Golfe Sustentável - De tacada em tacada…
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Usualmente associados a projectos meramente economicistas, os campos de golfe já
criaram algumas inimizades…O consumo exagerado de água e a perda de
biodiversidade são dois dos problemas mais apontados. Talvez pela crescente
popularidade do desporto e do inegável retorno económico que representa, os projectos
dos campos de golfe assumiram uma outra atitude: transformar os greens, os roughs e
os fairways em espaços de sustentabilidade. Golfe: acertar no “ambiente” certo
As preocupações ambientais frequentemente apontadas aos campos de golfe prendem-se com
a alteração do uso do solo (em particular, se essa mudança for em detrimento da sua
ocupação agrícola ou mesmo de um espaço de lazer), risco de erosão do solo, introdução de
espécies exóticas, contaminação de águas superficiais e subterrâneas e a inevitável questão
do uso de água. É que a manutenção das áreas que compõem o campo de golfe está
normalmente associada ao consumo de volumes significativos de água devido às exigências
de rega da cultura utilizada. Assim, optimizar a qualidade da prática do golfe e, ao mesmo
tempo, assegurar a conservação das condições naturais do local de implantação de forma a
alcançar um desenvolvimento económico e ambiental sustentável, é o objectivo desejável para
qualquer projecto de um campo de golfe. São muitas as variáveis a ter em conta já que se trata
da ocupação de um uso do solo com “consumo” dos recursos existentes, nomeadamente, a
água, o solo e a vegetação. A pressão ambiental não é só apontada à instalação do campo de
golfe propriamente dito mas também aos equipamentos e infra-estruturas que normalmente
integram projectos desta natureza. Os impactes ambientais positivos e negativos relacionados
com a construção e exploração de campos de golfe incluem o consumo de água superficial e
subterrânea, a afectação da qualidade da água devido ao uso de fertilizantes, pesticidas e
arraste de sedimentos, afectação dos habitats naturais existentes e perda de biodiversidade
(devido à modelação do terreno e introdução de novas espécies vegetais) e os consumos
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energéticos associados aos empreendimentos de suporte ao campo de golfe. Os benefícios
económicos são os que lideram a lista das vantagens da construção de um golfe. No entanto,
existem já formas de colocar a integração ambiental como factor a considerar na hora de
contabilização dos impactes. Actualmente, os projectos têm o cuidado de contemplar um
conjunto diversificado de medidas que procuram minimizar a alteração causada. As
orientações a seguir para a gestão sustentável de um campo de golfe deverão contemplar
aspectos como a utilização de espécies de relva mais tolerantes (por exemplo, concentrações
de sais mais elevadas ou com baixas necessidades de água), a manutenção dos
equipamentos de distribuição de água (para a detecção de fugas), a optimização do sistema de
irrigação, a utilização de fontes de água “alternativas”, o armazenamento de águas pluviais
durante a época das chuvas, a reciclagem de águas residuais produzidas nas zonas
residenciais associadas ao golfe.
“Tacadas” certas para a sustentabilidade
A realização do seminário “Campos de Golfe – Ambiente, Paisagem e Sustentabilidade”,
realizado em 2006, motivou o Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do
Desenvolvimento Regional a reunir as contribuições num formato de manual como forma de
divulgação de questões relevantes relacionadas com a problemática dos golfes. A produção de
um manual com orientações para integrar, com o mínimo de impacte ambiental negativo, um
determinado projecto, havia já sido concretizado para o caso dos parques eólicos. Para este
caso específico das eólicas, o propósito foi o de identificar esses impactes e sugerir, quer para
a fase de projecto quer para a fase de exploração, quais as medidas de minimização a serem
tomadas. O objectivo deste documento foi o de agilizar o processo de Avaliação de Impacte
Ambiental (AIA). Com a publicação do “Manual de Boas práticas Ambientais para Campos de
Golfe” (Agência Portuguesa do Ambiente, Março de 2009) pretende-se igualmente concretizar
este objectivo embora, ao nível de conteúdo, se tenha avançado com a inclusão de aspectos
técnicos mais detalhados, com a descrição das etapas do processo de AIA e da
implementação de um Sistema de Gestão Ambiental. O documento foi dividido em cinco
capítulos, um primeiro dedicado a uma introdução a campos de golfe (conceito, génese e
evolução) e os restantes capítulos relativos às diferentes fases do projecto: planeamento,
projecto, obra e exploração. Por exemplo, no que respeita à fase de projecto, são apresentadas
orientações e recomendações para uma melhor integração do campo de golfe com a
paisagem, para o planeamento e gestão de água, e relacionadas com sistemas de rega e
drenagem, controlo da erosão e condicionantes para a instalação de relvados.
Dos temas tratados neste Manual destacam-se alguns aspectos que considerámos relevantes
para a compreensão das dificuldades que podem surgir no âmbito da concepção de um campo
de golfe.
A escolha da relva é fundamental para a redução dos consumos de água. No entanto, em
países como Portugal, esta escolha pode revelar-se um desafio, em particular em zonas com
verões quentes e invernos frios. Da escolha da espécie a colocar podem resultar alterações da
cor da relva consoante a estação, aspecto este que por vezes é pouco apreciado pelos
praticantes. Por isso, é também um desafio explicar aos golfistas as opções tomadas e como
estas contribuem para a integração sustentável do projecto. A importância de escolher o tipo de
relva mais apropriado assenta em dois aspectos principais: uma relva bem adaptada às
condições climáticas é menos dependente de fertilizantes e de produtos fitofarmacêuticos, e
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quando melhor adaptada está a relva, maior a “firmeza” do campo o que se traduz num maior
desafio para os jogadores. Associado à questão da relva, surge também a minimização das
áreas de relva: extensas áreas relvadas, com uma rega intensiva, exigem um elevado
fornecimento de água. Também aqui a percepção do golfista pode ser um factor determinante
para condicionar o projectista do campo a adoptar esta postura de minimização, uma vez que
existe uma redução de “área verde”. Esta redução não diminui a capacidade de jogo do campo
mas potencia sim uma maior integração do mesmo no espaço envolvente. No que respeita à
logística da água, esta resume-se às seguintes questões: a quantidade de água necessária
para a rega do campo, a qualidade exigida à água, as fontes que podem ser utilizadas para
garantir os volumes de água, as instalações e equipamentos que serão necessários para
transportar o volume de água, onde e como deverá ser armazenada e que volume deverá ter a
reserva de segurança. Garantir o volume necessário de água sem com isso afectar as reservas
disponíveis causando um desequilíbrio no ecossistema é essencial para garantir a viabilidade
do projecto. Adicionalmente, é também este aspecto que pode condicionar a sustentabilidade
do campo. Em alternativa ao uso de fontes naturais de água, hoje é cada mais considerada
como opção o uso de água reciclada obtida a partir do tratamento terciário das águas residuais,
normalmente produzidas nas zonas residenciais associadas ao campo de golfe. Regra geral,
esta água reciclada é utilizada para a rega do campo. A estação de tratamento das águas
residuais apresenta uma flutuação sazonal de caudais que corresponde, na maior parte das
vezes, à variação das necessidades de rega do golfe. Simultaneamente, o maior pico de
produção de águas residuais coincide também com a altura em que se verifica a escassez de
água típica da época de Verão. O problema associado a esta solução prende-se, por um lado,
com a qualidade da água residual tratada que pode constituir uma fonte em excesso de sais
que, em certos solos (como os argilosos) podem provocar a sua desestruturação. Também em
áreas com espécies de relva mais sensíveis, o uso de água reciclada pode induzir problemas
como condições de stress devido ao elevado grau de salinidade. Por outro lado, é preciso
dimensionar correctamente o número de fogos associado ao empreendimento do golfe de
forma a garantir um volume de água residual que satisfaça os requisitos de rega. O recurso aos
aquíferos é a solução apontada como a mais económica e tecnicamente simples. No entanto,
esta opção em termos de abastecimento levanta, talvez, a questão mais preocupante quando
nos referimos aos impactes ambientais dos campos de golfe. Com a problemática das
alterações climáticas na ordem do dia, será previsível uma redução da precipitação e/ou um
aumento da sua variabilidade que condicionará a recarga dos aquíferos. Por sua vez, o recurso
às águas subterrâneas é ainda uma situação comum nos sistemas de abastecimento público
de água, em particular, na Região Sul de Portugal. Ou seja, afectar a rega de campos de golfe
a um recurso que se encontra sujeito a várias pressões poderá inviabilizar a sustentabilidade
do projecto.
Golfe em tons de verde sustentável
A gestão integrada dos efeitos decorrentes da fase de implantação do projecto pode ser
efectuada com recursos a metodologias tradicionalmente utilizadas na implementação de
Sistemas de Gestão Ambiental, baseados nos princípios e dos requisitos expressos na Norma
NP EN ISO 140001:2004. Para além dos sistemas de gestão ambiental, existem outras
possibilidades para a gestão ambiental de um projecto como o campo de golfe como sejam o
Sistema Comunitário de Eco-Gestão e Auditoria (EMAS) ou o sistema Audubon International,
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uma organização sem fins lucrativos que desenvolveu programas de certificação ambiental
para campos de golfe.Entre as iniciativas desta entidade destaca-se o Audubon Cooperative
Sanctuary Program que visa “ajudar os campos de golfe a proteger o ambiente e a conservar a
herança natural do jogo de golfe. Existe ainda a certificação Eco-Golfe, baseada na NP EN ISO
140001:2004, desenvolvida pela empresa TUV Rheinland especificamente para o sector do
golfe, que é atribuída exclusivamente a campos de golfe que cumpram os requisitos ambientais
do programa Eco-Golfe ao nível da conservação da natureza, integração na paisagem, gestão
de recursos hídricos, gestão de relvados, gestão de resíduos, eficiência energética,
sensibilização e formação ambiental e divulgação e reconhecimento público. Por último,
importa ainda destacar a Green Globe 21, uma norma de gestão ambiental baseada na
Agenda 21, que pode ser implementada em diferentes infra-estruturas e equipamentos que
suportam a actividade turística, como seja, o campo de golfe. Os benefícios associados à
implementação deste sistema incluem “a protecção e desenvolvimento da qualidade ambiental
da área de implementação, a conservação do ambiente local através do desenvolvimento de
melhores condições de vida e contribuindo para a economia local e/ou regional, o cumprimento
da legislação exigente, a atracção de novos clientes que procuram produtos e serviços com
bons desempenhos ambientais, encorajar clientes a voltar, motivar os colaboradores e o
desenvolvimento de relações com a comunidade local.”
Fontes de Informação:
Manual de Boas Práticas Ambientais para Campos de Golfe: Normas para planeamento,
projecto, obra e exploração de Campos de Golfe numa perspectiva de Sustentabilidade
Ambiental, Agência Portuguesa do Ambiente, Março de 2009
https://www.bestcourseforgolf.org/content/environment/the_sustainable
http://www.earthartist.com/community/openspace/design2.html
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