Amagis - Associação dos Magistrados Mineiros Magistradas humanizam o Judiciário 06-Mar-2009 Atualizado em 09-Mar-2009 Geórgia Baçvaroff A presença da mulher no mercado de trabalho ganha cada vez mais espaço. Na magistratura, a regra é a mesma. De acordo com dados do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, entre os 973 magistrados mineiros da ativa, 271 são mulheres(28%). Se, a princípio, esse número parece pequeno, basta comparar com a década de 60, quando a primeira mulher, juíza aposentada Raphaela Alves Costa, ingressou na carreira em Minas. De lá para cá, a mulher conquistou seu lugar. Em 1963, a saudosa desembargadora Branca Margarida Rennó tomou posse no TJMG como a primeira a assumir o cargo na magistratura mineira. Em quarenta anos, a presença feminina deu um salto. De acordo com a Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef), os números realmente comprovam o crescimento da participação das mulheres na magistratura mineira. Enquanto que, no concurso de 78/79, dos 47 aprovados, dois eram do sexo feminino, o realizado entre os anos de 2007 e 2008 quase igualou o número de candidatos homens e mulheres: dos 32 aprovados, 15 eram mulheres. No último concurso, dos onze aprovados, até o momento, sete são homens e quatro, mulheres. Outro dado relevante está nas classificações dos últimos cinco concursos de juiz de Direito Substituto: em quatro deles, o primeiro lugar foi alcançado por uma mulher. Atuação no STF Nacionalmente, o ano de 2007 foi um marco com a chegada da primeira mulher, ministra Ellen Gracie, à presidência da mais alta corte do país, Supremo Tribunal Federal (STF). Na solenidade de posse, o ministro do Supremo Celso Mello ressaltou o caráter histórico do momento. “Inaugura-se, na história judiciária do Brasil, uma clara e irreversível transição para um modelo social que não mais convive com a intolerável discriminação de gênero e com a inadmissível exclusão preconceituosa das mulheres dos processos sociais e políticos”, disse. Se, por um lado, os dados numéricos mostram a ascensão das mulheres, por outro, ainda mais forte, a postura na carreira chama a atenção. “A presença da mulher valoriza e fortalece a magistratura. Elas utilizam a sensibilidade sem perder o vigor na aplicação da lei”. Foram com essas palavras que o desembargador Reynaldo Ximenes, 2º vice-presidente do TJMG, superintendente da Escola Judicial Edésio Fernandes (EJEF) e membro do Conselho Deliberativo da Amagis, definiu a mulher na magistratura. Magistrado desde 1977, Reynaldo Ximenes reconhece que a mulher moderna intervém na sociedade em todos os segmentos sociais, inclusive no Judiciário. “A mulher, além da sensibilidade, tem um direcionamento muito seguro, e isso é muito importante. Eu tenho tido o prazer de trabalhar com colegas no Tribunal, como a ministra Jane https://www.amagis.com.br/home Fornecido por Joomla! Produzido em: 11 May, 2009, 11:51 Amagis - Associação dos Magistrados Mineiros Silva, as desembargadoras Márcia Milanez, Maria Elza, Heloísa Combat, Selma, Cláudia, e a juíza Maria Luiza, além de várias outras que tenho conhecimento, como a ministra Carmem Lúcia, que engrandecem e enobrecem a magistratura”, afirmou o desembargador, pontuando que “a mulher apreende a relação jurídica com a percepção segura e refinada. Mas ela é firme nas decisões. A mulher humaniza a lei”. A humanização da lei Há quem diga que ser mulher na área criminal é um facilitador, graças à sensibilidade feminina. “A mulher costuma ser muito mais mão pesada nas penas, mas, em contrapartida, tem uma preocupação maior em ser justa, em não criar estigmas. Não que o homem não tenha essa preocupação, mas, de fato, essa é uma característica feminina. Nunca tive problema nem em Rondônia nem em qualquer outro lugar” afirma a mineira Sandra Aparecida Torres, juíza criminal em Porto Velho, Rondônia, capital de um dos estados considerados mais violentos do país. Além da seriedade com que conduz seu trabalho, Sandra Torres se destaca pelos diversos desafios que enfrentou na carreira. Situações que seriam rejeitadas pela maioria das pessoas, inclusive homens, foram abraçadas pela magistrada. Um exemplo é o trabalho voluntário internacional que prestou por dois anos no Timor Leste (2004 a 2006). Sandra Aparecida estava entre os juízes internacionais recrutados pelas Nações Unidas para reconstruir o país, que havia conquistado sua independência junto à Indonésia. Conflitos eram constantes. Não havia constituição, e as normas eram ditadas por uma resolução da ONU. Tudo ainda deveria ser adaptado. O processo de organização de todo país, inclusive do Poder Judiciário, estava começando, e uma peça fundamental foi a mineira Sandra. “Quando chegamos em Timor, primeiramente, era para trabalharmos como espécie de conselheiros, orientando os juízes locais. Mas a ONU fez a avaliação com os profissionais locais e nenhum deles foi aprovado. Com isso, os advogados timorenses, que, naquela situação, estavam atuando como juízes por determinação das Nações Unidas, foram para um centro de formação, e nós, juízes internacionais, passamos a ter jurisprudência para atuar no país”, conta a juíza, salientando que a medida, a principio, não foi aceita com tranquilidade pela população e muito menos pelos profissionais. “Foi um começo difícil, mas a experiência foi inesquecível”, lembra. Mas o melhor, considerado pela juíza, e o pior considerado pela maioria das pessoas e profissionais sejam mulheres ou homens, ainda estava por vir. No final do 2005 e início de 2006, nas palavras dela, “foi a época mais conturbada, mas ao mesmo tempo, a mais interessante”. Timor vivenciou neste período uma verdadeira guerra civil. Instalouse um conflito entre o Exército e o que seria a Polícia Militar dos timorenses. Resultado: Não havia mais segurança. Combates, fogos, incêndios e tiros eram constantes na cidade. O que já não tinha de princípios democráticos, se perdeu ainda mais. “Nem a presença de juízes internacionais era respeitada”, lembra-se ela. Numa situação assim, o mais esperado era que os profissionais recuassem. Foi o que ONU fez: mandou evacuar todos os profissionais recrutados, por uma questão de segurança, até que a ordem se restabelecesse. Mas esse não foi o caminho seguido pela juíza Sandra. Ela conta que ficou no país junto com outra juíza de São Paulo. “Nessa fase, os juristas timorenses assumiram porque a situação ficou caótica. Mas nós (as duas juizas brasileiras que permaneceram no país) começamos a trabalhar com eles no dia-a-dia naquilo que era possível julgar. A cidade estava realmente em uma situação de calamidade. Mas o aprendizado foi muito verdadeiro”, afirma Sandra Torres. “Da mesma forma que sei que muita coisa eu pude contribuir na formação deles, principalmente na formação de um Estado de Direito, também aprendi muito sobre a cultura do povo, aprendi a respeitar a diversidade e a natureza das pessoas”. E completa: “Foi aí que pude sentir maior justiça nas minhas decisões. Porque, para ser justa, você precisa conhecer https://www.amagis.com.br/home Fornecido por Joomla! Produzido em: 11 May, 2009, 11:51 Amagis - Associação dos Magistrados Mineiros a realidade e se enquadrar nela”, ensina. GRÁFICO COM OS DADOS ABAIXO, MOSTRANDO O AUMENTO DO NÚMERO DE MULHERES APROVADAS EM CONCURSOS PARA MAGISTRADOS. Fonte: Ejef PERÍODO do concurso HOMENS MULHERES TOTAL 1978 / 1979 45 1980 / 1981 28 1981 / 1982 65 1983 / 1984 10 1984 / 1985 10 3 13 1985 37 4 41 1985 / 1986 12 2 14 1986 / 1987 35 6 41 1987 9 1988 33 4 37 1989 78 16 94 1989 / 1990 74 15 89 1991 / 1992 39 5 44 1992 / 1993 72 29 101 1995 / 1996 76 19 95 1996 / 1997 100 44 144 1999 / 2000 110 55 165 2002 / 2003 19 9 28 2003 / 2004 30 23 53 2004 / 2005 30 16 46 2005 / 2006 25 12 37 2006 / 2007 24 16 40 2007 / 2008 17 15 32 https://www.amagis.com.br/home 2 47 28 3 68 10 9 Fornecido por Joomla! Produzido em: 11 May, 2009, 11:51 Amagis - Associação dos Magistrados Mineiros A juíza Sandra faz parte da camada feminina na magistratura brasileira e é exemplo de trabalho. A mulher, quando chegou ao Poder Judiciário – exatamente em 1954, com a posse da primeira magistrada brasileira, Thereza Grisólia Tang, em Santa Catarina - conduziu e adaptou-se muito bem à situação. Haja vista que o sexo frágil não parou por aí. Mulheres juízas foram promovidas a desembargadoras, vice-presidentes e presidentes de Tribunais de Justiça, e chegaram aos tribunais superiores. Atualmente, as mulheres representam 14% da cúpula dos tribunais superiores do país. GRAFICO MOSTRANDO A OCUPAÇÃO DAS MULHERES NOS TRIBUNAIS SUPERIORES. STF – Onze ministros em sua composição. Duas são mulheres STJ – Composto por 31 ministros, sendo que cinco são mulheres TST – Composto por 27 ministros. Cinco mulheres. STM – Composto por 15 ministros, sendo uma mulher. TSE – Composto por 13 ministros, sendo duas mulheres Dos 27 tribunais de justiça estaduais do país, quatro são presididos por magistradas: Tribunal de Justiça de Alagoas – desembargadora Elizabeth Carvalho Nascimento Tribunal de Justiça da Bahia – desembargadora Silvia Zarif Tribunal de Justiça de Rondônia – desembargadora Zelite Andrade Carneiro Tribunal de Justiça de Tocantis – desembargadora Willamara Leila de Almeida. https://www.amagis.com.br/home Fornecido por Joomla! Produzido em: 11 May, 2009, 11:51