Homeopatia versus Sertralina no tratamento agudo e de continuação da depressão: estudo clínico de não-inferioridade, randomizado, com grupos paralelos, placebo controlado e duplo-cego (estudo HOMEO-CON) Homeopathy versus Sertraline in the acute and continuation treatment of depression: double blind, randomized, parallel group, placebo controlled, noninferiority trial (HOMEO-CON study) 1 HOMEO-CON protocolo Pesquisadores associados Instituições Profa. Maristela Schiabel Adler Médica homeopata Universidade Federal de São Carlos Departamento de Medicina Rodovia Washington Luiz, Km 235 CEP 13565-90 - São Carlos - SP Tel.:(16) 3351-8340 Dr. Ubiratan Cardinalli Adler Médico homeopata Claudemir Newton Salvador Psicólogo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS-II) de São Carlos Rua Floriano Peixoto, 216 CEP: 13574-420 - São Carlos – SP Tel:(16) 3372-3111 Cláudia Maria Moura Resende Psicóloga Alessandra Araujo Psicóloga José Nelson Martins Diniz Farmacêutico Universidade Federal de São Carlos Unidade de Saúde Escola Rodovia Washington Luiz, Km 235 CEP 13565-90 - São Carlos - SP Tel: (16) 3351-8411 Dra. Amarilys de Toledo Cesar Farmacêutica homeopata Farmácia homeopática HN-Cristiano Rua Dr. Cesar 212, São Paulo - SP Tel.: (11) 2979-9868 Prof. Dr. Edson Zangiacomi Martinez Universidade de São Paulo Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Departamento de Medicina Social Avenida Bandeirantes, 3900 CEP 14049-900 - Ribeirão Preto - SP Tel.: (16) 3602-2569 Profa. Dra. Helena Maria Calil Médica psiquiatra Universidade Federal de São Paulo Departamento de Psicobiologia Rua Napoleão de Barros, 925 04024-002 - São Paulo - SP 2 HOMEO-CON protocolo Resumo Introdução: A Homeopatia é frequentemente usada por pacientes com depressão. Resultados anteriores indicaram que medicamentos homeopáticos em potências cinquenta-milesimais, individualizados e administrados de acordo com um protocolo específico de Homeopatia (Organon.modus) não foram inferiores ao antidepressivo Fluoxetina no tratamento da fase aguda do episódio depressivo, com uma tendência a maior interrupção do tratamento por efeitos adversos no grupo Fluoxetina. Entretanto, não existem estudos sobre o uso da Homeopatia na fase de continuação do tratamento da depressão. Objetivo: avaliação da eficácia e da tolerabilidade do protocolo homeopático Organon.modus nas fases aguda e de continuação do tratamento da depressão, usando Sertralina como controle ativo. Métodos: estudo clínico de não inferioridade, prospectivo, de grupos paralelos, randomizado, “doubledummy” e duplo-cego. Serão incluídos 220 adultos que satisfizerem os critérios diagnósticos para um episódio depressivo, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), após uma entrevista clínica estruturada. A medida primária de eficácia será a média do escore da escala de Montgomery & Åsberg (MADRS) após 12 e 24 semanas. As medidas secundárias, avaliadas a cada quatro semanas serão: a média do escore MADRS (com exceção da medida primária), a média do escore de qualidade de vida (SF-12), índices de resposta e remissão, média de eventos adversos observados e de abandonos. Palavras-chave: depressão, tratamento, Homeopatia, medicina integrativa, boas praticas clinicas, psiquiatria, sertralina. Registros e aprovações Comissão Institucional de Revisão: aprovado pela Comissão de Extensão e Pesquisa da Unidade Saúde Escola da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) - Parecer 05/12/2013. Comitê de Ética em Pesquisa: aprovado pelo Comitê de Ética da UFSCar em 28/05/2013: Número CAAE: 27835714.6.0000.5504 Universal Trial Number (UTN): U1111-1158-7386 3 HOMEO-CON protocolo Abstract Background: Homeopathy is often sought by patients with depression. Previous data suggest that homeopathic Q-potencies, individualized and used in accordance with a homeopathic protocol (Organon.modus) were not inferior to the antidepressant Fluoxetine in a sample of patients with moderate to severe depression, with a trend toward greater treatment interruption for adverse effects in the Fluoxetine group. However, there are no studies on the efficacy and safety of homeopathy in the continuation treatment of major depression. Objectives: to investigate the efficacy and tolerability of the homeopathic protocol (Organon.modus) in the acute and continuation treatment of major depression using Sertraline as active control. Methods: A randomized, controlled, parallel-group, double-blind, double-dummy, non-inferiority trial will be performed. 220 adults meeting the International Classification of Diseases (ICD-10) criteria for depression, following a structured clinical interview, will be included. The primary endpoint is the total score on the Montgomery & Åsberg – (MADRS) after twelve and twenty four weeks. Secondary end points, assessed every four weeks are: MADRS total score (with the exception of the primary endpoint); response and remission rates, quality of life (SF-12), adverse events and dropouts. 4 HOMEO-CON protocolo 1. HISTÓRICO Rebaixamento do humor, perda do interesse e prazer, redução de energia, diminuição na concentração e atenção, baixa auto-estima e autoconfiança, idéias de culpa, pessimismo, ideação ou ação auto-agressiva ou suicida, sono perturbado, diminuição do apetite são sintomas que em número e gravidade variáveis estão presentes nos episódios depressivos, ou seja, na fase em que a doença se manifesta com sintomas suficientes para permitir o diagnóstico de depressão maior 1. Até o final da década de 70 predominava a tese de Kraepelin, segundo a qual após um episódio depressivo o paciente retornaria ao seu nível basal de “bem-estar” e, mesmo nos casos recorrentes, no período intercrítico os indivíduos acometidos apresentariam uma sintomatologia mínima e recuperariam sua capacidade funcional2. A compreensão sobre o curso da depressão começou a mudar a partir do resultado de ensaios clínicos mais duradouros e do advento de estudos naturalísticos que mostraram que, no decorrer dos anos, os pacientes tendem a passar cerca de 20% do tempo doentes3 4. A depressão passou então a ser entendida com uma doença crônica, cujo tratamento deveria ir além da fase aguda e incluir as fases de continuação e manutenção, visando a prevenção da recaída e da recorrência do episódio depressivo, respectivamente5 6. Para a prevenção da recaída ou da recorrência, o tratamento com antidepressivos tem mostrado resultados superiores aos do placebo em estudos randomizados e controlados (RCTs)7. Por exemplo, 20 mg de fluoxetina por dia foi associada a uma taxa significativamente menor de recorrência comparada ao placebo (20% versus 40%; p = 0,010) em 48 semanas de tratamento randomizado e duplo-cego8. Entretanto, estudos naturalísticos de longa duração mostram que apenas 20 a 30% dos indivíduos completaram o acompanhamento “bem ou melhorados” e que outros 20 a 30% apresentaram uma evolução ruim, com múltiplas recorrências ou incapacidade permanente9. Existem ainda estudos indicando que o uso crônico de antidepressivos poderia ocasionar um agravamento paradoxal dos sintomas e do curso da depressão, por um mecanismo de tolerância e oposição à ação dessas drogas10. 5 HOMEO-CON protocolo Efeitos adversos experimentados durante o uso de antidepressivos, ou experiências nas quais o tratamento com esses medicamentos pareceu ineficaz, bem como a busca por tratamentos “naturais” ou em conformidade com crenças e valores próprios, são razões apontadas por pacientes com depressão para a busca de alternativas na medicina integrativa11. A medicina integrativa é a "prática médica que reafirma a importância do relação médico-paciente, enfoca o ser humano como um todo, é instruída por evidências e usa todas as abordagens terapêuticas, profissionais de saúde e disciplinas que sejam adequados para atingir uma ótima saúde e a excelência na recuperação da saúde". Seu desenvolvimento nos últimos dez anos foi impulsionado pela assistência, pesquisa e ensino realizados em centros universitários da América do Norte e da Europa que, apoiados por investimentos públicos e privados, têm gerado e divulgado evidências sobre efetividade, segurança e custo/benefício das assim chamadas terapias ou práticas alternativas e complementares. 12. No Brasil, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), estabelece como uma de suas diretrizes a “Promoção de cooperação nacional e internacional das experiências em Práticas Integrativas e Complementares nos campos da atenção, da educação permanente e da pesquisa em saúde”13. Apesar da política ter sido publicada em 2006, ainda inexistem centros universitários brasileiros que atuem em pesquisa clínica em Homeopatia, como prevê a diretriz H7 da PNPIC. A Homeopatia é um sistema terapêutico desenvolvido pelo médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755-1843). No Brasil foi reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina em 1980 (Resolução CFM Nº 1000/1980), reconhecimento ratificado em 2002 (Resolução CFM No 1634/2002). Resultados de um estudo observacional multicêntrico com 3981 pacientes tratados com Homeopatia clássica (ou seja, que utiliza um medicamento individualizado para cada caso de doença) indicam uma melhora clínica significativa nos aspectos mentais de qualidade de vida, após dois e oito anos de tratamento 14. Estudando especificamente o tratamento de pacientes com depressão moderada a grave, um estudo clínico randomizado e controlado mostrou que o protocolo de Homeopatia clássica denominado Organon.modus15 não foi inferior ao uso do antidepressivo 6 HOMEO-CON protocolo fluoxetina no tratamento do episódio depressivo, com uma tendência a menores efeitos adversos no grupo tratado com Homeopatia16. Na fase de continuação do tratamento antidepressivo, entretanto, nem a eficácia, nem a tolerabilidade do tratamento homeopático foram estudados. Revisões sistemáticas comparando os diversos antidepressivos comumente prescritos apontam a Sertralina como um dos medicamentos mais eficazes no tratamento da depressão moderada e grave, colocando-a, também, entre os antidepressivos mais bem aceitos pelos pacientes17 18. Por estes resultados e, pelo fato da Sertralina também fazer parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) do Ministério da Saúde19, este antidepressivo foi escolhido no lugar da fluoxetina como controle ativo no presente estudo. 2. OBJETIVO Avaliar a eficácia e a tolerabilidade do protocolo de Homeopatia Organon.modus nas fases aguda e de continuação do tratamento da depressão, usando-se Sertralina como controle ativo. 3. MÉTODOS 3.1 Desenho e hipótese O estudo será executado segundo as diretrizes para Boas Práticas Clínicas – Documento das Américas20 (versão em Português do ICH-GCP) e as diretrizes CONSORT para a realização de estudos clínicos em Homeopatia 21. Um ensaio clínico unicêntrico, prospectivo, com grupos paralelos, randomizado, duplo cego, “doubly dummy”, controlado com Sertralina e com desenho de extensão22 será realizado para testar as seguintes hipóteses: H0: µsertralina - µhomeopatia ≤ 2,5 (null hypothesis), vs. H1: µsertralina - µhomeopatia > 2,5 no tratamento agudo e de continuação do episódio depressivo, sendo 2,5 a margem de não-inferioridade do escore médio de depressão entre os dois grupos. O estudo será realizado na Unidade de Saúde Escola da UFSCar (USE). 7 HOMEO-CON protocolo 3.2 Pacientes Pacientes recrutados nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de São Carlos, mulheres e homens entre 21 e 70 anos, com diagnóstico de episódio depressivo realizado pelo médico assistente da respectiva UBS, de acordo com os critérios da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), serão convidados a realizar uma entrevista para esclarecimentos sobre o estudo na USE. Na USE, após as informações gerais sobre o estudo HOMEO-CON, o interessado passará por uma entrevista clínica estruturada para o diagnóstico da depressão (SCID)23. Serão incluídos aqueles que satisfizerem os critérios para um episódio depressivo e não estiverem usando medicamentos antidepressivos ou psicotrópicos (com exceção de benzodiazepínicos). Capacidade de compreensão e concordância escrita com o termo de consentimento livre e informado e com os procedimentos do estudo também serão necessários à inclusão no estudo. Os interessados não incluídos serão esclarecidos em relação ao(s) motivos(s) da não inclusão e reencaminhados às UBS de origem. Critérios de exclusão: depressão psicótica, crônica, dupla ou distimia; intolerância conhecida à Sertralina ou experiência anterior negativa com o antidepressivo; distúrbio bipolar; esquizofrenia ou outros transtornos psicóticos; dependência química (exceto tabaco); bulimia ou anorexia nervosa; doença crônica clinicamente relevante, que dificulte o comparecimento às consultas ou a avaliação da depressão; tentativa de suicídio nos 12 meses anteriores à avaliação; uso de antidepressivos ou estabilizadores de humor nas 4 semanas anteriores à avaliação; tratamento homeopático nas 8 semanas anteriores à avaliação; psicoterapia, meditação ou acupuntura durante o estudo; participação em outro estudo clínico nos 3 meses anteriores à avaliação; gestação ou amamentação; epilepsia; uso concomitante de anticoagulantes orais; incapacidade intelectual ou de entendimento do idioma para compreender o significado do estudo ou colaborar com seus procedimentos. 8 HOMEO-CON protocolo 3.3 Intervenções Após inclusão os pacientes serão randomizados e receberão aleatoriamente Homeopatia ou Sertralina e seus respectivos placebos, de modo duplo-cego e “double-dummy”, já que não é possível o preparo das duas medicações com um mesmo veículo. No grupo Homeopatia os pacientes receberão um medicamento homeopático individualizado, preparado na dinamização cinquenta-milesimal (LM) e aviado em solução (1 glóbulo da respectiva potência LM, diluído em 20 ml de álcool a 30%). A posologia inicial será 1 gota pingada sobre a língua, três vezes por semana, de acordo com o protocolo Organon.modus. Segundo este protocolo, os medicamentos homeopáticos serão usados na escala cinquenta-milesimal. Na farmacoténica da escala cinquenta-milesimal os medicamentos são preparados pela trituração da matéria prima (até a milionésima parte, chegando à concentração 10-6), seguida de diluições/agitações sequenciais, na proporção de 1:50.000 a cada passo ou potência. Desta forma, o primeiro grau de potência ou LM1 corresponde a uma fração de 5x1010 da substância que foi inicialmente triturada (LM2=2.5x10-15, LM3=1,25x10-20, LM4 =6,25x10-24, etc.) 24 25. Os medicamentos homeopáticos são padronizados e fazem parte do estoque fornecido pela Farmácia de Manipulação e Laboratório HN-Cristiano de São Paulo (R. Dr. César 212, Santana, São Paulo – Telefone 011 2950-9034), para o estudo de não inferioridade já mencionado16. O placebo será uma cápsula branca contendo apenas o diluente inerte, administrada uma vez ao dia, inicialmente. No grupo Sertralina, os pacientes receberão inicialmente uma cápsula branca contendo 50 mg de Sertralina (indistinguível da cápsula do placebo). Os comprimidos de Sertralina disponíveis na rede de saúde pública de São Carlos serão encapsulados em cápsulas brancas, indistinguíveis do placebo, pela Farmacêutica Ivane de Carvalho, responsável pela Farmácia de Manipulação - Kalmia, de São Carlos (Av. Dr. Carlos Botelho, 2471 Centro - Telefone: 16 3372-8889). O placebo do medicamento homeopático será uma gota (via oral, sobre a língua) de álcool a 30%. O pesquisador responsável poderá alterar a prescrição do medicamento homeopático e sua posologia, em qualquer retorno do paciente, sempre de modo duplo-cego e de 9 HOMEO-CON protocolo acordo com o protocolo Organon.modus. Os pacientes que não apresentarem uma resposta terapêutica (ao menos 50% de redução do escore basal) ao final da 4a ou 8a semana, passarão a receber respectivamente duas, ou três cápsulas de Sertralina (100 ou 150 mg) ou placebo, sempre de modo duplo-cego. Os pacientes que apresentarem uma resposta terapêutica (redução ≥ 50% do escore MADRS basal) serão mantidos no seu respectivo grupo de tratamento durante a fase de continuação, sem quebra do mascaramento. Aqueles que não responderem até o final da 12a semana terão sua participação individual encerrada e serão encaminhados para acompanhamento psiquiátrico convencional no CAPS-II de São Carlos. 3.4 Medidas de efetividade e tolerabilidade As medidas primárias de eficácia serão a média do escore Montgomery & Åsberg (MADRS) na 12ª e na 24a semanas. As medidas secundárias, avaliadas a cada quatro semanas serão: a média do escore MADRS (com exceção das medidas primárias), a média do escore de qualidade de vida (SF-12), índices de resposta (redução ≥ 50% do escore MADRS basal) e remissão (escore MADRS ≤ 10), média de eventos adversos e de abandonos nos dois grupos. 3.5 Cálculo do tamanho da amostra e fluxograma do estudo No estudo que comparou o uso de potências homeopáticas cinquenta-milesimais com fluoxetina (20 ou 40 mg/dia) no tratamento da fase aguda (8 semanas) do episódio depressivo, o resultados indicaram 2,7 pontos de diferença entre as médias do escore de depressão nos dois grupos, com desvio-padrão de 9,0 pontos18. Considerando-se esses valores, um tamanho de efeito entre pequeno e médio foi estimado (0,35). Usando-se o programa GPower 3.1.0 para testar a diferença entre duas médias independentes, com um teste unicaudal (α = 0.05 e β = 0.8), o tamanho da amostra calculado foi 202 pacientes. Considerando-se aproximadamente 10% de perdas durante o seguimento, 220 pacientes deverão ser incluídos, 110 em cada grupo de tratamento26. O fluxograma do estudo está esquematizado na Figura 1. Figura 1: HOMEO-CON – fluxograma dos pacientes 10 HOMEO-CON protocolo RECRUTAMENTO Unidades Básicas de Saúde (UBS) ENTREVISTA DE INCLUSÃO Unidade de Saúde Escola (USE) INCLUSÃO 220 pacientes (USE) RANDOMIZAÇÃO (USE) HOMEOPATIA SERTRALINA 110 pacientes 110 pacientes tratamento agudo tratamento agudo (USE) (USE) HOMEOPATIA HOMEOPATIA SERTRALINA SERTRALINA não respondedores tratamento de continuação não respondedores tratamento de continuação (encaminhados ao CAPS II) (USE) (enaminhados ao CAPS II) (USE) TÉRMINO DA PARTICIPAÇÃO TÉRMINO DA PARTICIPAÇÃO TRATAMENTO INTEGRATIVO TRTAMENTO INTEGRATIVO (USE) (USE) CONTRA-REFERÊNCIA CONTRA-REFERÊNCIA PARA UBS DE ORIGEM PARA UBS DE ORIGEM 11 HOMEO-CON protocolo 3.6 Inclusão, consultas e avaliações 3.6.1 Entrevista para inclusão Interessados no estudo serão entrevistados pelo pesquisador responsável na USE. Após a leitura das informações ao paciente e a assinatura do termo de consentimento livre e informado (TCLE), serão avaliados os critérios de inclusão e exclusão e realizado um exame físico básico. Os pacientes que satisfizerem os critérios de inclusão e que não apresentarem fatores de exclusão serão incluídos. O pesquisador responsável entregará ao paciente um calendário de consultas e uma via do TCLE. Outra via ficará no prontuário do paciente na USE. O registro de cada entrevista será feito no SUBJECT SCREENING LOG. A primeira consulta ocorrerá no mesmo dia e imediatamente após a inclusão. Duração aproximada: 30 minutos. 3.6.2 Consultas Na primeira consulta homeopática o paciente passará por uma anamnese homeopática semi-estruturada e exame físico padrão (duração aproximada: 60 minutos). Os demais retornos terão duração aproximada de 30 minutos. Ao final de cada consulta, o paciente recebe o diário do paciente, para registro de Eventos Adversos e da medicação usada até o próximo retorno. 3.6.3 Avaliações Em seguida à consulta homeopática, o paciente será avaliado por uma Psicóloga da USE, que aplicará os questionários MADRS e SF-12. Duração aproximada, 30 minutos. 3.6.4 Medicação do estudo Enquanto transcorre a avaliação, o pesquisador responsável fará a análise do caso, prescrevendo o medicamento homeopático individualizado em receita que levará ao Farmacêutico da Pesquisa. Ao sair da avaliação, o paciente receberá a medicação prescrita, aviada pelo Farmacêutico da Pesquisa após a devida randomização. A Figura 2 indica as semanas (destacadas em vermelho) em que o paciente deverá comparecer a USE para consultas e avaliações. No total serão 10 visitas à USE, nos seis meses de duração do estudo. Figura 2: HOMEO-CON – semanas de consultas/avaliações (em vermelho) durante as fases do estudo 12 HOMEO-CON protocolo 0 1 2 3 4 FASE AGUDA 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 SEMANAS 15 FASE DE CONTINUAÇÃO 16 17 18 19 20 21 22 23 24 3.6.5 Término da participação no estudo (semana 24) Ao término do estudo, os pacientes receberão uma carta de agradecimento pela participação e um convite para seis meses de tratamento integrativo – homeopatia e/ou convencional) na USE. Após este período de tratamento aberto, será feita a contra-referência do paciente ao médico assistente da UBS, com uma carta constando os escores MADRS inicial e final e a medicação usada pelo paciente. 3.6.6 Capacitação em Homeopatia e Boas Práticas Clínicas Os médicos da atenção básica serão convidados a uma capacitação gratuita sobre o protocolo homeopático Organon.modus na USE/UFSCar, de modo que possam orientar seus pacientes após a contra-referência. 3.7 Randomização e mascaramento (blinding) Os pacientes, o investigador clínico e o investigador responsável pelas avaliações permanecerão cegos em relação à identidade dos grupos de tratamento até o término da fase de avaliação estatística. O mascaramento será realizado por meio de envelopes opacos, sequencialmente numerados, contendo o resultado da randomização para o grupo 1 ou grupo 2, gerada pelo programa Research Randomizer, de forma que os dois grupos resultantes sejam compostos pelo mesmo número de indivíduos (aleatorização restrita)27. O código que estabelecerá se grupo 1 ou 2 corresponde a Homeopatia ou Sertralina será determinado pelo Coordenador da USE, permanecendo, até o final da avaliação dos resultados, apenas do seu conhecimento e do conhecimento da Farmácia de Pesquisa da USE, que aviará a medicação do estudo. 3.8 Análise estatística Tomando por base um estudo que comparou hypericum e paroxetina no tratamento do episódio depressivo em uma amostra de tamanho semelhante, foi estabelecida uma margem de não-inferioridade () de 2,5 pontos28. Como medidas de tamanho de efeito de tratamento, serão estimadas as médias da redução do escore MADRS entre os valores basais e os observados na 20a semana, 13 HOMEO-CON protocolo em cada grupo, sendo posteriormente conduzidas comparações entre os grupos, por meio de modelos lineares generalizados de regressão de efeitos aleatórios 29 que são capazes de gerar testes de hipóteses controlados pelo possível efeito de variáveis de confundimento (como idade, gênero e tempo de doença). Estes modelos serão também utilizados nas comparações entre grupos considerando as medidas secundárias como variáveis dependentes mensuradas em escalas quantitativas (SF12, média de eventos adversos e de abandonos nos dois grupos), sendo, em um contexto de modelos generalizados, a distribuição probabilística da variável resposta escolhida de acordo com cada desfecho (por exemplo, a distribuição de Poisson poderia adequar-se aos dados de contagem de eventos adversos). Quando considerados desfechos secundários binários (como uma redução ≥ 50% do escore HAM-D basal e remissão considerando o escore HAM-D ≤ 7), o risco relativo e o número necessário para tratar (NNT) serão considerados como medidas de tamanho de efeito de tratamento, com seus respectivos intervalos de confiança 95%. Modelos de regressão para desfechos binários30 serão utilizados para comparações entre grupos, também prevendo ajustamentos por covariáveis. A análise estatística será conduzida com o programa SAS versão 9.2. 3.9 Eventos adversos e eventos adversos graves Eventos adversos (EA) e eventos adversos graves (EAG) serão pesquisados e registrados a cada consulta. EAG, tentativa de suicídio, sintomas psicóticos, piora da intensidade da depressão (aumento de 10 pontos em relação ao escore MADRS basal, persistente por pelo menos duas semanas consecutivas) ou gravidez, levarão à retirada do paciente do estudo, quebra do cegamento, encaminhamento e acompanhamento do paciente ao tratamento médico adequado (CAPS-II, Unidade de Pronto Atendimento, etc.) e devidos relatórios, de acordo com as diretrizes ICH-GCP. 14 HOMEO-CON protocolo O pesquisador responsável será o responsável por todas as decisões médicas relativas ao ensaio, contando com a colaboração das Psicólogas da USE, para as informações colhidas nas avaliações, inclusive para EA que não tenham sido relatados pelo paciente ao médico. Assim, as Psicólogas terão um registro de EA paralelo, que se somará ao registro do pesquisador responsável. 3.10 Registro, armazenamento e manuseio das informações Os sujeitos da pesquisa terão, em paralelo ao prontuário regular da USE, um prontuário específico para o Estudo HOME-CON, no qual serão registradas as informações relativas ao ensaio clínico (Evolução Clínica, Conduta mascarada, resultados MADRS, SF12, Eventos Adversos, Exclusão), sem qualquer informação que permita a identificação do paciente, apenas seu respectivo número de participação na pesquisa. Assim, o manuseio e o armazenamento dessas informações para fins científicos respeitarão o sigilo das informações prestadas e a privacidade do paciente. No prontuário do paciente da USE, será registrada sua participação no Estudo HOMEOCON, bem como evolução e respectiva conduta do investigador clínico. 3.11 Armazenamento da medicação do estudo O Farmacêutico da pesquisa receberá e manterá em condições adequadas de estoque: cápsulas de Sertralina fornecidos pela Farmácia Kalmia; cápsulas inertes, fornecidas pela Farmácia Kalmia; um estoque básico de potências cinquenta-milesimais (2 a 8 LM) em solução hidroalcoólica (a 30%), fornecido pela Farmácia HN-Cristiano; frascos contendo álcool a 30%, fornecidos pela Farmácia HN-Cristiano. O Farmacêutico da pesquisa deverá guardar uma amostra de cada lote de cápsulas de Sertralina ou inertes que receber da Farmácia Kalmia, para eventuais futuras análises. A Farmácia Kalmia fará o mesmo. 15 HOMEO-CON protocolo 4. COMISSÃO INSTITUCIONAL DE REVISÃO Para realizar uma atividade de pesquisa ou extensão na USE, é necessário submeter o projeto à Comissão de Pesquisa e Extensão, que analisará a viabilidade do mesmo na Unidade e sua adequação para ser realizado em uma Unidade de Saúde cujo compromisso é determinado pela Carta dos Direitos do Usuário em Saúde. Os princípios que norteiam a apreciação dos projetos de pesquisa pela Comissão de Pesquisa e Extensão são: Assistência aos usuários dentro dos princípios do SUS; Articulação da atividade de pesquisa e extensão com as Linhas de Cuidado da USE e ou serviços externos; Disponibilidade da equipe de trabalho da USE na atividade proposta de Pesquisa ou Extensão; Disponibilidade de materiais e infraestrutura da USE e de recursos externos; Observância da Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde [baixar], que regulamenta os direitos e deveres do usuário dentro de uma unidade de saúde, já que todo sujeito de pesquisa ou extensão na USE é também um usuário SUS; Observância da legislação vigente (responsabilidade técnica, registro de prontuários, etc.). 31 Os registros permanecerão à disposição para consultas pela Comissão de Pesquisa e Extensão, a qualquer momento da execução do estudo HOMEO-CON, e durante três anos após a sua conclusão. 5. AVALIAÇÃO DOS ABANDONOS Todos os pacientes que faltarem a uma consulta serão imediatamente contatados, por telefone, pelo pesquisador responsável. Aqueles que decidirem abandonar o estudo serão convidados a passar por uma entrevista com um Psicólogo colaborador do CAPS-II de São Carlos, que investigará o motivo do abandono e aplicará a escala de depressão MADRS, se o sujeito estiver de acordo. O paciente será então encaminhado à UBS de origem, com o esclarecimento sobre a participação e abandono do estudo, a não ser que a gravidade do caso indique a necessidade do tratamento no próprio CAPS-II, quando então a entrevista servirá, automaticamente, como acolhimento se o paciente concordar em continuar seu tratamento no CAPS. 16 HOMEO-CON protocolo 6. ÉTICA Uma versão mais extensa (440 pacientes) e multicêntrica (UNIFESP-UFSCarFMUSP-RP) foi inicialmente aprovada pelo Conselho de Ética em Pesquisa da UNIFESP (CEP/UNIFESP 2110). Como não foi possível financiamento para o estudo então proposto, a versão inicial não foi submetida aos demais CEPs. A atual versão, unicêntrica, será submetida ao CEP da UFSCar. O manuseio das informações obedecerá as diretrizes ICH-GCP. Além da submissão para aprovação, serão realizados os relatórios periódicos determinados pelo CEP da UFSCar. Os registros permanecerão à disposição para consultas pelo CEP/UFSCar, a qualquer momento da execução do estudo HOMEO-CON, e durante três anos após a sua conclusão. 7. RESULTADOS ESPERADOS A hipótese do pesquisador responsável para o tratamento da fase de continuação é a da manutenção das tendências observadas no tratamento da fase aguda16, ou seja, que as potências homeopáticas cinquenta-milesimais não sejam inferiores à Fluoxetina (Figura 3) e que os pacientes do grupo Homeopatia apresentem eventos adversos menos frequentes do que os do grupo do antidepressivo (Figura 4). Figura 3: representação gráfica da não-inferioridade dos medicamentos homeopáticos individualizados em relação à Fluoxetina. 17 HOMEO-CON protocolo Figura 4: Número relativo de pacientes que tiveram seu tratamento suspenso por efeitos adversos nos dois grupos de tratamento (p=0,071). 8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DO PROJETO O cronograma de execução do projeto está descrito na Tabela 3. Tabela 3: HOMEO-CON – cronograma Mês/ano Atividade 05/12/2013 Aprovação da Comissão de Pesquisa e Extensão - USE/UFSCar 07/03/2014 Submissão do projeto ao CEP da UFSCar via Plataforma Brasil 28/05/2014 Aprovação CEP/UFSCar 07/2014 Registro do estudo 08/2014 Início do recrutamento 08/2014 Início da fase de tratamento 11/2017 Término do recrutamento (40 meses) 05/2018 Término da fase de tratamento (46 meses) 07/2018 Término da análise estatística dos dados 09/2018 Submissão de artigo para publicação 18 HOMEO-CON protocolo 9. ANÁLISE CRÍTICA DOS RISCOS E BENEFÍCIOS A questão magnitude da eficácia ou efetividade dos antidepressivos no tratamento da depressão ainda não está totalmente esclarecida, principalmente por que há uma diferença no tamanho do efeito terapêutico obtido em estudos randomizados e controlados (RCTs), em relação ao obtido em estudos observacionais. Essa diferença foi recentemente dimensionada, em uma meta-regressão que comparou, com base em uma resposta terapêutica padronizada, RCTs e estudos observacionais publicados nos últimos 20 anos. O resultado mostrou que, nas condições controladas dos RCTs, o efeito terapêutico dos antidepressivos foi aproximadamente 4,5 vezes superior ao calculado nos estudos observacionais, mais próximos do que acontece na clínica diária32. Um estudo recente, conduzido na Universidade Charité/Berlim, avaliou o protocolo homeopático Organon.modus na fase aguda do tratamento da depressão moderada, mas usando placebo como controle. Por problemas de recrutamento, esse estudo teve que ser interrompido, portanto, seus resultados só podem ser considerados de forma exploratória. Eles sugerem que os medicamentos homeopáticos foram ligeiramente superiores ao placebo, em termo de remissões, resposta terapêutica e qualidade de vida. Além disso, não houve diferenças entre os Eventos Adversos observados no grupo tratado com Homeopatia, em relação aos pacientes que receberam placebo33. A não inferioridade em relação à fluoxetina na fase aguda e os efeitos adversos similares ao do placebo, permitem supor que o uso do protocolo Organon.modus na fase de continuação do tratamento não acarrete riscos específicos para os pacientes randomizados para o grupo Homeopatia. Os riscos para o participante do Estudo HOMEO-CON são: Evoluir com não melhora ou piora dos sintomas depressivos. Isto pode acontecer com qualquer tratamento da depressão, levando a ajustes do tratamento. Para minimizar este risco: o durante a fase aguda, os pacientes serão avaliados quinzenalmente (frequência de retornos superior à média da praticada nos serviços de saúde públicos) e a medicação ajustada se não houver melhora; 19 HOMEO-CON protocolo o só entrarão na fase de continuação, os participantes que já tiverem apresentado uma resposta terapêutica durante a fase aguda; o não serão incluídos indivíduos com depressão psicótica ou tentativa recente de suicídio; o serão excluídos os pacientes que apresentarem sintomas psicóticos ou tentativa de suicídio, ou uma piora da intensidade da depressão (aumento de 10 pontos em relação ao escore MADRS basal, persistente por pelo menos duas semanas consecutivas). Esses pacientes serão devidamente encaminhados ao tratamento psiquiátrico no Centro de Atenção Psicossocial de São Carlos (CAPS-II). Apresentar sintomas adversos relacionados à homeopatia. O método de homeopatia que será comparado com a sertralina, já foi comparado com o placebo, ou seja, com uma substância inativa, sem efeito medicinal, e os eventos adversos do grupo medicado com homeopatia foram semelhantes aos observados com o grupo que recebeu o placebo. Portanto, é improvável que ocorram sintomas adversos relacionados aos medicamentos homeopáticos usados no estudo. Apresentar sintomas adversos relacionados à sertralina. A sertralina, apesar de ser um antidepressivo muito bem tolerado, pode causar efeitos adversos, tais como diminuição do desejo sexual, impotência, náuseas, vômitos, diarreia, falta de apetite e perda de peso, boca seca, dor de cabeça, fadiga, sedação, insônia, inquietação excessiva, confusão, tontura, tremores e transpiração excessiva. Para minimizar este risco: o Eventos adversos serão pesquisados e registrados a cada consulta. Eventos adversos graves ou gravidez levarão à retirada do paciente do estudo, quebra do cegamento, encaminhamento e acompanhamento do paciente ao tratamento médico adequado (CAPS-II, Unidade de Pronto Atendimento, etc.) Quanto aos benefícios, após o estudo todos os participantes serão convidados a seis meses de tratamento integrativo na USE, antes da sua contra-referência às unidades de saúde de origem. Esta fase facilitará o estabelecimento da medicação mais adequada à remissão dos sintomas, definindo o tratamento de manutenção que será sugerido ao médico assistente da atenção básica. 20 HOMEO-CON protocolo Se os resultados do estudo do HOMEO-CON confirmarem a não-inferioridade do protocolo Organon.modus) no tratamento do episódio depressivo (depressão (unipolar, não psicótica), em relação a um dos antidepressivos mais eficazes disponíveis, os benefícios antecipados para os sujeitos da pesquisa e para a sociedade são a possibilidade de um tratamento efetivo da depressão, sem os efeitos adversos comumente associados ao uso dos antidepressivos (boca seca, constipação intestinal, ganho de peso34, disfunções sexuais35, etc.), além do relativo baixo custo dos medicamentos homeopáticos. Para a Ciência, o estudo poderá contribuir para minimizar a escassez de ensaios clínicos sobre estratégias de tratamento homeopático, realizados segundo as Boas Práticas Clínicas. 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