O Caminho Francês
em bicicleta
Os Caminhos de Santiago na Galiza
O Caminho Francês em bicicleta
A meta dos diferentes caminhos históricos jacobeus é a cidade
de Santiago de Compostela, na Galiza. E o itinerário mais
reconhecido é o denominado Caminho Francês, que,
partindo de França, entra em Espanha pela cordilheira
dos Pirenéus. Trata-se de um trajecto repleto de história,
lendas e arte, assim como de paisagens e espaços naturais
tão diversos como inolvidáveis.
Esta publicação propõe um passeio por esta rota, que, após
a saída de França, atravessa o Norte de Espanha até Santiago.
Os meios quase únicos de realização do Caminho durante a
Idade Média eram a pé e a cavalo. O aparecimento de novos
sistemas de locomoção não fez variar o sentido destas formas
de viajar, salvo num único caso: a bicicleta.
O poderoso atractivo –cultural e espiritual–
que representa a viagem a Santiago no estilo
tradicional –a pé ou a cavalo– manteve-se pelo
próprio interesse dos peregrinos, pela conservação
de grande parte do traçado original e pela criação,
nos últimos anos, de uma série de serviços
adaptados a este tipo de viagens.
Textos
Manuel Rodríguez
Coordenação
Ana B. Freire
Rosa García
Documentação:
albergues e serviços
Pilar Cuíña
Rosa Fernández
Ana B. Freire
Rosa García
Coroni Rubio
Fotografia
Arquivo da S.A. de Xestión
do Plan Xacobeo
Tono Arias
Assistência técnica
Dpto. de Arquitectura da
S.A. de Xestión do Plan Xacobeo
Revisão
Dori Abuín
Carla Fernández-Refoxo
Carmo Iglesias
Alfonso Salgueiro
Tradução para o português
Interlingua Traduccións
Paulo Bandeira Lourenço
A realização do Caminho de Santiago
em bicicleta está reconhecida por encontrar
na actividade ciclista numerosos factores
característicos da peregrinação. Com efeito,
a velocidade e as mudanças de ritmo
complementam-se com o indispensável esforço físico
e o sentido de superar-se a si mesmo, facilitando a
reflexão e certo clima de solidão, tudo isso compatível
com a viagem em grupo e o exercício da solidariedade.
Revisão e actualização
Carraig Linguistic Services
Desenho e maquetagem
Permuy Asociados
Impressão
UTE (Unión Temporal de Empresas)
Alva Gráfica, S.L.
Gráficas Anduriña, S.C.L.
Tórculo Artes Gráficas, S.A.
D.L.: X XXXX-XXXX
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O Caminho Francês em bicicleta
A preparação
da bicicleta
Antes de sair
Se se inicia o trajecto na última localidade jacobeia do Caminho
antes de se entrar em Espanha por Roncesvalles, como aqui se
propõe, são quase 800 quilómetros os que nos separam de
Santiago. Aproximadamente metade do itinerário decorre por
zonas de perfil acidentado, salpicado por contínuas subidas e
descidas e um ou outro porto de montanha.
No entanto, também são 800 quilómetros que o peregrino
pode planificar segundo os seus desejos, de acordo com a sua
preparação física e o tempo de que dispõe. Os principais factores
que há que ter em conta antes de partir são a preparação da
bicicleta, a preparação física, a alimentação, a planificação do
trajecto, o estudo básico da rota e o equipamento a transportar.
O equipamento
básico de
qualquer bicicleta
de montanha
costuma ser
suficiente para
enfrentar com umas
mínimas garantias
técnicas uma rota
como o Caminho de
Santiago. É necessário,
contudo, colocar
também no veículo uns
alforges e uma grelha
para as bagagens sobre a
roda traseira. Também é de
utilidade a bolsa que se
coloca debaixo de selim,
e na qual se pode colocar um
pequeno conjunto de ferramentas.
São úteis, mesmo assim, as bolsas
colocadas no guiador para a
documentação da rota. Também
se pode instalar um velocímetro.
A preparação física
As pessoas habituadas à actividade ciclista deverão
adaptar-se, antes de partir, ao manejo da bicicleta
por traçados difíceis e com os alforges carregados.
Os não iniciados devem realizar uma preparação lenta e contínua
de adaptação, tanto à própria bicicleta como aos trajectos por
caminhos e zonas de piso irregular. É necessário começar
a preparação um mês antes e treinar um pouco cada dia,
aumentando gradualmente as distâncias e adaptando-se na última
semana à condução com os alforges cheios. É fundamental não
deixar nada sem experimentar antes de partir –tanto materiais,
como vestimentas– e dispor de uns conhecimentos básicos
da mecânica da bicicleta.
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O Caminho Francês em bicicleta
dura, luvas, óculos de sol, chapéu ou boné, um
impermeável leve e um capacete. Se o caminho não
se realiza no Verão, será necessário adaptar este
equipamento ao tempo invernal –maillot térmico,
calças de licra, etc.–. Ao que foi dito antes,
acrescente-se a roupa interior e de usar na rua mais
imprescindíveis, umas sapatilhas leves, protector
solar, uma toalha, objectos de higiene, um cantil,
uma lanterna e a documentação pessoal e da rota.
O estado da rota
O período idóneo para iniciar o Caminho em bicicleta é a
primeira quinzena de Setembro, superados os rigores estivais,
e ainda com dias longos. Outra época adequada é a que vai
de finais de Maio até princípios de Julho. Durante a Primavera
e começo do Outono o Caminho manifesta-se em plenitude,
ainda que a instabilidade meteorológica possa pregar uma
grande partida em determinados momentos.
Outros elementos básicos são o saco-cama e a
esteira, ferramentas para pequenas reparações,
sobretudo os furos, e um plástico com tamanho
suficiente para cobrir os alforges e o saco-cama.
A compostela
Não são tão idóneos os meses de Julho e Agosto, devido
sobretudo ao calor. A viajar nestes meses, é aconselhável
aproveitar as primeiras e últimas horas do dia. Também não
é bom viajar pelo Caminho no Inverno, devido ao mau tempo,
com frequentes chuvas e frio –às vezes também neve–
e caminhos em más condições.
Também deverá decidir-se antes de partir se se
deseja obter a compostela, diploma comprovativo
da peregrinação a Santiago que concede a catedral
compostelana através do Posto do Peregrino.
Este diploma é concedido aos que realizam
o Caminho a pé, a cavalo ou de bicicleta,
e por motivos religiosos. No caso dos ciclistas
é necessário comprovar, mediante um carimbo
colocado ao longo do Caminho em diversos
estabelecimentos da Igreja e outras entidades,
que foram realizados pelo menos os 200
quilómetros finais desta rota.
A bagagem
A bagagem tem que ser reduzida ao mínimo, devido às
condições da bicicleta.
O equipamento básico deve incluir um maillot, uns calções
de licra, botas de bicicleta de montanha ou sapatilhas de sola
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O Caminho Francês em bicicleta
As etapas propostas
1. Saint-Jean Pied de Port – Roncesvalles
O Caminho de Santiago não conta com um ponto
exacto de partida nem com um único itinerário,
pelo contrário, a ele pode aceder-se a partir
dos mais diversos lugares da geografia europeia.
Nesta publicação propõe-se o trajecto pelo itinerário
tradicionalmente mais reconhecido e seguido:
o Caminho Francês. Esta rota dispõe de quatro vias
principais em França e entra em Espanha por dois
pontos dos Pirenéus: Roncesvalles (Navarra)
e Somport (Aragão). Aqui optou-se pelo trajecto
que vai desde a localidade francesa de Saint-Jean
Pied de Port, dada a sua simbologia jacobeia e muito
próxima já de Espanha, até à cidade de Santiago.
Na localidade francesa de Saint-Jean Pied de Port, o Caminho de
Santiago vê já terras espanholas. São apenas uns 30 quilómetros
os que separam a vertente norte e sul da cordilheira pirenaica,
num dos trechos mais belos e emotivos da Rota Jacobeia.
Esta primeira etapa oferece dois possíveis itinerários, ambos de
grande tradição jacobeia. O primeiro, denominado a “Rota dos
portos de Cize”, é muito mais duro, mas também mais gratificante.
Majestosas paisagens pirenaicas e frondosos bosques caducifólios
sucedem-se no trajecto. A segunda rota, por Valcarlos, apresenta
um trajecto mais fácil, mas menos espectacular.
Divide-se o Caminho em 15 etapas, com as quais
se procura conjugar a capacidade de um ciclista
de tipo médio com o interesse histórico e artístico
da rota. Em todo o caso, cada ciclista deverá adaptar
o trajecto às suas características. O Caminho
nunca pode converter-se numa corrida em direcção
a Compostela.
Distância: 26 km (rota de Cize)
Cota mínima: 233 m
Cota máxima: 1.480 m
Dificuldade: alta-muito alta
Como poderá comprovar, ao final de cada etapa
dispõe o ciclista de albergues para peregrinos que
têm habitualmente um baixo custo. Em determinados
albergues, os peregrinos a pé têm preferência e é
necessário aceitar as suas normas de funcionamento.
Na quase totalidade das etapas
há também outros albergues
ao longo da rota como alternativas
que, chegado o momento,
também se podem considerar.
Lugares de interesse cultural: Saint-Jean Pied de Port,
Alto de Ibañeta, Roncesvalles
Albergues para peregrinos: Roncesvalles (80 camas)
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O Caminho Francês em bicicleta
2. Roncesvalles – Pamplona
3. Pamplona – Estella
Neste trecho o Caminho deixa para trás os Pirenéus. Ao grande
bosque pirenaico sucedem-se os pequenos bosques de carvalhos
e coníferas, as terras de cultivo e os campos de sequeiro.
É um trajecto que permite desfrutar da sumptuosidade
dos pequenos e bem cuidados povoados navarros.
A etapa decorre por contínuos e tortuosos “tobogãs” que
convertem este trajecto num violento teste à fortaleza das pernas.
À margem desta questão, o traçado não apresenta excessivas
dificuldades técnicas, se exceptuarmos a descida do alto de Erro
e a parte final da etapa, a partir de Zabaldica. No caso de chover,
é aconselhável que ambos os trechos sejam realizados por estrada.
Esta etapa atravessa o coração da velha Navarra. Avança-se por
terras secas e com colinas, salpicadas de povoações. A metade da
etapa encontra-se a emblemática localidade de Puente la Reina,
na qual as duas rotas do Caminho Francês que entram em
Espanha por Roncesvalles e Somport se unem até Santiago.
O símbolo desta unificação é a histórica ponte medieval da
localidade, construída expressamente para facilitar a passagem
dos peregrinos.
O perfil deste trajecto não oferece dificuldades, salvo no seu
trecho final, na subida ao alto do Perdón. O terreno argiloso
pelo qual decorre parte da etapa oferece muitas dificuldades
para avançar em caso de chuva.
Distância: 48 km
Distância: 44 km
Cota mínima: 420 m
Cota mínima: 397 m
Cota máxima: 962 m
Cota máxima: 780 m
Dificultade: média-alta
Dificultade: média
Lugares de interesse cultural: Viscarret, Pasos de Roldán,
Zubiri, Villava, Pamplona
Lugares de interesse cultural: Alto del Perdón,
Puente la Reina, Cirauqui, Estella
Albergues: Zubiri (18 camas), Larrasoaña (34), Arre (20),
Pamplona (20)
Albergues: Cizur Menor (20 camas), Puente la Reina (200),
Estella (100)
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O Caminho Francês em bicicleta
4. Estella – Logroño
5. Logroño – Santo Domingo de la Calzada
É esta a última etapa que se realiza em direcção a sudoeste.
A partir de Logroño, o Caminho Francês segue pela rota do
poente, que já não se abandonará até chegar a Compostela.
Este trecho passa pelas imediações do grande mosteiro
beneditino de Irache e cruza o rio Ebro pela histórica ponte
de Piedra, já às portas da cidade de Logroño, capital de La Rioja.
Campos de cereais e de vinhas acompanham-nos neste trajecto.
As vinhas e as terras de lavoura conformam a paisagem de uma
etapa que tem a sua meta em Santo Domingo de la Calzada,
uma das localidades de maior tradição jacobeia, já que foi fundada
pelo santo do mesmo nome para a atenção aos peregrinos.
Santo Domingo também promoveu o traçado do Caminho
nesta zona, que tem a sua principal referência na magnífica
ponte de 24 arcos sobre o rio Oja.
Estamos numa etapa de grande esforço muscular,
com contínuos declives nos quais o vento costuma
converter-se num desagradável companheiro de trajecto.
Em caso de chover, também se podem apresentar problemas
com o barro nos trechos de terra.
As serras da Demanda, a sul, e da Cantábria, a norte, franqueiam
o extenso vale do rio Ebro pelo qual transcorre esta etapa,
o que favorece a existência de fortes ventos que endurecem
um trajecto já inicialmente difícil.
Distância: 49 km
Distância: 48 km
Cota mínima: 420 m
Cota mínima: 390 m
Cota máxima: 590 m
Cota máxima: 715 m
Dificultade: média-baixa
Dificultade: média-alta
Lugares de interesse cultural: Irache, Torres del Río,
Viana, Logroño
Lugares de interesse cultural: Navarrete, Nájera,
Santo Domingo
Albergues: Los Arcos (88 camas), Torres del Río (30),
Viana (40), Logroño (98)
Albergues: Navarrete (33 camas), Nájera (58), Azofra (20),
Santo Domingo de la Calzada (102)
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O Caminho Francês em bicicleta
6. Santo Domingo de la Calzada – Burgos
Os montes de Oca são o acidente geográfico mais característico
desta etapa. Na ascensão a estes pequenos cumes atravessa-se
o que será o último bosque notável antes de chegar a terras
do Bierzo.
Superado o duro porto da Pedraja, e com ele a parte mais elevada
dos montes de Oca, o peregrino verá recompensados os seus
esforços com a chegada ao espaço natural, histórico e artístico
do mosteiro de San Juan de Ortega. Depois de passar este bonito
conjunto, de novo a planície se apodera do traçado, que conclui
na monumental cidade de Burgos.
7. Burgos – Carrión de los Condes
Tal como a anterior, esta volta a ser uma etapa com um grande
número de locais jacobeus e culturais. É o caso, entre outros,
da ponte Fitero, de origem românica e de onze arcos, sobre o rio
Pisuerga, ou do património monumental de localidades como
Frómista, Villalcázar de Sirga e Carrión, todas na comarca de
Palência de Tierra de Campos.
Apesar de se tratar de uma etapa aparentemente plana,
contínuas encostas fazem subir e descer o peregrino por uma
sucessão de pequenas colinas. Ultrapassada uma, depara-se
já o horizonte da seguinte. A recompensa chega em parte
com as belas vistas que oferecem estas atalaias.
Distância: 75 km
Distância: 86 km
Cota mínima: 640 m
Cota mínima: 800 m
Cota máxima: 1.165 m
Cota máxima: 920 m
Dificultade: alta
Dificultade: média-alta
Lugares de interesse cultural: Redecilla del Camino,
Belorado, Villafranca de Montes de Oca, San Juan de Ortega,
escavações da Serra de Atapuerca, Burgos
Lugares de interesse cultural: Castrojeriz, Frómista, Villalcázar
de Sirga, Carrión de los Condes
Albergues: Villalbilla de Burgos (10 camas), Tardajos (10),
Hornillos del Camino (20), San Bol (10), Hontanas (34),
Castrojeriz (106), Itero del Castillo (12), Itero de la Vega (14),
Boadilla del Camino (64), Frómista (55), Población de Campos
(13), Villalcázar de Sirga (19), Carrión de los Condes (89)
Albergues: Grañón (70 camas), Redecilla del Camino (40),
Belorado (22), Villafranca (20), San Juan de Ortega (60),
Ages (38), Olmos de Atapuerca, Burgos (102)
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O Caminho Francês em bicicleta
8. Carrión de los Condes – Sahagún
9. Sahagún – León
A planície de Castela domina com sobriedade e força esta etapa
que tem na sua meta em Sahagún a principal referência histórica
e cultural, com as suas emblemáticas igrejas do românico mudéjar,
entre outros atractivos.
Este trecho está situado aproximadamente a metade da Rota
que se dirige a Santiago. A extraordinariamente extensa planície
castelhana castiga com um sol sem misericórdia durante os meses
de estio, uma situação só aliviada pelas isoladas filas de choupos
de alguns ribeiros e pelas sombras das ruelas dos povoados.
Os primeiros 16 quilómetros da etapa realizam-se por agradáveis
caminhos entre campos de cultivo, mas os restantes coincidem
em grande medida com o traçado da estrada N-120.
Ao sair de Sahagún, o Caminho adentra-se no páramo de Leão.
A paisagem torna-se diferente e o solo, acidentado e pedregoso.
A recompensa final, para além da austera beleza do páramo,
é a cidade de León, com um excepcional património artístico
no qual sobressai a catedral gótica.
Cruzar o páramo é duro, tanto no Verão como no Inverno.
Os peregrinos dispõem de duas alternativas para o seu trajecto.
Uma mais humanizada, pelo caminho real, e outra, pela calçada
histórica dos peregrinos, mais agreste e solitária. Em qualquer
dos dois casos, no Verão convém iniciar a rota à primeira hora
da manhã e ir bem prevenido de água.
Distância: 39 km
Distância: 57 km (pela calçada dos peregrinos)
Cota mínima: 830 m
Cota mínima: 800 m
Cota máxima: 910 m
Cota máxima: 910 m
Dificultade: muito baixa
Dificultade: baixa
Lugares de interesse cultural: Sahagún
Lugares de interesse cultural: Mansilla de las Mulas, León
Albergues: Calzadilla de la Cueza (84 camas), Ledigos (50),
Terradillos de los Templarios (25), Sahagún (64)
Albergues: Calzada del Coto (24 camas), Calzadilla de los
Hermanillos (16), Bercianos del Camino (7), El Burgo Raneros
(36), Reliegos (50), Mansilla de las Mulas (46), León (164)
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O Caminho Francês em bicicleta
10. León – Astorga
11. Astorga – Ponferrada
O trajecto que se dirige a Santiago continua por um páramo cada
vez mais humanizado e fácil. Na parte final, já a caminho da cidade
de Astorga, de origem romana, entra-se na comarca de
La Maragatería, famosa pelos seus arrieiros e pelas suas
arreigadas tradições.
No quilómetro 33 da etapa encontra-se a Ponte do Paso Honroso,
sobre o rio Órbigo, famosa pelo feito do cavaleiro Suero de
Quiñones (s. XV), que no Ano Santo Compostelano de 1434
levou a cabo umas famosas justas neste lugar, obrigado pelo
seu compromisso com uma dama e pondo o Apóstolo Santiago
como testemunha.
O Caminho continua por terras de La Maragatería até quase
metade da etapa. Nas imediações do monte Irago começa
a comarca do Bierzo, terra de transição entre Leão e a Galiza,
na qual as gentes, os costumes e a paisagem aparecem já muito
marcadas por esta característica de espaço como ponte entre
duas culturas.
Em consonância com o anteriormente dito, o traçado do
Caminho é também de transição entre as planícies do páramo
e os serpenteantes caminhos e estradas em contínuas subidas
e descidas que não abandonam já o peregrino até Santiago.
Neste trecho é necessário superar a Cruz de Ferro, a 1.504 m
de altura, um dos pontos mais altos do Caminho Francês.
Distância: 49 km
Distância: 54 km
Cota mínima: 800 m
Cota mínima: 500 m
Cota máxima: 950 m
Cota máxima: 1.504 m
Lugares de interesse cultural: santuário da Virgen del Camino
(s. XX), Hospital de Órbigo, Astorga
Dificultade: alta
Lugares de interesse cultural: Castrillo de los Polvazares,
Rabanal del Camino, Cruz de Ferro, Molinaseca, Ponferrada
Albergues: Villadangos del Páramo (70 camas), Hospital de
Órbigo (80), Santibáñez de Valdeiglesias (25), Astorga (96)
Albergues: Murias de Rechivaldo (24 camas), Santa Catalina de
Somoza (34), El Ganso (16), Rabanal del Camino (154),
Foncebadón (10), Manjarín (20), El Acebo (20),
Riego de Ambrós (20), Molinaseca (46), Ponferrada (158)
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O Caminho Francês em bicicleta
12. Ponferrada – O Cebreiro
13. O Cebreiro – Sarria
O Bierzo e a Galiza dão a mão nesta etapa que culmina a 1.300 m
em O Cebreiro, talvez o núcleo do Caminho com mais conotações
míticas e simbólicas. Antes, em Villafranca del Bierzo, já se poderá
ter admirado o seu conjunto monumental e a igreja românica
de Santiago, na qual podiam receber as indulgências plenárias
os peregrinos impossibilitados de chegar a Compostela.
A frondosidade da paisagem e a montanha galega dominam
este trecho. Em Triacastela, a Rota oferece duas possibilidades:
continuar pelo caminho tradicional, pela aldeia de A Balsa,
num espaço cheio de pequenos bosques e prados, ou fazê-lo,
pela estrada, até Samos, cujo grande mosteiro beneditino
atrai desde a antiguidade a muitos peregrinos.
Os primeiros quilómetros não oferecem grandes novidades
num trajecto que, partindo de Villafranca, avança pelo estreito
vale do rio Valcarce, entre ladeiras de carvalhos e castanheiros.
Nos últimos oito quilómetros ultrapassa-se um desnível
de 690 metros. No entanto, o carácter espectacular da paisagem
e a sensação de que Compostela está já perto compensam
este esforço.
O Caminho avança por uma zona muito povoada –assim será
já até Compostela–, entre uma sucessão de aldeias e duas
localidades de considerável dimensão –Triacastela e Samos–.
Neste trajecto sucedem-se subidas e descidas, tendo que se
ultrapassar nesta etapa um desnível de quase 850 metros entre
O Cebreiro e Sarria.
Distância: 50 km
Distância: por A Balsa, 40 km; por Samos, 43 km
Cota mínima: 460 m
Cota mínima: 450 m
Cota máxima: 1.320 m
Cota máxima: 1.330 m
Dificultade: alta-muito alta
Dificultade: média
Lugares de interesse cultural: Cacabelos, Vilafranca,
O Cebreiro
Lugares de interesse cultural: Triacastela, Samos, Sarria
Albergues: Hospital da Condesa (18 camas), Triacastela (56),
Calvor (22), Sarria (41)
Albergues: Cacabelos (70 camas), Villafranca del Bierzo (120),
Pereje (24), Trabadelo (30), Vega de Valcarce (38), La Faba
(14), Laguna de Castilla (14), O Cebreiro (106)
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O Caminho Francês em bicicleta
14. Sarria – Palas de Rei
15. Palas de Rei – Santiago de Compostela
O Caminho abandona Sarria por um dos carvalhais (“carballeiras”)
mais singulares do trajecto, para continuar entre um sem-fim
de aldeias e terras de cultivo. Destaca-se Portomarín, uma das
localidades de maior peso histórico da Rota, mas que ficou
submersa pela represa de Belesar, no rio Minho, em 1962.
O novo Portomarín, aos pés das ruínas do desaparecido,
tenta manter o seu antigo encanto, pelo que se trasladaram
até ele algumas das velhas construções, como a igreja românica
de San Nicolás (s. XII).
Esta penúltima etapa avança entre uma paisagem de suaves
ondulações e breves planícies, o que não impede que resulte
num autêntico esforço de pernas o poder superá-la,
devido a constantes oscilações do traçado.
Estamos apenas a 70 quilómetros da meta compostelana e a
sensação que sente o peregrino pela eminente chegada anima-o a
superar este último trecho com forças renovadas. Santiago oferece
ao peregrino a recompensa por todos os esforços realizados.
Ainda que não conte com grandes dificuldades orográficas,
o trajecto desta última etapa, de novo entre contínuas aldeias,
é bastante duro. O Caminho supera, um após outro, pequenos
vales e rios que descem até ao Tambre, e esta sucessão de subidas
e descidas endurece o trajecto. A isto se acrescenta um traçado
que cruza por diversas vezes a estrada N-547. Ao chegar ao Monte
do Gozo, avistam-se pela primeira vez as torres da catedral de
Santiago: a meta torna-se visível. A partir de aqui, entramos na
zona urbana da cidade.
Distância: 47 km
Distancia: 69 km
Cota mínima: 360 m
Cota mínima: 290 m
Cota máxima: 730 m
Cota máxima: 560 m
Dificultade: media-alta
Dificultade: media
Lugares de interesse cultural: Portomarín, Vilar de Donas
–nas imediações da rota–
Lugares de interese cultural: Melide, A Lavacolla,
Monte do Gozo, Santiago de Compostela
Albergues: Barbadelo (18 camas), Ferreiros (22),
Portomarín (110), Gonzar (30), Vendas de Narón (32),
Ligonde (20), Palas de Rei (64),
Pavilhão de peregrinos de Palas de Rei (112)
Albergues: Mato (20 camas), Melide (130), Ribadiso (70),
Arzúa (50), Santa Irene (36), O Pino (126), Monte do GozoSantiago (400), San Lázaro-Santiago (80)
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O Caminho Francês em bicicleta
A cidade histórica
Depois de ter visitado a catedral compostelana,
ponto de chegada e encontro dos peregrinos,
a cidade de Santiago oferece-se ao visitante em
todo o seu esplendor histórico, em toda a sua
diversidade e dinamismo presentes.
A actual cidade de Santiago de Compostela
nasce como um pequeno núcleo de monges
custódios em torno do sepulcro do Apóstolo
no momento da sua descoberta, por volta do
ano de 820. O desenvolvimento da cidade na
Idade Média é espectacular, graças ao auge
europeu das peregrinações, que a converte,
com Jerusalém e Roma, num dos três grandes
centros da Cristandade.
Paço de Raxoi
Botafumeiro
Desde o s. XV ao XIX a cidade alterna momentos
de dinamismo e de certa decadência,
ao compasso dos vaivéns da história galega,
espanhola e europeia. As peregrinações perdem
peso, mas Santiago consolida-se como centro
cultural, com a criação da Universidade,
e mantém a sua influência religiosa, o que se
reflecte na sua renovação urbana renascentista
e barroca, tão presente e palpitante nos mais
relevantes edifícios históricos da cidade.
A cidade actual
Santiago vive desde a segunda metade do
s. XX um contínuo período de expansão.
Ao progressivo renascimento das
peregrinações, que mantêm o seu
significado espiritual tradicional, acrescentase o singular e imparável atractivo turístico
e cultural do Caminho de Santiago.
Nos últimos anos, Santiago, capital
administrativa da comunidade autónoma
galega, dotou-se de grandes infra-estruturas
culturais e turísticas e consolidou a sua
projecção internacional como centro
histórico-cultural e europeísta, algo que
confirmam diariamente os milhares de
peregrinos e turistas que, em qualquer
época do ano, a visitam.
Cidade declarada Património da
Humanidade pela UNESCO, quer manter
neste novo século o seu milenário apelo
ao espírito, à concórdia e ao progresso,
através do significado histórico do
Caminho de Santiago.
Na catedral
A catedral de Santiago, cuja construção
se iniciou em 1075, é um dos grandes
monumentos europeus, tanto a nível artístico,
como simbólico. Desde a sua origem românica
evoluiu através dos mais diversos estilos,
especialmente o barroco, que alcançou o seu
cume na fachada de O Obradoiro (1738-1750).
Percorrendo as suas naves e Museu é possível
aceder a um património tão singular como
diversificado nos seus conteúdos e significados.
Durante a visita ao conjunto da catedral,
o peregrino costuma cumprir com um ritual
que o levará à câmara do altar-mor para dar
o tradicional “abraço” ao apóstolo Santiago
–uma escultura de origem românica–
e a visitar seguidamente a cripta na qual se
conservam os seus restos. A visita ao Pórtico
da Glória também forma parte deste ritual,
assim como assistir à missa do peregrino
–12,00h–, na qual é frequente o
funcionamento do “botafumeiro”, o grande
incensário cujo voo, desde o alto da nave
do cruzeiro, surpreende todos os visitantes.
Após ter estado na catedral, o peregrino,
se dispõe já das credenciais que justificam
a sua peregrinação a pé, a cavalo ou de
bicicleta, pode solicitar no Posto do
Peregrino a “compostela”, o documento que
credita a sua peregrinação, concedido pelo
Cabido da catedral. A partir desse momento,
abre-se diante de si, em plenitude, a cidade
de Santiago de Compostela.
Cidade da Cultura
Centro Galego de Arte Contemporânea
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O Caminho Francês em bicicleta
Plano do Centro Histórico de Santiago
1 Catedral–Porta Santa–Paço de Xelmírez
2 Paço de Raxoi
3 Pousada dos Reis Católicos
4 Colégio de San Xerome
5 Igreja de San Fructuoso
6 Colégio de Fonseca
7 Casa do Cabido
8 Casa da Conga
9 Casa da Parra
10 Convento de San Paio de Antealtares
11 Mosteiro de San Martiño Pinario
12 Igreja de San Martiño Pinario
13 Casa do Deão Posto do peregrino
14 Paço de Vaamonde
15 Paço de Bendaña
16 Igreja de Santa Mª Salomé
17 Convento de San Francisco
18 Convento do Carme
19 Convento de Santa Clara
20 Igreja e antigo hospital de San Roque
21 Casa Gótica. Museu das Peregrinações
22 San Domingos de Bonaval.
Museu do Povo Galego
23 Centro Galego de Arte Contemporânea
24 Faculdade de Geografia e História
25 Igreja da Universidade
26 Igreja de San Fiz
27 Convento e igreja de Madres Mercedárias
28 Colégio de As Orfas
29 Igreja de San Miguel dos Agros
30 Igreja de Santa María do Camiño
31 Igreja de San Bieito do Campo
32 Convento de Santo Agostiño
33 Colégio de San Clemente
34 Capela Geral de Ánimas
35 Capela de Santiago
36 Igreja do Pilar
37 Colegiada de Santa María a Real de Sar
Caminho Francês
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O Caminho Francês em bicicleta
Os Caminhos de Santiago
A descoberta do sepulcro do apóstolo Santiago
o Maior, a princípios do século IX, gerou de imediato
uma populosa corrente de peregrinação em
direcção a este lugar, no qual hoje está a
cidade galega de Santiago de Compostela.
Esta afluência acabou por formar, desde os mais
diversos pontos de Europa, uma densa rede de
itinerários conhecida, no seu conjunto, como o
Caminho de Santiago, ou a Rota Jacobeia.
Os momentos de maior apogeu da
peregrinação produziram-se nos séculos
XI, XII e XIII com a concessão de determinadas
indulgências espirituais. No entanto,
esta corrente manteve-se, com maior ou menor
intensidade, ao longo dos restantes séculos.
Desde a segunda metade do século XX,
o Caminho de Santiago vive um novo renascer
internacional que combina o seu tradicional
acervo espiritual e sociocultural com o seu
poder de atracção turística e como renovado
lugar de encontro aberto a todo o tipo de
gentes e culturas.
Tradicionalmente, os períodos de maior afluência de
peregrinos e visitantes no Caminho coincidem com
os Anos Santos Compostelanos, que se celebram
cada 6, 5, 6 e 11 anos, mas qualquer ano e momento é
idóneo para realizar algum itinerário desta rota e visitar
a cidade que tem como meta: Compostela.
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O Caminho Francês em bicicleta
Caminho de Europa
O Caminho de Santiago gerou ao longo dos seus doze séculos de
existência uma extraordinária vitalidade espiritual, cultural e social.
Devido à sua existência nasceu a primeira grande rede assistencial da
Europa e foram criados mosteiros, catedrais e novos núcleos urbanos.
Pelo encontro entre gentes de tão diversa procedência que esta
rota propiciou, surgiu uma cultura baseada no intercâmbio aberto
de ideias e correntes artísticas e sociais, assim como um dinamismo
socio-económico que favoreceu, sobretudo durante a Idade Média,
o desenvolvimento de diversas zonas de Europa.
A marca do Caminho e dos peregrinos a Compostela é reconhecível
numa infinidade de testemunhos públicos e privados, em distintas
manifestações de arte ou, por exemplo, nos mais de mil livros que
nas últimas décadas se ocuparam, em todo o mundo, desta senda,
obra e património de todos os europeus.
As vias principais do Caminho de Santiago foram declaradas
Primeiro Itinerário Cultural Europeu (1987) pelo Conselho de
Europa, Bem Património da Humanidade pela UNESCO nos seus
traçados ao longo de Espanha e França (1993 e 1998,
respectivamente) e Prémio Príncipe de Astúrias da
Concórdia 2004, outorgado pela
Fundação Príncipe de Astúrias.
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