Universidade Católica de Brasília – UCB Graduação em Medicina Interno em Pediatria – 11° semestre Relato de Caso - Priapismo no Recém-Nascido Apresentação: Camila Laiana, Nathalia Merheb Coordenação: Paulo R. Margotto Brasília, 25 de julho de 2014 www.paulomargotto.com.br Identificação • • • • • • • • RN de E.S.S Data Nascimento: 18/05/2014 as 11:37 Sexo masculino Peso ao nascer: 2.620g IG: 36+6 Estatura: 47cm Perímetro cefálico: 34cm Apgar: 7/8 – RN, nascido de parto normal, bolsa rota há 4 horas, liquido claro, apresentação cefálica, não chorou ao nascer, aspirado boca e nariz , realizada ventilação por pressão positiva (VPP) com bolsa e máscara. – Apresentou taquipnéia, batimento de asa de nariz e leve tiragem subcostal. Antecedentes Maternos Pré-natais • • • • • • Idade da mãe: 20 anos G1P1C0A0 Tipagem sanguínea: O+ Consultas PN: 5/ iniciadas no 2° trimestre Data da última menstruação: 03/09/2013 Sorologias: – – – – – HIV e VDRL solicitados na admissão não reagentes HIV: neg VDRL:neg Hepatite B: neg Toxoplasmose: neg – mãe internou em trabalho de parto no dia 18/05/2014, usou sulfato ferroso e acido fólico. – Intercorrências durante gestação: Infecção do trato urinário no 2° trimestre. Evolução • 18/05/2014 – 14:29 (2h40min de vida) – Recém-Nascido (RN) evoluindo com melhora progressiva do desconforto respiratório, com retirada gradual da oferta de Oxigênio por HOOD. Saturando 99% em ar ambiente sem desconforto. Glicemia capilar: 73mg/dl. Liberado seio materno e encaminhado ao Alojamento Conjunto (ALCON). • 19/05/2014 – 13:45 (26 HORAS DE VIDA) – RN evoluindo bem em ALCON, com boa sucção ao seio. Mãe sem colostro. Aceitando bem dieta no copo. Eliminações fisiológicas. – AO exame: • genitália: testículos não palpáveis na bolsa. Priapismo. – CD: • Complemento + auxílio do Banco de Leite • Solicitado ecografia de região pélvica e genital. • 20/05/2014 – 11:50 (2 dias de vida) – Distopia testicular – Ao Exame: testículo esquerdo palpável em região ventral do pênis + priapismo. Testículo direito não palpável. – CD: solicitado parecer da Cirurgia Pediátrica com urgência; • 22/05/2014 – 23:37 (4 dias e meio de vida) – Gemente, taquidispneico e com sucção débil. No momento da Visita encontrava-se: • mal perfundido, taquidispneico, hipoativo e desidratado leve. • Ao exame: – Regular estado geral, corado, desidratado ( mucosas secas), ictérico ++/zona III, Frequência Cardíaca (FC): 170-185bpm, Frequência Respiratória (FR): 70irpm. – AR: tiragem subcostal leve – EXT: aquecidas, pulsos cheios e simétricos, pele mosqueada. • Conduta: - Dieta zero - Fase rápida (20ml/kg com SF 0,9%) agora - Colho exames (hemocultura, hemograma, PCR e bilirrubinas) - Hidratação Venosa. Com taxa hídrica de 120ml/kg e taca de infusão de glicose (TIG) de 4mg/kg/min. - Incubadora aquecida, monitorização, curva térmica - AGUARDA parecer de urgência à cirurgia pediátrica • 22/05/2014- 23:58 (4 dias e meio de vida) • Apresentou melhora após fase rápida: Regular estado geral, corado, hidratado, acianótico, ictérico ++/zona III, normotérmico, mais ativo e reativo. Sat 96% / FC 150 batimento por minuto/ FR 65 incurssões respiratórias. • AR: MVF, sem ruídos adventícios, presença de tiragem intercostal leve. • Diurese e mecônio em fralda. • Conduta: - Rx de tórax -O2 livre na incubadora (2L/min) para conforto -Solicitado urgência nos exames • 23/05/2014 – 00:56 – RN regulado para Unidade de Cuidados Intensivos • Resultado exames: Hemograma: 3,16 hemácias/11,4 Hb/34,2 HTC/3300 leucócitos: neotrófilos totais 53%/seg 53%/ 0 bastões/ 1%eos/ 0 baso/ 6% mono/ 40%linfo/ plaquetas 76000. BT: 12,4 - BD: 1,3 - BI: 11,1 • Conduta: ampicilina e gentamicina • 23/05/2014 – 09:36 (quase 5 dias de vida) – paciente com piora do estado geral. Sob Ventilação mecânica com FiO2 50%. Em uso de Dobutamina, cefepime e vancomicina. Necessita UTI Neonatal. – Prioridade definida em 1. • 23/05/2014 – 10:27 – sucção ineficaz e taquipnéia importante, desidratada, taquicárdica,pele mosqueada; – Puncionado acesso periférico, feita expansão volêmica, iniciada HV e Ampicilina + Genta; – Colhido hemograma : leucopenia e plaquetopenia, Bilirrubinas sem nível de fototerapia. – Piora clinica, apresenta edema importante do pênis, com priapismo. Oligúrico. – Nova expansão volêmica e intubação orotraqueal. Instalada sonda vesical de demora com saída de 30 mL de urina muito concentrada . Passado PICC em membro superior direito. – Ao exame: Ausculta pulmonar: MV rude, roncos difusos. • Conduta: - Dieta zero - Repetido expansão volêmica. - Hidratação venosa com Taxa hídrica total de 175mg/kg e TIG de 4mg/kg/min, Na+ 3%, sem potássio. - Dobutamina de 5, fentanil de 0,96, cefepime e vancomicina. - Solicitado radiografia de tórax. - Aguardando avaliação da cirurgia. - Aguardando transferência à UTI Neonatal • 23/05/2014- 13:24(5 dias de vida) – Sangramento vivo em pequena quantidade no tubo orotraqueal e resíduo gástrico escuro e com rajas de sangue discretas. – Feito dose de vitamina K e prescrito omeprazol. – Recebeu 2 expansões volêmicas de 20mL/kg cada, porem urinou apenas 20mL de urina muito concentrada em saco coletor. – Feita furosemida 1 mg/kg/dia e aumentada a dobutamina para 10mcg/kg/min. • Conduta: – Colhido coagulograma, eletrólitos, ureia e creatinina • 14:33 – RN mantendo grave, edemaciado, sem diurese significativa após primeira dose de furosemida. Ritmo de galope e fígado a 2cm do RCD. • Conduta: Feita novamente furosemida 1mg/kg/dia • 15:08 – Transferido para UTI Neonatal do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), sem intercorrências. • ADMISSÃO UTI Neonatal – HRSM – RN em incubadora, intubado, ventilado em ambu com PICC em MSD e sonda vesical de demora, com 6 dias de vida. – Tentando contato urgente com a Cirurgia Pediátrica. • Admissão no HRAS/HMIB: 24/05/2014 – 01:27 – RN deu entrada transportado pelo SAMU, intubado, ventilado com ventilador manual (CFR), PICC funcionante, infundindo Dobutamina (10), Fentanil (1,4), sonda vesical de demora, oximetria de pulso. RN extremamente irritado. Encaminhado p/ este Serviço p/ avaliação da Cirurgia Pediátrica quanto ao • Conduta: -Jejum + restrição hídrica 600ml/m2/SC -Hemodinâmico: Dobutamina de 10ug/kg/min.. -Furosemida: 3 mg agora -Sedação: Fentanil: 1ug/kg/min -Exames laboratoriais + Rx tórax -Suspenso Vancomicina e prescrito Teicoplanina. • 24/05/2014 – 08:00 – Grave, em Ventilação Mecânica com FiO2 de 40%. – Levemente hipocorado, hidratado, com perfusão aceitável. Ausculta respiratória: rude, levemente diminuído em hemitórax esquerdo, sem dispnéia, com edema generalizado moderado. – Conduta: mantida + RX de tórax e abdome. – Exames: Bilirrubina total: 12,53.BD: 2,81 BI: 9,72. Ca: 10,3; Creatinina: 1,70;Mg:2,3;Potássio: 5,10; Sódio: 128,0; Uréia: 67 • HEMOGRAMA COMPLETO ***** Eritrograma ***** • Hemácias: 2,62 x10 6/uL (3,90 - 5,30) VCM: 95,4 fl (75,0 -80,0) • Hemoglobina: 9,1 g/dL (16,0 - 24,0) HCM: 34,7 pg (28,0 - 30,0) • Hematócrito: 25,0 % (28,0 - 40,0) CHCM: 36,4 g/dL (33,0 -37,0) • RDW: 17,0 % (12,0 - 17,0) • ***** Leucograma ***** • Leucócitos: 4,8 x10 3/uL 103/uL (6,5 - 18,0) • Neutrófilos Totais: 81,0 % (40,0 - 78,0) 3,9 (2,8 - 15,4) • Bastonetes: 7,0 % 0,3 • Segmentados: 74,0 % 3,6 • Eosinófilos: 0,0 % (1,0 - 4,0) 0,0 (0,2 - 1,0) • Basófilos: 0,0 % (0,0 - 3,0) 0,0 (0,0 - 0,4) • Monócitos: 4,0 % (6,0 - 13,0) 0,2 (0,3 - 9,7) • Linfócitos: 15,0 % (38,0 - 58,0) 0,7 (2,0 - 15,0) • Plaquetas: 24 x10 3/uL (150 - 450) • 26/05/2014 – Ultrassonografia (USG) testicular e peniana : testículo D não identificado. Testículo E tópico. Pequena hidrocele à E. Coleção e debris na face ventral da base do pênis, em íntima relação com os corpos cavernosos sem fluxo ao Doppler (volume 1,2 mL). – Iniciado ketamina • 27/05/2014 – 1°Dia pós-operatório (DPO) (figura abaixo):drenagem de abscesso peniano – Carvenite • Melhora parcial do priapismo, curativo drenando pequena quantidade de secreção serohemática. • Suspenso Ketamina. • USG transfontanela normal. • Triagem auditiva neonatal sem alterações. • Ecocardiograma : Foramen oval patente. Margotto PR • 28/05/2014 (com 10 dias de vida) – Genética: fáscies sem dismorfias significativas, orelhas pequenas com sobredobramento de hélices, sindactilia cutânea parcial entre 2ºe 3º pododáctilos, genitália típica masculina. • 28/05/2014 – 17:31 – Bom estado clinico, extubado e colocado em HOOD (capacete). Boa diurese por Sonda vesical. Após drenagem paciente evoluiu com melhora do priapismo, sem débito serosanguinolento pelo orifício de drenagem hoje. • 29/05/2014 – Evoluindo bem, aguardando discussão com Urologista sobre retirada da sonda. – AS 21:19 – retirado sonda vesical de demora. Iniciar sucção no peito materno. • 30/05/2014 – Hemocultura: crescimento de Enterococo sensível à ampicilina. Na cultura da secreção de abscesso mesmo germe + S. aureus e E. coli – ampicilina por 4 dias. • 31/05/2014 – evoluindo bem. • 01/06/2014 (com 14 dias de vida) – apresentou vômitos e choroso. No momento da visita apresentava-se em bom estado geral. – Vespertino: continua choroso, irritado. Sem febre. Apresentou novamente episódios de vômitos após dieta no copinho. – Exame físico: desidratado. • Hipótese diagnóstica: Síndrome de Abstinência? Meningite? Desidratação CD: Prescrito fase rápida, hidratação venosa com TIG de 3mg/kg/minuto. Sonda orogástrica para dieta (mantido 40 ml 8x),Fentanil – push. Iniciado metadona 0,05 mg/kg/dose 12/12h 02/05/2014 (com 15 dias de vida) - Apresentou saída de urina pelo orificio de drenagem do abscesso peniano (figura abaixo). - iniciado Domperidona. 04/06/014: - Discutido com a Cirurgia Pediátrica: provável fístula. Reavaliação em 48 horas. Mesmo após estimulo, não foi observado diurese pelo meato. – Passou a tarde irritado, choroso, com vários episódios de vômitos. – Feito 1x expansão. 05/06/2014 (com 18 dias de vida) - Sem vômitos nas 24 horas. - Eliminação de diurese na face lateral esquerda, corpo peniano com fistula uretral. Apresentou diurese pelo local de drenagem do abscesso peniano. - (vide figuras) - 06/06/2014 - Evoluído bem Camila Laiana - Conduta: - Progressão da dieta para 50 ml 8x, tentar translactação e copo - Suspender hidratação venosa no final - Mantido metadona 1x/dia Margotto PR • 08/06/2014 – Passado sonda vesical de demora com Alta Hospitalar e retorno em 3 semanas ao Ambulatório da Cirurgia Pediátrica. – Cefalexina 50mg/kg/dia 6/6horas por 7d. PRIAPISMO NEONATAL (ereção prolongada no recém-nascido) DISCUSSÃO CLÍNICA Dust N, 2011 Introdução O termo priapismo tem sua origem histórica, em referência ao deus grego Príapo, que era adorado como deus da fertilidade e possui em suas representações, a peculiar característica, de apresentar um falo muito grande. Ladeia AMA, 2013 Download - Faculdade de Medicina da Bahia Introdução O priapismo é definido como uma ereção persistente e prolongada não associada a um estímulo sexual(Aktoz et al), e que não termina em ejaculação (Sood et al) e a maioria dos casos resolve-se espontaneamente em 5 dias (Burgu et al). •Os recém-nascidos (RN) masculinos frequentemente apresentam ereções com leve estimulação táctil e geralmente são iniciadas or uma bexiga cheia (Aktoz et al). •Ereções demonstram que os nervos do pênis são normais (Aktoz et al). •Outros autores discutem que “priapismo neonatal” não é um termo apropriado e recomendam chamar de “ereção prolongada no RN”) (Aktoz et al). Introdução • O priapismo é considerado uma patologia rara no RN; no entanto, as possíveis consequências de um tratamento impróprio torna o seu manuseio clinicamente relevante (Meijer e Bakker, 2003). • Faltam revisões do manuseio e seguimento do priapismo neonatal (Meijer e Bakker,2003) • O primeiro caso de priapismo em um recém-nascido foi descrito em 1876, por Nuckols (Meijer e Bakker, 2003). Tornou-se mais frequente após 1980, com a introdução de injeções de drogas vasoativas intracavernosas para a disfunção erétil (Sood,2006). Etiologia • Apenas 17 casos de priapismo neonatal foram relatados na literatura desde 1876 (Dust et al,2010) – 10 casos idiopáticos; – 4 casos policitemia; – 2 casos sífilis congênita e trauma no parto (fórceps); – 1 casos piocavernosite bilateral. Etiologia Em 15 casos (todos sem relato de dor), veja o a idade de início, tratamento, duração, possível causa e seguimento. Em 12 casos, o manuseio foi conservador (Aktoz et al, 2010) Portanto, a etiologia idiopática é a mais comum, seguida da policitemia. A piocavernosite espontânea bilateral foi descrita por Sood et al (2006) Fisiopatologia • A fisiopatologia do priapismo não está totalmente esclarecida (Amlies et al,1977;Burgu et al, 2007; Dust et al, 2011;Aktoz et al, 2010) • Envolvendo: – Estase venosa (transfusão sanguínea:a hipoxia pode ter causado constrição vascular, sendo a hipótese:a combinação de mudanças hemodinâmicas e transfusão sanguínea causoando a estase no plexo venoso da pelves)(Meijer e Bakker, 2003) – Aumento da viscosidade sanguínea (policitemia causa aumento da viscosidade sanguínea, impedindo a saída do sangue do pênis (Meijer e Bakker,2003) – Isquemia vascular; • Priapismo se divide: – Isquêmico (veno-oclusivo) – Não isquêmico (arterial) Fisiopatologia A drenagem venosa do pênis é realizada por um plexo venoso que se une à veia dorsal profunda do pênis que por sua vez drena para o plexo prostático. O sangue dos revestimentos superficiais do pênis drena para as veias dorsais superficiais que drenam para a veia pudenda externa superficial.Veja a vascularizalçao do pênis Ladeia AMA, 2013 Fisiopatologia • Ereção normal: Estímulo Óxido Nítrico Detumescência Flacidez peniana + ↓ fluxo sanguíneo PDE-5 Relaxamento dos corpos penianos + ↑ fluxo sanguíneo Ereção Classificação • Priapismo isquêmico (baixo fluxo ou veno-oclusivo): Meijer e Bakker,2003; – É o mais frequente; Burgu et al, 2007; Dust et al, 2010 – Doloroso; – Diminuição do retorno venoso + estase vascular isquemia tecidual; – Fluxo sanguíneo diminuído ou ausente no corpo cavernoso; – Emergência clínica: • Pode evoluir com fibrose dos corpos cavernosos disfunção erétil; Piocavernosite (o presente caso!) – Amostra sanguínea do corpo cavernoso: • Hipoxia, hipercapnia e acidose. Classificação • Priapismo não isquêmico (alto fluxo ou arterial): Meijer e Bakker,2003; Burgu et al, 2007; Dust et al, 2010 – Mais associado ao priapismo em RN; – Aumento do fluxo arterial + retorno venoso normal elevação da pressão parcial de oxigênio; – Em geral, ereção é indolor; Aktoz T et al, 2010 – É comum relato de antecedente de trauma perineal ou peniano; – Não há hipóxia ou acidose na amostra sanguínea do corpo cavernoso. PIOCAVERNOSITE Sood et al (2006) relatam um caso de priapismo neonatal associado a piocavernosite espontânea bilateral • A criança chegou ao Pronto Socorro com história de 20 dias de priaspismo e febre há 4 dias com edema peniano. • Ao exame:pênis ereto, quente, eritematoso, com um elevação na base (Figura 1) • Realizado aspiração cavernosa e evidenciou franco pus, sendo tratado com drenagem e antibiótico(cultura: Klebisella) • Com 9 meses, houve uma recuperação funcional total com função erétil normal (Figura 2) • Os autores propõem uma possível fisiopatologia (Figura3) Devido a longa apresentação, é difícil determinar se a piocavernosite foi a causa ou a consequência do priapismo neste caso (Dust e al, 2011) Fig.1. Exame local sob anestesia mostrou pênis ereto com uma elevação na base (seta) Fig. 2. Fotografia da bexiga cheia, no seguimento, mostrou forma e turmescência normais do pênis (Sood R et al, 2006) Fisiopatologia Fig. 3-Possível fisiopatologia do presente caso Sood R et al, 2006 Diagnóstico Torna-se importante descriminar as duas formas de priapismo (não isquêmico e isquêmico) que pode ser feito através de: (Dust et al, 2011;Burgu et al, 2007;Meijer e Bakker, 2003) • Ultrassonografia Doppler peniano:essecial para documentar o fluxo arterial normal – Pode evidenciar sinais de fístula artériocavernosa e aumento de fluxo nas artérias cavernosas; • A ultrassonografia com Doppler permite a obtenção de imagens vasculares com fluxo colorido, confirmando a presença de fluxo sanguíneo e sua direção, detectando estenose, oclusão e lacerações de vasos, avaliando a perfusão dos órgãos e caracterizando a dinâmica do fluxo sanguíneo para detectar anormalidades fisiológicas. • Reservado em condições excepcionais em consulta com o urologista pediátrico: Gasometria dos corpos cavernosos (sangue vermelho brilhante, sem acidose, hipoxia e hpercapnia, pensar em Priapismo Nãoi Isquêmico ou de Alto Fluxo Arterial) • Arteriografia (Cherian J, 2006) – Indicada no priapismo não-isquêmico embolização seletiva. • A arteriografia deve ser considerada apenas em casos de priapismo de alto fluxo resistente a terapia medicamentosa . Nestes casos o exame visa à definição do vaso lesado para a realização da embolização Diagnóstico Figura (A,B) RN com priapismo no dia 1; Ultrassom Doppler no 20 dia de vida:(C) fluxo arterial normal no pênis no ultrassom Doppler; (D) fluxo venoso normal no pênis no ultrassom Doppler Este RN apresentou priapismo com 4 horas de vida; persistiu por 2 dias, com melhora da rigidez e detumescência no final do 4º dia de vida BURGU B, 2007 Ereção persistente em um recém-nascido com 1 dia de vida Dust N et al, 2011 Fluxo arterial normal no ultrassom Doppler do pênis Em um recém-nascido com priapismo Manuseio A principal preocupação é a preservação da função erétil; necessitam de mais publicações que incluem a puberdade; os poucos casos publicados de prispismo com disfunçaõ eétil se deveram a doença falciforme (devido à abundância de hemoglobina fetal no RN esta casa praticamente não existe no período neonatal (Meijer e Bakker, 2003) • Medidas gerais A avaliação inicial deve excluir causas secundárias como policitemia, condições neurológicas ou obstrução urinária e tratá-las, sendo fundamental a realização do Doppler (Dust et al, 2011). • Como o priapismo no período neonatal possa representar uma forma relativamente benigna de priapismo não-isquêmico, é justificável apenas a observação inicial mais do que uma intervenção agressiva (Dust et al, 2011). • O manuseio conservador com rigorosa observação é apropriada em muitos casos de priapismo neonatal idiopático (a maioria resolve espontaneamente dentro de aproximadamente 5 dias sem graves sequelas)(Burgu et al, 2007). • Compressas frias no pênis, porém seu uso é controverso (Cherian J, 2006) • priapismo não isquêmico constrição do vaso lesado resolução; • Priapismo isquêmico aumento da isquemia, piorando o prognóstico. Manuseio Analgesia Uso de Ketamina no priapismo • Pietras JR et al(1979): - em dois meninos de 2 e 4 anos que desenvolveram ereção após reparo de hipospádia -0,5mg/kg/peso -detumescência entre 1-2 minutos • Stothers e Ritchie (1992): – RN de 3,6 kg;priapismo idiopático – Administração de 0,3 mL de solução de cloridrato Ketamina a 1% por via intravenosa associada sob supervisão anestésica – Evoluiu com detumescência rápida. Uso de Ketamina no Priapismo (Em adultos!) • Villalonga A et al, 1985: • Caso – Homem de 44 anos, 70 kg, foi internado com quadro clínico priapismo idiopático com duração de 12 horas; – Exames laboratoriais normais; – Sem comorbidades; • Tratamento: – – – – Ketamina 2 mg / kg; Neostigmina 1 mg; Diazepam 5 mg; atropina não foi dado; Uso de Ketamina no Priapismo (Em adultos!) • Segundo Villalonga A et al (1985): Na revisão da literatura por Ravindran et al: – Gale, o primeiro a usar, recomenda uma dose de 1 mg/kg; – Ravindran et al., recomendam a associação ketamina (0,5 mg/kg) + fisostigmina (1,5 mg); • Fisostigmina pode estimula o sistema parassimpático periférico relaxamento dos esfíncteres penianos; – A associação Ketamina e neostigmina pode ser mais eficaz em comparação a combinação de Ketamina e fisostigmina. Uso de Ketamina no Priapismo Nem sempre funciona! (Em adultos!) • • Apaddu B e Calder I (1990): -homem de 68 anos com priapismo após hemorroidectomia e resecção periuteteral da próstata -apresentou priapismo no final da hemorrodectomia, não sendo feita então, a a ressecção prstática como planejado -foi usada ketamina sem sucesso e o cirurgião injetou na parte fina do pênis, 1 mg de metaraminol (estimulante alfa adrenoreceptor, comercialmente conhecida como AraminR), ocorrendo a detumescência e a ressecção da próstada foi realizada. A ereção reapareceu 30 minutos depois, mas a a cirurgia foi completada. Assim, faltam evidências no período neonatal para o uso de ketamina no priapismo. • Se usar, segundo Aydin M; Dong C, Anand KJS e Bai X et al considerar o seu uso por tempo restrito devido as suas graves consequência no desenvolvimento cerebral:o bloqueio dos receptores NMDA por somente poucas horas durante o período fetal tardio ou neonatal precoce pode iniciar uma ampla neurodegeneração apoptótica no cérebro. Os receptores NMDA controlam a sobrevivência neuronal. Tratamento Cirúrgico • Deve ser considerado para ereções que persistem por mais de 5 dias e que apresentaram falha ao manuseio conservador (Burgu et al, 2003) • A seguir, os autores Sood et al propõem um algoritmo para esta condição rara na Neonatologia. Rajeev Sood; Surender Nath Wadhwa; Vikas Jain. Neonatal Priapism Associated With Spontaneous Bilateral Pyocavernositis. Ann Acad Med Singapore 2006;35:425-7. Referências • • • • • • • • • • NICHOLAS DUST MD, THIERRY DABOVAL MD FRCPC, LUIS GUERRA MD. Evaluation and management of priapism in a newborn: A case report and review of the literature. Paediatr Child Health 2011; 16:e6-e8. T. AKTOZ; A. TEPELER; E. O. GUÜNDOGDU; U. OZKUVANCI; A. Y. ÜSLÜMANOGLU. Priapism in the newborn: management and review of literature. Andrologia 2010:43:65–67. BURGU B .; TALAS H.; ERDEVE O.; KARAGOL B. S.; FITOZ S.; SOYGUR T. Y.; Approach to newborn priapism: A rare entity . Journal of Pediatric Urology 2007; 3: 509e511. Rajeev Sood; Surender Nath Wadhwa; Vikas Jain. Neonatal Priapism Associated With Spontaneous Bilateral Pyocavernositis. Ann Acad Med Singapore 2006;35:425-7. BOAZ MEIJER; HERMAN H. R. BAKKER. management of priapism in the newborn. Urology 2003:61: 224XVIXVIII RAGNAR N. AMLIES; BLAISE BOURGEOIS, ROBERT F. HUXTABLE.Priapism in preterm.Urology 1997;IX:558559 APPADU B, CALDER I. Ketamine does not always work in tretment of priapism. Anaesthesia 1991;46: Sup. 426-427 VILLALONGA A.; BELTRAN J.; GOMAR C.; NALDA M.A.; Ketamine for treatment of priapism. Anesth Analg 1985; 64: Supl. 1033-1034. CHERIAN J, RAO A R, THWAINI A, KAPASI F, SHERGILL I S, SAMMAN R. Medical and surgical management of priapismo. Postgrad Med Journal 2006; 82:89–94; LADEIA AMA. PRIAPISMO NA INFÂNCIA: Uma revisão de literatura enfocando diagnóstico, etiologia e terapêutica,2013. Disponível em:[PDF]Download - Faculdade de Medicina da Bahia Consultem artigos integrais Aqui e Agora! • Evaluation and management of priapism in a newborn: A case report and review of the literature. • Dust N, Daboval T, Guerra L. • Paediatr Child Health. 2011 Jan;16(1):e6-8. • Management of priapism in the newborn. • Meijer B, Bakker HH. • Urology. 2003 Jan;61(1):224. Portanto.... • Priapismo é uma condição patológica de ereção peniana não relacionada à estimulação sexual. Há duas formas distintas de priapismo: arterial (não isquêmico; alto fluxo) e a veno-oclusiva (isquêmico; baixo fluxo), sendo esta, sempre dolorosa, associada à hipoxia, pode causar fibrose nos corpos cavernosos e frequentemente leva disfunção erétil; a forma arterial não é considerada emergência e tem resultado funcional melhor. O ultrassom é mandatório na diferenciação destas duas formas de priapismo. Entre as causas possíveis: policitemia e transfusões sanguíneas (aumento da viscosidade e alterações hemodinâmicas causadas pela policitemia e transfusão sanguíneas pode impedir a saída de sangue do pênis). Anemia falciforme não tem sido a causa em recém-nascidos devido ao predomínio da hemoglobina fetal no recém-nascido (em crianças, é causa em 70% dos casos). O presente caso tratou-se de um priapismo isquêmico, doloroso, diagnosticado pelo ultrassom Doppler. • Desde 1867, tem sido descritos 15 casos e em somente 5 tiveram suas etiologias identificadas (policitemia em 4 e transfusão sanguínea em 1). A maioria dos casos resolve-se espontaneamente em 5 dias. Consequência indesejáveis a longo prazo, como disfunção erétil, como vista em pacientes mais velhos, não tem sido evidenciadas no grupo de recém-nascidos. Terapia conservadora parece ser a melhor abordagem no caso de priapismo iatrogênico que começa geralmente entre o 1º e o 2º dia de vida (embora o prematuro pode iniciado com 37 dias de vida!) e dura entre 4-5 dias de vida (variou de 2-12 dias!) e não se associa com descoloração do pênis e escroto e dor. Considerar abordagem cirúrgica se persiste por mais de 5 dias. Quanto ao presente caso: a piocavernosite pode ser consequência do priapismo prolongado (aspiração do corpo cavernoso é purulento). Discute-se se é causa ou consequência. Discute-se a evidência da ketamina (limitada a 2 casos)! Agora, só em 2018 (vai ser russo!) Obrigada! Dda Nathália Dda Camila Dr. Paulo R. Margotto e Estudantes da ESCS e Universidade Católica de Brasília