REFLEXÕES SOBRE OS ASPECTOS QUALITATIVOS VOLTADOS
AOS ESTUDOS DE RISCOS TECNOLÓGICOS E AMBIENTAIS
Marcelo Firpo de Souza Porto; Carlos Machado de Freitas
Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana - CESTEH/ENSP/FIOCRUZ
Rua Leopoldo Bulhões 1480 - Manguinhos
CEP 21041-210 Rio de Janeiro - RJ
RESUMO
This article deals with some general conceptual and methodological issues necessary to
environmental studies. The limits of engineering approach in its positivist version is
considerated within the nature of technological and environmental risks, which are global
in extension and complex in structure. The actual paradigms of normal sciences makes
difficult the integration of qualitative and quantitative approaches related to scientific
knowledge. But the ever-increasing of global environmental risks is taking scientific and
technological professionals to search new strategies and principles in understanding and
intervening environmental problems togheter each other. Some prerequisites for that are
the recognition of uncertainties of each discipline, the disposition to the dialogue and the
respect of non scientific actors as legitimate participants in all phases of the decisionmaking process about environmental problems.
Environmental and technological risk; qualitative approach; pos-normal science
1- Introdução: a necessidade de abordagens qualitativas e integradas
Os problemas para a saúde e o meio ambiente decorrentes do desenvolvimento
e implantação de projetos industriais vem ganhando uma importância crescente no interior
da engenharia de produção e outras áreas acadêmicas no Brasil. Esta importância reflete
tanto a intensa industrialização de nossa sociedade nas últimas quatro décadas como as
conseqüências negativas deste desenvolvimento, que aumentaram não só em extensão mas
também em complexidade. A engenharia de produção, enquanto campo da engenharia de
base interdisciplinar, possui um natural vocação para os estudos de problemas ambientais,
através de sua potencial capacidade de integração de diferentes campos do conhecimento.
Em termos sócio-políticos, o processo de democratização da sociedade brasileira
vem levando a um aumento da participação de vários atores sociais, particularmente os
trabalhadores e cidadãos moradores em áreas de risco. Estas pressões internas, associadas
às pressões decorrentes da globalização da economia e das organizações ecológicas
internacionais, exigem novas respostas para o enfrentamento dos problemas ambientais,
onde estes atores passem a ser também agentes na produção de conhecimentos, políticas
preventivas e novas práticas institucionais.
O agravamento dos problemas ambientais vinculados à industrialização também
está relacionado à intensificação espacial, ecológica e social, tanto dos efeitos como da
percepção e tematização pública dos riscos decorrentes dos processos produtivos, em
particular envolvendo problemas tais como catástrofes industriais em indústrias químicas e
nucleares, a degradação de ecossistemas e da saúde da população circunvizinha aos sítios
industriais. Nesse contexto, vem se firmando o conceito de riscos tecnológicos e
ambientais ou riscos associados às tecnologias industriais e produtivas com impactos sobre
a saúde e o meio ambiente. Esse processo vem dinamizando a análise científica dos riscos
industriais, pois discute-os num nível mais abrangente - o da tecnologia em suas diversas
dimensões, como a física, mental, social, cultural e mesmo filosófica -, e não mais apenas
ao nível dos locais de trabalho e empresas específicas. Ao mesmo tempo, coloca novos
desafios, face à ruptura com a atual divisão das diversas áreas de conhecimento,
corporações profissionais e instituições que trabalham com o problema.
Isto vem levando a uma tendência de ruptura dos paradigmas disciplinares
clássicos, que analisam os riscos e seus efeitos de acordo com objetos atingidos e
ambientes afetados. Esta fragmentação também ocorre do ponto de vista da saúde e do
meio ambiente, através do paradigma científico da compartimentação disciplinar e
monocausal, que fragmenta as análises em função dos corpos(ciências biomédicas) e
mentes afetadas (psicologia), do ambiente interno a fábrica (engenharia e demais
disciplinas envolvidas no projeto e gestão dos processos produtivos), e do ambiente
externo incluindo a esfera social (geografia, ciência sociais, economia e ecologia). A
tendência à ruptura desta compartimentação expressa simultaneamente uma crise do
conhecimento científico e um aumento da complexidade, ao nível de análise, dos efeitos
dos processos produtivos sobre a vida biológica e social do planeta. E é neste contexto de
crise e mudança que vêm sendo desenvolvidos novos conhecimentos, centros e áreas de
pesquisa pautados na interdisciplinaridade, buscando, desta forma, gerar métodos e
conhecimentos menos fragmentados dos problemas analisados. Um importante exemplo de
um novo campo multiprifissional que vem recentemente se desenvolvendo impulsionado
pela problemática ambiental é o da Economia Ecológica.
2- Alguns limites das abordagens tecnológica e biomédica
A engenharia, ao abordar estes temas, se apoia num conjunto de disciplinas que
vem se renovando frente aos desafios impostos pelos novos paradigmas sociais,
tecnológicos e ecológicos. Apesar dos avanços, contudo, consideramos ainda existir uma
deficiência nos aspectos qualitativos que podem ajudar os engenheiros e outros
profissionais a terem uma visão mais ampla e profunda das origens sociais e humanas dos
riscos industriais. Para isto, consideramos de grande importância que os vários campos do
conhecimento envolvidos com a questão ambiental dialoguem mais intensamente entre si,
visando a compreensão e enfrentamento dos riscos industriais.
Uma das limitações para este diálogo está relacionada à influência das abordagens
positivistas no interior das engenharias e certas disciplinas biomédicas que tratam da
questão ambiental. Isso implica, entre outros, na tentativa de uma esquematização rígida,
normalmente quantitativa, da realidade, artificializando-a em função da exclusão de
elementos essencialmente qualitativos e não passíveis de serem quantificados ou
enclausurados em seus paradigmas atuais. Com isso, os engenheiros e outros atores
técnicos fundamentais no projeto e gestão de tecnologias produtivas, bem como médicos,
psicólogos, toxicologistas e outros profissionais que atuam na área, deixam de incorporar,
em sua formação, aspectos qualitativos básicos na análise do problema, podendo
transformar seus modelos e ações técnicas em visões tecnicistas, fragmentadas e
limitadoras da transformação da realidade.
Um dos exemplos relacionados a esta visão tecnicista nesta área pode ser observado
na maior importância dada aos métodos quantitativos de análise de risco, em detrimento de
abordagens qualitativas. Se, de um lado, parece-nos óbvia a validade de tais métodos na
análise objetiva dos ambientes de trabalho e riscos industriais, fornecendo parâmetros para
definições legais que delimitem o permitido do proibido, por outro lado nos é claro que tais
métodos não esgotam a compreensão da realidade do mundo da produção e do trabalho, já
que as dimensões sociais e humanas não podem ser essencialmente apreendidas através de
Outro aspecto essencialmente qualitativo está relacionado à crescente discussão e
conscientização sobre as crises ecológica e valorativa de nossa época atual, não só no
interior do pensamento acadêmico como na sociedade como um todo. De um lado, o
reconhecimento dos problemas ecológicos ao nível internacional e planetário, que
ameaçam as gerações presentes e futuras, coloca em questão os fundamentos éticos,
políticos e tecnológicos da moderna civilização industrial. Tal questionamento, contudo,
não se esgota, em nossa concepção, pelas abordagens críticas das ciências sociais e
políticas, principalmente numa época onde as ideologias críticas encontram-se em crise.
Por outro lado, a discussão sobre os fundamentos valorativos da sociedade faz renascer, em
seu bojo, a importância da discussão filosófica - ética e metafísica - sobre a modernidade, o
industrialismo, a origem e o destino do homem. Em outras palavras, a relação dos homens
entre si, consigo próprios e com a natureza não podem ser apreendidas exclusivamente a
partir das relações de poder existentes entre os próprios homens, mas, a partir da busca do
papel do ser humano no Cosmos e da origem dos atributos essenciais que garantam a
positividade de suas ações.
3- Crise ecológica enquanto crise da sociedade moderna
Uma boa parcela dos problemas ecológicos e de saúde relacionados aos riscos
industriais, como a poluição, os depósitos de lixo e a destruição ambiental, são
conseqüência da incompatibilidade entre o metabolismo da produção/consumo e o
metabolismo da natureza - aí incluído o próprio ser humano em sua necessidades vitais.
Segundo Meszáros(1989), existe uma tendência nas sociedades capitalistas avançadas a
uma taxa de uso decrescente, resultado implícito, num primeiro momento, dos avanços de
produtividade conquistados.
Mas esta tendência vem acompanhada de uma série de deformações, pois para que
"a sociedade descartável" encontre o equilíbrio entre produção e consumo necessário para o
seu crescimento, é necessário artificializar o consumo em grande quantidade, ou seja,
descartar o bem prematuramente. Basta olharmos ao redor para verificarmos a importância
da indústria do marketing enquanto estratégia chave de sedução das pessoas, sendo estas
cada vez mais denominadas como consumidores. Neste processo imediatista de
economização da sociedade, os bens de consumo considerados há algum tempo duráveis
entram na categoria dos descartáveis. Este problema, aliás, se coloca como um dos grandes
desafios para a sobrevivência do próprio sistema industrial capitalista: o de reincorporar ao
seu metabolismo, através da reciclagem, todo esse lixo produzido por sua produção e
consumo, face à potencial escassez de recursos naturais ou por pressões decorrentes do
perigo ecológico conseqüente deste lixo. Esta tendência de gerenciar os riscos e o lixos
produzidos demonstram o limite de uma era dominada pelo pensamento liberal pautada na
abundância e na perspectiva de suplantação da escassez.
A maioria dos problemas ambientais também ocorrem de forma desigual, tanto a
nível geográfico quanto social e econômico. Por exemplo, Viola e Reis (1990) nos falam de
uma poluição da riqueza, com usinas nucleares, chuva ácida, montanhas de resíduos
enterrados e enfermidades provenientes dos excessos de álcool, alimentos, drogas e
medicamentos. Esta poluição do primeiro mundo estaria associada à perda do sentido da
vida, devido a uma concepção unilateral materialista e consumista da vida humana. Do
outro lado, nos deparamos com a poluição da miséria, onde a desnutrição, a falta de água,
de saneamento básico e a ausência de atenção médica combinam-se a uma degradação do
sentido de vida, marcada pela excessiva concentração de renda, pela miséria e pela
violência social generalizada, colocando em jogo a questão ética mais elementar
relacionada ao direito à vida. A miséria, por sua vez, contraposta à enorme concentração de
renda de nossa sociedade, é um fator que reforça a degradação ética e social, favorecendo o
individualismo, a segregação e dificultando o espírito de cooperação e solidariedade.
4- Os limites da Ciência Moderna: a reinvasão da natureza no mundo do laboratório
A necessidade de criação moderna - cuja tecnologia industrial é uma de suas facetas
simultaneamente mais fascinantes e perigosas - gera constantemente um conjunto de novas
situações às quais a natureza e os seres humanos são obrigados a se adaptar. A destruição
de ecossistemas, a ocorrência de doenças e mortes também podem ser vistas como
destrutiva. Aqui, a reflexão desenvolvida por Latour
(In Funtowicz e Ravetz 1993) nos parece bastante apropriada. Latour refletiu sobre o
projeto científico e industrial moderno a partir do trabalho de Pausteur, imaginando este
estendendo o seu laboratório para todo o campo francês, conquistando a natureza selvagem
e indomável para a ciência e para si mesmo. Através da metodologia científica e do milagre
da ciência natural moderna, a natureza poderia ser domesticada e transformada "útil" para a
humanidade, fazendo dos fenômenos naturais algo previsíveis e controláveis.
Sem dúvida, tal sonho, que segundo Funtowicz e Ravetz, é fundamentado por um
conhecimento tecnicamente "esotérico" de seus especialistas - no sentido do elevado nível
de complexidade e abstração de tais conhecimentos, fechados àqueles que dominam seus
jargões ao longo de um demorado e seletivo processo de formação-. Este conhecimento
serviu e ainda serve de base para a noção de progresso moderno, levando a ciência
moderna a ocupar um local privilegiado no conjunto dos saberes e conhecimentos
humanos. Os impressionantes resultados e sucessos da aplicação da metodologia científica
certamente contribuíram para que a civilização moderna elegesse, ou melhor, permitisse a
eleição de tal tipo de conhecimento como o mais elevado na compreensão da realidade
alcançável. As experiências de sentido comum, o conhecimento e as destrezas adquiridas
fora do mundo científico passaram lentamente, neste processo, a perder sua pretensão de
realidade ou, pelo menos, da realidade considerada mais nobre. Cientistas e especialistas
das diferentes áreas do conhecimento de origem acadêmica assumiram o poder de definir a
realidade, tanto para os próprios especialistas como para o público em geral, incluindo as
próprias ciências sociais e humanas, tendo aqui os economistas um papel particularmente
relevante como autoridades condutoras dos processos decisórios públicos.
A extensão do laboratório ao conjunto do mundo vem se ampliando cada vez mais
com o desenvolvimento científico e tecnológico, através de experimentos e difusão de
tecnologias que produzem efeitos em regiões e escalas cada vez maiores do planeta. Uma
importante diferença deste movimento em sistemas naturais e sociais reais com relação aos
experimentos clássicos de laboratório, contudo, é que, uma vez iniciados, os
acontecimentos não podem ser detidos, isolados ou controlados à vontade dos seus
realizadores, e por vários motivos. Do ponto de vista científico, um deles se refere à falta
de equilíbrio existente entre os dados experimentais quantitativos controlados e as teorias
matemáticas que dão consistência aos modelos teóricos. Tal equilíbrio, paradigmático no
desenvolvimento das ciências naturais clássicas, é fragilizado em situações mais
complexas, já que os dados experimentais surgem de experimentos artificiais de laboratório
produzidos por modelos e simulações de computador. Em outras palavras, tais modelos,
aos tentarem imitar a realidade para prever certos riscos industriais e tecnológicos -por
exemplo, presentes numa explosão nuclear, na construção de uma grande hidrelétrica, num
acidente químico ampliado ou na introdução de um microorganismo geneticamente
modificado-, produzem um simulacro da realidade, e, consequentemente, todas as suas
conclusões e incertezas estarão associadas às limitações de tais modelos. Estas incertezas,
por sua vez, tendem muitas vezes a serem escondidas ou camufladas, principalmente
quando fragilizam determinados interesses em jogo. Como conseqüência, as catástrofes
industriais vem colocando cada vez mais em xeque a credibilidade e legitimidade de
cientistas e especialistas explicarem e servirem de autoridades máximas para as tomadas de
decisão mais importantes de nosso tempo.
Outro elemento que favorece o potencial destrutivo das tecnologias industriais é
que estas se desenvolvem e são aplicadas em contextos sociais e processos decisórios por
grupos mais interessados em avaliar aspectos particulares - por exemplo, o retorno
financeiro de curto prazo- do que em considerar os efeitos destrutivos de médio ou longo
prazo destas tecnologias, até mesmo porque a maioria dos aspectos ecológicos não são
considerados. Por exemplo, do ponto de vista estritamente econômico de curto e médio
prazo, a extinção de uma espécie animal ou o risco das gerações futuras pode ser
considerado desprezível, logo não passível de contabilização. Ao somarmos estes
problemas e incertezas com a crescente complexidade e potencial destrutivo das
tecnologias modernas, teremos um quadro bastante atual e alarmante da humanidade em
enfrentar os riscos industriais de nossa época moderna.
Por tudo isto, poderíamos dizer metaforicamente que a natureza, artificialmente
reduzida ao laboratório, agora reverte o quadro e rompe, com sua força essencial, os limites
do próprio laboratório, reinvadindo-o. Como nos colocam de novo Funtowicz e Ravetz, a
mesma metodologia científica que criou tais riscos - globais em alcance e complexos em
estrutura- não pode ser a mesma que os enfrentará, e o desafio moderno também implica
neste reconhecimento e na possibilidade de criarmos uma nova prática científica, onde a
ciência seja reconhecedora dos seus limites e capaz de dialogar com outras fontes de
saberes e valores.
5- Conclusão: princípios e estratégias para uma nova prática científica
Do ponto de vista científico e institucional, a percepção dos limites teóricometodológicos e do potencial destrutivo da ciência moderna - particularmente em sua
aplicação tecnológica-, faz da discussão ecológica e da estratégia de definição e
encaminhamento de problemas elementos particularmente importantes na construção de
uma nova prática científica. Esta nova prática poderá ser marcada pelo reconhecimento dos
limites e incertezas do conhecimento científico e pela busca de um diálogo interativo na
busca de incrementar sua qualidade. Este diálogo possui várias facetas: o diálogo interno
entre especialistas é um deles, e aqui as tentativas de grupos multidisciplinares e
interdisciplinares orientados por problemas representam um movimento atual importante
nesta direção.
Mas o diálogo positivo também possui uma faceta externa, no sentido do
reconhecimento legítimo dos diversos atores sociais e conhecimentos de inspiração não
científica de participarem ativamente na construção da realidade e no encaminhamento de
soluções positivas dos processos decisórios acerca dos riscos industriais. Embora as
ciências sociais e humanas já há muito reconheçam e incorporem em seus estudos diversos
aspectos qualitativos de origem social, cultural e psicológica que buscam refletir o conjunto
de singularidades e necessidades presentes numa sociedade, as ciências naturais e áreas
tecnológicas continuam evitando trabalhar com tais elementos, até mesmo negando-os, por
considerá-los "subjetivos" e fugirem dos padrões quantificáveis.
Tal reconhecimento implicaria em substanciais modificações na estrutura e prática
atual das instituições e corporações técnico-científicas, reorientadas pelos princípios da
solidariedade, da prudência e da humildade. Tanto nos confrontos da prática
multidisciplinar quanto dos processos decisórios, tais princípios, ao serem assumidos por
especialistas, deveria implicar num reposicionamento de posturas. Por exemplo, com
relação à humildade no reconhecimento dos limites e ignorâncias de cada um, e no respeito
e aceitação da contribuição do outro. Um diálogo onde o especialista assume-se e ao outro
também como pessoas, que parte da busca da verdade em si próprio como remédio contra a
coisificação do seu semelhante: "que ninguém tente debilitar o sentido da relação: relação
".( Buber, 1988) Neste sentido, o reconhecimento dos limites do
conhecimento científico tornam-se estratégicos no enfrentamento dos problemas
, no sentido dado por onde não se sabe que não se
sabe, constitui-se numa enorme barreira na construção de uma nova prática científica e
institucional.
Como nos colocam Funtowicz e Ravetz (1993), ao argumentarem sobre a
necessidade de uma nova ciência, por eles denominada como Ciência Pós-Normal, as
metas do novo conhecimento científico já não mais residiriam na busca de verdades
instrumentais e na conquista da natureza, mas sim na necessidade de uma relação
harmoniosa entre a humanidade e a natureza. Desta forma, a interação ativa entre
conhecimento e ignorância e a aceitação de outras abordagens que não as classicamente
científicas e de igual importância, constituiriam-se como elemento central das novas
estruturas intelectuais e práticas sociais de uma nova ciência, gerando novas estratégias de
resolução de problemas e invertendo o domínio clássico dos "fatos duros" por cima dos
"valores brandos".
Do ponto de vista institucional e político, tais premissas implicariam na capacidade
dos processos de avaliação e decisão acerca dos riscos tecnológicos e ambientais
incorporarem, de forma efetiva, o conjunto de grupos e pessoas envolvidas no problema,
tentando, desta forma, garantir a qualidade ética do processo decisório. Por exemplo,
representantes sindicais, da comunidade, grupos ecológicos e, por que não, representantes
de organizações religiosas tradicionais e artistas sensibilizados pelo tema poderiam
interagir com organizações governamentais, não governamentais, científicas e industriais
na avaliação dos problemas ecológicos mais importantes e na busca de soluções adequadas
e efetivas.
6- Bibliografia
Buber, M. (1988) Eu e Tu. Ed. Morares, São Paulo.
Funtowicz, S. e Ravetz, J. (1993) Episemologia Politica: Ciencia com la gente. Centro
Ed. Am. Latina, Buenos Aires.
Meszáros, I.(1989) Produção Destrutiva e Estado Capitalista. Cadernos Ensaio, v.5, São
Paulo.
Porto, M. (1994) Trabalho Industrial, Saúde e Ecologia: Avaliação Qualitativa de
Riscos Industriais com dois Estudos de Caso na Indústria Química. Tese de
Doutorado, COPPE/UFRJ.
Viola, E. e Reis, H. (1990) Desordem global de la biosfera y nuena ordem
internacional. Buenos Aires.
Wynne, B. (1992) Uncertainty and Environmental Learning - Reconceiving Science and
Policy in the Preventive Paradigm. Global Environmental Change, 2: 11-127.
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