Do Porto a Santiago em BTT ou de como descobri que “Peregrino tem que penar” Texto: A. Augusto de Sousa Fotos: A. Augusto de Sousa, Jorge Maia, José Pedro Abreu, Paulo Rodrigues, Rui Soares (publicação na revista Bike Magazine, Novembro de 2002) O clube de BTT da Casa do Povo da Retorta levou a cabo, de 15 a 18 de Agosto de 2002, um passeio de BTT/peregrinação a Santiago de Compostela. Sem pretensiosismo, apraz-me deixar o meu depoimento pessoal sobre essa (que foi, pelo menos para mim) aventura grande de quatro dias pedalando pelos Caminhos de Santiago. Para que os leitores (se houver algum) entendam a natureza do texto, devo dizer que sou um “BTT’ista domingueiro”, relativamente recente, de passeios com grupo de amigos pelas serras de Valongo (Bike Magazine N. 49, Abril de 2001), com o grupo de BTT de Matosinhos pelos trilhos de Leça da Palmeira (Bike Magazine N. 59, Fevereiro de 2002) ou, em circunstâncias menos favoráveis, pelas ruas e marginal marítima do Porto. Assim, um passeio daquele calibre mostrava-se um desafio interessante a mim próprio e, vencido que foi, impele-me a escrever estas linhas. Trata-se de um depoimento pessoal e não propriamente de um relato da viagem, que para isso podem encontrar melhor no site do clube organizador (www.bttmania.net). O tom (supostamente) bem disposto da redacção pretende ser o reflexo da vivência alegre e descontraída com que o passeio decorreu. O Passeio De acordo com o previamente anunciado, o percurso totalizava cerca de 280 quilómetros e constituía-se de quatro etapas semelhantes em distância, sendo a última um pouco menos longa (note-se que não digo mais curta...) do que as restantes: Porto-Barcelos, Barcelos-Valença, Valença-Pontevedra e Pontevedra-Santiago de Compostela. Com uma predominância clara para os caminhos de todo o terreno (TODO mesmo, podem os leitores crer...) seguia, tanto quanto possível, as famosas “setas amarelas”. Pelas 8.00 horas (para os pontuais, que não eu...) de Quinta-feira, dia 15 de Agosto, lá estávamos, a maioria dos peregrinos, nas instalações da Casa do Povo da Retorta, junto a Vila do Conde (os restantes juntar-se-iam a nós um pouco mais tarde, na Sé do Porto). Bom, ali começava a aventura, pois não fora a boa vontade da organização em colocar apontadores nos vários cruzamentos, desde a estrada principal até à Casa do Povo e porventura ainda lá andaríamos, que aquele percurso faz mesmo jus ao nome da freguesia (para os mais distraídos, já foi dito, Retorta). Vivia-se por ali uma “calma agitada”. Descarregavam-se bicicletas, afinavam-se os últimos parafusos, colocavam-se as últimas gotas de óleo. Arrumavam-se bagagens, reencontravam-se amigos e faziam-se os primeiros novos conhecimentos. Foi assim que conheci o Jorge Maia, “organizador-mor” do evento, com quem tinha já trocado algumas palavras, mas exclusivamente por e-mail ou telefone. Era simpático, afável, mas deixava transparecer um nervoso miudinho, que a situação não era para menos. Finalmente, em automóveis e carrinhas, rumámos à Sé do Porto, onde nos reencontrámos com as nossas queridas montadas. Uma vez carimbadas, na Estação de S. Bento, as cadernetas individuais, necessárias para a obtenção da “Compostellanae” (sim, que isto de “peregrino tem que penar”, dá direito a certificado) e com o grupo aumentado, lá iniciámos a primeira etapa das quatro que nos levariam a Terras de Santiago. A primeira parte do percurso foi muito “soft”, muito “light”, passando mesmo por aqueles locais que todos os ciclistas de Domingo no Porto conhecem, ali pelas bandas da marginal, na foz do Rio Douro. Muito alcatrão, um cheirinho a BTT no Parque da Cidade e passagem pelo interior do edifício-transparente-que-ninguém-sabe-o-que-é (eu não sabia que os caminhos de Santiago passavam por ali...) com travessia sobre a ponte levadiça de Leça da Palmeira. Passagem por Santa Cruz do Bispo, com paragem para umas trincas, subida ao Monte de S. Brás e rumámos a terrenos da Maia, onde finalmente nos encontrámos no nosso meio preferido, a terra batida, num labirinto intrincado que permitiria que alguém se perdesse momentaneamente do grupo, facto que se mostrou sem importância, dada a eficiência e a rapidez com que se resolveu. Chegavam as primeiras (intermináveis) subidas e as (excitantes) descidas e eu começava a perguntar a mim próprio se conseguiria acompanhar o ritmo do grupo e aguentar até ao fim. Ainda a procissão ia no adro... Por esta altura há um episódio a recordar. Em descida acentuada, mau piso que chegue, terra seca e grandes pedras, a dar trabalho às suspensões e a exigir grande atenção na condução, ia eu a fazer valer a estabilidade da bicla, grande velocidade, ultrapasso tudo e todos, “alimento para o ego”, eis que por mim passa, no mesmo sentido, uma maciça nuvem de pó. “Not a bird, not a plane, era o Super-Agonia”, um guia em grande estilo, roda traseira bloqueada, mais no ar do que na terra. Chovem de todo o lado os “ó meu &#$%#, espera aí que eu já te &%$#$%”, “vais comer esse pó todo, meu $&@$%&” e outros impropérios que o bom senso e a decência não me permitem reproduzir... Bom, a justificação para tão malvado acto é que era preciso avisar os dianteiros que alguém lá atrás tinha tido um furo! Volta Agonia, estás perdoado! De regresso ao sério. Uma desvantagem que notei nas condições em que o passeio se realizou é que o ritmo forte que é imposto não dá para apreciar devidamente os locais que se visitam. É como “estar em todo o lado” mas “não ver nada”. Umas paragens curtas aqui ou ali teriam sido bem-vindas, mas com quatro dias para todo o percurso, devo reconhecer que não é mesmo possível fazê-lo. Aliás, o número de paragens por motivos de pequenas avarias ou furos já foi grande demais e provocou notados atrasos. Ainda assim, fiquei deslumbrado com a beleza de certas paragens, quer Lusas quer Galegas. Subimos montes verdes, cruzámos águas límpidas, enterrámo-nos em lamaçais; atravessámos campos de milho (pobres lavradores...), visitámos localidades pequenas, médias e grandes; vimos igrejas, conventos, passámos pontes medievais. O conjunto é indescritível e tenho dificuldade em recordá-lo, tantos foram os pontos de interesse. Confesso que fiquei com vontade de repetir, com mais tempo, algumas partes do percurso. Regressando ao tema da primeira etapa, retoma, em definitivo, do “percurso das setas”, um “reforço alimentar” algures em Macieira, freguesia de Vila do Conde e chegada, finalmente, a Barcelos, onde nos recebiam com simpatia e amizade, bonés e T-shirts para todos, na associação “Amigos da Montanha de Barcelinhos”. No final, um jantar “de confraternização” e um sono retemperador. Na segunda etapa (a mais dura, já se constara), fez-se a divisão das hordas em três grupos, logo rápida e devidamente alcunhados de TGV (que nem sempre viria a ser o mais rápido, ao que consta por... “motivos mecânicos”), Intercidades e Transvia (este último também conhecido como sendo a brigada do reumático, vá-se lá adivinhar porquê...). Eu escolhi o grupo do meio, “caracol também não sou”, modéstia à parte, até aqui tudo ia bem. Muito caminho interessante, todo o terreno, a puxar pelas suspensões e pelos... motores, até chegarmos a Ponte de Lima. Não deixa de ser caricato que aqui, catedral da gastronomia minhota, se resolva a fome com sandochas e bananas... É que nem um verdinho da região! Valeu a paisagem, relvado extenso junto ao rio, frescura bastante para o corpo que já acusava o calor do esforço dispendido. Depois? Bem, lembro-me, algures antes da passagem por S. Bento da Porta Aberta, Paredes de Coura, de uma sucessão ininterrupta de subidas, que provocou os seus efeitos... Pudera, se não houvera de me lembrar... o cansaço foi mais forte e fez com que os meus companheiros de grupo esperassem gentil e pacientemente, durante minutos, para que eu recuperasse de, digamos... “uma quebra de rendimento”. Ao telemóvel, era o desespero da Elisabete, responsabilidade de guia, que “o sinhor não está bem, a carrinha está longe?” Mas não era ainda caso disso. A restante subida foi feita “com as biclas à mão”, que a inclinação e o estado do terreno não permitiam a devida utilização das montadas (mesmo a pé, era 50cm para a frente e 20cm para trás...). Coloquei, de acordo com a tradição, uma pedrinha no topo de um cruzeiro (num apelo a todos os Santos que abrissem excepção e ajudassem também para cima), tirei uma ou duas fotos com o Zé Alberto (que viera de Loulé, com a sua Maria, propositadamente para alcunhar a minha bicicleta de “tractor”…) e já me sentia quase novo. A total recuperação veio após uns goles (e não só, que uma lavadela também ajuda) daquela água límpida e fresca que me esperava lá bem no alto do monte, brotando de uma bica junto à “casa do guarda” e que me soube pela vida. E como também não há “senão sem bela”, lá me vi finalmente a descer o outro lado do monte, “agora é que eu mostro o que a bicla vale”, g’anda speed e um bom ventinho de frente: fiquei como novo, “venham de lá mais quilómetros, estou aqui para os comer”. A chegada ao hotel em Valença, fim de etapa, teve piada! Três dezenas de mecos, portadores da mãe de todas as sujidades, pó, lama e sabe Deus o quê mais, máquinas ao ombro, escada acima, enfim, um contraste completo com o ambiente da mais pura calma e limpeza que se vivia no átrio da recepção do hotel (para os mais literatos, uma cena a fazer lembrar passagens de Asterix entre os Helvécios...). Bicicletas em sala reservada, “CUIDADO COM AS PAREDES!”, alguns arranjos nuns parafusos e correntes, e pronto: banho, excelente convívio em jantar de grupo e... cama! Desta vez bem merecida, diga-se de passagem. A terceira etapa iniciou-se nas muralhas de Valença, onde houve instruções do organizador para todos, “atenção às setinhas amarelas, que em Espanha a sinalização não é tão boa” e outras coisas que sempre convém lembrar... Atravessada a fronteira e já por terras Galegas, no grupo em que eu me integrava (que, depois da vergonha do dia anterior, não terá sido o TGV, como calculam...) havia azar com a mecânica: o Domingos ficava sem travão da frente e o Paulo Rodrigues dava uma de mecânico numa oficina de bicicletas de Porrinho (pelos vistos até queriam contratá-lo, temos de ter mais cuidado ou ainda ficamos sem um dos melhores mecânicos do Porto e arredores...). Três horas de espera (também conhecida por seca) por ali e houve um epílogo feliz: não porque o Domingos ficasse com o travão da frente a funcionar, que para isso a “Araldite” não colaboraria, mas sim porque as sandes de carne assada que por ali se faziam, em recatada casa de petiscos, eram excelentes! Obrigado Domingos, obrigado Paulo! E a partir daí a viagem correria normalmente! Almoço (?) em Redondela, belas paisagens, mais subidas, mais descidas, o Domingos a gastar o pneu de trás de tanto derrapar e... hoops, o dia não era realmente dele! Apenas a umas parcas centenas de metros da chegada a Pontevedra, final da etapa, eu mesmo, que seguia em “forte pedalada” no seu encalço, vi que qualquer coisa tinha sido deixada pela sua bicicleta, a rabear, qual viva serpente, no alcatrão. Pois foi, o Domingos perdera a corrente, mas não havia lugar para mais esperas! Alguns outros tomaram força de grupo e empurraram o “sortudo” Domingos, rua acima, durante aquele último trajecto, até à entrada no Albergue dos Peregrinos onde pernoitaríamos. Deste, dou parte em outro local. Bom tempo? Foi-o até ali. Ao início da quarta e derradeira etapa, o S. Pedro fez das suas e brindou o grupo com uma chuvinha que, não sendo muito forte, sempre marcou pela negativa. Mas claro, “peregrino tem que penar” e lá se foi andando assim durante a manhã. Atravessava-se então uma das mais deslumbrantes paisagens que me foi permitido observar durante todo o percurso. Apesar da chuva que ainda se fazia sentir, era um verde magnífico que cobria toda a encosta daquele bosque (desculpar-me-ão mas não consigo identificar o local). Seguíamos na altura por uma pista estreita, sucedendo-se os desníveis, mas... a paisagem era bálsamo para o nosso esforço. Um troço a repetir! Após o “reforço alimentar” em Padrón, em dia de festa ou somente de feira, o tempo melhorou e foi com tempo seco que se negociou o restante da etapa até Santiago de Compostela. À entrada desta, esperava-nos a última subida de nota. Embora curta em distância, apresentava uma inclinação bastante acentuada, que nem mesmo o bom piso de alcatrão simplificava a quem acusava já o cansaço de cerca de 300 quilómetros realizados. Eu estava finalmente em Santiago e, confesso, esses minutos foram fortes de emoções... e por aqui me fico... O percurso final, urbano, levar-nos-ia ao centro histórico da cidade e a um “agradável reagrupamento” com o grupo TGV, entretanto já chegado. Foi no seio de uma esplanada onde circulavam uns vasos cónicos transparentes, cheios com um líquido amarelo cristalino, encimado por uma camada branca espumante... Sim, “peregrino tem que penar”, mas tenho a certeza que Santiago nos perdoou e até nos fez companhia neste pequeno devaneio cervejeiro colectivo. O restante tem menos que contar, a menos de uma imaginável alegria que por ali se vivia, já na praça em frente à Catedral, para as MUITAS fotografias de família que se fizeram. E claro, a usual fila de espera para a obtenção do certificado de peregrino, intitulado “Compostellanae” e que, julgo, ninguém dispensou. Era a prova material do orgulho de um desafio cumprido, quem sabe, do cumprimento de um sonho; homenagem à obstinação dos homens, apesar das dificuldades, dos momentos menos bons, porventura do descrédito em si próprios. Depois... foi o regresso dos heróis! Em transportes motorizados, sim, mas já com uma ténue vontade no ar: “não dá para voltar na bicla?” Conclusão e Agradecimentos Já vai longo o depoimento e há que terminar, que os pacientes leitores têm mais que fazer, sim. Se calhar, até têm de ir fazer mais um passeiozito de BTT!? Pois há que concluir que valeu bem a pena! Pelo exercício, pelo desafio, pela paisagem, pelo convívio. Quando, há um ano e pouco atrás, adquiri uma bicicleta (ora adjectivada de tractor, imagine-se; aquela maravilha, de tanta tecnologia incorporar, é um tanto pesadita, é certo, mas isso é um problema menor...), destinava-lhe pequenos e raros passeios. Mas depressa a vontade cresceu e, da marginal da Foz do Douro para os trilhos de Valongo foi um ápice. Desde então que eu vinha alimentando um ténue projecto de fazer uma viagem à mítica Santiago de Compostela; aliás de tão ténue que era, que mais seria um subconsciente do tipo “talvez um dia...”. O Clube de BTT da Casa do Povo da Retorta e, em particular, o Jorge Maia, proporcionaram-me o prazer de realizar esse projecto. Assim, vai para eles um agradecimento profundo que, tenho a certeza, é partilhado pelos restantes participantes. Termino (ok, ok, finalmente...) com uma pergunta que será, afinal, um lugar comum: “Então Jorge, e para o ano, vai haver mais? É que, “uma vez peregrino, para sempre peregrino” e, como agora se sabe, “peregrino tem que penar”! email: [email protected] Caixas Alojamento dos Peregrinos Sendo quatro os dias de “pedalação”, contam-se em três as noites respectivas, passadas, as duas primeiras, em terras portuguesas (Barcelos e Valença, já se disse) e a última em território espanhol, mais concretamente na galega Pontevedra. Nesta última, em vez de confortável hotel ou similar e por opção da organização, o grupo ficou hospedado num Albergue de Peregrinos do Caminho de Santiago. As minhas previsões acerca de umas instalações deste tipo eram reservadas e apontavam para um edifício velho, caduco e até, com toda a sinceridade, de aspecto “pulguento”. Engano redondo. À chegada vislumbro um edifício novo, de arquitectura simples mas bem enquadrada, colocado no centro de um amplo e fresco relvado. Já no interior, o edifício mostrava-se apropriadamente acolhedor e limpo, enfim, nada expectável, ademais tendo em atenção que a sua manutenção é feita com base em pessoal voluntário (assim nos foi relatado por um dos jovens que nos receberam). Um amplo dormitório comum, com beliches de duas camas, instalações sanitárias, lavandaria, cozinha, sala de jantar, sala de estar (com algo que me pareceu ser uma pequena biblioteca) e uma sala de exposições, as duas últimas a serem transformadas em dormitórios suplementares em dias de grande afluência, como foi o caso. Enfim, uma infraestrutura de fazer inveja a algumas outras bem mais onerosas (esta é gratuita, embora aceite donativos) que conhecemos por aí... Já agora, e aqui vai mais desta história, relato de momentos vividos em hora de banhos, em tão espartanos recursos: “aaiiii, não há água quente?”, ao que a resposta não se fez esperar, vinda do chuveiro do lado, “olha-me só este &%$#&”... “$%#£&, peregrino tem que penar, $&£#%£&”... (alguém adivinha a autoria da resposta?). Ambiente Um evento deste tipo não é só, de forma alguma, rolar, pedalar, esforçar. É também conhecer novas paragens, apreciar as paisagens, conviver, fazer novas amizades (de preferência com umas “vejecas” na mão...), etc. Enfim, o ambiente também conta. Também neste particular, devo dizê-lo, o passeio proporcionou momentos de grande riqueza. A opção da organização, de realizar jantares colectivos nos dois primeiros dias, respectivamente em Barcelos e em Valença, facilitou enormemente a coesão necessária do grupo e foram realmente momentos muito interessantes de convívio e de boa disposição. É claro que as conversas convergiam, inevitavelmente, para os assuntos relacionados com o BTT. Marcas, equipamentos, percursos... e uma (também aqui) “inundação” de terminologia anglo-saxónica; só no âmbito da descrição de percursos, eles são os “drops”, os “steps”, os “single tracks”... Enriqueci a minha linguagem de BTT’ista domingueiro. Participantes Havia grupos de pessoas já conhecidas, nitidamente resultantes da regularidade da prática de passeios organizados, mas a receptividade a novos elementos não foi nunca negada, muito pelo contrário. Facto curioso, muita daquela gente é identificada e chamada por alcunha; dizem-me que “Patinhas”, “Ximbras”, ou “Quedas” (parece que também há um, vá-se lá adivinhar porquê...), são mais fáceis de memorizar do que o nome próprio respectivo! Não é de todo possível falar de todos os participantes, nem isso seria desejável! No entanto, por via da sua actuação durante os quatro dias, uma meia dúzia merecem-me uma referência. Os quatro guias, “Paulo BTT”, Agonia, Elisabete e Marta, que lá nos foram suportando, apesar das “partidas” que lhes pregávamos quando, por exemplo, trocávamos de grupo sem lhes darmos cavaco... e, em especial, o mecânico de serviço e o organizador do passeio, respectivamente, o Paulo Rodrigues e o Jorge Maia. O Paulo Rodrigues era a figura típica que vive, fala, respira, transpira bicicleta! Senhor de uma técnica para muitos invejável, era vê-lo a fazer as maiores tropelias em pleno andamento, numa demonstração cabal de “como pedalar em toda a sela”: destacado em subidas ou descidas para, mais à frente, se regalar a fazer umas fotografias dos “coitados”; a andar em roda única “quilómetros a fio” em ritmo acelerado; e, que fique para a posteridade, a fazer mesmo uma sessão rolante de puro strip-tease até às “últimas consequências”... Além disso, o Paulo era a boa disposição em pessoa. Sempre acompanhado do vernáculo que se lhe conhece, “fala pelos cotovelos”, grupo onde estivesse não precisava de levar rádio! E estava sempre pronto a ajudar num furo ou em avaria maior, fosse de quem fosse. Enfim, se bem percebi, o Paulo Rodrigues no seu melhor! Por último, o Jorge Maia era uma pessoa calma (aparentemente...) mas preocupada com o conforto e com a segurança dos participantes. Coube-me, na última etapa, o grupo em que o Jorge era guia e pude presenciar o ar cuidadoso com que observava e acompanhava os elementos com maiores dificuldades, nomeadamente na última subida, mesmo à entrada de Santiago de Compostela (confesso, eu incluído...). Pela experiência que também possuo na organização de eventos (de outra índole, muito mais aborrecidos...) sei como é fácil, por maiores que tenham sido os esforços colocados pela organização na previsão de todos os possíveis problemas, aparecerem imprevistos desagradáveis. Nestes casos há que ter presença de espírito, imaginação e alguns “recursos na manga” para conseguir soluções adequadas. Tudo isto o Jorge Maia mostrou ter e assim, de certa forma premiando-lhe o cansaço que claramente mostrava no fim da aventura, eu gostaria de, pessoalmente, lhe dar os parabéns pela EXCELENTE organização.