LITERATURA E POLÍTICA: SÃO BERNARDO E AS DISCUSSÕES DA DÉCADA DE 1930 NO BRASIL Autora: Andressa Marzani Orientador: Prof. Dr. José Roberto Braga Portella Palavras-chave: Literatura brasileira; Revolução de 30; projetos políticos. O presente trabalho pretende discutir as relações entre a representação literária das mudanças sociais e políticas advindas com a Revolução de 1930 e a decadência da sociedade rural oligárquica dela proveniente, através da análise do romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, do contexto em que foi produzida e de seu produtor enquanto enunciador de um discurso. A obra se insere em um período de transformações no país, sendo necessária, primeiramente, a revisão das peculiaridades desse recorte. A prática do “liberalismo oligárquico”, iniciada com o advento da República em 1889 e que tinha por algumas das características fenômenos como o mandonismo, o falseamento e a manipulação de votos, dava algumas mostras de esgotamento por volta da década de 1920. Nesse sentido, os textos de Boris Fausto1 e de Marieta Ferreira e Surama Pinto2, que abordam a crise do sistema oligárquico e a mudança de regime, são importantes para o entendimento do período. Alguns dos fatos levantados pelos autores são as primeiras demonstrações de esgotamento do sistema, o surgimento do tenentismo, os efeitos econômicos e políticos da Crise mundial de 1929 no país, e a crise sucessória presidencial do mesmo ano, que gerou a formação da Aliança Liberal, composição heterogênea de setores descontentes com o governo. Também foram abordadas a candidatura do candidato oposicionista Getúlio Vargas, a derrota nas urnas e a aproximação com o tenentismo, e por fim as rebeliões que culminaram com a deposição de Washington Luís e a tomada de poder por Vargas, em outubro de 30. Segundo a revisão de Vavy Borges3, a denominação mais comum do evento e já consagrada por boa parte da historiografia é “Revolução de 30”, fato porque optamos manter este nome. No governo provisório que se seguiu, os órgãos deliberativos republicanos foram dissolvidos, ficando concentrados nas mãos do Presidente os poderes Executivo e Legislativo; fato que deveria ocorrer apenas em caráter excepcional. Entretanto, a permanência da situação por longo tempo implicou na Revolução Constitucionalista, em 1932, rebelião que, mesmo derrotada, acabou acelerando o processo constituinte. Apesar disso, a vitória sobre os revoltosos e a influência política de Vargas permitem grandes vitórias das tendências situacionistas. As principais medidas tomadas pelo governo no período foram a instituição de um novo Código eleitoral brasileiro; medidas econômicas de contenção da crise, financiamentos para outros setores agrícolas que não o café e para a indústria; e algumas medidas trabalhistas. Outra Constituição é promulgada em 1934, sem muitas diferença da de 1891. A força política de Vargas e sua popularidade aumentam, garantindo sua vitória nas eleições presidenciais do mesmo ano. 1 FAUSTO, Boris. A crise dos anos vinte e a Revolução de 1930. In: FAUSTO, Boris (Org.). O Brasil Republicano, tomo III, vol. 2: sociedade e instituições (1889-1930). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p. 409-410. 2 FERREIRA, Marieta de Moraes e PINTO, Surama Conde Sá. A crise dos anos 1920 e a Revolução de 1930. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Org). O Brasil republicano: o tempo do liberalismo excludente – da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. pp. 387- 415. 3 BORGES, Vavy Pacheco. Anos trinta e política: História e historiografia. In: FREITAS, Marcos Cezar de (Org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998. pp. 159-182. O período que se seguiu às eleições de 1934, segundo Eli Diniz4, foi marcado por uma crise na política, sobretudo em termos ideológicos. De acordo com a autora, essa crise tinha por característica a heterogeneidade de projetos e perspectivas que ascenderam ao poder em 1930, causando divisões. O enfraquecimento do tenentismo e a crise das oligarquias cafeeiras contribuíram para esse processo. Vargas, por sua vez, soube contornar e tirar proveito desses problemas, fazendo alianças e aumentando sua influência. Apesar disso, encontrava ainda fortes oposições a seu governo, principalmente de setores da esquerda. Em 1935 o Partido Comunista, mesmo declarado ilegal, se uniu a outros grupos esquerdistas na tentativa de golpe denominada Intentona Comunista, logo sufocada. A esta rebelião seguiu-se violenta repressão, com perseguições, torturas, prisões e mortes – inclusive a prisão do autor aqui estudado que, embora de tendências esquerdistas, não era no momento filiado a nenhum grupo político. Vargas utilizou-se do acontecimento para aumentar o controle social, em nome do chamado perigo comunista. De acordo com Lourdes Sola, o comunismo foi transformado em presença constante, devido à utilização da propaganda maciça5. Destarte, a situação instável possibilitou ao presidente o golpe de 1937, iniciando a ditadura do Estado Novo no país, apoiado por elementos de cúpula das Forças Armadas, por parte da intelectualidade, por integralistas e ex-tenentistas, e pelas elites de um modo geral, que viam no fortalecimento do Estado uma saída para a estabilidade e para sua própria sobrevivência no poder. No trabalho, os textos de Lourdes Sola e Eli Diniz também foram utilizados para apoiar a discussão sobre o desenvolvimento do Estado Novo e sua posterior queda, em 1945. As autoras abordam, de maneira semelhante, o rompimento dos integralistas com Vargas e sua tentativa frustrada de levante, em 1938, bem como a solidificação do poder central com a criação de órgãos como o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) e o DASP (Departamento de Administração do Controle Público). Também são abordados os incentivos à economia, com investimentos e criação de institutos, o incentivo à indústria, a Consolidação das Leis Trabalhistas. De acordo com Diniz, a situação que acendeu ao poder em 30 trouxe a queda do sistema oligárquico na política e possibilitou mudanças; entretanto, a estrutura básica de dominação social continuou por mais tempo, fato porque a autora denomina o período por “modernização conservadora” 6. Algumas características do Estado Novo também são abordadas por Ângela Gomes7. Segundo a autora, o governo implantado em 1937 se caracterizava por um projeto ideológico heterogêneo, contendo variações relevantes. Dentro desse ecletismo, porém, um conjunto de ideias centrais norteava o governo. Entre elas, o antiliberalismo e o anticomunismo, direcionamentos que tinham influência de um contexto mundial de declínio das ideias liberais do entre-guerras8, e também da ascensão de governos ditatoriais europeus. A posição ideológica do Estado Novo, inclusive, o aproximava com os governos fascistas da Europa, principalmente com o da Itália. 4 DINIZ, Eli. O Estado Novo: estruturas de poder, relações de classe. In: FAUSTO, Boris. O Brasil Republicano, tomo III, vol. 3: sociedade e política (1930-1964). São Paulo: Difel, 1986. p, 83-89. 5 SOLA, Lourdes. O golpe de 37 e o Estado Novo. In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). Brasil em perspectiva. São Paulo: Difel, 1982. pp. 256-282. Sola comenta também sobre a elaboração do Plano Cohen, supostamente um plano de tomada do poder pelos comunistas, forjado com a ajuda de integralistas e um dos fatores que possibilitaram a ocorrência do golpe estadonovista. 6 DINIZ, Eli. Op. cit., p. 89. 7 GOMES, Ângela Maria de Castro. O redescobrimento do Brasil. In: OLIVEIRA, Lúcia Lippi de; VELLOSO, Mônica; GOMES, Ângela Maria de Castro. Estado Novo: ideologia e poder. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1982. pp. 109-150. 8 HOBSBAWN, Eric. A queda do liberalismo. In: Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991); trad. Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. pp. 113-143. O Estado Novo também foi marcado pelo apelo nacionalista. Esse apelo preconizava a necessidade de reconstrução nacional através da centralização do poder. Estabelecia para si uma continuidade com a Revolução de 1930, em uma maneira particular de utilização da História como base de legitimação. Do mesmo modo, propagava a necessidade de um conhecimento maior do que vinha a ser a realidade brasileira em termos não só econômicos ou sociais, mas também culturais. Tal necessidade encontrava eco na maneira de pensar dos intelectuais da época de um modo geral. Segundo Daniel Pécaut9, desde a década de 1920 a intelectualidade se debatia em discussões desse teor, provenientes das desilusões com o regime oligárquico e com a questão social; e também em um sentido de repensar a própria função do intelectual dentro da sociedade. O autor discute bem os desdobramentos dessas ideias, como a realização da Semana da Arte Moderna de 1922 e o envolvimento de intelectuais na política. Do mesmo modo, o tema das tentativas de cooptação dos intelectuais por parte do Estado é abordado. Seguindo a mesma lógica, o texto já citado de Ângela Gomes10, demonstra as complexas relações entre as diferentes tendências dentro da intelectualidade e o Estado Novo, como as dissidências, as colaborações e as participações de intelectuais nas fileiras do funcionalismo público. Essas são as principais características do período em que foi produzido São Bernardo11, objeto desse estudo. Publicado pela primeira vez em 1934, o romance se insere no contexto da Segunda Geração Modernista, caracterizada, segundo Érico Veríssimo, por um amadurecimento de ideias e projetos estéticos, e por uma maior preocupação com os problemas sociais e filosóficos de seu tempo12. Nesse sentido, São Bernardo é comumente caracterizado como integrante do “romance nordestino de 30”, grupo heterogêneo de sucessivas publicações cuja temática principal relacionava-se aos problemas da região Nordeste, como a seca, a pobreza, a decadência das grandes propriedades rurais da região. O romance, narrado em primeira pessoa, apresenta a história da vida de Paulo Honório, dono de uma propriedade rural. Ao início da narrativa, o protagonista está contando seus planos de escrita de um livro contendo suas memórias, e as atitudes que toma para a realização do mesmo. Desde os primeiros parágrafos, percebemos alguns traços da personalidade do narrador-personagem: o dinamismo, a praticidade, o autoritarismo. Paulo reconhece que suas qualidades profissionais não servem muito para escrever um livro; faz contatos, então, com aqueles que podem lhe auxiliar, pensando em dividir o trabalho. Autoritário, desentende-se facilmente com os outros; por fim, desiste da empreitada, para depois retomá-la sozinho. Ao início do terceiro capítulo, vemos a substituição desta narrativa pelo início das lembranças de vida do mesmo. Não conseguimos perceber, entretanto, se os acontecimentos narrados são parte do próprio material que Paulo intentava escrever, ou apenas suas rememorações. No prosseguimento da narrativa, descobrimos que o protagonista não foi sempre proprietário: sua origem era humilde. No entanto, desde cedo foi ambicioso, interessado em enriquecer e obter posses, e fazia de tudo para tal. Por fim, trabalhando na região alagoana de Viçosa, na fazenda São Bernardo, coloca como para si o objetivo da posse da mesma. Percebendo o descaso e a vida desregrada de seu proprietário Luís Padilha, o personagem-narrador torna-se seu financiador, em uma ação calculada, fazendo com que Padilha adquira muitas dívidas. Desta maneira, Padilha acaba cedendo a oferta de Paulo sobre a venda da fazenda. Outros empecilhos surgem pelo caminho; o protagonista supera 9 PÉCAUT, Daniel. A geração dos anos 1920-40. In: Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação; trad. Maria Júlia Goldwaser. São Paulo: Ática, 1990. pp. 19-96. 10 GOMES, Ângela Maria de Castro. Op. cit. 11 RAMOS, Graciliano. São Bernardo; posfácio de João Luiz Lafetá. Rio de Janeiro: Record, 1989. 50ª ed. 12 VERÍSSIMO, Érico. Breve história da literatura brasileira; trad. e ensaio crítico de Maria da Glória Bordini. São Paulo: Globo, 1995. p. 119. todos, com sua força de vontade e ambição – mesmo se a medida tomada resultar na morte de alguém. Ao longo da narrativa, Paulo está sempre ampliando suas posses, construindo, iniciando novas técnicas, tentando aumentar a produção de sua propriedade, subornando. Cresce em influência; recebe visita até do governador. Todas as suas ações são pensadas racionalmente, em termos de economia e otimização. Para ele tudo é passível de ser transformado em lucro ou outras vantagens: os alicerces da igreja, a possível construção de uma escola na propriedade. Relaciona-se com as pessoas da mesma maneira, tratando-as como objetos, impondo-se sobre todos com suas vontades. Isso transparece mesmo quando parece estar praticando um ato altruísta, como quando reencontra sua benfeitora de infância Margarida, e a traz para São Bernardo. Utiliza palavras como “remessa” e “extravio”, como se a senhora fosse apenas um objeto. A certa altura, resolve se casar. Não por causa de alguma paixão, mas apenas para conseguir um herdeiro para suas terras. Estuda e descarta algumas possibilidades, até conhecer Madalena, uma jovem professora. Encanta-se logo com ela, se aproxima, propõe-lhe casamento, no ritmo rápido e decidido que lhe é característico. Por fim, casam. Paulo parece ter conseguido a realização de outro de seus desejos. Porém, conforme o tempo vai passando, vamos descobrir que o processo de posse de Madalena pelo protagonista não se completa. Madalena nos é apresentada por Graciliano Ramos como uma espécie de antítese de seu marido: boa, caridosa, inteligente, sem ambições. Apieda-se da condição dos empregados da fazenda, trata-lhes bem, inclusive com doações; desgosta-se da maneira como Paulo trata a todos. Passa a discutir com o marido, a interferir na vida da fazenda, para a fúria do mesmo. Paulo não a compreende; a distância entre os dois aumenta. Passa a ter ciúmes da mulher. Primeiro com Padilha. Depois, passa a desconfiar de quase todos, até dos empregados. A situação se torna insuportável. Desesperada, Madalena comete suicídio com veneno, deixando longa carta de despedida, em que reclama das atitudes do marido. A partir desse momento, vemos a vida do protagonista arruinar: muitos abandonam a fazenda depois da morte de Madalena; a Crise de 29 e a Revolução de 30 acabam fazendo com que a produção da fazenda diminuía, os bancos recusem empréstimo; São Bernardo fica abandonada, e seu dono sem o mesmo prestígio político de antes. Ao fim do livro, vemos um Paulo Honório arruinado, arrependido e solitário: “O que estou é velho. [...] Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros”.“Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos esbarraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo”13. Utilizando a conceituação formulada por Roger Chartier14, o presente trabalho repensou a obra literária enquanto uma representação da realidade brasileira do período, não em termos de descrição fiel da realidade, mas enquanto expressão e significação da mesma. Assim sendo, consideramos que a obra representa o período de mudanças advindas com a chamada Revolução de 30 e seus desdobramentos, em uma significação dos acontecimentos conquanto vista por determinados grupos. A principal situação representada na obra refere-se à queda do regime oligárquico no país, com algumas de suas implicações, fato perceptível no relato da vida do protagonista. Paulo Honório, proprietário rural de considerável riqueza e influência, torna-se, com os resultados da crise financeira no Brasil e o advento do novo regime um homem arruinado, que não consegue mais vender sua produção como antes, que não obtém mais empréstimos de banco, e nem detém mais os mesmos benefícios que suas antigas relações políticas lhe permitiam. Seu processo de ascensão e queda é representativo do período do liberalismo oligárquico, que teve seu momento e entrou em declínio com a modernização ocorrida no governo getulista. 13 14 RAMOS, Graciliano. Op. cit., p. 181-187. CHARTIER, R. O mundo como representação. Estudos Avançados, v. 11, n. 5, p. 173-191. 1991. Percebemos também na obra tipificações das diferentes propostas políticas e expectativas surgidas na época. Os intensos debates e a efervescência de ideias se fazem sentir por todo o romance, seja em conversas informais das personagens, seja através de algumas ações dos mesmos. Nesse sentido, se Paulo representa a oligarquia rural no poder, a possibilidade revolucionária tenentista aparece tipificada na figura de Padre Silvestre, que aos poucos aparece discutindo sobre mudanças e a possibilidade de tomada do poder pela via violenta. Já no início do texto vemos os desentendimentos causados pelas opções políticas do padre frente ao protagonista: “Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da Revolução de Outubro, tornou-se uma fera, exige devassas rigorosas e castigos para os que não usaram lenços vermelhos. Torceu-me a cara. E éramos amigos.”15 De maneira semelhante, a possibilidade de revolução mais radical aparece representada pelas discussões sobre o socialismo introduzidas por Luís Padilha e Madalena. Se na figura de Padilha os debates são acalorados, em Madalena a ideologia aparece de forma mais sutil. Só em algumas conversas a mulher de Paulo Honório dá mostras de concordar com as ideias de Padilha. Na maioria das vezes, entretanto, são suas atitudes que vão demonstrar melhor seu posicionamento, como nas vezes em que defende os empregados, reclama de suas condições de vida e trabalho a Paulo, faz doações, os trata com remédios e cuidados. Paulo Honório não entende, desgosta-se. A construção que Graciliano Ramos faz do protagonista e de sua consorte mostra claramente uma antítese de tipos opostos. Nos apresenta uma divisão bem caracterizada entre as duas figuras. Essa representação pode ser entendida em termos não apenas ficcionais, como também políticos. De acordo com Zuleide Duarte, as práticas de Paulo Honório se referem ao mundo propriamente burguês16. Madalena, por sua vez, representa justamente o contrário. Nesse sentido, entendemos Madalena como uma representação de uma possibilidade socialista, pela ideologia que lhe é peculiar e por suas atitudes. Podemos relacionar essa construção peculiar com a própria vida e os anseios do autor. Segundo Michel Foucault, nenhuma produção de discurso está dissociada das relações de poder que envolvem sua produção17. Nesse sentido, entendemos que o autor não é “neutro”, mas influenciado por sua visão de mundo, suas relações, preconceitos e ideologias. Graciliano Ramos, que desde o período da escrita de São Bernardo já apresentava tendências esquerdistas, e posteriormente se filiando ao Partido Comunista (1945), certamente utilizou-se de sua visão política na construção literária, embora de maneira nem sempre consciente, e mesclada à suas concepções estéticas enquanto artista. Essa abordagem irá encontrar eco no estudo de João Luiz Lafetá18, que compara a figura de Paulo Honório a um “dínamo”, rápido, ágil, mas que, entretanto, “não pode existir indefinidamente. Mais do que uma esperança, sua destruição é uma possibilidade concreta e próxima”19. Desta forma, seguindo a lógica apresentada por Lafetá, concluímos que a construção narrativa apresenta a ideia de que a força desigual do “dínamo” (o capitalismo) uma hora irá emperrar, frente a outras possibilidades. Graciliano Ramos faz, nesse sentido, uma defesa sutil do que coloca no texto como uma possibilidade socialista frente às mudanças de seu tempo. 15 RAMOS, Graciliano. Op.cit., p. 08. DUARTE, Zuleide. A interferência de Madalena no universo de Paulo Honório: transformação e mobilidade. Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid, n. 15, ano VI. Out/2000. Disponível em: < http://www.ucm.es/info/especulo/numero15/g_ramos.html>. Acesso em: 03. nov. 2010. 17 FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. Aula Inaugural no College de France, pronunciada em 02 de dezembro de 1970. São Paulo: Edições Loyola, 1996. 18 LAFETÁ, João Luiz. O mundo à revelia. Posfácio apresentado na 50ª. edição do romance São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1989. p. 202-203. 19 Idem, Ibidem, p. 202. 16