Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura
São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012.
ISSN: 2175-4128
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ANALISE DOS ELEMENTOS DA NARRATO LOGIA NO
ROMANCE E FILME
HOMÔNIMOS SÃO BERNARDO DE GRACILIANO RAMOS E LEO
N HIRSZMAN
Fábio Wesley Santos Paixão (UFS)
INTRODUÇÃO
O presente artigo abordará em seu corpus uma comparação entre o romance
São Bernardo de Graciliano Ramos e o filme homônimo de Leon Hirszman na
perspectiva dos elementos da narratividade (ponto de vista, espaço e tempo). Deste
modo, foi traçado como plano, destacar passagens que remetesse as questões
políticas existente na obra, tais como: capitalismo, socialismo e comunismo.
Os propósitos dessa pesquisa partiram do princípio das duas obras, ou seja,
do criador, pois se percebe que elas sofreram influências implícitas deles. Ora,
Graciliano Ramos era um autor engajado donde tinha preferência por temas que
denunciasse a exploração das classes desprovidas de direitos. O diretor Leon
Hirszman, pertencia ao movimento do cinema novo, uma geração de cineasta que
sem dinheiro para gravações de filmes resolvem desafiar o sistema político ditatorial
civil-militar brasileiro com o seguinte pensamento: “câmera na mão e uma ideia na
cabeça”. Como vêem, os dois tem muito haver um com o outro, desde a ideologia até
o modo revolucionário das criações artísticas.
Diante disso, o trabalho enveredar-se-á pelos caminhos dos elementos
narrativos que, por sua vez, forma a sua estrutura central. Para tanto, a pesquisa vai
ao estruturalismo linguístico e literário para encontrar o início desses estudos. Far-se-
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á a partir deste momento analise dos elementos narrativos na literatura
conceituando-os e os comparado com as obras.
Ante o exposto, pretender-se-á responder questionamentos relacionados aos
elementos da narratividade, tais como: O que nos passa o ponto de vista do Paulo
Honório narrador e personagem? Quais são os espaços que a obra mostra e como
percebê-los? Como diferenciar o tempo da enunciação do tempo do enunciado? E
como os elementos acima foram transportados para o cinema? Por fim, essas
respostas servirão não só para entender o que há por dentro do texto, mas como
também provar que elas podem remeter a outros campos, neste caso, o lado político.
1.
O pensamento Estruturalista como início dos estudos da narratologia.
É na década de 1960, que o estruturalismo literário começa a desabrochar.
Vale ressaltar, que tudo parte da obra magna do estruturalismo lingüístico, Curso de
Linguística Geral (1916) de Ferdinad Suassure. A corrente estruturalista navega por
vários segmentos, a exemplo das áreas: antropológicas, econômicas, filosóficas dentre
outros. Para tanto, a pesquisa seguirá pelo viés dos estruturalistas literários, em
especial do estudo da narrativa, que aproveitou estes conhecimentos para investigar
de um modo íntimo a obras literárias, ou seja, envereda-se pelo texto adentro.
O outro lado importante do estruturalismo foi desconfiar dos dados
do senso comum, isto é, não aceitar que o mundo fosse mais ou
menos como percebemos e que nossa maneira de percebê-lo fosse
maneira natural e evidente por si mesma. Tal desconfiança, assumida
no exame do texto literário, pode esclarecer fatos que poderiam, de
outra forma, passar despercebidos. O que se cobraria do
Estruturalismo é uma teoria do significado social e histórico, da qual
ele parecia ter as sementes, mas que não soube desenvolver.
(GONÇALVES; BELLODI, 2005, p.143)
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Historicamente o estruturalismo literário foi em si uma corrente que
revolucionou a crítica literária. Ela desmistificou o senso comum que existia nas
interpretações das obras, propondo um novo modo de pensar, arrebentado assim as
cordas ideológicas que prendiam a livre interpretação. Ante o exposto, tentar-se-á
analisar o romance S. Bernardo pelo viés sociopolítico com um intuito de mostrar a
inter-relação entre o mundo real e ficcional.
2.
Esboço da ideologia política em São Bernardo
É sabido que o acumulo de capital gera a diferença de classes, com isso, Karl
Marx nos apresenta as sérias conseqüências, no tocante ao desenvolvimento
intelectual ou cultural do homem. As longas horas de jornada e a exploração da mão
de obra são os principais fatores que contribuem para deteriorar o proletariado.
As concepções teóricas dos comunistas não se baseiam, de modo
algum, em ideias ou princípios inventados ou descobertos por tal ou
qual reformador do mundo. É apenas a expressão geral das condições
reais de uma luta de classes existente, de um movimento histórico
que se desenvolve sob os nossos olhos. (MARX, 1997, p.31).
Os ideais do comunismo é a solução, segundo Marx, para as injustiças
promovidas pelos detentores do capital. Desta forma a obra O Manifesto Comunista,
contribui significantemente para uma articulação sociopolítica entre os homens, não
existindo as diferenças de classes. A implantação dessa ideologia derrubaria por terra
o sistema burguês, que atrasa o desenvolvimento intelectual e moral dos
trabalhadores, os quais são utilizados para “massa de manobra”.
3.
Analise dos elementos da narratividade no romance São Bernardo.
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A narrativa é uma história de ficção, onde é apresentada como uma situação
real e que por sua vez funciona com certa quantidade personagens, onde poderão se
relacionar num tempo e num espaço determinados. Assim sendo, em sua estética
recria a realidade e comumente se mostra íntimo das problemáticas de uma
determinada sociedade, podendo ser transferido e adaptado num outro campo
social.
Coletando os escombros numa unidade imaginária ou dando forma à
procura de solução para crise, o romance cumpre sua missão de
restaurar o conhecimento e a fé. Em tempos amenos, aliena-se,
tornando-se passatempo, ou atribui-se o papel de subversor da
ordem, transformando-se em arma de combate e de ação social.
(MOISÉS, 2006, p.165)
O trecho acima, em especial o seu final, dialoga com o romance São Bernardo
de Graciliano Ramos. O livro é em si um engajamento político do autor, que expõe a
ideologia comunista através do seu narrador, Paulo Honório. É válido lembrar que
dentro de cada narrador existe a essência ou a experiência de um autor, por isso, o
autor não pode está por trás, como muito se é pensado, ele está dentro da obra, ou
seja, é nela que o encontramos.
Deixando de lado a parte externa, o autor, e enveredando texto adentro,
Paulo Honório está escrevendo um livro, desta maneira ele possui uma dupla função
na obra, narrador/autor. Ora, quando se trata da escrita, é necessária uma atenção
redobrada no texto para poder distinguir os dois. Daí que, mais uma vez, os
elementos da narrativa vêm deixar tudo às claras, através do Sujeito da Enunciação e
do Sujeito do Enunciado, mas antes é preciso conceituá-los:
A princípio, e de uma maneira bastante genérica, o sujeito da enunciação é
todo agente que cria algum enunciado. Já o sujeito do enunciado é o que
desempenha
a
ação
à
qual
o
enunciado
faz
referência.
(SANTOS/OLIVEIRA, 2001, p.02)
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Essa breve e satisfatória explicação, em síntese significa dizer que o sujeito da
enunciação é externo ao enunciado. Apesar de terem suas funções distintas, uma não
pode funcionar sem a outra, pois não existe um enunciado que não tenha sido
originado da enunciação ou vice-versa. Vejamos abaixo fragmentos da São Bernardo:
Devo, não nego, mas como hei de pagar assim de faca no peito? Se
me virarem hoje de cabeça para baixo, não cai do bolso um níquel.
Estou liso.
- Isso não são maneiras, Padilha. Olhe que as letras se venceram.
- Mas se não tenho! Hei de furtar? Não posso, está acabado.
- Acabado o quê, meu sem-vergonha! Agora é que vai começar.
Tomo-lhe tudo, seu cachorro, deixo de camisa e ceroula...
- Faça o preço. (RAMOS, 2008, p.27)
Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um
bando de voltas. Ninguém imaginará que, topando os obstáculos
mencionados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e
percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi
nem percorri. Tive abatimentos, desejo de recuar; contornei
dificuldades: muitas curvas. Acham que andei mal? A verdade é que
nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus.
Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram
lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de São
Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las.
(RAMOS, 2008, p.48)
O primeiro fragmento, que foi retirado do capítulo IV do romance, fala de
como aconteceu à transação financeira da fazenda São Bernardo. Nesta parte, é
possível ver o narrador contar os mínios detalhes com Padilha através do diálogo. Já
o segundo fragmento, destacado do capítulo VIII, o narrador através de uma
confissão acompanhada de uma justificativa, resumi em poucas linhas os percursos
de sua vida e como se deu a obtenção de sua propriedade. Fazendo uma analogia
com os dois tipos do sujeito exposto acima, pode-se concluir que a primeira parte é
um Sujeito do Enunciado, pois é lá que fica o campo dos personagens e a segunda
segue com o Sujeito da Enunciação, pois se trata exclusivamente do narrador Paulo
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Honório. Desta forma, a descoberta desses dois sujeitos melhora a localização do
leitor durante a execução do discurso.
O estudo da narrativa, no âmbito do foco narrativo, propõe um melhor
detalhe do olhar daquele que narra, bem como de outros personagens que ele dá a
voz. Com esse conhecimento o leitor pode perceber a conduta do narrador, como por
exemplo, se ele é integro ou se vez por outra sofre influência do escritor. Por fim, o
romance São Bernardo, o narrador Paulo Honório, não é tão simples como sua
linguagem parece ser, nele, como já foi exposto, existem vozes que liga ao autor, a ele
mesmo e a outros personagens.
No romance São Bernardo, o espaço é um elemento fundamental, uma vez
que, a narração predomina no território da fazenda. A obra poderia ficar no tipo de
espaço em que as coisas inanimadas chamariam mais atenção, se não pertencesse a
corrente literária regionalista, onde a ideologia era expor as circunstâncias de vida do
meio rural. Desta forma, o espaço físico pode não ser dos maiores, mas é suficiente
para torná-lo complexo se tratando do espaço psicológico. E é justamente esse último
espaço que mais chama atenção na obra, pois nele é possível perceber através das
sensações de Paulo Honório, duas divisões: o espaço tópico ou espaço atópico, que se
torna de fundamental importância para o entendimento da história, vejamos o
conceito abaixo:
O espaço tópico é o espaço conhecido, onde vive em segurança,
Tópico vem do grego topos, que significa “lugar”. Seria redundante
falar de espaço tópico se não fosse a conotação do adjetivo tópico
quando marcado pelo prefixo negativo “a” ou: atópico indica o lugar
não-próprio, estranho; (D’ONOFRIO, 2007, p.83)
A fazenda São Bernardo é o palco de Paulo Honório, pois é possível vê isto
em suas dificuldades, sua ganância e sua conduta para adquiri-la, que não se baseou
em nenhum princípio ético, por outro lado, a fazenda, é o local de seus conflitos e de
seus desafetos. Essa via de mão dupla que o espaço proporciona, deve ser analisado
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por parte, por isso será comentado o espaço Tópico e no segundo momento o espaço
Atópico. Observemos os trechos que remete a primeira abordagem:
O meu fito na vida foi apossar-me das terras de São Bernardo,
construir esta casa, plantar algodão, plantar mamona, levantar a
serraria e o descaroçador, introduzir nestas brenhas a pomicultura e a
avicultura, adquirir um rebanho bovino regular. Tudo isso é fácil
quando está terminado e embira-se em duas linhas, mas para o
sujeito que vai começar, olha os quatro cantos e não tem em que se
pegue, as dificuldades são horríveis. Há também a capela, que fiz por
insinuações de Padre Silvestre. (RAMOS, 2006, p.12)
Na passagem acima, Paulo Honório apresenta o espaço tópico, rico,
organizado e produtivo. O narrador aproveita este momento para se exibir como é
um grande investidor, que veio de origem pobre e trabalhou duro para chegar ao tal
patamar. Assim sendo, São Bernardo não é só uma fazenda, mas um “país” que
proporciona um sentimento de felicidade, satisfação e segurança para o narrador.
A investigação dos enunciados, quanto ao espaço atópico, fica esclarecida
pela indignação do personagem Paulo Honório diante dos pensamentos socialistas
de pessoas próximas, sendo agravado por acontecer em sua propriedade.
Observemos o fragmento que apresenta a saída do espaço tópico para o atópico:
... Muitas vezes opinei, sem rebuço: "Dona Madalena, Seu Paulo
embirra com o socialismo. É melhor a senhora deixar de novidades.
Essas conversas não servem". Está aí. Papagaio come milho, periquito
leva a fama. O periquito sou eu. Fraquejei:
- Que diabo discutiam vocês? O meu ciúme tinha-se tornado sorriu e
respondeu, hipócrita:
- Literatura, política, artes, religião... Uma senhora inteligente, a Dona
Madalena. E instruída, é uma biblioteca. Afinal eu estou chovendo no
molhado. O senhor, melhor que eu, conhece a mulher que possui.
(RAMOS, 2006, p.96)
A interpretação do trecho acima pode aparecer de duas maneiras: A primeira
fisicamente com Padilha, por achá-lo mais jovem e a segunda ideologicamente, pois
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como não sabia discutir literatura, arte e comunismo, sentia-se deslocado quando via
a sua esposa conversando ou instruindo alguém sobre seus direitos. Os dois espaços
estudados acima fazem parte de um espaço humano, neles é possível enxergar a
transformação da propriedade num lugar de confronto por conta das ideologias
comunistas. Por fim, o ambiente sociopolítico que a obra carrega é o que proporciona
a ação dos personagens, principalmente do narrador.
Partindo para o elemento narrativo tempo pode se organizar de duas formas:
uma pela enunciação e a outra pelo enunciado, observemos abaixo o conceito desta
problemática temporal:
Podemos falar, portanto, do tempo do discurso (enunciação) só
quando esse tempo está representado dentro da obra, uma
personagem apresetando-se como narrador, em sua função de
locutor, revelada pelo aparelho formal da enunciação... (Enunciado) é
o tempo dos acontecimentos, da história narrada, que pode se
cronológico ou psicológico. (D’ONOFRIO, 2006, p.85)
A tipologia do tempo é de suma importância para o entendimento das ações
do romance São Bernardo, como já foi dito, Paulo Honório narra a história pelo viés
da memorização. Observe o seguimento abaixo:
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e
não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o
mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar
os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem.
Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota,
citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma
nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe político local. Em
conseqüência mordeu-me cem mil-réis. (RAMOS, 2006, p.49)
A parte acima, o qual o narrador faz uma reificação, termo de Georg Lukács
usado para transformar as coisas em riquezas, está enquadrada num tempo da
narração. Essa indicação se dá pelo posicionamento temporal de Paulo Honório, que
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não está como personagem e sim como narrador, ou seja, existe nesse ponto uma
aproximação com receptor de sua mensagem, mesmo que venha ser ele ou leitor.
Para exemplificar o tempo do enunciado, observemos a citação abaixo:
Comunista, materialista. Bonito casamento! Amizade com o Padilha,
aquele imbecil. "Palestras amenas e variadas." Que haveria nas
palestras? Reformas sociais, ou coisa pior. Sei lá! Mulher sem religião
é capaz de tudo... Procurei Madalena e avistei-a derretendo-se e
sorrindo para o Nogueira, num vão de janela.Confio em mim. Mas
enxerguei os olhos bonitos do Nogueira, a roupa bem-feita, a voz
insinuante. Pensei nos meus oitenta e nove quilos, neste rosto
vermelho de sobrancelhas espessas. Cruzei descontentes as mãos
enormes, cabeludas, endurecidas em muitos anos de lavoura.
Misturei tudo ao materialismo e ao comunismo de Madalena e
comecei a sentir ciúmes. (RAMOS, 2006, p.155).
Como se pode observar o tempo desta passagem está ligado ao enunciado,
uma vez que quem fala já não é voz do Paulo Honório escritor, mas sim o Paulo
Honório personagem. Quanto ao tempo psicológico, que praticamente move a obra,
esse trecho é um dos pontos importantes, quiçá principal, pois informa onde o
personagem começa a sentir ciúmes, e é esse sentimento que o transtorna e o
desvirtua do seu mundo capitalista. Desta forma, o tempo diegético, no tocante do
psicológico, contribui para afirmar que o ciúme doentio por Madalena não se deu
somente pela questão da mulher que “trai” o seu marido, mas como também pelo
fato dela saber discutir política socialista com os outros homens.
4.
A transposição dos elementos narrativos do romance para o cinema.
Comparar cinema e literatura não é um trabalho muito fácil, apesar da
semelhança dos elementos narrativos existente neles. No entanto, devido às
limitações e/ou recursos utilizados, cada um segue seu objetivo. A cinematografia
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necessitava de sua própria linguagem, aliás, é nesse ponto que começa a separação
no âmbito dos estudos da narratividade. Leia abaixo a analise de um funcionamento:
A técnica de montagem, que do cinema passou para literatura,
consiste na sobreposição de imagens e de planos, pela qual dois
elementos são apresentados ao mesmo tempo. Podemos ter o tempo
como elemento estático, sendo espaço que se move (montagem-doespaço) ou, vice-versa, o espaço resta imóvel e ao seu redor o tempo
muda (montagem-do-tempo sobre o espaço). A montagem é uma
técnica geral, que opera com ajuda de várias técnicas particulares,
comum ao cinema e à narrativa literária: antecipação, retrospecção
(flaschback), panorama, primeiro plano (close-up), cote, câmera lenta
(slow-up), dissolvência em negro (fade-out), vista múltipla.
(D’ONOFRIO, 2006, p.88)
Esse exemplo da analise do tempo, nos apresenta o comportamento dos
questionamentos colocados acima, uma vez, que se percebe o uso da linguagem e
recursos de cada um. Outro ponto a reforçar e como informa o trecho, não só a
literatura influenciou o cinema, mas como também o cinema transportou os seus
termos para a literatura, claro que não com a mesma intensidade.
O diretor seguiu no filme o texto integralmente, o que pode ajudar na
analise, desta forma, será selecionada a mesma passagem do livro e do filme. A cena
e o trecho que será exposto se passam num jantar onde estão presentes Paulo
Honório (Oton Bastos), Madalena (Isabel Ribeiro), Luís Padilha, Seu Ribeiro,
Azevedo Gondim, João Nogueira, D. Glória e Padre Silvestre. Lá acontece
inicialmente uma discussão política voltado para o capitalismo e logo em seguida a
história toma uma guinada para a ideologia comunista.
Para início de conversa, trataremos das questões de enunciação e de
enunciado, na literatura eles são diferenciados através de sinais gráficos, no cinema a
problemática é notada por vários fatores, por exemplo, o Paulo Honório narrador se
diferencia do Paulo Honório personagem pelo fato do primeiro ter fala implícita (fala
cinema pelos sons) e o segundo explicita (fala pelas palavras, diálogos). Outro ponto
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é a pronunciação das chamadas vozes: in (dentro) e over (locutor invisível), a primeira
faz parte do Paulo Honório personagem e a segunda o narrador, e por fim pela
entonação, onde o personagem é mais agressivo em seus discursos, já o narrador é
brando.
O ponto de vista ou focalização, ambos partem do narrador. Em São
Bernardo a focalização é interna, ou seja, o narrador mostra os fatos a partir de sua
consciência. No entanto, o inicio da imagem selecionada, em que todos estão no
jantar, o que vemos não é visão de Paulo Honório, mas sim do “grande imagista”, o
ponto de vista dele pode ser notado pelo seu silêncio na discussão socialista ou pelo
seu olhar penetrado para os personagens, porém após o jantar, quando está do lado
de fora, a câmera o mostra olhando para o lado e numa contiguidade do olhar do
personagem, se transforma na visão do narrador.
A questão espacial cinematografia é simultâneo a outros acontecimentos, e
logicamente essa é a diferença da literatura. Observou-se na parte literária que o
espaço físico chama a atenção, porém é o espaço ideológico que ganha destaque, ou
seja, o que se chamou de espaço atópico. Transformando no espaço profílmico, é
possível ver diante do comportamento silenciado do personagem principal, que ele
não conseguia fazer parte da conversa que sua esposa e convidados debatiam. Outro
ponto é a mudança leve saindo do centro para a esquerda, tirando-o do foco central,
fazendo uma analogia com o estudo da espacialidade fílmica Paulo Honório saiu da
disjunção proximal para uma disjunção distal no mesmo plano.
A análise temporal seja no romance ou no cinema tem uma dupla
temporalidade, ou seja, a dos fatos relatados e de como é narrada. Na literatura
estudou-se acima a diferença entre o tempo da enunciação e do enunciado. Para o
cinema, a abordagem da pesquisa constituiu-se na questão da ordem. O filme começa
como na obra numa antecipação dos fatos (prolepse), segue em predominância na
retrospecção e por final já não existe a diferença entre passado e futuro, o que vai
existir é o presente fílmico.
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Conclusão
A pesquisa que teve como abordagem principal o romance e o filme São
Bernardo, Graciliano Ramos e Leon Hirszman, se preocupou em relatar com o inicio
teórico ou histórico de cada questionamento. Foram colocadas as idéias
estruturalistas seja da linguística ou da literatura, conceitos sobre o comunismo, a
ideologia marxista e os estudos dos elementos das narrativas literárias e
cinematográficas.
Os elementos da teoria narrativa é o carro chefe, muito embora tenha sido
direcionado ao posicionamento político da obra e do filme. O intuito dessa
canalização política e de arte engajada era só de não ficar diretamente na obra, como
parece ser, mas como também de tornar público através dos trechos analisados, as
denuncias do capitalismo selvagem que autor Graciliano Ramos quis passar no seu
romance, e dessa formar ver como essas ideias foram passadas para o cinema.
Assim sendo, o foco narrativo ou focalização, espaço e tempo da literatura e
do cinema, ter uma linguagem técnica e específica para analisar as narrativas. Esses
elementos da narratividade fez tornar possível a comparação entre as duas obras
homônimas e esclarecer que a semelhança entre os dois cai por terra na teoria, ou
seja, existe um “rio” entre eles chamado linguagem. Por fim, a teoria narrativa serviu
de aparelho, mas o importante é que se pode manter a essência da obra São Bernardo
como uma arte política engajada voltada para a conscientização de classes.
REFERÊNCIAS
D’ONOFRIO, Salvatori. Forma e sentido do texto literário. São Paulo: Ática, 2007.
GAUDREAULT, A.; JOST. François. A narrativa cinematográfica. Brasília: UNB, 2009.
GONÇALVES, Magaly. Teoria da literatura “revisitada”. Petrópolis: Vozes, 2005.
HIRSZMAN, Leon. S. Bernardo. DVD. 2009.
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13
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra,
1997.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2008.
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