O campo que nunca foi jogado Tive a honra de ser convidado pelo Rodrigo Cordoeiro para ser “dono” de uma coluna neste novíssimo website. Partilho hoje convoco uma experiência que poucos tiveram no mundo do golfe, estar envolvido na construção de num campo que nunca chegou a ser jogado. O projeto é muito ambicioso. Três hotéis, duas Marinas, quatro Campos de Golfe, vários Aldeamentos e outros atrativos. Tudo no meio do Alentejo remoto, a duas horas de Lisboa e do Algarve, nas encostas do “mar” da Barragem do Alqueva. Um projeto de uma vida. Depois de vários anos de planeamento... armas e bagagens para o Alentejo iniciar a obra! O campo de golfe na Herdade do Roncão é a primeira obra do projeto. A herdade do Roncão faz parte do espólio que D. Manuel deixou à Fundação Casa de Bragança. Era reserva de caça de D. Carlos e ainda há quem conte como era a passagem de sua majestade. O Monte do Roncão é uma aldeia, com capela, escola, casa da malta, fornos, centro de lavoura e estrabaria. Com a construção da barragem as águas subiram e mudaram a paisagem e o clima. A espectativa das pessoas, empresarial, comercial e autárquica era grande. Na região de Reguengos não se falava noutra coisa. Alguns empresários investiram na perspectiva que a região iria mudar. E mudou. Durante dois anos as empresas locais deram o seu contributo, foi criado emprego, aumentou o movimento nas aldeias, os restaurantes venderam mais refeições, foram vendidas e alugadas casas, os hotéis tiveram maiores taxas de ocupação. No campo de golfe nada foi poupado. Áreas generosas, lagos impermeabilizados, paisagismo com espécies autóctones, caminhos, relvas certificadas, arquiteto em permanecia no local, equipa para gerir projeto (onde eu estava incluído) gestão ambiental segundo a Audubon, sistema de rega e bombagem de última geração, arejamento subterrâneo com Subair. Gostávamos de lhe chamar o primeiro golfe alentejano, embora até à data nunca se tenha visto tal coisa por aqueles lados. Selecionaram-se as árvores, fizeram-se as escavações (alguns à base de explosivos) e aterros, modelou-se o terreno, britou-se a pedra para servir de base para as drenagens, instalou-se a rega, importou-se e espalhou-se areia para servir da base para a relva, semeou-se, fez-se a maturação da relva. O campo tinha 6.800 metros de comprimento. O buraco 13, par 5, com 620 metros. Greens ondulados com áreas generosas. Pares 3 variados. Pares 4 estratégicos. Alguns curtos outros a exigir madeiras de fairways. Pares 5 a convidar ao birdie mas com muitos riscos pelo meio. As azinheiras, a modelação e os lagos construídos eram responsáveis pela estratégia do jogo. Os castanhos alentejanos, o verde da relva e o azul da albufeira pelas vistas. Imaginem um barco. Para qualquer sítio que olhamos vemos água. Por mais estranho que pareça no campo e golfe do Roncão era assim. Imprevisível. E eis que acontece o que nunca aconteceu no golfe, as far as I know. O campo nunca chegou a abrir. Prometi que não falava de crise por isso vou cumprir (ups, não cumpri). O clima económico do país não era favorável. A Casa de Bragança recebeu a herdade de volta. O Roncão voltou a ser uma pastagem. Os aspersores foram arrancados e a relva deixou de ser mantida. Não sei como estão as coisas por aqueles lados porque não volto lá desde que o projeto foi interrompido. Deve parecer um lugar estranho a quem não sabe da tentativa do campo de golfe. A beleza da paisagem não terá mudado muito. No fim ficaram felizes as vacas que passaram a pastar bermuda Tifway 419 certificada. Simão da Cunha Évora, 16 de Maio de 2014