Quarta-feira 25 de março de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia 13 Agronegócios Concessão de crédito preocupa líderes rurais Valor que será disponibilizado pelo governo às linhas de custeio e investimento em 2015/2016 é a maior dúvida O volume de recursos que será disponibilizado no Plano Agrícola e Pecuário 2015/2016 é a grande dúvida dos dirigentes das principais entidades representativas do agronegócio do País. Lideranças do setor rural e do agronegócio brasileiro afirmaram que a maior preocupação para o ciclo que se inicia é com relação ao volume de recursos e não ao provável aumento das taxas de juros. O ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues disse que “o aumento de juros já está assimilado pelo setor e que volume de recursos é a grande questão”. “O volume de recursos é fundamental. Essa é a grande dúvida”, disse. Rodrigues destacou que a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, vem reiterando que tem negociado com outras áreas do governo para evitar que o ajuste fiscal comprometa o setor. Ele destacou que acredita na força do diálogo de Kátia. A ministra foi empossada ontem em evento, em São Paulo, como nova integrante da Academia Nacional de Agricultura. Na ocasião, diversos representantes de entidade do setor ouviram dela a promessa de que poderiam ficar “tranquilos”, pois um setor “que é só sucesso não vai sofrer nenhuma redução de recursos dos nossos custeios”. O presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp, João Sampaio, concorda com o ex-ministro e diz entender que o aumento de juros é algo “inevitável”. “Isso está precificado, mas a preocupação maior é com o volume de recursos”, afirmou. Os juros médios do crédito rural estão atualmente em 6,5% e o crédito rural na safra 2014/2015 foi de R$ 156 bilhões. Sampaio disse ainda que “tem a sensação” de que os juros podem chegar a casa dos 8,5%. “É mais importante que se mantenha o volume dos recursos a juros controlados”, reforçou. Durante sua fala no evento, a ministra garantiu que o aumento de juros para o crédito rural do próximo plano safra “acompanhará nominalmente a inflação”. “Sabemos do acréscimo dos juros; o setor está esperando. Aumento não vai inviabilizar a atividade e será compatível e no mesmo patamar da inflação”, afirmou. Tanto Rodrigues quanto Sampaio reconheceram o momento favorável do câmbio, já que a atual safra foi plantada com um dólar na casa dos R$ 2,60 e está sendo colhida por volta dos R$ 3,10. “É o melhor dos mundos, houve esse ganho, mas agora vamos plantar com o dólar nesse patamar e não sabemos como será (a colheita) já que estamos com muitas incertezas”, ponderou o ex-ministro. Sampaio também se mostra cauteloso com o comportamento da moeda norte-americana. MARCELO BELEDELI/ESPECIAL/JC Risco é plantar a R$ 3,10 e colher a R$ 2,60, afirmou a ministra sobre ritmo do câmbio “O dólar agora nos ajuda, o risco é plantar a R$ 3,10 e colher a R$ 2,60. Vamos esperar para ver”, concluiu. Kátia Abreu reforçou o apoio ao ajuste do governo e exaltou os empresários do setor pelo otimismo. Segundo ela, nesses primeiros meses de mandato não recebeu nenhum empresário ou entidade que mostrasse pessimismo. “Esse setor só tem me dado alegrias”, disse, ressaltando que em alguns momentos se sente em uma ilha de otimismo. “Queremos não viver numa ilha de prosperidade e sim num continente de prosperidade”, disse. Rússia restringe temporariamente importação de carnes de oito frigoríficos brasileiros A Rússia restringiu temporariamente as importações de carne suína e bovina de pelo menos oito empresas brasileiras, de acordo com informações do Rosselkhoznadzor, o Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária do país. Entre as empresas atingidas estão BRF e JBS, que sofreram restrições em relação às vendas de carne e miúdos de porco. As determinações do órgão russo começaram a valer na sexta-feira. A BRF está impedida de exportar para o país a partir da unidade em Uberlândia (MG). A companhia disse que a decisão do governo russo não afeta a estratégia comercial da empresa, porque ela já havia decidido interromper as vendas de carne suína a partir da unidade de Minas Gerais. A JBS está impedida de exportar carne suína e miúdos a partir da unidade gaúcha em Ana Rech. No final de fevereiro, o governo russo já havia decidido coletar amostras de lotes de carne bovina produzida nas fábricas da JBS em Lins (SP) e em Mozarlândia (GO). Os testes também foram reforçados em relação aos miúdos bovinos produzidos pelo frigorífico da JBS em Vilhena (RO). Procurada pela reportagem, a indústria alimentícia ainda não retornou. As restrições em relação ao comércio de carne e miúdos suínos com a Rússia também atingiram o Frigorizzi (unidade no Rio Grande do Sul), o Natural Pork Alimentos (em Mato Grosso) e o Palmali Industrial (no Paraná). Já o Mondelli (em São Paulo) e o Big Boi (no Paraná) tiveram exportações de carne bovina restringidas. Por sua vez, o Frig Industrial (em Santa Catarina) teve as vendas de intestinos barradas pela Rússia, em decisão que também afetou o Big Boi e o Natural Pork Alimentos. O Ministério da Agricultura, porém, informou que os oito frigoríficos suspensos temporariamente pela Rússia não vendiam carne ao país. Apesar de terem sido desabilitados para a exportação, eles podem voltar à lista de autorizados caso atendam aos critérios exigidos, informou técnico da pasta. Em abril, o Ministério da Agricultura enviará uma missão à Rússia e à China para negociar a ampliação da lista de habilitados a exportação para os países asiáticos. As empresas interessadas nesses mercados foram convidadas a participar da viagem e das negociações. Lactalis aguarda aprovação do Cade para ingressar no topo da cadeia leiteira do País Marina Schmidt [email protected] O segundo semestre do ano passado foi de queixa para boa parte das indústrias lácteas do Estado, mas marcou também o investimento pesado do grupo francês Lactalis no País. A partir de agosto de 2014, o grupo fez três aquisições que devem colocá-la como a principal empresa captadora de leite do Brasil. Primeiro veio a compra da Balkis, laticínio fabricante de queijos gourmet e, na sequência, a aquisição de parte dos de ativos da LBR e do segmento de leite da BRF. No total, foram investidos R$ 2,3 bilhões, dimensiona o diretor do segmento lácteo da BRF, Cláudio Santos. As três aquisições devem levar a empresa a captar anualmente 1,8 bilhão de litros de leite. Santos pontua que os projetos do grupo são grandiosos e devem beneficiar o desenvolvimento da cadeia leiteira no País, mas ainda aguardando aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Caso o Cade aprove 100% da operação, teremos 16 unidades inicialmente operando no Brasil e já começaremos como a segunda empresa do ramo em faturamento e a primeira em captação de leite.” O executivo revela que o Brasil é a porta de entrada da Lactalis na América Latina. “O grupo Lactalis é a maior empresa de lácteos do mundo e opera em torno de 50 países, sendo que, na América Latina, tinha uma operação muito pequena. Então, tem um projeto forte para a América Latina. E o Brasil concentrará a principal operação.” O grupo aposta no aumento do consumo de lácteos no País e na diversificação de produtos no mercado brasileiro, além, da expectativa de ampliação das exportações brasileiras. “Hoje, o consumo per capita de queijo é baixo, por exemplo, se consome em torno de três quilos por habitante ao ano. Na Argentina, o consumo de queijo é de sete quilos por habitante”, compara Santos. “A Lactalis é a maior produtora de queijo do mundo, conhece bastante, tem marcas fortes como a Presidant. A ideia é trazer todo esse portfólio para o Brasil.” O executivo projeta que ainda no primeiro semestre o Cade divulgue a decisão sobre as aquisições do grupo. No mês que vem, a expectativa é começar as operações da fábrica Nutrifont, joint venture entre a brasileira BRF e a irlandesa Carbery, inaugurada em janeiro, no município gaúcho de Três de Maio, que será focada em produzir whey protein. “Vamos começar a operar em abril a primeira fábrica de whey protein do Brasil. É uma agregação de valor grande para a cadeia de lácteos”, destaca Santos.