UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ EDUARDO PADOIN MODELAGEM MATEMÁTICA DA DINÂMICA DA NÃO LINEARIDADE DE FOLGA EM UMA JUNTA ROTATIVA DE UM ROBÔ SCARA COM TRANSMISSÃO POR ENGRENAGENS Ijuí, RS – BRASIL. 2011 EDUARDO PADOIN MODELAGEM MATEMÁTICA DA DINÂMICA DA NÃO LINEARIDADE DE FOLGA EM UMA JUNTA ROTATIVA DE UM ROBÔ SCARA COM TRANSMISSÃO POR ENGRENAGENS Dissertação apresentada ao programa de pósgraduação em modelagem matemática da universidade regional do noroeste do estado do rio grande do sul (UNIJUÍ), como requisito parcial para obtenção do título de mestre em modelagem matemática. ORIENTADOR: DOUTOR ANTONIO CARLOS VALDIERO Ijuí, RS - BRASIL 2011 UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MODELAGEM MATEMÁTICA MODELAGEM MATEMÁTICA DA DINÂMICA DA NÃO LINEARIDADE DE FOLGA EM UMA JUNTA ROTATIVA DE UM ROBÔ SCARA COM TRANSMISSÃO POR ENGRENAGENS Elaborada por EDUARDO PADOIN Como requisito para obtenção do grau de Mestre em Modelagem Matemática Comissão Examinadora Prof. Dr. Antonio Carlos Valdiero – DETEC/UNIJUÍ (Orientador) Prof. Dr. Wang Chong – UNIPAMPA Prof. Dr. Paulo Sausen – DETEC/UNIJUÍ Ijuí, RS, 28 de Março de 2011. AGRADECIMENTOS A Deus. A minha família, em especial meus pais, Aido e Ivone Padoin, minha irmã Daniela e minha namorada pelo incentivo e apoio. Ao meu orientador Prof. Dr. Antonio Carlos Valdiero, pelos conhecimentos transmitidos com paciência e amizade ao longo de todo o período de desenvolvimento desse trabalho Aos professores e bolsistas do Campus Panambi em especial ao Prof. Dr. Luiz Antonio Rasia, pelo auxílio e apoio nas tarefas e estudos. Aos meus colegas do curso de Modelagem Matemática, em especial ao colega Odair Menuzzi pela amizade e parceira nos estudos. Ao casal Zaida e Artur pelo convívio, amizade e hospitalidade. A CAPES pelo apoio financeiro A todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. “Uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio o previne” Albert Einstein SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ 8 LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... 12 SIMBOLOGIA .................................................................................................................... 13 RESUMO ............................................................................................................................ 16 ABSTRACT ........................................................................................................................ 17 1. Introdução ........................................................................................................................ 18 1.1 Generalidades................................................................................................................. 18 1.2 Descrição do robô e seus principais componentes ........................................................... 19 1.3 Transmissões mecânicas de manipuladores robóticos ..................................................... 21 1.4 Descrição da não linearidade de folga............................................................................. 24 1.5 Objetivos e Metas........................................................................................................... 25 1.6 Metodologia ................................................................................................................... 26 1.7 Organização do Trabalho ............................................................................................... 26 2. Modelagem matemática ................................................................................................... 28 2.1 Introdução ...................................................................................................................... 28 2.2 Revisão bibliográfica sobre a não linearidade de folga .................................................... 29 2.3 Modelagem matemática do eixo motor e movido............................................................ 31 2.4 Modelo da não linearidade de folga ................................................................................ 33 2.5 Modelo dinâmico de um junta robótica acionada por trens de engrenagens. .................... 35 2.6 Discussões ..................................................................................................................... 36 3. Metodologia para identificação experimental dos parâmetros de uma junta rotativa acionada por transmissão de engrenagens ............................................................................. 38 3.1. Introdução ..................................................................................................................... 38 3.2 Descrição do sistema de aquisição de dados ................................................................... 39 3.3 Descrição da bancada experimental para testes da não linearidade de folga .................... 41 3.4 Metodologia de identificação experimental dos parâmetros da não linearidade de folga.. 45 3.5 Exemplo de aplicação na junta rotativa do protótipo de um robô SCARA....................... 50 3.6 Discussões ..................................................................................................................... 53 4. Resultados em malha aberta ............................................................................................. 54 4.1 Introdução ...................................................................................................................... 54 4.2 Simulação computacional com dados da bibliografia ...................................................... 55 4.3 Simulação computacional com dados da bancada experimental ...................................... 58 4.3.1 Entrada na forma de dente de serra. ............................................................................. 58 4.3.2 Entrada senoidal. ......................................................................................................... 60 4.3.3 Entrada polinomial ...................................................................................................... 62 4.4 Teste experimental na bancada ....................................................................................... 64 4.5 Validação do modelo ...................................................................................................... 69 4.6 Discussão ....................................................................................................................... 71 5. Resultados em malha fechada ........................................................................................... 73 5.1 Introdução ...................................................................................................................... 73 5.2 Descrição dos controles clássicos (P,PD,PI,PID) ............................................................ 74 5.3 Estratégias de controle.................................................................................................... 75 5.4 Descrição e simulação da inversa do modelo da não linearidade de folga ....................... 78 5.5 Simulação computacional ............................................................................................... 82 5.6 Discussões ..................................................................................................................... 89 6. Conclusões ....................................................................................................................... 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 92 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Principais componentes de um manipulador robótico industrial do tipo SCARA ... 19 Figura 2 - Tipos de estruturas de robôs industriais: a) robô articulado, b) robô SCARA, c) robô cartesiano. Fonte: Adaptado de Paatz (2008). ............................................................... 20 Figura 3 - Partes de uma engrenagem. .................................................................................. 22 Figura 4 - Vários tipos de engrenagnes: a) Dentes Retos, b) Dentes internos, c) engrenagens cônicas, d) cremalheira e roda dentada, e) Engrenagem com dentes Helicoidais. Fonte: Valdiero (1998). ................................................................................................................... 23 Figura 5 - Esquema representativo da não linearidade de folga. ............................................ 24 Figura 6 - Esquema gráfico da modelagem matemática da dinâmica de uma junta do robô SCARA com transmissão por trem de engrenagens .............................................................. 28 Figura 7 - a) Sistema esquemático do acionamento de uma junta rotativa com transmissão por engrenagens, b) DCL (diagrama de corpo livre) eixo motor, c) DCL (diagrama de corpo livre) eixo movido. ........................................................................................................................ 31 Figura 8 - Representação gráfica da não linearidade de folga e dos parâmetros do modelo utilizado ............................................................................................................................... 35 Figura 9 - Esquema do modelo da junta robótica. ................................................................. 36 Figura 10 - Sistema de aquisição dos dados composto pelo microcomputador (1), placa dSPACE (2) e o painel conector instalados em uma estante de instrumentação (3). .............. 40 Figura 11 - Tela da interface gráfica do software ControlDesk utilizado para aquisição de dados da placa dSPACE ....................................................................................................... 41 Figura 12 - Projeto da maquete eletrônica da bancada de testes. ........................................... 42 Figura 13 - Bancada Experimental para testes da não linearidade de folga em trem de engrenagens. ........................................................................................................................ 42 Figura 14 - Encoder incremental modelo da série 75 do fabricante Hohner........................... 44 Figura 15 - Fluxograma das etapas da metodologia desenvolvida ......................................... 45 Figura 16 - Diagrama de blocos elaborado no SIMULINK/MatLab utilizado para leitura do sinal da dSPACE, (a) leitura da entrada (via encoder), (b) leitura da saída (via encoder) ...... 46 Figura 17 - Gráfico dos sinais de entrada e saída capturados na bancada experimental durante um ciclo do movimento de inversão ..................................................................................... 47 Figura 18 - Gráficos comparativos das saídas com folga e sem folga (caso ideal) no trem de engrenagens testado: (a) entrada versus saídas e (b) saídas versus tempo. ............................. 48 Figura 19 - Região ampliada da figura 18 (a) mostrando graficamente os parâmetros da não linearidade de folga .............................................................................................................. 49 Figura 20 - Diagrama de blocos utilizado na simulação computacional do modelo matemático da não linearidade da folga ................................................................................................... 49 Figura 21 - Mecanismo Projetado do robô SCARA .............................................................. 51 Figura 22 - Foto da junta 2 do robô SCARA e desenho em destaque da transmissão por trem de engrenagens utilizada nesta junta do robô. ....................................................................... 52 Figura 23 - Protótipo do manipulador SCARA construído no Laboratório de Robótica da UNIJUÍ Campus Panambi .................................................................................................... 52 Figura 24 - Diagrama de blocos representativo do modelo da não linearidade de folga. ........ 55 Figura 25 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada e saída para condição inicial ........................ 56 Figura 26 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada e saída ........................................................................... 57 Figura 27 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada versus o sinal de saída ................................................... 58 Figura 28 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada (dente de serra) e saída para condição inicial 59 Figura 29 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada (dente de serra) versus o sinal de saída para condição inicial ................................................................................................................ 60 Figura 30 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada (senoidal) e saída para condição inicial ..... 61 Figura 31 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada (senoidal) versus o sinal de saída para condição inicial .......................................................................................................................... 61 Figura 32 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada (polinomial) e saída....................................................... 63 Figura 33 - Resultado do experimento partindo com trem de engrenagens acoplado com a condição inicial de contato entre as engrenagens. ................................................................. 64 Figura 34 - Comparativo com e sem folga, partindo da condição inicial de folga nula. ......... 65 Figura 35 - Resultado do experimento partindo com trem de engrenagens desacoplado, posição inicial da folga de 4.5º ou 0.0785 rad. ...................................................................... 66 Figura 36 - Comparativo com e sem folga, partindo de uma posição inicial de folga do trem de engrenagens de 4.5º ou 0.0785 rad ................................................................................... 67 Figura 37 - Resultado do experimento partindo com trem de engrenagens desacoplado, partindo de uma folga total de 9º ou 0.157 rad. ..................................................................... 68 Figura 38 - Comparativo com e sem folga, partindo de uma folga total de folga de 9º ou 0.157 rad ....................................................................................................................................... 69 Figura 39 - Fluxograma no processo de validação experimental do modelo .......................... 70 Figura 40 - Validação do modelo matemático da não linearidade de folga ............................ 71 Figura 41 - Esquema da estratégia 1 de controle com compensação de folga e controle no eixo motor ................................................................................................................................... 76 Figura 42 - Esquema da estratégia 2 de controle no eixo movido .......................................... 77 Figura 43 - Estratégia 3 de controle com inversa da folga, eixo motor e movido ................... 78 Figura 44 - Esquema de representação da inversa da não linearidade da folga ...................... 79 Figura 45 - Diagrama de blocos da inversa da folga ............................................................. 79 Figura 46 - Resultado da Simulação computacional do comportamento da inversa da folga para entrada em dente de serra ............................................................................................. 80 Figura 47 - Resultado da Simulação computacional do comportamento da inversa da folga com a representação dos sinais de entrada (dente de serra) versus o sinal de saída ................ 81 Figura 48 - Diagrama de blocos utilizado na simulação computacional da compensação da folga por meio da sua inversa. .............................................................................................. 81 Figura 49 - Resultado da Simulação computacional do comportamento da não linearidade de folga com a compensação da sua inversa .............................................................................. 82 Figura 50 - Resultados da simulação computacional em malha fechada para a trajetória senoidal................................................................................................................................ 83 Figura 51 - Região ampliada da figura 50 mostrando um comparativo entre as estratégias de controle ................................................................................................................................ 83 Figura 52 - Gráfico comparativo dos erros obtidos da simulação computacional em malha fechada para. ........................................................................................................................ 84 Figura 53 - Gráfico comparativo do sinal de controle obtidos da simulação computacional em malha fechada. ..................................................................................................................... 85 Figura 54 - Resultados da simulação computacional em malha fechada para a trajetória polinomial. ........................................................................................................................... 86 Figura 55 - Gráfico de erros para simulação computacional da trajetória polinomial ............ 87 Figura 56 - Resultados do sinal de controle para trajetória polinomial .................................. 88 Figura 57 - Resultados do sinal de controle para estratégia 2 ................................................ 88 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Especificações do sistema de aquisição de dados. ................................................. 40 Tabela 2. Principais componentes da bancada experimental ................................................. 43 Tabela 3. Parâmetros do modelo do sistema com folga. ........................................................ 50 SIMBOLOGIA Alfabeto Latino Coeficiente do polinômio de 7ª ordem da trajetória desejada polinomial Coeficiente do polinômio de 7ª ordem da trajetória desejada polinomial Coeficiente do polinômio de 7ª ordem da trajetória desejada polinomial Coeficiente do polinômio de 7ª ordem da trajetória desejada polinomial Coeficiente do polinômio de 7ª ordem da trajetória desejada polinomial Coeficiente do polinômio de 7ª ordem da trajetória desejada polinomial Coeficiente do polinômio de 7ª ordem da trajetória desejada polinomial Coeficiente do polinômio de 7ª ordem da trajetória desejada polinomial Intervalo de folga a esquerda Fricção viscosa do motor Intervalo de folga a direita Fricção viscosa eixo movido Distância percorrida sobre a trajetória polinomial Deslocamento angular percorrido pela entrada Relação de transmissão [N.m.s] [rad] [N.m.s] [rad] 14 Momento de inércia eixo movido [kg.m2] Momento de inércia do motor [kg.m2] Kp1 Ganho proporcional eixo movido Kpt Ganho proporcional eixo motor Relação de Transmissão Posição inicial da saída Raio da engrenagem movida Raio da engrenagem motora Tempo [s] Somatório dos Torques Perturbação do torque de carga [N.m] Torque da engrenagem motora [N.m] Torque da engrenagem movida [N.m] Torque do Motor [N.m] Tempo de deslocamento da trajetória polinomial Eixos das projeções da intersecção esquerda Eixos das projeções da intersecção direita Alfabeto Grego Saída velocidade angular Entrada velocidade angular 15 Saída aceleração angular Entrada aceleração angular Saída posição angular [rad] Trajetória de saída desejada Função polinômio de 7ª ordem Entrada posição angular Trajetória de entrada desejada [rad] RESUMO Apresenta-se a modelagem matemática e a simulação computacional da não linearidade de folga (backlash) presente em transmissões mecânicas do tipo trem de engrenagens, comuns no acionamento das juntas rotativas de manipuladores robóticos do tipo SCARA (Selective Compliance Assembly Robot Arm - braço robótico para montagem com complacência seletiva). Esses robôs são utilizados em tarefas repetitivas e insalubres da indústria, nas mais diferentes aplicações em setores tais como a indústria de transformação e a de equipamentos eletro-eletrônicos, entre outras. Essas tarefas industriais realizadas requerem precisão e repetitividade nos movimentos desejados. Entretanto, há vários fatores que dificultam a obtenção de boa precisão, a folga nos trens de engrenagens é uma delas. Normalmente, o conceito de folga está associado a este tipo de transmissão mecânica e aos acoplamentos mecânicos similares. Este fenômeno de folga vem dificultando o desempenho de sistemas de controle há vários anos, uma vez que folgas causam efeitos indesejáveis sobre a dinâmica de realimentação e sobre o desempenho do sistema de controle. A junta robótica modelada é composta por uma transmissão mecânica por trem de engrenagens de dentes retos, que resulta em um modelo dinâmico de 4° ordem com a inclusão da não linearidade de folga. O modelo é validado experimentalmente em uma bancada de testes e os resultados ilustram as características da não linearidade. Além disso, foi desenvolvida uma metodologia de identificação experimental dos parâmetros da folga. Por fim, são propostas algumas estratégias de controle para compensação da não linearidade de folga aliadas ao controle clássico proporcional. Resultados de simulação computacional são apresentados para o controle proporcional com e sem a compensação da folga, evidenciando a eficiência da compensação. ABSTRACT This work presents the mathematical modeling and the computer simulation of the backlash nonlinearity present in power transmission by gears, common in driven the prismatic and rotary joint of robotic manipulator SCARA (Selective Compliance Assembly Robot Arm). This robot is used in tasks repeatability and unhealthy the industry, in many different applications in sectors such as manufacturing industry and consumer electronics, among others. These industrial tasks performed require accuracy and repeatability in the desired motion. However, there are several factors that make it difficult to obtain good precision with repetitions, the backlash in gear trains is one. Typically, the concept of backlash is associated with gear trains and similar mechanical couplings. This phenomenon has difficult the performance of control systems for many years, since backlash cause undesirable effects on the system dynamics and on the feedback performance of the control system. The joint robotic modeled is composed by train of gears with straight teeth, that result in a dynamic model of 4° order, with the inclusion of the backlash nonlinearity. The model is experimentally validated in a tests bench and the results illustrate the model characteristics, and also is developed an experimental methodology for identification the backlash parameters. Finally, are propose some control strategies to compensate of the backlash nonlinearity with the classical proportional control. Results of computer simulations are presented to the proportional control with and without the backlash compensation. The simulation results show efficiency of the proportional control using the backlash compensation. 1. INTRODUÇÃO 1.1 Generalidades Esta dissertação trata da modelagem matemática e a simulação computacional da não linearidade de folga (backlash) presente em transmissões mecânicas do tipo trem de engrenagens, comuns no acionamento das juntas rotativas e prismáticas de manipuladores robóticos, como por exemplo, do robô tipo SCARA (Selective Compliance Assembly Robot Arm - braço robótico para montagem com complacência seletiva). Com o crescimento do consumo mundial, a ampliação da produção se fez necessária. Com o intuito de buscar uma solução para suprir essa necessidade, indústrias dos mais diferentes setores tais como transformação, de equipamentos eletro-eletrônicos, entre outras, montaram linhas de produção utilizando robôs no lugar da mão de obra humana para muitas tarefas repetitivas e insalubres nas mais diferentes aplicações nos setores industriais citados. Essas tarefas industriais realizadas requerem precisão e repetitividade nos movimentos desejados. Entretanto, há vários fatores que dificultam a obtenção de boas precisões com repetições, a folga nos trens de engrenagens é uma delas. Normalmente, o conceito de folga está associado com os trens de engrenagem e acoplamentos mecânicos similares. Este fenômeno vem dificultando o desempenho de sistemas de controle há vários anos, uma vez que folgas causam efeitos indesejáveis sobre a dinâmica de realimentação e sobre o desempenho do sistema de controle. O manipulador robótico do tipo SCARA, foco desse estudo, é dotado de uma base fixa seguida de duas juntas rotativas, uma prismática e, em alguns modelos, uma junta rotativa de orientação. Os robôs SCARA são adaptados para aproximação vertical, o que os torna ágeis na movimentação de objetos e, por terem boa velocidade e precisão, são largamente utilizados em montagens precisas que envolvem grande número de itens, como circuitos eletrônicos. Nesse tipo de robô há duas formas de acionamento das juntas rotativas, uma é o acionamento direto (direct-drive), onde o motor é montado diretamente no eixo da junta e que de acordo com Turner (2001) não é o ideal para motores elétricos, pois a ausência de uma relação de redução do movimento leva à necessidade de motores elétricos especiais com menor rotação e maior torque, além de sujeitá-lo aos efeitos dinâmicos do acoplamento. A outra forma de acionamento, que é a mais tradicional e simples, é a utilização de transmissões por engrenagens entre os motores e as juntas, as quais possuem como vantagens a menor carga no motor, maiores rotações no motor e a facilidade de seu posicionamento no braço do 19 robô. A desvantagem deste tipo de acionamento é a presença de atrito e a folga nas transmissões por engrenagem que é apresentado em Padoin et al. (2010), além do aumento do ruído quando a engrenagem for do tipo dentes retos. O propósito deste trabalho é apresentar uma proposta computacional de modelagem e simulação de folga (backslash) em transmissões mecânicas do tipo trem de engrenagem para futura aplicação no controle de robôs industriais de custo mais baixo. 1.2 Descrição do robô e seus principais componentes Um manipulador robótico industrial pode ser divido em três partes distintas: mecanismo, acionamento e sistema de controle. Para o bom funcionamento de um robô essas três partes devem estar bem projetadas e trabalhando em harmonia durante os movimentos desejados nas tarefas de trabalho de um manipulador. Na figura 1 estão identificadas as partes em um manipulador robótico. Figura 1- Principais componentes de um manipulador robótico industrial do tipo SCARA. O mecanismo constitui a estrutura cinemática do manipulador. Sua principal função é realizar os movimentos necessários para a execução da tarefa programada. Deve ter a rigidez 20 adequada ao sistema, bem como prover suporte satisfatório para possibilitar o correto acoplamento dos acionamentos e sensores, visando contribuir para a precisão do manipulador. Os manipuladores robóticos podem apresentar diferentes anatomias em relação à cadeia cinemática, conforme descrito por Paatz (2008) e mostrado na Figura 2. Em ambas as estruturas de manipuladores robóticos, têm-se algumas juntas rotativas que precisam ser acionadas por motores. b) a) c) Figura 2 - Tipos de estruturas de robôs industriais: a) robô articulado, b) robô SCARA, c) robô cartesiano. Fonte: Adaptado de Paatz (2008). 21 Através da disposição dos elos e juntas que formam o mecanismo, é possível determinar o tipo de manipulador robótico (antropomórfico, SCARA, Gantry, etc.) tal como descrito por Schmitt (2009). No caso específico dos manipuladores tipo SCARA, o mecanismo básico compreende duas juntas rotativas e uma prismática, podendo ainda conter mais uma junta rotativa para fins de orientação do efetuador final. Já o acionamento é responsável pela aplicação das forças ou torques necessários para a movimentação adequada do mecanismo, ou seja, consiste na integração dos sistemas de: unidades de potência, atuadores, transmissões de potência, juntamente com os demais fios, tubos e outros componentes pertinentes ao sistema (SCHMITT, 2009). O acionamento pode ser elétrico, hidráulico ou pneumático, podem incluir o sistema de transmissão, o qual tem por objetivo transmitir potência da fonte até a carga, através de componentes como acoplamentos, redutores ou amplificadores. Para que o manipulador robótico desenvolva seu trabalho com precisão e repetitividade é necessário que, além de adequados mecanismo e acionamento, possua um sistema de controle eficiente. O sistema de controle de manipuladores robóticos é formado basicamente por hardware, software, sensores e elementos de comando. Os sensores são responsáveis em fornecer sinais dos valores reais dos estados do sistema para o algoritmo de controle. Com esses sinais, o controlador pode comparar a resposta do sistema com a trajetória desejada, numa estratégia em malha fechada, e assim calcular os sinais de controle do acionamento. A partir da adequada modelagem matemática do sistema e de suas não linearidades, é possível programar o sistema de controle com algoritmos de compensação de tais não linearidades. Esta dissertação se preocupa com a modelagem e a compensação da não linearidade de folga. 1.3 Transmissões mecânicas de manipuladores robóticos Atualmente há duas formas de acionamento das juntas de robôs industriais. Uma é o acionamento direto (direct-drive), onde o motor é montado diretamente no eixo da junta e que de acordo com Turner et al. (2001) não é o ideal para motores elétricos, pois a ausência de uma relação de redução do movimento leva à necessidade de motores elétricos especiais com menor rotação e maior torque, além de sujeitá-lo aos efeitos dinâmicos do acoplamento. A outra forma de acionamento, que é a mais tradicional e simples, é a utilização de transmissões por engrenagens entre os motores e as juntas, as quais possuem como vantagens a menor carga no motor, maiores rotações no motor e a facilidade de seu posicionamento deste no 22 braço do robô. A desvantagem deste tipo de acionamento é a presença de atrito e a folga nas transmissões de engrenagem. Ao projetar e construir um robô industrial, vários componentes podem ser utilizados nas transmissões mecânicas. O objetivo de uma transmissão é levar a potência mecânica da fonte de potência até a carga. Ao optar por um tipo de transmissão mecânica, deve-se levar em conta a potência transmitida, os tipos de movimentos realizados e o posicionamento da fonte de potência em relação á junta rotativa ou prismática em questão. Além, é claro, de fatores como a rigidez do material, a eficiência e a relação custo por benefício. De acordo com Ross et al. (2006), na seleção ótima de uma transmissão por engrenagens para aplicações em mecatrônica, a escolha do tipo depende de muitos fatores, onde os mais importantes são velocidade de entrada, folga, eficiência e custo. Em geral a transmissão de custo menor tem a maior folga, então ou se aumenta o custo ou se compensa a não linearidade de folga com esquema de controle. O importante é se chegar a uma solução de compromisso (trade-off), equilibrando os custos de fabricação e os custos de implementação de controle com a compensação das não linearidades. As engrenagens são os componentes de transmissão mais utilizados. Engrenagens são rodas com dentes padronizados que servem para transmitir movimento e força entre dois eixos. Muitas vezes as engrenagens são usadas para variar o número de rotações e o sentido da rotação de um eixo para o outro, e suas partes podem ser vista na Figura 3. Figura 3 - Partes de uma engrenagem. Ao se optar por esse tipo de transmissão mecânica é necessário estabelecer a razão de transmissão, qual o tipo de engrenagem a ser utilizado, o suporte dos eixos das engrenagens, 23 além da lubrificação e do controle da distância dos centros das engrenagens. Dentre os tipos de engrenagens utilizadas está á engrenagem com dentes retos que é o tipo mais comum de engrenagem e o de mais baixo custo, sendo utilizadas para a transmissão de rotação entre eixos paralelos ou para deslocamento linear de uma cremalheira. É mais empregada em movimentos de baixa rotação do que em altas rotações devido ao ruído que poduz. Já as engrenagens que possuem dentes helicoidais são paralelas entre si, mas oblíquos em relação ao eixo, devido a isso trabalham mais suavemente que as com dentes retos, produzindo assim menos ruído. Em manipuladores robóticos freqüentemente é necessário um trem de engrenagens que possua grandes reduções. As engrenagens em forma de tronco de cone, recebem o nome de cônicas. Podem ser compostas de dentes retos ou helicoidais, o ângulo de interseção entre duas engrenagens geralmente é de 90°, podendo ser maior ou menor. A engrenagem cônica é usada para mudar a rotação e a direção da força, em baixas velocidades. Já a do tipo cremalheira é uma barra provida de dentes e destinada a engrenar uma roda dentada, podendo assim tranformar movimento de rotação em movimento retilíneo e vice-versa. A engrenagem harmônica é caracterizada pela alta relação de transmissão e eixos paralelos em série, sendo por estas razões muito compacta. Outro tipo de engrenagem que permite alta redução de velocidade é a engrenagem planetária. Na figura 4 pode verificar a ilustração de alguns tipos de engrenagens. Este trabalho trata do estudo da não linearidade de folga num par de engrenagens cilíndricas de dentes retos, tal como na figura 4 (a). Figura 4 - Vários tipos de engrenagnes: a) Dentes Retos, b) Dentes internos, c) engrenagens cônicas, d) cremalheira e roda dentada, e) Engrenagem com dentes Helicoidais. Fonte: Valdiero (1998). 24 1.4 Descrição da não linearidade de folga Em manipuladores robóticos não linearidades como a zona morta, folga e histereses são consideradas comuns e típicas, pois elas estão onipresentes em componentes de sistemas mecânicos, hidráulicos entre outros. Dentre essas, a não linearidade de folga, objeto desse estudo, tem o seu conceito normalmente associado com os trens de engrenagem e acoplamentos mecânicos, onde sua característica principal é o atraso entre a ação de potência promovida na engrenagem motora e o receber dessa ação na engrenagem movida. Esse atraso ou folga é um fenômeno que vem dificultando o desempenho de sistemas de controle. Essa dificuldade se dá devido ao fato de que as tarefas realizadas por manipuladores robóticos nas mais diferentes tarefas da indústria requerem precisão e repetitividade nos movimentos desejados. Entretanto, a folga dificulta a obtenção de boas precisões com repetições. Essa situação causa efeitos indesejáveis sobre a dinâmica de realimentação e sobre o desempenho do sistema de controle. Para melhor entendimento da não linearidade de folga será apresentada uma descrição passo a passo de seu comportamento a partir da figura 5. Figura 5 - Esquema representativo da não linearidade de folga. Considere a figura 5 (b), onde um Perfil L está engrenado em um Perfil U com um espaço de folga constante . O deslocamento angular da engrenagem motora mostrado figura 5 (a), também representada pelo Perfil L na figura 5 (b), é dado pela entrada eo deslocamento angular da engrenagem movida mostrado na figura 5 (a), também representada pelo de Perfil U na figura 5 (b), é dado pela saída . 25 Com base nisso, na figura 5 considera-se movimento para a direita. Quando atingir e , em seguida, teremos inicia um , o contato então é estabelecido. Durante o período de contato a saída e a entrada formam uma curva de característica crescente através da relação de transmissão. Se em algum momento algum ponto da entrada parar e iniciar um movimento no sentido contrário, ou seja, para a esquerda invertendo a trajetória, a saída permanecerá imóvel e guardando sua posição até que a entrada entre em contato com a extremidade oposta. A curva do movimento durante esse período é representado por uma transição de segmento horizontal para a esquerda. Como visto na figura 5 pode-se perceber que a duração desse segmento é , uma vez que < 0. Como descrito anteriormente o fim desse segmento é o contato com o lado esquerdo do Perfil U. Após, inicia o movimento para a esquerda juntamente com a entrada , formando assim uma curva de característica decrescente. Certamente se a entrada parar e começar novamente um movimento para a direita o processo todo irá se repetir, sempre observando os novos contatos com os lados de Perfil U e as inversões dos movimentos. 1.5 Objetivos e Metas Esta dissertação tem como objetivo geral desenvolver a modelagem matemática da característica não linear de folga nas transmissões mecânicas do acionamento de um robô SCARA. Busca-se implementar um modelo que descreva a dinâmica de uma junta rotativa acionada por um trem de engrenagem, juntando as equações da dinâmica com as equações que descrevem o comportamento da folga. Para validação do modelo, comparam-se os dados obtidos da simulação computacional com os dados obtidos de uma bancada experimental. A partir de uma metodologia proposta, pretende-se identificar experimentalmente os parâmetros do modelo da não linearidade de folga. Por ultimo, pretende-se compensar os efeitos danosos causados pela folga com a elaboração de uma estratégia de compensação da não linearidade de folga embutida no controle clássico proporcional em malha fechada. 26 1.6 Metodologia Para realizar o desenvolvimento da pesquisa, efetuou-se uma ampla revisão bibliográfica, visualizando as diferentes abordagens, modelos matemáticos e leis de controle propostas por diversos autores sobre o tema. Em seguida foi estudado o funcionamento de juntas rotativas e transmissões mecânicas no acionamento destas. Na formulação do modelo matemático da junta robótica foi utilizada a lei de Newton do equilibro dinâmico em cada eixo (movido e motor) e na do modelo da não linearidade de folga nas transmissões mecânicas do tipo trens de engrenagens baseou-se em Tao e Kokotovic (1996). A simulação computacional do modelo obtido e a análise do comportamento foram realizadas por solução numérica, utilizando o programa computacional Simulink/MATLAB. Posteriormente para a validação experimental do modelo formulado e simulado, desenvolveuse uma bancada com um motor corrente contínua e um par de engrenagens cilíndricas de dentes retos, utilizando a placa dSPACE para aquisição de dados. Após a validação experimental, aplicou-se um modelo para fins de controle em um sistema de transmissões mecânicas de um robô do tipo SCARA industrial, baseando-se no controle proporcional com e sem a compensação da folga. Toda a estrutura física e apoio intelectual para o desenvolvimento dessa dissertação deu-se com recursos da infra-estrutura disponível na UNIJUÍ no Campus Panambi e do quadro docente da mesma. 1.7 Organização do Trabalho O trabalho está dividido em seis capítulos, onde no capitulo 1 são abordados assuntos que introduzem a idéia do trabalho, mostrando a estrutura de um manipulador robótico, a descrição da não linearidade da folga e as transmissões mecânicas em manipuladores robóticos, assim como a metodologia e organização do trabalho. No capitulo 2 é apresentada a modelagem matemática do problema, com o modelo de folga e a modelagem matemática da dinâmica da junta, que inclui o eixo motor e o movido. Já no capitulo 3 é desenvolvida a metodologia para identificação experimental dos parâmetros da não linearidade de folga. O comportamento do sistema em malha aberta, assim como testes experimentais e validação experimental do modelo são demonstrados no capitulo 4. No capitulo 5, resultados de simulação computacional do sistema em malha fechada são apresentados, demonstrado as 27 estratégias de controle proporcional com e sem a compensação da folga. Por fim, a conclusão é apresentada no capitulo 6. 2. MODELAGEM MATEMÁTICA 2.1 Introdução Neste capitulo é descrita a modelagem matemática de uma junta rotativa de um manipulador robótico com acionamento e transmissão mecânica por um trem de engrenagens com a presença da não linearidade de folga. Para a não linearidade de folga (backlash), foco dessa dissertação, baseou-se no modelo de folga proposto por Tao e Kokotovic (1996). A modelagem matemática tem sua definição em um processo de investigação de um fenômeno que pode ser real, físico, natural, social ou cultural, que com a ajuda de hipóteses e aproximações simplificadas, extraem-se suas características, representando-as através de equações matemáticas. Pode-se assim efetuar a previsão das tendências do comportamento do sistema real modelado. A modelagem de um sistema mecânico tem como embasamento o uso de leis físicas que descrevem a dinâmica do mesmo. Na composição da dinâmica estudada, faz-se uso das leis de equilibro dinâmico (segunda lei de Newton) nos modelos dos eixos motor e movido do trem de engrenagens e no acoplamento das dinâmicas usa-se o modelo de folga proposto. Na figura 6 pode-se verificar numa representação gráfica o acoplamento dos diferentes modelos utilizados na modelagem dinâmica de uma junta rotativa do robô SCARA. Modelagem da não linearidade de folga Modelagem Eixo Motor Modelagem Eixo Movido Figura 6 - Esquema gráfico da modelagem matemática da dinâmica de uma junta do robô SCARA com transmissão por trem de engrenagens Para a construção das equações que regem a dinâmica de uma junta rotativa com transmissão por trem de engrenagens, adotam-se as seguintes hipóteses simplificadoras: 29 - A folga (backlash) é resultado de imperfeições na fabricação e montagem da transmissão, e também do desgaste durante uso; - Atrito considerado é viscoso (amortecimento do sistema) e ocorrem em cada eixo; - Não serão consideradas as características de atrito dinâmico; - Inicialmente a folga (backlash) será considerada constante, não variando com a posição angular do eixo da junta; - Os elementos da transmissão (os eixos motor e movido e as engrenagens) são corpos rígidos, desprezando-se a elasticidade torcional da junta; Na seção 2.2 desse capítulo é mostrada uma revisão bibliográfica sobre o objeto de estudo, já na seção 2.3 será demonstrada a modelagem matemática dos eixos motor e movido. O modelo da não linearidade de folga será foco da seção 2.4. Na seção 2.5 o modelo dinâmico proposto para a junta robótica acionada por trens de engrenagens será evidenciado, por fim, em 2.6 é feita uma discussão sobre a formulação da modelagem matemática realizada no capítulo. 2.2 Revisão bibliográfica sobre a não linearidade de folga Para aproximação do que está sendo feito em termos de pesquisa sobre o objeto de estudo dessa dissertação, foi efetuada uma revisão bibliográfica onde é possível verificar os modelos matemáticos que são utilizados para descrever a não linearidade de folga, bem como estratégias para compensação e controle. É importante salientar que durante a revisão bibliográfica pode-se observar que o objetivo da maioria das pesquisas passa por estratégias de compensação dos efeitos danosos da não linearidade de folga. Em cima disso vários tipos de teorias de controles são exemplificados, porém poucas com resultados experimentais comprovando e validando a estratégia demonstrada, o grande montante é validado em cima de resultados teóricos e computacionais. Objetivando complementar as pesquisas, o enfoque dessa dissertação é o estudo experimental do caso, validando o modelo proposto na teoria de forma experimental com estudo de caso em manipuladores robóticos e juntas rotativas. Sendo assim, serão evidenciados a seguir os trabalhos expoentes que tratam do assunto: Valdiero (2005) aponta a importância do estudo das não linearidades dos sistemas mecânicos, os quais causam limitações no desempenho do controle preciso, destacando-se a zona morta, o atrito, histerese e a folga (backlash). Dentro deste contexto, vários trabalhos (Nordin e Gutman, 2002; Dong e Tan, 2009; Vorös, 2009; Hägglund, 2007) têm tratado da 30 modelagem, identificação e compensação da não linearidade de folga. Nordin e Gutman (2002) comentam que a folga é uma das mais importantes não linearidades que limitam o desempenho do controle de posição e velocidade em aplicações industriais e de robótica. A revisão bibliográfica realizada por estes autores indica ainda que existe muita pesquisa a ser feita para síntese e análise da compensação de folga no controle de sistemas mecânicos. Vörös (2009) apresenta uma nova forma analítica de descrição do modelo matemático da não linearidade de folga que utiliza funções de chaveamento e mostra resultados de simulação computacional da identificação dos parâmetros. Hägglund (2007) descreve um novo método para detecção e estimativa da não linearidade de folga em válvulas de controle que sofreram desgaste. Ele utiliza como modelo a função descritiva da folga e comenta que a facilidade de compensação desta não linearidade depende de sua inversa. Selmic e Lewis (2001) apresentam um esquema de compensação para folgas com inversão da dinâmica utilizando a técnica do backstepping com redes neurais. Um modelo geral da folga é usado e permite assimetria. Cazarez-Castro et al. (2009) apresenta uma combinação de lógica fuzzy e algoritmos genéticos na busca de resolver o problema de regulação da saída de servomecanismos com não linearidade de folga. Os dados para simulação foram obtidos a partir de uma bancada experimental de teste que envolve um motor DC ligado a uma carga mecânica por meio de uma transmissão por trem de engrenagens com folga. Giri et al. (2008) apresenta proposições para a identificação de sistemas lineares com a presença da não linearidade de folga a partir da parametrização apropriada do sistema, a estimativa dos parâmetros pela técnica dos mínimos quadrados e a especificação de padrões de sinais de entrada. Shahnazi et al. (2009) propõe um controlador adaptativo combinado com lógica fuzzy para melhorar a robustez do controle feedback de sistemas com a presença de não linearidades tais como sistemas mecânicos com folga no acionamento. Da mesma forma que Morales-Velazquez et al. (2009) propõe melhorias do controle de máquinas, ferramenta com controle numérico computadorizado (CNC) utilizando plataformas de baixo custo e a identificação dos parâmetros do modelo do servo sistema. 31 2.3 Modelagem matemática do eixo motor e movido Para melhor compreensão da modelagem matemática da dinâmica de um trem de engrenagens sem a presença da não linearidade da folga, pode ser visto na figura 7 um desenho esquemático do acionamento de uma junta rotativa, por engrenagens e o conjunto de forças agentes no sistema no DCL (diagrama de corpo livre). O sistema adotado é composto por um motor elétrico de corrente contínua que movimenta a engrenagem motora, esta por sua vez movimenta a engrenagem do tipo movida. Os deslocamentos angulares dos eixos motor e movido são medidos por sensores de deslocamento angular do tipo encoder incremental. a) + - - + - b) - - - c) Figura 7 - a) Sistema esquemático do acionamento de uma junta rotativa com transmissão por engrenagens, b) DCL (diagrama de corpo livre) eixo motor, c) DCL (diagrama de corpo livre) eixo movido. A formulação do modelo é obtida por equilíbrio dinâmico através do método de Newton-Euler, onde cada eixo (motor e movido) é analisado separadamente, resultando assim em duas equações diferenciais ordinárias de segunda ordem equação (3) e (6). 32 Aplicando-se a lei do equilíbrio dinâmico no eixo motor da Figura 7 (a) (Segmento (I)) e (b), na forma da equação (1). (1) Em seguida é explicito as forças agentes no segmento (I) da relação da equação (1) na equação (2) e (3). Sendo assim, a dinâmica do segmento (I) do sistema é gerida pela equação (4). (2) (3) (4) onde [kg.m2] é o momento de inércia do conjunto motor e eixo motor, coeficiente de atrito viscoso equivalente às perdas por atrito no eixo motor, torque aplicado pelo motor, engrenagem motora, e [N.m.s] é o [N.m] é o é o torque da carga resultante da força de reação na é o ângulo de entrada correspondente ao deslocamento angular do eixo motor. Já a parte no eixo movido, representada pelo segmento (II) da figura 7 (a) e (c), aplicase de forma análoga a lei do equilíbrio dinâmico dada pela equação (5). (5) Sendo as forças agentes na equação (6). Nesse sentido, o segmento (II) do sistema é descrito pela dinâmica da equação (8) (6) (7) (8) onde [kg.m2] é o momento de inércia equivalente ao eixo movido da junta mais o momento de inércia do elo ligado a esta junta, [N.m.s] é o coeficiente de atrito viscoso equivalente 33 às perdas por atrito no eixo e elo movidos, [N.m] é o torque de carga da junta rotativa, [N.m] é o torque aplicado na engrenagem movida resultante da força de ação da engrenagem motora sobre a movida e ângulo de saída correspondente ao deslocamento angular da junta rotativa. Se não houvesse a imperfeição de folga no sistema dinâmico, a relação entre o deslocamento angular do eixo da junta, , e o do motor, relação entre o torque da engrenagem movida , seria dada pela equação (9) e a e o torque da engrenagem motora poderia ser escrita como na equação (10): (9) (10) onde é dado pela relação de transmissão entre os eixos, , sendo, e os tamanhos dos raios da engrenagem motora e da engrenagem movida respectivamente. Com isso, pode-se chegar a uma única equação de segunda ordem que rege a dinâmica do sistema por completo, substituindo equação (8) em (4) através da relação estabelecida na equação (9) e equação (10). Originando a equação (11). (11) Com isso, assume-se que não há presença da não linearidade de folga na dinâmica e os eixos estão acoplados. A equação (11) baseasse somente no movimento angular do eixo motor, onde a relação de transmissão para com o eixo movido é dada por . Como visto, com as equações (4) e (8) é possível descrever o movimento de uma junta rotativa com acionamento através de trem de engrenagens com essas características. 2.4 Modelo da não linearidade de folga Através da revisão bibliográfica da seção 2.2 foi possível verificar os modelos que são utilizados para descrever a não linearidade da folga. Como já evidenciado, em Vörös (2009) é apresentada uma nova forma analítica de descrição do modelo matemático da não linearidade de folga que utiliza funções de chaveamento e mostra resultados de simulação computacional da identificação dos parâmetros. Já Hägglund (2007) descreve um novo método para detecção 34 e estimativa da não linearidade de folga em válvulas de controle que sofreram desgaste. Ele utiliza como modelo a função descritiva da folga e comenta que a facilidade de compensação desta não linearidade depende de sua inversa. Selmic e Lewis (2001) apresentam um esquema de compensação para folgas com inversão da dinâmica utilizando a técnica do backstepping com redes neurais. Um modelo geral da folga é usado e permite assimetria. Cazarez-Castro et al. (2009) apresenta uma combinação de lógica fuzzy e algoritmos genéticos na busca de resolver o problema de regulação da saída de servomecanismos com não linearidade de folga. Dentre os casos estudados o modelo que será utilizado para descrever o fenômeno, é o modelo proposto por Tao e Kokotovic (1996), com entrada e sendo a saída, estes com deslocamento angular e tendo suas medidas em radianos. O modelo matemático é dado pelas equações (12), (13) e (14). (12) Sendo: (13) (14) onde são parâmetros constantes, contato dos dentes da engrenagem ( são medidas do posicionamento do vão de = lado esquerdo, = lado direito). Os valores de são valores dos eixos das projeções das intersecções de duas paralelas linhas da inclinação com o segmento horizontal contendo este que evidencia o momento em que a efeito danoso da folga (perda de contato) age sobre o sistema. Já a inclinação é dada pela razão de transmissão das engrenagens motora e movida, o , sendo, e tamanho do raio do trem de engrenagem, nesse caso engrenagem motora e engrenagem motiva respectivamente A não linearidade de folga e os parâmetros do modelo de (12), (13) e (14) podem ser visualizados graficamente na figura 8 que é caracterizado por duas linhas diretamente paralelas para cima à direita e para baixo a esquerda. 35 Figura 8 - Representação gráfica da não linearidade de folga e dos parâmetros do modelo utilizado Na figura 8 é expressa a relação da variação do deslocamento angular da entrada da saída e da folga durante todo o período do acionamento da dinâmica. Nota-se que os segmentos horizontais paralelos ao eixo da entrada do sistema apresentam o efeito da folga no sistema, ocasionando estagnação do movimento durante estes trechos. 2.5 Modelo dinâmico de um junta robótica acionada por trens de engrenagens. Nas seções anteriores (2.3) e (2.4), foi apresentado o modelo matemático do eixo motor e movido e o modelo da não linearidade de folga, respectivamente, de forma separada. Já para o estudo completo da dinâmica de uma junta rotativa com a não linearidade de folga é necessário a junção dos dois modelos, tornando assim um único modelo que represente a dinâmica da junta robótica. Isso é necessário devido ao não acoplamento das dinâmicas (eixo motor e eixo movido), uma vez que no meio das duas dinâmicas existe a presença da não linearidade de folga no trem de engrenagem, configurando assim o não acoplamento. Na figura 9 é mostrado o procedimento de junção dos modelos em um único. 36 Modelo Eixo Motor Modelo da não linearidade de folga Modelo do Eixo Movido Modelo Dinâmico da junta rotativa Figura 9 - Esquema do modelo da junta robótica. Portanto, o modelo dinâmico da junta rotativa com a presença da não linearidade de folga entre os eixos motor e movido é descrito pelas equações (15), (16) e (17): (15) (16) (17) onde: (18) (19) Assim, tem-se um conjunto de equações matemáticas que permitem a representação do comportamento do acionamento de forma completa. Esse é o modelo dinâmico utilizado em toda a dissertação, nas simulações computacionais, experimentos de validação do modelo e na definição das estratégias de controle para compensação. 2.6 Discussões Neste capítulo foi tratado da modelagem matemática de uma junta rotativa acionada por meio de uma transmissão por par de engrenagens, típica de um robô SCARA. Fez-se uma breve descrição da revisão bibliográfica relacionada a não linearidade de folga na seção 2.2, onde foram evidenciadas as pesquisas disponíveis na literatura científica e é possível constatar 37 que diferentemente da maioria dos trabalhos que apresentam validação em cima de resultados teóricos e computacionais, essa dissertação tem como enfoque o estudo experimental do caso, validando o modelo proposto na teoria de forma experimental. O modelo adotado para a não linearidade de folga foi apresentado na seção 2.3, na forma de equações matemáticas e da representação gráfica de seu comportamento. Na seção 2.4, formulou-se o modelo dinâmico da junta robótica, que descreve os movimentos dos eixos motor e movido. Finalizando a seção com o acoplamento das dinâmicas em uma única equação para o caso de não haver a não linearidade de folga no trem de engrenagens entre os eixos. Na seção 2.5 apresenta-se a modelagem matemática da dinâmica completa de uma junta robótica rotativa com a presença da não linearidade de folga entre os eixos. Os resultados desse capítulo foram publicados em Padoin et al (2010b), sendo de fundamental importância no estudo e na aprendizagem da modelagem matemática da dinâmica da junta robótica rotativa. 3. METODOLOGIA PARA IDENTIFICAÇÃO EXPERIMENTAL DOS PARÂMETROS DE UMA JUNTA ROTATIVA ACIONADA POR TRANSMISSÃO DE ENGRENAGENS 3.1. Introdução Nesse capitulo é apresentada uma metodologia para identificação experimental dos parâmetros de uma junta rotativa acionada por um trem de engrenagens, bem como a descrição das bancadas experimentais e do sistema de aquisição dos dados utilizados na validação do modelo. Na seção 3.2 é feita a descrição do sistema de aquisição de dados, composto pela associação de softwares (SIMULINK/MatLab e ControlDesk/dSPACE) e hardware (placa eletrônica dSPACE, painel conector dSPACE e microcomputador). A placa dSPACE tem importante utilidade devido à facilidade na captura dos dados da bancada experimental, através de suas portas de leitura de sinais digitais e analógicos é possível capturar o sinal lido pelos sensores de posição (encoders incrementais). Com este conjunto tem-se toda a infraestrutura para a aquisição e processamento dos dados resultantes das aquisições experimentais. Com a preocupação de fazer aplicação e validação experimental do modelo, construiuse uma bancada experimental para junto com o sistema de aquisição proporcionar a validação do modelo de folga e a identificação experimental dos parâmetros do modelo. Na seção 3.3 é demonstrada a descrição da bancada experimental para testes da não linearidade de folga, nela foi montado um protótipo de um trem de engrenagens, reproduzindo o mesmo mecanismo utilizado em juntas rotativas de um manipulador robótico do tipo SCARA. O tipo de engrenagem utilizada é a cilíndrica de dente reto, a trajetória de entrada é estimulada por um motor corrente contínua com programação do sinal de entrada. Em seqüência, na seção 3.4 é apresentado o desenvolvimento da metodologia desenvolvida e utilizada para a identificação experimental dos parâmetros da folga. Com a metodologia é possível através de análise dos sinais capturados, via auxílio do software e hardware, identificar facilmente os parâmetros da folga e aplicar no modelo de folga em estratégias de compensação da folga via controle. Na continuação da seção é mostrado um protótipo do manipulador robótico do tipo SCARA objetivando aplicar a metodologia desenvolvida na identificação experimental dos parâmetros em um protótipo, esse manipulador foi constituído em um trabalho de conclusão de curso de engenharia mecânica pelo aluno Leandro Márcio Jungbeck (JUNGBECK, 2011), 39 o robô possui duas juntas rotativas com acionamento através de motores elétricos de corrente continua acoplados em eixo ligados a trens de engrenagens, com isso será possível utilizar, compreender e validar a não linearidade em plena dinâmica de trabalho via o protótipo. Por fim, na seção 3.5 para fechamento do capitulo é feita uma discussão do mesmo. 3.2 Descrição do sistema de aquisição de dados Nos procedimentos experimentais desse trabalho, foi efetuada a leitura das posições de entrada e saída do sistema, e , respectivamente, com o auxílio de um sistema de aquisição de dados. Esses sinais são capturados por meio de dois encoders incrementais, esses sensores são capazes de fazer a leitura de descolamento angular da posição com boa precisão. O resultado dessas leituras serve de apoio para análises de suas variações e comportamentos. Sendo assim, para capturar as informações da bancada de testes foi montado um sistema de aquisição de dados apresentado na figura 10, cuja composição pode ser dividida em três partes. O primeiro componente é um micro computador (1) responsável pela visualização dos dados e interface com o usuário, o segundo componente é a placa dSPACE (2) responsável pela captura e armazenagem dos dados capturados da bancada de testes, que será apresentada na próxima seção. O terceiro componente é o conector de sinais da placa dSPACE (3) onde por meio de um painel com leds tem-se a conexão dos cabos de comunicação dos sensores que transmitem o sinal até a placa dSPACE, esta instalada no micro computador. Na placa encontrada toda a inteligência do sincronismo das informações do conector com os algoritmos do MATLAB, com isso o fluxo da informação é consolidado. Todo esse conjunto que é utilizado para captura dos sinais está instalado em uma estante de instrumentação. 40 Figura 10 - Sistema de aquisição dos dados composto pelo microcomputador (1), placa dSPACE (2) e o painel conector instalados em uma estante de instrumentação (3). A tabela 1 trás as características dos equipamentos do sistema de aquisição de dados utilizado. Tabela 1. Especificações do sistema de aquisição de dados. Componente Modelo Especificações Encoder incremental 7510-0622-1000 1000 pulsos por rotação Conector de sinais CLP1104 2 entradas digitais para encoder incremental Micro computador PC Genérico Slot PCI Conforme descrito em dSPACE (2009), a placa dSPACE foi especialmente projetada para facilitar o desenvolvimento e a implementação de controladores. Ela possui oito conversores analógico-digitais (entradas ADC) e oito conversores digital-analógico (saídas DAC). Mas, nos procedimentos experimentais apenas as duas interfaces digitais para encorder incremental são utilizadas. Nas conversões ADC e DAC e interfaces digital para enconder 41 incremental, a placa utilizada contém um software de gerenciamento e aquisição de dados e também, módulos de acoplamento para o MatLab/Simulink. Esse acoplamento permite a captura dos dados das medições em tempo real como banco de dados do MatLab. Esses bancos de dados ao serem manipulados no MatLab, permitem a análise detalhada dos resultados obtidos. O software de gerenciamento dos dados (ControlDesk) tem uma interface muito versátil para a as diferentes formas de análise do problema simulado, além disso, com a compatibilidade do software com o aplicativo MatLab/Simulink, pode-se na mesma captura de informação, utilizar vários algoritmos de análise de sinais simultaneamente, com isso os ensaios ganham em agilidade e qualidade. Na figura 11 tem-se um demonstrativo da tela do software. Figura 11 - Tela da interface gráfica do software ControlDesk utilizado para aquisição de dados da placa dSPACE 3.3 Descrição da bancada experimental para testes da não linearidade de folga Dando continuidade a parte experimental que servirá como instrumento para o desenvolvimento de uma metodologia de identificação experimental dos parâmetros de folga 42 e posterior validação experimental do modelo matemático da não linearidade de folga no acionamento de um manipulador robótico por trem de engrenagem, foi desenvolvido o projeto e a construção de uma bancada de testes, todo desenvolvimento foi feito pelos bolsistas de iniciação científica do curso de Engenharia Mecânica na UNIJUÍ com a supervisão do Prof. Antonio Carlos Valdiero, no laboratório de robótica Campus Panambi. Na figura 12 pode ser vista a maquete eletrônica da bancada, já o protótipo final na figura 13, onde foi acrescentado um redutor de velocidades entre o motor e a transmissão por correias. Figura 12 - Projeto da maquete eletrônica da bancada de testes. Figura 13 - Bancada Experimental para testes da não linearidade de folga em trem de engrenagens. 43 Pode-se notar que houve uma diferença entre o projeto e bancada final no que diz respeito ao posicionamento do motor elétrico, essa diferença é em decorrência ao tipo de motor utilizado para o acionamento, está estrutura é adaptável as diversas possibilidades de motores elétricos usados para acionamento do sistema. Na tabela 1, estão descrito os principais componentes utilizados na bancada experimental da figura 13. Tabela 2. Principais componentes da bancada experimental Componente Fabricante Código Encoder incremental Hohner 7510-0622-1000 Trem de Engrenagem Dentes reto Ferro Motor Fonte Placa Eletrônica Elétrico Elétrica Principais Especificações 1000 pulsos por rotação Engrenagem motora 13 dentes, engrenagem movida 24 dentes corrente contínua Controle da corrente elétrica do motor Como mencionado, a figura 13 mostra a bancada de testes da não linearidade de folga numa transmissão por trem de engrenagens do tipo dente reto, a qual pode ser utilizada no acionamento de uma junta rotativa do manipulador robótico do tipo SCARA. O mecanismo é composto por uma transmissão por engrenagens, todos elementos são suportados por uma estrutura fixa (6). O motor elétrico de corrente contínua (1) é montado em uma das extremidades e aplica um torque no eixo motor onde é fixada a engrenagem motora (3) resultando num deslocamento angular , medido por um encoder incremental (5), mostrado na figura 14, e provocando um deslocamento angular no eixo movido, onde está fixada a engrenagem movida (2), que é medido por outro encoder incremental (4). A fonte e uma placa eletrônica (7) alimenta e controla a corrente elétrica no motor. É importante salientar que a fonte de energia é acoplada a uma placa de controle programada para enviar a tensão necessária ao motor com o intuito de reproduzir um sinal de entrada sob a trajetória de um dente de serra. Com isso é possível induzir a junta robótica a inversões de movimento no sentido horário para anti-horário e vice e versa ao longo do tempo de experimento, promovendo os efeitos característicos da presença da não linearidade de folga nessas inversões. 44 Figura 14 - Encoder incremental modelo da série 75 do fabricante Hohner O Encoder é um tipo de sensor de posição angular, tem como propriedade informar a posição por meio de contagem de pulsos. Neste caso, tem-se uma fonte de luz, um receptor e um disco perfurado, que irá modular a recepção da luz ao girar. Este disco está preso a uma junta no caso especificado nas extremidades do eixo motor e eixo movido, de forma a criar um movimento rotacional, enquanto que a fonte de luz e o receptor estão fixos. A rotação do disco cria uma série de pulsos pela interrupção ou não da luz recebida pelo detector. Estes pulsos de luz são transformados pelo detector em uma serie de pulsos elétricos, conforme descrito por Carrara (2007). Na seqüência, os sinais capturados pelo encoder incremental (deslocamento angular e ) são lidos por uma placa de aquisição de sinal analógico e transformadas para sinais digitais via placa (dSPACE, modelo DS1104, esta já descrita na seção anterior). A partir dessa etapa, toda a inteligência para análise e manuseio dessas informações se dará nos algoritmos desenvolvidos no Matlab/Simulink e a sua integração com o software de gerenciamento da placa, os quais se alimentam desses sinais. O trem de engrenagens é composto por engrenagem de dentes retos. A engrenagem motora usada possui 13 dentes, já a engrenagem movida possui 24 dentes o que resulta em uma relação de transmissão de aproximadamente 0.5417. A escolha da montagem nessa ordem serviu para proporcionar uma melhor relação entre a velocidade e a redução de movimentos no acoplamento do motor. A vantagem de utilizar-se uma bancada experimental na identificação de parâmetros de uma situação real, além de poder simular a dinâmica e todos os seus componentes com veracidade em seu acionamento, proporciona possibilidades de ajustar e manipular situações que uma transmissão por engrenagens possa sofrer em seu funcionamento real. 45 Uma dessas possibilidades encontra-se em capturar sinais oriundos de diferentes posições iniciais dos dentes das engrenagens como demonstrado anteriormente. Essas distintas posições iniciais auxiliam no entendimento da dinâmica e podem ser ajustadas e consideradas no modelo matemático e em uma posterior compensação via controle. Além disso, pode-se testar a influência da dinâmica no comportamento da folga através de diferentes cargas no eixo movido, modificações na montagem no mecanismo e utilização de mecanismos com falhas ou de baixa qualidade. Todas essas variações são encontradas em situações reais, e podem ser evidenciadas e avaliadas com a aplicação na bancada de testes. 3.4 Metodologia de identificação experimental dos parâmetros da não linearidade de folga Para estimar os parâmetros a serem utilizados no modelo de folga proposto nessa dissertação, foi desenvolvida uma metodologia que consiste da utilização dos resultados experimentais obtidos na bancada de teste descrito na seção anterior (3.3) e de procedimentos para ajustar os parâmetros da não linearidade de folga, onde o modelo foi apresentado no capitulo 2. Na figura 15 é apresentado o fluxograma das etapas da metodologia de identificação experimental. Sinal de entrada (via motor) Captura dos sinais de entrada e saída (via encoder e placa dSPACE) Apuração e Estimação dos parâmetros (via algoritmos) Ajuste de parâmetros (via simulação) Figura 15 - Fluxograma das etapas da metodologia desenvolvida 46 Com base no fluxograma figura 15, o primeiro passo é realizar o deslocamento angular do eixo motor (entrada da não linearidade, ) via sinal de controle no motor, de tal forma a se ter uma inversão de movimento e produzir os efeitos característicos de folga no posicionamento da junta do robô (saída da não linearidade, ). Essa inversão no movimento foi feita através da programação efetuada na placa de controle da corrente no motor já descrita na seção anterior. Em conjunto com esse movimento, ocorre à medição via encoder incremental dos sinais de entrada na extremidade do eixo motor, e de saída na extremidade do eixo movido. Estes sinais são capturados na placa dSPACE, convertidos e processados conforme a lógica do diagrama de blocos apresentado na figura 16, onde neste ocorre o tratamento e apuração das informações. Como pode ser visto neste diagrama de blocos, foi transformada a entrada em radianos e graus, além da utilização da relação de transmissão para calcular a saída sem folga. Já no sinal de saída, este apenas foi transformado para radianos e graus. RTI Data -2*pi /1000 Bad Link DS1104 ENC_SETUP tetarad Tetam em radianos radianos m Teta 1ideal -0.36 Bad Link DS1104 ENC_POS _C1 tetagraus graus 1 Add (a) posição sem folga (m) Tetam em graus Teta 1i simout delta relação de transmissão Teta 1i To Workspace1 2*pi /1000 tetarad 1 Teta 1 em radianos radianos 1 (b) 0.36 Bad Link DS 1104 ENC_POS _C2 tetagraus 1 graus 1 1 delta 1 Teta 1 em graus simout 1 To Workspace2 Figura 16 - Diagrama de blocos elaborado no SIMULINK/MatLab utilizado para leitura do sinal da dSPACE, (a) leitura da entrada (via encoder), (b) leitura da saída (via encoder) Em seguida na figura 17, é possível verificar os sinais de entrada e saída durante o tempo de aquisição dos dados e observar na ampliação a perda de movimento (segmento horizontal) característica da não linearidade da folga (backlash) na inversão do movimento da entrada. 47 Figura 17 - Gráfico dos sinais de entrada e saída capturados na bancada experimental durante um ciclo do movimento de inversão Depois de efetuada a aquisição dos dados nesse período de tempo, é realizado o segundo passo do fluxograma (figura 16) que consiste em realizar o cálculo da saída do sistema para o caso ideal, onde a dinâmica do sistema não possui a folga utilizando para isso a equação (9) de relação de transmissão. Na figura 18 são mostrados os gráficos comparativos entre a entrada e a saída do sistema com e sem folga em (a), e o comportamento do sistema com e sem folga em (b). Nesta figura pode-se observar o atraso (delay) de movimento entre a saída ideal (sem folga) e a saída na presença da não linearidade de folga. 48 1.6 1.6 com folga sem folga 1.2 1.2 1 1 0.8 0.6 0.8 0.6 0.4 0.4 Região Ampliada Fig. 19 0.2 0 -0.2 -0.5 com folga sem folga 1.4 Saida (rad) Saida (rad) 1.4 0.2 0 -0.2 0 0.5 1 1.5 Entrada (rad) 2 2.5 3 0 a) 5 10 15 Tempo (s) b) Figura 18 - Gráficos comparativos das saídas com folga e sem folga (caso ideal) no trem de engrenagens testado: (a) entrada versus saídas e (b) saídas versus tempo. Sendo assim, após a análise dos sinais de leitura, têm-se o terceiro passo que é estimar os parâmetros da não linearidade de folga no trem de engrenagens, esses parâmetros estão descritos no modelo da equação (12). A partir dos resultados experimentais figura 18 (a) (região ampliada na figura 19), pode-se notar que a relação de transmissão é facilmente estimada obtendo-se a inclinação da reta entre as saídas e a entrada. A mesma analogia pode ser feita para estimar facilmente a medida do vão de contato ( forma ampliada da figura 19. que é representado na 49 0.16 0.14 0.12 0.1 Teta1 (s) ( 0.08 0.06 0.04 0.02 0 -0.02 -0.05 0 0.05 0.1 Tetam (Rad) 0.15 0.2 Figura 19 - Região ampliada da figura 18 (a) mostrando graficamente os parâmetros da não linearidade de folga Por fim, no quarto passo, os intervalos de folga à direita e à esquerda são ajustados para aplicados no modelo matemático dado pelas equações (4), (8) e (12) e implementado por meio do diagrama de blocos mostrado na figura 20. Vl (u) Tetam u(1)/m+cl Entrada (Tetam ) Add 2 Tetam m From Workspace Teta 1 Caso 1 Parâmetro m Condição Tetam cl Folga Inicial Esquerda Cl <= Vl Memória m Caso 2 Saida (Teta 1) Parâmetro m cr Folga Inicial Direita Cr Condição Teta 1 >= Vr Caso 3 Vr(u) u(1)/m+cr Figura 20 - Diagrama de blocos utilizado na simulação computacional do modelo matemático no switch , se a entrada 1 for verdadeira , irá passar o valor da entrada caso não seja verdadeira , irá passar o valor da entrada 3 2, m=1; >> cl=-1; >> cr=2; >> Teta 1i=-2; >> plot (tout ,Tetam ,tout ,Teta 1) da não linearidade da folga 50 A simulação foi feita com o auxilio da ferramenta Matlab/Simulink, utilizando a solução numérica de integração ODE4 (Runge Kutta). Os parâmetros do sistema ajustados nas simulações computacionais estão apresentados na Tabela 3. A partir das características mecânicas do acionamento da junta robótica e dos resultados experimentais. Tabela 3. Parâmetros do modelo do sistema com folga. Parâmetro Valor Relação de Transmissão ( 0.5417 ) Adimensional Vão de Contato Constante ( ) Intervalo de folga a direita Intervalo de folga a esquerda 0.157 [rad] 0.157 [rad] 0 [rad] Entrada posição angular Variando Posição inicial da saída 0 [rad] A metodologia descrita nesta seção pode ser aplicada para identificação experimental dos parâmetros em qualquer tipo de junta rotativa acionada por trens de engrenagens de um manipulador robótico, desde que seja possível medir os deslocamentos angulares dos eixos motor e movido em testes de inversão dos movimentos. 3.5 Exemplo de aplicação na junta rotativa do protótipo de um robô SCARA Como exemplo de estudo de caso, a metodologia de identificação da não linearidade de folga descrita na seção anterior foi aplicada na junta de um robô SCARA. O protótipo de um manipulador do tipo SCARA, desenvolvido no trabalho de conclusão de curso de Engenharia Mecânica do aluno Leandro Márcio Jungbeck (JUNGBECK, 2011), orientado pelo Prof. Dr. Antonio Carlos Valdiero, é descrito a seguir e tem o objetivo de validar a metodologia de identificação experimental dos parâmetros da folga. 51 Figura 21 - Mecanismo Projetado do robô SCARA O Projeto estrutural do manipulador utilizado pode ser visto na figura 21. O robô é constituído de duas juntas rotativas (junta 01 e junta 02) e uma junta prismática do tipo fuso (junta 03), além disso, possui quatro elos interligados pelas juntas (elo 0, elo 1, elo 2 e elo 3). Possibilitando assim três graus de liberdade, podendo ainda conter um terceiro caso se tenha uma quarta junta rotativa no efetuador final. Para o estudo teórico e experimental foi escolhida a junta rotativa 02, pois esta possui uma transmissão por trem de engrenagens (figura 22) acionada por um motor de corrente contínua de potência de 24W e tensão de 12V, fabricado pela empresa Bosch (modelo CEP 9 390 453 023). Na junta 02, a rotação gerada pelo motor é transmitida ao eixo, que ligado a um par de engrenagens de dentes retos, movimenta o elo 2. A engrenagem motora possui 20 dentes. Já a engrenagem movida possui 31 dentes. A relação de transmissão das engrenagens é . Para medir os movimentos angulares dessa junta rotativa são fixados dois encoders incrementais, um na extremidade do eixo acionado pelo motor e o segundo na extremidade superior do eixo movido. Esse tipo de configuração possibilita verificar os efeitos devido a presença da folga entre as engrenagens e informar ao sistema de controle a posição da entrada (engrenagem motora) e da saída (engrenagem movida) do sistema de transmissão dessa junta. O sistema descrito pode ser visto na figura 22. 52 Figura 22 - Foto da junta 2 do robô SCARA e desenho em destaque da transmissão por trem de engrenagens utilizada nesta junta do robô. Após a fase do projeto do manipulador robótico, onde foi estudado o sistema mecânico, de acionamento e de controle, chegou-se a construção física do robô SCARA que é visualizado na figura 23, com destaque para junta 2, foco deste trabalho. Figura 23 - Protótipo do manipulador SCARA construído no Laboratório de Robótica da UNIJUÍ Campus Panambi 53 Com a constituição física do robô é possível determinar os parâmetros da folga além da possível verificação do comportamento da não linearidade de folga na junta rotativa 02 do manipulador robótico juntamente com o funcionamento dinâmico da mesma. Podendo ainda, efetuar possíveis compensações dos efeitos danosos, possibilitando um controle para as trajetórias desejadas. 3.6 Discussões No levantamento bibliográfico pode-se verificar que a maioria dos trabalhos disponíveis na literatura científica carece de validações e testes experimentais, na maioria são feitos estudos teóricos e análise computacional via simulações. Como já descrito anteriormente o objetivo desse trabalho é contribuir com estudos teóricos e experimentais, baseado nisso o capitulo 3 propõe uma metodologia para identificação experimental dos parâmetros da não linearidade de folga do modelo teórico proposto. Foi demonstrado o desenvolvimento de uma metodologia para identificação experimental dos parâmetros do modelo de folga, além da descrição da instrumentalização e da bancada de testes utilizada, bem como a demonstração de sua aplicação em manipuladores robóticos. Esta metodologia é uma inovação que vem a colaborar com o estudo teórico do problema da não linearidade de folga. No próximo capítulo, tal metodologia e estrutura serviram para validação do modelo teórico da dinâmica da junta em malha aberta. É válido salientar que a bancada de testes foi constituída exclusivamente para o estudo da não linearidade. O resultado desse capítulo foi encaminhado para publicação em Padoin et al. (2011). 4. RESULTADOS EM MALHA ABERTA 4.1 Introdução Conforme já mencionado, um dos objetivos principais desse trabalho é validar o modelo proposto via simulação e dados experimentais. Buscando contemplar este aspecto, o capitulo 4 tem seu foco nos resultados em malha aberta, desde a parte de simulações e experimentos até a comparação de ambos na validação do modelo matemático da não linearidade de folga. A seção 4.2 mostra a parte de simulação computacional do modelo da folga em malha aberta. A primeira simulação contou com os dados dos parâmetros utilizados na bibliografia, comparando as diferentes possibilidades de posição inicial do movimento, além disso, são utilizados como sinal de entrada para a não linearidade três diferentes trajetórias: dente de serra, senoidal e polinomial. Depois os dados da simulação utilizam os parâmetros oriundos do resultado da metodologia de identificação de parâmetros do capitulo anterior. Com isso, pode-se observar como é o comportamento da dinâmica da junta robótica a partir de cada sinal de entrada, verificando em cada um deles os efeitos característicos da não linearidade de folga. Na seção 4.3 é utilizada a bancada de testes experimentais para verificar o comportamento do sistema experimentalmente para um tipo de sinal de entrada. São mostrados três tipos de condições iniciais, a primeira com as engrenagens totalmente acopladas, a segunda com os dentes das engrenagens estando exatamente no meio do vão de folga e por ultimo partindo com o vão de folga máximo entre as engrenagens. O tipo de sinal de entrada utilizado é de dente de serra, sinal esse já demonstrado e especificado em capítulos anteriores. Objetivando comparar os dados oriundos da simulação com os dados obtidos de forma experimental, a seção 4.4 tem o foco na validação do modelo dinâmico da folga. É utilizado um procedimento de tratamento do sinal capturado via experimento e este sinal é utilizado no algoritmo para comparar o comportamento do sinal de saída do sistema do experimento com o resultado obtido via simulação que utiliza os sinais experimentais de entrada. Com isso é possível traçar uma correlação e verificar a adequação de ambos os dados, podendo assim validar o modelo. Por fim, a seção 4.5 traz discussões sobre o comportamento do sistema em malha aberta. 55 4.2 Simulação computacional com dados da bibliografia Durante a revisão bibliográfica foi levantado o modelo da não linearidade de folga evidenciado no capitulo 2. Para validar o modelo foi desenvolvido um diagrama de blocos no Matlab/Simulink, o algoritmo proporciona a possibilidade da análise do comportamento da folga em malha aberta, utilizando para isso os parâmetros da bibliografia. O diagrama pode ser visto na figura 24. Vl(u) Tetam u(1)/m+cl Entrada (Tetam ) Add 2 m Teta 1 Entrada (Tetam ) Caso 1 Parâmetro m Condição Tetam cl Folga Inicial Esquerda Cl <= Vl Memória m Caso 2 Saida (Teta 1) Parâmetro m cr Folga Inicial Direita Cr Condição Teta 1 >= Vr Caso 3 Vr(u) u(1)/m+cr Figura 24 - Diagrama de blocos representativo do modelo da não linearidade de folga. no switch , se a entrada 1 for verdadeira , irá passar o valor da entrada caso não seja verdadeira , irá passar o valor da entrada 3 Para entrada m=1; >> cl=-1; >> cr=2; >> Teta 1i=-2; >> plot (tout ,Tetam ,tout ,Teta 1) 2, do sistema foi utilizada um sinal de dente de serra o qual sofreu variações entre -4 e 4 radianos durante o tempo de simulação de 16 segundos. Além disso, foram simuladas três diferentes posições iniciais para o sinal de saída , estas servem para demonstrar as diferentes condições iniciais de encaixe dos dentes do trem de engrenagens dentro do domínio do vão da folga . Na primeira simulação na figura 25 foram utilizados os parâmetros e posição inicial da saída . , , 56 4 Tetam Teta1 3 Posição (rad) 2 1 0 -1 -2 -3 -4 0 2 4 6 8 Tempo (s) 10 12 14 16 Figura 25 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada e saída para condição inicial Pode-se perceber através dos sinais de entrada e saída da figura 25, que com o parâmetro não houve perda de contato no início do movimento, o que caracteriza que o movimento iniciou com o trem de engrenagem em perfeito contato. Somente houve perda de movimento quando ocorreu a inversão do sinal de entrada nos instantes t=4 s e t=12 s. Na figura 26 foram representados os resultados de novas simulações onde foram tomadas três condições de posição inicial da engrenagem movida (saída do sistema), estas condições correspondem o posicionamento dos dentes na engrenagem no momento da partida do movimento. Independente da condição inicial do movimento, o espaço do vão total da folga é o mesmo (no presente caso, = 3 rad). A condição inicial de posicionamento dos dentes pode ter inúmeros valores dentro deste vão total. 57 4 Tetam Teta1(0)=1 Teta1(0)=0 Teta1(0)=-0.5 3 Posição (rad) 2 1 0 -1 -2 -3 -4 0 2 4 6 8 Tempo (s) 10 12 14 16 Figura 26 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada e saída Como já descrito, na figura 26 pode-se observar que o sistema partiu sem os dentes das engrenagens estarem em contato em todos os casos. No caso (a) onde , o movimento partiu com o vão total de folga fornecido, nesse momento os dentes das engrenagens estavam totalmente desacoplados, ou seja, deve percorrer todo o vão até ocorrer o acoplamento do trem de engrenagem, nessa situação houve a maior perda de movimento inicial do sistema. Já no caso (b) onde , foi fornecida uma posição entre o vão de contato, não houve contato entre os dentes da engrenagem com nenhuma das extremidades, houve menos perda de movimento que no caso (a), pois o tempo até o acoplamento foi menor devido ao menor percurso. No caso (c) onde , o sistema foi simulado com a posição inicial estando exatamente no meio do vão da folga, ou seja, os dentes da engrenagem estão na mesma distância da extremidade do lado esquerdo e direito. Traçando um comparativo, no caso (c) houve a menor perda de movimento inicial, devido ao posicionamento ser mais próximo da posição de acoplamento do trem de engrenagens do que nos casos (a) e (b). Evidenciando assim que é de fundamental importância levar em conta no modelo a diversidade de possibilidades de posição inicial de cada movimento no manipulador robótico, pois em cada situação haverá perdas de movimento inicial diferentes. Na figura 27 é demonstrada a forma característica da folga, utilizando um comparativo entre a entrada do sistema e a saída dos casos (a), (b) e (c), todos já mostrados e discutidos anteriormente. Nessa forma característica, ficam comprovadas as duas linhas paralelas da não 58 linearidade, sendo positivas e negativas dependendo do sentido e da inversão no sinal de entrada do sistema, além do segmento horizontal representando o vão de folga nas inversões do movimento e também como identificados na legenda, os segmentos horizontais a partir das diferentes casos de posição inicial simulados. 2 Teta1(0)=1 Teta1(0)=0 Teta1(0)=-0.5 1.5 1 Teta1 (rad) 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2 -2.5 -3 -4 -3 -2 -1 0 Tetam (rad) 1 2 3 4 Figura 27 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada versus o sinal de saída 4.3 Simulação computacional com dados da bancada experimental Após serem utilizados os dados do modelo para a simulação em malha aberta, são apresentados os resultados das simulações computacionais em malha aberta do modelo da não linearidade de folga utilizando com parâmetros os dados obtidos na metodologia de identificação dos parâmetros demonstrada no capitulo anterior. Para validação computacional do modelo e comparativo das diferentes situações que podem sem encontradas na prática, foram simuladas diferentes entradas de posição angular , tendo como sinal de entrada dente de serra, senoidal e polinomial. Os resultados serão mostrados nas subseções seguintes. Para simulação do modelo foi utilizado o algoritmo de diagrama de blocos da figura 24, onde somente foi mudada a entrada do sistema de acordo com o tipo de simulação. 4.3.1 Entrada na forma de dente de serra. Na simulação com entrada de dente de serra, buscou-se analisar os o comportamento do sistema de folga quando são aplicadas inversões nos movimentos de forma simétrica. 59 Essas inversões são normais quando no funcionamento real de um manipulador robótico tipo SCARA, uma vez que suas tarefas dentro do espaço de trabalho proporciona situações como estas. As simulações são efetuadas com entradas que variam de -4 rad até +4 rad em torno da partida, a partida da simulação é calibrada na posição 0 rad. Nesse caso pode-se observar que a saída do sistema está adequada a relação de transmissão já descrita no capitulo 2. O tempo de simulação foi fixado em 24 segundos. 4 Tetam Teta1 3 Posição (rad) 2 1 0 -1 -2 -3 -4 0 5 10 15 20 25 Tempo (s) Figura 28 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada (dente de serra) e saída para condição inicial Nessa simulação é possível ver que a presença da folga nas inversões do movimento como está explicito na figura 28. Essa inversão do movimento causa os efeitos indesejáveis como perda de movimento e atraso de tempo entre os sinais de entrada e saída. 60 2.5 2 1.5 Teta1 (rad) 1 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2 -2.5 -4 -3 -2 -1 . 0 Tetam (rad) 1 2 3 4 Figura 29 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada (dente de serra) versus o sinal de saída para condição inicial Na figura 29, é mostrado o resultado da simulação computacional para o comportamento da variável em relação à . Neste gráfico pode ser vista a característica típica da folga nos segmentos de linhas horizontais. 4.3.2 Entrada senoidal. O sinal de entrada senoidal tem como característica na sua trajetória, inversão de movimentos de forma mais suavizada que a entrada com dente de serra, essa suavização pode ser modificada através da variação dos parâmetros de amplitude e período do sinal. Na simulação adotada, buscou-se utilizar como freqüência de 0.5 rad/seg, uma amplitude de 6 (rad) e tempo de simulação de 24 segundos. 61 6 Tetam Teta1 4 Posição (rad) 2 0 -2 -4 -6 0 5 10 15 20 25 Tempo (s) Figura 30 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada (senoidal) e saída para condição inicial Na figura 30, nota-se que o sistema com entrada senoidal possui suavização em sua trajetória e nas inversões do sinal, devido a essa característica esse tipo de trajetória não sobrecarrega em excesso o motor na hora de gerar o movimento, diferentemente da trajetória dente de serra onde a inversão é instantânea. 4 3 2 Teta1 (rad) 1 0 -1 -2 -3 -4 -6 -4 -2 0 Tetam (rad) 2 4 6 Figura 31 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada (senoidal) versus o sinal de saída para condição inicial A figura 31 mostra o mesmo segmento horizontal de folga da simulação dente de serra, onde está sendo mostrado o comportamento da variável em relação à . 62 4.3.3 Entrada polinomial Na segunda trajetória desejada foi utilizada uma curva com polinômios de sétima ordem com trechos de parada próximos às extremidades. Esta trajetória apresenta uma característica fundamental que é a existência da primeira, segunda e terceira derivadas, correspondentes à velocidade, aceleração e derivada da aceleração utilizadas na lei de controle. Para que a trajetória escolhida apresente suavidade é necessário a compatibilização de condições iniciais e finais para a trajetória e suas três derivadas. Estas condições iniciais e finais da função polinomial são determinadas a partir das posições de parada da trajetória, ou seja, para a equação polinomial de sétima ordem que é apresentada na equação (20), (20) E tem as condições iniciais dadas por (21): (21) e onde, é a posição inicial da entrada polinomial e , é o tempo de deslocamento da trajetória é o deslocamento angular percorrido pela entrada seguindo a trajetória polinomial. A programação adequada da trajetória polinomial deve permitir o ajuste da posição inicial e final da trajetória polinomial, bem como o tempo de deslocamento através desta equação e o tempo de espera nos testes de parada. A trajetória polinomial de entrada para em (equação (22)) considera inicialmente uma = -0.157 rad, seguido de um trecho de deslocamento em função de posição 0 rad onde é feita uma nova parada respeitando o tempo de parada de até a , e posteriormente um novo deslocamento até a posição 0.157 rad, fazendo ali uma outra parada e retornando através da função - (t) . Os trechos de parada e deslocamento têm duração de segundos, sendo utilizado o valor de = 5 segundos. Os trechos de subida ou descida são 63 caracterizados pelo polinômio de 7ª ordem, para os respectivos valores de representado pela equação (22) e (23), . (22) (23) Na figura 32 pode-se observar a trajetória do sinal de entrada resultante do polinômio de 7ª ordem com tempo de parada e deslocamento de 5 segundos, e também os resultados da simulação em malha aberta para a saída teta1. 0.2 Tetam Teta1 0.15 Posição (rad) 0.1 0.05 0 -0.05 -0.1 -0.15 -0.2 0 5 10 15 20 25 Tempo (s) 30 35 40 45 Figura 32 - Resultado de simulação do comportamento da não linearidade de folga com a representação dos sinais de entrada (polinomial) e saída 64 4.4 Teste experimental na bancada Utilizando a bancada de testes e o sistema de aquisição descritos no capítulo 3, foram realizados testes experimentais em três diferentes posições de acoplamento do trem de engrenagens. O objetivo desse tipo de experimento é identificar o comportamento da dinâmica da junta robótica em funcionamento na bancada. Para isso foram instalados dois encoders nas extremidades do eixo motor e do movido, para fazer a leitura do sinal de entrada e saída respectivamente. Os sinais foram capturados pelo conector de sinais da placa dSPACE e posteriormente analisados e processados pelo sistema de gerenciamento e algoritmo de análise dos dados. Resultado Experimental 3.5 Teta 1 Ideal Tetam Teta1 3 Posição (Rad) 2.5 2 1.5 1 0.5 0 -0.5 0 10 20 30 Tempo (s) 40 50 60 Figura 33 - Resultado do experimento partindo com trem de engrenagens acoplado com a condição inicial de contato entre as engrenagens. Na figura 33 é mostrado o comportamento do experimento da junta rotativa levando em conta uma partida do movimento com os dentes engrenados, ou seja, a distância entre os dentes das engrenagens no início do movimento é nula, com isso é observável que no início da trajetória o sistema praticamente não apresentou perda de movimento até a primeira 65 inversão do movimento comparado com a trajetória ideal (sem folga), nessa inversão ocorreu o segmento horizontal característico da folga que repetiu-se durante o tempo restante. Traçando um comparativo entre o sinal de saída sem folga e com folga, é possível observar a diferença de posicionamento de ambos devido a não linearidade, a figura 34 demonstra isso. Enquanto a trajetória sem folga (caso ideal) faz a trajetória em cima da mesma linha, a trajetória com folga efetua a trajetória paralelamente a trajetória ideal, evidenciando a perda de contato no caso. Resultado Experimental 1.6 Sem Folga Com Folga 1.4 1.2 Teta1 (s) 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 -0.2 -0.5 0 0.5 1 1.5 Tetam (Rad) 2 2.5 3 Figura 34 - Comparativo com e sem folga, partindo da condição inicial de folga nula. No segundo experimento partiu-se com os dentes da engrenagem movida aproximadamente no meio da posição inicial da engrenagem motora, ou seja, aproximadamente 4.5º ou 0.0785 rad. Neste é observável que no início do movimento houve perda de movimento uma vez que até ocorrer o acoplamento completo do trem de engrenagens houve movimento sem carga por parte de engrenagem motora. A figura 35 demonstra isso. 66 Resultado Experimental 4 Teta 1 Ideal Tetam Teta1 3.5 3 Posição (Rad) 2.5 2 1.5 1 0.5 0 -0.5 0 10 20 30 Tempo (s) 40 50 60 Figura 35 - Resultado do experimento partindo com trem de engrenagens desacoplado, posição inicial da folga de 4.5º ou 0.0785 rad. Uma característica nesse tipo de situação quando o movimento parte no meio do vão de folga é a presença de uma simetria da trajetória com folga em torno da trajetória sem folga (caso ideal), essa simetria pode ser percebida na figura 36. 67 Resultado Experimental 1.6 Sem Folga Com Folga 1.4 1.2 Teta1 (s) 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 -0.2 0 0.5 1 1.5 Tetam (Rad) 2 2.5 3 Figura 36 - Comparativo com e sem folga, partindo de uma posição inicial de folga do trem de engrenagens de 4.5º ou 0.0785 rad No terceiro experimento figura 37 a posição inicial do trem de engrenagens utilizada foi o vão total da folga, ou seja, os dentes totalmente desacoplados com isso o intervalo de folga foi de 9º ou 0.157 rad. Nesse caso para que houvesse acionamento da engrenagem movida à engrenagem motora deveria percorrer todo o intervalo de folga para que o acoplamento e por conseqüência o movimento ocorresse, sendo assim, essa é a situação em que a folga causa os efeitos mais indesejáveis sobre o sistema e é a onde ocorre a maior perda de movimento, precisão e repetitividade. 68 Resultado Experimental 4 Teta 1 Ideal Tetam Teta1 3.5 Posição (Rad) 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 0 10 20 30 Tempo (s) 40 50 60 Figura 37 - Resultado do experimento partindo com trem de engrenagens desacoplado, partindo de uma folga total de 9º ou 0.157 rad. Já o comparativo entre o sinal de saída sem folga e com folga, apresenta a trajetória com folga em comportamento paralelo à trajetória sem folga, dessa vez no lado contrário a o primeiro experimento, demonstrando o vão total de folga na extremidade da trajetória. 69 Resultado Experimental 1.6 Sem Folga Com Folga 1.4 1.2 Teta1 (s) 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0 0.5 1 1.5 Tetam (Rad) 2 2.5 3 Figura 38 - Comparativo com e sem folga, partindo de uma folga total de folga de 9º ou 0.157 rad 4.5 Validação do modelo A validação do modelo da não linearidade de folga equação (12) foi baseada no comparativo dos sinais de saída experimental e do sinal de saída do modelo simulado computacionalmente, na figura 39 é apresentado o fluxograma do processo de validação. 70 Captura do sinal de entrada e saída do experimento (via encoder) Tratativa dos sinais (via algoritmo de conversão) Utilização do sinal de entrada do experimento na simulação do modelo, como trajetória de entrada (via algoritmo) Comparativo entre o sinal de saída experimental e simulado (Via algoritmo) Figura 39 - Fluxograma no processo de validação experimental do modelo O primeiro passo do processo de validação é a captura do sinal da trajetória de entrada e saída do experimento, como já salientado esses sinais são oriundos da leitura do sensor encoder fixado na extremidade dos eixos. Após a leitura o segundo passo é fazer a conversão dos sinais via algoritmo no simulink convertendo o sinal para radianos, agora o sinal de entrada capturado via experimento é utilizado como trajetória de entrada no algoritmo que simula o modelo da folga, este já mostrado no capitulo 3. Por fim, com o resultado da trajetória de saída via simulação e experimento foi traçado um comparativo para validar o modelo e o simulador utilizado. Na figura 40 é apresentado o resultado da validação experimental do modelo matemático, os parâmetros utilizados nas simulações estão detalhados na tabela 3. Nesta figura está identificada a correlação e adequação dos dados simulados com os dados medidos experimentalmente, conforme pode ser visto, há pequenas diferenças entre as curvas, provenientes de problemas na montagem ou desgaste no trem de engrenagem, situações essas inerentes a manipuladores robóticos de baixo custo. 71 1.6 Experimental Simulado Erro 1.4 1.2 Posição (rad) 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 -0.2 0 5 10 15 Tempo (s) 20 25 30 Figura 40 - Validação do modelo matemático da não linearidade de folga Os resultados teóricos e experimentais apresentados nesta seção permitem observar o comportamento da não linearidade de folga, além de validar a simulação computacional do modelo uma vez que as curvas entre os dados comparados obtiveram ótima correlação mostrando praticamente o mesmo comportamento durante o período de simulação, o erro entre as trajetórias está dentro do aceitável para o modelo trabalhado. Destacam-se ainda os efeitos de atraso no tempo e perda de movimento nos momentos de inversão do trajetória provocando os segmentos horizontais observados na Figura 16. Diante disso comprova-se a utilização do modelo para fins de simulação das situações reais e possível estratégia de controle. 4.6 Discussão Neste capítulo foi apresentado o comportamento do sistema em malha aberta. Na seção 4.2 foram expostas simulações computacionais para diferentes tipos de trajetória de entrada, essas trajetórias buscam retratar o trabalho realizado por um manipulador robótico em possíveis atividades industriais. 72 Na seqüência foram desenvolvidos testes experimentais na bancada de testes juntamente com o sistema de aquisição, esses experimentos serviram para validar o sistema de aquisição e para verificar o comportamento da dinâmica do sistema durante a execução em diferentes pontos de início da saída, com a bancada é possível manipular os pontos de acoplamento do trem de engrenagens e também as cargas dos eixos, esse tipo de estudo deuse na seção 4.3 e foi de grande importância para o entendimento real do funcionamento da junta e para a visualização das conseqüências da folga. A seção 4.4 foi a junção das duas seções anteriores, onde foi utilizado dados da aquisição experimental no algoritmo desenvolvido a partir do modelo dinâmico, com o intuito de validar o modelo matemático e a simulação, com a validação do modelo foi possível consolidar o metodologia proposta no capitulo anterior no que tange a identificação experimental dos parâmetros da folga. Esse capítulo foi importante para o entendimento do funcionamento da junta robótica em experimentos que se aproximam no funcionamento real de um manipulador, os resultados desse trabalho foram apresentados em Padoin et al. (2010c). 5. RESULTADOS EM MALHA FECHADA 5.1 Introdução Como já comentado durante essa dissertação os manipuladores robóticos necessitam de movimentos precisos e repetitivos em suas tarefas realizadas nos mais diferentes segmentos industriais. Dentro da dinâmica das juntas rotativas dos manipuladores há várias não linearidades que dificultam a obtenção dessa precisão, a folga nos acionamentos por trens de engrenagens é uma delas. A eliminação ou redução da presença física desta não linearidade pode acarretar um alto custo de fabricação, além disso, essa folga pode ser decorrente de problemas de montagem ou do próprio desgaste nas peças pelo uso. A não linearidade de folga tem presença significativa em manipuladores de baixo custo. Baseado nesse contexto é que a necessidade de compensação desta não linearidade no controle se faz presente. Esta compensação via controle é uma alternativa para diminuir a imprecisão do efetuador final nos movimentos do manipulador, sendo preciso investir em estratégias de controle. Com esse objetivo é que o presente capítulo apresenta e avalia três diferentes estratégias de controle em malha fechada com e sem a compensação da não linearidade de folga. Na seção 5.2 é demonstrado primeiramente um passo a passo das três estratégias adotadas, a primeira é focada na combinação da compensação da folga utilizando a sua inversa e do fechamento da malha antes da dinâmica da não linearidade de folga. Assim podese obter a melhor trajetória de entrada do sistema com a utilização da inversa, além de controlar a própria entrada via eixo motor. A segunda estratégia é baseada somente no fechamento da malha após a não linearidade de folga, assim, o controle é baseado somente nos comparativos da trajetória de saída desejada (Setpoint) e do valor da saída do sistema. Já a terceira estratégia utiliza-se da mescla das duas estratégias anteriores, onde é feita a compensação via inversa da folga e o controle fechando a malha antes e depois da não linearidade de folga. Com isso o sinal de controle fundamenta-se nos erros comparativos do sinal de entrada e saída. As estratégias de compensação da não linearidade de folga são combinadas com o controlador clássico proporcional, pela sua simplicidade e facilidade de ajuste do ganho. O modelo da inversa da folga é foco na seção 5.3, nesta é demonstrado o modelo bem como a compensação efetiva da folga utilizando a sua inversa. Evidenciando que o objetivo 74 de seu uso é promover a melhor trajetória de entrada no sistema baseado na trajetória de saída desejada. Para apresentar o comparativo entre as estratégias de controle, a seção 5.4 evidencia o comportamento das respostas de saída submetidas aos tipos de estratégias de controle com o mesmo ganho proporcional calibrado. Para as trajetórias desejadas são utilizadas uma função senoidal e polinomial. Por fim, na seção 5.5 é feita uma discussão demonstrando as características de cada tipo de estratégia de controle, bem como qual é a melhor solução para o tipo de trajetória desejada. 5.2 Descrição dos controles clássicos (P,PD,PI,PID) Esta seção tem por objetivo fazer a descrição dos controladores clássicos. Serão apresentados o controlador proporcional (P) e suas variações: proporcional-derivativo (PD), proporcional-integral (PI) e proporcional-integral-derivativo (PID). Em um controlador proporcional, a relação entre a saída do controlador u(t) e o sinal de erro de posição e(t), que é a entrada do controlador, é dada por (24) onde e(t) = (y – yd), e kp é o ganho proporcional. No controle proporcional-integral (PI), onde a saída u(t) é a soma de um sinal diretamente proporcional ao erro de posição com um sinal proporcional à integral do erro (25) onde ki é o ganho integral. O controle proporcional-derivativo (PD) tem caráter antecipativo, soma-se à parcela proporcional uma parcela derivativa e a saída do controlador é um sinal diretamente proporcional ao erro de posição somado com uma parcela diretamente proporcional ao erro de velocidade. Portanto 75 (26) onde kd é o ganho derivativo. Somando as parcelas proporcional, integral e derivativa, temos o controle proporcional-integral-derivativo (PID), utilizado tanto na melhoria em regime transitório quando em regime permanente de sistemas mecânicos, que é dado por: (27) 5.3 Estratégias de controle Já comentado na introdução desse capítulo, a estratégia de controle é de extrema importância para o desempenho do funcionamento de sistemas dinâmicos que buscam precisão e repetitividade em suas tarefas. Com a não linearidade de folga não é diferente. Quando se possui um robô que apresenta folga nas juntas, existe a necessidade de desenvolver estratégias de controle capazes de minimizar os efeitos danosos que a presença de folga causa sobre o bom funcionamento do sistema. Com este objetivo foram desenvolvidas três diferentes estratégia de controle: - Estratégia 1: compensação com inversa de folga a partir da trajetória desejada e controle proporcional com realimentação da posição angular no eixo motor, - Estratégia 2: controle proporcional com a realimentação da posição angular no eixo movido, - Estratégia 3: controle com a compensação da inversa de folga a partir da trajetória desejada e controle proporcional com a realimentação das posições angulares de ambos os eixos motor e movido. A seguir apresenta-se cada uma destas estratégias. A estratégia 1 de controle proposta está graficamente representada na Figura 41. Note que é utilizada a inversa do modelo da não linearidade da folga para cálculo da posição desejada do eixo motor a partir da posição desejada no eixo movido. Tal inversa procura prever o efeito da não linearidade da folga. O controle proporcional associado a esta estratégia é aplicado utilizando apenas o sinal da posição real do eixo motor. 76 Modelo Dinâmico Controle Proporcional Inversa da folga Eq. (28) + - Modelo Dinâmico do Eixo Motor Eq. (4) Controlador Proporcional Modelo Da não linearidade Folga Eq. (12) Modelo Dinâmico do Eixo Movido Eq. (8) Sensor (Encoder) Figura 41 - Esquema da estratégia 1 de controle com compensação de folga e controle no eixo motor Conforme o sistema de controle figura 41, o controle é desenvolvido com os seguintes passos. Primeiro é almejada uma trajetória de saída desejada ( , em um segundo momento essa trajetória desejada entra no algoritmo da inversa do modelo da folga, a saída desse algoritmo é a trajetória desejada para o eixo motor ( para a posição do eixo motor ( . Assim compara-se o valor desejado com o valor real da posição do eixo motor ( do sistema dinâmico da junta robótica. O valor da posição real é calculada utilizado o sinal do sensor (encoder incremental) montado na extremidade do eixo motor. Com este comparador se tem um valor do erro, esse erro é utilizado pelo controlador proporcional responsável pelo sinal de controle (torque motor) de entrada da planta (modelo da junta robótica com transmissão por tren de engrenagens). Na estratégia 2 de controle figura 42, o controle é desenvolvido com a observação do eixo movido e tem os seguintes passos. O primeiro passo é projetar a trajetória de saída desejada ( ( , em seguida compara-se o valor desejado para a posição do eixo movido com o valor real da posição do eixo movido ( do sistema dinâmico da junta robótica. O valor da posição real é calculada utilizado o sinal do sensor (encoder incremental) montado na extremidade do eixo movido. Com este comparador se tem um valor do erro, esse erro é utilizado pelo controlador proporcional responsável pelo sinal de controle (torque motor) de entrada da planta (modelo da junta robótica com transmissão por tren de engrenagens). 77 Modelo Dinâmico Controle Proporcional + Controlador Proporcional - Modelo Dinâmico do Eixo Motor Eq. (4) Modelo Da não linearidade Folga Eq. (12) Modelo Dinâmico do Eixo Movido Eq. (8) Sensor (Encoder) Figura 42 - Esquema da estratégia 2 de controle no eixo movido Após os dois tipos de controle proposto e apresentados na figura 41 e 42, é apresentada a estratégia 3 que tem como proposta unir ambas em uma única figura 43. O primeiro passo é definir uma trajetória desejada (setpoint), em seguida essa trajetória desejada entra no algoritmo da inversa do modelo da folga, a saída desse algoritmo é a trajetória desejada para o eixo motor ( motor ( . Assim compara-se o valor desejado para a posição do eixo com o valor real da posição do eixo motor ( do sistema dinâmico da junta robótica. O valor da posição real é calculado utilizando o sinal do sensor (encoder incremental) montado na extremidade do eixo motor. Com este comparador se tem um valor do erro, esse erro é utilizado pelo controlador proporcional de ganho (Kpm). Já na segunda etapa dessa estratégia de controle, compara-se o valor desejado para a posição do eixo movido ( com o valor real da posição do eixo movido ( do sistema dinâmico da junta robótica. O valor da posição real é calculado utilizando o sinal do sensor (encoder incremental) montado na extremidade do eixo movido. Com este comparador se tem um valor do erro, esse erro é utilizado pelo controlador proporcional de ganho (Kp1). Após é feito a soma dos dois valor do controlador proporcional (Kpm e Kp1), esse resultado é responsável pelo sinal de controle (torque motor) de entrada da planta (modelo da junta robótica com transmissão por tren de engrenagens). Sendo assim, essa estratégia de controle demonstra simultaneamante a comparação da leitura dos dois pontos principais de controle do sistema, ou seja, os sinais de entrada e saída do sistema e respectivamente com seus valores desejadas (setpoint). 78 Controle Proporcional Inversa da folga Eq. (28) Modelo Dinâmico + + - Modelo Dinâmico do Eixo Motor Eq. (4) Modelo Da não linearidade Folga Eq. (12) Modelo Dinâmico do Eixo Movido Eq. (8) + Sensor (Encoder) Sensor (Encoder) Figura 43 - Estratégia 3 de controle com inversa da folga, eixo motor e movido 5.4 Descrição e simulação da inversa do modelo da não linearidade de folga Como já salientado anteriormente um dos efeitos danosos da folga no desempenho dos sistemas é o atraso correspondente ao tempo para percorrer um segmento. Outro efeito indesejável é a perda de informação (movimento) que ocorre durante esse atraso. O desafio no trabalho é propor soluções que compensem esses efeitos prejudiciais ao posicionamento, uma vez que quando se utiliza manipuladores robóticos na indústria, necessita-se de movimentos precisos e repetitivos. Em busca dessa compensação, na seção anterior foram propostas estratégias de compensação da não linearidade de folga no controle proporcional com o objetivo de minimizar os danos no desempenho do sistema. Estas estratégias utilizam a inversa o modelo da folga que será descrita nesta seção. A inversa do modelo da folga (graficamente um segmento horizontal) é caracterizada por um salto vertical definido por uma função integral. O efeito do salto deve eliminar o atraso causado pelo segmento horizontal característico da folga, isso pode ser constatado na figura 44. 79 Figura 44 - Esquema de representação da inversa da não linearidade da folga Tem-se a representação do modelo discreto da inversa do modelo da folga representado pela equação (28): (28) A partir do modelo da folga inversa foi desenvolvido um algoritmo para simular o modelo a partir dos dados experimentais mostrados no capitulo 3. O diagrama de blocos correspondente à equação (28) pode ser visto da figura 45. Entrada (Teta 1) Teta 1 Add 2 1/m Parâmetro m Tetam Entrada (Teta 1) Caso 1 Condição Tetam <= Vl Memória V (t) 1/m cl Folga Inicial Esquerda Cl Parâmetro m 1 Caso 2 cr Folga Inicial Direita Cr Saida (Tetam ) Condição Teta 1 >= Vr Caso 3 Memória Ud (t) Figura 45 - Diagrama de blocos da inversa da folga no switch , se a entrada 1 for verdadeira , irá passar o valor da entrada caso não seja verdadeira , irá passar o valor da entrada 3 2, m=1 >> cl=-1 >> cr=2 >> Teta 1i=2 >> Tetami =0 >> plot (tout ,Tetam ,tout ,Teta 1) 80 Utilizando o diagrama de blocos da inversa do modelo de folga é possível simular o comportamento da entrada e saída do sistema. Baseado nisso foi utilizada uma trajetória desejada ( de dente de serra, variando de -4 a 4 rad. Observando esse tipo de trajetória desejada, o algoritmo da inversa fornece como resposta a trajetória desejada no eixo motor ( para esse tipo de trajetória desejada no eixo movido ( , fazendo assim uma compensação dos efeitos da não linearidade de folga, conforme pode ser visto na figura 46. 8 Tetam Teta1 6 Posição (rad) 4 2 0 -2 -4 -6 -8 0 5 10 15 20 25 Tempo (s) Figura 46 - Resultado da Simulação computacional do comportamento da inversa da folga para entrada em dente de serra Pode ser visto o comparativo entre a saída entrada do bloco da inversa da folga na figura 47, notando-se nas extremidades o salto vertical promovido pela inversa. 81 8 6 4 Teta1 (rad) 2 0 -2 -4 -6 -8 -4 -3 -2 -1 0 Tetam (rad) 1 2 3 4 Figura 47 - Resultado da Simulação computacional do comportamento da inversa da folga com a representação dos sinais de entrada (dente de serra) versus o sinal de saída Conforme citado na revisão bibliográfica, vários autores evidenciam que a compensação através da inversa de folga é uma das melhores possibilidades de anular os efeitos da folga. Baseando-se nisso e com a utilização do diagrama de blocos da figura 48, foi possível realizar a simulação computacional cujos resultados são mostrados na figura 49 e se evidência a anulação dos efeitos da folga com a compensação da sua inversa. Entrada (Teta 1) Teta _inversa Teta 1 Saida (Teta 1) Teta _folga Saida (Teta 1) Add 2 1/m Parâmetro m Entrada Saída Entrada (Teta 1) Caso 1 Condição Tetam <= Vl Tetam Saida (Tetam ) Backlash Memória V (t) 1/m cl Folga Inicial Esquerda Cl Parâmetro m 1 Caso 2 cr Folga Inicial Direita Cr Caso 3 Condição Teta 1 >= Vr Memória Ud (t) Figura 48 - Diagrama de blocos utilizado na simulação computacional da compensação da m=1 >> cl=-1 2, >> cr=2 folga por meio da sua inversa. >> Teta 1i=2 no switch , se a entrada 1 for verdadeira , irá passar o valor da entrada caso não seja verdadeira , irá passar o valor da entrada 3 >> Tetami =0 >> plot (tout ,Tetam ,tout ,Teta 1) 82 4 Tetam Teta1 Erro 3 Posição (rad) 2 1 0 -1 -2 -3 -4 0 5 10 15 20 25 Tempo (s) Figura 49 - Resultado da Simulação computacional do comportamento da não linearidade de folga com a compensação da sua inversa Nota-se que os efeitos são amenizados na sua totalidade com a inversa do modelo da folga, uma vez que o comportamento de saída é idêntico a entrada, isso é demonstrado pelo erro entre as duas ser nulo. Esta simulação teve o objetivo de testar o diagrama de blocos desenvolvido para a inversa da não linearidade da folga. 5.5 Simulação computacional Conforme comentado e descrito na seção 5.2, foram propostas três diferentes estratégias de controle. Baseando-se nisso, a presente seção objetiva comparar via simulações computacionais as estratégias, observando e comparando o comportamento da dinâmica sob cada tipo de controle, observando suas características e avaliando qual das estratégias apresenta melhores resultados dentro do ajuste da trajetória desejada na junta robótica. Foram utilizados dois tipos de trajetória desejada, a senoidal e a polinomial de sétima ordem, ambas especificadas no capítulo 4, o ganho proporcional utilizado foi ajustado e escolhido após várias simulações e comparações de resultados, onde chegou-se no valor satisfatório de Kp = 20 para todas as simulações, com esse ganho foi possível obter os menores erros com as menores oscilações do sinal de controle. Na figura 50 são demonstradas as trajetórias para o sinal de saída senoidal. 83 8 Desejada Estratégia 1 Estratégia 2 Estratégia 3 Região Ampliada na figura (51) 6 Posição (rad) 4 2 0 -2 -4 -6 -8 0 5 10 15 20 25 Tempo(s) Figura 50 - Resultados da simulação computacional em malha fechada para a trajetória senoidal. Desejada Estratégia 1 Estratégia 2 Estratégia 3 6.15 6.1 Posição (rad) 6.05 6 5.95 5.9 5.85 5.8 15.4 15.5 15.6 15.7 15.8 Tempo(s) 15.9 16 16.1 Figura 51 - Região ampliada da figura 50 mostrando um comparativo entre as estratégias de controle 84 Na figura 50 pode-se observar o comportamento das trajetórias de saída submetidas às estratégias de controle. É notável que ambas as trajetórias tenham pontos bem próximos da trajetória desejada, mas na figura 51 apresenta-se um gráfico comparativo dos erros, onde fica evidente as diferenças entre ambas, e pode-se notar que o melhor ajuste é a trajetória da estratégia 3, que mescla a compensação via inversa e o controle proporcional fechando a malha antes e depois da não linearidade. 0.25 Estratégia 1 Estratégia 2 Estratégia 3 0.2 0.15 Erro de Posição (rad) 0.1 0.05 0 -0.05 -0.1 -0.15 -0.2 -0.25 0 5 10 15 20 25 Tempo(s) Figura 52 - Gráfico comparativo dos erros obtidos da simulação computacional em malha fechada para. Na figura 52 são expostos os erros das trajetórias oriundas das estratégias de controle em relação à trajetória desejada. É possível visualizar que a estratégia 3 apresentou o menor erro. Já na figura 53 é apresentado o torque ou sinal de controle imposto ao sistema via as estratégias de controle, o sinal de controle das trajetórias 1 e 3 são semelhantes, mas é importante salientar que o sinal de controle da estratégia 2 possui certa instabilidade próximo aos momentos de inversão da trajetória. A estratégia 2 é a única em que não há a utilização da inversa da não linearidade de folga na compensação direta e isto ilustra mais um efeito danoso da folga nas oscilações do sinal controle em malha fechada, podendo até causar a instabilidade do sistema. 85 10 Estratégia 1 Estratégia 2 Estratégia 3 8 Sinal de Controle (rad) 6 4 2 0 -2 -4 -6 -8 -10 0 5 10 15 20 25 Tempo(s) Figura 53 - Gráfico comparativo do sinal de controle obtidos da simulação computacional em malha fechada. A segunda trajetória desejada a ser utilizada na simulação foi à trajetória polinomial de 7° ordem. E tem seus trechos evidenciados na figura 54 (curva desejada), juntamente com os resultados da simulação computacional do controle em malha fechada. 86 0.2 Desejada Estratégia 1 Estratégia 2 Estratégia 3 0.15 Posição (rad) 0.1 0.05 0 -0.05 -0.1 -0.15 -0.2 0 5 10 15 20 25 Tempo(s) 30 35 40 45 Figura 54 - Resultados da simulação computacional em malha fechada para a trajetória polinomial. Como pode-se novamente perceber e trajetória da estratégia 3 é a que mais se aproxima da trajetória desejada devido apresentar o menor erro em relações às demais estratégias conforme a figura 55. 87 0.02 0 Erro de Posição (rad) -0.02 -0.04 -0.06 -0.08 -0.1 -0.12 Estratégia 1 Estratégia 2 Estratégia 3 -0.14 -0.16 0 5 10 15 20 25 Tempo(s) 30 35 40 45 Figura 55 - Gráfico de erros para simulação computacional da trajetória polinomial Já os sinais de controle das estratégias 1 e 3 novamente ficaram próximas para a trajetória polinomial figura 56, diferente da estratégia 2 que obteve muita oscilação durante a trajetória do controlador figura 57. 88 4 2 Sinal de Controle (rad) 0 -2 -4 -6 Estratégia 1 Estratégia 3 -8 -10 0 5 10 15 20 25 Tempo(s) 30 35 40 45 Figura 56 - Resultados do sinal de controle para trajetória polinomial 2 1 Sinal de Controle (rad) 0 -1 -2 -3 -4 -5 Estratégia 2 -6 0 5 10 15 20 25 Tempo(s) 30 35 40 Figura 57 - Resultados do sinal de controle para estratégia 2 45 89 5.6 Discussões O capítulo 5 expôs os resultados da simulação computacional em malha fechada com controle proporcional na junta com transmissão por engrenagens de um manipulador robótico, com a presença da não linearidade da folga. Foram propostas três estratégias de controle na seção 5.2, sendo que uma destas não utiliza a compensação da não linearidade de folga pela inversa. A seção 5.3 mostrou a compensação da não linearidade de folga através de sua inversa. Já a seção 5.4 mostrou resultados seguimento de trajetória, erro e sinal de controle via simulação computacional das estratégias desenvolvidas para amenizar os efeitos danosos da folga. Baseando-se nisso, pode-se observar que as estratégias que trouxeram melhores resultados, devido ao erro menor e melhor sinal de controle, foram as estratégias 1 e 3, as quais utilizaram a compensação através da utilização da inversa da folga no sistema. A estratégia 2 obteve problemas de oscilação no sinal de controle e por conseqüência no torque do motor, além de proporcionar o maior erro entre as curvas de saída. Isto ilustra a importância da compensação da não linearidade da folga. Esse capítulo evidencia a importância do sistema de controle prever estratégias para a compensação da não linearidade da folga, e isto ficou bem evidente quando da utilização do controle clássico proporcional. 6. CONCLUSÕES Esta dissertação apresenta a modelagem matemática e a simulação computacional da não linearidade de folga (backlash) presente em transmissões mecânicas do tipo trem de engrenagens, comuns no acionamento das juntas rotativas de manipuladores robóticos do tipo SCARA. O modelo matemático desenvolvido para a dinâmica da junta robótica é de 4° ordem e contêm as dinâmicas dos eixos motor e movido, além da adição do modelo da não linearidade de folga entre estas duas dinâmicas. Foi desenvolvida uma metodologia para identificação experimental dos parâmetros do modelo matemático da folga, essa identificação foi feita através de experimentos em uma bancada de testes que caracteriza um acionamento por trens de engrenagens. Os resultados em malha aberta mostram a validação do modelo proposto para a junta robótica. Com o intuito de promover a análise do comportamento do sistema partindo de diferentes posições iniciais em relação ao acoplamento do trem de engrenagens, foi efetuada experimentalmente na bancada de testes essa verificação. Foram propostas três diferentes estratégias de controle proporcional em busca da precisão dos movimentos desejados, foi levado em conta estratégias com e sem a compensação da não linearidade de folga, além do fechamento da malha em diferentes pontos da dinâmica, antes e depois da não linearidade. Com os resultados oriundos da simulação das estratégias, pode-se observar que as estratégias que contemplam a compensação da não linearidade somadas do fechamento da malha antes e depois da não linearidade de folga apresentam os melhores resultados, possuindo menor erro em comparativo com a trajetória desejada e sinal de controle com pouca oscilação. Podem-se citar como principais contribuições deste trabalho: - O desenvolvimento de um modelo matemático que inclui a não linearidade de folga na dinâmica de uma junta robótica com transmissão por trem de engrenagens. - Desenvolvimento da uma metodologia de identificação experimental dos parâmetros do modelo matemático da não linearidade da folga. - Validação experimental do modelo proposto. - Proposição de estratégias de controle e a simulação computacional das mesmas. Para prosseguimento desse trabalho em pesquisas futuras, sugere-se: - Validação experimental das estratégias de controle. 91 - Modelagem de toda a cinemática do manipulador SCARA com o controle para a não linearidade de folga. - Modelagem matemática da não linearidade de folga variável em função da posição angular. 92 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAVARESCO, Delair. Modelagem matemática e controle de um atuador pneumático. 107f. 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