O PRECONCEITO TEM SIDO OBJETO DE ESTUDO DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO? NOTAS SOBRE UM LEVANTAMENTO1 VIEIRA, Renata de Almeida – UEPG [email protected] DUCATTI-SILVA, Kelly Cristina – UEPG [email protected] Eixo Temático: Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O preconceito, na condição de fenômeno social, faz-se presente nos diversos espaços de convivência humana, entre eles, na escola, instituição à qual tem sido colocado o desafio de lidar com a diversidade que constitui os seres humanos, assim como lidar com os processos de preconceito e exclusão vivenciados ante as dificuldades geradas sob novos contextos e demandas. Os problemas e desafios presentes no contexto escolar constituim-se em um dos focos de interesse e investigação de pesquisadores, sobretudo os que se situam no âmbito da educação. Nesse sentido, acredita-se em profícuo diálogo que pode ser estabelecido entre comunidade escolar e pesquisadores em educação, diante de temas urgentes e desafiadores, tal como é o preconceito, tema deste trabalho. Com o objetivo de levantar as produções acadêmicas de dissertações e teses dos Programas de Pós-Graduação em Educação do Estado do Paraná, foi desenvolvida uma investigação pautada na seguinte questão norteadora: O fenômeno preconceito tem sido objeto de estudo de pesquisadores vinculados aos programas de pós-graduação em educação (stricto sensu), do Estado do Paraná? Trata-se de um estudo exploratório de caráter bibliográfico. Para sua concretização elegeu-se como fonte os resumos de dissertações e teses disponibilizadas pelas bibliotecas digitais das instituições de ensino superior localizadas no Estado do Paraná, além de referências bibliográficas básicas acerca do tema preconceito (AMARAL, 1998; BIANCHETTI, 1998; BORNIOTO, 2002; SCHIFF, 1993; TESSARO, 2004; VIEIRA, 2008). Mediante o resultado obtido, considera-se a necessidade de mais estudos acerca da temática preconceito, a fim de melhor vislumbrar os rumos tomados e os rumos a tomar na pesquisa em educação e nos desdobramentos desta na prática escolar, infestada de preconceitos, mas também dotada de potencial para lidar com a diversidade humana. Palavras-chave: Preconceito. Educação. Pesquisas em Educação. 1 O levantamento contou com a colaboração das acadêmicas Adriane Mildenberg, Adriana Aparecida Sartori Starke, Elaine Vaz Ribeiro de Camargo e Keila Hecke, participantes do Grupo de Estudos em Formação de Professores e Preconceito na Escola, registrado na Pró-reitoria de Extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa. 12219 Introdução Na atualidade, o preconceito tem adquirido uma variedade de formas e conotações. Em sua condição de fenômeno social o mesmo se faz presente nos diversos espaços de convivência humana, entre eles, na instituição escolar. A esta instituição tem sido colocado o desafio de lidar com a diversidade que constitui os seres humanos, assim como lidar com os processos de preconceito e exclusão vivenciados ante a dificuldade da comunidade, seja a escolar ou a comunidade em geral, com novos contextos e demandas. Problemas e desafios presentes no contexto escolar tem sido, há muito, foco de interesse e investigação de pesquisadores, sobretudos os que se situam no âmbito da educação. Nesse sentido, acreditamos em profícuo diálogo que pode ser estabelecido entre comunidade escolar e pesquisadores em educação, diante de temas urgentes e desafiadores, tal como é o tema preconceito. O preconceito é uma temática, entre tantas outras, que consideramos que precisa ser discutida por professores, profissionais e pesquisadores em educação, aliando vivências e problemáticas do contexto escolar aos estudos teóricos, a fim de se desencadear uma análise proveitosa, com desdobramentos na prática escolar, tal como aponta Amaral (1998); Bianchetti (1998); Borniotto (2002); Schiff (1993 ); Tessaro (2004); Vieira (2008), entre outros. Esse desdobramento tem em vista, sobretudo, superar barreiras que dificultam a construção de relações que primam pela diversidade humana. Avanços pela diversidade e pela desabilitação de preconceitos põem-se como objetivo a todos, em particular aos que trabalham no campo educacional. Com essa expectativa, buscamos investigar como os pesquisadores da área da educação, vinculados aos programas de pós-graduação em educação, têm encaminhado discussões em torno do objeto preconceito. Para a realização da nossa investigação, escolhemos as produções acadêmicas originadas das dissertações de mestrados e teses de doutorado dos Programas de Pós-graduação em Educação do Estado do Paraná. Destacamos que se trata de um estudo exploratório de caráter bibliográfico, ainda em andamento, cujo objetivo maior consiste em levantar a produção científica (dissertações e teses) acerca do objeto preconceito, visando conhecer os trabalhos produzidos. O trabalho que ora apresentamos é resultado parcial da referida investigação, a qual se encontra em desenvolvimento. Nesta oportunidade, temos como objetivo apresentar de modo panorâmico o levantamento que realizamos juntos às bibliotecas digitais do Programas de 12220 Pós-graduação em Educação do Estado do Paraná, a fim detectar se o preconceito tem sido objeto de investigação nas dissertações e teses defendidas pelos discentes dos programas. Apresentamos, a seguir, o resultado de nossa busca. Do acesso às bibliotecas digitais e aos seus resumos Com o intuito melhor situar nossos estudos acerca do tema preconceito em relação às discussões que têm sido realizadas por pesquisadores em Educação, propusemo-nos a realizar um levantamento sobre as produções de mestrado e doutorado acerca do tema preconceito. Detemo-nos precisamente sobre as produções que tiveram lugar no Estado do Paraná, desenvolvidas em sete Programas de Pós-Graduação em Educação. Inicialmente, para o acesso às bibliotecas digitais dos Programas de Pós-Graduação em Educação paranaense, bem como aos resumos das dissertações e teses nelas arquivadas, fizemos uma busca para localizar o endereço de cada biblioteca digital. Localizado o endereço e acessado a biblioteca, buscamos localizar dentro de cada uma delas o local de arquivo das dissertações e teses defendidas pelos discentes. Feito isso, procedemos à busca pelas produções a respeito do preconceito. Como indicadores para essa busca elegemos: a apresentação do termo preconceito no título do trabalho; ou, apresentação do termo preconceito nas palavras-chave do resumo; ou, ainda, a apresentação do termo preconceito no próprio resumo. Durante essa etapa do levantamento, foi possível observar, entre outras coisas, que não há padronização entre as bibliotecas do Estado, o que dificultou o nosso trabalho. Se em algumas bibliotecas há uma listagem, ano a ano, de todas as dissertações e teses defendidas e junto ao título do trabalho e nome do autor são disponibilizados os links de acesso ao resumo e ao texto completo, em outras não encontramos essa mesma organização, sendo que em alguns casos ao menos havia o link para acesso ao resumo ou ao texto completo. Embora tenham existido dificuldades durante a busca pelas produções, conseguimos acessar todas as bibliotecas e ter acesso aos arquivos que correspondiam aos critérios que estabelecemos para o levantamento. Foram sete bibliotecas consultadas (PPGE/UEM, PPGE/UNIOESTE, PPGE/UFPR, PPGE/UTP, PPGE/PUC-PR, PPGE/UEL, PPGE/UEPG), cujos resultados dos levantamentos apresentamos a seguir. 12221 Resultado do levantamento em bibliotecas digitais dos Programas de Pós-Graduação em Educação do Estado do Paraná sobre o tema preconceito Para o levantamento nas bibliotecas digitais dos sete Programas de Pós-Graduação em Educação por nós eleitos (PPGE/UEM, PPGE/UNIOESTE, PPGE/UFPR, PPGE/UTP, PPGE/PUC-PR, PPGE/UEL, PPGE/UEPG), percorremos caminho semelhante para acesso aos resumos das dissertações e teses. Os passos dados para acesso e localização dos trabalhos nas bibliotecas podem ser assim sintetizados: 1º) acessamos os sites do Programa de PósGraduação em Educação (PPEs); 2º) dentre os links disponíveis nas páginas dos PPEs buscamos os links dissertações e teses; 3º) diante de uma extensa listagem de trabalhos defendidos, os quais em geral apresentam o título e o nome de seus autores, abrimos os arquivos em PDF para leitura dos títulos, palavras-chave e conteúdo dos resumos à procura do termo preconceito. Da busca empreendida nas sete bibliotecas digitais, obtivemos o resultado que apresentamos a seguir, em forma de Quadros, a fim de proporcionar melhor visualização do mesmo. Por meio do Quadro 1 e 2, apresentamos o resultado que obtivemos nessa empreitada, junto à biblioteca digital do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá, para as dissertações e teses defendidas. Ano de defesa 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Número de dissertações defendidas Número de dissertações que tratam a respeito do tema preconceito 4 0 5 0 3 0 8 0 9 0 6 0 7 0 14 0 18 0 27 1 27 0 40 1 41 0 34 1 34 0 35 1 58 0 32 0 22 0 Quadro 1 - Quantidade de resumos de dissertações no período de 1993-2010. 12222 Fonte: Biblioteca Digital do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá [Dissertações] - 2011. Conforme consta no Quadro 1, localizamos quatros dissertações defendidas entre os anos de 2002 e 2008 que corresponderam aos nossos critérios de seleção. Já para o doutorado, não localizamos nenhum trabalho conforme mostramos no Quadro 2. Ano de defesa 2010 2011 Número de teses defendidas Número de teses que tratam a respeito do tema preconceito 3 0 1 0 Quadro 2 - Quantidade de resumos de teses no período de 2010-2011. Fonte: Biblioteca Digital do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá [Teses] - 2011. Referente ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em busca de trabalhos que tratem do tema preconceito, lemos os títulos, as palavras-chave e os resumos e encontramos duas teses defendidas, a primeira em 2008 e a outra em 2009. Para melhor visualização do levantamento realizado, apresentamos no Quadro 3 o resultado que obtivemos junto à biblioteca digital do referido Programa. ANO DE DEFESA Número de dissertações defendidas 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 4 9 24 32 25 29 97 50 57 2009 30 Número de dissertações que tratam a respeito do tema preconceito 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 Quadro 3 - Quantidade de resumos de dissertações no período de 2000-2009. Fonte: Biblioteca Digital do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná [Dissertações] - 2011. No levantamento que realizamos na biblioteca digital da Universidade Federal do Paraná, precisamente o de resumos das teses de doutorado, constatamos 74 trabalhos 12223 defendidos entre 2006 e 2010, conforme apresentamos no Quadro 4. No entanto, identificamos somente um trabalho que no resumo faz menção à palavra preconceito. Antes de prosseguir, interessa observar que no decorrer do levantamento não conseguimos a visualização de alguns arquivos, já que devido ao grande tamanho não abriram. Todavia, identificamos pelos títulos e temas que não tratavam do preconceito. ANO DE DEFESA 2006 2007 2008 2009 2010 Número de dissertações defendidas Número de dissertações que tratam a respeito do tema preconceito 10 0 11 0 16 0 32 0 5 1 Quadro 4 - Quantidade de teses de doutorado no período de 2006-2010. Fonte: Biblioteca Digital da Universidade Federal do Paraná [Teses] - 2011. Para os trabalhos de mestrado, defendidos nos anos de 2000 a 2010 junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná, localizamos dois trabalhos que trazem o termo preconceito em seus resumos, conforme Quadro 5. Ano de defesa Número de dissertações defendidas Número de dissertações que tratam a respeito do tema preconceito 2000 1 0 2001 1 0 2002 0 0 2003 1 0 2004 4 1 2005 5 0 2006 64 0 2007 70 0 2008 63 1 2009 69 0 2010 18 0 Quadro 5 - Quantidade de resumos de dissertações no período de 2000-2010. Fonte: Biblioteca Digital da Universidade Federal do Paraná [Dissertações] - 2011. Do levantamento realizado na biblioteca digital da Universidade Tuiuti do Paraná, pudemos localizar duas dissertações que trazem em seus resumos o termo preconceito, conforme visualizamos no Quadro 6: Ano de Número de dissertações defendidas Número de dissertações que tratam a respeito 12224 defesa 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 do tema preconceito 01 0 03 0 02 0 05 0 15 0 28 2 18 0 13 0 08 0 Quadro 6 - Quantidade de resumos de dissertações no período de 2002-2010. Fonte: Sistema de Publicação Eletrônica de Teses e Dissertações da Universidade Tuiuti do Paraná. [Dissertações] - 2011. Outro levantamento que realizamos foi na biblioteca digital do Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Nesta tivemos acesso às noventa e três dissertações publicadas, abrangendo o período de 2004 até 2011. À procura do termo preconceito, marcamos o item detalhar e clicamos o link processar para obter acesso aos seus resumos e suas palavras-chave. Por meio do Quadro 7, apresentamos o resultado (nenhum trabalho contemplando o termo preconceito) que obtivemos com o levantamento junto a tal biblioteca digital. Ano de defesa Número de dissertações defendidas Número de dissertações que tratam a respeito do tema preconceito 2004 2 0 2005 3 0 2006 21 0 2007 12 0 2008 22 0 2009 19 0 2010 10 0 2011 4 0 Quadro 7 - Quantidade de resumos de dissertações no período de 2004-2011. Fonte: Biblioteca Digital do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa [Dissertações] - 2011. 12225 Do levantamento realizado na biblioteca digital do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina, localizamos os resumos de trabalhos defendidos entre 1995 e 2008 e do conjunto disponibilizado encontramos um resumo sob os critérios estabelecidos, conforme apresentamos no Quadro 8. Ano de defesa 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Número de dissertações defendidas Número de dissertações que tratam a respeito do tema preconceito 1 0 4 0 9 0 9 0 12 0 9 0 3 0 18 0 15 0 14 0 11 0 19 0 20 0 25 1 35 0 20 0 9 0 Quadro 8 - Quantidade de resumos de dissertações no período de 1995-2011. Fonte: Biblioteca Digital do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina [Dissertações] - 2011. Na biblioteca digital do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Oeste do Paraná, localizamos no acervo online 20 trabalhos (2 defendidos em 2008; 9 defendidos em 2009 e 9 em 2010). Desse total, encontramos dois resumos que atendem aos critérios estabelecidos, um datado de 2009 e outro de 2010. Considerações finais Diante do resultado obtido, assinalamos, em primeiro lugar, que nos surpreendeu o número relativamente pequeno de trabalhos sobre o objeto preconceito. Nossa suposição inicial era de que, possivelmente, muitos pesquisadores em Educação estariam se debruçando sobre tal tema, já que constituído de múltiplas facetas o mesmo se apresenta como um empecilho à instalação de uma sociedade que positive a diversidade. Mediados por essa 12226 suposição e na intenção de averiguar tal hipótese de trabalho, propomo-nos ao levantamento nas bibliotecas digitais dos PPGEs do Estado do Paraná, que ora apresentamos. Referente ao resultado do levantamento, assinalamos que de um total de 1594 títulos consultados, entre teses e dissertações, poucos são os que apresentam o termo preconceito em seus títulos, palavras-chave e/ou resumos. Na realidade, menos de cinco trabalhos têm como objeto central da investigação o tema preconceito. Notamos que em sua maioria, os trabalhos tratam de outros temas que, direta ou indiretamente, têm relação com o tema preconceito. Exemplo disso são as discussões sobre questões étinico-raciais, de orientação sexual, a respeito da inclusão de pessoas com necessidades especiais, aparência física. Por último, assinalamos que o levantamento realizado visa o entendimento do estado do conhecimento em relação ao objeto preconceito, assim como às dimensões mais abordadas pelos pesquisadores. Assim sendo, pode contribuir tanto para vislumbrar os rumos tomados como rumos a tomar na pesquisa em educação e nos desdobramentos destas na prática escolar, infestada de preconceitos, mas também dotada de potencial para lidar com a diversidade humana. REFERÊNCIAS AMARAL, Lígia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação. IN: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. 2.ed. São Paulo: Summus, 1998. p.11-30. BIANCHETTI, Lucídio; FREIRE, Ida Mara (Orgs.). Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidadania. Campinas, SP: Papirus, 1998. BORNIOTTO, Maria Luisa da Silva. A aparência física e estética dos alunos como determinantes para a exclusão: um novo olhar preconceituoso do professor no meio escolar? 2002. 212 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2002. SCHIFF, Michel. A inteligência desperdiçada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. TESSARO, Adriana. Estigma e preconceito como expressão da exclusão escolar: uma questão na formação de professores? 2004. 152f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2004. VIEIRA, Renata de Almeida. O preconceito como objetivação. 2008. 121f. Dissertação (Mestrado)-Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2008.