DANIELLE SANTOS SILVA AVALIAÇÃO DA BARRA TRANSPALATINA E DO BOTÃO DE NANCE COMO RECURSOS DE ANCORAGEM ORTODÔNTICA DURANTE A FASE DE RETRAÇÃO DE CANINOS: REVISÃO DE LITERATURA E RELATO DE CASO CLÍNICO Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Ortodontia como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Ortodontia. Orientador: Prof. Ms. Ricardo Lôbo de Souza Faculdades Unidas do Norte de Minas Núcleo Funorte - Salvador/ IAPPEM 2011 Ficha Catalográfica Silva, Danielle Santos Avaliação da Barra Transpalatina e do Botão de Nance como Recursos de Ancoragem Ortodôntica durante a Fase de Retração de Caninos: Revisão de Literatura e Relato de Caso Clínico/ Danielle Santos Silva. Salvador: IAPPEM/ FUNORTE, 2011. Xiii, 49f. : il. color.; 14cm. Orientador: Ricardo Lôbo de Souza. Dissertação(Monografia de conclusão do curso de especialização em Ortodontia), FUNORTE, Instituto Agenor Paiva de PósGraduação, 2011. 1-Ancoragem. 2- Barra Transpalatina. 3- Botão de Nance. I- De Souza, Ricardo Lôbo. II- Faculdades Unidas do Norte de Minas, Instituto Agenor Paiva de Pós-Graduação III- Título. TERMO DE APROVAÇÃO DANIELLE SANTOS SILVA AVALIAÇÃO DA BARRA TRANSPALATINA E DO BOTÃO DE NANCE COMO RECURSOS DE ANCORAGEM ORTODÔNTICA DURANTE A FASE DE RETRAÇÃO DE CANINOS: REVISÃO DE LITERATURA E RELATO DE CASO CLÍNICO COMISSÃO EXAMINADORA Examinadores Titulares 1. Maria de Fátima Feitosa Espiño 2. Monica Malvar Corbacho 3. Ricardo Lôbo de Souza Salvador 2011 „ À. minha família, por aceitar a privação de minha companhia durante o período de meus estudos e, sobretudo, por apoiar e incentivar meu crescimento profissional. AGRADECIMENTOS À Deus, por tudo. Aos meus pais, Joilson e Eliana, pelo amor e por todo apoio que sempre me deram. À minhas irmãs, Bianca e Liliane que sempre foram exemplo e motivação para as minhas realizações. Sempre amigas e sempre presentes. Ao professor Jorge Ribeiro, agradeço a boa vontade, dedicação, e disposição para os ensinamentos ortodônticos: clínicos e científicos. À Professora Mônica Corbacho pelos aprendizados ortodônticos proporcionados. Ao meu Orientador Ricardo Lôbo pela paciência e compreensão. À Dra. Maria de Fátima Espino pelos ensinamentos ortodônticos, pela disposição, carinho e atenção. Cada conhecimento havido em sua experiência será digno de se conservar em minha memória. Às minhas amigas por aceitarem minha ausência durante o tempo dedicado aos estudos. Aos meus queridos companheiros de curso Andréia Filgueira, Jorgevalda Souza, Damares Martins, Jáfia Rêgo, James Harvey e Larissa Athayde, pelos momentos de alegria divididos na clínica e pela oportunidade de aprender com cada um. Aos bondosos funcionários Rui, Nilda e Natália pela presteza, atenção, educação e disponibilidade. Aos pacientes, minha sincera gratidão. À todos os amigos e funcionários que tive a oportunidade de conhecer dentro do Instituto Agenor Paiva de Pós-Graduação. Às demais pessoas que contribuíram ou participaram direta ou indiretamente da elaboração deste trabalho, e a quem, por ventura, eu tenha me esquecido de agradecer. “Se eu pudesse deixar algum presente à você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo a fora. Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para você, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável. Além do pão, o trabalho. Além do trabalho, a ação. E, quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída.” (Mahatma Gandhi) RESUMO O objetivo deste estudo foi avaliar a eficiência da Barra Transpalatina e do Botão de Nance como recursos de ancoragem durante a fase de retração de caninos, nos casos de extrações dos pré-molares superiores. Foi apresentada uma revisão de literatura, seguindo-se com o relato de três casos clínicos. Todos os pacientes foram tratados ortodonticamente com aparelhos fixos empregando bráquetes da técnica de Roth, com slot 0,022” x 0,030” e apresentavam má oclusão de Classe I de Angle, com biprotrusão, ausência de apinhamento de incisivos e caninos e necessidade de ancoragem máxima. Em um paciente foi utilizada a Barra Transpalatina e em dois pacientes foi utilizado o Botão de Nance. Foram obtidas telerradiografias laterais e modelos de gesso iniciais e finais ao processo de retração dos caninos, onde foram avaliadas, a posição inicial e final dos molares superiores, através de um método cefalométrico-radiográfico e pela análise de modelos. O levantamento bibliográfico e o resultado dos relatos mostraram que apesar de haver perda de ancoragem, variando de 0,67mm a 2,5mm, com o uso da Barra Transpalatina e do Botão de Nance, não se deve desconsiderar a importância desses recursos. Palavras-chave: Ortodontia; Procedimentos de Ancoragem Ortodôntica; Aparelhos Ortodônticos. ABSTRACT The aim of this study was to evaluate the efficiency of the transpalatal bar and Nance appliance used as anchorage source during cuspid retraction, when two bicuspids were extracted. The revise of the concepts and a presentation of three clinical cases will follow. All patients were treated with orthodontic fixed appliances, with brackets of Roth Technique, with slot 0,022" X 0,030" and presented Class I malocclusion, with biprotrusion, without crowding and requiring maximum anchorage. In one patient, the anchorage system adopted was the transpalatal bar and, in two patients, was using the Nance appliance. Initial and final lateral cephalometric radiographs and a pair of casts were taken before and after the cuspid retraction to compare the initial and final upper molar position, through of a cephalometric method and casts analysis. The bibliographic survey and cases related showed, although anchorage loss, that fluctuated between 0,67mm to 2,5mm, with the palatal bar and Nance appliance, this apparatus are very important. Keywords: Orthodontics; Orthodontic Anchorage Procedures; Orthodontic Appliances. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Barra Transpalatina...................................................................................................36 Figura 2- Botão de Nance........................................................................................................36 Figura 3- Dinamômetro.............................................................................................................37 Figura 4- Pontos de referência utilizados para medir a perda de ancoragem dos primeiros molares superiores.....................................................................................................................38 Figura 5- Ilustração demonstrando os pontos P e I e as medidas X e X‟..................................39 Figura 6- Fotografias extrabucais do paciente V.H.S. ao início do tratamento .......................40 Figura 7- Telerradiografia de perfil do paciente V.H.S. ao início do tratamento............41 Figura 8- Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) do paciente V.H.S. ao inicio do tratamento..................................................................................................................................41 Figura 9- Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) do paciente V.H.S. durante o tratamento .................................................................................................................................41 Figura 10- Fotografia oclusal superior do paciente V.H.S. durante o tratamento ...................42 Figura 11- Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) do paciente V.H.S. após a retração de caninos....................................................................................................................42 Figura 12- Telerradiografia de perfil do paciente V.H.S. após a retração de caninos..............42 Figura 13- Fotografias extrabucais da paciente L.M.M. ao início do tratamento.....................43 Figura 14- Telerradiografia de perfil da paciente L.M.M ao início do tratamento...................43 Figura 15- Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) da paciente L.M.M. ao início do tratamento.............................................................................................................................44 Figura 16- Fotografia oclusal superior da paciente L.M.M. durante o tratamento ..................44 Figura 17- Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) da paciente L.M.M. após a retração de caninos....................................................................................................................44 Figura 18- Telerradiografia de perfil da paciente L.M.M. após a retração de caninos.............45 Figura 19- Fotografias extrabucais da paciente M.C.B. ao início do tratamento ....................45 Figura 20- Telerradiografia de perfil da paciente M.C.B. ao início do tratamento..................46 Figura 21- Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) da paciente M.C.B. ao início do tratamento.................................................................................................................................46 Figura 22- Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) da paciente M.C.B. durante o tratamento .................................................................................................................................46 Figura 23- Fotografia oclusal superior da paciente M.C.B. durante o tratamento ...................47 Figura 24- Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) da paciente M.C.B. após a retração de caninos....................................................................................................................47 Figura 25- Telerradiografia de perfil da paciente M.C.B. após a retração de caninos .............47 ] LISTA DE TABELAS Tabela 1: Medidas realizadas na análise cefalométrica das distâncias, em milímetros, do ponto P ao ponto I, antes do início do processo da retração e após finalizada a retração de caninos......................................................................................................................................48 Tabela 2: Medidas realizadas na análise clínica(modelos) das distâncias, em milímetros, do ponto mais mesial dos primeiros molares superiores até a extremidade lateral da terceira ruga palatina, antes do início do processo da retração e após finalizada a retração de caninos. Lados direito (D) e esquerdo (E).........................................................................................................48 Tabela 3: Diferenças entre os valores medidos no método cefalométrico, determinando a perda de ancoragem, em milímetros.........................................................................................48 Tabela 4: Diferenças entre os valores medidos no método clínico (modelos), determinando a perda de ancoragem, em milímetros. Lados direito (D) e esquerdo (E)..............................................................................................................................................48 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS g NiTi Gramas Níquel-titânio CrNi Níquel-Cromo AEB Aparelho extra-bucal BTP Barra Transpalatina mm Milímetros PtV Vertical Pterigóidea MBT McLaughlin – Bennett – Trevisi IHG Interlandi Head Gear SUMÁRIO 1INTRODUÇÃO 13 2 REVISÃO DE LITERATURA 15 2.1 ANCORAGEM 15 2.1.1 DEFINIÇÃO 15 2.1.2 IMPORTÂNCIA 16 2.1.3 CLASSIFICAÇÃO 17 2.2 TIPOS DE ANCORAGEM 19 2.2.1 ANCORAGEM EXTRABUCAL 19 2.2.2 ANCORAGEM INTRABUCAL 19 2.3 RECURSOS MAIS UTILIZADOS 21 2.4 RETRAÇÃO INDIVIDUAL DE CANINOS 24 2.5-REFORÇO DE ANCORAGEM 26 2.6- BARRA TRANSPALATINA (BTP 27 2.7- BOTÃO DE NANCE 31 3 PROPOSIÇÃO 35 4 MATERIAL E MÉTODO 36 5 RELATO DE CASO CLÍNICO 40 5.1 CASO CLÍNICO I 40 5.2 CASO CLÍNICO II 43 5.3 CASO CLÍNICO III 45 6 DISCUSSÃO 49 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 55 ANEXOS 59 13 1 INTRODUÇÃO A evolução dos métodos de diagnóstico e da avaliação dos resultados do tratamento ortodôntico permitiu o estabelecimento de metas precisas, como a retração máxima dos dentes anteriores. Contudo, um problema continua a desafiar clínicos e pesquisadores: o controle de ancoragem. A preocupação com a ancoragem é um dos principais fatores a serem considerados no planejamento de um tratamento ortodôntico. Entendem-se como ancoragem os procedimentos intra e extrabucal em que um ou mais dentes ou dispositivos ortodônticos são utilizados como apoio para movimentar outros dentes. No planejamento do tratamento ortodôntico, simplesmente não é possível considerar somente os dentes nos quais o movimento é desejado. Os efeitos recíprocos através do arco dentário devem ser cuidadosamente analisados, avaliados e controlados. Um importante aspecto do tratamento é maximizar o movimento dentário desejado, enquanto se minimizam os efeitos colaterais indesejáveis (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). A ancoragem pode ser definida como a condição na qual o tratamento apresenta maior e melhor estabilidade, de modo a resistir às forças de deslocamento para frente dos dentes posteriores. Ela está diretamente relacionada ao modo de movimentação, à situação anatômica, à situação biológica, aos fatores individuais do paciente, à duração do movimento, e ao controle da força (WERNECK, 2004). A terceira lei de Newton, “a toda ação há sempre uma reação igual em magnitude e sentido contrário”, conclama os Ortodontistas a lançar mão de recursos de ancoragem para controlar ou neutralizar a reação durante a mecanoterapia para fechamento de espaços de extrações. Na história da Ortodontia, muitos procedimentos e dispositivos têm sido aplicados durante a mecânica Ortodôntica, com finalidade de reforço de ancoragem, como por exemplo, o preparo de ancoragem na mecânica de Tweed, o aparelho extrabucal, a barra transpalatina, o botão lingual de Nance, a placa lábio ativa, o arco lingual de Nance, bem como os elásticos intermaxilares (ARANTES, 2009). Ainda na tentativa de se opor aos efeitos indesejáveis da perda de ancoragem, algumas técnicas ortodônticas subdividem o movimento de retração em duas fases, com a movimentação de caninos numa fase inicial e, a seguir, a retração dos incisivos (BENNETT e MC LAUGHLIN, 1990; BRAGA et al., 2002; NANDA, KUHLBERG e URIBE, 2007). Contudo, na literatura, existem apenas descrições de aparelhos muito usados como o botão de Nance e a barra transpalatina (HISTER, BASILE e BERTHOLD, 1994; RAMOS e 14 SAKIMA, 2000; MORESCA, 2001; GREGORET, 2005), onde são discutidos apenas a forma e o tamanho da porção de acrílico, a espessura do fio e o modo de fixação da banda nos molares. Estudos afirmam a possibilidade de usar tais dispositivos no controle de ancoragem. No entanto, há poucas pesquisas científicas que avaliem sua eficiência e que quantifiquem a perda de ancoragem em casos que necessitam de retração máxima. Sendo assim, a experimentação científica da efetividade de dispositivos intrabucais, como o botão de Nance e a barra transpalatina, que independem da colaboração do paciente e que não comprometem a estética, traria importante subsídio no momento da escolha do sistema de ancoragem a ser adotado. 15 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 ANCORAGEM 2.1.1 DEFINIÇÃO Ancoragem é a resistência de um ou mais dentes ao movimento dentro do tecido ósseo (BARROS, 2004; FELDMANN e BONDEMARK, 2008). Em Ortodontia, é a unidade anatômica que antagoniza a força ativa, podendo ser explicada pela terceira lei de Newton que, por sua vez, indica que cada ação cria uma reação de mesma intensidade e sentido oposto (ALVES, 1996; KELES, KELES e NANDA, 2007). Inevitavelmente, as forças de reação podem mover outros dentes igualmente se o aparelho entrar em contato com eles. A ancoragem, então, é a resistência a forças de reação que é fornecida, comumente, por outros dentes, ou, às vezes, pelo palato, pela cabeça ou pescoço (via força extra-oral) ou por implantes em osso. A intenção é a de se aumentar os movimentos desejados e diminuir os efeitos indesejados (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). Dessa forma, ancoragem é aquilo que propicia imobilidade. De maneira mais específica, a ancoragem ortodôntica constitui a habilidade em prevenir o deslocamento de um grupo de dentes, enquanto possibilita o movimento de outro dente ou grupo de dentes (THIESEN, REGO e SHIMIZU, 2005; PINTO, 2006). Em Ortodontia, termos tais como “ancoragem crítica”, “ancoragem não-crítica” ou “queima de ancoragem” são freqüentemente usados para descrever o grau de dificuldade de fechamento de espaço (NANDA, KUHLBERG e URIBE, 2007). O termo “perda de ancoragem” tem sido tradicionalmente utilizado para descrever o movimento mesial dos molares no plano sagital. A tendência para que isto ocorra é acentuada e, quase sempre, é o que explica um resultado final desfavorável (INTERLANDI, 1986). “Ganho de ancoragem” tem sido descrito como o movimento distal dos incisivos no plano sagital, com pouca ou nenhuma mesialização do segmento posterior (BENNETT e MC LAUGHLIN, 1990). 16 2.1.2 IMPORTÂNCIA A biomecânica ortodôntica nem sempre é designada para o propósito de movimento dentário. Para certos casos, a intenção do ortodontista pode ser a de manter a posição de certos dentes na arcada ou utilizar grupos de dentes compreendendo uma “unidade de ancoragem”, para servir como base para tracionar ou pressionar outros dentes (HUANG, KING e KAPILA, 2007). Como os movimentos ortodônticos são governados pela lei física da ação e reação, o sucesso do tratamento ortodôntico depende muito do controle da referida lei. Geralmente, as forças de reação são indesejáveis, devendo ser neutralizadas de alguma forma (KANASHIRO e FANTINI, 2002). Como a extração é um procedimento de tratamento comum em Ortodontia, fechamentos de espaço apropriados são necessários para alcançar os objetivos de tratamento e resultados desejados (NANDA, KUHLBERG e URIBE, 2007). Sendo assim, é uma etapa fundamental e geralmente crítica da mecanoterapia ortodôntica. Dessa forma, um controle eficaz da ancoragem nesta etapa torna-se crucial para a obtenção de uma adequada relação sagital entre as arcadas e um correto posicionamento dos dentes anteriores no término do tratamento, fato este que, reconhecidamente, constitui uma característica essencial tanto para estética como para estabilidade e função oclusal. Recursos efetivos de ancoragem devem ser utilizados e o monitoramento cuidadoso do fechamento dos espaços durante toda a mecanoterapia realizado, a fim de assegurar um resultado final adequado (THIESEN, REGO e SHIMIZU, 2005). Segundo Braga e colaboradores (2002), antigamente, os ortodontistas, ao final do tratamento, conseguiam um alinhamento dental aceitável, uma oclusão razoável, mas as inclinações dos longos eixos dos dentes anteriores constituíam-se em um largo fator negativo que, além de prejudicar o perfil facial, era o responsável pela instabilidade e conseqüente recidiva. Houve necessidade de ancorar os dentes posteriores para que fosse possível atingir o nivelamento com corretas inclinações axiais e harmonia de perfil. Desta maneira, o sucesso do tratamento geralmente depende do protocolo de planejamento da ancoragem para o caso em particular. Ao preparar a ancoragem, o clínico deve ser realista o suficiente para prever a possibilidade de perder alguma ancoragem. Tal perda pode resultar do preparo insuficiente da ancoragem, bem como da falta de cooperação por parte do paciente (KELES, KELES e NANDA, 2007). Diante disso, vários estudos vêm 17 sendo desenvolvidos com o propósito de instituir técnicas e métodos que possam controlar sua efetividade (ZANELATO et al., 2002; PINTO, 2006; MOSCARDINI, 2007). O planejamento para a colocação correta dos incisivos sobre os ossos basais pode requerer estabilização de molares na direção ântero-posterior, o que nem sempre é fácil de se conseguir. O ortodontista deve, portanto, dispor de recursos técnicos e de uma visão clínica bastante lúcida, a fim de saber, em um determinado caso, o quanto poderá permitir que se perca ancoragem ou não, para atingir o equilíbrio cefalométrico desejado (INTERLANDI, 1986). O conhecimento da classificação de ancoragem e do conceito de ancoragem diferencial são fundamentos para os profissionais que exercem a Ortodontia, uma vez que, usar os mesmos mecanismos para diferentes ancoragens, limita a capacidade de alcançar os resultados almejados (BRAGA et al., 2002). Segundo Zanelato e colaboradores (2002), o bom ortodontista é aquele que compreende e controla as forças de reação, pois, normalmente, são essas forças que constituem os efeitos colaterais que podem influenciar no resultado final do tratamento ortodôntico. 2.1.3 CLASSIFICAÇÃO A ancoragem pode ser classificada de diversas maneiras de acordo com diferentes autores. Segundo Nanda, Kuhlberg e Uribe (2007), pode ser classificada em A, B ou C. A ancoragem tipo A descreve a manutenção crítica da posição dos dentes posteriores. Desta forma, 75% ou mais do espaço da extração é necessário para retração anterior (THIESEN, REGO e SHIMIZU, 2005). A ancoragem B descreve o fechamento de espaço relativamente simétrico, ou seja, com igual movimento dos dentes anteriores e posteriores. Já a ancoragem C representa a ancoragem não crítica, ou seja, 75% ou mais do fechamento de espaço é alcançado através do movimento mesial dos dentes posteriores. De acordo com Barros (2004), pode ser classificada como ancoragem simples, quando o elemento dental não se movimenta de corpo, apenas inclina a sua coroa; ancoragem estacionária, quando os dentes de apoio não devem ser movimentados; ancoragem recíproca, quando dois ou mais dentes, sob ação de uma força, se movimentam em direções opostas, isto é, um de encontro ao outro; ancoragem passiva que é o estado inerte do próprio dente, que está ancorado ao osso alveolar pelos ligamentos periodontais; e ancoragem ativa, 18 proporcionada pela mecânica ortodôntica, evitando deslocamento de um ou mais dentes para mesial quando os mesmos estão servindo de apoio para a movimentação de outros dentes. Numa situação recíproca, as forças aplicadas aos dentes e ao segmento do arco seriam iguais e, assim, também seria a distribuição de força no ligamento periodontal. Um exemplo simples é o que poderia ocorrer se dois incisivos centrais superiores separados por um diastema fossem unidos por uma mola ativa. Os dentes essencialmente idênticos sofreriam a mesma distribuição de força da mesma forma através do ligamento periodontal e se moveriam em direção ao outro na mesma extensão (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). Para Zanelato e colaboradores (2002), no tratamento ortodôntico, pode ser necessário haver três sistemas de ancoragem: ancoragem recíproca, ancoragem moderada e ancoragem máxima. O sistema de ancoragem recíproca é uma boa opção para a grande maioria dos tratamentos com extração de pré-molares. Esse sistema permite certa liberdade de movimentação para os dentes posteriores, onde os espaços resultantes das extrações dentárias são 50% ocupados pelo movimento mesial dos dentes posteriores e 50% ocupados pelo movimento distal dos dentes anteriores. No sistema de ancoragem moderada, os espaços resultantes das extrações dos pré-molares serão ocupados 25% pelo movimento mesial dos dentes posteriores e 75% pelo movimento distal dos dentes anteriores; e, na ancoragem máxima, os espaços das extrações são 100% ocupados pelo movimento distal dos dentes posteriores, envolvendo a retração dos incisivos e caninos sem o deslocamento dos prémolares e molares para mesial (PINTO, 2006). Segundo Gregoret (2005), considera-se ancoragem máxima quando o movimento de retrusão é 3 para 1 ou 4 para 1 em relação à mesialização posterior. Considera-se ancoragem moderada quando o movimento de retrusão é similar ao de mesialização posterior, e ancoragem mínima quando a mesialização posterior é 3 para 1 ou 4 para 1 em relação à retrusão. Na ancoragem moderada, deseja-se fechar o espaço remanescente da extração do prémolar na proporção de 50:50 ou 60:40 de retração anterior para protração posterior (PROFFIT e FIELDS JR., 2002; ZANELATO et al., 2002). Conceitualmente, o “valor de ancoragem” de um dente, que é a sua resistência ao movimento, pode ser analisado como sendo uma função da sua área de superfície radicular que é a mesma de sua área de ligamento periodontal. Quanto mais larga a raiz, maior a área sobre a qual a força pode ser distribuída e vice-versa. A área do ligamento periodontal para os dois dentes posteriores é ligeiramente maior do que a área total anterior do ligamento periodontal. Desta forma, com uma simples mola conectando os segmentos, os dentes 19 anteriores se moveriam ligeiramente mais do que os dentes posteriores. O movimento não seria verdadeiramente recíproco, mas estaria perto disto (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). Atualmente, surgiu um novo conceito de ancoragem em Ortodontia denominado ancoragem absoluta, a qual não permite a movimentação da unidade de ancoragem. Ela é obtida devido à incapacidade dos efeitos colaterais da mecânica ortodôntica de movimentar a unidade de ancoragem (NASCIMENTO, ARAÚJO e BEZERRA, 2006). 2.2 TIPOS DE ANCORAGEM Muitos foram os métodos utilizados pelos pesquisadores no decorrer do século com o intuito de ancorar os dentes posteriores, evitando as mesializações indesejáveis e perdas de espaço durante o tratamento ortodôntico. Desse modo, duas fontes de ancoragem podem ser utilizadas: a ancoragem intrabucal e a extrabucal (BRAGA et al., 2002; THIESEN, REGO e SHIMIZU, 2005). 2.2.1 ANCORAGEM EXTRABUCAL A ancoragem extrabucal é o método através do qual são geradas forças fora da cavidade bucal, nas regiões cervical, occipital e parietal e que são aplicadas para estabilizar, movimentar elementos dentais ou direcionar o crescimento dos ossos do complexo maxilofacial. O sistema mecânico gerador das forças destinadas à movimentação ortodôntica ou ortopédica denomina-se aparelho extrabucal (BARROS, 2004). 2.2.2 ANCORAGEM INTRABUCAL Ancoragem Intrabucal é o meio pelo qual é dada a um determinado dente ou a um grupo de dentes a capacidade de resistir a movimentos indesejáveis durante a mecânica ortodôntica (BARROS, 2004). Vários métodos de controle de ancoragem intrabucal têm sido desenvolvidos no último século. As contribuições de Angle, Case, Tweed, Begg e outros têm promovido uma base para a mecanoterapia ortodôntica moderna (BRAGA et al., 2002). 20 A ancoragem intrabucal faz uso dos elementos dentários, das reações biológicas do tecido ósseo, das superfícies mucosas e da influência da musculatura (como no caso da ancoragem cortical, dos elásticos intermaxilares, dos dispositivos intramaxilares – arco lingual, barra transpalatina e botão de Nance, entre outros) (THIESEN, REGO e SHIMIZU, 2005). As possibilidades mecânicas induzem à subclassificação da ancoragem intrabucal em intramaxilar, quando envolve um único maxilar, e intermaxilar, quando envolve ambos maxilares. A ancoragem intramaxilar pode ser superior ou inferior. São exemplos de ancoragem intramaxilar superior: barra transpalatina, botão de Nance, placa de ancoragem anterior, placa de ancoragem posterior. Como exemplo de ancoragem intramaxilar inferior pode-se citar: placa lábio ativa e arco lingual. A ancoragem intermaxilar é assim denominada por ser aplicada simultaneamente em ambos os maxilares. Os elásticos são um tipo de ancoragem intermaxilar. E, ainda, como ancoragem intrabucal, pode-se citar os implantes metálicos (BRAGA et al., 2002). Ancoragem dental é um termo aplicado à minimização intencional da migração de dentes específicos através da estrutura óssea alveolar de suporte. A ancoragem dental pode ser aumentada, tanto pelo aumento do número de dentes consolidados em uma unidade de ancoragem, quanto pela angulação intencional de dentes específicos para resistirem melhor ao movimento e, ainda, pelos dois métodos citados. Geralmente, dentes com grande área de superfície radicular tenderão a se mover menos quando forem utilizados para mover outros dentes com menor área de superfície radicular. Isso ocorre porque a capacidade de resistir ao movimento está diretamente relacionada às fibras periodontais e à área da superfície óssea empregada na oposição ao movimento dentário (HUANG, KING e KAPILA, 2007). Uma consideração em relação ao controle de ancoragem é a resposta diferente do osso cortical comparada com a do medular. O osso cortical é mais resistente à reabsorção e o movimento dentário é mais lento quando a raiz entra em contato com este osso. Alguns autores têm preconizado ancoragem cortical que consiste em dar torque nas raízes dos dentes posteriores contra as placas corticais como uma forma de inibir seu movimento para mesial quando os espaços das extrações precisam ser fechados (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). 21 2.3 RECURSOS MAIS UTILIZADOS Angle (1899) defendia métodos de ancoragem estacionária, com a manutenção dos dentes de ancoragem em uma posição estática durante toda a mecanoterapia. Para isso, o autor valia-se da utilização de aparelhos extrabucais e elásticos intermaxilares. Além disso, desenvolveu dispositivos intramaxilares, utilizando-se da ancoragem dental. Aproximadamente 30 anos depois, Tweed (1927) apud Braga e colaboradores (2002), descreveu uma técnica para controle da ancoragem ortodôntica. O método defendido por Tweed visou à manutenção dos dentes de ancoragem contra efeitos indesejados de extrusão e inclinação. Uma série de dobras “tip back” atuaram para ancorar os dentes e para resistir ao deslocamento vertical e ântero-posterior durante a tração elástica intermaxilar. Eram degraus feitos no segmento posterior do arco que, ao ser inserido no bráquete, provocavam inclinações do longo eixo dental para distal. Para uma efetividade maior, acrescentou elásticos intermaxilares de classe III. Desta forma, os dentes posteriores ficavam ancorados e prontos para suportar os elásticos de classe II sem que sofressem inclinações indesejáveis para mesial. Atualmente vários tipos de ancoragem são utilizados em Ortodontia: aparelhos extrabucais de ancoragem, a exemplo do arco extrabucal, onde são usadas estruturas esqueléticas externas; microparafusos e implantes intrabucais, sendo que estes são osseointegrados e, então, são extremamente estáveis; e ancoragem dentária, que consiste essencialmente no preparo e na consolidação dos dentes em unidades para uso na tração ou na compressão do restante da dentição (HUANG, KING e KAPILA, 2007). Os aparelhos extrabucais (AEB) são, freqüentemente, prescritos para controlar a ancoragem, sendo usados na tentativa de manter os dentes posteriores nas estruturas faciais. Os elásticos intermaxilares jogam os dentes superiores contra os inferiores e representam outro meio de obter movimento dentário diferencial. A direção do elástico define seu vetor de força e a terminologia usada para descrevê-lo. Os elásticos de Classe II encaixam-se nos dentes anteriores superiores e nos posteriores inferiores, propiciando uma força de retração nos dentes anteriores superiores e uma força simultânea de mesialização dos molares inferiores. Logo, a principal limitação do uso do AEB ou elásticos como técnica de ancoragem é a sua dependência de cooperação do paciente (BISHARA, 2004; PROFFIT e FIELDS JR., 2002). Portanto, a maior desvantagem desse tipo de ancoragem é que, por tratar- 22 se de um dispositivo removível, depende da colaboração do paciente para o seu adequado funcionamento (BARROS, 2004). O tipo de ancoragem é baseado no tipo de movimento desejado para o dente. A ancoragem máxima é freqüentemente necessária no tratamento de casos ortodônticos e, em geral, é obtida por dispositivos extrabucais. Os adultos e os adolescentes são propensos a rejeitar os dispositivos extrabucais devido aos problemas estéticos e ao desconforto que eles causam. Assim, diferentes mecanismos intrabucais para obter a ancoragem máxima foram projetados por vários pesquisadores (KELES, KELES e NANDA, 2007). O torque lingual posterior nas coroas dos molares superiores coloca suas raízes para vestibular, em contato com o osso cortical, imobilizando e neutralizando a movimentação molar. Nessa região o osso é denso e compacto, sendo as trocas metabólicas pobres e a vascularização e irrigação sangüíneas diminuídas, não propiciando a movimentação dental (BARROS, 2004). No sistema de ancoragem moderada deve-se controlar o movimento dos dentes posteriores com a utilização de aparelhos de preservação de ancoragem, sendo boa opção a utilização da barra transpalatina para o arco superior (ZANELATO et al., 2002). Para obter grande retração de dentes anteriores, uma seqüência de passos para aumentar a ancoragem e reduzir sua solicitação poderia ser como a seguir: adicionar arcos de estabilização, retrair os caninos independentemente e, em seguida, retrair os incisivos (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). Paulson, Speidel, Isaacson (1970) afirmaram ser possível a retração anterior sem que haja perda de ancoragem dos dentes posteriores para mesial, utilizando a barra transpalatina e que, quando utilizada com fio de calibre espesso e rígido, conseguiria um controle eficaz de ancoragem. Segundo Gregoret (2005), na mecânica ortodôntica com aparatologia pré-ajustada, a barra transpalatina juntou-se a um rol muito importante, a ponto de que não se concebe o tratamento com arco reto sem a utilização desse elemento auxiliar. O botão de Nance, um botão de acrílico que se apóia na região anterior do palato, também é um dispositivo muito útil no sentido de manter os molares ancorados em sua posição enquanto se processam as modificações ortodônticas anteriores. Esse arco é soldado na face palatina das bandas dos molares (geralmente, nos primeiros molares). Às vezes, poderá ser usado nos pré-molares ou até nos molares decíduos. O botão de Nance é constituído por um fio de aço de 0,9 mm soldado à banda do molar superior e apoiado na 23 curvatura anterior do palato, por um botão de acrílico. A ancoragem do molar, portanto, é conseguida pelo apoio no palato (BARROS, 2004). Segundo Bishara (2004), Gregoret (2005) e Pinto (2006), é possível reduzir a pressão na ancoragem posterior retraindo o canino individualmente, colocando-o para distal pelo movimento contra os outros dentes do arco. Teoricamente, a retração isolada dos caninos exige menor rigor de ancoragem, visto que serão apenas dois dentes caninos superiores em oposição aos dentes posteriores, que formam a unidade de ancoragem. Após a retração do canino, o mesmo seria adicionado à unidade de ancoragem e, em seguida, realizada a retração dos incisivos (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). Outra recomendação clínica é a colocação de bandas nos segundos molares, pois esses dentes proporcionam ancoragem adicional devido à grande massa radicular que apresentam e, também, pela localização de grande densidade óssea na mandíbula (ZANELATO et al., 2002). Assim, uma maneira comum de melhorar o controle de ancoragem é colocar a resistência de um grupo dentário contra o movimento de um único dente (NANDA, KUHLBERG e URIBE, 2007). Os dentes, por si só, apresentam mecanismos através dos quais oferecem resistência ao movimento. Assim, uma estratégia óbvia para o controle da ancoragem seria concentrar as forças necessárias para a produção do movimento dentário onde ele fosse desejado e, então, dissipar, ao máximo, a força de reação sobre os demais dentes, deixando a pressão no ligamento periodontal dos dentes de ancoragem tão leve quanto possível. Um limite abaixo do qual a força aplicada não produziria reação poderia fornecer um controle da ancoragem perfeito, desde que fosse apenas o necessário para assegurar que o limiar para a movimentação da unidade de ancoragem não seria alcançado (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). Mais recentemente, a Ortodontia tem lançado mão do uso dos implantes de titânio, obtendo ótimos resultados nos casos onde o controle de ancoragem é considerado crítico para o sucesso do tratamento (KELES, KELES e NANDA, 2007). No entanto, apesar de constituírem-se a única alternativa segura para se obter uma ancoragem absoluta, a utilização de implantes para ancoragem infelizmente ainda não se apresenta como uma constante na prática clínica diária, necessitando, assim, que o ortodontista tenha muitas vezes que lançar mão de meios alternativos para controlar a ancoragem de maneira eficaz durante o fechamento ortodôntico de espaços (THIESEN, REGO e SHIMIZU, 2005). 24 Vários estudos experimentais e relatos de casos mostram que os implantes osseointegrados são resistentes à aplicação de forças ortodônticas. Entretanto, os implantes necessitam de osso disponível sem estruturas vitais no local da sua colocação. Alguns autores relataram que a região anterior do palato, a área retromolar e o zigomático são as áreas mais adequadas para pequenos implantes temporários (FELDMANN e BONDEMARK, 2008). Segundo Celenza e Hochman (2000) e Silva e Peres (2002), a utilização de implantes em tratamentos ortodônticos teria algumas vantagens em relação à ancoragem: proporciona ancoragem máxima, sem depender da cooperação do paciente, substituindo os aparelhos extra e intrabucais, constitue-se num recurso fixo e, portanto, de utilização contínua, reduzindo o tempo de tratamento; é mais estético que alguns sistemas de ancoragem. Como desvantagens: necessita da fase cirúrgica para instalação e remoção do implante; quando este for utilizado somente para ancoragem ; custos adicionais. Pacientes em crescimento, muitas vezes, poderiam limitar um tratamento combinado entre a Ortodontia e Implantodontia. Atualmente, um dos principais métodos utilizados para a obtenção de uma ancoragem absoluta é o uso de microparafusos. Estes possuem vantagens de utilização quando comparados aos implantes osseointegráveis devido às suas dimensões reduzidas, que possibilitam utilizá-los em diferentes áreas da maxila e mandíbula (NASCIMENTO, ARAÚJO e BEZERRA, 2006). De acordo com Arantes (2009), deve-se atentar para o fato de que, além de vantagens do uso os microparafusos, estes apresentam desvantagens, tais como: lesões nos tecidos radiculares, como resultados de inserções indevidas ou pelo próprio deslocamento do minimplante; irritação ou inflamação do tecido peri-implantar, principalmente por pacientes com má higiene oral; necessidade de fase cirúrgica; custo adicional para o paciente; desconforto. 2.4 RETRAÇÃO INDIVIDUAL DE CANINOS Ao longo dos anos, os ortodontistas perceberam que o fechamento de espaço em duas etapas (primeiro o canino, depois os incisivos) era menos prejudicial para a ancoragem do que a retração em massa (movimento distal do canino e dos incisivos simultaneamente) (BENNETT e MC LAUGHLIN, 1990; BRAGA et al., 2002; NANDA, KUHLBERG e URIBE, 2007). Essa abordagem teria a vantagem da força de reação ser sempre dissipada na 25 grande área do ligamento periodontal da unidade de ancoragem (PROFFIT e FIELDS JR., 2002; THIESEN, REGO e SHIMIZU, 2005; PINTO, 2006). Na retração de canino, o fechamento de espaço se dá por deslizamento, ou seja, durante a retração, o bráquete do canino se desloca ao longo do fio por meio da aplicação de uma força, gerando atrito entre ambos (PONCE, 2000). É importante que os arcos já tenham sido nivelados para realizar o deslizamento. Neste caso, são empregados arcos contínuos associados a elásticos em cadeias, onde o efeito de deslizamento é obtido pela interação arco/bráquete (BRAGA et al., 2003). A retração anterior na técnica de deslize consiste em fechar os espaços utilizando-se arco retangular 0,019”x 0,025” na canaleta 0,022”x 0,028”. A justificativa para que se utilize esse arco durante a mecânica é a boa resistência oferecida pelos arcos quando submetidos à força apropriada de retração, pois, quando o nível de força é muito alto, ou seja, maior que a resistência do arco, haverá deflexões e atrito, podendo dificultar a mecânica de fechamento de espaço (MC LAUGHLIN, BENNETT e TREVISI, 2002; ZANELATO et al., 2002). Algumas variações são apresentadas por pesquisadores para se obter um controle eficaz de ancoragem. Dentre essas variações temos: variações nos fios utilizados nos bráquetes; quantidade de dentes utilizados como ancoragem; reforços dentro da cavidade bucal ou fora; e magnitude da força aplicada durante a movimentação dentária (FERREIRA, 2007). Os dentes de ancoragem, normalmente, sentem reação da força de resistência friccional e da força do movimento dentário, de forma que controlar e minimizar a fricção é um aspecto importante no controle de ancoragem. A resistência mínima à fricção ao deslize em um bráquete simples é de, aproximadamente, 100g. Em outras palavras, se um canino deve deslizar ao longo do arco como parte do fechamento de espaço das extrações e uma força pura de 100g é necessária para o movimento dentário, aproximadamente outros 100g serão necessários para vencer a fricção. A força total necessária para deslizar um dente é, portanto, duas vezes maior do que se poderia esperar. A força ideal para deslizar um canino distalmente é de, aproximadamente, 150g, visto que, pelo menos, 50g serão usados para superar o atrito (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). Segundo Ponce (2000), a força ideal utilizada em um sistema de retração de caninos é de 100 a 200 gramas. 26 2.5 REFORÇO DE ANCORAGEM Para retrair diferencialmente os dentes anteriores, a ancoragem dos dentes posteriores pode ser reforçada pela adição do canino e do segundo molar à unidade posterior. A extensão na qual a ancoragem deve ser reforçada depende do movimento dentário desejado. Na prática, isto significa que os requisitos para ancoragem necessitam ser estabelecidos individualmente em cada situação clínica. Uma vez determinado que o reforço é desejável, isto, normalmente, envolve a inclusão de tantos dentes quanto possível na unidade de ancoragem (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). Para evitar o movimento dentário recíproco, deve-se associar a maior quantidade de dentes possível na unidade de ancoragem. Em tratamentos que utilizam mecânica de deslizamento, a relação da área do ligamento periodontal da unidade de ancoragem pela área de ligamento periodontal da unidade em movimento deve ser de 4 para 1. A ancoragem dos dentes posteriores pode ser reforçada pela adição do segundo molar à unidade posterior. O reforço da ancoragem pela adição de mais unidades de resistência é efetivo porque, com mais dentes na ancoragem, a força de reação é distribuída em uma área maior de ligamento periodontal. Isto reduz a pressão nas unidades de ancoragem. Manter a força leve, também, é duplamente benéfico. Não somente porque minimiza o trauma e a dor, mas também torna possível criar uma ancoragem tirando vantagem das áreas diferentes de ligamento periodontal no segmento de ancoragem. Muita força destrói a efetividade da ancoragem reforçada (PROFFIT e FIELDS JR., 2002). Devido a isto, parece prudente que se associe o máximo de dentes posteriores a esta unidade, criando um bloco posterior de ancoragem, formado pelas raízes dos pré-molares e molares permanentes imersas no osso alveolar, em contrapartida aos monorradiculados permanentes (GREGORET, 2005; BISHARA, 2004). De acordo com os estudos, visto que o botão de Nance e a barra transpalatina são dois recursos freqüentemente usados como métodos de ancoragem na clínica diária, a eficiência desses dispositivos deve ser reconhecido pelos profissionais e devidamente aplicados quando necessários. 27 2.6 BARRA TRANSPALATINA (BTP) A barra transpalatina tem sido amplamente utilizada como coadjuvante em diversos sistemas de movimentação, explorando suas possibilidades mecânicas nos três planos espaciais. Embora desenhos semelhantes tenham sido apresentados na literatura, em 1972, Goshgarian patenteou o formato mais clássico da barra transpalatina (HOSHINA e RAMOS, 2006). A Barra Trasnpalatina é um aparelho acessório bastante utilizado em função de sua praticidade e versatilidade. Foi, originalmente, construída com fio de aço inox de 0,9mm de espessura, adaptada ao palato, guardando um afastamento conveniente deste. Possui uma alça intermediária e une dois molares superiores homólogos. As barras podem ser soldadas ou encaixadas às bandas metálicas. Sendo de encaixe, as duas extremidades do fio são dobradas, de modo que suas secções transversais passem a ser retangulares (0,9mm x 1,8mm), e adaptem-se de forma justa às bainhas de encaixe retangulares (0,9mm x 1,8mm) (KANASHIRO e FANTINI, 2002). Recomenda-se sua confecção com fio de aço 0,8 ou 0,9mm, podendo ser fixas (confeccionada em laboratório e soldada às bandas dos molares superiores) ou removíveis (pré-fabricada ou confeccionada em laboratório, encaixada em tubos palatinos que são, por sua vez, soldados na face lingual das bandas dos molares superiores) cujo contorno do fio ao palato deve estar afastado acerca de 1,5 a 2 milímetros (KANASHIRO e FANTINI, 2002; FERREIRA, 2007; AZENHA e MACLUF FILHO, 2008). Segundo Ramos e Sakima (2000), primeiramente, se confecciona o looping de ajuste com o alicate 139. Em seguida, realizam-se duas dobras oblíquas para a adaptação ao palato, afastando de 1 a 2 mm da mucosa palatina e registram-se as marcações equivalentes aos tubos linguais. Em seguida, confeccionam-se as presilhas, utilizando-se o alicate apropriado. Após a barra estar pronta, deve-se fazer com que a mesma fique passiva. Ajusta-se a barra de modo que a extremidade não encaixada fique paralela ao tubo. Em seguida, insere-se a outra presilha e verifica-se se a oposta também está paralela ou passiva. Caso o profissional opte pela barra fixa ou soldada, basta realizar a moldagem de transferência após a bandagem dos molares e, posteriormente, confeccionar a BTP no modelo, de forma que ela contorne o palato, mantenha-se afastada 1 a 2 mm do mesmo e suas extremidades adaptam-se passivamente às faces palatinas dos anéis metálicos ora adaptados 28 aos molares, cujo conjunto (anel metálico + extremidade da BTP) será soldado (VEDOVELO FILHO, 2004). Quanto à direção das alças intermediárias, alguns autores observaram que, quando voltadas para frente, provocam um momento de inclinação mesial dos molares e, em situação contrária, um momento de inclinação distal. Isso levou alguns autores a concluírem que, nos casos em que é necessária maior ancoragem, seria vantajosa a escolha da alça posicionada para distal (KANASHIRO e FANTINI, 2002). Mediante diferentes ativações, a barra produz um conjunto de forças que se utiliza para mover os molares nos três planos do espaço. Esses movimentos diferenciam-se em: rotação, expansão ou contração (movimentos de 1ª ordem), inclinação mésio-distal, intrusão (movimentos de 2ª ordem) e torque (movimento de 3ª ordem). Nos casos de extrações superiores, se manipularmos a barra transpalatina de forma a girar os molares para distal, teremos um elemento auxiliar de ancoragem do segmento posterior. Se os molares se encontram em uma boa posição, quer dizer, sem nenhum tipo de rotação, bastará a colocação de uma barra transpalatina passiva que seja capaz de conservar a posição desses dentes e aumentar sua ancoragem. O efeito deve-se a, ainda que esteja passiva, à sua rigidez, que impede a rotação dos molares para mesial e, assim, inibe-se esse primeiro passo da perda de ancoragem (FANTINI, KANASHIRO e PEREIRA, 2002; GREGORET, 2005; KANASHIRO e FANTINI, 2002). As barras transpalatinas são indicadas em várias fases do tratamento ortodôntico, com ou sem extrações de dentes, para auxiliar a ancoragem (uso passivo), realizar e/ou potencializar certos movimentos dentários (uso ativo) ou contribuir para o controle ortopédico de crescimento maxilar. A utilização da barra transpalatina passiva tem como objetivo principal preservar a ancoragem dos molares, evitando-se a mesialização dos mesmos, em casos de extrações de pré-molares. Este dispositivo atua impedindo a rotação mésio-palatina das coroas, movimento este que constitui boa parte do deslocamento envolvido na perda de ancoragem; mantém a distância transversal, fazendo com que os dentes encontrem a cortical vestibular do processo alveolar ao tentar mesializar; além de unir dois dentes homólogos, reforçando, assim, a ancoragem. Outras indicações do uso passivo da barra transpalatina são o controle de torque e da rotação dos molares, decorrentes do uso de tração extrabucal, e a manutenção da dimensão transversal durante o uso de elásticos de classe III ou após a disjunção palatina (FIORELLI, MELSEN e GIORGETTI, 1990). 29 Para alguns autores, no caso de utilização passiva das barras transpalatinas, deve-se preferir um sistema rígido, com fio metálico de alto módulo de elasticidade e sem a alça intermediária, pois esta aumentaria a flexibilidade do conjunto (FIORELLI, MELSEN e GIORGETTI, 1990). Deve ser confeccionada com cuidado para que nenhuma ativação seja transmitida aos dentes, uma vez que, em função do elevado coeficiente de carga/deflexão do sistema, um erro mínimo na sua confecção poderá criar resultantes de forças e momentos com movimento dentário indesejável (FIORELLI, MELSEN e GIORGETTI, 1990; PANHÓCA e LIMA, 1994). As principais aplicações da barra transpalatina são: correção da rotação e da inclinação dos molares; correção da inclinação dos molares (sentido mesiodistal); distalização dos molares (associado à um sistema de ancoragem); auxiliar de ancoragem; controle de erupção dos primeiros molares - intrusão relativa; expansão ou contração do segmento posterior superior; controle de torque dos molares. Uma vez bem posicionados, os molares podem ser eficazmente estabilizados com a utilização da barra transpalatina ajustada de forma passiva. Esta unidade de ancoragem oferece uma capacidade moderada podendo ser utilizada na maioria dos casos com extração para evitar a rotação, quando se procede a retração com cadeias elastoméricas apoiadas sobre os molares (RAMOS e SAKIMA, 2000). A barra transpalatina também pode ser utilizada como mantenedora de espaço nos casos de perda precoce dos segundos molares decíduos (RAMOS e SAKIMA, 2000). Bobak e colaboradores (1997) utilizaram o método do elemento finito para análise dos efeitos da barra transpalatina sobre o stresse periodontal dos molares que estiveram sobre a ação de forças de retração. Para avaliar a diferença entre as normas de stresse, submeteram o modelo à força ortodôntica com e sem a barra transpalatina. Observaram alterações nas superfícies radiculares, ligamento periodontal e osso alveolar, bem como o deslocamento dentário, tanto nos casos com e sem a barra transpalatina. Os resultados revelaram diferenças nas posições dos molares, menores do que 1%, na presença da barra transpalatina. As modificações ósseas confirmaram a capacidade desta em controlar a rotação molar, contudo sem nenhum efeito sobre a inclinação mesial desses dentes. O resultado final mostrou a inabilidade do arco transpalatino em implementar a ancoragem ortodôntica pela modificação do estresse periodontal. Anic, Slaj e Muretic (1998) apud Werneck (2004) estudaram a capacidade de ancoragem posterior dentária utilizando o straight-wire após as exodontias de pré-molares, e o aparelho transpalatal de Gosgharian (barra transpalatina) como reforço de ancoragem. Todos os experimentos foram registrados por vídeo-câmera e o sinal análogo foi digitado e salvo em 30 microcomputador. A animação computadorizada visualizou a direção e a quantidade de movimento dentário. Significante perda de ancoragem foi encontrada (no controle experimental), quando molares e pré-molares foram reforçados. Nenhuma diferença significante foi encontrada entre as Barras Transpalatinas ativas e não ativas. Werneck (2004) avaliou cefalometricamente o posicionamento dental superior, após a distalização dos caninos, empregando a barra transpalatina fixa como elemento de ancoragem posterior. A pesquisa envolveu a avaliação de telerradiografias em norma lateral de 58 adultos brasileiros, divididos em grupos segundo o padrão facial. A partir da análise cefalométrica, foi avaliado o grau de movimentação dos primeiros molares permanentes superiores no sentido horizontal após a fase de retração dos caninos superiores. Concluiu que existe perda de ancoragem molar média de 1,5 mm (segundo 6-PTV) para todos os grupos pesquisados. Bokas e Woods (2006) avaliaram a perda de ancoragem dos molares ocorrida após a retração dos caninos superiores com dois métodos (molas de NiTi e elásticos em cadeia) em 12 pacientes que sofreram extração de pré-molares. Foi instalada barra transpalatina em todos os pacientes. As reconsultas ocorreram a cada 28 dias. Para avaliação da perda de ancoragem, os autores utilizaram o ponto mais mesial dos molares superiores e as extremidades mediais das rugas palatinas como pontos de referência. Os resultados mostraram perda de ancoragem não estatisticamente significante, sendo de 0,46 mm/mês para as molas de NiTi e de 0,45 mm/mês para os elásticos em cadeia. Estes valores de perda de ancoragem correspondem de 1/4 a 1/3 da taxa mensal de fechamento do espaço, mesmo com a presença de barra transpalatina. Moscardini (2007) avaliou comparativamente a eficiência de dois meios de ancoragem: o aparelho extrabucal,e a barra transpalatina, utilizando uma amostra composta por 33 pacientes. Os resultados obtidos com este estudo demonstraram que não houve diferença significante entre o aparelho extrabucal,e a barra transpalatina no que diz respeito à movimentação mesial dos primeiros molares superiores, tendo em vista que ambos dispositivos permitiram uma magnitude semelhante de movimento, considerada aceitável, não desabonando sua eficiência no controle de ancoragem. Ambos se mostraram eficientes. Entretanto, sob o ponto de vista de inclinação mesial da coroa dos primeiros molares superiores, ou seja, no aspecto qualitativo da perda de ancoragem, o AEB se mostrou mais eficiente que a BTP, proporcionando uma menor magnitude deste movimento. O autor concluiu que, apesar de serem bons dispositivos auxiliares de ancoragem, quantitativamente, ambos permitiram uma migração mesial dos molares de, aproximadamente, 2,3mm, assim 31 como, uma inclinação mesial da coroa de 2,25 ± 0,849⁰ quando utilizado o AEB como meio auxiliar de ancoragem e de 2,97 ± 0,670⁰ quando utilizada a BTP. Em um estudo realizado por Feldmann e Bondemark (2008) com 120 pacientes, foi avaliada a capacidade de ancoragem durante o fechamento de espaço com uso da barra transpalatina, constatando 1,0mm de perda de ancoragem. A barra transpalatina, atualmente, é um dispositivo de eleição na prática ortodôntica por ser um aparelho versátil, de fácil confecção e manuseio, com possibilidade de controle tridimensional e variedade de opções mecânicas, além de ser de baixo custo (RAMOS e SAKIMA, 2000; VEDOVELO FILHO, 2004; MOSCARDINI, 2007). O problema mais comum relacionado à barra transpalatina é a irritação do tecido mole. Às vezes, a barra pode incrustar-se na mucosa palatina, que só se regenera após a remoção do aparelho. Na língua, é comum ver a marca do aparelho, porém, é assintomático (VEDOVELO FILHO, 2004). O desprendimento da barra transpalatina poderá ocasionar intercorrências desagradáveis como a deglutição, que implicará na monitoração radiográfica até ser eliminada. Como outra intercorrência menos grave e mais freqüente, poderá haver lesão da mucosa gengival próxima ao tubo lingual (RAMOS e SAKIMA, 2000). Em suma, a barra transpalatina facilita o tratamento ortodôntico nos casos indicados, reforçando a ancoragem, porém o Ortodontista deve conhecer seu mecanismo de ação antes de fazer uso do mesmo (VEDOVELO FILHO, 2004). 2.7 BOTÃO DE NANCE O botão de Nance consiste em um aparelho formado por um fio redondo com calibre de, aproximadamente, 0,9 ou 1,0mm, soldado às bandas cimentadas aos dentes molares superiores e que, ao invés de contornar a superfície palatina dos dentes superiores, contorna o palato sem tocar os tecidos e se apóia na região mediana. Na região de contato, mais ou menos um centímetro atrás dos incisivos superiores, coloca-se um apoio de resina acrílica de, aproximadamente, um centímetro de diâmetro para aumentar a área de apoio e não ferir a mucosa do paciente. É importante salientar que o botão de resina (apoio) não deve ficar comprimindo os tecidos do palato, mas deve, sim, apenas tocar o palato, permitindo uma boa higienização do local de contato e, assim, evitar possíveis irritações dos tecidos abaixo do botão de acrílico (GREGORET, 2005). 32 Renfroe (1956) Apud MORESCA (2001) esclareceu que o apoio maxilar é conhecido como botão de Nance, pois foi desenvolvido por Hayes Nance da Califórnia. O botão de Nance pode ser fixo ou semi-fixo, embora o uso do Botão de Nance semifixo seja bastante limitado e de pouco interesse para o profissional. A sua maior vantagem estaria na possibilidade de conseguirmos um melhor controle de higienização da mucosa palatina abaixo do botão de apoio (HISTER, BASILE e BERTHOLD, 1994). A confecção do botão de Nance deve se iniciar pela seleção das bandas e sua adaptação aos dentes de suporte. Posteriormente, as bandas serão transferidas para sua exata posição na moldagem. Após isso, o modelo é vazado e, com um fio de calibre entre 0,9mm e 1,0mm, é contornado ao longo da superfície disto-lingual da banda do primeiro molar até a área do palato anterior. O fio deve passar ao longo do terço gengival da banda, seguir um ou dois milímetros acima da margem gengival dos dentes posteriores, sem tocar a mucosa do palato. Na porção anterior, próximo à região de canino, dobra-se o fio em direção à sutura palatina. Na região da sutura, faz-se pequenas dobras no fio ganhando retenção para o botão de acrílico que, posteriormente, será confeccionado nesta região. Repete-se a operação do lado oposto. O arco é fixado com cera fundida na posição correta. Posteriormente, é colocado gesso na região anterior, cobrindo a cera e permitindo a soldagem do arco às bandas com solda de prata na porção desejada. Depois da soldagem, é removido o gesso e a cera, permitindo, desta maneira, que seja confeccionado um “botão” de resina acrílica, que deve envolver o fio e tocar o palato, tendo aproximadamente um centímetro de diâmetro (HISTER, BASILE e BERTHOLD, 1994). Durante a confecção, é preciso grande atenção e cuidado no momento da transferência das bandas dos dentes para suas respectivas posições na moldagem. Esse correto posicionamento é fundamental para a perfeita confecção do aparelho. Caso haja problemas de posicionamento, a moldagem deverá ser repetida, proporcionando perda de tempo (HISTER, BASILE e BERTHOLD, 1994). Após verificarmos se o botão de Nance está perfeitamente adaptado ao paciente, devese proceder à cimentação das bandas nos dentes escolhidos para sustentar o aparelho. Atualmente, o material mais recomendado para a cimentação das bandas é o cimento de ionômero de vidro, que apresenta uma boa adesão à superfície do dente e, também, ao metal da banda, além de liberar fluoretos (HISTER, BASILE e BERTHOLD, 1994). Em 2001, Moresca realizou uma pesquisa onde foi avaliado cefalometricamente os efeitos do aparelho extrabucal e do botão de Nance como recursos de ancoragem associados à técnica MBT durante a fase de nivelamento. Foi utilizada uma amostra de 23 pacientes (10 do 33 sexo feminino e 13 do sexo masculino), com dentição permanente, idade média de 15 anos e 5 meses e com má oclusão de Classe II, divisão 1. O tratamento ortodôntico foi realizado com extrações dos primeiros pré-molares. A amostra foi dividida em dois grupos: grupo I – 11 pacientes, nos quais foi utilizado o AEB do tipo IHG (500 a 700g); e grupo II – 12 pacientes, nos quais o sistema de ancoragem adotado foi o botão de Nance fixado às bandas dos primeiros molares. No sentido horizontal, os primeiros molares superiores permaneceram estáveis no grupo I e houve perda de ancoragem estatisticamente significante no grupo II, onde foi observada mesialização dos primeiros molares superiores. Em dois pacientes, essa mesialização foi menor do que 0,5mm, em um paciente esteve entre 0,5 a 1,0mm, em quatro deles a perda de ancoragem ficou entre 1,0 a 1,5mm, em outros quatro esteve entre 1,5 e 2,0mm e em um paciente foi maior que 2,0mm. Segundo Moresca (2001), dois fatores podem ter contribuído para a perda de ancoragem com a utilização do botão de Nance. Uma pequena alteração da inclinação dos primeiros molares superiores pode ter desestabilizado o botão de Nance e este dispositivo não ofereceu resistência suficiente. Arantes (2009) comparou, por meio de telerradiografias, panorâmicas e modelos, a perda de ancoragem após a retração inicial de caninos superiores entre dois grupos. Foram selecionados 18 pacientes, divididos em dois grupos aleatórios de 9 indivíduos cada um (A e B). O grupo A utilizou o minimplante enquanto o grupo B utilizou o botão de Nance. Para todos os pacientes, foram realizadas duas telerradiografias (T1 e T2), duas panorâmicas (P1 e P2) e dois modelos (M1 e M2). Os primeiros exames complementares foram realizados ao início e o outro ao final da retração inicial de canino. Ao medir e comparar em telerradiografias, panorâmicas e modelos a perda de ancoragem dos molares após a retração inicial de canino, utilizando-se dois sistemas de ancoragem distintos (minimplante e botão de Nance), pôde-se observar a inexistência de diferença estatisticamente significante entre os dois grupos. Segundo o autor, embora estes resultados sejam estatisticamente insignificantes, tornase importante ressaltar que o grupo que utilizou minimplantes perdeu menos ancoragem, quando comparado ao grupo que utilizou o botão de Nance. Pode-se avaliar, nos resultados cefalométricos, que a perda de ancoragem do grupo que utilizou botão de Nance variou entre 2,9 mm e 3,98 mm, enquanto que a do grupo de minimplantes variou entre 1,03 mm e 1,54 mm. Essa diferença numérica torna-se extremamente importante clinicamente quando se necessita de uma ancoragem absoluta. Nos resultados encontrados neste trabalho, observou-se uma perda de ancoragem, em média, de 2, 85 mm no lado direito e 2,73 mm no lado esquerdo 34 para o grupo que utilizou o botão de Nance, embora o lado esquerdo não tenha mostrado diferença estatisticamente significante. As principais indicações do botão de Nance são: (1) a manutenção do espaço em casos de perda precoce dos dentes decíduos posteriores superiores, evitando a mesialização dos molares permanentes e a conseqüente perda de espaço para a erupção dos pré-molares e caninos permanentes da arcada superior; (2) contenção na preservação do espaço em casos onde foram efetuados movimentos de distalização dos primeiros molares superiores e (3) reforço de ancoragem (HISTER, BASILE e BERTHOLD, 1994). O botão de Nance tem sido muito utilizado para aumentar a ancoragem dos molares nos casos de extrações. O botão, mediante a pressão lingual que recebe, controla o movimento de inclinação do molar para distal. Para aumentar sua efetividade, é recomendável que a superfície do botão seja a mais extensa possível (GREGORET, 2005). Manter a forma do arco, manter o espaço presente para erupção dos dentes permanentes, manter o perímetro do arco, evitando o movimento mesial dos primeiros molares permanentes e aumentar a ancoragem são objetivos esperados com o uso do Botão de Nance (HISTER, BASILE e BERTHOLD, 1994). O botão de Nance proporciona as seguintes vantagens: uso constante do aparelho; não são necessários ajustes periódicos; redução da possibilidade de perda do aparelho, pois o paciente não consegue fazer a remoção do mesmo; é um aparelho estético, pois não necessita de arco vestibular; não necessita da colaboração do paciente para o uso do aparelho, o que é muito favorável para o sucesso do tratamento; é um aparelho bem aceito pelo portador; apenas dois dentes fixam o aparelho (HISTER, BASILE e BERTHOLD, 1994). As principais desvantagens são dificuldade de higienização da mucosa abaixo do botão de apoio e dificuldade de se fazer ajustes, caso haja alguma necessidade, ou até mesmo de algum reparo no aparelho (HISTER, BASILE e BERTHOLD, 1994). A higienização deverá ser feita pelo próprio paciente e/ou pelo profissional com o fio ou fita dental com passa fio e, se possível, com jatos de água e ar. Este inconveniente faz com que as visitas ao consultório sejam mais freqüentes. Este trabalho buscou, através de uma revisão de literatura e relato de casos clínicos, avaliar a eficiência de dois dispositivos intrabucais: a barra transpalatina e o botão de Nance, como meios auxiliares de ancoragem dos primeiros molares superiores nos casos tratados ortodonticamente com exodontias de pré-molares, onde se indicou retração total anterior e, em uma primeira fase, a distalização dos caninos. 35 3 PROPOSIÇÃO -Objetivo Geral: O presente trabalho se propõe a avaliar a efetividade da barra transpalatina e do botão de Nance como recursos de ancoragem. -Objetivos Específicos: 1- Avaliar a efetividade da barra transpalatina e do botão de Nance como recursos de ancoragem através de levantamento bibliográfico; 2- Avaliar a efetividade da barra transpalatina e do botão de Nance como recursos de ancoragem através de relato de casos clínicos. 36 4 MATERIAL E MÉTODO Foram pesquisadas, na literatura científica ortodôntica, as informações e constatações mais atuais e relevantes acerca da eficiência e eficácia da barra transpalatina e do botão de Nance como recursos de ancoragem. Além disso, serão relatados 03 casos clínicos tratados no Curso de Especialização em Ortodontia do Instituto Agenor Paiva de Pós-graduação em áreas médicas (IAPPEM), cujos pacientes utilizaram esses recursos de ancoragem. Alguns critérios foram observados para a seleção dos pacientes, ou seja, os indivíduos deveriam apresentar inicialmente: má oclusão de Classe I de Angle com biprotrusão; ausência de apinhamento de incisivos e caninos (sem necessidade de retração inicial de canino), idade superior a 18 anos; presença de todos os dentes permanentes (até segundo molar), cujos respectivos planos de tratamento contemplassem a necessidade de extrações dos primeiros pré-molares superiores, retração total anterior e ancoragem máxima. Dentre os pacientes selecionados, um fez uso da barra transpalatina (Figura 1) e os outros dois utilizaram botão de Nance (Figura 2). O botão de Nance foi confeccionado com fio de aço de 0,9 mm, soldado na face palatina das bandas dos primeiros molares superiores, e o botão de acrílico foi apoiado na curvatura anterior do palato. Já a barra transpalatina, foi confeccionada com fio de aço de 0,9 mm, contornando o palato, afastado do mesmo de 1,5 a 2 milímetros e soldada na face palatina das bandas dos primeiros molares superiores. Ambos os meios de ancoragem foram instalados no início do tratamento ortodôntico em todos os pacientes selecionados Figura 1-Barra transpalatina Figura 2- Botão de Nance A documentação inicial para diagnóstico foi composta de fotografias intra e extrabucais, modelos de gesso, telerradiografia de perfil, radiografia panorâmica, além do exame clínico-anamnésico. Ao final da retração de caninos superiores, foram solicitados novos modelos de gesso e telerradiografia de perfil dos pacientes selecionados 37 Os pacientes receberam aparelhagem fixa vestibular com a utilização de bráquetes Morelli ® prescrição Roth, slot 0,022”, inclusive com os segundos molares incluídos na aparatologia através de bandas metálicas e tubos simples. Os dentes foram alinhados e nivelados com uma seqüência progressiva de fios, desde o fio NiTi 0,014”, passando pelos fios NiTi 0,016”, CrNi 0,016”, CrNi 0,018”, CrNi 0,020” e CrNi 0,019”x0,025”. Após a utilização do arco CrNi 0,020”, os pacientes foram encaminhados para exodontia dos primeiros pré-molares superiores. Em seguida, foi instalado o arco CrNi 0,019”x 0,025”. Na sessão seguinte, foi iniciada a retração de caninos através da mecânica de deslizamento com elástico em cadeia nas aletas distais dos caninos e fio de amarrilho 0,25mm nas aletas mesiais. Nessa ocasião, os segundos molares foram conjugados aos primeiros molares e aos segundos pré-molares com fio de amarrilho 0,25mm. O mesmo lote e marca (Morelli ®) do fio de amarrilho e do elástico em cadeia foi usado do início ao fim do tratamento em todos os pacientes . Foi empregada 150g de força de cada lado, medida com auxílio de um dinamômetro (Figura 3), e o paciente retornou para ativação a cada 30 dias, até a conclusão da retração de caninos. Figura 3: Dinamômetro A eficiência dos sistemas de ancoragem utilizados foi avaliada pelo nível de imobilidade obtido no primeiro molar superior após finalizada a retração de caninos. Quanto maior a imobilidade do primeiro molar superior, maior a capacidade do sistema de ancoragem em neutralizar os efeitos colaterais proveniente das forças de reação. Para isso, foram utilizados métodos clínicos e cefalométricos. O Método Clínico consistiu na avaliação de modelos pela distância linear do ponto mais mesial dos primeiros molares superiores até a extremidade lateral da terceira ruga palatina (Figura 4) (ALMEIDA et al., 1995; BAILEY, ESMAILNEJAD e ALMEIDA, 1996) antes do início do processo da retração e após finalizada a retração de caninos. Para tanto, os pontos de referência foram marcados cuidadosamente com grafite 0,5 mm e as medidas foram 38 tomadas com as pontas internas do paquímetro digital. Novamente, após 7 dias, as medidas dos modelos foram repetidas a fim de verificar a confiabilidade das mesmas. O Método Cefalométrico foi realizado através de comparações dos traçados cefalométricos obtidos a partir de telerradiografias laterais padronizadas, obtidas antes do início do processo da retração e após finalizada a retração de caninos. Estes traçados foram realizados em uma sala escura, na mesma hora do dia, sobre um negatoscópio (que será a única fonte de luz) para facilitar a visualização e a evidência das estruturas, e por um mesmo observador, que foi calibrado, realizando o mesmo traçado duas vezes com um intervalo de 15 dias. Figura 4- Pontos de referência utilizados para medir a perda de ancoragem dos primeiros molares superiores. Baseado no trabalho de Moscardini (2007), foi utilizada a linha PtV (pterigóidea vertical) que, segundo Ricketts, representa o limite posterior da maxila. O limite anterior foi o ponto que corresponde ao limite anterior da junção amelocementária do primeiro molar superior permanente. No plano palatino foi medida, em milímetros, a distância entre os pontos P e I. O ponto P representou a intersecção da linha PtV com o plano palatino e o ponto I, a projeção ortogonal do limite anterior da junção amelocementária do primeiro molar superior permanente no plano palatino. A variação determinou a eficiência da ancoragem. Estabeleceuse a letra X como sendo o valor da medida inicial e X‟ como sendo a final (Figura 5). 39 Figura 5- Ilustração demonstrando os pontos P e I e as medidas X e X’ (MOSCARDINI, 2007). Cabe ressaltar que, devido à sobreposição de imagem nas radiografias, o molar avaliado será sempre aquele que se mostrar em uma posição mais mesial em relação ao outro. 40 5 RELATO DE CASO De acordo com a proposta estabelecida por este trabalho, foram medidas as grandezas do método cefalométrico e do método clínico antes do início do processo da retração e após finalizada a retração de caninos. As medidas obtidas para o método cefalométrico estão apresentadas na Tabela 1 e as medidas obtidas para o método clínico estão apresentadas na Tabela 2. As diferenças que quantificam a perda de ancoragem estão apresentadas nas Tabelas 3 e 4. Os casos clínicos seguiram os critérios de seleção e tratamento já estabelecidos anteriormente para todos os três pacientes. 5.1 CASO CLÍNICO I Paciente do gênero masculino, V.H.S., 22 anos de idade, melanoderma, Classe I, biprotrusão, tipo facial mesocefálico, simétrico, terços faciais proporcionais, selamento labial ausente, perfil convexo, terços faciais proporcionais, região malar e paranasal normais, ângulo nasolabial agudo, linha queixo-pescoço normal, padrão facial I. Neste caso, foi utilizado como recurso de ancoragem a barra transpalatina (Figuras 6 a 12). Figura 6: Fotografias extrabucais do paciente V.H.S. ao início do tratamento. 41 Figura 7: Telerradiografia de perfil do paciente V.H.S. ao início do tratamento. Figura 8: Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) do paciente V.H.S. ao início do tratamento. Figura 9: Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) do paciente V.H.S. durante o tratamento 42 Figura 10: Fotografia oclusal superior do paciente V.H.S. durante o tratamento. Figura 11: Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) do paciente V.H.S. após a retração de caninos. Figura 12: Telerradiografia de perfil do paciente V.H.S. após a retração de caninos. 43 5.2 CASO CLÍNICO II Paciente do gênero feminino, L. M. M., 26 anos de idade, melanoderma, Classe I, biprotrusão, tipo facial mesocefálico, simétrico, terços faciais proporcionais, selamento labial normal, perfil convexo, terços faciais proporcionais, região malar e paranasal normais, ângulo nasolabial agudo, linha queixo-pescoço normal, padrão facial I. Neste caso, foi utilizado como recurso de ancoragem, o botão de Nance (Figuras 13 a 18). Figura 13: Fotografias extrabucais da paciente L.M.M. ao início do tratamento. Figura 14: Telerradiografia de perfil da paciente L.M.M ao início do tratamento. 44 Figura 15: Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) da paciente L.M.M. ao início do tratamento. Figura 16: Fotografia oclusal superior da paciente L.M.M. durante o tratamento. Figura 17: Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) da paciente L.M.M. após a retração de caninos. 45 Figura 18: Telerradiografia de perfil da paciente L.M.M. após a retração de caninos. 5.3 CASO CLÍNICO III Paciente do gênero feminino, M. C. B., 30 anos de idade, melanoderma, Classe I, biprotrusão,tipo facial mesocefálico, simétrica, terços faciais proporcionais, selamento labial normal, perfil convexo, terços faciais proporcionais, região malar e paranasal normais, ângulo nasolabial agudo, linha queixo-pescoço normal,padrão facial I. Fez uso do botão de Nance, e por motivo de viagem, não foi concluída a retração total dos caninos (Figuras 19 a 24). Figura 19: Fotografias extrabucais da paciente M.C.B. ao início do tratamento. 46 Figura 20: Telerradiografia de perfil do paciente M.C.B. ao início do tratamento. Figura 21: Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) da paciente M.C.B. ao início do tratamento. Figura 22: Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) da paciente M.C.B. durante o tratamento. 47 Figura 23: Fotografia oclusal superior da paciente M.C.B. durante o tratamento Figura 24: Fotografias intrabucais laterais (direita e esquerda) da paciente M.C.B. após a retração de caninos. Figura 24: Telerradiografia de perfil da paciente M.C.B. após a retração de caninos. 48 Tabela 1: Medidas realizadas na análise cefalométrica das distâncias, em milímetros, do ponto P ao ponto I, antes do início do processo da retração e após finalizada a retração de caninos. Paciente Inicial (X) Final (X‟) V. H. S. 43 44 L. M. M. 34 35,5 M. C. B. 38,5 41 Tabela 2: Medidas realizadas na análise clínica (modelos) das distâncias, em milímetros, do ponto mais mesial dos primeiros molares superiores até a extremidade lateral da terceira ruga palatina, antes do início do processo da retração e após finalizada a retração de caninos. Lados direito (D) e esquerdo (E). Paciente Inicial Final D/E D/E V. H. S. 14,3/14,04 12,68/12,88 L. M. M. 11,77/11,01 11,1/10,26 M. C. B. 14,33/16,3 12,53/13,5 Tabela 3: Diferenças entre os valores medidos no método cefalométrico, determinando a perda de ancoragem, em milímetros. Paciente Diferença V. H. S. 1,0 L. M. M. 1,5 M. C. B. 2,5 Tabela 4: Diferenças entre os valores medidos no método clínico (modelos), determinando a perda de ancoragem, em milímetros. Lados direito (D) e esquerdo (E). Paciente Inicial D/E V. H. S. 1,62/1,16 L. M. M. 0,67/0,75 M. C. B. 1,8/2,27 49 6 DISCUSSÃO Diante do exposto o presente trabalho propôs–se a levantar os dados mais atuais e relevantes desses recursos de ancoragem utilizados rotineiramente na Ortodontia, bem como apresentar casos clínicos de forma a demonstrar sua eficiência e eficácia frente aos objetivos de ancoragem. Com este propósito, além de medidas cefalométricas, optou-se pela utilização da extremidade lateral da terceira ruga palatina para avaliar a diferença na quantidade de perda de ancoragem (GIOLLO, 2007). Almeida e colaboradores (1995) realizaram estudo para verificar a estabilidade das rugas palatinas durante o crescimento normal e, também, as possíveis alterações de posição nessa região, causadas pelos uso do aparelho Extrabucal e de aparelhos funcionais. Os modelos de gesso do pré e pós-tratamento foram examinados e comparados, avaliando-se as extremidades mediais e laterais da primeira, segunda e terceira ruga, tanto do lado direito quanto no esquerdo. Os resultados dos autores sugerem que os pontos de referência mediais das rugas palatinas parecem ser pontos confiáveis e estáveis para a análise do movimento dentário, tanto no plano transversal quanto no ântero-posterior. Bailey, Esmailnejad e Almeida (1996) buscaram determinar se as rugosidades palatinas eram afetadas pela terapia ortodôntica. Para tal avaliação, os autores marcaram os pontos mediais e laterais das três rugas palatinas nos modelos de gesso iniciais e finais simultaneamente. Como conclusão do estudo, os autores afirmam que o ponto lateral e medial da terceira ruga palatina parece ser um local estável para a construção de pontos anatômicos de referência para a análise longitudinal de modelos. Tecnicamente, o pesquisador que se propuser a realizar um estudo semelhante, poderá enfrentar certas dificuldades relativas à localização de pontos de referência na região das rugas palatinas. A padronização das moldagens, a qualidade do material e o extremo cuidado técnico no momento da tomada do registro, podem facilitar o momento de localização e mensuração dos pontos de referência nos modelos de gesso. Por fim, o estudo acurado da anatomia da região palatina em modelos de gesso, previamente ao momento das medições, também pode ajudar o pesquisador nesta etapa sensível do estudo (GIOLLO, 2007). No presente estudo, foi empregada 150g de força de cada lado para a retração dos caninos. De acordo com Giollo (2007), a quantidade de força apropriada para uma movimentação dentária de corpo, de um único dente, pode variar de acordo com a área 50 radicular. Para os caninos superiores, as forças podem variar entre 150 e 200 gramas e, ocasionalmente, pode aumentar na fase final do fechamento dos espaços residuais. Também se lançou mão da conjugação de primeiros e segundos molares e segundos pré-molares superiores com amarrilho metálico como forma de aumentar o controle da perda de ancoragem posterior. O amarrilho metálico utilizado era de calibre 0,25mm, trocado a cada nova ativação, assim como, também, os elásticos em cadeia. Segundo Proffit e Fields Jr. (2002), as técnicas para produzir a máxima retração combinam duas abordagens possíveis. A primeira é o reforço da ancoragem posterior por meios apropriados, como arcos de estabilização. A segunda abordagem envolve a diminuição da tensão na ancoragem posterior, que inclui qualquer procedimento para eliminar o atrito do sistema de retração como retrair os caninos separadamente. O fechamento de espaço que requer preciso controle de ancoragem é mais difícil. Para a ancoragem do Grupo A, ou ancoragem crítica posterior, as forças mesiais atuando nos dentes posteriores podem ser minimizadas ou neutralizadas. Para uma perfeita manutenção da ancoragem posterior, nenhuma força deve atuar nos dentes posteriores, apenas um sistema de força resultando em uma translação anterior é desejado. Infelizmente, esse sistema de força não pode ser alcançado com uma ancoragem dentária. De acordo com a terceira lei de Newton, qualquer força atuando nos dentes anteriores deve ser contrária e igual às forças opostas que atuam em algum lugar diferente, tipicamente nos dentes posteriores, cabeça ou nuca (devido ao uso do aparelho extrabucal). Se a ancoragem intrabucal é usada, as forças e os momentos devem estar presentes nos dentes posteriores (NANDA, KUHLBERG e URIBE, 2007). Entretanto, o aparelho de ancoragem extrabucal não é, usualmente, uma alternativa possível para alguns indivíduos. A utilização de meios que dependam dos cuidados e cooperação dos pacientes pode constituir um problema latente para o tratamento ortodôntico propriamente dito, tendo em vista a importância da ancoragem no contexto terapêutico (MOSCARDINI, 2007). Assim, embora ele seja considerado efetivo, a ausência de estética e a necessidade de colaboração do paciente estimulam a pesquisa por métodos de ancoragem intrabucais (ARANTES, 2009). Desse modo, o ortodontista deve maximizar todos os recursos disponíveis tais como a inclusão e conjugação de segundos molares na unidade de ancoragem dental, bem como o uso de dispositivos de ancoragem palatinos, como o aparelho de botão acrílico de Nance (HUANG, KING e KAPILA, 2007). 51 No entanto, Moresca (2001) esclarece que ainda não se sabe, pela inexistência de estudos clínicos, a quantidade de força mesial que o botão de Nance suporta nem o quanto de ancoragem este dispositivo proporciona. Por essas razões e pela utilização clínica da barra transpalatina e do botão de Nance de forma indiscriminada, surgiu o interesse em relatar a perda de ancoragem relacionada a eles. Neste trabalho, objetivando-se avaliar a perda de ancoragem dos primeiros molares superiores permanentes após a retração de caninos, foram relatados três casos clínicos. O paciente V. H. S fez uso da barra transpalatina e as pacientes L.M.M. e M.C.B. fizeram uso do botão de Nance. A Tabela 1 mostra as medidas realizadas na análise cefalométrica das distâncias, em milímetros, do ponto P ao ponto I (Figura 5), antes do início do processo da retração e após finalizada a retração de caninos. Pode-se observar que houve perda de ancoragem. Nas telerradiografias, foi verificada uma mesialização do molar de 1,0 mm no paciente que fez uso da barra transpalatina e de 1,5mm e 2,5 mm nos pacientes que fizeram uso do botão de Nance (Tabela 3). A Tabela 2 mostra as medidas realizadas na análise clínica (modelos) das distâncias, em milímetros, do ponto mais mesial dos primeiros molares superiores até a extremidade lateral da terceira ruga palatina antes do início do processo da retração e após finalizada a retração de caninos. Houve mesialização do molar de 1,62mm no lado direito e de 1,16mm do lado esquerdo no paciente V.H.S. que fez uso da Barra Transpalatina, de 0,67mm lado direito e de 0,75mm do lado esquerdo na paciente L.M.M. que fez uso do botão de Nance e de 1,8mm do lado direito e de 2,27mm do lado esquerdo na paciente M.C.B. que fez uso do botão de Nance, caracterizando, assim, a perda de ancoragem (Tabela 4). Assim, de acordo com o método cefalométrico, pudemos perceber que tanto o botão de Nance quanto a barra transpalatina não foram capazes de manter a posição inicial dos primeiros molares superiores, permitindo perda de ancoragem na primeira etapa do tratamento ortodôntico. Porém, a barra transpalatina demonstrou um melhor desempenho, proporcionando uma menor mesializaçào dos molares. Ong e Woods (2001) Apud Werneck (2004), avaliando as alterações dimensionais ocorridas nos arcos superiores seguinte às exodontias de primeiros ou segundos pré-molares a partir de 71 casos (sem uso de dispositivos de ancoragem), observaram médias de movimento dos primeiros molares para mesial, respectivamente, de 3,7 mm e 4,7 mm. Estes valores demonstram que existe uma diferença significativa clinicamente, quando comparados com a quantidade de mesialização dos molares superiores dos casos clínicos 52 apresentados, onde foram utilizados a barra transpalatina ou o botão de Nance, os quais demonstraram movimentos menores que 2,5mm. No presente trabalho, o paciente que utilizou a barra transpalatina perdeu menos ancoragem quando comparado , através do método cefalométrico, com os pacientes que utilizaram o botão de Nance. Talvez, essas diferenças possam ser estatisticamente significantes quando houver um grupo maior de pacientes. Já a paciente M.C.B., que não finalizou a retração de caninos por motivos citados anteriormente e fez uso do botão de Nance, apresentou maior perda de ancoragem do que os outros dois pacientes Ainda descrevendo o movimento mésio-distal dos primeiros molares superiores pela análise clínica dos modelos, as medidas também indicaram a mesialização destes dentes. Demonstrando uma maior e uma menor perda de ancoragem com o uso do botão de Nance nas pacientes M.C.B. e L.M.M., respectivamente. Os resultados apresentados demonstram que a mecânica, a intensidade e o controle das forças constituem condições de suma importância. Barros (2004) cita cinco fatores responsáveis por uma maior ou menor ancoragem requerida num tratamento ortodôntico: relação molar, idade do paciente, intensidade da protrusão maxilar, ângulo de abertura mandibular, discrepância dental (cefalométrica e de modelos) e curva de Spee. Já alguns estudos citam outros fatores com capacidade de interagir na ancoragem, divididos em primários (grau de apinhamento e mecânica utilizada) e fatores secundários (idade, local da exodontia e sobressaliência). Ainda sugeriram que a incorporação dos segundos molares na estratégia de ancoragem, retração com forças leves e uma mecânica com menor atrito seriam mais efetivos do que a ancoragem convencional com aparelhos extrabucais ou retração em massa dental (WERNECK, 2004). Nota-se uma subjetividade na análise dos resultados, fazendo necessária uma padronização da amostra com intuito de oferecer alicerces científicos para a utilização desses recursos de ancoragem. Segundo Moscardini (2007), a barra transpalatina, patenteada por Goshgariam, tem a vantagem de ser um dispositivo que além de proporcionar o aumento de ancoragem, não pode ser removido pelo próprio paciente. Para Proffit e Fields Jr. (2002), um arco lingual com um botão de acrílico contra o tecido palatal é mais eficaz do que uma Barra Transpalatina, mas, quando os primeiros molares estão sendo estabilizados em um caso de extrações de pré-molares, isto não é, 53 necessariamente, verdadeiro. O efeito da barra transpalatina é, primeiramente, o de impedir os molares de girarem mesialmente em torno de suas raízes palatinas e, secundariamente, impedir a sua inclinação mesial. Para os autores, sendo uma barra transpalatina tão eficaz quanto um botão de Nance para prevenir a rotação, uma estabilização aparentemente melhor com o botão de Nance não vale o custo de uma irritação tecidual. O botão de Nance e a barra transpalatina têm ancoragem satisfatória, mas nenhum estabelece uma ancoragem completamente segura nas três dimensões (FELDMANN e BONDEMARK, 2008). A literatura é escassa no que tange a trabalhos comparativos entre os meios de ancoragem como a barra transpalatina. Porém, muitos autores concordam que esse eficiente recurso terapêutico seja usado isoladamente ou concomitantemente a outros dispositivos ortodônticos, em casos onde existe necessidade de incremento de ancoragem para correta finalização (MOSCARDINI, 2007). Tais razões estimulam o desenvolvimento de pesquisas com metodologia padronizada, saindo da fase do empirismo clínico. Desse modo, são necessários estudos que verifiquem a efetividade da ancoragem da barra transpalatina e do botão de Nance. 54 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da perda de ancoragem (do movimento mesial dos molares), variando de 0,67mm a 2,27mm no método clínico, e variando de 1,0mm a 2,5mm no método cefalométrico, com o uso da barra transpalatina e do botão de Nance, estes dispositivos são de suma importância no tratamento ortodôntico. Acredita-se que a eficiência de qualquer recurso de ancoragem reside em sua correta indicação, a qual deve ser baseada no diagnóstico, nos objetivos de tratamento, na necessidade de ancoragem, na experiência do profissional e nas características psicológicas do paciente. Em face à escassez de pesquisas nesta área, sugere-se a continuação deste trabalho para se conhecer os efeitos dos recursos de ancoragem nas demais fases do tratamento ortodôntico. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M.A.; PHILLIPS, C.; KULA, K.; TULLOCH, C. 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Salvador, Novembro 2009. _______________________________________________ DANIELLE SANTOS SILVA 61 ANEXO 2 TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO Este trabalho tem o objetivo de avaliar a eficiência de dois métodos de ancoragem durante a fase de retração de caninos superiores. Os pacientes utilizados neste estudo serão informados dos benefícios advindos deste trabalho. Além disso, qualquer paciente, a qualquer momento, pode retirar seu consentimento, sem ônus para si ou seu tratamento ortodôntico, se for o caso. Eu, ___________________portador do documento de identidade R.G. no _________, (nome do paciente), emitido pela ______________aceito participar do trabalho acima descrito. (órgão expedidor) Salvador, _______,______ mês e ano. _____________________________________________ (nome do paciente) _____________________________________________ (nome do responsável – caso o paciente seja menor) Responsável pelo trabalho: (Danielle Santos Silva) – Tel: (9932-1066)