradicionalmente usuários de estruturas de aço galvanizado (placa de sinalizações e defensas rodoviárias, torres para telefonia celular, torres de transmissão elétricas), teve-se ainda o impacto positivo destas mesmas empresas trazerem uma “cultura de engenharia” voltada para o uso do zinco em revestimentos, já que elas são tradicionais consumidoras destes produtos zincados. Infra-estrutura: Em relação à infra-estrutura, dois elementos são mais importantes. O primeiro deles, ligado ao setor de transportes, refere-se ao sistema portuário, que ainda tem se demonstrado ineficiente e representado um elevado custo para os setores que são grandes exportadores/importadores. A recente lei dos portos é insuficiente para resolver a ineficiência do sistema, sendo necessário que se promova grandes mudanças na gestão portuária . A eficiência do sistema portuário é fator fundamental na determinação da competitividade das empresas que dele fazem uso. É importante que as empresas importadoras/exportadoras tenham disponíveis portos que lhes garantam condições de colocar sua produção em qualquer parte do mundo com prazos e custos previamente conhecidos e aceitáveis. O segundo elemento referente à infra-estrutura é o setor de energia. Nos últimos anos, as tarifas de energia elétrica têm crescido em termos reais, onerando os custos de produção do segmento de insumos. Além disso, a falta de investimentos em geração e distribuição pode gerar problemas de suprimento de energia (Coutinho e Ferraz, 1993). Tecnologia: O segmento de insumos (segmento ao qual o zinco é pertencente) é constituído por setores considerados capital intensivos e que participaram da última grande onda de investimentos da economia brasileira. Estas características permitem algumas considerações. Sobretudo em setores capital intensivos, quando se toma a decisão de investimento, geralmente a opção tecnológica recai sobre uma alternativa tecnológica considerada relativamente atualizada; o elevado volume de investimento requerido induz a esta opção. Em segundo lugar, como grande parte dos investimentos realizados no Brasil no segmento de insumos são investimentos relativamente recentes, as plantas produtivas se encontram relativamente atualizadas, em termos de índices técnicos de produção. Bom desempenho produtivo, disponibilidade de mão-de-obra e empresas que têm investido em qualidade de produtos, conformam um segmento que tem apresentado bons indicadores de competitividade (Coutinho e Ferraz, 1993).O segmento de insumos é constituído por setores que se baseiam em tecnologia de processo, normalmente adquiridas no exterior. As empresas instaladas no Brasil dominam a operação desses processos e realizam atividades de otimização, com resultados satisfatórios. Porém o mix de produção é considerado pouco nobre, prevalecendo a produção de commodities, de baixo valor agregado. Continuar investindo em otimização de processo, modernização de processo e enobrecimento de produtos formam a estratégia básica do segmento de insumos para aumentar a sua competitividade. As tecnologias de processo para a produção de insumos foram adquiridas no exterior, sendo que as empresas instaladas no Brasil já as absorveram, possuindo capacitação suficiente para operação e otimização desses processos. Mas esta capacitação é insuficiente para gerar inovações em direção a novos processos produtivos. Desta forma, a trajetória dos setores de insumos mostra que sempre que há necessidade de novos investimentos em capacidade produtiva, se requer novos licenciamentos de tecnologia do exterior (Coutinho e Ferraz, 1993). 4.2 – Fatores Políticos Um importante fator para a competitividade das empresas atuantes no setor de zinco e de outros insumos do complexo metal-mecânico, em geral, diz respeito a taxa de câmbio. Como são setores com elevados coeficientes de exportação/importação, são muito sensíveis a variações cambiais. A rentabilidade das empresas é extremamente sensível às variações cambiais, e a prática mais comum entre os países é de não onerar as exportações com tributação. É fundamental portanto o realismo cambial. Outro fator diz respeito à estrutura tributária. O principal problema tributário enfrentado pelo segmento de insumos é o ICMS que incide sobre as exportações de semi-acabados. Enquanto a prática internacional é de não tributar as exportações, o Brasil com este imposto acaba reduzindo as condições de competitividade das empresas brasileiras (Coutinho e Ferraz, 1993). 5 – Conclusões e Comentários A análise da estrutura da indústria de zinco revelou que se trata de um setor extremamente fechado, com altas barreiras de entrada e com a existência, no Brasil, de apenas duas empresas pertencentes à dois grandes grupos brasileiros: Grupo Votorantin e Grupo Paranapanema. Mostrou também que o zinco não sofre grandes ameaças por parte de produtos substitutos, muito pelo contrário, ele é a grande ameaça aos concorrentes devido à uma série de características físicas, químicas e financeiras que lhe conferem uma grande vantagem competitiva. Quanto aos fatores ambientais, destacam-se os de cunho econômico. O primeiro deles refere-se aos recursos naturais. Infelizmente, devido à uma completa retração dos investimentos governamentais e privados, o Brasil continua sendo um importador de matéria-prima para a produção de zinco metálico. Isto ocorre mesmo sabendo-se que a produção mundial triplicou desde 1973 (Misi, 2000) e que existem fortes evidencias geológicas da existência de concentrado de zinco no território brasileiro. Isso se agrava ainda mais, uma vez que, diferentemente de outros metais como o alumínio, a produção de zinco é alimentada apenas com 30% de matéria-prima secundária ou reciclada. Ainda em relação à questões de caráter econômico, pode-se identificar, por meio de diversas fontes, a excelente expectativa de crescimento no consumo mundial de zinco alavancada principalmente pelo aumento do uso do aço galvanizado. Ambas as empresas produtoras de zinco no Brasil estão se preparando para esse aumento na demanda investindo em projetos de expansão de capacidade produtiva. Quanto à infra-estrutura, deve-se destacar dois elementos de grande influência no setor. A questão portuária e a de energia. A eficiência do sistema portuário é fator fundamental na determinação da competitividade das empresas que dele fazem uso e, no caso brasileiro, esse sistema tem se mostrado bastante ineficiente. No caso da energia, os freqüentes aumentos, aliados à falta de investimentos em geração e distribuição, podem causar grandes reflexos na competitividade das empresas brasileiras no exterior, pois os gastos com energia elétrica na produção de zinco representam grande parte dos custos. Em relação às questões tecnológicas, pode-se constatar que o segmento de insumos, onde inclui-se o zinco, é constituído por setores intensivos em capital e que se beneficiaram da última grande onde de investimentos da economia brasileira. As plantas se encontram relativamente atualizadas, em termos de índices técnicos de produção, com um bom desempenho produtivo. As tecnologias de processo para a produção foram adquiridas no exterior, sendo que as empresas instaladas no Brasil já as absorveram, possuindo capacitação suficiente para operação e otimização desses processos. Porém, tal capacitação é insuficiente para gerar inovações em direção a novos processos produtivos, de forma que, sempre que há necessidade de novos investimentos em grandes aumentos de capacidade produtiva, se requer novos licenciamentos de tecnologia do exterior. 6 - Bibliografia AUSTIN, J., 1990, Managing in Developing Countries: Strategic Analysis and Operation Techniques, ed. Free Press. BROOK HUNT, 1999, Zinc Smelters and Projects: Processes, Costs & Profitability – Summary & Analysis, v. 1, 1999 edition, London. BROOK HUNT, 1998, Zinc Smelters and Projects: Costs & Commercial Analysis, 1998 edition, London. CÉ, J. 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