Golfe Sustentável - De tacada em tacada… Quinta, 17 Setembro 2009 10:23 - Actualizado em Quinta, 17 Setembro 2009 10:29 Usualmente associados a projectos meramente economicistas, os campos de golfe já criaram algumas inimizades…O consumo exagerado de água e a perda de biodiversidade são dois dos problemas mais apontados. Talvez pela crescente popularidade do desporto e do inegável retorno económico que representa, os projectos dos campos de golfe assumiram uma outra atitude: transformar os greens, os roughs e os fairways em espaços de sustentabilidade. Golfe: acertar no “ambiente” certo As preocupações ambientais frequentemente apontadas aos campos de golfe prendem-se com a alteração do uso do solo (em particular, se essa mudança for em detrimento da sua ocupação agrícola ou mesmo de um espaço de lazer), risco de erosão do solo, introdução de espécies exóticas, contaminação de águas superficiais e subterrâneas e a inevitável questão do uso de água. É que a manutenção das áreas que compõem o campo de golfe está normalmente associada ao consumo de volumes significativos de água devido às exigências de rega da cultura utilizada. Assim, optimizar a qualidade da prática do golfe e, ao mesmo tempo, assegurar a conservação das condições naturais do local de implantação de forma a alcançar um desenvolvimento económico e ambiental sustentável, é o objectivo desejável para qualquer projecto de um campo de golfe. São muitas as variáveis a ter em conta já que se trata da ocupação de um uso do solo com “consumo” dos recursos existentes, nomeadamente, a água, o solo e a vegetação. A pressão ambiental não é só apontada à instalação do campo de golfe propriamente dito mas também aos equipamentos e infra-estruturas que normalmente integram projectos desta natureza. Os impactes ambientais positivos e negativos relacionados com a construção e exploração de campos de golfe incluem o consumo de água superficial e subterrânea, a afectação da qualidade da água devido ao uso de fertilizantes, pesticidas e arraste de sedimentos, afectação dos habitats naturais existentes e perda de biodiversidade (devido à modelação do terreno e introdução de novas espécies vegetais) e os consumos 1/4 Golfe Sustentável - De tacada em tacada… Quinta, 17 Setembro 2009 10:23 - Actualizado em Quinta, 17 Setembro 2009 10:29 energéticos associados aos empreendimentos de suporte ao campo de golfe. Os benefícios económicos são os que lideram a lista das vantagens da construção de um golfe. No entanto, existem já formas de colocar a integração ambiental como factor a considerar na hora de contabilização dos impactes. Actualmente, os projectos têm o cuidado de contemplar um conjunto diversificado de medidas que procuram minimizar a alteração causada. As orientações a seguir para a gestão sustentável de um campo de golfe deverão contemplar aspectos como a utilização de espécies de relva mais tolerantes (por exemplo, concentrações de sais mais elevadas ou com baixas necessidades de água), a manutenção dos equipamentos de distribuição de água (para a detecção de fugas), a optimização do sistema de irrigação, a utilização de fontes de água “alternativas”, o armazenamento de águas pluviais durante a época das chuvas, a reciclagem de águas residuais produzidas nas zonas residenciais associadas ao golfe. “Tacadas” certas para a sustentabilidade A realização do seminário “Campos de Golfe – Ambiente, Paisagem e Sustentabilidade”, realizado em 2006, motivou o Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional a reunir as contribuições num formato de manual como forma de divulgação de questões relevantes relacionadas com a problemática dos golfes. A produção de um manual com orientações para integrar, com o mínimo de impacte ambiental negativo, um determinado projecto, havia já sido concretizado para o caso dos parques eólicos. Para este caso específico das eólicas, o propósito foi o de identificar esses impactes e sugerir, quer para a fase de projecto quer para a fase de exploração, quais as medidas de minimização a serem tomadas. O objectivo deste documento foi o de agilizar o processo de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA). Com a publicação do “Manual de Boas práticas Ambientais para Campos de Golfe” (Agência Portuguesa do Ambiente, Março de 2009) pretende-se igualmente concretizar este objectivo embora, ao nível de conteúdo, se tenha avançado com a inclusão de aspectos técnicos mais detalhados, com a descrição das etapas do processo de AIA e da implementação de um Sistema de Gestão Ambiental. O documento foi dividido em cinco capítulos, um primeiro dedicado a uma introdução a campos de golfe (conceito, génese e evolução) e os restantes capítulos relativos às diferentes fases do projecto: planeamento, projecto, obra e exploração. Por exemplo, no que respeita à fase de projecto, são apresentadas orientações e recomendações para uma melhor integração do campo de golfe com a paisagem, para o planeamento e gestão de água, e relacionadas com sistemas de rega e drenagem, controlo da erosão e condicionantes para a instalação de relvados. Dos temas tratados neste Manual destacam-se alguns aspectos que considerámos relevantes para a compreensão das dificuldades que podem surgir no âmbito da concepção de um campo de golfe. A escolha da relva é fundamental para a redução dos consumos de água. No entanto, em países como Portugal, esta escolha pode revelar-se um desafio, em particular em zonas com verões quentes e invernos frios. Da escolha da espécie a colocar podem resultar alterações da cor da relva consoante a estação, aspecto este que por vezes é pouco apreciado pelos praticantes. Por isso, é também um desafio explicar aos golfistas as opções tomadas e como estas contribuem para a integração sustentável do projecto. A importância de escolher o tipo de relva mais apropriado assenta em dois aspectos principais: uma relva bem adaptada às condições climáticas é menos dependente de fertilizantes e de produtos fitofarmacêuticos, e 2/4 Golfe Sustentável - De tacada em tacada… Quinta, 17 Setembro 2009 10:23 - Actualizado em Quinta, 17 Setembro 2009 10:29 quando melhor adaptada está a relva, maior a “firmeza” do campo o que se traduz num maior desafio para os jogadores. Associado à questão da relva, surge também a minimização das áreas de relva: extensas áreas relvadas, com uma rega intensiva, exigem um elevado fornecimento de água. Também aqui a percepção do golfista pode ser um factor determinante para condicionar o projectista do campo a adoptar esta postura de minimização, uma vez que existe uma redução de “área verde”. Esta redução não diminui a capacidade de jogo do campo mas potencia sim uma maior integração do mesmo no espaço envolvente. No que respeita à logística da água, esta resume-se às seguintes questões: a quantidade de água necessária para a rega do campo, a qualidade exigida à água, as fontes que podem ser utilizadas para garantir os volumes de água, as instalações e equipamentos que serão necessários para transportar o volume de água, onde e como deverá ser armazenada e que volume deverá ter a reserva de segurança. Garantir o volume necessário de água sem com isso afectar as reservas disponíveis causando um desequilíbrio no ecossistema é essencial para garantir a viabilidade do projecto. Adicionalmente, é também este aspecto que pode condicionar a sustentabilidade do campo. Em alternativa ao uso de fontes naturais de água, hoje é cada mais considerada como opção o uso de água reciclada obtida a partir do tratamento terciário das águas residuais, normalmente produzidas nas zonas residenciais associadas ao campo de golfe. Regra geral, esta água reciclada é utilizada para a rega do campo. A estação de tratamento das águas residuais apresenta uma flutuação sazonal de caudais que corresponde, na maior parte das vezes, à variação das necessidades de rega do golfe. Simultaneamente, o maior pico de produção de águas residuais coincide também com a altura em que se verifica a escassez de água típica da época de Verão. O problema associado a esta solução prende-se, por um lado, com a qualidade da água residual tratada que pode constituir uma fonte em excesso de sais que, em certos solos (como os argilosos) podem provocar a sua desestruturação. Também em áreas com espécies de relva mais sensíveis, o uso de água reciclada pode induzir problemas como condições de stress devido ao elevado grau de salinidade. Por outro lado, é preciso dimensionar correctamente o número de fogos associado ao empreendimento do golfe de forma a garantir um volume de água residual que satisfaça os requisitos de rega. O recurso aos aquíferos é a solução apontada como a mais económica e tecnicamente simples. No entanto, esta opção em termos de abastecimento levanta, talvez, a questão mais preocupante quando nos referimos aos impactes ambientais dos campos de golfe. Com a problemática das alterações climáticas na ordem do dia, será previsível uma redução da precipitação e/ou um aumento da sua variabilidade que condicionará a recarga dos aquíferos. Por sua vez, o recurso às águas subterrâneas é ainda uma situação comum nos sistemas de abastecimento público de água, em particular, na Região Sul de Portugal. Ou seja, afectar a rega de campos de golfe a um recurso que se encontra sujeito a várias pressões poderá inviabilizar a sustentabilidade do projecto. Golfe em tons de verde sustentável A gestão integrada dos efeitos decorrentes da fase de implantação do projecto pode ser efectuada com recursos a metodologias tradicionalmente utilizadas na implementação de Sistemas de Gestão Ambiental, baseados nos princípios e dos requisitos expressos na Norma NP EN ISO 140001:2004. Para além dos sistemas de gestão ambiental, existem outras possibilidades para a gestão ambiental de um projecto como o campo de golfe como sejam o Sistema Comunitário de Eco-Gestão e Auditoria (EMAS) ou o sistema Audubon International, 3/4 Golfe Sustentável - De tacada em tacada… Quinta, 17 Setembro 2009 10:23 - Actualizado em Quinta, 17 Setembro 2009 10:29 uma organização sem fins lucrativos que desenvolveu programas de certificação ambiental para campos de golfe.Entre as iniciativas desta entidade destaca-se o Audubon Cooperative Sanctuary Program que visa “ajudar os campos de golfe a proteger o ambiente e a conservar a herança natural do jogo de golfe. Existe ainda a certificação Eco-Golfe, baseada na NP EN ISO 140001:2004, desenvolvida pela empresa TUV Rheinland especificamente para o sector do golfe, que é atribuída exclusivamente a campos de golfe que cumpram os requisitos ambientais do programa Eco-Golfe ao nível da conservação da natureza, integração na paisagem, gestão de recursos hídricos, gestão de relvados, gestão de resíduos, eficiência energética, sensibilização e formação ambiental e divulgação e reconhecimento público. Por último, importa ainda destacar a Green Globe 21, uma norma de gestão ambiental baseada na Agenda 21, que pode ser implementada em diferentes infra-estruturas e equipamentos que suportam a actividade turística, como seja, o campo de golfe. Os benefícios associados à implementação deste sistema incluem “a protecção e desenvolvimento da qualidade ambiental da área de implementação, a conservação do ambiente local através do desenvolvimento de melhores condições de vida e contribuindo para a economia local e/ou regional, o cumprimento da legislação exigente, a atracção de novos clientes que procuram produtos e serviços com bons desempenhos ambientais, encorajar clientes a voltar, motivar os colaboradores e o desenvolvimento de relações com a comunidade local.” Fontes de Informação: Manual de Boas Práticas Ambientais para Campos de Golfe: Normas para planeamento, projecto, obra e exploração de Campos de Golfe numa perspectiva de Sustentabilidade Ambiental, Agência Portuguesa do Ambiente, Março de 2009 https://www.bestcourseforgolf.org/content/environment/the_sustainable http://www.earthartist.com/community/openspace/design2.html 4/4