VIRANDO A PÁGINA DO PASSADO ’O passado não é aquilo que passa, é aquilo que fica do que passou”. Alceu Lima Recentemente dei uma palestra para o meu grupo de aposentados da Petrobrás sobre como virar a página e seguir em frente. Esse tema é sempre recorrente nas reflexões e nos debates dos idosos. Alguns vivem olhando mais para o que passou do que para o que ocorre no aqui e agora. Como é difícil desapegar dos acontecimentos! Principalmente, se eles foram negativos e sofridos. Ficamos remoendo cada escolha mal feita, cada “não” recebido, cada palavra não dita, ou pior, dita de maneira errada. Mesmo sabendo que o que aconteceu não pode ser desfeito, continuamos nos debatendo no porão do passado. Geralmente os acontecimentos positivos e alegres ficam reservados na nossa eterna lembrança que carregamos até o fim de nossas vidas. Casamentos vivenciados com cumplicidade, companheirismo e afeto deixam nos corações dos viúvos a saudade “saudável”. Porém, aqueles que foram marcados por conflitos, traições e falta de afeto deixam a marca do ressentimento, do gosto amargo na boca. Sempre são lembrados como feridas que nunca cicatrizam. Frustrações não digeridas. Seguir em frente, fechar gestalts é permitir que a vida em movimento se manifeste com sua plenitude e sabedoria. Remoer o que foi vivido é potencializar o remorso, a vingança, o desgaste de energia e de tempo. E o tempo hoje é mais que nunca precioso! “O passado é lição para se meditar, não para se reproduzir” nos ensina Mário de Andrade. Aprender com ele é ter a chance da vitória e do sucesso. É reconhecer as falhas, os erros, as frustrações sem se colocar como vítima eterna. É não esperar a devolução de algo ou o reconhecimento do nosso esforço ou a valorização da nossa luta e da nossa genialidade. Somos - antes de mais nada aprendizes, e não simples telespectadores que assistem passivamente em sua televisão emocional o mesmo programa . Muitos idosos paralisam suas vidas naquela conhecida frase: “Ah! No meu tempo...”. Tudo que é novo é visto como pior. Os registros antigos permanecem na mente e no coração e é materializado nos “entulhos” que enchem os espaços da casa. Nada é removido, doado e limpo. O desapegar é necessário e urgente no passar dos anos. E é mais proveitoso quando o fazemos conscientes e por livre escolha. Não espere que a vida nos empurre e nos obrigue a fazê-lo. Viver é uma arte e dá muito trabalho em qualquer etapa da vida. Jorgete Botelho 13/04/12