1 UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA JULIENNE CATHYANA DOS SANTOS SILVA OS SENTIMENTOS E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO UTILIZADAS POR PACIENTES INTERNADOS LONGE DA FAMÍLIA DECORRENTES DA HOSPITALIZAÇÃO Palhoça 2008 2 JULIENNE CATHYANA DOS SANTOS SILVA OS SENTIMENTOS E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO UTILIZADAS POR PACIENTES INTERNADOS LONGE DA FAMÍLIA DECORRENTES DA HOSPITALIZAÇÃO Relatório de pesquisa apresentado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, como requisito parcial para obtenção de título de Psicólogo. Orientadora: Profº. Dr. Maurício Eugênio Maliska Palhoça 2008 3 JULIENNE CATHYANA DOS SANTOS SILVA OS SENTIMENTOS E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO UTILIZADAS POR PACIENTES INTERNADOS LONGE DA FAMÍLIA DECORRENTES DA HOSPITALIZAÇÃO Relatório de pesquisa apresentado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, como requisito parcial para obtenção de título de Psicólogo. Palhoça, 17 de novembro de 2008. _____________________________________________ Prof.º orientador Maurício Eugênio Maliska Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina _____________________________________________ Prof.ª Alessandra D’avila Scherer Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina _____________________________________________ Profª. Ana Maria da Luz Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina 4 AGRADECIMENTO Aos meus pais e minhas irmãs pelo carinho e compreensão dedicados a mim durante essa minha trajetória e por me proporcionarem a concretização de mais um objetivo. À minha irmã Leilane por ter me acompanhado e apoiado neste processo. Ao Professor Dr. Maurício Eugênio Maliska pela orientação neste trabalho, compreensão, apoio e incentivo que me conferiu na minha trajetória. À amiga Heloísa Demetrio que me auxiliou nos momentos difíceis. Às amigas e companheiras Ana Paula Melchiades, Lizia Barcellos, Roberta Luckemeyer e Robenise Mello pelo auxílio e sugestões durante este trabalho. Aos amigos e professores pelo apoio nos momentos que mais precisei. Aos pacientes e funcionários da instituição pesquisada pela colaboração, atenção e contribuição para consecução deste estudo. 5 "Nem tudo o que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado, até que seja enfrentado." (James Baldwin). “O sofrimento é tolerável se não tivermos que suporta-lo sozinhos.” (Mark W. Baker). 6 RESUMO O processo de hospitalização pode trazer consigo mudanças que afetam desde a rotina de vida da pessoa e de seus familiares até possíveis ameaças a seus projetos de futuro. Em decorrência da hospitalização e do adoecimento, o individuo vivencia uma diversidade de sentimentos e desenvolve estratégias para lidar de forma funcional com este contexto. Neste sentido, esta pesquisa propôs identificar quais os sentimentos e as estratégias de enfrentamento que são utilizadas pelos pacientes que se encontram internados no Hospital de Caridade – Irmã Senhor dos Passos e afastados dos seus familiares durante a internação. Trata-se de um estudo de caso de natureza qualitativa, com característica exploratória. Foi utilizada, para obtenção dos dados, uma entrevista semi-estruturada, através da qual se buscou investigar os sentimentos das entrevistadas e suas estratégias de enfrentamento durante a internação. Participaram do estudo três mulheres com idades entre 32 a 48 anos, que encontravam-se internadas por no mínimo seis dias. Dos resultados, emergiram sentimentos como: preocupação, solidão, ansiedade, medo, desânimo, sentir-se cuidado, conformismo, saudade e incerteza; e estratégias de enfrentamento como: fé, rede de apoio e socialização. Pôde-se perceber que a hospitalização traz sentimentos negativos para os pacientes, sendo a preocupação a que mais permeia este processo, visto que a mesma perpassa desde a internação até a ausência dos familiares. A compreensão da experiência das informantes permitiu ampliar o conhecimento referente ao que cada uma delas, em sua singularidade, vivenciava e a importância de poderem contar com o apoio e o acolhimento da equipe de saúde e dos demais pacientes. Ao refletir sobre a experiência das pacientes, percebem-se as carências de cuidados frente aos conflitos, preocupações e expectativas. Palavras-chave: Hospitalização. Sentimento. Estratégia de enfrentamento. Família. 7 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Perfil das participantes....................................................................................... 27 Quadro 2 – Tipo de tratamento e tempo de internação........................................................ 29 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 10 1.1 PROBLEMÁTICA......................................................................................................... 10 1.2 OBJETIVOS.................................................................................................................. 12 1.2.1 Objetivo Geral........................................................................................................... 12 1.2.2 Objetivos específicos................................................................................................. 12 1.3 JUSTIFICATIVA........................................................................................................... 12 2 REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................................... 15 2.1 DESENVOLVIMENTO FAMILIAR: CICLO DE VIDA............................................ 15 2.2 O HOSPITAL E A HOSPITALIZAÇÃO..................................................................... 17 2.2.1 O hospital e seu nascimento..................................................................................... 17 2.2.2 O adoecer e a hospitalização.................................................................................... 18 2.3 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO.................................................................. 22 3 MÉTODO........................................................................................................................ 27 3.1 CARACTERÍSTICA DA PESQUISA........................................................................... 27 3.2 PERFIL DOS PARTICIPANTES.................................................................................. 27 3.3 INSTRUMENTO E REGISTRO DE COLETA DE DADOS....................................... 28 3.4 SITUAÇÃO AMBIENTE.............................................................................................. 28 3.5 PROCEDIMENTOS...................................................................................................... 29 3.5.1 Seleção de participantes.......................................................................................... 29 3.5.2 Contato com os participantes................................................................................... 29 3.5.3 Organização, tratamento e análise de dados.......................................................... 30 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS........................................................... 31 4.1 SENTIMENTOS............................................................................................................ 31 4.1.1 Preocupação............................................................................................................... 31 4.1.2 Solidão........................................................................................................................ 32 4.1.3 Ansiedade................................................................................................................... 33 4.1.4 Medo........................................................................................................................... 35 4.1.5 Incerteza..................................................................................................................... 36 4.1.6 Saudade...................................................................................................................... 36 9 4.1.7 Conformismo............................................................................................................. 38 4.1.8 Sentir-se cuidado....................................................................................................... 39 4.2 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO.................................................................. 40 4.2.1 Fé................................................................................................................................ 40 4.2.2 Rede de apoio............................................................................................................ 41 4.2.3 Socialização................................................................................................................ 43 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 44 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 46 APÊNDICE......................................................................................................................... 49 APÊNDICE A – Roteiro de entrevista............................................................................. 50 ANEXO............................................................................................................................... 51 ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.......................................... 52 ANEXO B – Termo de Consentimento para Gravação em Áudio................................ 54 10 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa visa caracterizar e analisar quais os sentimentos e as estratégias de enfrentamento utilizadas por pacientes, sem acompanhamento de familiares, internados em um hospital geral. A mesma faz parte da formação do acadêmico de psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina que tem como característica geral relacionar a teoria com a prática. Esta relação da-se através do estágio curricular, referente ao Núcleo orientado em saúde desenvolvido no Hospital de Caridade – Irmão Senhor dos Passos, que tem o objetivo de aproximar o acadêmico da realidade que encontrará em seu cotidiano. A gênese desta pesquisa se deu através do interesse da pesquisadora em fenômenos psicológicos relacionados aos sentimentos e às formas de enfrentamento de pacientes hospitalizados para tratamento. A pesquisa está dividida em cinco partes: introdução, referencial teórico, método, apresentação e análise dos dados e considerações finais. A introdução constitui três partes: a problemática de pesquisa, os objetivos a serem alcançados e a justificativa para a realização do trabalho. O referencial teórico trata dos temas que fundamentam a pesquisa e que serviram para análise dos dados. No referencial teórico são abordados os seguintes temas: desenvolvimento familiar, hospitalização, sentimentos e estratégias de enfrentamento/coping. O método, por sua vez, destaca a maneira como a pesquisa foi efetuada, incluindo o instrumento de pesquisa escolhido, a entrevista. A análise dos dados foi realizada a partir dos relatos das participantes, onde foram feitas categorizações a posteriori: sentimentos e estratégias de enfretamento. Nas considerações finais pondera-se sobre a importância do psicólogo dentro do processo de hospitalização, para que o paciente frente ao seu acometimento e seu tratamento possa ter um suporte para manejar de forma saudável este momento pelo qual está vivenciando. 1.1 PROBLEMÁTICA O adoecer e a hospitalização acontecem de forma inesperada na vida das pessoas, trazendo mudanças e sentimentos em sua rotina de vida que pode ser experienciada de formas diferentes. Este processo pode desencadear uma crise no paciente devido ao desequilíbrio psicológico por estar frente a uma situação de risco. Severo e Girardon-Perlini (2005, p. 22) 11 caracterizam a crise como “acompanhada de sentimentos como ansiedade, raiva, medo e/ou depressão”. Neste sentido, a internação hospitalar pode ser caracterizada como uma crise, onde o paciente apresenta estressores psicológicos. Ao considerarmos que o adoecimento e a hospitalização geram fatores estressores e que a família poderia ajudar no manejo desses sentimentos, podemos pensar que a ausência dessa família desencadearia mais estressores. Desta forma, os pacientes que se encontram nesta situação precisam desenvolver estratégias de enfrentamento para lidar com este contexto. A família tem um papel importante na trajetória de recuperação e reabilitação do paciente, exercendo uma influência nas perspectivas de vida, incentivando-o a prosseguir em busca de recursos para sua recuperação. A presença de um ente familiar durante o processo de hospitalização é uma fonte de apoio e segurança. Franco (2002 apud SEVERO; GIRARDONPERLINI, 2005, p. 25) afirma que “a presença de um familiar é de segurança emocional para o paciente hospitalizado, além de ser uma medida preventiva aos problemas relacionados à integridade psicossocial do paciente”. Desse modo, podemos pensar que a experiência de uma internação hospitalar para um paciente longe da sua família é um processo difícil que pode acarretar em sofrimento. Estar distante dos seus familiares em um ambiente considerado estranho, frio, com rotinas rígidas e diferentes das dele, podem fazer emergir sentimentos como abandono, descuido, desânimo, desvalorização, dentre outros, que tem uma implicação negativa no processo de recuperação do indivíduo. A pesquisadora ao experienciar, em um outro momento, no Instituto de Psiquiatria de São José - Santa Catarina, as implicações que a hospitalização distante dos familiares acarreta na vida dos pacientes, e a forma como as estratégias de enfrentamento auxiliam no processo do tratamento, suscitou interesse em pesquisar o tema. No Hospital de Caridade, onde é realizado o estágio curricular em Psicologia da Saúde do Curso de Psicologia da Unisul, observou-se, ainda que empiricamente, que há uma demanda semelhante, onde há pacientes internados para vários tipos de tratamentos de médio e longo prazo e que se encontram longe de seus familiares. Desta forma, desenvolvem estratégias de enfrentamento para lidar com a situação real em que se encontram. A hospitalização longe de familiares é algo que ocorre com certa freqüência, por diversos motivos como condições financeiras, de saúde, de acomodação, dentre outros. Busca-se conhecer os sentimentos vivenciado pelo paciente e as estratégias de enfrentamento para propiciar, desta forma, aos profissionais, meios para se pensar em intervenções mais 12 adequadas, visando o bem-estar do paciente, auxiliando-o na recuperação e reabilitação do seu quadro. Partindo do contexto apresentado e motivada pelo desejo de aprofundamento do conhecimento acerca das formas de estratégias de enfrentamento e como eles são utilizados pelos pacientes afastados dos seus familiares, durante o processo de hospitalização, é que propõe-se investigar: Quais os sentimentos e as estratégias de enfrentamento utilizadas por pacientes afastados da família em decorrência da hospitalização? 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Geral Caracterizar quais os sentimentos e as estratégias de enfrentamento utilizadas por pacientes afastados da família em decorrência da hospitalização. 1.2.2 Específicos • Descrever os sentimentos vivenciados pelos pacientes afastados da família em decorrência da hospitalização; • Identificar as estratégias de enfrentamento dos pacientes frente a esses sentimentos. 1.3 JUSTIFICATIVA A saúde no Brasil tem estado cada vez mais abalada. O stress do dia a dia, as doenças, tem levado um grande número de pessoas às internações hospitalares. Segundo o Ministério da Saúde (2005), em 2001 o número de hospitalizações por 1000 habitantes foi de 13 70 para a faixa etária de 15 a 59 e de 152 para a faixa etária acima dos 60 anos com uma média de 6,5 dias de internação. O processo de hospitalização, geralmente mostra-se, como algo desagradável, visto que o paciente experiencia mudanças em sua vida, seu ambiente, seus hábitos, a separação de seus objetos, amigos e familiares. Como conseqüência dessas e de outras, mudanças como a convivência com pessoas desconhecidas, rotinas impostas, a doença em si que causa desconforto, emergem quase todos os tipos de sentimentos. Durante a internação, o paciente geralmente se vê impotente, dependente de outras pessoas, frustrado por não ter mais uma boa saúde, levando-o a buscar tanto no seu psiquismo como também nas suas redes de apoio, uma maneira para que esse processo transcorra de forma a conseguir enfrentar essa situação (SANTOS; SEBASTIANE, 2003). Neste contexto, existem pessoas hospitalizadas longe dos seus familiares e que não os tem como acompanhantes e acabam por desenvolver estratégias para lidar funcionalmente com este processo. Partindo do pressuposto que a internação pode provocar alterações na vida do paciente e sofrimento, é importante que se tenha um conhecimento sobre quais as estratégias de enfrentamento a serem utilizadas de forma funcional, para auxiliá-lo na sua recuperação e reabilitação. Tendo em vista uma pluralidade de fatores estressores relacionados com a hospitalização e as estratégias de enfrentamento a serem usadas, a pesquisa tem por finalidade contribuir para que se possa pensar em futuras formas de intervenções capazes de promover o conforto para estes pacientes, bem como minimizar os efeitos nocivos do processo de hospitalização. Com intuito de conhecer como é vivenciado o processo de hospitalização para o paciente e as formas como ele lida com esta situação, foram realizadas leituras acerca do tema e o que se percebeu é que existe um número considerável de pesquisas que falam a respeito dos sentimentos e das estratégias de enfrentamento experenciados no hospital. Porém, dentro da revisão realizada, não foram encontrados artigos ou textos relacionados com a percepção do paciente em situação de afastamento dos familiares em relação à hospitalização. Autores como Severo e Girardon-Perlini (2005), Santos e Sebastiani (2003), Crepaldi (1999), Silva (2007) nos relatam como o paciente enfrenta a hospitalização a partir da visão, por exemplo, da família ou da equipe de enfermagem. Algumas pesquisas foram realizadas em revistas eletrônicas como Scientia Médica, e outras em sites como Scielo, Pepsic, onde os resultados encontrados, em sua maioria, estão voltados para crianças e idosos. 14 Desta forma, destaca-se a relevância científica de tal pesquisa devido à necessidade de se contribuir com mais materiais acerca da percepção do paciente sobre a hospitalização e a forma com que enfrenta, com a ausência da família, este processo, propondo-se, desse modo, contribuir com novos olhares para este fenômeno. A caracterização dos sentimentos e das estratégias utilizadas pelas pessoas fornece subsídios para o delineamento de programas preventivos. Partindo desse pressuposto, esta pesquisa pode oferecer aos profissionais da saúde um subsídio a mais para trabalhar com esta realidade. Estudar os processos de enfrentamento de pessoas, hospitalizadas longe dos seus familiares, em situações estressoras, no contexto hospitalar, é pertinente na medida em que se observa a existência de uma demanda que precisa de suporte para lidar com tal situação. 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 DESENVOLVIMENTO FAMILIAR: CICLO DE VIDA Nas últimas década, alguns estudos foram realizados relacionando as variáveis família, saúde e doença. Atualmente, estes trabalhos têm enfatizado os aspectos positivos das variáveis familiares associados aos bons resultados obtidos na recuperação e/ou reabilitação do paciente, apontando a importância da família tanto no momento de saúde como no de doença (SILVA, 2007). O conceito de família tem sofrido diversas transformações ao longo da história, devendo se levar em conta a variável cultura, que muda de uma região para outra. Considerase, atualmente, o termo família não apenas como um grupo organizado pelo parentesco de laços consangüíneos, mas também aqueles de aliança. Será tomado como base o conceito de Osório (1997), em que a família pode apresentar-se de três formas básicas: a nuclear (conjugal) constituída por pai-mãe-filhos, a extensa (consangüínea) composta por outros membros com quaisquer parentescos e a abrangente que não tenha parentesco nenhum. Partindo dessas constituições, será pensado o adoecer e a forma como esses grupos familiares podem se envolver na doença de um ente. Carter e McGoldrick (2001, p. 384) relatam que “uma vez [que] a doença é parte do individuo, é essencial pensar simultaneamente sobre a interação do desenvolvimento do indivíduo e da família.” Essa é uma constituição indissociável, visto que o indivíduo pertence à família e que a doença terá uma ligação direta com esta. Neste sentido, Carter e McGoldrick (2001, p. 384) dizem que o indivíduo e a família constituem um ciclo de vida familiar e uma estrutura de vida humana que devem ser pensados de forma simultânea. “A noção de ciclo sugere uma ordem subjacente do ciclo de vida, através da qual a singularidade do indivíduo, da família ou da doença ocorre dentro de um contexto de seqüências e desdobramento básico”. Já a estrutura de vida familiar é o “padrão ou propósito subjacente da vida de uma pessoa/família em qualquer momento dado ciclo da vida.” (CARTER E MCGOLDRICK, 2001, p. 384) Segundo as autoras, tanto a doença quanto o indivíduo e a família passam por vários períodos de transição do seu desenvolvimento. O ciclo de vida da pessoa é marcado desde o seu nascimento até a sua morte, já o ciclo familiar é constituído por outros eventos como casamento, a saída de algum familiar de 16 casa e o nascimento de uma criança. Com relação à estrutura de vida, ela pode ser dividida em até oito estágios, variando de autor para autor. Um exemplo seria o de Levinson (1978 apud CARTER E MCGOLDRICK, 2001,p. 385) que apresenta como: “infância e adolescência, e idade adulta inicial, média e tardia.” Pode-se considerar que dependendo do momento em que esta família se encontre, ela terá mais ou menos subsídios para enfrentar a doença de um ente. A existência de um familiar doente obriga a família a passar por uma reestruturação em torno deste e pela ausência dele, mobilizado em maior ou menor proporção a todos, dependendo da gravidade do acometimento. Desta forma, Santos e Sebastiane (2003, p. 164) afirmam que quando a: Família se vê privada de um de seus componentes, privação essa imposta pelos limites que a doença provocou, esta se desequilibra, pois perde (temporariamente ou definitivamente) um dos seus pontos de referência e sustentação. Essa crise que se instala passa a provocar grande mobilização no sistema familiar. A integridade e identidade do sistema familiar encontram-se abaladas. A necessidade de uma adaptação se instaura, onde tanto a família como o paciente precisam superar a crise. Para que aconteça a reorganização, reestruturação e adaptação à nova realidade desse sistema, existe um período de desorganização. A desorganização (crise) geralmente tem seu início marcado pelo impacto frente ao diagnóstico e a hospitalização. Neste momento, “a família, tal qual o paciente, pode passar por diversos estados emocionais, como: medo, ansiedade, angústia, mobilização de mecanismos de defesas (negação, racionalização e fantasia, são os mais freqüentes), mas nesse caso toda a mobilização é com o intuito de superação da crise.” (SANTOS; SEBASTIANE 2003, p. 164). Para uma reestruturação ou adaptação deste sistema familiar deve se levar em conta o momento atual em que esta se encontra, visto que a doença é um evento inesperado que poderá trazer conseqüências dolorosas e definitivas. Combrinck e Graham (1985 apud CARTER; MCGOLDRICK, 2001,p. 385) elaboraram um modelo onde o ciclo de vida familiar tem fases centrípetas e centrífugas que se alternam. Há “períodos de aproximação familiar (centrípeto) e períodos de afastamento familiar (centrífugo).” A fase centrípeta geralmente culmina com acontecimentos que se tornam focos centrais como o nascimento de uma criança, perda de um ente e uma doença crônica. Neste sentido, quando a família recebe o diagnóstico de uma doença crônica de um dos seus componentes, existe uma tendência a união no sistema familiar para enfrentar esta nova realidade que se apresenta. A fase 17 centrífuga se daria a partir do momento em que esta família, já adaptada a nova realidade, consegue voltar sua atenção para outras coisas, no qual a doença deixa de ser o centro. 2.2 O HOSPITAL E A HOSPITALIZAÇÃO 2.2.1 O hospital e seu nascimento Na Idade Média, o hospital surgiu como um local essencialmente para dar assistência aos podres, como instituição que deveria “acolher”/recolher os enfermos portadores de doenças contagiosas e que eram considerados perigosos, loucos, devassos e prostitutas que deveriam ficar longe das vistas e convivência da sociedade. Uma instituição assistida por religiosos e leigos – caritativos - atribuindo uma função assistencial, de transformação espiritual e também de separação e exclusão. Foucault (1979, p. 101), relata que “o pobre como pobre tem necessidade de assistência e, como doente, portador de doença e de possível contágio, é perigoso. Por estas razões, o hospital deve estar presente tanto para recolhê-lo, quanto para proteger os outros do perigo que ele encarna.” O processo de reestruturação e modificação dessa linha de pensamento, onde o hospital deixou de ser um local de depósito de pessoas indesejadas e passasse a ser uma instituição médica hospitalar veio com os hospitais militares que se tornaram modelos. Esta reorganização se deu a partir da adoção de um modelo disciplinar que possui quatro pontos fundamentais que são: a distribuição espacial dos indivíduos, no qual Foucault (1979, p.106) relata que “a disciplina é, antes de tudo, a análise do espaço. É a individualização pelo espaço, a inserção dos corpos em um espaço individualizado, classificatório, combinado”; vigilância que deve ser constante sobre o indivíduo; o controle que segundo Foucault (1979, p. 106) deve acontecer sobre o desenvolvimento de uma ação e não no resultado desta e o registro contínuo. “A disciplina é um conjunto de técnicas pelas quais os sistemas de poder vão ter por alvo e resultado os indivíduos em sua singularidade.” Foucault (1979, p. 107). Este modelo disciplinar que ajudou a reorganizar a instituição hospitalar, foi se aprimorando com o passar do tempo, mas o ambiente frio, estranho, impessoal, de rotinas rigorosas, continuou presente. “O ambiente hospitalar, por sua vez, gera ansiedade a possibilidade de surpresas, do desconhecido, do desconforto, da dor, da perda de autonomia e 18 percepção da própria fragilidade ao enfrentamento da hospitalização e da doença.” (NODA; AUGUSTO, 1987 apud RESCK et al, p. 2735). Este conjunto de características marcantes, que o hospital ainda traz, faz com que o paciente que precisa fazer uma internação tenha sentimentos confusos, conflituosos e angustiantes. 2.2.2 O adoecer e a hospitalização Todas as experiências vivenciadas, direta ou indiretamente, boas ou ruins, durante a vida de uma pessoa, podem emergir das mais diversas formas no momento em que ela se depara com um diagnóstico de uma doença crônica. Aliados a isto, surgem incertezas, insegurança, sentimentos e estressores advindo deste acontecimento, que por vezes são inesperados, podendo levar a uma hospitalização. A doença acarreta em uma ameaça, um desequilíbrio e desarmonia de uma dinamicidade de fatores que caracterizam a saúde de uma pessoa. Segundo a definição da Organização Mundial da Saúde – OMS (1946), saúde “é um estado de completo bem-estar físico, psíquico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade.” (KUJAWA; BOTH; BRUTSCHER, 2003, p.13). Acredita-se que estes fatores influenciam diretamente na qualidade de vida e que está relacionada à saúde ou adoecimento da pessoa. Um equilíbrio, uma harmonia entre os estados psíquico, familiar, emocional, social estabeleceria um estado de realização e bem-estar. Já o desequilíbrio e a desarmonia, caracterizaria a doença. Dentro do processo de adoecimento não estaria apenas vinculado ao fator médico-biológico, mas por uma série de outros fatores como o emocional, familiar, social que estão estreitamente ligados. Segundo Santos e Sebastiane (2003, p. 150): Entende-se por doença a desarmonia orgânica ou psíquica, que, através de sua manifestação, quebra a dinâmica de desenvolvimento do indivíduo como um ser global, gerando desarmonização da pessoa; compreende-se esse desequilíbrio como um abalo estrutural na condição de ser dentro de sua sociocultura. O adoecimento gera uma ameaça à integridade e dinâmica desses fatores, produzindo, assim, uma série de frustrações, que perpassam desde os seus projetos de vida até as perdas impostas em decorrência deste acometimento. Dependendo da gravidade, o paciente é afastado do seu convívio social, do seu trabalho, da família, isolado em um 19 ambiente hospitalar para tratamento. Como advento da doença, há uma quebra da dinâmica e das relações existentes entre o indivíduo consigo mesmo e com seu mundo. Neste sentido, Oliveira (1985 apud SANTOS; SEBASTIANI, 2003, p. 152) afirma que “o Ser Doente tem ameaçado o seu futuro, o que acarreta grande insegurança, medo e ansiedade. É possível sentir o fim do futuro planejado, quer dizer, o ser-doente poderá ter a sensação de que tudo o que havia programado para o futuro não acontecerá jamais.” De acordo com Sebastiani (1984, apud CREPALDI; HACKBARTH, 2002), qualquer tipo de intervenção é sempre seguidas de medos e incertezas. O paciente diante de um procedimento cirúrgico, em maior ou menor grau, sempre é temido pelo mesmo. “O paciente tem medo da dor, da anestesia, ou de ficar incapacitado [...], sobretudo tem medo de morrer.” Dentro deste processo de adoecimento, o indivíduo acometido da enfermidade apresenta sentimentos confusos e dolorosos que podem se agravar e acompanhá-lo durante todo o processo, restando apenas a esta pessoa um esforço para se adaptar a essas mudanças. Schneider (1976 apud SANTOS; SEBASTIANI, 2003, p. 150) observa que: [...] mundo dos doentes mostra, sem dúvida, que não existe concordância entre o fato de ser afetado por uma doença crônica e ser, no plano psicológico, um doente crônico [...]. As alterações funcionais e lesionais podem acarretar certas restrições à sua vida, restrições às quais se adaptaram e as quais se adaptam quando surgem agravamentos [...]. Para além das restrições físicas, há também outras formas de restrições como a social e a familiar quando a pessoa precisa ser internada para tratamento. Desta forma, a internação hospitalar é um agravante a mais e que causa mais estressores além dos já existentes neste paciente e em seus familiares. Crepaldi (1999, p. 110), em sua pesquisa sobre a “Representação da doença e da hospitalização”, a partir da percepção dos familiares que vivenciaram situações de hospitalização de uma pessoa da família, relata que “a principal conseqüência da doença foi a hospitalização, acontecimento que altera acentuadamente a vida familiar, além de acarretar uma intensa carga de stress para a família.” Neste sentido, Santos e Sebastiani (2003, p.166) relatam que sentimentos de desamparo, medo, desesperança, ansiedade, preocupação e ameaça são freqüentes. Visto que a família torna-se uma preocupação a mais para o paciente, um fardo, e que desta forma o paciente busca poupá-los, omitindo dados sobre seu real estado a este e a equipe de saúde com o intuito de obter alta para voltar a cuidar dos seus. A família, por sua vez, não poupa o doente dos problemas que surgem fora do hospital. 20 A necessidade da internação é um momento de nervosismo, inquietação, angústia a ser enfrentado tanto pelo paciente quanto por seus familiares. Segundo Crepaldi (1999, p. 111), nota-se que “a realidade da doença e a internação provocam um estado de desorientação comparado ao da loucura. Trata-se de uma revelação, para muitos, insuportável.” A hospitalização é um período onde o indivíduo encontra-se fragilizado, com medo, inseguro e com seu estado físico-psico-emocional abalado, visto que sua saúde está alterada a ponto de não poder receber os cuidados necessários em seu lar, junto a seus familiares. Segundo Armelin e Scatena (2000 apud RESCK; TERRA; STELLA; RIOS E SILVA, p. 2736), “a hospitalização acontece num momento em que a saúde da pessoa está alterada a um nível que não pode receber tratamento em casa. Isto implica que o contato com o hospital se dá num momento de intensa carga emocional condicionada pela doença e pelas limitações por esta provocadas.” Entretanto, Moreira e Castro (2006) relatam que o cuidado e a atenção dispensada ao paciente, é visto como positivo na hospitalização. O cuidar passa a ser mais que um ato, é uma atitude que abrange um momento de atenção e de zelo. Representa uma preocupação, uma responsabilidade e um envolvimento efetivo com o outro. Para o paciente, a internação é um acontecimento estressante, sofrido, de muita angústia e ansiedade, levando em conta que é um processo onde muitas vezes ele não tem o poder de decisão em suas mãos, pois é algo inesperado e inevitável. Segundo Crepaldi e Hackbarth (2002) no processo cirúrgico, o indivíduo passa por um momento pré-cirúrgico que se constitui em uma espera permeada de pré-exames, jejum e expectativas do que possa ocorrer. Por conseguinte, a pessoa passa a se submeter a uma série de normas e rotinas em um local, favorecendo desta maneira uma série de sentimentos. Seitz (2006, p. 156) relata que “os pacientes são distribuídos por unidades de acordo com seu diagnóstico e, então, são submetidos a normas e rotinas rígidas e inflexíveis, favorecendo um ambiente de solidão e isolamento que geram, dentre outros sentimentos, ansiedade, angústia e insegurança.” Todo este processo tende a levar a um sofrimento, ao medo da morte, gerando um desconforto moral, espiritual e físico. Esse ambiente hospitalar considerado frio, com ausência de familiaridade, reforça os sentimentos de solidão, medo, insegurança e traz consigo outros agravantes como a destituição da sua autonomia, da sua posição social, a dependência que o adoecimento impõe, os compromissos pendentes e afastamento do convívio da família. Beuter (1996, apud SEITZ, 2006, p. 156) diz que “as pessoas, no hospital, ficam expostas a um ambiente estranho e impessoal, onde o relacionamento dos profissionais de saúde com elas caracteriza-se pela 21 distância, formalidade, informações rápidas e a utilização de terminologias técnicocientíficas”. De acordo com Armelin e Scatena (2000 apud RESCK; TERRA; STELLA; RIOS E SILVA, p. 2736) o indivíduo é destituído da posição em que ocupavam na sociedade, para participar de um grupo social específico de doentes. Segundo os autores, o apoio emocional é uma forma de auxilio para o manejo da situação, proporcionando um conforto e uma promoção da saúde. Neste processo de hospitalização, os pacientes, em geral, são surpreendidos a modificarem suas vidas. Farias (1981, apud SEITZ, 2006, p. 157) coloca que para além dos estresses gerados pela doença e internação, a hospitalização provoca mudanças tanto no ambiente físico, no social e na rotina diária da pessoa, afetando desta maneira todo seu sistema de vida. Segundo Moreira e Castro (2006): “Ao hospitalizar-se, a pessoa precisa romper com todas as atividades sociais, a ficar longe da sua família e daqueles que lhe são queridos, deixando de ser um indivíduo socialmente ativo para se tornar um paciente, com diminuição de contatos com parentes e conhecidos.” A hospitalização traz consigo, além da doença, um sofrimento correlacionado a ruptura entre o paciente com sua história de vida, família, realidade e sua identidade. “Com a internação, o indivíduo percebe que não é mais o mesmo, pois há uma ruptura na história deste, ocasionando sofrimento diante de sua própria imagem já alterada. Sabe-se que o hospital tem uma função separadora. Internado, o doente fica sozinho; apesar de o hospital dar a retaguarda, acaba impondo suas normas.” (SANTOS; SEBASTIANI, 2003, p. 153). O paciente, dentro desse novo universo de ambiente e pessoas estranhas, procura apoio com a equipe de enfermagem e passa a contar com a companhia dos demais pacientes, visto que ele, de modo geral, sente-se sozinho, o que pode influenciar na evolução do seu quadro clínico. O paciente, mesmo dividindo o espaço físico com outros pacientes, sabendo que conta com a presença e auxílio de colegas de enfermaria, pode ter a sensação de estar só, isolado de sua família e comunidade, sendo que essa sensação poderá provocar o estresse e, conseqüentemente, retardar o processo de recuperação. (SEITZ, 2006, p. 157). Quando se pensa num processo de hospitalização e reabilitação de um paciente hospitalizado, devemos incluir nesse processo, para além dos cuidados médicos, o cuidado da família para com este ente. Aliar a família neste processo possibilita uma outra perspectiva na recuperação desta pessoa. A ausência desta, pode gerar angústia e uma sensação de abandono. 22 Face à situação em que o paciente se encontra, com conflitos, angústia, ansiedade, sofrimento, dor, sentimentos de abandono, solidão, medo desencadeados pelo seu diagnóstico e hospitalização, ele desenvolve um conjunto de estratégias para enfrentar esses fatores estressores, sendo eles saudáveis ou não (SILVA, 2007). Segundo Folkman e Lazarus (1984, apud ZAKIR, 2003, p.93), essas estratégias de enfrentamento “processa-se mediante mobilização de recursos naturais, com fins de administração de situações estressoras.[...] O empenho em se lidar com o estressor [...], independentemente do sucesso ou fracasso que se tenha obtido.” Sabe-se que o adoecimento e a internação hospitalar se tornam para o indivíduo um lugar central em sua vida. Uma nova realidade lhe é apresentada, na qual ele deverá aprender a lidar, desenvolvendo novas estratégias e/ou adaptando as já existentes. 2.3 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO/COPING No momento em que o indivíduo adoece e é hospitalizado, ele se vê repentinamente obrigado a mudar sua vida, gerando uma série de sentimentos e comportamentos devido a este acontecimento. São esses momentos que causam situações estressoras que o levam a evocar respostas para lidar de maneira funcional com o contexto que esta sendo vivenciado. Essas respostas são chamadas de coping ou estratégias de enfrentamento; são utilizadas pelos pacientes para amenizar, de alguma forma, seus sofrimentos, suas ansiedades e angústias. Segundo Taylor (1999 apud ALLEGRETTI, 2006, P. 25), “na literatura o termo coping ou enfrentamento é empregado para identificar a maneira de lidar com demandas, internas ou externas, avaliadas pelo indivíduo como estando além de seus recursos ou possibilidades.” Folkman e Lazarus (1984 apud ZAKIR, 2003, p. 93) definem coping como “esforços cognitivos e comportamentais para lidar com exigências que ultrapassem os recursos individuais”. O enfrentamento é considerado uma resposta cujo objetivo é aumentar a percepção de controle pessoal e a tendência a escolher determinada estratégia de enfrentamento dependendo do repertório individual (como habilidades sociais e valores) e de experiências tipicamente reforçadas. (SAVOIA, 1996 apud ALLEGRETTI, 2006, p. 28). 23 As estratégias de enfrentamento se dão mediante mobilização de recursos naturais, com a finalidade de administrar as situações estressoras, as quais, segundo Zakir (2003, p. 93), “consistem de interação entre o organismo e o ambiente, na qual se lança mão de um conjunto de estratégias destinadas a promover a adaptação às circunstâncias estressantes”. Encontra-se na vida do paciente contingências incontroláveis desde o diagnóstico da doença até a hospitalização, resultando em fatores estressores que demandam de estratégia para que ele possa enfrentar tais situações. As estratégias de enfrentamento, segundo Allegretti (2006, p. 26), “são ações deliberadas, conscientes, que podem ser aprendidas, usadas e descartadas e cujo objetivo é lidar com o estresse percebido.” Cerqueira (2000 apud ZAKIR, 2003, p. 93) expõe que o coping tem como característica o foco no contexto atual, no que a pessoa pensa ou faz e não o que pensaria ou faria. Desta forma, esses recursos podem ser utilizados no contexto hospitalar e depois não mais. Folkman e Lazarus (1984 apud ZAKIR, 2003, p. 94) afirmam que: As funções do coping são duas: alterar as relações indivíduo-ambiente controlando a situação geradora de tensão (centrado no problema) ou modular a resposta emocional evocada pela situação-problema (centrado na emoção). Estas últimas são mais freqüentes em situações incontroláveis, que não podem ser evitadas ou cujas condições de nocividade ou desafio são imutáveis. Quando os autores acima afirmam sobre a existência de duas funções do coping, onde uma é centrada no problema e outra centrada na emoção, eles relatam que a centrada na emoção visa amenizar o desconforto emocional, onde se evoca uma resposta emocional para uma situação problema. Para Lorencetti e Simonetti (2005), “coping centrado na emoção descreve a tentativa de substituir ou regular o impacto emocional do estresse no indivíduo, derivando principalmente de processos defensivos, o que faz com que as pessoas evitem confrontar conscientemente com a realidade de ameaça”. Já a centrada no problema propõe-se a operar mudanças no ambiente se o indivíduo se controla ou altera a situação problema. Neste sentindo, Lorencetti e Simonetti (2005) contribuem dizendo que: O coping centrado no problema refere-se aos esforços de administrar ou alterar os problemas, ou então melhorar o relacionamento entre as pessoas e o seu meio. São estratégias consideradas adaptativas mais voltadas para a realidade, na tentativa de remover ou abrandar a fonte estressora. Podem estar dirigidas ao ambiente na definição do problema, levantamento e avaliação de soluções, escolha de alternativas e ação. 24 Folkman e Lazarus (1984 apud ZAKIR, 2003, p.94) citam algumas estratégias de enfrentamento que são usadas pelos indivíduos para enfrentar situações estressoras como: “saúde e energia, crenças positivas, habilidade para resolução de problemas, habilidade social, busca de suporte social e recursos materiais.”, bem como a fé, atividades lúdicas e operacionais, fuga e esquiva de situações ameaçadoras. Neves (2002, apud ALLEGRETTI, 2006, p. 28), realizou um estudo com trinta pacientes com diagnóstico de câncer e o estudo objetivou avaliar as estratégias de enfrentamento e o nível de depressão. Com relação às estratégias, observou-se que as mais utilizadas pelos pacientes foram a fuga e a esquiva (esforço no sentido de evitar a situação aversiva) e o suporte social. Outra estratégia de enfrentamento usada por pacientes é a fé. O coping religioso tem por objetivo a busca por um significado, o controle, conforto espiritual, uma aproximação com Deus e com outros membros da sociedade e transformação de vida. Com o mesmo, a busca do bem-estar físico, psicológico e emocional, de crescimento e conhecimento espiritual (PANZINI; BANDEIRA, 2008). Dados da literatura evidenciam que o uso da fé é uma estratégia muito usada por pacientes doentes, especialmente quando há risco de vida, bem como sugerem que a prática religiosa pode ser benéfica na presença de doenças orgânicas, facilitando o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e no auxílio do processo de recuperação e reabilitação de doenças (ALLEGRETTI, 2006, p. 29). Faria e Seidl (2005 apud Panzini; Bandeira, 2008) investigaram a relação entre coping religioso/espiritual (CRE) e bem-estar subjetivo (BES) em 110 adultos em acompanhamento médico ambulatorial convivendo com HIV/Aids, no qual o objetivo visou: Avaliar o poder preditivo do coping (incluindo CRE), da escolaridade e de estados de saúde sobre o componente afetivo do BES. Quase a totalidade da amostra relatou ter crenças religiosas e 90% acredita que a religiosidade poderia ajudar no coping com problemas de saúde. A maioria mostrou uso freqüente de CRE, com predomínio do CRE positivo, que esteve associado à freqüência elevada de práticas religiosas. O coping religioso tem basicamente 5 estilos de resolução de problema que são: A autodireção, onde Deus é mais passivo nas resoluções dos problemas e o indivíduo mais ativo se baseando na premissa de que Deus dá a liberdade para que o indivíduo conduza sua própria vida. A segunda é a delegação, no qual o indivíduo passivamente espera que Deus solucione os seus problemas, onde fica isento da responsabilidade. No estilo colaboração, ambos (Deus e indivíduo) são ativos, havendo uma parceria e co-responsabilidade na solução 25 do problema. O quarto estilo é a súplica, onde o indivíduo através de petições por uma intervenção divina tenta influenciar a vontade de Deus. A renúncia, quinto estilo, é a escolha do indivíduo a renunciar a sua vontade em favor da vontade de Deus. Difere do estilo colaboração no sentido de ser sacrifical de submissão da vontade indivíduo (PANZINI; BANDEIRA, 2008). A ausência da família, que por vezes é imposta, leva o indivíduo a criar estratégia que o auxilie a fazer trocas, ter uma relação social, um compartilhamento. Bellato e Carvalho (2002) relatam que: Se a presença da família não pode ser constante junto à pessoa doente durante a hospitalização, de maneira a aplacar-lhe a solidão, é necessário que ela encontre outras formas de ser/estar junto, de compartilhar, visto que faz parte da estrutura antropológica o viver coletivo, pois só podemos existir na medida em que fazemos parte de uma ordem, na qual integramos nossa diferença assumida num todo, que vai além de nós. Claro que tal visão não é verbalizada sob essa forma, sendo vivida quase que intencionalmente, traduzindo-se no profundo pluralismo e politeísmo de valores que impregnam a vida social. O indivíduo hospitalizado tem consciência da precariedade da existência que está vivenciando; não espera, desta forma, por “grandes manhãs” para por em prática a partilha, a troca, pois sabe que o aqui e o agora do tempo presente não se pode postergar. “O tempo presente da hospitalização e o lugar que se partilha, ainda que seja o estreito espaço de uma enfermaria, formam o substrato concreto da socialidade presente nesse vivenciar o mundo do Hospital, junto às demais pessoas doentes.” (BELLATO; CARVALHO, 2002). Mas este compartilhar pode ser conflituoso, onde se tem um pluralismo de diferenças que pode ir dos desejos do indivíduo até seus valores. O convívio é difícil, sendo necessárias negociações, "jeitinhos", arranjos, para acomodar os interesses diversos, visto que a diferença é ainda bem mais negociada que a solidão. Assuntos corriqueiros como decidir se vai ou não haver televisão na enfermaria ganham uma grande importância, pois as opiniões divergem, as necessidades variam, assim como o grau de tolerância e aceitação do outro diferente. Contudo, como em uma família, cada um tem direito a expor seu ponto de vista, ainda que não se chegue a um acordo que agrade a todos. (BELLATO; CARVALHO, 2002) Segundo Pietrukowicz (2001), as redes de apoio envolvem questões que se relacionam como as relações sociais, as relações íntimas e as relações comunitárias. As mesmas incluem atividades que permitem ser compartilhadas num espaço de tempo com amigos, familiares, dentre outros grupos ou qualquer pessoa que ofereça o apoio afetivo ou material. 26 No hospital, existem momentos onde se constroem uma teia que aproxima as pessoas sem que haja, para isso, uma finalidade específica, pautando-se apenas no prazer de compartilhar, ainda que seja só uma conversa, um "causo", uma risada, todos esses “nadas” que compõem a vida de todo dia, que, na ausência deles, perde todo o colorido e riqueza. O estar junto se basta (BELLATO; CARVALHO, 2002). Bellato e Carvalho (2002) relatam em sua pesquisa “O compartilhar espaço/tempo entre pessoas doentes hospitalizadas”, que o lúdico aparece entremeando a vivência da hospitalização, não através de situações estereotipadas, como jogos ou momentos e espaços próprios para o lazer, mas de maneira simples, em instantes de puro prazer pelo ser/estar junto com o outro. “Esse instinto vital, irreprimível, de querer viver, irrompe pelos interstícios da vida regrada, normatizada, do Hospital, e se faz presente em pequenos gestos, em rápidos momentos de encontro, até mesmo nos encontros amorosos, não permitidos dentro da instituição, mas que acontecem mascarados, dissimulados.” (BELLATO; CARVALHO, 2002). Segundo os autores, o espaço em que a socialização acontece, torna-se imbuído de valores quanto vivenciado junto, do contrário, a “pracinha do Hospital”, se torna um local desprovido de maiores atrativos. O espaço, nesse caso, faz-se laço, une todos num mesmo território, propiciando uma sedimentação das relações. Nesta socialização, o paciente se depara com o sofrimento do outro e as emoções são partilhadas como forma de consolo. Bellato e Carvalho (2002) afirma que “não se pode fazer nada minorar o sofrimento do outro, apenas ser solidário, ter com-paixão, ou seja, paixão partilhada, pois ver o outro sofrendo nos afeta também.” As estratégias de enfretamento têm por finalidade reduzir as condições desfavoráveis, possibilitando, desta maneira, a adaptação ou tolerância aos aspectos negativos que se apresentam. Em suma, as estratégias de enfrentamento têm por objetivo amenizar os efeitos de situações estressantes e manter o bem-estar do indivíduo. 27 3 MÉTODO 3.1 CARACTERÍSTICA DA PESQUISA Diante do fenômeno proposto e visando responder de forma mais adequada o problema de pesquisa, que é marcado por uma dinamicidade e pluralidade de sentidos e variáveis, foi realizado um estudo de caso de natureza qualitativa. De acordo com Minayo (2004), trata-se de uma pesquisa que trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. E tem como característica ser exploratória, que segundo Gil (2000), busca uma maior familiaridade com o fenômeno, obtendo percepções, idéias desconhecidas e inovadoras sobre o mesmo, tornando-o mais explícito. 3.2 PERFIL DOS PARTICIPANTES Participaram desta pesquisa três (03) mulheres internadas no Hospital de Caridade – Irmão Senhor dos Passos e quem não estavam acompanhadas por seus familiares durantes o processo de hospitalização. Segue abaixo um quadro com o perfil das participantes. Cabe ressaltar que a identidade das participantes será mantida em sigilo e, desta forma, os nomes utilizados são ficticíos. Sujeito Idade Estado civil Nº de filhos Religião Profissão Residência Jasmim 48 Separada 2 Católica Do lar Florianópolis Rosa 44 Casada 3 Evangélica Do lar Campos Novos Violeta 32 Casada 2 Católica Do lar Florianópolis Quadro1: Perfil das participantes Fonte: Dados de prontuário, elaboração da autora, 2008. 28 A partir do quadro 1, podemos observar que as participantes são todas mulheres que já são mães e exercem a função de dona de casa. Jasmim, uma mulher de 48 anos que veio morar em Florianópolis há 1 ano para ter uma maior possibilidade de fazer um transplante. Seus dois filhos moram em Porto Alegre e ela mora aqui com sua neta de 10 anos e um casal de amigos. Rosa, 44 anos, é casada e tem três (03) filhos, sendo que apenas um (01) mora com ela: uma menina de 13 anos de idade que sofre de uma bronquite aguda e depende de cuidados. Seu marido trabalha o dia todo fora de casa e os outros dois filhos são casados e moram em outro município. Já Violeta, 32 anos, é casada e tem dois (02) filhos pequenos que precisou deixar aos cuidados da avó. Seu marido trabalha o dia todo e não pode lhe acompanhar. 3.3 INSTRUMENTO E RESGISTO DE COLETA DE DADOS O instrumento utilizado para a realização da coleta de dados, foi uma entrevista semi-estrutarada (Apêndice A) constituída de 17 questões que permitiu que o tema fosse explorado no transcurso da aplicação. Os dados foram coletados após o consentimento dos participantes que assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e outro autorizando a gravação de áudio (TCGA), (Anexos A e B). A coleta foi realizada com auxílio de um gravador de áudio e um MP4 que permitiram a transcrição, na íntegra, das entrevistas. A entrevista foi elaborada a partir dos objetivos específicos da pesquisa. Desta forma, as perguntas tinham, por finalidade, obter subsídios que permitiam a caracterização dos sentimentos e as estratégias de enfrentamento que os pacientes não acompanhados por familiares utilizam no processo de hospitalização. 3.4 SITUAÇÃO AMBIENTE A pesquisa foi realizada no Hospital de Caridade, junto ao quarto das pacientes internadas. No transcurso da entrevista houve interrupções por parte da equipe de enfermagem e de outras pacientes que dividiam o quarto com uma as entrevistadas. Buscou-se com esta 29 escolha uma maior comodidade e preservação das participantes, visto que duas das mesmas tinham dificuldade de locomover-se para outro ambiente. 3.5 PROCEDIMENTOS 3.5.1 Seleção de participantes O processo de seleção dos participantes se deu a partir dos seguintes critérios: pacientes adultos, com idade mínima de vinte anos, internados no mínimo a seis dias no Hospital de Caridade – Irmão Senhor dos Passos de Florianópolis para tratamento e sem acompanhantes durante o processo. O quadro a seguir se refere aos dados dos prontuários das respectivas participantes que foram disponibilizados pela equipe de enfermagem. Sujeito Tratamento Tempo de internação Jasmim Transplante renal 7 dias Rosa Químioterapia 8 dias Violeta Colecistectomia 6 dias Quadro 2: Tipo de tratamento e tempo de internação. Fonte: Dados de prontuário, elaboração da autora, 2008. 3.5.2 Contato com os participantes A pesquisa somente pode ser realizada após o aval concedido pelo Comitê de Ética, conforme a resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS), nº 196/96, que regulamenta a pesquisa com seres humanos. O primeiro contato da pesquisadora foi com as equipes de enfermagens das duas Alas onde foram realizadas as entrevistas e que são atendidas pelo Serviço de Psicologia da Unisul no Hospital de Caridade. Foi apresentada a pesquisa com o objetivo de se obter conhecimento dos possíveis participante. A partir dessas informações, houve uma triagem nos prontuário para confirmação dos dados. Uma das participantes foi indicada pela responsável de umas das alas. 30 Após a triagem, a pesquisadora entrou em contato pessoalmente com as pacientes em seus leitos, onde apresentou a pesquisa e seus objetivos. Foi, também, explicado que a entrevista seria gravada mediante o consentimento das mesmas, que assinaram um Termo de Consentimento para Gravação em Áudio (Anexo B), assim como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE - (Anexo A) que resguardar o sigilo das informações. As dúvidas que emergiram, por parte de uma das participantes, a respeito da gravação e do sigilo foram esclarecidas. 3.5.3 Organização, tratamento e análise dos dados Os dados foram organizados a partir das entrevistas gravadas e transcritas, onde buscou-se obedecer ao roteiro previamente elaborado. Após as transcrições na íntegra, das entrevistas, e digitação no computador da pesquisadora, foi utilizado para compilação e organização dos dados, a análise do conteúdo, com a organização de categorias. Esta é definida, segundo Bardin (1977, p. 42), por: Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens. Após a coleta dos dados, foram construídas categorias a posteriori relacionadas com os temas da pesquisa. Posteriormente os dados foram analisados com base no referencial teórico buscando responder os objetivos da pesquisa. 31 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Neste capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa que teve por objetivo principal investigar quais os sentimentos e estratégias de enfretamentos utilizados por pacientes afastados da família em decorrência da hospitalização. Os dados a serem apresentados foram organizados a partir de um roteiro de entrevista semi-estruturado onde posteriormente foram transcritas. Em seguida, as entrevistas foram fragmentadas e as falas significativas que representaram as categorias foram selecionadas. A partir dos dados obtidos serão apresentadas duas categorias: sentimentos e estratégias de enfrentamento. 4.1 SENTIMENTOS Esta categoria tem por objetivo apreciar quais os sentimentos vivenciados pelos pacientes durante o processo de hospitalização em que se encontram sem o acompanhamento de seus familiares, visto que esse é um processo onde o indivíduo experiencia uma séria de sentimentos entrelaçados. A análise constou de uma leitura fluente das falas das informantes onde foram apontadas as seguintes subcategorias: preocupação, solidão, ansiedade, medo, incerteza, saudade, conformismo e sentir-se cuidado. 4.1.1 Preocupação A primeira subcategoria refere-se à preocupação que surge nas pacientes com relação aos seus familiares, devido ao período de sua ausência no ciclo familiar, no qual passam a omitir seu estado real com a intenção de poupá-los. Desta maneira, o paciente resguarda dos seus familiares o seu estado real, omitindo diagnósticos incertos e/ou ruins. Na entrevista, Jasmim relata sobre esta sua preocupação a partir da seguinte fala: “Minha família não sabe que eu estou nesse processo de tirar o rim. Nem sabem! Eles me ligam: “Ah, tá bom?”. “Tá”! O médico não fala com a família, entendeu! Ele vai falar comigo. Não quero que eles saibam.” (Jasmim) 32 “Eu não deixo ela sozinha nunca sair longe de mim, ela nunca... eu nunca sortei ela sozinha antes. Eu tenho cuidado dela, ela é doente, tem pobrema de bronquite, tem dia que ela não tem força nem pra passar o pente no cabelo, é eu que cuido ela não tem quem cuida ela, o marido trabalha. Tem dia que ela fica na cama se aflige pede socorro perde força, o cabelo dela é bem comprido é eu que atendo, e como eu to aqui não tem quem cuida ela, nem a roupinha dela não consegue lavar quando está doente, ela chora. Os outros são casado eu não penso muito, mas ela... se sabe que que é tá com bronquite falta ar, não ter força nem pra se lavar, eu sempre to do ladinho dela. Entendeu! Hoje ela me ligou dizendo que tá ruim e que a vó ficou doente.” (Rosa)1 “Hoje já ligaram e mais tarde ligam de novo. É que nem eu te digo, é aquela coisa assim...como que você vai chega e dizer: “Ah, como tu ta?” “ Eu to assim...bem, mas pode acontecer isso...”. Que bem é esse! Então eu digo que to bem! Não falo mais nada.” (Rosa) Nesta subcategoria, encontramos na fala de Rosa um fator motivador para sua preocupação que vem ao encontro do que Santos e Sebastiani (2003) descrevem, onde um familiar doente e hospitalizado modifica a estrutura de um grupo familiar, pois este que tem um papel importante passa a ser privado devido à imposição da sua doença e da hospitalização. É sabido que neste momento a família precisa se reorganizar devido à ausência deste integrante que tem uma função neste sistema, e que tanto o paciente quanto seus familiares estão mobilizados com intuito de superar esta crise. Pode-se perceber, através dos relatos transcritos, que as preocupações que emergem nas pacientes, em sua maioria, estão entrelaçadas aos seus familiares, no qual toda mobilização realizada pelas mesmas pode acarretar em situações que prejudiquem sua recuperação, visto que seu estado emocional encontra-se abalado. Armelin e Scatena (2000 apud RESCK; TERRA; STELLA; RIOS E SILVA, p. 2736) afirmam que o apoio emocional é uma forma de ajuda, cujo objetivo é oferecer o conforto e a promoção da saúde. Acredita-se, porém, que é possível reduzir tais situações e conseqüentemente este sentimento, se os familiares participarem mais ativamente deste processo, fazendo o acompanhamento, mesmo que a distância, da evolução do quadro clínico junto à equipe de saúde. Podendo, desta forma, possibilitar o suporte que o paciente necessita. 4.1.2 Solidão 1 Todas as expressões foram transcritas a partir das falas das participantes e são fidedignas em todas as colocações e concordâncias, independentemente se estão de acordo ou não com a norma culta da língua portuguesa. 33 A segunda subcategoria refere-se ao aspecto da solidão que é vivenciado pelos pacientes em decorrência do processo de hospitalização e do ambiente hospitalar. Trata-se de um isolamento que é imposto devido ao tratamento. Jasmim, Violeta e Rosa relatam em suas falas este sentimento: “É...umas das coisas é que eu detesto ficar sozinha, entendeu! Que é ruim! É tudo estranho... Eu fico aqui no meu quarto...” (Jasmim) “Assim, é bem, bem complicado. Só de tá aqui sozinha assim... as pessoas estranhas... não ter o apoio da tua família tanto porque o marido tem que trabalhar, a mãe tem que cuidar dos meus filhos então... É bem complicado!” (Violeta) “Mas é difícil... eu fico aqui sozinha.”(Rosa) Podemos evidenciar diante do relato das participantes e a partir do que Seitz e Beuter (2006, p. 156) relatam, que o hospital por ser considerado um ambiente frio, formal, onde se encontram pessoas estranhas compartilhando o mesmo local e onde há uma ausência da familiaridade de objetos, comunidade e da rotina de vida, suscitam um sentimento de estar só diante do seu processo de tratamento. Observa-se a partir do depoimento das informantes que, apesar do hospital ter uma estrutura que deveria dar um suporte aos seus pacientes, existe uma sensação de estar sozinho neste processo e a busca de um isolamento em conseqüência a isso. A impossibilidade da família estar junto a esta pessoa doente durante a hospitalização vem de maneira a aplacar-lhe a solidão. Segundo Seitz (2006, p. 156), “os pacientes são distribuídos por unidades de acordo com seu diagnóstico e, então, são submetidos a normas e rotinas rígidas e inflexíveis, favorecendo um ambiente de solidão.”. Neste cenário, fica claro a necessidade de entendimento da equipe de saúde da dimensão das relações humanas, visto que o cuidar de pessoas ultrapassa a patologia. Trata-se de cuidar de um ser humano em sua totalidade, suas diferenças e sua diversidade, que precisa para além dos medicamentos mais atenção e carinho. 4.1.3 Ansiedade Conforme mostram os relatos, esta subcategoria foi motivada pelas impotências vivenciadas pelas informantes frente aos acontecimentos: a espera pela alta, a mudança na sua 34 dinâmica de vida e a expectativa pela melhora para poder sair do ambiente hospitalar. Porém, esta apresentação não se deu de forma clara e direta. Ela foi se revelando por meio de pequenos gestos, atitude e meias palavras dispersas durante a narrativa. “Porque eu fico aqui dentro, mas sei que as coisas tão acontecendo lá fora né! Daí vejo as coisas na televisão... fico angustiada. Dá vontade de sair e ir embora.” (Jasmim) “Hoje eu levantei e daí fui lavar a roupa né! Tava tranqüilo começou algumas horas né! Daí comecei a ficar nervosa de novo, mas fica, não é fácil né. A gente fica tipo fechada, aí por aí né, não tem muita saída só aqui aí fora um pedacinho, não tem serviço pra gente fazer daí não passa o dia né! e...é isso aí!” (Rosa) “Tem horas que os pensamentos misturam, penso assim: “putz, uma cirurgia que vai abrir minha barriga, pode ter complicação.” Então o sentimento não é um só, o sentimento muda assim....vária muito, não tem um sentimento só! Acho que a única coisa que é certa é a vontade, o sentimento de sair daqui! Esse é sempre, independente se o sentimento é de confiança ou de medo, a vontade única é mesmo de sair daqui.” (Violeta) Pelos depoimentos, podemos perceber que as informantes, em sua totalidade, apresentam uma vontade de sair deste ambiente que lhe tira autonomia, que se apresenta com restrições físicas e funcionais e as isolam do mundo. A impotência com relação a sua saúde, as decisões a serem tomadas sobre o tratamento e sua alta que não se encontra sem suas mãos, são situações vivenciadas com freqüência. Para Noda e Augusto (1987 apud RESCK et al, p. 2735) as ansiedades são geradas por possibilidades de surpresas do desconhecido, do desconforto e da perda da autonomia experienciada pelos pacientes devido à internação. A sensação da perda da sua função e da produtividade é muito conflituosa, visto serem perdas a mais daquelas que os mesmos já tiveram durante este processo. No depoimento de Rosa, constatou-se que o ambiente hospitalar com suas restrições físicas dificulta a passagem do tempo, visto que as atividades a serem realizadas são limitadas. Armelin e Scatena (2000 apud RESCK et al, p. 2736) corroboram afirmando que o paciente hospitalizado é destituído da posição que ocupava para assumir um papel de doente internado. Um papel do qual não se tem utilidade. Falta de comunicação ou uma comunicação insatisfatória dos procedimentos e tratamento da doença é um dos fatores que desencadeiam situações de ansiedade nas quais nos deparamos no relato da informante Violeta. Segundo ORIÁ; MORAES; VICTOR (2004), se considerarmos a promoção da saúde envolvendo um bem-estar bio-psico-sócio-espiritual e emocional devemos ponderar que ele perpassa a comunicação entre equipe de saúde e paciente. 35 4.1.4 Medo Esta subcategoria surge a partir do medo apresentado pelas pacientes com relação ao processo de tratamento. A insegurança frente a uma possibilidade do término da vida, ou de um procedimento que não se pode ter uma certeza do seu real resultado são demonstrados nas falas de Violeta e Jasmim: “Uma que eu vou passar por uma cirurgia que eu nem sei o que pode acontecer ou não, porque toda cirurgia tem seus riscos né, e... assim e bem, bem complicado.” (Violeta) “Se não tivesse com tanto medo. É um medo natural. Porque esperar tanto tempo para fazer e chega até o ponto de tu fazer. Ai tu sofre! É uma coisa dolorida. É ruim! Ai chega, não funciona e tudo de novo para máquina.” (Jasmim) É fácil observar no depoimento das informantes que existe uma sobrecarga física e emocional que leva as mesma a vivenciar uma angústia. Esta sobrecarga vem ao encontro do que Oliveira (1985 apud SANTOS; SEBASTIANI, 2003, p. 152) afirma ao dizer que o paciente vê seu futuro ameaçado e tudo que já havia programado pode não vir a acontecer, suscitando desta forma uma sensação de medo. No caso de Jasmim que fez um transplante, percebe-se esse medo do futuro, onde seus planos de não depender mais da hemodiálise para viver pode não ser concretizado, inviabilizando seus projetos. Já Violeta reproduz seu medo no que diz respeito à proximidade da morte, uma vez que, como a informante mesmo traz, trata-se de um procedimento com possíveis riscos, possibilidade a não continuidade da sua vida. Desta forma tendo implicação direta nos seus planos de futuro. Sebastiani (1984, apud CREPALDI; HACKBARTH, 2002) relata que toda cirurgia é sempre temida pelos pacientes, independente do seu grau de risco, o mesmo tem “medo da dor, da anestesia, ou de ficar incapacitado[...], sobretudo tem medo de morrer.” É importante e necessário que a equipe forneça informações simples, claras e objetivas no que se diz respeito aos procedimentos cirúrgicos e aos tratamentos posteriores, e que estas informações estejam ao alcance de cada paciente, auxiliando desta forma para amenizar o sofrimento existente. 36 4.1.5 Incerteza A subcategoria da incerteza foi motivada pela fala das pacientes que se encontravam em tratamento pós-cirúrgico ou pré-cirúrgico, onde aparecem fantasias com relação ao que poderá acontecer. “Porque, eu não sei... porque eles vêm aqui olham dão medicação, mas não, não sei quando vou fazer a cirurgia. Só me dizem assim, olha: ‘hoje não vai dá pra te operar. Vais ficar em jejum que amanhã vai dar.’ Aí to em jejum esperando.” (Violeta) “É tenso! Ai... Até tu entra em processo de que tu ta melhorando... que nem eu, eu não sabia nada disso. Eu sabia só sobre uma coisa. Eu sabia sobre a hemodiálise, né! Sobre o transplante não! Aí, eu bem achei...que não tinha dor, não tinha nada, eu até achei que eu tava bem, né!” (Jasmim) É inegável a sensação de angústia vivenciada pelas informantes referentes a incerteza do resultado do tratamento, bem como a espera de quando será realizado o procedimento cirúrgico. Crepaldi e Hackbarth (2002) relatam que o período pré-cirúrgico é permeado de pré-exames, jejum, expectativas com relação ao que irá acontecer antes, durante e após a cirurgia. Podemos observar diante do depoimento de Violeta que essa espera é um fator complicador neste processo, visto que há uma escassez de informações e/ou uma ausência delas pode gerar um sofrimento, uma insegurança. Podemos perceber que a comunicação deve ser usada como aliada para tornar menos árduo este momento de espera e incerteza, sendo ele um procedimento cirúrgico considerado simples, ou mesmo até possíveis conseqüências de um pós-cirúrgico. Salienta-se que a preparação e a atenção dispensada pela equipe de saúde para com o paciente oferecem suporte para, o mesmo, lidar com esse contexto. 4.1.6 Saudade A saudade é uma subcategoria que foi motivada a partir do depoimento das pacientes onde a distância e a ausência do seu convívio social e familiar, a impossibilidade de tê-los perto me decorrência dos seus tratamentos, produzem este sentimento. 37 “a guria lá em baixo dizia: “vó eu te amo, vó! Vó eu quero te abraçar, vó!”. Ah, aquilo me deu um desespero. Ai eu disse “ ah, não agüento mais!”. Isso que é ruim. Ela: “Vó quero te vê! Vó pelo amor de Deus...” , ai eu disse: ta A vó vai p casa semana que vem. “Ta vó, to te esperando.”cheio de gente que ficaram olhando e rindo do jeitinho dela: “vó eu te amo!”. Bahhh! Isso dá um baque. Se não tiver cabeça boa, num agüenta não.” (Jasmim) “É...saudade dos meus filhos né! E do meu marido. Tá longe deles é difícil. Mas não tem outro jeito, ele precisa cuidar dos meninos!” (Violeta) “Saudade né! Ta longe da família... a gente fica aqui sozinha né! Sabe aquela hora que a gente....da saudade assim da casa, da família...eles tão lá e não tem como vim!” (Rosa) O paciente, enquanto permanece internado, tem todo seu convívio familiar e social desestruturado. Longe de todos, em um ambiente completamente diferente do que estava acostumado, sendo cuidado por pessoas que até então eram estranhas, sofrendo com a ausência dos seus familiares e a falta de apoio, atenção, carinho e aconchego nos momentos difíceis, bem como pela mudança nos hábitos diários. Todos esses fatores somados, favorecem a piora no estado de saúde do paciente. Analisando a fala das informantes, se pode observar que o fato delas encontraremse internadas em um ambiente restrito, isolado e sem a presença dos familiares, produzia nelas sentimentos de tristeza e saudade. Um fator complicador para o estado emocional das entevistadas, é o fato delas se encontrarem em um momento frágil em decorrência deste processo de adoecimento e hospitalização e que necessitam de um suporte para superar a separação da família. Como Moreira e Castro (2006) afirmam, “ao hospitalizar-se, a pessoa precisa romper com todas as atividades sociais, e ficar longe da sua família e daqueles que lhe são queridos, deixando de ser um indivíduo socialmente ativo para se torna um paciente, com diminuição de contatos com parentes e conhecidos.” No depoimento de Jasmim aparece além da saudade, que é vivenciada por ela, a de sua neta que expressa a necessidade de vê-la e que é barrada por normas médicas e institucionais devido ao tratamento que a mesma realiza. Assim como Jasmim, Rosa e Violeta se encontram em tratamento e estão separadas dos seus familiares por motivos que envolvem questões financeiras, procedimentos institucionais e obrigações diárias por parte dos familiares. Não resta dúvida que o paciente dentro desse processo deva ser percebido como um indivíduo que carece de uma atenção especial para que possa superar a distância, a falta dos seus familiares e a mudança de rotina em que se encontra. 38 4.1.7 Aceitação Esta subcategoria refere-se à impotência vivida pelas pacientes frente a situações que consideram imutáveis. Podemos observar que este conformismo se reporta à ausência de familiares. “Vim sozinha. Eu não tenho quem acompanhe! Eu tenho um filho que é casado, tá em Pomerode. Tenho outro filho casado que é empregado fora, que mora pra diante de Campos Novos. Daí só tem o marido e o neném, só! Daí não tem como o marido acompanhar e deixa a menina abandonada, né!”(Rosa) Rosa relatou que seu marido não poderia acompanhá-la, pois precisaria continuar trabalhando por causa das despesas mensais da casa e agora as suas também. Além da necessidade de cuidar da filha que está doente e não poderia ficar sozinha. Isto ela compreendia. “Não. Eles não tem como...o marido trabalha né, cuida da menina. Daí os outros filhos trabalham e não tem como né!. Eu fico aqui... Entendo né!” (Rosa) “Então, é complicado porque meu marido trabalha o dia todo e depois tem que ficar com os meninos e a mãe tem que ficar com eles durante o dia e depois tem as coisas dela né! O irmão do meu marido trabalha também e minha sogra fez uma cirurgia a poucos dias e ta se recuperando em casa...não tem como vim” (Violeta) A ausência da família muitas vezes é compreendida devido às condições do contexto de vida do paciente. Famílias que moram longe e que não tem condições financeiras, ou que necessitam continuar trabalhando para pagar as despesas de casa como, também, as geradas em decorrência a nova situação em que se encontram, visto que a internação hospitalar gera uma despesa a mais, e a precisão em cuidar das funções que antes era realizada pelo indivíduo hospitalizado. Esta aceitação vem em face as dificuldade e durezas do dia-a-dia que o ser humano se depara. Percebe-se no discurso das informantes que Rosa e Violeta tentam compreender a ausência de seus familiares a partir das necessidades e prioridades que julgam que deve haver. A ausência muitas vezes é entendida como algo imposto, tal como as informantes relataram. Segundo Santos e Sebastiani (2003, p. 164), isso acontece tanto com o paciente quanto com a família como forma de superar esta crise. 39 4.1.8 Sentir-se cuidado A presente subcategoria destaca o sentimento de cuidado vivenciado pelas participantes, em que à atenção disponibilizada as mesmas, o cuidado, o zelo e a disposição em auxiliá-las, neste processo de hospitalização feito pela equipe de enfermagem e pelos médicos, trouxeram suporte para enfrentar os momentos difíceis como ansiedade e medo. Podemos observar a partir do relato de Violeta, Rosa e Jasmim a importância desde cuidado: “As meninas cuidam bem, são atenciosas né! Quando elas vêm tira sangue elas tomam cuida pra não doer. Elas conversam um pouco às vezes... É muito boa!” (Violeta) “É muito boa! Todos são muito bons! Tanto o médico que nessa parte..sobre isso ai ele...é muito atencioso. Ah, ele...já vi ele ligando quando tava ali. (aponta em direção ao balcão da enfermagem) Já vi ele ligando para vê como eu tava, se eu tava dormindo. Naquele dia que eu andava ruim...as duas horas ele tava ai, né! Não, o atendimento é muito, muito bom.” (Jasmim) “Só que eu fiz essa opção de vir pra cá. Vim mais por causa da minha saúde. E eles sabiam... tudo mundo me deu força, o pessoal lá da clínica, lá onde eu fazia... “ah, vai mesmo!”, quando falei que tava pensando em vir. “Vai mesmos, lá tem mais chance!” Entendeu!? Sabia que aqui seria melhor cuidada.” (Jasmim) Rosa relata que a equipe de enfermagem lhe auxilia nas ocasiões na qual se encontra nervosa pela falta de notícia de sua filha, quando a mesma não consegue ligar, e quando fica ansiosa a espera do resultado dos exames. “Eu tô bem atendida, as gurias atendendo bem, são bem queridas... as vezes eu fico nervosa.Mas muito bem atendida, bem cuidada... as vezes elas vê eu nervosa sai pra atender....” (Rosa) Conforme Santos e Sebastiani (2003) existe alguns ganhos secundários neste processo. Ao indivíduo doente é conferido um tratamento diferenciado com certos privilégios, recebendo a atenção de todos que o cercam, passando desde seus familiares até a equipe de saúde que o atende dentro do hospital. Foi possível verificar, nas falas das entrevistadas, um sentimento de bem-estar quando discorrem sobre o acolhimento que lhes é disponibilizado. Jasmim fala sobre sua escolha de estar em um local onde se sentiria segura para os cuidados que necessitaria e no qual as suas chances seriam melhores. Nos depoimentos de Rosa e Violeta observa-se a importância e os benefícios em que o cuidado dispensado pela equipe lhes traz. Olivieri (1985, apud SANTOS; 40 SEBASTIANI, 2003), coloca que se costuma admitir comportamentos e atitudes de um indivíduo doente que seriam intoleráveis numa pessoa com saúde. O que se percebe é que essa acolhida é feita pela equipe de enfermagem e por alguns médicos, segundo a visão as informantes. Neste contexto, torna-se necessário e imprescindível que a equipe dê a atenção e o cuidado. Proporcionar afeto, carinho, empatia, envolvimento, faz com que o paciente se sinta alguém e não uma doença. 4.2 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO A categoria está relacionada às formas de lidar, administrar situações que se dão mediante uma mobilização de recursos naturais dos pacientes no qual lançam mão de algumas estratégias para amenizar algumas formas de sofrimento e ansiedades decorrentes do processo de hospitalização. A partir dos depoimentos dados pelas participantes, observou-se três maneiras encontradas para lidar de forma funcional com este período difícil e cheio de sofrimento vivido por elas. São elas: a fé, as redes de apoios disponibilizadas dentro do hospital e a socialização por meio de outros recursos. 4.2.1 Fé A fé foi uma estratégia usada por duas das participantes como forma de ajuda e suporte para enfrentar os momentos de ansiedade, de medo, de incertezas e de preocupação com relação aos resultados de exames, a partir da busca por novos significados para as situações, de um controle e conforto espiritual. Violeta e Rosa trazem isso em suas falas: “Vou até a capela rezar... e fico aqui no meu canto conversando... rezando! Rezo muito... isso tem me ajudado a acalma.” (Violeta) Violeta traz este relato no momento em que fala da falta dos seus familiares, da saudade, da sensação de sentir-se sozinha. Podemos observar no discurso da mesma, o que 41 segundo Panzini e Bandeira (2008) colocam sobre a procura por um conforto, uma aproximação com Deus em busca de um bem-estar emocional, psicológico e espiritual. “Tudo bem se não tivesse nada né! eu o que eu queria também, que Deus me ajudasse que...pra que dê pouco coisa pra fazer um tratamento, que... fazer um tratamento pra que melhora-se né!” (Rosa) “Se Deus quiser vai passar. Eu sou evangélica. Sim, eu tenho fé que eu não tenho mais isso ai, mas parece que eu sinto... eu parece que eu sinto... eu tenho a fé né! Diz contrário que é a doença, por causa de que eu passei na mão de todos esses médicos e um dizia uma coisa outro dizia outra e eu fui desacreditada pelos médicos. Eu pensei assim: Meus Deus, como um diz uma coisa outro diz outra, quando a gente vê.. que nem que tenha a gente não deve dize que tem né!” (Rosa) A fé foi uma das estratégias mais usas pelas informantes. Ela refere-se ao apego que com uma entidade divina no qual o paciente busca um novo significado para o que está acontecendo em sua vida, um conforto e um bem-estar. Ao analisarmos as falas de Rosa, observamos a existência de dois momentos distintos, embora o objetivo seja o mesmo, em busca da resolução dos seus problemas com auxílio de Deus. Num primeiro momento, a informante refere-se a uma ajuda de Deus no qual ele a ajude amenizando o problema, a doença, para que ela possa junto com ele fazer sua parte. Panzini e Bandeira (2008) classificam este rogo como um estilo de resolução de problemas onde ambas as partes são ativas, ambas são co-responsáveis pela solução e é chamada de “colaboração de ambos”. Num segundo momento, Rosa faz a sua a petição para Deus pedindo-lhe por uma intervenção para que sua saúde melhore e que a mesma não tenha mais nada. Segundo Panzini e Bandeira (2008) este é um tipo de petição de súplica, no qual o indivíduo tenta influenciar a vontade de Deus em busca de uma solução. Podemos perceber a fé como um instrumento a mais para amparar os pacientes neste momento em que se sentem sozinhos, com saudades dos seus familiares, ansiosos e com medo do que possa acontecer, produzindo assim um bem-estar, um conforto espiritual e emocional. 4.2.2 Rede de apoio Conforme nos mostram os relatos nesta subcategoria, podemos observar que a ausência dos familiares, a distância do convívio social ao qual as pacientes pertenciam e do 42 carinho dos entes queridos, facilitam a busca por uma aproximação entre os pacientes. Como nos mostra o depoimento de Rosa, Violeta e Jamim. “Sim, tenho amizade com ela, meus amigo tudo tranqüilo... tudo tranqüilo! Tudo tranqüilo... As meninas aqui me ajudam muito.( outras pacientes e equipe de enfermagem)” (Rosa) “Tem gente legal assim... porque... imagina eu to aqui 24 horas né! Ai por fim a gente ajuda e precisa de ajuda é uma troca assim né. Têm as voluntárias assim....vem conversar, saber como é que tá né! Elas falam de outras coisas, te anima sabe!” (Violeta) “Eu fico nervosa...choro! As meninas tem me ajudado...elas me ajudam. Quando to triste elas vem, ficam comigo... (outras pacientes)” (Rosa) “Dou uma caminhada...vou ali conversar com as meninas (equipe de enfermagem).” (Jasmim) Torna-se possível observar, a partir do depoimento das informantes que, quanto maior o tempo de duração de uma internação, o convívio com os outros pacientes e com equipe de enfermagem passa a ser um suporte importante utilizado para superar o sofrimento, ansiedade, solidão e preocupações vivenciadas neste processo. As participantes Rosa, Violeta e Jasmim demonstraram, em suas falas, que embora estivessem passando por momentos difíceis e complicados, elas encontraram apoio com as demais pacientes, com a equipe de enfermagem e com as voluntárias do hospital. Pietrukowicz (2001, p. 117) expõe que a rede de apoio, pode ser entendida por um processo de interação entre pessoas ou grupos (comunidade), que com contato sistemático estabelecem vínculos de amizade, recebendo apoio e contribuindo para o bem-estar recíproco. Bellato e Carvalho (2002) comentam que se a presença dos familiares não pode ser constante durante a hospitalização, o paciente precisa encontrar meios para viver o coletivo, pois só é possível existir se fizermos parte de uma ordem. O hospital aproxima as pessoas sem uma finalidade específica, apenas pautando-se no prazer de compartilhar. Desta forma, se observa que as informantes encontraram meios para que pudessem compartilhar seus sentimentos e situações. A importância desta estratégia de enfrentamento está na manifestação da solidariedade e no efeito benéfico como expressão de saúde para as pessoas que participam desta troca 43 4.2.3 Socialização Podemos verificar nesta subcategoria, que as pacientes encontraram uma forma para lidar com a distância do convívio social e cultural a partir do compartilhamento de tempo e espaço. É fácil percebermos como esta estratégia é utilizada nas falas de Rosa e Violeta: “gente somo... fiquemo assistindo até dez hora, dez e meia, proseando contando causo uma com a outra né!” (Rosa) “Aí quando me dou conta (que está pensando na sua situação) levando vou assistir televisão, conversar um pouco com as meninas, vou até alguém e pergunto como ela está.” (Violeta) O hospital, em princípio, é pautado numa divisão de ambiente com pessoas estranhas, compartilhando uma mesma rotina rígida, formal onde há uma ausência de familiaridade, segundo Beuter (2006, p. 156). Mas o que se constatou a partir do depoimento das informantes é que este mesmo local também tem outra faceta. Ao analisarmos o discurso das participantes, se observou que este mesmo local pode ser um ambiente de trocas e de compartilhamentos saudáveis. Bellato e Carvalho (2002) relatam que o lúdico aparece entremeado na vivência hospitalar através de momentos simples, de puro prazer em estar junto ao outro. Na fala de Rosa e de Violeta pode-se observar que o momento em frente a televisão é de descontração, de partilhar sentimentos e brincadeiras e o objeto é apenas um meio, uma desculpa para que haja este espaço de compartilhamento. Segundo Bellato e Carvalho (2002), o espaço de socialização passa a ter um valor e quando não compartilhado perde seu valor e seu sentido. Violeta também traz, em sua fala, o compartilhamento de sentimentos. Bellato e Carvalho (2002) afirmam que “não se pode fazer nada para minorar o sofrimento do outro, apenas ser solidário, ter com-paixão, ou seja, paixão partilhada, pois ver o outro sofrendo nos afeta também.” Entretanto, o sofrimento do outro serve de consolo, visto que permite que se conforme com o próprio sofrimento. 44 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo principal desta pesquisa, desde o seu início, foi identificar quais os sentimentos e estratégias de enfrentamento que o paciente afastado dos seus familiares sofre em decorrência da hospitalização. Para tanto, foi necessário compreender a situação singular de cada uma das participantes e como as mesmas vivenciavam esse momento, visto que cada uma tinha um motivo para estar hospitalizada e separada dos seus familiares. A hospitalização é uma experiência estressante que envolve uma profunda adaptação dos indivíduos às várias mudanças que acontecem no seu dia-a-dia. Ela é considerada uma crise que envolve diversos sentimentos que se encontram confusos, entrelaçados. Contudo, pode ser amenizada pelo fornecimento de suportes como: a presença dos familiares, a disponibilidade afetiva das equipes de saúde, informações, atividades, redes de apoio. Na categoria sentimento, foi abordado os sentimentos presentes frente à internação, a distância dos familiares e ao tratamento no qual estavam submetidas. É importante constar que os sentimentos vivenciados no processo de hospitalização apresentamse entrelaçados uns aos outros, onde foram separados de forma didática para um melhor entendimento. Foi identificado, a partir dos dados obtidos, que o processo de hospitalização gera um número muito grande de sentimentos negativos e que estes dificultam o tratamento e a reabilitação dos pacientes. Observou-se que houve um sentimento que permeou as demais subcategorias. A preocupação esteve presente de maneira significativa nos relatos das informantes, estava relacionada à ausência dos familiares, das informações, bem como a questão do cuidado. Porém, verificou-se que existe sentimento benéfico como o de sentir-se cuidado, no qual ajuda a amenizar e superar os sentimentos negativos, auxiliando na recuperação. Constata-se que todo o sofrimento pelo qual o paciente passa pode ser atenuado por atitudes simples, mas que são relevantes para o mesmo devido as suas condições, como as atenções dispensadas pela equipe de saúde e pela família: informações claras e de possível entendimento para o paciente. Embora a hospitalização tenha inúmeros fatores desagradáveis, que foram relatados pelas informantes, como distância dos familiares, entre outras, as mesmas trouxeram que existe um lado positivo que foi demonstrado na categoria estratégias de enfrentamento. 45 Pôde ser percebido que a fé é um dos suportes mais usados para superação dos momentos de crise, seja ela como forma de acreditar em uma melhora com auxílio divino, ou uma forma de conforto espiritual para lidar com o período de afastamento familiar, o medo, a solidão e a ansiedade. Trata-se de uma estratégia que não depende de terceiros para desenvolvê-la. Observou-se, também, a boa relação e atenção oferecida aos pacientes por parte da equipe de saúde, e da rede de apoio entre os pacientes que possibilitou o compartilhar de momentos, espaços e sentimentos. Vale ressaltar que, faz-se importante conhecer o funcionamento de outras instituições, visto que cada um tem uma cultura, uma visão de atendimento diferente das demais. Enfim, a humanização dentro do hospital deve estar presente em todas as atividades realizadas, havendo assim uma compreensão do momento que os pacientes vivenciam. Verificou-se, através do depoimento das informantes, que este processo, ainda que sofrido, proporciona a reafirmação de sua fé, bem como a possibilidades de fazer uma nova rede de relações; e principalmente, de desenvolver meios para enfrentar tal situação, descobrindo-se, desta forma, capazes de superar esta nova realidade. A partir do estudo realizado, sugere-se novas pesquisas referentes às dificuldades pelas quais os pacientes se defrontam em decorrências da hospitalização, uma vez que é um processo em que há vários sentimentos envolvidos e que os pacientes precisam de auxílio para lidar com eles. Assim como, uma pesquisa comparativa entre pacientes que não tenham acompanhamento psicológico e pacientes que os têm, para verificar qual o grau dos sentimentos apresentados e sua intensidade. Partindo resultado obtido, percebeu-se a importância do papel do psicólogo dentro da equipe de saúde, auxiliando e dando suporte psicológico para que o paciente possa manejar as situações de forma mais saudável. A intervenção do psicólogo poderá dar-se junto ao paciente, planejando estratégias de intervenções, podendo ser feito através de intervenção grupal e/ou individual, além de trabalhar junto à equipe, orientando sobre a necessidade de acolher e informar o paciente. O papel do psicólogo, neste contexto, torna-se fundamental, à medida que é um especialista na área humana e que poderá desenvolver metodologias de trabalhos que visem proteger e evitar seqüelas emocionais futuras. 46 REFERÊNCIAS ALLEGRETTI, J. Nível de stress, fontes estressoras e estratégias de enfrentamento em mulheres. Campinas: PUC – Campinas, 2006. 70f. Dissertação (Mestrado em Pós Graduação em Psicologia )-Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2006. 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Passo Fundo: Fórum de Saúde (PR SC RS), Centro de Assessoriamente Popular de Passo Fundo (CEAP), 2003. 49 APÊNDICE 50 APÊNDICE A – Roteiro de entrevista DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome:________________________________________________________________ Data de nascimento:___/___/_____ Sexo: M ( ) F ( ) Estado Civil: __________________ Profissão: _____________________ Reside em: ____________________ Natural: ______________________ Constituição familiar: ____________________________________________________ Tempo de internação: ___________________ 01. Qual o motivo que lhe trouxe até o hospital? 02. Onde você mora? 03. Você veio sozinho? 04. Você é casado? 05. Você tem filhos? Quantos? 06. A sua família vem lhe visitar? 07. Como é o convívio na sua família? 08. Como tem sido os dias desde que você chegou? 09. Como você se sente aqui no hospital? 10. Existe alguma coisa que o preocupe neste momento? 11. Como é sua relação com a equipe? 12. Você fez amizade com alguém de dentro do hospital? 13. Como tem sido o convívio aqui no hospital? 14. Como é para você estar internado sem a companhia deles? 15. Como você lida com o fato de estar internado? 16. Como você lida com a distância da sua família? 17. O que você tem feito para lidar com esses sentimentos? 51 ANEXO (S) 52 ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu ________________________________________________________ declaro que fui informada sobre todos os procedimentos da pesquisa cujo tema é “As estratégias de enfrentamento utilisadas por pacientes internados longe da família decorrentes da hospitalização” que consiste no Trabalho de Conclusão de Curso TCC-II do curso de psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Estou ciente que esta pesquisa será realizada obedecendo aos seguintes critérios: Assim compreendi que: 1. O tempo de duração da entrevista será de 40 a 50 minutos, sendo que esta será feita em 1 (um) encontro que ocorrerá durante o período de hospitalização. Caso haja necessidade de complementação de informações será realizado um novo encontro previamente agendado; 2. A entrevista será agendada antecipadamente pela própria pesquisadora e o horário da mesma será combinado comigo considerando a minha disponibilidade; 3. A entrevista será realizada no Hospital de Caridade, precisamente em meu quarto; 4. Com a minha prévia autorização, a entrevista será gravada através de um gravador de voz e a pesquisadora poderá fazer anotações escritas ao longo da entrevista; 5. A pesquisadora estará vestida de acordo com as normas do espaço hospitalar, jaleco branco e crachá com identificação; 6. Terei o direito de não responder a qualquer pergunta e/ou de parar a entrevista caso não me sinta confortável para prosseguir, sem que com isso sofra qualquer pressão por parte da pesquisadora; 7. No caso de sentir qualquer desconforto emocional durante a entrevista, terei direito a interromper a entrevista e receber atendimento psicológico pela pesquisadora; 53 8. Realizando a entrevista propostas pela pesquisadora estarei participando desta pesquisa e minha colaboração com esta investigação é fundamental para que a pesquisadora possa responder a questões de pesquisa e desenvolver seu trabalho; 9. Estou informado que durante este estudo serei acompanhado pela pesquisadora. 10. Declaro que fui informada sobre todos os procedimentos da pesquisa e que recebi, de forma clara e objetiva, todas as explicações relacionadas ao projeto e que todas as informações ao meu respeito serão sigilosas. Eu compreendo que neste estudo as medições dos experimentos/procedimentos de tratamento serão feitas em mim. Poderei ter acesso às informações da pesquisa a qualquer momento. Declaro que fui informada que posso me retirar do estudo a qualquer momento. Nome por extenso:__________________________________________________________ RG: _____________________________________________________________________ Local e data: ______________________________________________________________ Assinatura: ________________________________________________________________ PESSOAS PARA CONTATO: Pesquisador responsável: Maurício Eugênio Maliska Fone: (48) 32791000 [email protected] Aluna responsável: Julienne Cathyana dos Santos Silva Fones: (48) 84096708 [email protected] 54 ANEXO B – Termo de Consentimento para Gravação em Áudio UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL CONSENTIMENTO PARA FOTOGRAFIAS, VÍDEOS E GRAVAÇÕES Eu _________________________________________________________________ permito que o grupo de pesquisadores relacionados abaixo obtenha a gravação de minha pessoa para fins de pesquisa científica, médica e/ou educacional. Eu concordo que o material e informações obtidas relacionadas à minha pessoa possam ser publicados em aulas, congressos, eventos científicos, palestras ou periódicos científicos. Porém, a minha pessoa não deve ser identificada, tanto quanto possível, por nome ou qualquer outra forma. As gravações ficarão sob a propriedade do grupo de pesquisadores pertinentes ao estudo e sob sua guarda. Nome:___________________________________________________________________ RG:_____________________________________________________________________ Endereço:________________________________________________________________ Assinatura:________________________________________________ Equipe de pesquisadores: Julienne Cathyana dos Santos Silva Maurício Eugênio Maliska (Dr.) Data e Local onde será realizado o projeto: _______________________________________________ Adaptado de: Hospital de Clínicas de Porto Alegre / UFRGS