UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL Programa de Pós Graduação em Ciências Florestais e Ambientais OS RECURSOS VEGETAIS E O SABER LOCAL NA COMUNIDADE RURAL SÃO MIGUEL EM VÁRZEA GRANDE, MT: UMA ABORDAGEM ETNOBOTÂNICA JENEFFER SOARES DOS SANTOS MAMEDE CUIABÁ-MT 2015 JENEFFER SOARES DOS SANTOS MAMEDE OS RECURSOS VEGETAIS E O SABER LOCAL NA COMUNIDADE RURAL SÃO MIGUEL EM VÁRZEA GRANDE, MT: UMA ABORDAGEM ETNOBOTÂNICA Orientadora: Prof. Dra. Maria Corette Pasa Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte das exigências do Curso de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais, para obtenção do título de Mestre. CUIABÁ-MT 2015 iii iii PUÇANGA Tome chá de hortelanzinho E prá acabar com a caganeira? É cumpadre, nessa terra de meu Deus, Elixir paregórico Tem cura pra tudo. E marupazinho É verdade cumpadre... Mas se tomar... É só plantar lá no quintal. Boldo africano, malvarisco Colher, tá curado! Vá prá privada Para gripes e resfriados cumpadre? Prá anemia, seu menino? Carucaá, japana e sabugueiro Jucá e pariri, é legal cumpadre! Mas prá sinusite? Cumpadre É hortelã e manjerona Prá aquela dor de urina danada? Mas pra gargante e faringite? Alfavaca, capim marinho, canarana, Erva de jabuti é bacana! Manjericão, quebra pedra e solidônia Mas e prá tosse cumpadre? Seu mano, aqui prá nós Dessas? E prá doença de mulher? Hortelã grande, mastruz e urucum. Alecrim, estoraque e mucuracaá Agora me diga Prá curuba e pano branco? Prá gastrite e úlcera? E tudo que é imundice de pele, Amor crescido, losna, catinga de Inclusive tumor e furúnculo? mulata É babosa, arruda e melão de São Erva cidreira, pirarucu, sacaca e Caetano. sucurijú E dá-lha cura Osmar Júnior e Naldo Maranhão Pra todo mal E haja erva cumpadre No meu quintal Pra ameba e giárdia cumpadre iv Ao meu marido Rafhael Mamede por seu incentivo e auxílio nesta caminhada. A minha orientadora pelo apoio nos principais momentos do trabalho e finalmente aos moradores da Comunidade São Miguel pela receptividade e carinho com que eles me receberam. A Vocês Dedico! iv AGRADECIMENTOS Aos moradores da Comunidade São Miguel pelos ensinamentos adquiridos; pelos cafezinhos oferecidos sempre com grande satisfação; pela enorme boa vontade nos trabalhos de campos. Por fim, OBRIGADA pela hospitalidade. Em especial a Dona Antônia, pela atenção, carinho e dedicação. Por terpercorridocada pedacinho da comunidade falando da importância do presente estudo e por ter me acompanhadonas propriedades sempre com muita alegria. Quero deixar meu carinho registrado também ao Natanael (in memoria), grande conhecedor da utilização das plantas, que antes de partir deixou um pouco desse conhecimento com todos que irão ler esse trabalho. Á minha orientadora, profª Dra. Maria Corette Pasa por todos os ensinamentos repassados e pela grande oportunidade de trabalhar ao seu lado. Obrigada por todos os abraços carinhosos e por sempre mostrar esperança quando parecia não haver nenhuma. Aos professores Antônio Antonio de Arruda Tsukamoto Filho e Carla Maria Abido Valentini pelas ótimas contribuições para este trabalho tanto na qualificação quanto na defesa. Sempre muitos atenciosos e prestativos. À minha família: meus pais Pedro e Silvania, meus irmãos Pollyana e Gabriel, por estarem sempre torcendo por meus sonhos. Aos meus sobrinhos Kestly, Anni e Leonardo, que meu esforço sirva de exemplo, a busca por um sonho não é fácil, contudo é gratificante. Aos meus sogros, Francisco e Eudália, pelo incentivo e pela ajuda constante em cuidar do meu pequeno; vocês mudaram a rotina da sua casa tudo em função de me ajudar, sou eternamente grata. Ao Senhor José, Técnico do Herbário da Universidade Federal de Mato Grosso, pelos ensinamentos na confecção das exsicatas e colaboração com identificação das espécies. A Capes pelo incentivo financeiro concedido através da bolsa de mestrado. v A todos os meus colegas de Mestrado, pela amizade e momentos compartilhados. A meus amigos de toda vida (Pedro, Bruno, Arica, Maíra, Simone, Lariane) quero dizer que ausência não significa esquecimento. Vocês estão sempre em meus pensamentos e em meu coração. Ao meu filho, Eduardo, pela ausência constante no seu dia a dia, perdendo momentos que não teram volta. Quero te pedir filho que me entendas, quando tiver idade para isso, que minha ausência não foi em vão e sim a busca por um sonho no qual você fez parte. A mamãe te amou desde o primeiro dia que ficou sabendo de sua existência e nada que eu faça ou almeje mudará isso. Ao meu eterno companheiro Rafhael Mamede. Companheiro, esposo, amigo, confidente, você é tudo para mim. Amor, obrigada por sempre ter me incentivado a correr atrás do que queria, por ter sido pai e mãe quando Dudu precisou, por não perder a paciência todas as vezes que pedi que me levasse para realizar a pesquisa. Obrigada por ter me auxiliado todas as vezes que recorri a você. Por fim, a Deus que me deu a vida e por ter colocado todas essas pessoas em meu caminho me mostrando que tudo daria certo. Deixo esse versículo para reflexão: É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se!Eclesiastes 4:9-10. A todos o meu Muito Obrigada. vi BIOGRAFIA Jeneffer Soares dos Santos Mamede, filha de Pedro Gomes dos Santos e Silvania Soares dos Santos, ambos brasileiros, nasceu em Cuiabá, Mato Grosso, em 28 de novembro de 1986. Cursou o ensino fundamental na Escola Estadual Presidente Médici - EEPM, em Cuiabá, Mato Grosso, em 2001. Fez o ensino médio no Centro Federal de Educação Tecnológica de Cuiabá– CEFET-MT, em Cuiabá, em 2004. Formou-se Engenheira Florestal em 2009, pela Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT e Especialista em Engenharia e Segurança do Trabalho no ano de 2010 pela Universidade de Cuiabá - UNIC. Iniciou sua vida profissional com licenciamentos ambientais em áreas rurais no ano de 2009. Em março de 2013, ingressou no mestrado acadêmico em Ciências Florestais e Ambientais na Universidade Federal de Mato Grosso. vii SUMÁRIO LISTA DE TABELAS ..........................................................................................x LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... xi RESUMO.......................................................................................................... xiii ABSTRACT....................................................................................................... xv 1. INTRODUÇÃO..............................................................................................1 2. REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................... ..3 2.1. Etnobotânica: um pouco de história e de conceitos................................3 2.2. Importância dos estudos etnobotânicos..................................................3 2.3. Estudo da etnobotânica no Brasil e no mundo.......................................7 2.4. Estudo da etnobotânica em cerrado matogrossense............................8 2.5. Unidades de paisagem.........................................................................11 2.5.1. Cerrado.......................................................................................11 2.5.2. Quintal........................................................................................13 2.5.3. Roça...........................................................................................15 2.5.4. Matas de Galeria........................................................................16 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................18 CAPÍTULO 1 RESUMO.......................................................................................................... 26 ABSTRACT...................................................................................................... 27 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 28 2. METODOLOGIA ........................................................................................ 29 2.1. Área de Estudo................................................................29 2.2. Proposta Metodológica.......................................................................31 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................. 332 3.1. Dados dos entrevistados..............................................................32 3.2. Estrutura física dos domicílios......................................................39 3.3. Características da saúde..............................................................44 3.4. Perfil econômico...........................................................................46 3.5. Características da organização social..........................................50 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 52 viii 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 54 CAPÍTULO 2 RESUMO.......................................................................................................... 59 ABSTRACT...................................................................................................... 60 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 61 2. METODOLOGIA ........................................................................................ 62 2.1. Área de Estudo............................................................62 2.2. Proposta Metodológica..................................................................62 2.3. Sistematização e análise dos dados.............................................64 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 68 3.1. Características dos entrevistados.................................................68 3.2. As Unidades de Paisagem....................................................69 3.2.1 Quintais...............................................................................70 3.2.2. Roças.................................................................................97 3.2.3. Matas de galeria...............................................................100 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 107 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 109 4. CONCLUSÕES GERAIS ......................................................................... 114 5. DEVOLUTIVAS...........................................................................................117 ANEXOS..........................................................................................................118 ix LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 1 TABELA 1: NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FAIXA ETÁRIA E SEXO DA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...................................................................................35 TABELA 2: DOENÇAS MAIS COMUNS E A PORCENTAGEM DE ESPÉCIES VEGETAIS INDICADAS PARA O TRATAMENTO PELOS MORADORES DA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014............................................................................................45 TABELA 3: ESPÉCIES CULTIVADAS NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014.....................................................46 CAPÍTULO 2 TABELA 1: CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS DA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014...68 TABELA2: ESPÉCIES PRESENTES NOS QUINTAIS DA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014............................78 TABELA 3: VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. COMUNIDADE SÃO MIGUEL, VÁRZEA GRANDEMT. 2014...................................................................................................89 TABELA 4: ESPÉCIES VEGETAIS CITADAS PARA FINS TERAPÊUTICOS EM ANIMAIS NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014.....................................................95 TABELA5: PLANTAS DA MATA DE GALERIA USADAS PELA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014.102 x LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 1 FIGURA 1:LOCALIZAÇÃO DA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORAS..................................29 FIGURA 2:ATIVIDADES EXERCIDAS PELOS ENTREVISTADOS DA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES. OBSERVAÇÃO: TDEE TÉCNICO EM DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO......................34 FIGURA 3:NATURALIDADE DOS ENTREVISTADOS DA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES.................................................................................................34 FIGURA 4:TEMPO DE MORADIA DOS ENTREVISTADOS NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...................................................................................37 FIGURA 5:PRODUTOS USADOS NA ALIMENTAÇÃO DOS ANIMAIS NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...................................................................................38 FIGURA 6:TIPOS DE MORADIA ENCONTRADA NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. A: ALVENARIA; B: MADEIRA; C: PAU-A-PIQUE. FONTE: AUTORES...................................40 FIGURA 7:SISTEMA IMPROVISADO COM CAIXA D’ ÁGUA PARA COLETA DE ÁGUA DA CHUVA NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...................42 FIGURA 8:DESTINO DADO À PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...................................................................................47 FIGURA 9:MODELO DA TECNOLOGIA SOCIAL PAIS NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...................................................................................48 FIGURA 10: MOENDA UTILIZADA PARA MOER CANA-DE-AÇÚCAR. COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...................................................................................49 FIGURA 11: PERCURSO DA CAVALGADA NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...51 xi CAPÍTULO 2 FIGURA 1:LOCALIZAÇÃO DA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORAS..................................62 FIGURA 2: CURVA DE ACUMULAÇÃO DE ESPÉCIES REPRESENTANDO A QUANTIDADE DE ESPÉCIES CITADAS EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE ENTREVISTAS REALIZADAS NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...................................................................................70 FIGURA 3: FREQUÊNCIA RELATIVA DOS ENTREVISTADOS QUANTO AO MANEJO DOS QUINTAIS NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...................72 FIGURA 4: RECIPIENTES UTILIZADOS PARA PLANTIO NOS QUINTAIS NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. A: COCO; B: PARTE DO ESTIPE DE BURITI; C: GARRAFA PET; D: TRONCO DE ÁRVORE. FONTE: AUTORES...........................................74 FIGURA 5: NÚMERO DE FAMÍLIAS E ESPÉCIES ENCONTRADAS NAS ETNOCATEGORIAS DE USO NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORES...................77 FIGURA 6: MODO DE PREPARO DOS REMÉDIOS CASEIROS NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORAS...................................................................................94 FIGURA 7: EXEMPLO DE CULTIVOS ENCONTRADO NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. A: CEBOLA, B: CARÁ-MOELA E C: MAMÃO PAPAIA. FONTE: AUTORAS.................................................................................................97 FIGURA 8: FREQUÊNCIA RELATIVA DOS CULTIVOS NAS ROÇAS DAS PROPRIEDADES RURAIS NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORAS...................98 FIGURA 9: PRINCIPAIS FAMÍLIAS BOTÂNICAS ENCONTRADAS NA MATA DE GALERIA DA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. FONTE: AUTORAS................................101 FIGURA 10: DIVERSAS FORMAS DA UTILIZAÇÃO DA MADEIRA NA COMUNIDADE SÃO MIGUEL. VÁRZEA GRANDE-MT. BRASIL. 2014. A: PRATELEIRA, B: MESA, C: BANCO; D: CABO DE FERRAMENTA, E: CASA, F: ARCO (PARA PEDRA). FONTE: AUTORAS..........................106 xii RESUMO MAMEDE, Jeneffer Soares dos Santos. Os recursos vegetais e o saber local na Comunidade Rural São Miguel em Várzea Grande, MT: uma abordagem etnobotânica. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais e Ambientais) – Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT. Orientadora: Prof. Dra. Maria Corette Pasa. O presente estudo teve como objetivo geral caracterizar os principais aspectos socioeconômicos, culturais e ambientais da Comunidade São Miguel, bem como classificar as etnocategorias de uso dos recursos vegetais manejados pela população nas diferentes unidades de paisagem. O trabalho foi dividido em dois capítulos, sendo abordado, no primeiro, o perfil social, econômico e cultural na comunidade. O segundo capítulo abrangeu as unidades de paisagem na comunidade. Realizou-se a aplicação de entrevistas semiestruturadas. Para cada espécie foi calculado o Valor de Uso e para determinar as plantas mais importantes quanto à finalidade foi calculado o Consenso Informante por meio do Nível de Fidelidade. Foram entrevistados 46 moradores. A maior parte dos entrevistados é natural de Mato Grosso (52%). Quanto à escolaridade, 46% não concluíram o ensino fundamental. Grande parte das mulheres são donas-de-casa (44,8%). A casa de alvenaria foi o tipo de moradia mais encontrado na comunidade (95,6%) e todas possuem fornecimento de energia elétrica. Quanto ao uso da água para o consumo humano, 83% dos informantes retiram do poço artesiano, 10% retiram do rio e 7% compram água mineral. A agricultura em pequena escala é a principal atividade encontrada na região, onde grande parte planta apenas para o consumo familiar (72%). A mandioca é o cultivo principal. A maior parte dos quintais localizam-se no entorno das residências; as mulheres são na maioria responsável pelo manejo do local (43%). Os moradores usam as folhas caídas para fazer adubo. A criação de animais domésticos foi encontrada em 90% dos das residências visitadas. Nos quintais foram citadas 207 espécies, onde as principais famílias botânicas foram Asteraceae, Fabaceae e Lauraceae. O uso medicinal foi a etnocategoria mais representativa. Em relação à valoração unitária, a planta que representou muito bem o valor de uso das plantas locais (Vusp= 3,00) foi Solanum gilo Raddi. Para frequência relativa da concordância quanto aos usos principais (Pcusp) acima de 25%, são referidos 19 casos para problemas digestivos (como gastrite, azia, males do estômago) e problemas respiratórios (como gripe, bronquite, pneumonia, tosse) 61,5% cada. Não foram mencionadas dosagens específicas para os remédios caseiros. O modo de preparo prevalecente foi o chá, obtido por decocção (45%). A parte da planta mais empregada foi a folha (55,7%). Nas matas de galerias encontramos 68 espécies vegetais. A maioria das espécies (48%) citadas apresenta hábito arbóreo. Entre as espécies que representam muito bem o valor de uso das plantas locais (Vusp > 1,50) estão Myracroduon urundeuva Allemão e Anadenanthera colubrina var. cebil (Griseb.) Reis. Entre os produtos que foram retirados destaca-se a madeira para construção (50%) e sementes para produção de mudas xiii (17%). O desenvolvimento de ações nas áreas econômicas e sociais, como a implantação de postos de saúde, inclusão do ensino médio em período diurno, acompanhamento da gestantes durante o pré-natal, é imprescindível para continuação da comunidade. As unidades de paisagem oferecem meios diversificados para a sobrevivência das famílias, portanto são espaços que merecem ser estudados. Palavras-chave: Cerrado; Dados socioeconômicos; Etnocategorias de uso; Unidades de paisagens. xiv ABSTRACT MAMEDE, Jeneffer Soares dos Santos. Plant resources and local knowledge in the Rural Community in São Miguel Várzea Grande, MT: an ethnobotanical approach. Thesis (MS in Forestry and Environmental Sciences) - Federal University of Mato Grosso, Cuiabá-MT. Advisor: Prof. Dra. Corette Pasa Maria. This study aimed to characterize the main socioeconomic, cultural and environmental aspects of São Miguel Community and classify the use of etnocategorias of plant resources managed by the country's various landscape units. The work was divided into two chapters, being addressed in the first, the social, economic and cultural profile in the community. The second chapter covered the landscape units in the community. We conducted semi-structured interviews the application. For each species we calculated the use value and to determine the most important plants on the purpose we calculated the Informant Consensus through the Loyalty Level. We interviewed 46 residents. Most of the respondents were born in Mato Grosso (52%). As for education, 46% had not finished elementary school. Most women are stay-at-home (44.8%). The brick house was the type of property most commonly found in the community (95.6%), all have electricity supply. As for the use of water for human consumption, 83% of respondents derive from artesian well, 10% derive from the river and 7% buy mineral water. The small-scale farming is the main activity found in the region, where most only plant for household consumption (72%). Cassava is the main crop. Most yards are located in the vicinity of residences; women are mostly responsible for local management (43%). Residents use fallen leaves to make compost. The breeding of domestic animals was found in 90% of the visited homes. In backyards were cited 207 species where the main botanical families were Asteraceae, Fabaceae and Lauraceae. The medicinal use was the most representative ethnocategory. Regarding the unitary valuation plant that represented very well the use value of local plants (Vusp = 3.00) was Solanum gilo Raddi. For relative frequency of agreement on the main uses (Pcusp) above 25%, are referred 19 cases to digestive problems (such as gastritis, heartburn, stomach ailments) and respiratory problems (such as flu, bronchitis, pneumonia, cough) - 61, 5% each. Specific dosages for home remedies were not mentioned. The prevailing method of preparation was the tea, obtained by decoction (45%). The part of the sheet plant was used (55.7%). In the gallery forests found 68 plant species. Most species (48%) cited presents woody. Among the species that represent very good value in use of local plants (Vusp> 1.50) are Myracroduon urundeuva Allemão and Anadenanthera colubrina var. cebil (Griseb.) Reis. Among the products that were removed there is the timber (50%) and seeds for seedlings (17%). The development of actions in the economic and social areas, such as the implementation of health centers, including high school in daytime, monitoring pregnant women during prenatal care, is essential xv for continued community. The landscape units offer diversified means of survival of families, so are spaces that deserve to be studied. Keywords: Cerrado; Socioeconomic data; Etnocategorias use; Of landscape units. xvi 1. INTRODUÇÃO GERAL O Brasil está em primeiro lugar em número de plantas, contando com 55.000 espécies vegetais (BECKER et al., 2007). Este fato está relacionado à grande extensão territorial e a existência de diferentes condições edafoclimáticas e geomorfológicas encontradas no país. Esses fatores conforme Guerra et al. (1998) proporcionam oportunidades para a identificação de produtos com possível utilização econômica. O conhecimento das plantas por uma comunidade faz parte da sua cultura e está entrelaçada com sua história de vida (PASA, 2007a), portanto, é necessária a realização de estudos que busquem recuperar o conhecimento tradicional, existindo grandes oportunidades de transmitir para futuras gerações. Esta recuperação de saberes consente que outras pessoas empreguem espécies que antes não utilizavam, incluindo mais espécies úteis para o dia-a-dia (MING et al., 2002). Nesse sentido, os estudos etnobotânicos assumem expressiva relevância em razão de contribuírem para visualizar a interface entre as comunidades e esses recursos genéticos vegetais (PASA, 2011). Nesse contexto, o pesquisador busca conhecer a cultura e o cotidiano da comunidade pesquisada, a maneira como a comunidade obtém a cura das enfermidades através dos recursos naturais disponíveis (MORAIS, 2011), como lidam com os animais domésticos e os outros animais presente na fauna local, os recursos vegetais utilizados na construção das habitações, ferramentas, artesanatos. Entre as diferentes unidades de paisagem, podemos destacar o quintal. Nesse espaço são adotados manejos executados de maneira harmoniosa abrangendo diversas formas de vida (KUMAR e NAIR, 2004). Conforme os mesmos autores, o grande número de espécies presentes nos quintais atende necessidades econômica, social e cultural particulares do grupo envolvido. 1 Esse sistema integrado de produção agrícola é representado pelos quintais agroflorestais (CASTRO, 1995) e a importância desse espaço está ligada à produção, já que associam espécies florestais, plantas de múltiplos usos (medicinais, condimentares, alimentares) e a criação de animais próximo a residência (CASTRO et al., 2009). Outro ambiente da zona rural que merece ser lembrado são as roças. Espaço de produção agrícola cuja formação acontece nas áreas abertas no interior da vegetação natural ou nas bordas do campo cerrado (PASA, 2011), cujo objetivo principal é de subsistência familiar, composta por culturas de milho, mandioca, abóbora, feijão, bata-doce, integrada às atividades de extração de frutas nativas como goiaba, banana, caju, mamão, entre outras (DIEGUESet al., 2000). Última unidade de paisagem aqui mencionada, mas não menos importante são as Matas de Galeria. Essas se localizam na maioria das vezes nos fundos dos vales, acompanhando os cursos de pequenos rios e córregos (RIBEIRO e WALTER, 1998). Essas matas possuem uma grande quantidade de usos dos recursos vegetais pelos grupos locais, como remédios caseiros, material para construção, lenha e também como área de lazer (PASA e ÁVILA, 2010). A dissertação aqui apresentada teve como objetivo geral caracterizar os principais aspectos socioeconômicos, culturais e ambientais da Comunidade São Miguel, bem como classificar as etnocategorias de uso dos recursos vegetais manejados pela população nas diferentes unidades de paisagem. A estrutura da dissertação se divide em duas seções. No capítulo 1, “Perfil social, econômico e cultural na Comunidade Rural de São Miguel, Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil”, é ressaltado os principais aspectos socioeconômicos, culturais e ambientais dessas famílias que sobrevivem da terra e na terra. O capítulo 2, “As unidades de paisagem na Comunidade Rural São Miguel, Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil”, destaca a importância do conhecimento acumulado que essa comunidade possui sobre os espaços que ocupam que pode ser transmitido ao longo das gerações. 2 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Etnobotânica: um pouco de história e de conceitos A Etnobotânica teve sua origem no final do século XIX, constituindo uma ciência que combinava Botânica e a Antropologia marcando sua característica interdisciplinar. Essa nomenclatura foi designada pelo norte-americano J.W. Harshberger com a publicação, em 1896, do artigo The purposes of ethno-botany, no qual teve a compreensão apenas do uso de plantas pelo homem considerado “primitivo”1 (ALBUQUERQUE, 2002). Do ponto de vista de Albuquerque (2005) a etnobotânica surge do campo mais amplo da etnobiologia2, onde envolve as interações entre os seres humanos e os componentes vegetais, animais e microbiológicos do seu ambiente. Dessa forma, a etnobotânica almeja a busca de conhecimento e resgate do saber botânico tradicional, ao uso dos recursos da flora (PASA, 2011). Sendo a etnobotânica uma vertente da etnobiologia é natural que tenham sofrido a mesma influência. Clément (1998) divide a etnobiologia em três fases de acordo com a história: O período Préclássico iniciou-se final do ano de 1860, caracterizado por estudos enfocados na coleta de informações sobre o uso de recursos; o Clássico teve início por volta de 1954 e foi marcado por estudos da linguística e para a categorização etnobiológica e o Pós-clássico se destaca pela participação das populações nas pesquisas como fornecedoras de informações ou material biológico. Conforme as pesquisas em etnobiologia e etnobotânica foram avançando, notou-se que o conceito que os pesquisadores davam para o 1 O autor intitulou primitivos as tribos de índios norte-americanos quando foram realizados trabalhos com plantas. 2 A Etnobiologia origionou-se da Ecologia humana e da Antropologia Cognitiva, em particular da Etnociência, que busca entender como o mundo é percebido, conhecido e classificado por diversas culturas humanas (ANDREOLI et al., 2014). Um dos objetivos da Etnobiologia é analisar a classificação das comunidades humanas sobre a natureza, em particular sobre os organismos, podendo contribuir para a conservação de recursos naturais (BEGOSSI, 1996). 3 campo do conhecimento da etnobotânica, também sofreu avanços, influenciados por sua formação acadêmica. Salientamos alguns conceitos: Caballero (1979) intitula a etnobotânica como um campo interdisciplinar que compreende o estudo e a interpretação do conhecimento, significação cultural, manejo e usos tradicionais dos elementos da flora. Xolocotzi (1983) definiu a etnobotânica como o campo científico que estuda as inter-relações que se estabelecem entre o ser humano e as plantas através do tempo e em diferentes ambientes. De um modo simplificado, Ford (1986) intitulou como o estudo das inter-relações diretas entre homens e plantas. Minge Amaral Junior (1995) ampliam esses conceitos, envolvendo todos os aspectos da relação do ser humano com as plantas em ordem concreta (uso material, conservação, uso cultural, desuso) e aberta (símbolos de culto, folclore, tabus, plantas sagradas). Amorozo (1996) conceitua a etnobotânica como o estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por diferentes grupos a respeito do mundo vegetal, envolvendo tanto o modo como o grupo social rotula as plantas, como os usos que dá a elas. Para Alexiades (1996), Fonseca-kruel e Peixoto (2004) a etnobotânica é o estudo das sociedades humanas, passadas e presentes, e suas interações ecológicas, genéticas, evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas. Albuquerque (2005) entende a etnobotânica como o estudo da inter-relação direta entre pessoas de culturas viventes e as plantas do seu meio. Minnis (2000) relata que mesmo as sociedades industriais e pós-industriais não romperam sua ligação com as plantas, e que a coadaptação entre pessoas e plantas vem sofrendo alterações com o crescimento da urbanização e das economias internacionais. Para Prance (1991) a participação de pesquisadores das áreas da botânica, antropologia, ecologia, química, ambiental, engenharia florestal e agronomia, permitem grandes avanços nas pesquisas etnobotânicas, abordando de diversas maneiras a forma como o homem interage com o meio em que vive. Logo, cada vez a etnobotânica vem ganhando espaço, devido suas implicações ideológicas, biológicas, 4 ecológicas e filosóficas que dão respaldo ao seu crescente progresso metodológico e conceitual. 2.2. Importância dos estudos etnobotânicos Os seres humanos em sua busca do desenvolvimento econômico e do prazer das riquezas naturais se esqueceram de que os recursos naturais são finitos e a capacidade dos ecossistemas é limitada. Portanto, colocaram em risco diversos sistemas ambientais provocando um processo de ameaça de desaparecimento de várias espécies de seres vivos no planeta (TOWNSEND et al., 2006). Cresce então, o interesse científico com relação ao conhecimento que essas populações detêm sobre as plantas e seus usos (FARNSWORTH, 1988). Surge nesse contexto, a ciência etnobotânica que estuda o aproveitamento dos recursos naturais por parte das populações locais tanto nativas como aquelas que residem em uma determinada região por muito tempo (PASA, 2007b). Diegues et al. (2000) salientam a importância da contribuição que os estudos em etnobotânica têm apresentado na medida em que procuram encontrar a lógica subjacente ao conhecimento humano do mundo natural, as taxonomias e as classificações totalizadoras. Para esses autores conhecimento tradicional pode ser definido como “o saber e o saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural gerados no âmbito da sociedade não-urbana/industrial e transmitido oralmente de geração a geração”. Destacar a importância da Etnobotânica é fundamental a partir do entendimento de que os saberes empíricos e as práticas de saber local são ferramentas indissociáveis dos valores culturais de diferentes formações sociais a assim constituindo recursos produtivos para a conservação da natureza e autogestão dos recursos naturais (PASA, 2007a). As espécies são componentes de conhecimento, de domesticação e uso, são poesias para mitos e rituais das populações tradicionais (DIEGUES et al., 2000). 5 A etnobotânica envolve os três fundamentais pilares do mundo moderno: sociedade, economia e meio ambiente (PRANCE, 1995), portanto sua participação é fundamental em qualquer projeto que envolva recursos vegetais e populações humanas. Assim, a etnobotânica é um conveniente instrumento para o desenvolvimento endógeno das culturas e comunidades locais, para a conservação da diversidade biológica em todos os seus componentes, tangíveis e intangíveis, em nível de habitats e ecossistemas, germoplasma e conhecimentos (BERMEJO, 1996). A ciência etnobotânica tende o contato direto com os grupos locais, buscando uma aproximação e uma vivência que admitam conquistar a confiança das mesmas, resgatando, portanto, todo o conhecimento possível sobre a relação de afinidade entre o ser humano e as plantas de uma comunidade (SANTOS et al., 1995; ALBUQUERQUE, 2005). É notável a importância do resgaste e da preservação do conhecimento ecológico tradicional nos dias atuais, já que esse conhecimento é alcançado por experiência pessoal, transmitido muitas vezes apenas de forma oral entre os grupos locais. Experiências estas, adquiridas através da experiência diária e com grande potencial de trazer alternativas à globalização (HUNN, 1999). As propostas e os efeitos da etnobotânica possibilitam conforme Albuquerque (2002) o descobrimento de substância de origem vegetal com aproveitamento médicos e industriais; novas aplicações para substâncias já utilizadas; estudo das drogas vegetais e seu efeito no desempenho individual e coletivo dos usuários frente a determinados estímulos culturais ou ambientais; reconhecimento e a preservação de plantas potencialmente importantes em seus respectivos ecossistemas; histórico do conhecimento tradicional e dos complexos sistemas de manejo e conservação dos recursos naturais dos povos tradicionais; agenciamento de programas para o desenvolvimento e preservação dos recursos naturais dos ecossistemas tropicais e a descoberta de importantes cultivares manipulados tradicionalmente. Nos estudos etnobotânicos, nota-se uma posição de destaque das plantas medicinais (PASA et al, 2005). Contudo, o conhecimento 6 observado não se reduz aos recursos medicinais, mais também aos recursos alimentícios, pesticidas, contraceptivos e outras formas de uso, fornecendo, informações para evitar a destruição das florestas (ALBUQUERQUE, 2002). A literatura conservacionista enfatiza que os povos indígenas e as comunidades tradicionais3 possuem conhecimento dos usos para quase todas as plantas da floresta e que esse é um caminho para compreender como pode ser favorável a conservação das florestas tropicais (PRANCE, 1991). O conhecimento proveniente da cultura popular se torna irrecuperável uma vez perdido, por isso Guarim Neto e Moraes (2003) advertem que os recursos naturais, se extintos, não permanecerão disponíveis às gerações futuras. Assim, o “Saber Local” está cada vez mais atraindo a atenção de pesquisadores de distintas áreas (AMOROZO, 2002). 2.3. Estudo da etnobotânica no Brasil e no mundo Na última década a pesquisa etnobotânica cresceu visivelmente em muitas partes do mundo, em especial na América Latina em países como o México, a Colômbia e o Brasil (HAMILTON et al., 2003). Realizando um levantamento na Plataforma Lattes encontrou-se 1170 Currículos Lattes (CL) de pesquisadores relacionados à área de Etnobotânica com doutorado, sendo 1126 apenas de nacionalidade brasileira; 1769 CLs de pesquisadores relacionados à categoria da referida Plataforma como “demais pesquisadores” (sem a titulação de doutor). Neste contexto, fica claro como estudos etnobotânicos são necessários, sobretudo no Brasil, uma vez que o seu território abriga uma 3 o Conforme artigo 3 inciso I do Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, Povos e Comunidades Tradicionais são “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”. 7 das floras mais ricas do globo, da qual 99,6% são desconhecidas químicamente (GOTLIEB et al.,1996). No Brasil e em vários outros países, o grande número de trabalhos etnobotânicos proporciona o conhecimento das espécies que são empregadas, podendo servir como ferramenta para traçar estratégias de utilização e conservação das espécies nativas e seus potenciais (MING et al., 2000), já que percebemos uma forte pressão antrópica nos ecossistemas levando à perda de extensas áreas verdes, da cultura e das tradições das comunidades que habitam estas áreas, que dependem de recursos do meio para sobreviver. Estes fatores deixam clara a necessidade de prosseguir desenvolvendo estudos sobre Etnobotânica no Brasil e a participação de pesquisadores das áreas da botânica, antropologia, ecologia, química, engenharia florestal e agronomia, possibilitam maiores progressos nas pesquisas etnobotânicas, abordando de diferentes modos a forma como o homem percebe, classifica e utiliza as plantas (PRANCE, 1991). Pesquisadores em todo o mundo evidenciam a grande procura por estes vegetais, não só por sua importância medicinal que apresenta posição de destaque (PASA et al, 2005), mas também pelo potencial madeireiro que algumas espécies apresentam (ALBUQUERQUE, 2002). Conforme a região, temos um foco diferenciado nas pesquisas etnobotânicas, que são influenciadas e direcionadas pela realidade local e tipos de ecossistemas que abrangem (HAMILTON et al., 2003). Segundo Martínez-Alfaro (1994) os assuntos mais pesquisados em estudos etnobotânicos desenvolvidos em países da América Latina são: plantas medicinais, domesticação e origem da agricultura, arqueobotânica, plantas comestíveis, estudos etnobotânicos em geral, sistemas agroflorestais e quintais, uso da floresta, estudos cognitivos, estudos históricos, e pesquisas realizadas em mercados. 2.4. Estudo da etnobotânica em cerrado matogrossense 8 O Cerrado é uma unidade ecológica típica da zona tropical, distinto por uma vegetação de fisionomia e flora própria (PINTO, 1990). É o segundo maior bioma brasileiro em extensão, com quase 200 milhões de hectares, ou seja, cerca de 25% do território nacional (MMA, 2014). Envolve os Estados de Goiás, Tocantins, parte dos Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo, bem como Estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e Estado do Paraná (RIBEIRO e WALTER, 1998). Segundo Coutinho (2006) o Cerrado não é um bioma único, mas um conjunto de biomas que origina um mosaico de grupos ecologicamente ligados, desde campo limpo a cerradão. Conforme Pires e Santos (2000) o Cerrado está incluso na relação dos 17 ecossistemas mais degradados do planeta, sendo que aproximadamente 80% do Cerrado já foram transformados pelo homem, e apenas 19% dele corresponde a áreas-fragmento nas quais a vegetação original ainda se encontra em bom estado. Toda essa transformação tem levado à perda de material genético vegetal nativo, muitos até desconhecido do ponto de vista científico (VIERA e MARTINS, 2000). A flora nativa do Cerrado é considerada a mais rica dentre as savanas do mundo, em estimava de sete mil espécies vegetais (MENDONÇA et al., 1998) e pode ser aplicada originando opções de uso e renda para os produtores rurais, sendo que muitas espécies se sobressaem como alimentícias, medicinais, madeireiras, ornamentais, entre outras (RONDON NETO et al., 2010). Embora toda essa riqueza de usufrutos, boa parte da vegetação nativa do Cerrado foi substituída por pastagens plantadas, monoculturas agrícolas e áreas de mineração, ocasionando uma perda vultosa da fauna e da flora (RIBEIRO e WALTER, 1998). O cerrado no estado do Mato Grosso apresenta inúmeras possibilidades de utilização dos seus recursos vegetais, e os grupos locais são os principais e os primeiros conhecedores dessas informações em relação à botânica já que utilizam desses recursos vegetais (GUARIM NETO, 2001). Assim, o desenvolvimento de estudos que possibilitem 9 constituir parâmetros científicos de utilização racional para a manutenção dessa biodiversidade é de suma importância (XAVIER et al., 2011). No Estado de Mato Grosso vários autores tem demostrado a relação do ser humano com os recursos vegetais através das pesquisas etnobotânicas em comunidades tradicionais, dentre os quais podemos destacar: Amaral e Guarim Neto (2008), Pasa et al. (2008), Moreira e Guarim Neto (2009), Valentini et al. (2009), Pasa e Ávila (2010), Rondon Neto et al. (2010), Cruz et al. (2011), Pasa (2011), Carvalho et al. (2011), Daher et al. (2012), Souza e Pasa (2013), De David et al. (2014), entre tantos outros. Várias espécies encontradas no cerrado tem seu destaque com a utilização para remédios caseiros como, por exemplo, a quina (Strychnos pseudoquina A. St.-Hil.), a arnica (Camarea ericoides A. St.Hil.), a mangava brava (Lafoensia pacari A. St.-Hil.), a negramina (Siparuna guianensis Aubl.); tem aquelas usadas na alimentação como o piqui (Caryocar brasiliense Cambess.), a mangaba (Hancornia speciosa Gomes), o buriti (Mauritia flexuosa L.); não podemos esquecer das espécies que a madeira é aproveitada, como o angico (Anadenanthera falcata (Benth.) Speg.), o guatambu (Aspidosperma polyneuron Müll. Arg.), o gonçaleiro (Astronium fraxinifolium Schott); logo, fica claro que existem diversas espécies com inúmeras utilidades no cerrado. Encontramos no cerrado também, espécies vegetais com múltiplos usos como o cumbaru (Dipteryx alata Vogel) utilizado tanto na alimentação dos grupos locais como também nos remédios caseiros e na construção; o paratudo (Tabebuia aurea(Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore) que além de embelezar o local em que se encontra também oferece madeira e ajuda nas enfermidades. Deste mesmo modo, encontramos a pata de vaca (Bauhinia glabra Benth.),a mamica de porca (Zanthoxylum rhoifolium Lam.) e, o jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne). Diante de tudo que foi explanado, percebemos que ainda há necessidade de pesquisas voltadas para a identificação de plantas úteis do cerrado contribuindo com as populações locais que usufruem desses 10 espaços e oferecendo novos alimentos para contribuir no sustento e na renda. 2.5. Unidades de paisagem Ao trabalhar a área de pesquisa dentro de Unidades de Paisagem antes se faz necessário tecer algumas considerações sobre o termo paisagem. Para Bertrand (2004), a paisagem não é a simples adição de elementos geográficos e sim o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicosbiológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. Em outras palavras, podemos entender o conceito ou unidade paisagem como o resultado de uma ação relacionada com elementos naturais que a compõem, como litologia, solos, formas de relevo, vegetação (FÁVERO et al., 2007) e uma atuação constante e diversificada pelo homem. O conceito de paisagem está ligado a uma das necessidades básicas do planejamento ambiental, que é o entendimento das ações culturais e das formas específicas de manejo dos recursos naturais (SILVA e SANTOS, 2004). 2.5.1. Cerrado O cerrado é considerado um hotspots4, tem uma ampla área com uma biodiversidade muito grande, porém carecendo de preservação, por estar ameaçado (MYERS et. al., 2000). O cerrado possui a mais rica flora dentre as savanas do mundo além de apresentar uma riqueza em aves, peixes, anfíbios, répteis, entre outros (KLINK e MACHADO, 2005). O fato de o Cerrado ter sido considerado, “quer pela opinião pública quer pelos ecologistas, como a “prima pobre” dos biomas” 4 A definição de hotspot foi criado em 1988 pelo ecólogo inglês Norman Myerscom o objetivo de descobrir quais as áreas mais importantes para preservar a biodiversidade na Terra. Hotspot é, portanto, toda área prioritária para conservação, isto é, de rica biodiversidade e ameaçada no mais alto grau. 11 (SOUZA, 2012), fez com ele sofresse diversas modificações ao longo dos anos pela ação dos homens, como por exemplo, o uso do fogo no manejo das pastagens. Essa prática foi com certeza uma das formas de rápida transformação do Cerrado, apesar do cerrado ser um ambiente adaptado ao fogo, ocasionando o desaparecimento de espécies vegetais e animais e provocando a erosão dos solos. Além das queimadas, grande parte da vegetação nativa do Cerrado foi substituída por pastagens plantadas, monoculturas agrícolas e áreas de mineração (RIBEIRO e WALTER, 1998). O Cerrado possui variações em suas características, sendo perceptíveis pelas suas fisionomias, variando desde as matas ciliares, matas de galerias até os palmeirais. Ribeiro e Walter (2008), Bastos e Ferreira (2010), apresentam uma classificação fitofisionômica para o Cerrado, dividida em três formações paisagísticas: Formações Florestais: No Cerrado, existem as seguintes formações florestais: Mata Seca: formações florestais que não possuem associação com cursos de água, caracterizadas por diversos níveis de caducifólia durante a estação seca. Mata Ciliar: vegetação florestal que acompanha os rios de médio porte da Região do Cerrado, em que a vegetação arbórea não forma galerias. Mata de Galeria: vegetação florestal que acompanha os rios de pequeno porte ecórregos dos planaltos do Brasil Central, formando corredores fechados (galerias) sobre o curso d’água. Cerradão: O Cerradão é a formação florestal do bioma Cerrado com características esclerofilas, motivo pelo qual é incluído no limite mais alto o conceito de Cerrado sentido amplo. Formações Savânicas: as Formações Savânicas do Cerrado englobam quatro tipos fitofisionômicos principais: o Cerrado sentido restrito, o Parque de Cerrado, o Palmeiral e a Vereda. 12 Cerrado sentido restrito: caracteriza-se pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas, geralmente com evidências de queimadas. Os arbustos e subarbustos encontram-se espalhados, com algumas espécies apresentando órgãos subterrâneos perenes (Xilopódeos), que permite a rebrota após a queima ou corte. Parque de Cerrado: formação savânica caracterizada pela presença de árvores agrupadas em pequenas elevações do terreno, algumas vezes imperceptíveis e outras com muito destaque, que são conhecidas como “murundus” ou “monchões”. Palmeiral: diferenciadadas outras fisionomias pela presença única de espécie de palmeira arbórea. Nesta fitofisionomia praticamente não há destaque das árvores dicotiledôneas, embora elas possam ocorrer com frequência. Vereda: caracterizada pela presença da espécie Mauritia flexuosa (Buriti) em meio a grupamentos mais ou menos densos de espécies arbustivo-herbáceas. Essa formação se distingue dos Buritizais por não formar dossel. A grande riqueza de espécies no Cerrado tornam essas áreas como espaços únicos e insubstituíveis, o que remete a necessidade de grandes esforços para preservá-la. 2.5.2. Quintal Os quintais são ambientes de grande valia para o sustento humano desde o período neolítico, onde os homens abandonaram o ato de colher os alimentos apenas da natureza e começaram a realizar cultivo de hortas e domesticação de animais (NASCIMENTO et al., 2005). Esse sistema integrado de produção agrícola pode ser representado pelos quintais agroflorestais (CASTRO, 1995; MACEDO, 13 2000), uma área de produção distribuída perto da casa, de fácil acesso, onde são cultivadas espécies agrícolas e florestais, além da criação de pequenos animais domésticos (WIERSUM, 1982; NAIR, 1993), através de manejos concebidos e executados de maneira harmoniosa (KUMAR e NAIR, 2004) que fornece uma renda extra para família e oferece uma fonte de recursos alimentícios e medicinais (PASA et al., 2005). Além da população manter uma baixa dependência de produtos adquiridos externamente, causa impactos mínimos sobre o ambiente, conserva os recursos vegetais e a riqueza cultural (PASA, 2004). Os quintais são caracterizados pela elevada diversidade de espécies (FERNANDES e NAIR,1986; COOMES e BAN, 2004), com diferentes ciclos biológicos, o que garante uma oferta diversificada de produtos durante todo o ano (TORQUEBIAU, 1992) formando uma importante fonte para a alimentação familiar (NAIR, 1993). O conhecimento sobre as plantas de múltiplo uso pelas populações tradicionais é norteado por uma série de informações obtidas através da relação direta dos membros da comunidade com o ecossistema, e a difusão desses saberes é feita através da tradição oral (MOREIRA et al., 2002). Tais experiências constituem-se em uma fonte relevante para estudos etnoecológicos, farmacológicos, fitoquímicos e agronômicos (AMOROZO, 1996). Segundo Amorozo (2007) as áreas de cultivo domiciliar são espaços de suma importância para a conservação das tradições locais e para a segurança alimentar global, já que são ambientes sociais e culturais. O quintal preserva parte da história cultural local (DUQUEBRASIL et al., 2007) e fortalece os vínculos sociais da comunidade por meio da utilização do espaço para atividades sociais, como rezas, festas e lazer (PASA, 2004). Para Souza (2007) este saber tradicional local é “de caráter coletivo e acumulativo [...] fruto de um processo constante de experimentação científica e de adaptação aos ecossistemas, os quais são transmitidos e melhorados de geração em geração”. 14 Os quintais proporcionam o abrigo e o resgate do conhecimento que um determinado grupo social detém sobre o uso dos recursos naturais, nas diferentes culturas (PASA et al., 2005). Embora esse sistema de produção de múltiplas espécies tenha provido e sustentado milhões de pessoas economicamente, pouca atenção científica tem sido destinada ao assunto (AMARAL e GUARIM NETO, 2008). Normalmente, os quintais localizam-se na parte detrás da residência, com tamanho adequado à demanda familiar, compostos por uma variedade de espécies, e oferecem uma cobertura vegetal diversificada sobre o solo (PASA et al, 2005). Quase sempre esses espaços são manuseados pelas mulheres, que garantem dessa forma uma dieta saudável a sua família (OAKLEY, 2004). Para Holthe (2003) o ambiente quintal vai além de um ambiente de produção agrícola e pomares, pode ser uma zona de serviços como: cozinhas externas, lavagem de roupas ou de utensílios domésticos, cobertura de poços e cisternas, oficinas improvisadas, casas de banho (ou banheiros), dependências para empregados, as cocheiras e estrebarias, etc. 2.5.3. Roça As “roças” são espaços de pequena extensão de terra, onde os produtores adotam procedimentos de baixo impacto; quase não se utiliza insumos químicos sintéticos e apresentam uma alta diversidade de espécies e variedades (CARDOSO, 2008). Conforme Pasa et al. (2005) a roça é uma unidade de paisagem que fundamentalmente é destinada para a produção agrícola, na maioria das vezes encontradas no interior da vegetação natural. No Cerrado ocorre especialmente com a derrubada das matas de galeria ou nas bordas dos campos cerrado que limitam com as matas, cujo objetivo principal é de subsistência familiar. A roça consolida um sistema produtivo altamente complicado e aprimorado, que carece de um vasto conhecimento e práticas agrícolas locais para sua manutenção (WARNER, 1991), e, pode ser compreendido 15 também como um espaço arquitetado através de significados culturais (EMPERAIRE e PERONI, 2007). O agricultor quando modifica a paisagem para implantação da roça não está apenas construindo um espaço agrícola, mas também aumentando a riqueza de plantas cultivadas com as quais se relacionará, havendo assim, a domesticação conjunta da paisagem e de várias espécies de plantas úteis (CLEMENT, 1998). 2.5.4. Matas de Galeria No bioma Cerrado existe um tipo de formação florestal, designado "mata de galeria". As matas de galerias localizam-se geralmente nos fundos dos vales, seguindo os cursos de pequenos rios e córregos (RIBEIRO e WALTER, 1998; 2001), o que os diferenciam das matas ciliares que acompanham os rios de médio e grande porte da região do Cerrado, em que a vegetação arbórea não forma galerias (RIBEIRO e WALTER, 2007). As matas de galeria apresentam o ambiente de maior complexidade estrutural do bioma Cerrado e são responsáveis pela proteção e manutenção da água, fator essencial para todas as espécies vivas (FELFILI et al., 2000). Além dessa função ecológica importantíssima para manutenção das espécies, essas matas possuem um grande número de usos dos recursos vegetais pelos grupos locais, que desfrutam através do extrativismo vegetal, caça e pesca, remédios, material para construção, lenha e também como área de lazer (PASA e ÁVILA, 2010; PASA, 2011). As matas de galeria podem ser influenciadas por diferentes florações, provenientes de formas e tipos de vegetação distintos, que produzem modificações locais provindas do clima, da latitude e dos fatores edáficos (SAMPAIO et al., 2000). Para Ribeiro (1998) essa formação vegetal apresenta espécies adaptadas, tolerantes ou indiferentes a solos encharcados e ou sujeitos a inundações temporárias. Kageyama et al. (1989) complementam informando que a mata de galeria inclui determinadas espécies vegetais exclusivas e se constitui em 16 importante habitat para animais e expressiva fonte de alimentos para os peixes. Conforme as características ambientais como a topografia e variações na altura do lençol freático ao longo do ano, a Mata de Galeria pode ser dividida em dois subtipos: Mata de Galeria não Inundável e Mata de Galeria Inundável. A mata de galeria não inundável acontece em solos bem drenados e possui em torno de 100 a 200 espécies lenhosas com diâmetro igual ou superior a 5 cm; já a mata de galeria inundável é caracterizada por drenagem deficiente com estrato arbóreo composto por poucas espécies que podem atingir até 20 m de altura (FELFILI et al., 2000). Segundo Felfili et al. (2000) existem espécies que podem ser localizadas tanto na Mata de Galeria não Inundável quanto na Mata de Galeria Inundável como: Protium heptaphyllum (breu), Scheffler morototoni (morototó), Tapirira guianensis (pau-pombo, pombeiro),Virola sebifera (virola) e Psychotria carthagenensis (erva-de-gralha). Embora possua uma marcante área de distribuição, as florestas de galeria cobrem uma superfície proporcionalmente pequena devida ao avanço acelerado da fronteira agrícola e urbana na região dos cerrados (FELFILI et al., 2000). Assim fica claro que a recuperação dessas matas suprimidas é uma das maiores preocupações dos dias atuais. 17 3. 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A média de idade entre as mulheres é de 50 anos, e entre os homens de 60 anos. A maior parte dos entrevistados é natural do estado de Mato Grosso (52%). Quanto à escolaridade, 46% não concluíram o ensino fundamental, 17% concluíram o ensino médio, 13% não são escolarizados, 11% não concluíram o ensino médio, 6,5% concluíram o ensino fundamental e o ensino superior (cada um). Grande parte das mulheres são donas-de-casa (44,8%) e os homens agricultores (82,3%). A casa de alvenaria foi o tipo de moradia mais encontrado na comunidade (95,6%). Todos os entrevistados informaram possuir energia elétrica na propriedade. Abastecimento de água para o consumo humano é obtido através de poços artesianos (75%), poços manuais (15%) e diretamente do rio (10%). Para atendimento médico a população aguarda o agendamento das datas pelo agente da saúde. Em todas as propriedades é realizada a associação entre o gás de cozinha e a lenha. A agricultura em pequena escala é a principal atividade encontrada na região, onde grande parte planta apenas para o consumo familiar (72%). A mandioca é o cultivo principal. Entre os animais que prejudicam o desenvolvimento das plantas e os cultivos, destacam-se as formigas cortadeiras. A produção de queijo, requeijão, doce de leite, rapadura de cana-de-açúcar e doces de frutas ajudam na renda das famílias. É através da Associação que os proprietários conseguem equipamentos agrícolas quando necessário. Conclui-se que é necessário o desenvolvimento de ações e de um conjunto de inovações técnicas, econômicas e sociais para evitar a migração da população local. Palavras-chave: Agricultura Familiar; Êxodo rural; Meio Rural. 26 CHAPTER 1 PROFILE SOCIAL, ECONOMIC AND CULTURAL IN RURAL COMMUNITY OF SÃO MIGUEL, VÁRZEA GRANDE, MATO GROSSO, BRAZIL ABSTRACT Families struggle greatly to live on earth and earth, walking along a passage that makes social relations, ongoing challenges. This study aimed to characterize the main socioeconomic, cultural and environmental aspects of the residents of São Miguel Community, Lowland Grande-MT. Applied a pretest to choose and evaluate techniques to be used by the local population to better adjustment to research purposes. Data collection consisted of the application of semi-structured interviews with open and closed questions, and direct observation. In total we interviewed 46 residents, 63% female and 37% male. The average age for women is 50 years, and among men 60 years. Most of the respondents were born in the state of Mato Grosso (52%). As for education, 46% had not finished elementary school, 17% completed high school, 13% are not in school, 11% have not completed high school, 6.5% completed primary school and higher education (each). Most women are stay-at-home (44.8%) and men farmers (82.3%). The brick house was the type of property most commonly found in the community (95.6%). All respondents reported having electricity on the property. Water supply for human consumption is obtained through boreholes (75%), hand-dug wells (15%) and directly from the river (10%). For medical care to the population awaits the schedule of dates for the health agent. In all properties the association between cooking gas and wood burning is performed. The small-scale farming is the main activity found in the region, where most only plant for household consumption (72%). Cassava is the main crop. Among the animals that affect the growth of plants and crops, the highlights are the ants. The production of cheese, cottage cheese, fresh milk, brown sugar cane-sugar and sweet fruits help in family income. It is through the Association that the owners can farm equipment when necessary. It is concluded that the development of actions and a set of technical innovations, economic and social is necessary to prevent the migration of the local population. Keywords: Family Farming; Rural exodus; Rural. 27 1. INTRODUÇÃO Uma população pode ser caracterizada por costumes e culturas locais, de acordo com os recursos ali ofertados, e então reconhecida e diferenciada por outras populações (AMARANTE, 2011). Os agricultores familiares são diferenciados de outras populações por conhecerem de modo especial e detalhado a terra, as plantas e os animais que são seus, e que, por esta razão, sente-se comprometido com o respeito e a preservação da natureza, possuindo “o afeto da terra” (BRANDÃO, 1999). O meio rural é um espaço em transformação, em reconstrução socioespacial e ambiental, onde a população busca novas atividades produtivas de desenvolvimento (PORTUGUEZ et al., 2012). A criação dos assentamentos transforma uma área antes homogênea em um mosaico habitado por muitas famílias. Desta forma, a implantação dos assentamentos rurais possibilita o desenvolvimento de uma agricultura de base familiar que vai além do produtivismo que orienta a agricultura, e que é capaz de desempenhar múltiplas funções sociais. A partir deste entendimento, o objeto deste trabalho foi a Comunidade São Miguel, localizada na zona rural de Várzea Grande (MT). Para conhecer melhor a dinâmica socioeconômica dessas famílias, este estudo objetivou caracterizar os principais aspectos socioeconômicos, culturais e ambientais dessa comunidade. 28 2. METODOLOGIA 2.1. Área de Estudo A pesquisa foi desenvolvida na Comunidade São Miguel, localizada na zona rural do município de Várzea Grande/MT, cujas coordenadas geográficas são 15°30’22”S e 56°26’54”W (Figura 1). O município de Várzea Grande, designada pelo Projeto Radambrasil (1982) como uma região da Depressão Cuiabana, possui extensão territorial de 949,53 km2, está localizado no Estado de Mato Grosso, fazendo limites com as cidades de Cuiabá, Acorizal, Jangada, Santo Antônio do Leverger e Nossa Senhora do Livramento. Segundo a classificação de Köppen o clima da região é caracterizado como tropical semiúmido (Aw), com precipitação pluviométrica anual de 1.350 mm. A temperatura média anual é de 26ºC. A umidade relativa do ar com a média anual em torno de 74% (VERTRAG, 2007). Solo predominantemente de argila avermelhada, principalmente na faixa marginal do Rio Cuiabá. A vegetação é composta por savana arbórea aberta (cerrado), capoeira e mata ciliar (ROMANCINI e MOURA, 2012). FIGURA 1: Localização da Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Google Earth modificado pelas autoras. 29 A Comunidade São Miguel foi criada em 12 de fevereiro de 1998 pela Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, através do Projeto de Assentamento Sadia III São Miguel. A comunidade, com 151 famílias, possui uma área total de 4.271 hectares, sendo que cada propriedade possui de 25 a 43 hectares de terra. A cada proprietário o Incra disponibilizou todo material necessário para construção das casas de 40 m2, como cimento, tijolos, telhas, pisos, entre outros. Além desse lote de terra o proprietário possui também um lote na vila de 20 x 30 metros. A construção de casa nesse espaço é por conta do proprietário. A vila é como um centro urbano, onde localizamos uma Escola Municipal, uma Igreja Católica, uma Igreja Evangélica, dois mercados, dois bares, uma borracharia e uma oficina de carro. O acesso à comunidade se dá através da BR 163, de Várzea Grande em direção à cidade de Jangada. Há meio de transporte público que dá acesso aos moradores da comunidade para aos municípios de Várzea Grande e Cuiabá, sendo o preço da passagem de R$ 16,00 5. O ônibus saí da comunidade as 7:00 h e volta as 14:00 h, de segunda a sábado. A região de estudo está distante cerca de 44 km do centro de Várzea Grande e 62 km de Cuiabá, onde podem ser encontrados hospitais com serviço de emergência. O tempo gasto para chegar a comunidadede é de, aproximadamente, uma hora e meia de carro e três de ônibus. A Escola Municipal intitulada como Advogado Osmar Milan Capile funciona em três turnos: matutino, vespertino e noturno, com ensino regular de educação infantil e ensino fundamental, além da educação de jovens e adultos - EJA. Existe transporte escolar para os moradores. 5 Valor referente ao ano de 2014. 30 Os recursos médicos são oferecidos pelo Posto de Saúde Familiar – PSF, com atendimento de sistema de consulta agendada em uma sala disponibilizada na escola local. Em casos de urgência e emergência as pessoas recorrem aos hospitais ou postos de saúde do município e das cidades vizinhas. 2.2. Proposta Metodológica Os trabalhos de campo foram realizados entre março de 2013 a abril de 2014. Inicialmente, aplicou-se um pré-teste através de entrevistas semiestruturadas com alguns dos moradores com o objetivo de adaptar as ferramentas metodológicas que foram entrevistas semiestruturadas, registro das falas e observação direta. Para Pasa et al. (2013),o pré-teste serve para escolher e avaliar as técnicas a serem utilizadas junto à população local, e ajustar aos intuitos da pesquisa. A coleta de informações consistiu na aplicação de entrevistas semiestruturadas (MINAYO, 1992) com perguntas fechadas e abertas, e observação direta, abordando a história da comunidade relatada pelos entrevistados. Essa técnica permite momentos na realidade da comunidade através da convivência com os membros do grupo e da interação em suas atividades diárias, reconhecendo o estilo de vida, ideias e motivações dos membros da pesquisa (AMOROZO e VIERTLER, 2010). O registro das falas e informações dos atores sociais que participaram da investigação foi registrado em um diário de campo, além de fotografias e gravações que permitiram ampliar a quantidade de dados coletados. Essas técnicas permitiram verificar as seguintes informações: Dados dos entrevistados a partir das informações referentes a sexo, idade, escolaridade, religião, estado civil, composição do grupo familiar, alimentação, tempo de residência e origem. Estrutura física dos domicílios a partir das informações referentes ao tipo do domicílio, saneamento (abastecimento de água e esgoto sanitário), destinação de resíduos sólidos, energia elétrica, serviço de correio e forma de comunicação com outros grupos sociais. 31 Características da saúde a partir das informações referentes às doenças mais comuns, forma de tratamento, uso de plantas medicinais, origem e repasse do conhecimento de uso de plantas medicinais, local de coleta das plantas medicinais. Perfil econômico a partir das informações referente à profissão, atividade extra, contato com meio urbano. Características da organização social referente à associação ou sindicato, eventos culturais. As entrevistas foram realizadas com uma amostra de 46 entrevistados, conduzidas na residência dos próprios entrevistados e ocorreram, com uma pessoa da família que estivesse no local e que possuia informações a respeito daquele grupo familiar independente do sexo, desde que fosse maior de 18 anos. Qualquer pessoa de uma sociedade que tenha vivência maior nos tratos da terra, segundo Amoro (1996) pode se constituir em um informante válido. Para que os entrevistados não fossem influenciados por terceiros a coleta de informação foi realizada apenas entre pesquisador e o entrevistado. Segundo Albuquerque et al. (2010), a presença de uma terceira pessoa durante a entrevista pode ocasionar alterações nas respostas dos entrevistados. Os entrevistados foram informados a respeito dos objetivos do estudo e os que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a realização da pesquisa. Portanto, quanto aos aspectos éticos o presente estudo satisfaz às diretrizes da Resolução Nº 196, de 10 de outubro de 1996, conforme a qual os participantes devem ser informados dos objetivos do trabalho, consultados sobre a disponibilidade em participar do estudo de forma voluntária e assegurado do sigilo das informações individuais. A análise dos dados foi alcançada através dos resultados obtidos na observação direta e na escuta, suscitados pelas transcrições das entrevistas, anotações de campo, fotografias e gravações. Para Minayo (1994), a pesquisa qualitativa aborda um estado de realidade que não pode ser quantificado, obedecendo ao “universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes”. 32 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Dados dos entrevistados No total foram entrevistados 46 moradores, sendo 29 mulheres e 17 homens. O fato de se encontrar mais mulheres do que homens nas entrevistas se devem ao fato que as mulheres, grande parte, são donas de casas, que se dedicam aos cuidados da casa e dos filhos. Da população entrevistada, 39% apresentam idade acima de 60 anos, demostrando o envelhecimento da população nas comunidades rurais, o que pode acarretar futuramente numa diminuição na produção agrícola. Isso aliado ao êxodo rural, principalmente de jovens que vão para a cidade estudar e trabalhar, acabam enfraquecendo a mão-de-obra familiar. No que se refere à ocupação das mulheres, o maior percentual é de donas de casa com 44,8%, já para os homens de agricultores com 82,3% (Figura 2). A maioria das mulheres se intitula exclusivamente donas de casa, mas trabalha na lavoura igualmente aos homens. Brumer (2004) analisa que a divisão do trabalho por sexo na agricultura permite que as mulheres ocupem uma posição subordinada e seu trabalho comumente surge como ‘ajuda’, até quando elas trabalham tanto quanto os homens ou executam as mesmas atividades que eles. 33 FIGURA 2: Atividades exercidas pelos entrevistados da Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. Observação: TDEE = Técnico em Desenvolvimento Educacional Especializado. Quanto à naturalidade, 52% dos entrevistados são naturais do Estado de Mato Grosso. O restante (48%) vem de outros estados como Minas Gerais (9%), Góias (9%), Bahia (6%), Rondônia (6%), Pernambuco (4%), Paraná (4%), Sergipe, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Ceará e Alagoas (2% cada um) (Figura 3). FIGURA 3: Naturalidade dos entrevistados da Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. A migração em determinadas comunidades é decorrente da precariedade das condições locais, desemprego rural, a diferença de 34 salário entre o campo e a cidade, maior infraestrutura de serviços públicos na cidade (SILVA, 2007), assim como a influência exercida pelos meios de comunicação de massa, criando as ilusões da vida dos grandes centros influenciando nos hábitos dos mais jovens. Todavia, essa migração provoca a miscigenação de trabalhadores em outras áreas, levando consigo a cultura e hábitos diferenciados. Podemos observar essa situação no trabalho realizado por Vilpoux e Oliveira (2011) no Mato Grosso Sul, que relataram a dificuldade de cooperação entre os produtores de regiões diferentes. Em relação à escolaridade, 46% dos entrevistados não concluíram o ensino fundamental e 13% não são escolarizados (Tabela 1). Conforme relato dos entrevistados sem escolaridade, quando crianças já ajudavam os pais nos afazeres do trabalho no campo, não tendo assim a oportunidade de estudar, além da dificuldade de acesso à escola há algumas décadas atrás. Para Amorozo (2002), quem se acostuma a plantar, dificilmente deixa de exercer tal atividade, até quando migra para áreas urbanizadas. TABELA 1: Nível de escolaridade por faixa etária e sexo da Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. Adultos Nível de escolaridade FA FR (%) 4 6 13 0 3 3 6,5 Ensino Fundamental Incompleto 11 10 21 46 Ensino Médio Completo 3 5 8 17 Ensino Médio Incompleto 1 4 5 11 Superior 0 3 3 6,5 Total 17 29 46 100 M F Não escolarizado 2 Ensino Fundamental Completo Legenda: M = masculino; F = feminino; FA = frequência absoluta; FR = frequência relativa. Com relação à religião, 65% dos moradores declararam serem católicos, 33% evangélicos e 2% confirmaram não ter religião. A religião 35 conforme Oliveira e Pasa (2013) está diretamente relacionada ao fato de uma população possuir ou não conhecimento do uso das plantas, uma vez que em certas doutrinas religiosas, o ato de fazer uso da medicina popular é um desrespeito. Para o estado civil, 74% são casados, 13% solteiros e viúvos. Para Freitas et al. (2012) a condição de casado pode estar relacionado com maior conhecimento sobre uso de plantas, pois o nascimento dos filhos propicia a busca de soluções imediatas para o tratamento de muitas doenças. Os aposentados somam 26% dos entrevistados. Os trabalhadores rurais tem direito a aposentadoria por idade a partir dos 60 anos para os homens e de 55 anos para as mulheres, como está regulamentado no Decreto 3048/99 (arts. 51 a 55). Todavia, deve ser cumprida a carência exigida que nesse caso é comprovada através do exercício de atividade rural no mesmo número de meses correspondente ao número de contribuições exigidas para a concessão do benefício. A prova do tempo de serviço na atividade rural conforme artigo 62 do Decreto 3048/99 trata-se entre elas da declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural, comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, bloco de notas do produtor rural, notas fiscais de entrada de mercadorias emitidas pela empresa adquirente da produção, documentos fiscais relativos à entrega de produção rural à cooperativa agrícola. Conforme relato dos entrevistados, existe uma grande dificuldade em obter a aposentadoria rural através do Ministério da Previdência Social por causa da documentação solicitada para comprovação da atividade rural, já que nem todos têm o hábito de guardar nota fiscal de mercadorias. Assim, os proprietários que almejam a aposentadoria recorrem aos serviços de um advogado. Verificou-se que 85% das famílias são compostas de 2 a 4 pessoas no núcleo familiar. O número de filhos por família variou de 2 a 8. Vale ressaltar que do total das famílias entrevistadas, 48% não possuem nenhum filho na propriedade, pois estes vão para cidade em busca de melhores condições de vida como educação, emprego, saúde. Outra 36 ressalva a ser feita, é que algumas famílias são compostas apenas por avós e netos (17%). Os avós acabam criando os seus netos, já que os pais não possuem condições de sustentar ou cuidar das crianças na cidade. O maior tempo de moradia foi de 15 a 17 anos, conforme pode ser visualizado na Figura 4. Para Fernandes (2011), a permanência da população na zona rural agrega ao local a existência de uma identidade social e cultural entre os agricultores. É na convivência que se estimula a formação das instituições informais e os contatos entre vizinhos tendem a estruturar a interação social. FIGURA 4: Tempo de moradia dos entrevistados na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. Quanto à criação de animais, tanto de pequeno quanto de grande porte, 91% dos entrevistados criam algum tipo, como cachorro (Canis lupus familiaris) - 89%, galinha (Gallus domesticus) - 74%, porco (Sus domesticus) - 48%, gato (Felis silvestris catus) - 43%, gado (Bos taurus) - 43%, cavalo (Equus caballus) - 15%, galinha d’ angola (Numida galeata meleagris) - 6%, pato (Anas platyrhynchos)- 4%, peru (Meleagris gallopavo) - 4% e periquito (Brotogeris tirica) - 2%. Vale ressaltar que neste item os entrevistados podiam citar todos os animais encontrados na propriedade. A alimentação desses animais é bem variada, predominando o uso do milho (Figura 5) que é oferecido tanto para galinhas como para os 37 porcos, cavalos, patos. Grande parte do milho que alimenta esses animais é proveniente da propriedade, onde após a colheita é armazenada em um local designado de paiol pelos moradores. A compra desse produto só acontece quando o armazenado acaba. FIGURA 5: Produtos usados na alimentação dos animais na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. Os moradores que não possuem meio de locomoção e assim, contam com a colaboração do motorista do ônibus para entrega dos insumos em sua propriedade. O proprietário realiza a compra no comércio em Várzea Grande ou na vila local, entra em contato com o motorista e avisa que tem mercadoria no “mercado tal”. O motorista passa no local informado e retira o que foi avisado. A compra é despachada através do ônibus quando o mesmo passa na frente das propriedades. Mercadorias grandes, como saco de milho de 60 kg é cobrado R$ 3,00 cada saco para levar. Na realização do plantio dos cultivos alguns proprietários levam em conta a fase da Lua, como, por exemplo, o plantio da mandioca realizado na Lua Crescente e do milho na Lua Nova, sempre relacionado ao aumento na produção, como podem ser observados nos relatos: “Mandioca planta na lua crescente, a rama cresce muito. Na nova não vinga” (RMJ, 68 anos). “Milho planta na Lua Nova, ele produz mais” (ADSL, 66 anos). 38 Para Rodrigues (1998) a influência da lua sobre a agricultura vem do aproveitamento da luminosidade lunar. Conforme o autor, as plantas que recebem mais luminosidade lunar na sua primeira fase de vida tendem a brotar rapidamente aumentando o número de folhas e flores, consequentemente possuem maior área para realizarem a fotossíntese, que resulta o aumento da produtividade. Conforme Schiedeck et al. (2007), a lua tem sido o assunto mais recorrente nas manifestações dos conhecimentos relacionados pelos agricultores familiares. Porém, Thun (2007) afirma que os efeitos dos ritmos cósmicos extrapola a simples influência lunar, englobando a influência dos planetas e constelações. Existe crença até mesmo na retirada da madeira, sendo que para alguns dos entrevistados não se deve retirar este material na Lua Nova e sim na minguante, pois nessa época a madeira é mais vulnerável ao ataque de carunchos. Na lua nova as fibras da madeira estão carregadas com muita água e se retiradas nessa época secará com os poros ainda abertos ficando assim propicio ao ataque de insetos (RIVERA, 2005). Já na lua minguante, a durabilidade do material é maior, resiste mais ao ataque de pragas, uma vez que a planta está menos concentrada de seiva, dificultando a penetração de parasitas (RAS, 2008). Ainda em relação à retirada da madeira existem aqueles que acreditam também na influencia do mês do ano, já que não realizam essa atividade no primeiro dia do mês de agosto, pois afirmam que a probabilidade de cortar a perna é maior. Tal fato talvez esteja associado à estigmatização referente ao mês de agosto considerado o mês do "cachorro louco", e em consequência, o número de acidentes no referido mês seja maior. 3.2. Estrutura física dos domicílios A casa de alvenaria foi o tipo de moradia mais encontrado na comunidade (96%), seguido da madeira e pau-a-pique (2% cada um). No estudo realizado nos sítios em São Miguel-RN, a casa de alvenaria foi o tipo mais encontrado também (FREITAS, 2009). Isso demostra que o tipo 39 de residência vem modificando nas comunidades rurais ao longo dos anos, onde as casas de madeira vem se transformando em casas de alvenaria, provavelmente, porque as pessoas acreditam que as casas de alvenaria são melhores ou mais confortáveis. As casas de madeira e pau-a-pique (Figura 6) são oriundas de um costume muito comum nas comunidades rurais, onde se partilha a propriedade quando os filhos se casam e continuam no local. Estes sem condições financeiras imediatas para construção de uma habitação de alvenaria aproveitam os recursos disponíveis no local como a madeira para construção de sua casa. FIGURA 6: Tipos de moradia encontrada na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. A: Alvenaria; B: Madeira; C: Pau-apique. Fonte: Autores. A pequena propriedade é dominante na região, sendo que a dimensão da área rural de cada família variou de 25 a 43 hectares. O tamanho das propriedades está de acordo com a Lei 11.326 de 24 de julho de 2006, que considera agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, que não detenha, a qualquer título, área maior do que quatro módulos fiscais (unidade de medida de área). Está de acordo também com a Lei 8.629 de 25 de fevereiro de 1993, inciso II do artigo 4 (quatro), onde a pequena propriedade é compreendida entre um a quatro módulos fiscais, sendo o módulo fiscal do Município de Várzea Grande de 70 hectares. Todas as 46 propriedades visitadas possuem fornecimento de energia elétrica. As correspondências referentes à conta da energia elétrica são depositadas por agente específico da companhia em uma 40 caixa de papelão no mercado local, já que o serviço de correio não atende o local. Com o programa “Luz para Todos”, o último programa de eletrificação rural ainda em vigência, até junho de 2013, 3.220.529 famílias receberam o fornecimento de energia elétrica (GÓMEZ e SILVEIRA, 2010). A inclusão da energia elétrica nas casas proporciona melhoria do bem-estar, e em comunidades tradicionais a inclusão energética vai além do conforto, devendo promover um sistema de ações propícias ao desenvolvimento local (GÓMEZ e SILVEIRA, 2010; ELS et al., 2012). No que se refere ao tipo de fogão utilizado nas residências, constatou-se que 100% das moradias utilizam uma associação entre o gás de cozinha e lenha. Quanto ao uso da vegetação, não há preferência por espécies vegetais, sendo utilizadas aquelas que mais facilmente são encontradas, geralmente as que já se encontram caídas. Do mesmo modo Barros et al. (2014), pesquisando os aspectos socioeconômicos na microbacia hidrográfica do riacho Val Paraíso – PB, verificaram que 67,6% dos entrevistados utilizam a associação de lenha e gás de cozinha como fonte de energia para cozimento dos alimentos, fato que expressa a etnocategoria combustível e a grande relavância para a etnobotânica. O abastecimento das residências é obtido através de poços artesianos (75%), poços manuais (15%) e diretamente do rio (10%). Alguns moradores utilizam caixas d’água para coletar água na época da chuva, obtendo assim mais um recurso para suprir as necessidades do cotidiano (Figura 7). 41 FIGURA 7: Sistema improvisado com caixa d’ água para coleta de água da chuva na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. Na época da seca a disponibilidade de água é escassa para aqueles que não possuem poços em sua propriedade. A dificuldade enfrentada por causa da água para os moradores locais é expressa, literalmente, por meio da fala dos entrevistados abaixo relatadas: “(...) puxo água através de bomba colocada no rio. (...) Na seca peço água para os vizinhos” (M. L. C., 44 anos). “(...) até uma semana atrás levava água no balde nas costas até em casa” (A. M. C. 35 anos). Conforme o parágrafo 1º do artigo 12 da Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 e o parágrafo único do artigo 11 da Lei Estadual nº 6.945 de 05 de novembro de 1997, os pequenos núcleos populacionais rurais não necessitam de outorga de direito de uso da água, desde que use esse bem público para suas necessidades. Verificou-se que nenhuma propriedade é atendida por rede pública de esgoto; 93% das residências pesquisadas possuem fossa negra para destinação dos dejetos e 7% eliminam os dejetos livremente. A Lei nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007, no inciso IV do Art. 49, define como um dos objetivos da Política Federal de Saneamento Básico, proporcionar condições adequadas de salubridade ambiental às populações rurais. Fica claro que as condições encontradas na comunidade estão em desacordo com a Lei. 42 Em todas as residências visitadas constatou-se que todos separam o lixo seco do molhado, principalmente porque as famílias criam pequenos animais (galinhas, gatos, patos) e acabam alimentando os animais com resto de alimentos. O lixo seco, como as garrafas pet, sacolas plásticas, papelão, papel higiênico, entre outros, é queimado. Esses tipos de materiais podem ser transformados em novos produtos e o reaproveitamento é uma alternativa para melhoria da qualidade ambiental, além de mudanças nos hábitos da população com a redução do desperdício. Os moradores revelaram que quando recebem visitas em suas casas solicitam aos amigos e/ou parentes que levem novamente para cidade os resíduos desfrutados na propriedade, como fralda descartável, latas e garrafas plásticas. Comportamento semelhante foi encontrado por Vasconcelos (2004) em um remanescente quilombola do Vale da Ribeira em São Paulo e por Freitas (2009) em uma comunidade no município de São Miguel/RN. A prática de queimar lixo é responsável pela grande poluição do ar, do solo e das águas, que podem acarretar prejuízos à saúde humana e ao meio ambiente. O rádio foi o equipamento de comunicação encontrado em todos os domicílios na região. É um elemento barato e possui maior independência da energia elétrica, pois na ausência desta pode ser alimentado por baterias automotivas. Em alguns casos é o único veículo de informação para os agricultores. Para Fagotti (2012) este meio de comunicação comporta uma proximidade maior com os ouvintes, ponderando que o locutor fala abertamente com os espectadores utilizando uma linguagem coletiva provocando sentimento de “pertencimento” em quem ouve. Apesar propriedades, o de seu ser uso o equipamento está mais enfraquecendo encontrado com o nas tempo. Provavelmente devido ao advento da energia elétrica a televisão vem roubando a cena, como pode ser observado no relato de uns dos moradores: “Antigamente, a gente chegava nas casas do vizinho de longe a gente ouvia o rádio, agora nem escuta mais” (ASM, 62 anos). 43 O sinal para telefone fixo ou móvel chega à região, necessitando da instalação de uma antena específica para receber o sinal, que foi encontrado em apenas sete residências. Por causa dessa restrição existe uma grande colaboração entre os moradores que contam com aqueles que possuem linhas telefônicas para receber recados dos familiares e fazer ligações quando necessário. 3.3. Características da saúde Dos entrevistados, 83% utilizam água do poço para beber, 10% água do rio e 7% compram água mineral. De acordo com o relato dos entrevistados, o principal tratamento empregado na água de beber é adição de hipoclorito de sódio e filtragem da água em filtros domésticos doados pelo Incra. Esses resultados são semelhantes aos encontrados por Barros et al. (2013), onde 80% dos agricultores de Cajazeiras-PB utilizam algum tipo de tratamento na água de beber. Segundo Tavares (2009), o tratamento da água empregada pela família é essencial, uma vez que o emprego de água sem tratamento prévio promove a veiculação de doenças contagiosas transportadas por via hídrica. Para atendimento médico a população aguarda o agendamento das datas pelo agente da saúde que passa pelas residências avisando, mas em caso de doenças mais graves procuram atendimento no hospital do Município ou na cidade vizinha como Cuiabá. As doenças mais simples são tratadas na própria comunidade utilizando plantas consideradas medicinais encontradas na região através de seus conhecimentos tradicionais que incorporado às influências culturais servem para tratar de enfermidades (SOUZA e PASA, 2013). Assim, a relação entre as doenças mais comuns e as espécies vegetais indicadas para o tratamento destas doenças (Tabela 2) indica a importância dos recursos vegetais para a sobrevivência dos moradores na região que não possui condições financeiras para tratar da saúde. 44 TABELA 2: Doenças mais comuns e a porcentagem de espécies vegetais indicadas para o tratamento pelos moradores da Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Doenças Porcentagem de espécies vegetais indicadas para o tratamento (%) Gripe, bronquite, pneumonia, tosse. 22,0 Azia, males do estômago, verminoses. 21,0 Pressão alterada, hemorroida, anemia. 14,0 Febre, infecção, antibiótico. 10,5 Dor de cabeça, estresse, nervosismo 8,5 Ferida, machucados, micoses. 7,0 Cólica menstrual, corrimento. 6,5 Conjuntivite, dengue, viroses. 6,0 Males dos rins, bexiga e cistite. 4,5 Fonte: Autores. Esta relação com os recursos vegetais tem garantido que o conhecimento das propriedades medicinas encontradas nas plantas, assim como sua forma de coleta, preparo e uso, sejam repassados dos pais para os filhos ao longo das gerações, constituindo vínculo entre os moradores e os recursos florestais disponíveis na região. Fato constatado através das entrevistas com os moradores, onde 34% informaram ter aprendido a usar as plantas como remédio com os vizinhos, 28% com os pais, 20% alegam ter apreendido com a mãe e18% com as avós. O conhecimento e o uso a respeito das plantas medicinais são maiores entre as pessoas idosas. Para De David e Pasa (2013) esse fato evidencia forte relação cultural de uso da medicina popular na comunidade. Segundo Medeiros et al. (2004), os meios de comunicação atuais ocasionam a perda dessa transmissão verbal dos conhecimentos sobre os usos das plantas. 45 3.4. Perfil econômico A forma de atividade importante para a reprodução do modo de vida das famílias encontradas na região é a agricultura de pequena escala ou podemos designar também agricultura de subsistência. Entre os entrevistados, o número mínimo de explorações agrícolas é de dois (mandioca e cana-de-açúcar) e o máximo 14 (feijão de corda, feijão andu, milho, mandioca, banana, mamão, quiabo, abacaxi, limão galego, limão rosa, batata doce, coentro, açafrão e cana-de-açúcar). A diversidade de cultivos nas propriedades rurais proporciona ao pequeno produtor a diversificação da produção e geração de outras fontes de alimento e renda (FEITOSA et al., 2011). Entre os produtos cultivados, a mandioca constitui o cultivo principal (Tabela 3) caracterizado por ser sem fins lucrativos. Dados semelhantes foram encontrados por Pasa (2007), quanto ao cultivo da mandioca, em pesquisa de estudo etnobotânico na Comunidade de Conceição-Açu no município de Cuiabá (MT). TABELA 3: Espécies cultivadas na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Cultivos Frequência (%) Mandioca 67,0 Milho 43,5 Banana 43,5 Cana-de-açúcar 35,0 Abobora 35,0 Mamão 24,0 Quiabo 19,5 Limão galego 19,5 Abacaxi 17,5 Feijão de corda 17,5 Cebolinha 15,0 Alface 11,0 Couve 11,0 Laranja 11,0 Limão rosa 9,0 Pimenta malagueta 9,0 Fonte: Autores. 46 Foi registrado ainda que o cultivo de pomares em quintais complementam os recursos necessários para a sobrevivência destacando cajus, mangas, limões, goiabas. Da produção agrícola e pomares 72% são apenas para o consumo familiar (Figura 8) e 13%, além do próprio consumo, também vendem para cooperativa e/ou para cidades vizinhas e/ou para vila da comunidade. Aqueles que não cultivam nada em sua propriedade (15%) informam ser devido à dificuldade de acesso a água, já que nem todos tem poço na propriedade. Silva et al. (2014) estudando o perfil socioeconômico dos agricultores nas unidades produtivas da comunidade Moura no município de Bananeiras (PB) verificaram também que a maior parte da produção (67%) é destinada ao consumo alimentar da família. FIGURA 8: Destino dado à produção agrícola familiar na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. Outra observação interessante a ser feita é a de solidariedade entre os moradores, onde mesmo os proprietários que plantam com a finalidade de obter renda, compartilham com os amigos os alimentos produzidos e dificilmente estes saem da propriedade de mãos vazias. Entre os animais que prejudicam o desenvolvimento das plantas e os cultivos, os proprietários citaram a formiga cortadeira (Atta spp.), cigarrinha (Deois flavopicta), lagarta (Anticarsiasp.), cupim (Coptotermes sp.), grilo (Gryllus assimilis), pulgão (Metopolophium dirhodum), besouro (Oryctes sp.), galinha (Gallus domesticus), porco (Gallus domesticus), gado (Bos taurus), rato (Rattus sp.), capivara 47 (Hydrochoerus hydrochoeris), tucano (Ramphastos toco), periquito (Brotogeris tirica) e veado (Cervus elaphus). Apenas duas propriedades participam da Produção Agroecológica Integrada e Sustentável – PAIS, onde receberam curso de capacitação pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae. Todo o projeto é montado em forma de um círculo em um terreno plano, próximo a um lençol d’água, energia, irrigação e animais. O galinheiro fica no centro, ao redor fica a horta, ao lado ficam a caixa d’água e o quintal agroecológico (Figura 9). FIGURA 9: Modelo da Tecnologia Social PAIS na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. A tecnologia social PAIS dispensa o uso de qualquer ação que possa prejudicar o meio ambiente, como por exemplo, o emprego de agrotóxicos, queimadas e desmatamentos. O projeto realiza o agrupamento da criação de animais com a produção vegetal e também aproveita insumos da propriedade (folhas, excremento de animais) em todo o processo produtivo (PAIS, 2009). Conforme relatos dos proprietários até o momento não perceberam o benefício dessa tecnologia quando se trata no aumento da produção e na renda. Nota-se ser um sistema bem diversificado de cultivos, onde se encontra cebolinha, coentro, alface, berinjela, quiabo, entre outros, muito próximos em um único ambiente, utilizados como tempero na culinária local. 48 A produção e o consumo de alimentos orgânicos originam valores expressivos para a economia brasileira e para a saúde da população, oferecendo uma forma de sustentabilidade social e econômica da agricultura familiar (COELHO, 2001). As diversas formas de estimulo na Agricultura Familiar são essenciais para manter as populações no campo e diminuir a evasão para as cidades. Para Costa (1997), o papel do Estado de instigar a noção de responsabilidade socioambiental na população rural é essencial, pois garante o funcionamento de um sistema de crédito agrícola, especialmente em sistemas que favoreçam o “Uso Sustentável” mediante as chamadas “Agriculturas de Base Ecológica”. Verificou-se que nenhum dos proprietários entrevistados possui posse de máquinas agrícolas para o trabalho na lavoura, quando necessário contratam o serviço dos equipamentos disponíveis na associação. Quanto ao processo de agregação de valor através do processamento de matéria prima na propriedade, este ocorre especialmente por meio da transformação do leite na produção de queijos, requeijão, doce de leite; beneficiamento da rapadura de cana-deaçúcar (Figura 10) e doces de frutas que variam conforme a época. Além da venda da carne dos animais criados nas propriedades como galinha, porco, gado, galinha d’angola, peru e pato. 49 FIGURA 10: Moenda utilizada para moer cana-de-açúcar. Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. Através da confecção de tapetes de crochê, colchas de retalhos, arranjos florais, bordado, biojóias, as donas de casa obtém uma renda extra para complementar o sustento da família. Um percentual de 24% delas informaram fazer o artesanato para uso próprio, sendo que realizam a venda sobre encomenda. A produção local abastece as necessidades do grupo familiar com reduzido excedente que pode ser comercializado. Assim, o lucro adquirido com esta comercialização é utilizado para compra de outros produtos nos mercados locais como arroz, feijão, café, facão, entre outros. Outra forma de comércio existente é a relação da troca do serviço pelo bem material. Alguns proprietários alugam o pasto em troca de dinheiro ou serviço na própria propriedade como, por exemplo, a capina do terreno. 3.5. Características da organização social A comunidade possui uma Associação da Comunidade São Miguel, havendo, portanto, expressão política ou outra forma de organização que represente os interesses comuns dos moradores da região. Para Silva (2007) o vínculo com o lugar motiva a comunidade para 50 a luta social, a fim de, defender seu modo de vida, e proporcionar melhoria das condições socioeconômicas e ambientais nas propriedades rurais. A Associação possui equipamentos agrícolas que são alugados para os proprietários quando necessário. Através também da Associação as famílias que não possuem meio de locomoção tem acesso ao ônibus para ir ao centro do município e à Cuiabá. Uma das formas de diversão encontrada na comunidade é a cavalgada (Figura 11) que acontece todo mês de junho com duração de quatro horas, tendo iniciado no ano de 2006 por um morador da comunidade, que trouxe o costume de Minas Gerais com o simples intuito de juntar cavalos. FIGURA 11: Percurso da Cavalgada na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. Esse evento conta com ajuda dos comerciantes locais e do município, onde fornece gratuitamente aos cavaleiros a inscrição, camisa, água e alojamento, além do apoio da polícia e da fiscalização do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso - Indea. Os cavaleiros que participam do evento deslocam-se do próprio município e dos municípios vizinhos como Jangada, Livramento e Poconé. Participam do evento, cavaleiros com idade entre sete e 70 anos conforme relatado pelo coordenador do evento (WFM, 44 anos). 51 Para ele a cavalgada é uma forma das pessoas fugirem da cidade e terem mais contato com a natureza. 52 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatou-se que os moradores da comunidade rural São Miguel-MT apresentam baixa escolaridade, onde vários não tiveram oportunidade de estudar já que iam para lida no campo desde muito cedo para ajudar os pais. Apesar do ambiente escolar ter sido reduzido, o processo de aprendizagem no campo é riquíssimo, pois aprendem na lavoura, no cuidado com os animais e até no contato com a natureza. A agricultura de subsistência é a atividade fundamental encontrada na região e a mandioca é o cultivo principal. Esse cultivo é rico em nutrientes, sendo consumida como farinha, amido ou cozido (in natura), usada tanto na alimentação humana e animal, sendo a base da alimentação de muitas famílias. Os morados tratam as doenças mais simples através de plantas medicinais encontradas na região por meio de seus conhecimentos adquiridos com seus pais ou avós. Observou-se que a comunidade não é atendida pelos serviços de coleta de lixo e nem de esgoto, ficando claro o descaso do município já que não está oferecendo condições apropriadas de salubridade ambiental às populações rurais. Verificou-se que população local encontra-se vulnerável em relação aos aspectos socioeconômicos, devido à migração dos jovens em busca de novas oportunidades de trabalho e estudo, resultando no êxodo rural. Essa migração é evidente quando observado que 48% das famílias entrevistadas não possuem nenhum filho na propriedade, ficando apenas o casal responsável pela produtividade da propriedade. É necessário o desenvolvimento de ações, como implantação de postos de saúde, acompanhamento das gestantes durante o pré-natal, inclusão do ensino médio em período diurno para melhorar a qualidade de vida da população local. Além da implantação de inovações técnicas e econômicas adaptadas às condições locais, como, por exemplo, o estímulo à coleta de produtos florestais não madeireiros (resina, cipó, óleo, sementes, frutos, flores, plantas ornamentais, plantas medicinais). 53 Essa é uma possível alternativa para equilibrar a conservação da biodiversidade com a geração de renda local. 54 5. 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No total foram entrevistados 46 moradores. Em geral, 80% dos quintais localizam-se no entorno das residências; apresentam, em média, um hectare e as mulheres são na maioria responsáveis pelo manejo do local (43%). A criação de animais domésticos foi encontrada em 90% dos quintais. Foram citadas 207 espécies ocorrentes nos quintais, onde as principais famílias botânicas foram Asteraceae, Fabaceae e Lauraceae. O uso medicinal foi a etnocategoria mais representativa. A planta que representou muito bem o valor de uso das plantas locais (Vusp= 3,00) foi Solanum gilo Raddi. As espécies Plectranthus barbatus Andrews, Gossypium barbadense L. e Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze apresentaram concordância quanto aos usos principais (Pcusp) acima de 50%. Para Pcusp acima de 25%, são referidos 19 casos para problemas digestivo e respiratório (61,5% cada). Não foram mencionadas dosagens específicas para os remédios caseiros. O modo de preparo prevalecente foi o chá, obtido por decocção (45%). A parte da planta mais empregada foi a folha (55,7%). A agricultura em pequena escala é a principal atividade encontrada na região, onde grande parte planta apenas para o consumo familiar (72%) e utilizam excrementos de animais domésticos como adubo. A mandioca é o cultivo principal. Nas matas de galeriasforam identificadas 68 espécies vegetais. A maioria das espécies (48%) citadas apresenta hábito arbóreo. A planta que representou muito bem o valor de uso (Vusp > 1,50) nesta paisagem foi Myracroduon urundeuva Allemão. Dos entrevistados, 52% informaram nunca ter extraído produto da mata. Entre os produtos que foram retirados destaca-se a madeira para construção (50%) e sementes para produção de mudas (17%). As unidades de paisagem oferecem meios diversificados para sobrevivência das famílias rurais, portanto são espaços que merecem ser estudados. Palavras-chave: Cerrado; Etnocategorias de uso; Mata de galeria; Quintal; Roça. 60 CHAPTER 2 UNITS OF RURAL COMMUNITY LANDSCAPE IN SÃO MIGUEL, VÁRZEA GRANDE, MATO GROSSO, BRAZIL ABSTRACT This study aimed to catalog, organize and analyze the ethnobotanical knowledge that rural residents of San Miguel community have about the local flora. Data collection consisted of the application of semi-structured interviews, direct observation, record the interviews and photographs. For each species we calculated the Use Value (UV) and to determine the most important plants on the purpose we calculated the Informant Consensus through the Loyalty Level. In total we interviewed 46 residents. Overall, 80% of gardens are located in the vicinity of residences; have, on average, one hectare and women are mostly responsible for local management (43%). The breeding of domestic animals was found in 90% of yards. 207 species occurring were cited in backyards, where the main botanical families were Asteraceae, Fabaceae and Lauraceae. The medicinal use was the most representative ethnocategory. The plant represented very well the value in use of local plants (Vusp = 3.00) was Solanum gilo Raddi. The species Plectranthus barbatus Andrews, Gossypium barbadense L. and Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze showed agreement regarding the main uses (Pcusp) above 50%. For Pcusp above 25%, 19 cases are referred to digestive and respiratory problems (61.5% each). Specific dosages for home remedies were not mentioned. The prevailing method of preparation was the tea, obtained by decoction (45%). The part of the sheet plant was used (55.7%). The small-scale farming is the main activity found in the region, where most only plant for household consumption (72%) and use pet droppings as fertilizer. Cassava is the main crop. In the woods galleries were identified 68 plant species. Most species (48%) cited presents woody. The plant represented very well the use value (Vusp> 1.50) in this landscape was Myracroduon urundeuva Allemão. Of the respondents, 52% reported ever having product extracted from the forest. Among the products that were removed there is the timber (50%) and seeds for seedlings (17%). Landscape units offer diversified means for survival of rural families, so are spaces that deserve to be studied. Keywords: Cerrado; Etnocategories use; Gallery forest; yard; Fields. 61 1. INTRODUÇÃO As populações locais possuem um conhecimento acumulado sobre os espaços que ocupam que pode ser transmitido ao longo das gerações. Novas informações são adicionadas aos conhecimentos locais gradativamente e está passível às mudanças em resposta a inovações, experiências e pressões ambientais externas (ARAUJO, 2007). A procedência do saber popular está na observação constante e metódica dos fenômenos e das características da natureza, e na experimentação desses recursos, o que explica a importância que as etnocategorias de usos das plantas assumem nos resultados das investigações etnobotânicas de uma região ou mesmo de uma sociedade (ALBUQUERQUE E ANDRADE, 2002b). A etnobotânica surge como o campo interdisciplinar que envolve o estudo e a explicação do conhecimento que o ser humano possui da significação cultural, manejo e usos tradicionais dos elementos da flora (CABALLERO, 1979). Esta ciência visa à busca de conhecimento e o resgate do saber botânico tradicional, relacionado ao uso dos recursos da flora (PASA, 2011). É preciso que haja cada vez mais a realização de trabalhos que busquem recuperar o conhecimento tradicional, havendo dessa forma grandes chances de transmiti-lo. Portanto, o presente estudo objetivou catalogar, sistematizar e analisar, o conhecimento etnobotânico que os moradores rurais da comunidade de São Miguel possuem a respeito da flora local. 62 2. METODOLOGIA 2.1. Área de Estudo A Comunidade São Miguel está localizada na zona rural do município de Várzea Grande-MT, sob coordenada geográfica 15°30’22”S e 56°26’54”W (Figura 1). Segundo a classificação de Köppen o clima da região é caracterizado como tropical semiúmido (Aw), com precipitação pluviométrica anual de 1.350 mm. A temperatura média anual é de 26ºC. A umidade relativa do ar com a média anual em torno de 74% (VERTRAG, 2007). Solo predominantemente de argila avermelhada, principalmente na faixa marginal do Rio Cuiabá e vegetação composta por savana arbórea aberta (cerrado), capoeira e mata ciliar (ROMANCINI e MOURA, 2012). FIGURA 1: Localização da Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Google Earth modificado pelas autoras. 2.2. Proposta Metodológica Os dados foram coletados entre março de 2013 a abril de 2014. Primeiramente, aplicou-se um pré-teste através de entrevistas semiestruturadas com alguns dos moradores. Segundo Pasa et al. (2013), 63 o pré-teste serve para escolher e avaliar as técnicas a serem utilizadas junto à população local, e ajustar aos intuitos da pesquisa. As entrevistas foram realizadas com 46 moradores, realizadas nas residências dos próprios entrevistados e ocorreram, com uma pessoa da família que estivesse no local, maior de idade e que possuia informações a respeito daquele grupo familiar independente do sexo. A determinação da quantidade de entrevistados se deu a partir da curva de acumulação de espécies de Colwell e Coddington (1994), demostrando o tamanho ótimo de espécies. Contou-se com a ajuda de uma informante para promover o contato com os moradores por ser alguém de confiança e por participar ativamente na comunidade. Para que os dados das entrevistas não fossem influenciados por terceiros a coleta de informação foi realizada apenas entre pesquisador e o entrevistado. Para Albuquerque et al. (2010), uma terceira pessoa durante a entrevista pode gerar alterações nas respostas dos entrevistados. Para cada entrevistado foi esclarecido os objetivos do estudo e os moradores que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a realização da pesquisa. Este termo permite que a pessoa que está sendo convidada a participar da pesquisa entenda os procedimentos, riscos, desconfortos, benefícios e direitos envolvidos. Para Clotet (1995) o termo é uma obrigação moral do pesquisador, é a revelação do respeito às pessoas envolvidas no projeto. Para a coleta das informações foram utilizados os seguintes instrumentos e ferramentas: Entrevistas semiestruturadas utilizando formulários: com perguntas fechadas e abertas. Procurou-se caracterizar a unidade familiar, participação nos trabalhos, manejo dos cultivos, comercialização, e aspectos relacionados com a manutenção e conservação das unidades de paisagem (Quintais, Roças e Matas de Galeria). Observação direta: Nesta etapa buscou-se observar a rotina da família nas diversas atividades desenvolvidas por eles. Essa técnica 64 permite lidar com as falas dos entrevistados ressaltando o papel do entrevistado e do pesquisador. Diário de campo: registro das informações relacionadas à pesquisa durante o desenvolvimento do trabalho em campo, bem como falas e informações dos atores sociais que participaram da investigação. Registro fotográfico: as fotografias permitiram ampliar a quantidade de dados coletados e a obtenção de dados relacionados ao ambiente, nas diferentes unidades de paisagem, bem como eternizar os momentos vivenciados junto aos moradores. Levantamento etnobotânico: realização de caminhadas com os entrevistados dentro da propriedade e/ou em seus arredores para observação dos vegetais, que são usados pelas pessoas locais nas diferentes unidades de paisagem informadas. Plantas: todos os itens pertinentes às plantas citadas foram anotados, como: origem, habitat, utilidade, aplicabilidade, dosagem, modo de preparo, parte utilizada. As plantas citadas pelos entrevistados foram identificadas no local da entrevista de acordo com o conhecimento dos entrevistados. As coletas de amostras vegetais das espécies (em fases reprodutiva e vegetativa) foram realizadas durante as caminhadas para montagem de exsicatas. As exsicatas do material botânico foram identificadas por especialistas do Herbário Central da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), onde se encontram catalogadas e depositadas. A grafia dos binômios científicos foi conferida em revisões taxonômicas recentes e/ou utilizando a base de dados Trópicos, versão online, acessível pelo sítio http://www.tropicos.org. 2.3. Sistematização e análise dos dados Primeiramente, elaborou-se um banco de dados com as informações obtidas nos questionários. Para a análise dos mesmos, utilizou-se o programa Microsoft Office Excel® 2010, sendo realizada a estatística descritiva a partir da codificação por tabulação simples, distribuição de porcentagens, tabelas e figuras. 65 As etnocategorias de uso foram representadas de forma literal, ou seja, como foram referidos pelos entrevistados: Uso medicinal (Me): espécies utilizadas pelos moradores para fins medicinais como “remédios caseiros”; Uso alimentar (Al): espécies usadas pelos moradores como alimento; Uso ornamental (Or): espécies destinadas à ornamentação, embelezamento dos quintais; Outras (Ot): inclui espécies empregadas pelos moradores para diversos fins, como artesanato, condimento, sombreamento, madeira, místico-religioso, inseticida, repelente, higiene e proteção contra o vento. Os vegetais foram genericamente divididos nos hábitos: arbóreo (AV); arbustivo (AB); subarbustivo (SA.); herbáceo (HB), palmeira (PAL), epífita (EPI) e trepador (TR). A origem foi dividida em nativa (N); cultivada (C) e espontânea (E). Para cada espécie foi calculado o Valor de Uso (UVs), entrevistando-se uma única vez cada morador, conforme referido por Phillips e Gentry (1993): a. O valor de uso de cada espécie (sp) por informante (i), dado como: Onde, Uspi é o número de usos mencionados por informante i por espécie sp em cada evento, e nspi é o número de eventos (quantidade de encontros) com o informante i por espécie sp b. O valor de uso global de cada espécie (VUsp), dado como: Onde, ns é o numero de informantes entrevistados por espécie. 66 Para determinar as plantas mais importantes quanto à finalidade foi calculado o Consenso Informante por meio do Nível de Fidelidade que vem expresso através do Pcusp. O Nível de Fidelidade (NF) é utilizado para estimar a importância de cada espécie para uma finalidade particular. O NF igual a 100% demostra que existe uma consistência cultural quanto ao uso da espécie na comunidade em estudo (AMARAL; GUARIM NETO 2008). Através do consenso informante é possível avaliar a importância de cada planta, calculada diretamente sobre o grau de consenso das respostas dos entrevistados (FRIEDMAN, 1986), permitindo definir a frequência relativa de Concordância de Usos principais (Pcusp). Através desses valores é provável detectar as espécies vegetais extraídas mais utilizadas e importantes para comunidade, verificando qual espécie pode estar ameaçada quanto ao seu uso pela comunidade. Os índices foram calculados de acordo com Friedman (1986), adaptado por Pasa (2011), conforme a seguir: Onde, NF é o nível de fidelidade; Fsp é a Frequência absoluta dos informantes que citaram a espécie; Fid é a Frequência absoluta dos informantes que citaram os usos principais. Faz necessário a utilização do Fator de Correção (FC), devido ocorrer diferenças no número de informantes que citaram usos para cada espécie, conforme a fórmula abaixo: Onde, FC é fator de correção; Fsp é o número total de informantes que citaram a planta para algum uso; IME é o número de informantes que citaram a espécie mais citada. 67 A frequência relativa de Concordância quanto aos Usos Principais (Pcusp) foi calculada conforme a seguir: 68 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Características dos entrevistados Dos 46 entrevistados, a maior representação foi do sexo feminino (63%), com média de idade de 50 anos. A maior quantidade de mulheres na zona rural sugere uma maior participação destas nas atividades agrícolas, segundo o verificado por Lucena et al. (2012) ao pesquisarem em uma comunidade rural no nordeste brasileiro. A maior parte dos entrevistados declarou ter o ensino fundamental incompleto (46%). Esse resultado se deve ao fato de quando eram crianças ajudavam a família nas atividades agrícolas. Grande parte dos entrevistados neste estudo é natural do estado de Mato Grosso (52%) e é possível perceber a influência de sua origem nas atividades produtivas desenvolvidas por suas famílias, já que a agricultura é a segunda principal atividade do estado de Mato Grosso. Verificou-se que 54,3% dos entrevistados vivem na comunidade há mais de 16 anos, são casados (74%) e católicos (65%), conforme exemplificado na Tabela 1. TABELA 1: Características sociodemográficas da Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. CARACTERÍSTICAS CATEGORIAS Sexo Feminino Masculino Faixa etária (anos) 20-39 anos 40-59 anos 60-79 anos >80 anos Naturalidade Mato Grosso Outros estados Tempo de moradia 3-5 anos 6-8 anos 9-11 anos FA 29 17 7 19 18 2 24 22 2 4 8 FR (%) 63,0 37,0 15,2 41,3 39,1 4,4 52,0 48,0 4,3 9,0 17,4 Continuação... 69 Continuação... CARACTERÍSTICAS CATEGORIAS Tempo de moradia 12-14 anos 15-17 anos Escolaridade Sem estudo Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental completo Ensino médio incompleto Ensino médio completo Ensino superior incompleto Ensino superior completo Profissão Agricultor (a) Cozinheiro (a) Do lar Outros Grupos religiosos Católico Evangélico Sem religião Estado civil Casados Viúvos Solteiros Números de filhos 0 filhos 1-5 filhos 6-10 filhos FA 7 25 6 21 3 5 8 0 3 24 2 13 7 30 14 2 34 6 6 26 19 1 FR (%) 15,0 54,3 13,0 46,0 6,5 11,0 17,0 0,0 6,5 52,2 4,3 28,3 15,2 65,2 30,4 4,4 74,0 13,0 13,0 56,5 41,3 2,20 Legenda: FA: Frequência Absoluta; FR: Frequência Relativa. Fonte: Autores. filhos 3.2. As Unidades de Paisagem Com o intuito de demostrar graficamente que a utilização de 46 entrevistados foi uma amostra suficientemente representativa, a curva de acumulação de espécies (COLWELL e CODDINGTON, 1994) apresentase na sequência (Figura 2). A curva de acumulação permite avaliar o quanto um estudo se aproxima de capturar todas as espécies do local, sendo que em cada nova entrevista decresce o número de espécies novas. 70 FIGURA 2: Curva de acumulação de espécies representando a quantidade de espécies citadas em função do número de entrevistas realizadas na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. Observa-se que já na 6° entrevista, mais de 50% das espécies citadas nesse estudo, tinham sido representadas. Percebe-se a partir da entrevista n° 30 inclinação mínima na curva, demostrando o acréscimo de poucas espécies e aquelas que foram adicionadas são, em sua maioria, espécies raras, ou seja, que foram citadas uma única vez por determinado entrevistado. Das unidades de paisagem abordadas no presente estudo, o “quintal” está presente em todas as propriedades, em diferentes localizações, com diversas espécies cultivadas e algumas hortas domésticas para o próprio consumo da família. A roça é outra unidade de paisagem identificada neste estudo, presente em 46% das residências. Por último, e não menos importante as matas de galeria assim designadas como as áreas de preservação permanente (APP) no entorno dos rios Espinheiro e Cascavel presentes na comunidade. 3.2.1 Quintais Em geral, 80% dos quintais da Comunidade São Miguel localizam-se no entorno das residências, fazendo divisa com a roça e/ou 71 mata de galeria. O quintal agroflorestal é uma unidade de paisagem conceituada como uma área de produção posicionada perto da casa, onde são cultivadas espécies agrícolas e florestais, além da criação de pequenos animais domésticos (NAIR, 1993; BRITO e COELHO, 2001), com manejos concebidos e executados de maneira harmoniosa (KUMAR e NAIR, 2004). Pasa et al. (2005) afirma que o quintal é um sistema de produção secundário a outros tipos de uso da terra, como a lavoura ou a pecuária, que fornece uma renda extra para família e oferece uma fonte de recursos alimentícios e medicinais. Os quintais agroflorestais estudados possuem, em média, o tamanho de um hectare conforme declarado pelos entrevistados. Na comunidade rural Rio da Areia, Rondon Neto et al. (2010) encontraram quintais com área média de 250 m2. As diferenças culturais de cada morador podem influenciar nessas diferenças de tamanho, já que cada ser carrega o modo de cultivar de suas origens. As plantas remanescentes (que já existiam no local antes dos moradores entrarem na terra) da vegetação natural que são encontradas especialmente nos quintais, conforme os moradores são: cumbaru (Dipteryx alata Vogel), jatobá-do-cerrado (Hymenaea courbarilL), aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão), angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan), bocaíuva (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex. Mart.), quina (Strychnos pseudoquina A. St.-Hil.) e capitão do campo (Terminalia argentea Mart.). Existem espécies que crescem espontaneamente conforme os entrevistados, além das citadas acima, como o gervão (Stachytarpheta angustifolia (Mill.) Vahl), mentrasto (Ageratum conyzoidesL.), erva de santa maria (Chenopodium ambrosioides L.), vassorinha (Scoparia dulcis L.), assa-peixe (Vernonia ferruginea Less) e embaúba (Cecropia sp.). Essas plantas, por muitas pessoas, são consideradas pragas e para outros excelentes remédios caseiros disponíveis a poucos metros de casa. Neste caso são conservadas, pois proporcionam algum tipo de utilidade para o proprietário (PINHO et al., 2008). A forma de dispersão das sementes dessas espécies é diversa, anemocórica (dispersão pelo 72 vento) ou zoocórica (dispersão por animais como pássaros) (ALMEIDA et al., 2008). As árvores frutíferas encontradas nos quintais foram introduzidas pelos próprios moradores através do consumo das frutas que proporcionaram as sementes para realização das mudas. De acordo com Kabashima et al. (2009) as espécies de plantas mais encontradas na maioria dos quintais brasileiros são frutíferas comuns como goiaba (Psidium guajava L.), manga (Mangifera indica L.), abacate (Persea americana Mill.) e jaboticaba (Myrciaria sp.). Para os entrevistados, plantar no quintal é uma maneira prática de associar alimentação com bem estar, sombra, remédio, lazer, material para construção, embelezamento, além de outros benefícios como fertilização do solo, proteção contra ventos fortes e erosão, oxigenação do ambiente, alimentação e abrigo para fauna, e renda extra. Além de ser um ambiente destinado às atividades do dia-a-dia como cozinhar, lavar roupa, louças, desbulhar milho, entre outras. Para Pasa e Avila (2010) os quintais são locais que as pessoas utilizam como meio cultural, para confraternização familiar e reunião com os vizinhos. A importância desse espaço fica evidente nos depoimentos dos moradores: “(...) meu quintal é meu sustento” (EGM, 32 anos); “(...) as plantas no quintal embeleza a casa, ajuda na renda, dá mais vida na casa” (EFNM, 43 anos); “ (...) gosto do quintal, eu pra mim tem que ter o quintal, pois evito de comprar, uso pra comer e tratar da criação. Se eu morar e não tiver, pra mim não tá servindo” (CVP, 62 anos); O manejo empregado aos quintais é uma atividade realizada principalmente pelas mulheres (43%), apesar da cooperação de todos os membros da família, conforme Figura 3. Quanto aos serviços de mão-deobra, 9% dos entrevistados pagam uma pessoa para fazer a manutenção do quintal, já que não dispõem de tempo para este serviço. De acordo com Costantin (2005), os quintais são considerados, por muitas mulheres como uma extensão do serviço doméstico. Para House e Ochoa (1998), a mulher tem uma percepção multidimensional, buscando ampliar a biodiversidade de seu quintal, enquanto o homem possui um ponto de 73 vista unidimensional, empenhando-se em melhorar o rendimento de algumas espécies em particular. FIGURA 3: Frequência relativa dos entrevistados quanto ao manejo dos quintais na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. O tempo dedicado para tratar do quintal é em média de uma a duas horas por dia, todavia há aqueles que preferem realizar a limpeza em apenas um dia na semana. Os entrevistados relataram que a época do ano que mais tem trabalho com o quintal é no período das chuvas (67%) e para outros se trata da seca (33%). Em algumas residências verificou-se que a limpeza dos quintais era relevante, entretanto em outras podemos observar restos de folhas, flores, cascas de frutos, palhas de milho e bagaço de cana. Para esses moradores, esses materiais protegem o solo e aumentam os nutrientes para as plantas. Oliveira e Pasa (2013) encontraram dados semelhantes na Comunidade de Santo Antônio do Caramujo, onde os entrevistados informaram que esses restos (folhas, frutos, palhas) são importantes para cobrir o solo colaborando para a produção de biomassa e o retorno da matéria orgânica ao solo, bem como assegurar a umidade. As folhas provenientes da manutenção dos quintais são utilizadas pela maioria dos moradores para fazer adubo, outros alegaram 74 queimar e tem aqueles que preferem deixar no “pé da árvore”, jogar no pasto ou na mata, colocar tudo em um buraco, amontoar em um canto, e até mesmo aqueles que usam para nivelar o terreno. Na preparação do adubo, cada proprietário tem um jeito de fazer com elementos específicos encontrados no próprio terreno como podemos observar no relato de um entrevistado: “Faço o adubo foliar que mistura 500 g de cinza das folhas em 100 litros de água, bosta de vaca curtida por 30 dias. Mistura tudo isso e planta. Tem também a que usa urina de vaca curtida por 15 dias, que é só coloca no vão que tá a planta” (EGM, 32 anos). A urina da vaca é recolhida com um balde comum na hora da retirada do leite, onde geralmente a vaca conforme relato do entrevistado. O sistema de plantio utilizado no quintal é bastante diversificado, encontramos plantas diretamente no solo, através de covas e/ou canteiros, em vasos de latas, garrafas plásticas, máquina de lavar, canteiros elevados de madeira com recipientes variados, e até em caules de árvores (Figura 4). Chagas et al. (2014) verificaram que na Comunidade São Francisco, Iranduba, AM, os diversos recipientes usados no plantio, como vasos plásticos, latas e/ou canoas velhas, são utilizados para as plantas empregadas na alimentação e na cura de doenças. FIGURA 4: Recipientes utilizados para plantio nos quintais na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. A: Coco; B: Parte do estipe de buriti; C: Garrafa pet; D: Tronco de árvore. Fonte: Autores. 75 Ao abordar os aspectos etnobiológicos locais, a criação de animais domésticos foi encontrada em 90% dos quintais. Estes são para consumo ou apenas de estimação, como cachorro (Canis lupus familiaris) – 89%, galinha (Gallus domesticus) – 74%, gato (Felis silvestris catus) – 43%, galinha-d’angola (Numida galeata meleagris) – 6%, peru (Meleagris gallopavo) – 4%, pato (Anas platyrhynchos) – 4%, porco (Sus domesticus) - 48%, gado (Bos taurus) – 43% e cavalos (Equus caballus) – 15%. Os cachorros, gatos, galinhas, galinhas-d’angola, perus e patos são animais criados soltos nos quintais. Os cachorros ficam soltos a fim de proteger a propriedade de qualquer mudança anormal, se alimentam de ração e/ou restos de comidas. Essa alimentação também é recebida pelo único animal que tem acesso ao quintal e a casa do proprietário que é o gato, devido ser muito dócil. As galinhas, galinhas-d’angola, perus e patos criados soltos nos quintais com o intuito de produzir carne, ovos e esterco. Esses animais são alimentados com grãos de milhos, farelo de milho e quirela, fornecidos pelos proprietários, e pelo ciscar no quintal e arredores. A relação entre animais e humanos é visto em culturas de todo o mundo em várias formas de interação com a fauna local (ALVES e SOLTO, 2011), contudo conforme Silva et al. (2013) essa relação precisa ser cautelosa, pois existe grande possibilidade de ocorrência de zoonoses, sobretudo em comunidades rurais onde o status sanitário, geralmente, é baixo. Vários gêneros de helmintos e protozoários utilizamse dos animais domésticos como hospedeiros e podem contaminar facilmente o homem (LEITE et al., 2007). Os porcos são criados de forma confinada em baias de madeira, construídas nas áreas dos quintais, onde se alimentam de cana, milho inteiro, restos de alimentos, frutas e hortaliças oriundos dos quintais. Esses animais produzem carne e banha, usados exclusivamente para consumo da família. Os bovinos e equinos são encontrados nos quintais e/ou em suas imediações, mesmo existindo piquetes com pastagens formadas artificialmente. Em média, criam-se sete cabeças de bovinos por propriedade, com a exclusiva finalidade de produzir leite para consumo da família. 76 Algumas propriedades apresentam hortas caseiras de pequeno porte, cercada de tela galvanizada, a fim de evitar a entrada de animais, especialmente de aves domésticas. As hortas são utilizadas para cultivo de hortaliças para a subsistência da família, sendo manejadas principalmente pelas mulheres, sem o uso de agrotóxicos e adubos químicos, cultivadas no solo e/ou às vezes em vasilhas. Vários itens são encontrados nessas hortas caseiras como alface, couve, cebolinha, jiló, tomate, pepino, entre outros. Para combater as pragas, alguns dos moradores utilizam de insumo natural a base de plantas, como o uso da pimenta malagueta ou do fumo, como declarou um dos entrevistados: “Eu pego uma garrafa de plástico de 1 litro e coloco um punhado da pimenta malagueta amassada e deixo curti por uma semana com água, depois é só passar para matar as lagartas, as formigas cortadeiras. Pra acabar com pulgão pego fumo, desse pronto em mercado, deixo de molho um dia, com água e pronto” (EGM, 32 anos). As espécies vegetais presentes nos quintais da comunidade São Miguel expõe uma combinação entre espécies arbóreas, herbáceas e culturas agrícolas, demostrando a diversidade vegetal que foi introduzida para diversas finalidades de uso naquele espaço para facilitar o cotidiano dos moradores. Foram citadas 207 espécies, sendo estas distribuídas em 64 famílias Botânicas e 153 gêneros. Dentre as quais, Asteraceae e Fabaceae com 17 espécies cada uma, Lauraceae com 13 espécies e Solanaceae com 10 espécies. Dentro dessa riqueza vegetal, as 207 espécies vegetais foram contempladas em cinco etnocategorias de usos, sendo o uso medicinal a categoria mais representativa (Figura 5). É importante ressaltar que uma espécie pode ser agrupada em mais de uma categoria de uso, sendo comum que as citações dos entrevistados para uma determinada planta pudessem ser agrupadas em categorias de uso diferentes. 77 FIGURA 5: Número de famílias botânicas e espécies encontradas nas etnocategorias de uso na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autores. A maioria das espécies (64%) citadas é de origem cultivada, seguida das nativas (26%) e as espontâneas (10%). As cultivadas são encontradas nas hortas e quintais das residências. Vale ressaltar que as nativas (espécies do Cerrado) podem ser remanescentes, espontâneas ou cultivadas. O hábito herbáceo (39%) é o mais representativo, seguido de arbustivo (26%), arbóreo (22%), subarbustivo (7%), trepadeira (4%), epífita e palmeira (1% cada um). As espécies de plantas medicinais nativas continuam sendo bastante usadas, apesar do número de espécies de plantas medicinais cultivadas serem maior, em relação às plantas citadas. Para Pasa et al. (2005) a ampla quantidade de herbáceas deve-se ao fato de que muitas destas espécies podem ter sido introduzidas por imigrantes devido à sua facilidade de transporte de um lugar para o outro. Na Tabela 2 são apresentadas as espécies presentes nos quintais da Comunidade São Miguel, classificadas conforme ordem decrescente do Vusp facilitando visualizar a importância das plantas. 78 TABELA 2: Espécies presentes nos quintais da Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Nome Vernacular Nome Científico Jiló Neen Café Pimenta malagueta Aroeira Laranja Acerola Feijão andu Goiaba Limão galego Açafrão Abacaxi Guiné Abacate Alho Amora Carapiá Chico-magro Fortuna Jurubeba Mangava mansa Pau-de-óleo Seriguela Tamarindo Vergateza Solanum gilo Raddi Azadirachta indica A. Juss. Coffea arabica L. Capsicum frutescens L. Myracrodruon urundeuva Allemão Citrus aurantium L. Malpighia glabra L. Cajanus cajan (L.) Huth Psidium guajava L. Citrus sp. L. Crocus sativus L. Ananas comosus (L.) Merril Petiveria alliacea L. Persea americana Mill. Allium sativum L. Morus nigra L. Dorstenia cayapia Vell. Guazuma ulmifolia Lam. Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken Solanum lycocarpum A. St.-Hil. Hancornia speciosa Gomes Copaifera langsdorffii Desf. Spondias lutea L. Tamarindus indica L. Anemopaegma arvense (Vell.) Stellfeld ex J.F. Souza Família Usos Vusp Solanaceae Meliaceae Rubiaceae Solanaceae Anacardiaceae Rutaceae Malpighiaceae Fabaceae Myrtaceae Rutaceae Iridaceae Bromeliaceae Phytolaccaceae Lauraceae Amaryllidaceae Moraceae Moraceae Malvaceae Crassulaceae Solanaceae Apocynaceae Fabaceae Anacardiaceae Fabaceae Bignoniaceae Al, Me Me, Or, Ot Al, Me Me, Ot Me, Ot Al, Me Al, Me Al, Me Al, Me, Ot Al, Me Me, Ot Al, Me Me, Ot Al, Me, Ot Me, Ot Al, Me Al, Me Me, Ot Or Al, Me Me Me Al, Ot Al, Me, Ot Me 3,00 2,33 2,00 2,00 1,86 1,83 1,82 1,75 1,75 1,73 1,67 1,60 1,60 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 Hábito Origem SA AV AB SA AV AB AB AB AB AB HB HB HB HB HB AV HB AV HB AB AV AV AV AV AB C C C C N C C C C C N C C C C C E N C C N N C C N Continuação... 79 Continuação... Nome Vernacular Nome Científico Lima Bocaiúva Carambola Colônia Cumbarú Capim-cidreira Jatobá-do-cerrado Citrus limetta Risso Acrocomia aculeata (Jacq.)Lodd. ex. Mart. Saccharum officinarum L. Terminalia argentea Mart. Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos Genipa americana L. Ricinus communis L. Mangifera indica L. Anacardium occidentale L. Bixa urucurana Willd. Ruta graveolens L. Philodendron imbe Schott ex Endl. Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg. Eucalyptus sp. L’Hér. Alloe vera L. Hibiscus esculentus L. Stryphnodendron adstringens (Mart.)Coville Averrhoa carambola L. Alpinia speciosa (Blume) D. Dietr. Dipteryx alata Vogel Cymbopogon citratus (DC.) Stapf Hymenaea courbaril L. Mamão papaia Carica papaya L. Cana-de-açúcar Capitão do campo Ipê roxo Jenipapo Mamona Manga Cajú Urucum Arruda Imbé Jabuticaba Eucalipto Babosa Quiabo Barbatimão Família Usos Vusp Hábito Origem Rutaceae Arecaceae Al, Me Al, Me 1,40 1,33 AB PAL C N Poaceae Combretaceae Bignoniaceae Al, Me Me Me, Or 1,33 1,33 1,33 AB AV AV C N N Rubiaceae Euphorbiaceae Anacardiaceae Anacardiaceae Bixaceae Rutaceae Araceae Myrtaceae Myrtaceae Asphodelaceae Malvaceae Fabaceae Al, Me, Ot Me Al, Me, Ot Al, Me Me, Ot Me, Ot Me, Or Me, Or Me, Or Me, Or Al, Me Me, Ot 1,33 1,33 1,33 1,30 1,30 1,25 1,25 1,25 1,20 1,18 1,18 1,17 AV AB AV AB AB SA HB AB AV HB SA AV C C C N C C C C C C C N Oxaliadaceae Zingiberaceae Fabaceae Poaceae Fabaceae Al, Me Me Al, Me, Ot Al, Me Me, Ot 1,17 1,14 1,14 1,12 1,11 AV HB AV HB AV C C N C N Caricaceae Al, Me 1,11 AB C Continuação... 80 Continuação... Nome Vernacular Nome Científico Alfavacão Alfavaquinha Algodão Algodãozinho Algodãozinho-do-campo Ocimum gratissimum L. Ocimum sp. L. Gossypium barbadense L. Brosimum gaudichaudii Trécul Cochlospermum regium (Schrank) Pilg. Alho social Anador Antúrio Araticum Arnica-do-campo Artemije Assa-peixe Ata Avelós Avenca Bacuri Tulbaghia violaceaHarv. Justicia pectoralis Jacq. Anthurium andraeanum Linden Annona crassiflora Mart. Brickelliasp. Elliott Artemisia verlotorum Lamotte Vernonia ferruginea Less. Annona squamosa L. Euphorbia sect. Tirucalli Boiss. Adiantum capillus Sw. Rheedia brasiliensis (Mart.)Planch. & Triana Cotyledon orbiculata L. Solanum tuberosum L. Operculina macrocarpa (L.) Urb. Begoniasp. L. Catharanthus roseus (L.) G. Don Plectranthus barbatus Andrews Cactus sp. L. Cactus grandiflorus L. Vernonia polyanthes (Spreng.)Less. Bálsamo Batata inglesa Batata maruleite Begônia Boa noite Boldo Cacto Cacto mandacaru Caferana Família Usos Vusp Hábito Origem Lamiaceae Lamiaceae Malvaceae Moraceae Bixaceae Me Me Me Me Me 1,07 1,00 1,00 1,00 1,00 TR TR AB AB HB N N N N N Amaryllidaceae Acanthaceae Araceae Annonaceae Asteraceae Asteraceae Asteraceae Annonaceae Euphorbiaceae Pteridaceae Clusiaceae Or Me Or Al Me Me Me Al Me Or Al, Me 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 HB HB HB AB HB HB SA AB AB HB AV C C C C E C N C C C N Crassulaceae Solanaceae Convolvulaceae Begoniaceae Apocynaceae Lamiaceae Cactaceae Cactaceae Asteraceae Me Al Al, Me Or Or Me Or Me, Or Me 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 HB C HB C AB C HB C HB C AB C HB C AV C AB C Continuação... 81 Continuação... Nome Vernacular Cajá-manga Caldo santo Camomila Camomila amarela Cana-de-macaco Cancerosa Capim-amargoso Cará-moela Carrapicho-de-carneiro Caruru Cebolinha Cedro Coco-da-baía Coentro Coentro bravo Colírio de Santa Luzia Comigo-ninguém-pode Confrei Congonha-de-bugre Coração amargurado Cordão-de-sãofrancisco Dipirona Elixir Nome Científico Spondias dulcis L. Cnicus benedictus L. Matricaria recutita L. Matricaria sp. L. Costus arabicus L. Synadenium grantii Hook. f. Digitaria insularis (L.) Fedde Dioscorea bulbifera L. Acanthospermum australe (Loefl.) Kuntze Amaranthus viridis L. Allium fistulosum L. Cedrela fissilis Vell. Cocos nucifera L. Cichorium endivia L. Eryngium foetidum L. Commelina nudiflora L. Dieffenbachia picta Schott Symphytum officinale L. Rudgea viburnoides (Cham.) Benth. Solenostemon scutellarioides (L.) Codd Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze Alternanthera Forssk. Pothomorphe umbellata (L.) Miq. Família Anacardiaceae Asteraceae Asteraceae Asteraceae Costaceae Euphorbiaceae Poaceae Dioscoreaceae Asteraceae Usos Al Me Me, Ot Me Me Me Me Al Me Vusp 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Hábito Origem AV C HB C HB C HB C HB C AB C HB N TR C HB E Amaranthaceae Liliaceae Meliaceae Arecaceae Asteraceae Apiaceae Commelinaceae Araceae Boraginaceae Rubiaceae Lamiaceae Lamiaceae Al, Me Ot Ot Al, Or, Me Ot Ot Me Or Me Me Or Me 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 HB HB AV AV HB HB HB HB HB AB HB HB Amaranthaceae Piperaceae Me Me 1,00 1,00 HB C TR E Continuação... E C N C C E C C C N C E 82 Continuação... Nome Vernacular Embaúba Erva cidreira Nome Científico Cecropia pachystachya Trécul Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson Família Urticaceae Verbenaceae Usos Me Al, Me Vusp 1,00 1,00 Erva-de-santa-maria Espada de ogum Chenopodium ambrosioides L. Sansevieria cylindrica Bojer ex Hook. Amaranthaceae Asparagaceae Me Or, Ot 1,00 1,00 HB HB E C Espada-de-são-jorge Espinheira santa Espirradeira Espondi Estomalina Sansevieria trifasciata Prain Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Nerium oleander L. Mimosasp. L. Gymnanthemum amygdalinum (Delile) Sch. Bip. ex Walp. Senna occidentalis (L.) Link Ficus carica L. Philodendron sp. Schott Tithonia diversifolia (Hemsl.) A. Gray Senecio scandensBuch.-Ham. ex D. Don Bryophyllum calycinumSalisb. Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg Annona reticulata L. Nicotiana tabacum L. Zingiber officinale Roscoe Stachytarpheta angustifolia (Mill.)Vahl Astronium fraxinifolium Schott Annona muricata L. Aspidosperma polyneuron Müll. Arg. Asparagaceae Celastraceae Apocynaceae Fabaceae Asteraceae Or Me Me, Or Me Me 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 HB AB AV AV HB C C C N C Fabaceae Moraceae Araceae Asteraceae Asteraceae Me Al Or Me, Or Or 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 AB AB HB AB AB E C C C C Crassulaceae Moraceae Annonaceae Solanaceae Zingiberaceae Verbenaceae Anacardiaceae Annonaceae Apocynaceae Me, Or Al Al Me Ot, Me Me Me, Al, Me Me, Ot 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 HB C AB N AB C SA C HB C HB E AV N AV C AV N Continuação... Fedegoso Figo Filodendro Flor da Amazônia Flor-de-finado Folha santa Fruta pão Fruta-do-conde Fumo Gengibre Gervão Gonçaleiro Graviola Guatambu Hábito Origem AV E HB E 83 Continuação... Nome Vernacular Gueiroba Hortelã doce Hortelã pimenta Hortelão do campo Hortelãzinha Imburana Ingá Ingá-do-mato Insulina Jaborandi Jaca Jamelão Jasmim Jucá Laranja cida Limão rosa Língua de vaca Língua-de-cão Lírio-da-paz Lírio-são-José Lixeira Lixinha Losna Louro pardo Nome Científico Syagrus oleracea (Mart.) Becc. Mentha arvensis L. Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. Hyptis crenata Pohl ex Benth. Mentha piperita L. Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm. Inga edulis Mart. Inga heterophylla Willd. Cissus sicyoides L. Piper tuberculatum Jacq. Artocarpus integrifolia L. f. Syzygium jambolanum (Lam.) DC. Gardenia jasminoides J. Ellis Caesalpinia ferrea Mart. Citrus sp.L. Citrus sp.L. Orthopappus angustifolius (Sw.) Gleason Cynoglossum creticum L. Spathiphyllum wallisii Regel Hemerocallis flava (L.) L. Curatella americana L. Davilla elliptica A. St. -Hil Artemisia absinthium L. Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. Família Arecaceae Lamiaceae Lamiaceae Usos Al Me Me Vusp 1,00 1,00 1,00 Hábito Origem AV C HB C HB C Lamiaceae Lamiaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Vitaceae Piperaceae Moraceae Myrtaceae Rubiaceae Fabaceae Rutaceae Rutaceae Asteraceae Ot, Me Me Me Al, Me Al, Me Me Me Al Al Or Me Al Al Me 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 HB HB AV AV AV HB AB AV AV AB AV AB AB HB C C C C N C N C C C N C C C Boraginaceae Araceae Xanthorrhoeaceae Dilleniaceae Dilleniaceae Asteraceae Boraginaceae Me Or Or Me Me Me Ot 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 HB HB HB AV AB SA AV C C C N N C N Continuação... 84 Continuação... Nome Vernacular Malva amarela Malva branca Mamão formosa Mamica-de-porca Mandioca Mangava brava Maracujá Maravilha Maria-pobre Mentrasto Mirindiba Nó-de-cachorro Noni Ora-pro-nobis Orquídea cebola Orquídea roxa Papoula Paratudo Pata-de-vaca-do- campo Pata-de-vaca Pau-terra macho Pé-de-anta Pega-pinto Picão branco Nome Científico Melochia tomentosa L. Malva sp.L. Carica sp. L. Zanthoxylum rhoifolium Lam. Manihot esculenta Crantz Lafoensia pacari A.St.-Hil. Passiflora edulis Sims Mirabilis jalapa L. Dilodendron bipinnatum Radlk. Ageratum conyzoides L. Buchenavia tomentosa Eichler Heteropterys tomentosa A. Juss. Morinda citrifolia L. Pereskia aculeataMill. Oncidium cebolleta (Jacq.) Sw. Cattleya violaceae (Kunth) Rolfe Hibiscus rosa-sinensis L. Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore Bauhinia bongardiiSteud. Bauhinia rufa (Bong.) Steud. Qualea multiflora Mart. Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. Boerhavia diffusa L. Bidens gardneri Baker Família Malvaceae Malvaceae Caricaceae Rutaceae Euphorbiaceae Lythraceae Passifloraceae Nyctaginaceae Sapindaceae Asteraceae Combretaceae Malpighiaceae Rubiaceae Cactaceae Orchidaceae Orchidaceae Malvaceae Bignoniaceae Fabaceae Fabaceae Vochysiaceae Bignoniaceae Nyctaginaceae Asteraceae Usos Me Me Al Me Al Me Al, Me Or Me Me Me Me Me Me Or Or Or Me, Or, Ot Me Me, Or, Ot Me Me Me Me Vusp 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Hábito Origem HB E HB E AB C AV N AB C AV N TR C HB C AV N HB N AV N HB N AB C HB E EPI N EPI N AB C AB N HB N AB N AV N AV N HB E SA N Continuação... 85 Continuação... Nome Vernacular Picão preto Pimenta bodinha Pimenta chumbinho Pimenta preta Pimenta-de-cheiro Pingo de ouro Pinhão roxo Pinhão branco Pitanga Piteira Pitomba Poejo Poncã Primavera laranjada Primavera vermelha Pronto-alívio Quebra pedra Quina Rabo-de-bugiu Romã Rosa vermelha Sabugueira Saião Nome Científico Bidens pilosa L. Capsicum sp. L. Capsicum sp. L. Capsicum sp. L. Capsicum odoratum Steud. Duranta erecta L. Jatropha gossypiifolia L. Jatropha curcas L. Eugenia uniflora L. Agave angustifoliaHaw. Talisia esculenta (A. St.-Hil.) Radlk. Mentha pulegium L. Citrus reticulata Blanco Bougainvillea sp. Comm. ex Juss. Bougainvillea glabra Choisy Achillea millefolium L. Phyllanthus orbiculatus Rich. Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. Phlebodium aureum (L.) J. Sm. Punica granatum L. Rosa gallica L. Sambucus nigra L. Kalanchoe brasiliensis Cambess. Família Asteraceae Solanaceae Solanaceae Solanaceae Solanaceae Verbenaceae Euphorbiaceae Euphorbiaceae Myrtaceae Asparagaceae Sapindaceae Lamiaceae Rutaceae Nyctaginaceae Nyctaginaceae Asteraceae Phyllanthaceae Loganiaceae Polypodiaceae Lythraceae Rosaceae Adoxaceae Crassulaceae Usos Me Al Me, Ot Ot Me, Ot Or Me Me Al Me Al Me Al Or Or Me Me Me, Ot Me, Or Al, Me Or Me Me, Or Vusp 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Hábito Origem SA N SA C SA C SA C SA C AB C AB C AB C AB C HB C AB C HB C AB C AB C AB C HB C HB E AV N HB C AB C SA C AV C HB C Continuação... 86 Continuação... Nome Vernacular Samambaia Samambaia chifre-deveado Samambaia macaco Samambaia paulista Sangra D'água Sete copas Singônio Tapera velha Tento Terramicina Timbó Tomate cereja Tripa de galinha Unha de boi Unha de lagartixa Vassourinha Vick Nome Científico Nephrolepis exaltata (L.) Schott Platycerium bifurcatum (Cav.) C. Chr. Família Davalliaceae Polypodiaceae Usos Or Or Vusp 1,00 1,00 Dicranopteris nervosa (Kaulf.) Maxon Nephrolepis cordifolia (L.) C. Presl Croton salutaris Casar. Terminalia catappa L. Syngonium angustatum Schott Hyptis suaveolens (L.) Poit. Abrus precatorius L. Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Magonia pubescens A. St.-Hil. Solanum lycopersicum L. Bauhinia glabra Jacq. Bauhinia rufa (Bong.) Steud. z (Willd.) DC. Scoparia dulcis L. Mentha spicata L. Gleicheniaceae Davalliaceae Euphorbiaceae Combretaceae Araceae Lamiaceae Fabaceae Amaranthaceae Sapindaceae Solanaceae Fabaceae Fabaceae Rubiaceae Plantaginaceae Lamiaceae Or Or Me Me, Ot Or Me Ot Me Ot Al Me Me Me Me Me 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Hábito Origem HB C HB C HB HB AV AV HB HB TR HB AB HB TR SA TR HB HB C C N C C E E N N C N N E E C Legenda: Usos: medicinal (Me), alimento (Al), condimento (Co), ornamental (Or) e outros (Ot).Vusp= Valor de uso de cada espécie. Hábito: HB= Herbácea; SA= Subarbustivo; AB= Arbustivo; AV= Arbóreo; PAL= Palmeira; EPI= Epífita; TR=Trepadeira. Origem: N= Nativa; C= Cultivada; E= Espontânea. Fonte: Autoras. 87 Para o cálculo do Valor de Uso, o número de usos mencionados para uma espécie estabelece a importância dela para a comunidade de São Miguel, pois demostra o valor de uso da planta estatisticamente. A valoração utilitária das espécies apresentadas na Tabela 2 mostrou que 75% das mesmas possuem Vusp = 1,00. As plantas que representaram muito bem o valor de uso das plantas locais foram: Vusp = 3,00: jiló (Solanum gilo); Vusp = 2,33: neem (Azadirachta indica); Vusp = 2,0: café (Coffea arabica), pimenta malagueta (Capsicum frutescens L.) e aroeira (Myracrodruon urundeuva). Albuquerque e Andrade (2002a) afirmam que as espécies mais importantes para uma comunidade não são necessariamente as mais abundantes ou as mais empregadas para diferentes fins, comprovando que as espécies raras às vezes possuem mais diversificação de uso que as mais comuns. Portanto, os dados de valor de uso são mais elevados em espécies mencionadas por apenas poucas pessoas, já que estas pessoas conhecem e utilizam uma determinada espécie para diversos fins. Pasa (2004) salienta que a categoria de uso de uma espécie vegetal pode ser cumulativa, uma espécie pode ser utilizada para a alimentação e ser medicinal. Neste estudo, as espécies que se destacaram por apresentar usos múltiplos foram: cumbaru (Dipteryx alata), tamarindo (Tamarindus indica), abacate (Persea americana), goiaba (Psidium guajava), jenipapo (Genipa americana), coco-da-baía (Cocos nucifera), paratudo (Tabebuia aurea), tripa de galinha (Bauhinia glabra) e neem (Azadirachta indica). Para Aquino et al. (2007) algumas espécies podem ser utilizadas para outros fins diferentes que não foram aqui consideradas, tais como: apícola (mangava mansa - Hancornia speciosa), aromatizante (algodãozinho -Brosimum gaudichaudii), artesanal (vinhático - Plathymenia reticulata), tanífero (cajú - Anacardium occidentale) e tintorial (pau-de-óleo - Copaifera langsdorffii). Do total das espécies, 50 são utilizadas como alimentícias, pertencentes às famílias: Fabaceae, Moraceae e Solanaceae (10% cada uma). As espécies mais frequentes nos quintais na categoria alimentar 88 foram manga (Mangifera indica) - 24%, acerola (Malpighia glabra) - 22%, mamão formosa (Caricasp.) - 20%, caju (Anacardium occidentale) e limão galego (Citrus sp.) -18% cada um. Na categoria ornamental foram registradas 43 espécies vegetais, preponderando às famílias Araceae (14%), Crassulaceae e Nyctaginaceae (7% cada uma). Dentro desse grupo 37% das espécies são consideradas pelos entrevistados como ornamentais e medicinais, como o caso babosa (Alloe vera), imbé (Philodendron imbe), espirradeira (Nerium oleander) e folha santa (Bryophyllum calycinum). Assim, ao mesmo tempo em que embelezam os quintais das propriedades, são remédios caseiros de fácil acesso aos moradores. Nas outras categorias foram registradas 30 espécies, distribuídas em 23 famílias botânicas. Entre as espécies encontradas nos quintais como arruda (Ruta graveolens), comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia picta), espada de ogum (Sansevieria trifasciata), espada- de-são-jorge (Sansevieria cylindrica) e guiné (Petiveria alliacea) foram mencionadas como de “proteção” fundamentado no uso em crenças e ritos espirituais. Algumas espécies, como a guiné, são utilizadas para proteção (“mau-olhado”), localizada bem na entrada da casa, pois acreditam que a planta é um ser tão sensível que absorve a influência negativa antes da pessoa entrar em sua casa. A guiné também é utilizada em banhos protetores, que podem estar relacionados apenas a uma parte do corpo ou no corpo inteiro, dependendo da parte do corpo que o mal acomete. Pasa (2007) refere-se à guiné, como uma planta indicada para espantar maus espíritos, inveja e mau-olhado. Igualmente a espada-de-são-jorge, arruda, alho, café, para fazer banho do “corpo todo” e defumação da casa. Algumas espécies usadas como temperos no dia a dia dos moradores também são empregadas na medicina caseira como gengibre (Zingiber officinale), pimenta malagueta (Capsicum frutescens), urucum (Bixa urucurana) e açafrão (Crocus sativus). Quanto às medicinais, 119 espécies são utilizadas no tratamento de doenças, sobressaindo às famílias Fabaceae (13%), 89 Asteraceae (12%) e Lamiaceae (6%). Em uma comunidade rural do semiárido da Paraíba, Santos et al. (2012) encontraram uma grande riqueza de plantas medicinais registrando 143 espécies pertencentes a 43 famílias. O número significativo de espécies de plantas medicinais citadas comprova o rico conhecimento etnobotânico da população local. As famílias com destaque para categoria medicinal no presente estudo foi comumente encontradas como as mais significativas em outros estudos etnobotânicos no estado de Mato Grosso, como Souza e Felfili (2005), Fracaro e Guarim (2008), Pasa (2011), Almeida et al. (2014). Esse fato pode estar relacionado à presença de compostos fitoquímicos que são na maioria das vezes empregados em medicamentos (MING e AMARAL JUNIOR, 1995). As plantas usadas como medicinais mais citadas foram: aroeira (Myracrodruon urundeuva) - 26 citações, acerola (Malpighia glabra) - 20 citações, limão (Citrus sp.) - 19 citações, cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) - 16 citações, goiaba (Psidium guajava) - 14 citações e laranja (Citrus aurantium) - 11 citações. Foram encontradas 26 espécies vegetais usadas tanto na alimentação como na medicina caseira, destacando acerola (Malpighia glabra), amora (Morus nigra), abacaxi (Ananas comosus), caju (Anacardium occidentale), cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), capim-cidreira (Cymbopogon citratus), entre outras. Para a obtenção do resultado da Porcentagem de Concordância quanto aos usos principais (Pcusp) foi utilizada somente as espécies da etnocategoria medicinal, pois apresentaram maior número de citação comparado às outras categorias. Os resultados encontram-se na Tabela 3, que está ordenada em função do Pcusp em ordem decrescente, elucidando as espécies mais importantes. As oito espécies consideradas mais importantes para a população estudada, em ordem decrescente de Concordância de uso são (Tabela 3): herbaceum), (Sambucus boldo (Plectranthus terramicina nigra), barbatus), (Alternanthera capim-cidreira algodão (Gossypium brasiliana), sabugueira (Cymbopogon citratus), jatobá 90 (Hymenaea stigonocarpa), quina (Strychnos pseudoquina) e losna (Artemisia absinthium). TABELA 3: Valor relativo de concordância quanto aos usos principais. Comunidade São Miguel, Várzea Grande-MT. 2014. Nome comum Boldo Algodão Terramicina Capim-cidreira Jatobá Quina Losna Aroeira Caferana Alfavacão Goiaba Mangava-brava Romã Erva de santa maria Hortelãzinha Lima Gervão Manga Flôr da amazônia Urucum Barbatimão Noni Sabugueira Anador Camomila Melão-De-SãoCaetano Avelos Angico Hortelã Acerola Carambola Ipê roxo Pata-de-vaca Açafrão Malva branca Vassorinha Aplicação NU FID Estomago 5 17 Inflamação 7 11 Inflamação 3 11 Calmante 5 9 Tuberculose 10 8 Dor de cabeça 9 8 Estomago 3 7 Diarreia 10 7 Estomago 3 7 Febre 8 7 Desinteria 1 7 Úlcera 5 6 Inflamação 2 6 Verme 5 6 Verme 3 6 Calmante 3 6 Gastrite 5 6 Tosse 4 5 Dor no estomago 3 5 Pressão alta 6 5 Infecção 4 5 Câncer 2 5 Sarampo 2 5 Gripe 3 5 Diarreia 4 5 Coceira Gastrite Tuberculose Tosse Gripe Pressão alta Expectorante Diabete Garganta Corrimento Machucado 6 3 5 6 3 2 2 2 4 3 3 5 5 5 5 5 5 4 4 4 4 4 FSP 20 16 14 15 20 16 9 14 8 16 10 10 8 9 7 7 7 12 6 12 6 6 4 5 8 9 5 5 11 7 5 2 5 4 5 4 NF 85,00 68,75 78,57 60,00 40,00 50,00 77,78 50,00 87,50 43,75 70,00 60,00 75,00 66,67 85,71 85,71 85,71 41,67 83,33 41,67 83,33 83,33 125,00 100,00 62,50 FC 1,00 0,80 0,70 0,75 1,00 0,80 0,45 0,70 0,40 0,80 0,50 0,50 0,40 0,45 0,35 0,35 0,35 0,60 0,30 0,60 0,30 0,30 0,20 0,25 0,40 Pcusp(%) 85 55 55 45 40 40 35 35 35 35 35 30 30 30 30 30 30 25 25 25 25 25 25 25 25 55,56 0,45 25 100,00 0,25 25 100,00 0,25 25 45,45 0,55 25 71,43 0,35 25 100,00 0,25 25 200,00 0,10 20 80,00 0,25 20 100,00 0,20 20 80,00 0,25 20 100,00 0,20 20 Continuação... 91 Continuação... Nome comum Aplicação NU FID FSP NF FC Pcusp(%) Erva cidreira Calmante 2 4 8 50,00 0,40 20 Pau-terra macho Diarreia 1 4 4 100,00 0,20 20 Colônia Calmante 3 4 8 50,00 0,40 20 Cancerosa Cicatrizante 2 4 6 66,67 0,30 20 Angelim margoso Figado 6 4 7 57,14 0,35 20 Cumbarú Fígado 12 4 12 33,33 0,60 20 Tripa de galinha Desinteria 5 4 6 66,67 0,30 20 Passo livre Males do Rim 1 3 3 100,00 0,15 15 Guatambu Diabete 1 3 3 100,00 0,15 15 Velame branco Cicatrizante 2 3 4 75,00 0,20 15 Assa-peixe Gripe 3 3 4 75,00 0,20 15 Picão Diuretico 4 3 4 75,00 0,20 15 Paratudo Pulmão 4 3 5 60,00 0,25 15 Arnica-do-campo Machucado 4 3 6 50,00 0,30 15 Nó-de-cachorro Dor de barriga 3 3 5 60,00 0,25 15 Amora Hormonio 2 3 4 75,00 0,20 15 Guiné (Tipi) Reumatismo 2 3 4 75,00 0,20 15 Gengibre Gripe 3 3 4 75,00 0,20 15 Babosa Hemorroida 9 3 14 21,43 0,70 15 Mamona Dor de cabeça 7 3 7 42,86 0,35 15 Tamarindo Hemorroída 6 3 7 42,86 0,35 15 Poejo Dor de barriga 4 3 7 42,86 0,35 15 Arruda Cólica 3 3 7 42,86 0,35 15 Embaúba Bronquite 5 3 7 42,86 0,35 15 Legenda: NU: número de usos mencionados pelo informante para cada espécie; FID: número de informantes que recomendaram o uso de uma espécie para uma finalidade maior; FSP: número total de informantes que citaram a planta para algum uso; NF: Nível de fidelidade; FC: fator de correção; Pcusp: frequência relativa de concordância quanto aos usos principais. Fonte: Autores. Três espécies apresentaram concordância quanto aos usos principais (Pcusp) acima de 50%, possivelmente sendo essas as mais utilizadas pela população. O Boldo (Plectranthus barbatus) destacou-se em primeiro lugar entre os moradores da comunidade, apresentando frequência relativa de concordância quanto aos usos principais (Pcusp) de 85%, sendo amplamente utilizado para o tratamento de doenças do estômago, fígado e indigestão. O Algodão (Gossypium barbadense) e a Terramicina (Alternanthera brasiliana) ocupam o segundo lugar com 55 % cada uma. 92 Uma espécie que tenha vários entrevistados acordando com um mesmo uso terapêutico, pode-se confirmar estatisticamente uma real efetividade no tratamento da afecção (PINTO et al., 2006) e, podem auxiliar na constatação da eficácia de determinada espécie para uso medicinal, que, no futuro, poderão servir de base para estudos farmacológicos buscando a descoberta de novas curas para doenças e/ou a melhoria de medicamentos já existentes (ROQUE et al., 2010). Das 31 espécies que apresentaram concordância quanto aos usos principais (Pcusp) acima de 25%, são referidos 19 casos para problemas digestivo e respiratório (61,5% cada); sete casos para problemas circulatório e nervoso (22,5%); e o restante representa 16%. Na comunidade São Miguel, 23% das plantas foram citadas para três tipos de doenças (NU = 3), 19% para cinco tipos de doenças (NU = 5), 17% para quatro tipos de doenças (NU = 4), 13% para seis tipos de doenças (NU = 6), 12% para dois tipos de doenças (NU = 2) e 17% para as outras quantidades de doenças citadas. O alto número de indicações para afecções do sistema respiratório também foi encontrado na abordagem etnobotânica feita por Zucchi et al. (2013) na comunidade de Ipameri pertencente ao Estado de Goiás. A alta incidência de problemas respiratórios possivelmente seja devido à grande quantidade de poeira proveniente das estradas de chão e da falta de água local. A dosagem dos remédios caseiros variou entre as pessoas, não sendo mencionadas dosagens específicas. Para Pasa et al. (2011) a utilização de uma posologia informal pode acarretar consequências graves aos seres humanos, pois conforme Oliveira et al. (2009) várias plantas úteis aos seres humanos podem produzir substâncias potencialmente tóxicas, se utilizadas em dosagens inadequadas. O uso adequado das espécies medicinais através do resgaste e da difusão de conhecimento é muito importante, pois várias pessoas não sabem identificá-las, ou as preparam e as empregam de maneira incorreta (SILVA et al., 2013). Como afirma Carlini (2004), que os principais problemas causados pelo uso indiscriminado e prolongado de 93 espécies medicinais, estão nas reações alérgicas e os efeitos tóxicos em vários órgãos. Algumas espécies vegetais possuem substâncias tóxicas em sua composição química, havendo necessidades especiais em sua administração. Para que uma planta venha a ser avaliada como espécie tóxica, sua toxicidade deve ser confirmada experimentalmente, conforme Matos et al. (2011): “Os testes de toxicidade são elaborados com o objetivo de avaliar ou prever os efeitos tóxicos que uma substância pode produzir e estabelecer as condições de uso seguro para não causar dano ao meio ambiente e à saúde dos animais de outros seres vivos”. Para esses autores todas as partes da espirradeira (Nerium oleander L.) são tóxicas para homens, animais e insetos, assim como os frutos da carambola (Averrhoa carambola L.), o látex do avelós (Euphorbia sect. Tirucalli Boiss.), a semente do pinhão-branco (Jatropha curcas L.), entre outras. Algumas espécies citadas pelos moradores da comunidade tiveram alguma atividade farmacológica encontrada na literatura, como: Gossypium herbaceum (algodão): restaura fluxo menstrual e limpeza interna dos órgãos femininos; Curatella americana (lixeira): atividade antihipertensiva e vasodilatadora; Matricaria chamomila (camomila): efeito sedativo; Myracrodruon urundeuva (aroeira): atividade cicatrizante, antiinflamatória e analgésica. O modo de preparo prevalecente foi o chá, obtido por decocção, com 45% (Figura 6). A parte da planta mais empregada foi a folha (55,7%), seguida da casca do tronco (18,5%), raiz (9,5%), fruto (6,2%) e semente (3,9%). De modo similar, o largo uso das folhas na preparação dos remédios também foi detectado por Souza e Pasa (2013), que analisaram a preferência da folha no preparo dos remédios caseiros como um cuidado com a conservação de recursos naturais da região, retirando partes que possam ser repostas sem causar maiores danos à planta. 94 FIGURA 6: Modo de preparo dos remédios caseiros na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autoras. Algumas espécies medicinais além do uso humano também são empregadas no tratamento de enfermidades de animais (Tabela 4). Este recurso é uma opção de baixo custo, que pode ser associada a outras formas de tratamento. Segundo Vieira (2003), o uso da fitoterapia no controle de verminoses visa reduzir o custo com a aquisição de antihelmínticos, além de prolongar o aparecimento de resistência por uso contínuo desses medicamentos. TABELA 4: Espécies vegetais citadas para fins terapêuticos em animais na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Família/ Nome científico/ Nome vulgar Parte Utilizada Indicação Terapêutica Espécie Animal Folha Vermífugo Tosse Galináceo Canino Suíno Cicatrizante Doença Galináceo Canino Suíno Equino Bovino Amaranthaceae Chenopodium ambrosioides L. (erva-de-santa-maria) Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Folha (terramicina) Continuação... 95 Continuação... Anacardiaceae Myracrodruon urundeuva Allemão (aroeira) Caryocaraceae Folha Doença Galináceo Caryocar brasiliense Cambess. (pequi) Euphorbiaceae Casca Cicatrizante Bovino Doença Galináceo Suíno Equino Bovino Disenteria Bovino Cicatrizante Canino Suíno Equino Bovino Folha Cicatrizante Galináceo Canino Suíno Equino Bovino Folha Carrapato Coceira Repelente Bovino Canino Jatropha curcas L. (pinhão-branco) Fruto Fabaceae Dipteryx alata Vogel (cumbarú) Casca Copaifera langsdorffii Desf. (pau d’ Óleo Oléo) Malvaceae Gossypium barbadense L. (algodão) Meliaceae Azadirachta indica A. Juss. (neen) Rubiaceae Chiococca brachiata Ruiz & Pav. (cainca) Casca Estimulador de apetite Equino Rutaceae Zanthoxylum rhoifolium Lam. (mamica-de-porca) Folha Coceira Canino Folha Vermífugo Suíno Zingiberaceae Alpinia speciosa (Blume) D. Dietr. (colônia) Fonte: Autoras. Entre as nove indicações gerais mencionadas, três se destacaram: anti-helmíntica e anti-inflamatória (21% cada uma), e anticoceira (14%). Fica evidente a importância das plantas com ação 96 antiparasitária, principalmente para comunidades onde o medicamento convencional é de difícil aquisição. Alguns animais também são usados no tratamento de enfermidades na Comunidade São Miguel, como o Caramujo associado com a erva-de-santa-maria usado na cura de “feridas bravas” (conforme relato de moradores o uso da gosma do caramujo fecha ferida em metade do tempo que levaria normalmente, sem receber nenhum outro remédio); a banha da Cascavel para dores no corpo; o mel de Jataí para bronquite e o chifre do boi (leva o chifre no fogo de lenha e raspa as bolhas que vão formando) para criança “assustada”. 3.2.4. Roças As roças são ambientes de produção agrícola que acontecem nas áreas abertas no interior da vegetação natural, proveniente da derrubada da mata ripária ou nas bordas do campo cerrado fazendo limite com as matas (PASA, 2011). Foram levantadas 48 variedades de cultivos alimentares (Figura 7), abrangendo as árvores frutíferas. O manejo nesta unidade é realizado apenas pelas unidades familiares. FIGURA 7: Exemplo de cultivos encontrado na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. A: Cebola, B: Cará-moela e C: Mamão papaia. Fonte: Autoras. Entre os entrevistados, o número mínimo de produção agrícola é de dois, como a Manihot esculenta (mandioca) e a Saccharum officinarum (cana-de-açúcar), e o máximo 14, sendo Vigna unguiculata (feijão de corda), Cajanus cajan (feijão andu), Zea mays (milho), M. 97 esculenta (mandioca), Musa parasidiaca (banana), Carica papaya (mamão), Hibiscus esculentus (quiabo), Ananas comosus (abacaxi), Citrussp. (limão galego), Citrussp. (limão rosa), Ipomoea batatas (batata doce), Cichorium endivia (coentro), Cucurbita pepo (abobrinha) e Saccharum officinarum (cana-de-açúcar). A diversidade de cultivos nas propriedades rurais proporciona ao pequeno produtor a diversificação da produção e gera outras fontes de alimento e renda (FEITOSA et al., 2011). As culturas com maior número de citações foram a mandioca (67%), o milho (43%), a banana (43%) e, cana-de-açúcar e abóbora (cada uma com 35%), as frutíferas somam 24% do total das variedades e os restantes 19% correspondem às hortaliças (Figura 8). Resultados parecidos foram encontrados por Pasa et al. (2005) em estudo etnobotânico na Comunidade de Conceição-Açu em Cuiabá, quanto ao cultivo da mandioca. FIGURA 8: Frequência relativa dos cultivos nas roças das propriedades rurais na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autoras. O uso dos produtos agrícolas destina-se na maioria (72%) para o próprio consumo da família e para tratar dos animais domésticos, 13% além do próprio consumo, também vendem para cooperativa e/ou para 98 cidades vizinhas e/ou para vila da comunidade e 15% não produzem. Resultados semelhantes foram encontrados por Silva et al. (2013) que estudando o perfil socioeconômico dos agricultores nas unidades produtivas da comunidade Moura no município de Bananeiras (PB) verificaram também que a maior parte da produção (67%) são destinadas para o consumo alimentar da família. Aqueles que nada cultivam informam ser devido à dificuldade de acesso a água, já que nem todos têm poço na propriedade. Essas pessoas sobrevivem dos salários e da aposentadoria. Uma característica a ser destacada dessa comunidade é o potencial de cooperação existente entre eles, pois até mesmo os proprietários que cultivam com a finalidade de obter renda, compartilham com os amigos os alimentos produzidos. Do total de 46 entrevistas, somente dois moradores participam da Produção Agroecológica Integrada e Sustentável – PAIS, onde receberam curso de capacitação pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae. O projeto é organizado em forma de um círculo em um terreno plano na convivência com animais e plantas. Deste modo, gera alimento saudável e diversificado, melhorando a qualidade de vida dos produtores. Além de oferecer aos animais os alimentos que não pode ser consumido por humanos (PAIS, 2009). Os alimentos orgânicos geram valores significativos para a economia brasileira e para a saúde da população, proporcionando uma forma de sustentabilidade social e econômica da agricultura familiar (COELHO, 2001). As diversas formas de estimulo na Agricultura Familiar são essenciais para manter as populações no campo e diminuir a evasão para as cidades. Para Costa (1997), o papel do Estado de instigar a noção de responsabilidade socioambiental na população rural é essencial, pois garante o funcionamento de um sistema de crédito agrícola, especialmente em sistemas que favoreçam o “Uso Sustentável” mediante as chamadas “Agriculturas de Base Ecológica”. Em 72% das propriedades os adubos utilizados nas roças são provenientes dos excrementos de animais domésticos, restos de alimentos, urina de gado e folhas aproveitadas da manutenção do quintal. 99 Apenas 28% dos proprietários utilizam adubos químicos como fertilizantes, normalmente aqueles que comercializam a sua produção. Os restos de comida são cascas de verduras e legumes. Pasa (2011) realizando estudo etnobotânico na Comunidade Conceição-Açu verificou que 80% das propriedades utilizavam o esterco de animais domésticos e restos de alimentos como adubo. Para o preparo do solo nas lavouras são usados equipamentos agrícolas alugados da Associação local, logo que nenhum dos proprietários entrevistados possui posse de máquinas agrícolas. A aquisição de máquinas agrícolas representa um dos mais elevados investimentos do produtor, e sua obtenção depende de diversos fatores como os produtos cultivados, abertura de fronteiras agrícolas, rentabilidade do produtor. Entre os animais que prejudicam o desenvolvimento das plantas e os cultivos, os proprietários citaram formiga cortadeira (Atta sp.), cigarrinha (Deois flavopicta), lagarta (Anticarsia sp.), cupim (Coptotermes sp.), grilo (Gryllus assimilis), pulgão (Metopolophium dirhodum), besouro (Oryctes sp.), galinha (Gallus domesticus), porco (Gallus domesticus), gado (Bos taurus), rato (Rattus sp.), capivara (Hydrochoerus hydrochoeris), tucano (Ramphastos toco), periquito (Brotogeris tirica) e veado (Cervus elaphus). Os animais considerados pragas como o pulgão, lagarta, cupim, são controlados através de plantas como, por exemplo, o uso da pimenta malagueta. Outros são mantidos cercados (galinha, gado, porco) para evitar que prejudiquem as plantações e tem aqueles que não se têm o que fazer como o tucano, o periquito, a capivara e o veado. 3.2.5. Matas de galeria As matas protegem a vegetação nativa e são consideradas como Áreas de Preservação Permanente - APP resguardadas conforme artigo 3 e 4 da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, tanto em zonas rurais quanto urbanas, “com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar 100 o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”. Portanto, a presença da mata de galeria é de grande importância na vida da população regional, pois oferece remédios e alimentos para a subsistência das famílias, e consequentemente contribui para a conservação dos recursos nela existentes. Entre as espécies vegetais foram identificadas um total de 68 espécies vegetais distribuídas em 39 famílias botânicas e 63 gêneros (Figura 9). As espécies citadas foram contempladas em três etnocategorias de Usos: Alimento (5 espécies), Medicinal (59 espécies) e Outras (20 espécies). A maioria das espécies (48%) citadas apresenta hábito arbóreo, seguido de arbustivo (15%), herbáceo (13%), subarbustivo (9%), trepadeira (7%), epífita e palmeira (3% cada um). FIGURA 9: Principais famílias botânicas encontradas na Mata de Galeria da Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Fonte: Autoras. Na Tabela 5 estão relacionadas as plantas encontradas na Mata de Galeria em ordem descrescente do Vusp, promovendo a visualização da importância das plantas nessa unidade de paisagem. 101 TABELA 5: Plantas da mata de galeria usadas pela Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. Nome comum Aroeira Angico Cainca Carapiá Chico-magro Mangava mansa Olho-de-boi Pau-de-óleo Vergateza Bocaiúva Ipê roxo Cipó Imbé Barbatimão Cumbarú Jatobá Abacaxi-do-cerrado Angelim margoso Azedinha Bambu Bucha Calção de velho Nome Científico Myracrodruon urundeuva Allemão Anadenanthera colubrina var. cebil (Griseb.) Reis Chiococca brachiata Ruiz & Pav. Dorstenia cayapia Vell. Guazuma ulmifolia Lam. Hancornia speciosa Gomes Diospyros hispida A. DC. Copaifera langsdorffii Desf. Anemopaegma arvense (Vell.) Stellfeld ex J.F. Souza Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex. Mart. Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos Philodendron imbe Schott ex Endl. Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Dipteryx alata Vogel Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne Ananas ananassoides (Baker) L.B. Sm. Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke Oxalis hirsutissima Mart. ex Zucc. Bambusa vulgaris Schrad. ex J.C. Wendl. Luffa cylindrica (L.) M. Roem. Cordia insignis Cham. Família Anacardiaceae Fabaceae Rubiaceae Moraceae Malvaceae Apocynaceae Ebenaceae Fabaceae Bignoniaceae Arecaceae Bignoniaceae Araceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Bromeliaceae Fabaceae Oxalidaceae Poaceae Cucurbitaceae Boraginaceae Usos Me, Ot Me, Ot Me Al, Me Me, Ot Me Me Me Me Al, Me Me, Ot Me, Ot Me, Ot Al, Me, Ot Me, Ot Me Me, Ot Me Ot Ot Me Calunga Carvão branco Carvão vermelho Cedro Curraleira Simaba ferruginea A. St.-Hil. Callisthene fasciculata Mart. Diptychandra aurantiaca Tul. Cedrela fissilis Vell. Croton antisyphiliticus Mart. Simaroubaceae Vochysiaceae Fabaceae Meliaceae Euphorbiaceae Me Ot Ot Ot Me Hábito AV AV AB HB AV AV AV AV SA PAL AV EPI AV AV AV HB AV HB HB TR AB VUsp 1,86 1,71 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,33 1,33 1,25 1,17 1,14 1,12 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 AB 1,00 AV 1,00 AV 1,00 AV 1,00 HB 1,00 Contiuação... 102 Contiuação... Nome comum Douradão do campo Douradinha Embaúba Erva-de-bicho Espinheira santa Esporão de galo Fruta-do-conde Gervão Gonçaleiro Gravatá Guatambu Ingá-do-mato Jaborandi Jucá Lixeira Lixinha Louro pardo Mamica-de-porca Mangava-brava Maria-pobre Marmelada-bola Melão-de-são-caetano Milho-de-grilo Murici Muricizinho Nome Científico Palicourea rigida Kunth Palicourea coriacea (Cham) K. Schum. Cecropia pachystachya Trécul Polygonum acre Lam. Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. Annona reticulata L. Stachytarpheta angustifolia (Mill.) Vahl Astronium fraxinifolium Schott Bromelia balansae Mez Aspidosperma polyneuron Müll. Arg. Inga heterophylla Willd. Piper tuberculatum Jacq. Caesalpinia ferrea Mart. Curatella americana L. Davilla elliptica A. St. -Hil Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. Zanthoxylum rhoifolium Lam. Lafoensia pacari A.St.-Hil. Dilodendron bipinnatum Radlk. Cordiera edulis (Rich.) Kuntze Momordica charantia L. Lantana lilacina Desf. Byrsonima verbascifolia (L.) DC. Byrsonima orbignyana A. Juss. Família Rubiaceae Rubiaceae Urticaceae Polygonaceae Celastraceae Cannabaceae Annonaceae Verbenaceae Anacardiaceae Bromeliaceae Apocynaceae Fabaceae Piperaceae Fabaceae Dilleniaceae Dilleniaceae Boraginaceae Rutaceae Lythraceae Sapindaceae Rubiaceae Cucurbitaceae Verbenaceae Malpighiaceae Malpighiaceae Usos Me Me Me Me Me Me Al Me Me, Me Me, Ot Al, Me Me Me Me Me Ot Me Me Me Me Me Me Me Me Hábito AB SA AV HB AB AB AV HB AV BR AV AV AB AV AV AB AV AV AV AV AB TR SA AV AB VUsp 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Contiuação... 103 Contiuação... Nome comum Negramina Panaceia Paratudo Pau-doce Nome Científico Siparuna guianensis Aubl. Solanum cernuum Vell. Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore Vochysia rufa Mart. Pau-terra macho Pé-de-anta Peroba Porangaba Quebra pedra Quina Salsaparrilha Sete sangria Suma roxa Três folha Unha de boi Velame branco Vinhático Qualea multiflora Mart. Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. Aspidosperma tomentosum Mart. Cordia sp. L. Phyllanthus orbiculatus Rich. Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. Smilax sp. L. Euphorbia sp. L. Anchietea salutaris A. St.-Hil. Galactia glaucescens Kunth Bauhinia rufa (Bong.) Steud. Macrosiphonia velame (A. St.-Hil.) Müll. Arg. Plathymenia reticulata Benth. Família Siparunaceae Solanaceae Bignoniaceae Usos Me Me Me, Ot Hábito VUsp AV 1,00 SA 1,00 AV 1,00 Vochysiaceae Me AV 1,00 Vochysiaceae Bignoniaceae Apocynaceae Boraginaceae Phyllanthaceae Loganiaceae Smilacaceae Euphorbiaceae Violaceae Fabaceae Fabaceae Apocynaceae Mimosaceae Me Me Ot Me Me Me, Ot Me Me Me Me Me Me Ot AV AV AV SA HB AV TR HB TR TR AB SA AV 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Legenda: Categorias de uso: medicinal (Me), alimento (Al) e outros (Ot) = artesanato, condimento, lenha, madeira. Vusp= Valor de uso de cada espécie; Hábito: HB= Herbácea; SA= Subarbustivo; AB= Arbustivo; AV= Arbóreo; PAL= Palmeira; EPI= Epífita; TR= Trepadeira. Origem: N= Nativa; C= Cultivada; E= Espontânea. Fonte: Autoras. 104 A valoração utilitária das espécies apresentadas na tabela 5 mostrou que 79% das mesmas possuem Vusp = 1,00, como carvão branco (Callisthene fasciculata), carvão vermelho (Diptychandra aurantiaca), mamica de porca (Zanthoxylum rhoifolium), entre outras. Outras espécies que representam muito bem o valor de uso das plantas locais (Vusp > 1,50) são: aroeira (Myracroduon urundeuva), angico (Anadenanthera colubrina), cainça (Chiococca brachiata), carapiá (Dorstenia cayapia), chico-magro (Guazuma ulmifolia), mangava mansa (Hancornia speciosa), olho-de-boi (Diospyros hispida), pau-de-óleo (Copaifera langsdorffii) e vergateza (Anemopaegma arvense). Com valoração utilitária Vusp >1,0 e < 1,5, tem-se: bocaiúva (Acrocomia aculeata), ipê-roxo (Handroanthus heptaphyllus), imbé (Philodendron imbe), barbatimão (Stryphnodendron adstringens), cumbaru (Dipteryx alata) e jatobá (Hymenaea stigonocarpa). Poucas espécies conseguiram alto valor de uso, assim como em Chocó, Colômbia, onde se constatou que a maioria das espécies utilizáveis possuía baixos valores de uso, enquanto altos valores estavam concentrados em apenas quatro espécies (GALEANO, 2000). Em Alagoinha, Albuquerque et al. (2005) também relataram a concentração de poucas espécies com altos valores de uso. Os dados revelam que algumas plantas possuem seu uso mais difundido do que outras, havendo a necessidade de produção dessas plantas para que não sejam existintas. Quanto à coleta de produtos na mata de galeria, 52% informaram nunca ter extraído produto, enquanto 48% confirmaram já ter tirado produto dessa unidade de paisagem, como madeira para construção (50%), sementes para produção de mudas (17%), frutas para consumo (9%) e sementes para confecção de biojóias (24%). Outras espécies presentes nas matas da região, como jatobá (Hymenea stignocarpa), ipê-roxo (Handroanthus heptaphyllus), inga (Inga heterophylla), quina (Strychnos pseudoquina) e cedro (Cedrela fissilis), são bastante conhecidas e utilizadas pela população local. São árvores de terra firme e de certos lugares úmidos. Sua madeira é usada para confecção de móveis, prateleiras, bancos, cercas e mourões (Figura10). Alguns frutos são comestíveis e usados como remédio na medicina caseira. Vale ressaltar que as 105 plantas lenhosas foram utilizadas apenas para atividades de subsistência e não ao comércio, assim como no estudo de Galeano (2000). FIGURA 10: Diversas formas da utilização da madeira na Comunidade São Miguel. Várzea Grande-MT. Brasil. 2014. A: Prateleira, B: Mesa, C: Banco; D: Cabo de ferramenta, E: Casa, F: Arco (para pedra). Fonte: Autoras. A característica de algumas plantas terem utilização múltipla expressa os valores dados às mesmas. Logo, aquelas que acumulam o uso de alimentar com outros dois ou três (medicinal, artesanal, madeira, etc) são as mais valoradas por serem as mais utilizadas pela população local. Angico (Anadenanthera colubrina), cumbaru (Dipteryx alata) e aroeira (Myracrodruon urundeuva) foram as espécies associadas ao maior número de categorias de uso, mas destacaram-se pelos seus usos madeireiros. Notou-se um grande constrangimento por parte dos entrevistados quando mencionaram as madeiras que foram retiradas da mata, principalmente a aroeira (M. urundeuva), considerada ameaçada de extinção conforme art. 4º da Instrução Normativa no6, de 23 de setembro de 2008. Entretanto, conforme o art. 69 da Lei Complementar n° 233 de 21 de dezembro de 2005, é permitido a utilização dessa espécie por parte dos proprietários dentro de sua propriedade, sendo proibida a sua comercialização. . Por falta de conhecimento dessa legislação por qual são amparados, os entrevistados preferem se resguardar omitindo certas informações. 106 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os quintais localizam-se no entorno das residências, oferecendo alimentos, remédios, lazer, tudo próximo a casa. O cuidado com essa unidade de paisagem é uma atividade realizada especialmente pelas mulheres, onde ocorre um sistema de plantio bem diversificado com garrafas plásticas, troncos de árvores e até mesmo diretamente no solo como as árvores frutíferas. A criação de animais domésticos do tipo bovino é para alguns uma forma de complementar a renda da família e a alimentação do dia-a-dia. Nos quintais as plantas que se destacaram quanto ao valor de uso, demostrando a sua importância para a comunidade, foram o jiló (Solanum gilo), o neen (Azadirachta indica), o café (Coffea arabica), a pimenta malagueta (Capsicum frutescens L.) e a aroeira (Myracrodruon urundeuva). Essas espécies comprovam que as espécies raras às vezes possuem mais diversificação de uso que as mais comuns. O cumbaru (Dipteryx alata), tamarindo (Tamarindus indica), abacate (Persea americana), goiaba (Psidium guajava), jenipapo (Genipa americana), coco-da-baía (Cocos nucifera), paratudo (Tabebuia aurea), tripa de galinha (Bauhinia glabra) e neen (Azadirachta indica) foram as espécies que apresentaram usos múltiplos. O boldo (Plectranthus barbatus), o algodão (Gossypium barbadense) e a terramicina (Alternanthera brasiliana) tiveram os maiores valores no Consenso do Informante. Logo, esse resultado pode contribuir para verificação da eficácia das espécies para uso medicinal, servindo como base para novos estudos farmacológicos. Tanto nos quintais quanto as matas de galeria, as plantas são utilizadas principalmente para fins medicinais. Observamos que o uso de uma planta pode ser empregada para mais de uma enfermidade, e que várias espécies podem ser usadas separadamente ou em combinação para tratar uma doença. Algumas espécies medicinais também são usadas na cura de enfermidades de animais, sendo, portanto uma opção barata para o proprietário segundo relato dos informantes locais. 107 Nas roças, os cultivos com maior número de citações foram à mandioca, o milho, a banana e a cana-de-açúcar. A variedade nos cultivos oferece uma diversificação na produção, além de uma fonte de alimento para família e para cuidar dos animais e, uma renda extra. Os adubos utilizados nas roças são procedentes dos dejetos de animais domésticos, restos de alimentos, urina de gado e folhas da manutenção do quintal. Os proprietários não possuim equipamentos agrícolas, quando necessário alugam da Associação local. A mata de galeria é muito importante para a comunidade, uma vez que proporciona remédio, alimento, madeira para construção, sementes para produção de mudas, artigos para artesanato, além de protegem a vegetação nativa. Na mata de galeria, o angico (Anadenanthera colubrina), o cumbarú (Dipteryx alata) e a aroeira (Myracrodruon urundeuva) foram as espécies com maior número de categorias de uso. Os estudos etnobotânicos podem ser uma importante ferramenta no auxilio à conservação do conhecimento de populações como a comunidade São Miguel. Portanto, esse tipo de estudo pode ser uma alternativa para evitar a perda das informações presentes na cultura da comunidade com o passar do tempo e assim evitando a erosão cultural local. 108 5. 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Para evitar a migração da população local se faz necessário o desenvolvimento de ações, como implantação de postos de saúde, acompanhamento das gestantes durante o pré-natal, inclusão do ensino médio em período diurno. A migração dos jovens em busca de melhores oportunidades sejam elas na educação ou no trabalho é evidente quando observado que 48% das famílias entrevistadas não possuem nenhum filho na propriedade, ficando apenas o casal responsável pela produtividade da propriedade. Tanto o homem quanto a mulher apresentaram posição de destaque nas atividades de conservação e biodiversidade dos quintais, introduzindo novas espécies, e mantendo formas de manejo ecológico. A interação das pessoas com o ambiente propicia experiências que resultam no desenvolvimento de um conhecimento sobre os recursos naturais e sobre o ambiente. Os quintais desempenham diversas funções socioambientais importantíssimas para vida do homem na zona rural, permite a conservação da biodiversidade, ao mesmo tempo em que valoriza os aspectos culturais da agricultura familiar. Para os moradores em questão, este ambiente corresponde à extensão de suas casas, onde a família se reúne em momentos de comemoração, descontração, etc. Trata-se de um local cujos alimentos são cultivados de acordo com o gosto e tradição das famílias, além do que muito do que se produz nos quintais é consumida pelas famílias, principalmente 115 verduras e frutas, consomem também os animais criados nesse sistema de manejo e seus derivados, essa prástica minimiza significativamente o impacto na renda das famílias e ajuda na segurança alimentar. Os quintais da comunidade em estudo, por serem de grande expansão, proporcionam o cultivo de plantas para diversas finalidades, sendo o uso medicinal a categoria mais representativa. As famílias dos entrevistados fazem uso de plantas consideradas medicinais na região para prevenção e cura de diversas doenças. Este conhecimento etnobotânco revelou a existência de 119 plantas utilizadas como medicinais demostrando que os entrevistados possuem vasto conhecimento das espécies vegetais com propriedades curativas. As roças oferecem produção agrícola (verduras, legumes) que garantem qualidade e o complemento das refeições diárias das famílias com reduzido excedente que pode ser comercializado, onde o lucro adquirido com esta venda é usado para compra de outros produtos como arroz, feijão, café, facão, entre outros nos comércios locais. E as características dessas unidades são definidas pelas condições estabelecidas pelos proprietários e pela detenção de conhecimento transmitido entre as gerações. Não existem roças coletivas na comunidade. As matas de galerias possuem uma grande função ambiental, pois preservam os recursos hídricos, a paisagem, a biodiversidade, protegem o solo, além de garantir o bem-estar das populações humanas e disponibilizar recursos para sua alimentação, tratamento de enfermidades, materiais para construção, ente outros. As unidades de paisagem oferecem meios diversificados para sobrevivência das famílias que vivem na terra e da terra, portanto são espaços que merecem ser estudados. Logo, estudos voltados para o resgaste do etnoconhecimento pode ser uma alternativa para evitar a perda das informações presente na cultura das comunidades com o passar do tempo. Tanto o Cerrado como as espécies arbóreas encontradas nessas unidades comprovam a valorização dos elementos naturais por parte da agricultura familiar, que contribuem de maneira real para a preservação da biodiversidade e a grande utilização dessas espécies para “remédios caseiros” demostra o potencial para a indústria farmacêutica. Desta forma, oferece-se 116 uma importante contribuição, a fim que surjam outras pesquisas para ampliar o conhecimento do bioma, especialmente no que se refere à exploração racional dos seus recursos naturais. As informações levantadas neste estudo reforçam a importância da região de Várzea Grande como um panorama de oportunidades para o desenvolvimento de estudos e de estratégias integradas que tendam à conservação in situ da biodiversidade local, bem como a conservação e o resgate do etnoconhecimento. Assim, a universidade, através dos Programas de Pós Graduação assume um papel importantíssimo nestas comunidades, pois através de suas pesquisas contribui para a valorização e conservação do saber local e das formas de construção deste saber. 117 5. DEVOLUTIVAS Será elaborada uma cartilha informativa como atividade devolutiva dos resultados desta pesquisa, com os principais resultados obtidos nesse levantamento etnobotânico, destacando a importância da conservação dos remanescentes florestais nativos, tanto para a manutenção da diversidade biológica, como pelo potencial de recursos vegetais que apresenta, conforme citados pelos entrevistados. Abordará também as principais plantas utilizadas na comunidade; a automedicação; cuidados com o cultivo, coleta e armazenamento das plantas medicinais; fabricação de remédios caseiros; precauções sobre o uso desses medicamentos; plantas tóxicas; indicações terapêuticas e efeitos colaterais dos vegetais. Este material será desenvolvido com linguagem acessível e com diversas ilustrações, para ser distribuído aos entrevistados da pesquisa e para a biblioteca da escola local. 118 ANEXOS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado (a) a participar como informante, em uma pesquisa sobre conhecimento popular. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assino no final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e outra e do pesquisador responsável. Em caso de dúvida, você pode entrar em contato com a Coordenadação da Pós-graduação de Ciências Florestais e Ambientais. INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do projeto: A Etnobotânica na Comunidade São Miguel, Várzea Grande, MT. Pesquisadora Responsável: Jeneffer Soares dos Santos Mamede Pesquisadora Orientadora: Prof. Dra. Maria Corette Pasa/UFMT Telefone para contato: (65) 3615-8685 Nome e assinatura do pesquisador: CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO Eu, ____________________________________, portador do RG ___________________ e CPF _______________________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo como informante, disponibilizando informação de interesse da pesquisa como relatos, gravações e fotografias, desde que não me exponha perante a comunidade. Fui devidamente informado e esclarecido pela pesquisadora sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos. Local e data: _______________________________________________ Nome e assinatura do sujeito ou responsável: __________________________ 119 FORMULÁRIO 1. Nome:.............................................................................................................. 2. Sexo: .............................................................................................................. 3. Idade: .............................................................................................................. 4. Estado de Origem: .......................................................................................... 5. Estado Civil:.................................................................................................... 6. Grau de Escolaridade: .................................................................................... 7. Quanto Tempo Reside no Local?.................................................................... 8. Religião da Família?........................................................................................ 9. Número de Pessoas na Família:..................................................................... 10. Número de filhos: 11. Todos Trabalham Na Propriedade? (....) Sim (....) Não 12. Quem trabalha fora desenvolve qual atividade?............................................. 13. Tem alguém aposentado? Quantos?.............................................................. 14. Que atividade exerce atualmente?.................................................................. 15. Que tipos de cultivos possuem na propriedade?............................................ ............................................................................................................................... ............................................................................................................................... 16. Faz algum tipo de artesanato? (...) Sim (...) Não 17. Qual?............................................................................................................... 18. Em que situação? (....) Uso Próprio (....) Para Vender (....) Outros 19. De onde vem a água que vocês usam para beber e cozinhar?...................... 20. Quais os implementos agrícolas que vocês usam?........................................ PLANTAS MEDICINAIS 21. Tem plantas que curam? Quais são? Modo de preparo? Qual parte da planta usa? Seca ou fresca? É associada a outras plantas? Como é armazenada?........................................................................................................ ............................................................................................................................... 22. Como aprendeu? ............................................................................................ 23. Frequência de uso?......................................................................................... 120 DADOS DO I MÓVEL 24. Forma de apropriação do imóvel: ( )proprietário ( )aluguel 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. ( ) mora de favor ( )outro Documento que possui: ................................................................................. Dimensão do imóvel: ...................................................................................... Área construída: ............................................................................................. Área de (quintal): ....................................outras áreas: ................................ Tipo de habitação: (...) Alvenaria (...) Madeira (...) Estuque Possui energia elétrica? ................................................................................. Possui água encanada? ................................................................................. Possui fossa séptica? ..................................................................................... QUINTAL 33. Localização do quintal: ( )fundos ( )ao lado ( )na frente 34. Planta no quintal? ( ) sim ( )entorno ( ) não 35. Ha quanto tempo............................................................................................ 36. Por quê?......................................................................................................... 37. Quais as plantas remanescentes da vegetação natural? ........................................................................................................................................... ............ 38. Quem cuida do quintal?.................................................................................. 39. Quanto tempo gasta diariamente cuidando do quintal?.................................. 40. Qual época do ano tem mais trabalho com o quintal?.................................... 41. como planta? (conhecimento empregado): .................................................... ........................................................................................................................................... ............ 42. Com quem aprendeu a plantar? ..................................................................... 43. O que faz com as folhas e restos de capinas do quintal? 44. ( )queima ( )joga no lixo ( )faz adubo (composto) ( ) outro 45. Caso faça composto, explicar como?............................................................. ........................................................................................................................................... ........... 46. Compra algum insumo para usar no quintal? ( ) não ( ) sim 47. Quais?....................................................................................................................... 48. Cultivam plantas em outras áreas da residência? ( ) sim ( ) não 121 49. Onde? Quais? Para que? ................................................................................ 50. Usa os resíduos: ( ) na horta ( )nas fruteiras ( ) nas ornamentais( )vende 51. Outras utilidades das plantas no quintal.......................................................... Dados sobre atividades realizadas no quintal 52. É costume reunir no quintal? ( ) sim ( ) não 53. Paraque?.................................................................................................................. ............ 54. Outras atividades no quintal (por que?):......................................................... ............................................................................................................................... 55. Qual a importância do quintal para o sr.(a)? ................................................. 56. Você já tirou/tira produtos da mata?............................................................. 61. Quais as plantas, por que e para que? ............................................................................................................................... ............................................................................................................................... Animais 57. Cria animais na residência? ( ) sim ( ) não 58. Quais as espécies? 59. Quantidade (unidade): .................................................................................... 60. Instalações:( ) cercado ( ) solto 61. Alimentação: 62. Que animais são encontrados no quintal?..................................................... ............................................................................................................................... 63. Existem animais no quintal que prejudicam o crescimento e Desenvolvimento das plantas?............................................................................. ............................................................................................................................... 64. Como lidam com esses animais?.................................................................. ............................................................................................................................... 65. Como eles agem nas plantas?................................................................................................................. .............. 122