Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 1 ANALISE DOS ELEMENTOS DA NARRATO LOGIA NO ROMANCE E FILME HOMÔNIMOS SÃO BERNARDO DE GRACILIANO RAMOS E LEO N HIRSZMAN Fábio Wesley Santos Paixão (UFS) INTRODUÇÃO O presente artigo abordará em seu corpus uma comparação entre o romance São Bernardo de Graciliano Ramos e o filme homônimo de Leon Hirszman na perspectiva dos elementos da narratividade (ponto de vista, espaço e tempo). Deste modo, foi traçado como plano, destacar passagens que remetesse as questões políticas existente na obra, tais como: capitalismo, socialismo e comunismo. Os propósitos dessa pesquisa partiram do princípio das duas obras, ou seja, do criador, pois se percebe que elas sofreram influências implícitas deles. Ora, Graciliano Ramos era um autor engajado donde tinha preferência por temas que denunciasse a exploração das classes desprovidas de direitos. O diretor Leon Hirszman, pertencia ao movimento do cinema novo, uma geração de cineasta que sem dinheiro para gravações de filmes resolvem desafiar o sistema político ditatorial civil-militar brasileiro com o seguinte pensamento: “câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Como vêem, os dois tem muito haver um com o outro, desde a ideologia até o modo revolucionário das criações artísticas. Diante disso, o trabalho enveredar-se-á pelos caminhos dos elementos narrativos que, por sua vez, forma a sua estrutura central. Para tanto, a pesquisa vai ao estruturalismo linguístico e literário para encontrar o início desses estudos. Far-se- Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 2 á a partir deste momento analise dos elementos narrativos na literatura conceituando-os e os comparado com as obras. Ante o exposto, pretender-se-á responder questionamentos relacionados aos elementos da narratividade, tais como: O que nos passa o ponto de vista do Paulo Honório narrador e personagem? Quais são os espaços que a obra mostra e como percebê-los? Como diferenciar o tempo da enunciação do tempo do enunciado? E como os elementos acima foram transportados para o cinema? Por fim, essas respostas servirão não só para entender o que há por dentro do texto, mas como também provar que elas podem remeter a outros campos, neste caso, o lado político. 1. O pensamento Estruturalista como início dos estudos da narratologia. É na década de 1960, que o estruturalismo literário começa a desabrochar. Vale ressaltar, que tudo parte da obra magna do estruturalismo lingüístico, Curso de Linguística Geral (1916) de Ferdinad Suassure. A corrente estruturalista navega por vários segmentos, a exemplo das áreas: antropológicas, econômicas, filosóficas dentre outros. Para tanto, a pesquisa seguirá pelo viés dos estruturalistas literários, em especial do estudo da narrativa, que aproveitou estes conhecimentos para investigar de um modo íntimo a obras literárias, ou seja, envereda-se pelo texto adentro. O outro lado importante do estruturalismo foi desconfiar dos dados do senso comum, isto é, não aceitar que o mundo fosse mais ou menos como percebemos e que nossa maneira de percebê-lo fosse maneira natural e evidente por si mesma. Tal desconfiança, assumida no exame do texto literário, pode esclarecer fatos que poderiam, de outra forma, passar despercebidos. O que se cobraria do Estruturalismo é uma teoria do significado social e histórico, da qual ele parecia ter as sementes, mas que não soube desenvolver. (GONÇALVES; BELLODI, 2005, p.143) Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 3 Historicamente o estruturalismo literário foi em si uma corrente que revolucionou a crítica literária. Ela desmistificou o senso comum que existia nas interpretações das obras, propondo um novo modo de pensar, arrebentado assim as cordas ideológicas que prendiam a livre interpretação. Ante o exposto, tentar-se-á analisar o romance S. Bernardo pelo viés sociopolítico com um intuito de mostrar a inter-relação entre o mundo real e ficcional. 2. Esboço da ideologia política em São Bernardo É sabido que o acumulo de capital gera a diferença de classes, com isso, Karl Marx nos apresenta as sérias conseqüências, no tocante ao desenvolvimento intelectual ou cultural do homem. As longas horas de jornada e a exploração da mão de obra são os principais fatores que contribuem para deteriorar o proletariado. As concepções teóricas dos comunistas não se baseiam, de modo algum, em ideias ou princípios inventados ou descobertos por tal ou qual reformador do mundo. É apenas a expressão geral das condições reais de uma luta de classes existente, de um movimento histórico que se desenvolve sob os nossos olhos. (MARX, 1997, p.31). Os ideais do comunismo é a solução, segundo Marx, para as injustiças promovidas pelos detentores do capital. Desta forma a obra O Manifesto Comunista, contribui significantemente para uma articulação sociopolítica entre os homens, não existindo as diferenças de classes. A implantação dessa ideologia derrubaria por terra o sistema burguês, que atrasa o desenvolvimento intelectual e moral dos trabalhadores, os quais são utilizados para “massa de manobra”. 3. Analise dos elementos da narratividade no romance São Bernardo. Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 4 A narrativa é uma história de ficção, onde é apresentada como uma situação real e que por sua vez funciona com certa quantidade personagens, onde poderão se relacionar num tempo e num espaço determinados. Assim sendo, em sua estética recria a realidade e comumente se mostra íntimo das problemáticas de uma determinada sociedade, podendo ser transferido e adaptado num outro campo social. Coletando os escombros numa unidade imaginária ou dando forma à procura de solução para crise, o romance cumpre sua missão de restaurar o conhecimento e a fé. Em tempos amenos, aliena-se, tornando-se passatempo, ou atribui-se o papel de subversor da ordem, transformando-se em arma de combate e de ação social. (MOISÉS, 2006, p.165) O trecho acima, em especial o seu final, dialoga com o romance São Bernardo de Graciliano Ramos. O livro é em si um engajamento político do autor, que expõe a ideologia comunista através do seu narrador, Paulo Honório. É válido lembrar que dentro de cada narrador existe a essência ou a experiência de um autor, por isso, o autor não pode está por trás, como muito se é pensado, ele está dentro da obra, ou seja, é nela que o encontramos. Deixando de lado a parte externa, o autor, e enveredando texto adentro, Paulo Honório está escrevendo um livro, desta maneira ele possui uma dupla função na obra, narrador/autor. Ora, quando se trata da escrita, é necessária uma atenção redobrada no texto para poder distinguir os dois. Daí que, mais uma vez, os elementos da narrativa vêm deixar tudo às claras, através do Sujeito da Enunciação e do Sujeito do Enunciado, mas antes é preciso conceituá-los: A princípio, e de uma maneira bastante genérica, o sujeito da enunciação é todo agente que cria algum enunciado. Já o sujeito do enunciado é o que desempenha a ação à qual o enunciado faz referência. (SANTOS/OLIVEIRA, 2001, p.02) Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 5 Essa breve e satisfatória explicação, em síntese significa dizer que o sujeito da enunciação é externo ao enunciado. Apesar de terem suas funções distintas, uma não pode funcionar sem a outra, pois não existe um enunciado que não tenha sido originado da enunciação ou vice-versa. Vejamos abaixo fragmentos da São Bernardo: Devo, não nego, mas como hei de pagar assim de faca no peito? Se me virarem hoje de cabeça para baixo, não cai do bolso um níquel. Estou liso. - Isso não são maneiras, Padilha. Olhe que as letras se venceram. - Mas se não tenho! Hei de furtar? Não posso, está acabado. - Acabado o quê, meu sem-vergonha! Agora é que vai começar. Tomo-lhe tudo, seu cachorro, deixo de camisa e ceroula... - Faça o preço. (RAMOS, 2008, p.27) Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas. Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive abatimentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de São Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las. (RAMOS, 2008, p.48) O primeiro fragmento, que foi retirado do capítulo IV do romance, fala de como aconteceu à transação financeira da fazenda São Bernardo. Nesta parte, é possível ver o narrador contar os mínios detalhes com Padilha através do diálogo. Já o segundo fragmento, destacado do capítulo VIII, o narrador através de uma confissão acompanhada de uma justificativa, resumi em poucas linhas os percursos de sua vida e como se deu a obtenção de sua propriedade. Fazendo uma analogia com os dois tipos do sujeito exposto acima, pode-se concluir que a primeira parte é um Sujeito do Enunciado, pois é lá que fica o campo dos personagens e a segunda segue com o Sujeito da Enunciação, pois se trata exclusivamente do narrador Paulo Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 6 Honório. Desta forma, a descoberta desses dois sujeitos melhora a localização do leitor durante a execução do discurso. O estudo da narrativa, no âmbito do foco narrativo, propõe um melhor detalhe do olhar daquele que narra, bem como de outros personagens que ele dá a voz. Com esse conhecimento o leitor pode perceber a conduta do narrador, como por exemplo, se ele é integro ou se vez por outra sofre influência do escritor. Por fim, o romance São Bernardo, o narrador Paulo Honório, não é tão simples como sua linguagem parece ser, nele, como já foi exposto, existem vozes que liga ao autor, a ele mesmo e a outros personagens. No romance São Bernardo, o espaço é um elemento fundamental, uma vez que, a narração predomina no território da fazenda. A obra poderia ficar no tipo de espaço em que as coisas inanimadas chamariam mais atenção, se não pertencesse a corrente literária regionalista, onde a ideologia era expor as circunstâncias de vida do meio rural. Desta forma, o espaço físico pode não ser dos maiores, mas é suficiente para torná-lo complexo se tratando do espaço psicológico. E é justamente esse último espaço que mais chama atenção na obra, pois nele é possível perceber através das sensações de Paulo Honório, duas divisões: o espaço tópico ou espaço atópico, que se torna de fundamental importância para o entendimento da história, vejamos o conceito abaixo: O espaço tópico é o espaço conhecido, onde vive em segurança, Tópico vem do grego topos, que significa “lugar”. Seria redundante falar de espaço tópico se não fosse a conotação do adjetivo tópico quando marcado pelo prefixo negativo “a” ou: atópico indica o lugar não-próprio, estranho; (D’ONOFRIO, 2007, p.83) A fazenda São Bernardo é o palco de Paulo Honório, pois é possível vê isto em suas dificuldades, sua ganância e sua conduta para adquiri-la, que não se baseou em nenhum princípio ético, por outro lado, a fazenda, é o local de seus conflitos e de seus desafetos. Essa via de mão dupla que o espaço proporciona, deve ser analisado Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 7 por parte, por isso será comentado o espaço Tópico e no segundo momento o espaço Atópico. Observemos os trechos que remete a primeira abordagem: O meu fito na vida foi apossar-me das terras de São Bernardo, construir esta casa, plantar algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o descaroçador, introduzir nestas brenhas a pomicultura e a avicultura, adquirir um rebanho bovino regular. Tudo isso é fácil quando está terminado e embira-se em duas linhas, mas para o sujeito que vai começar, olha os quatro cantos e não tem em que se pegue, as dificuldades são horríveis. Há também a capela, que fiz por insinuações de Padre Silvestre. (RAMOS, 2006, p.12) Na passagem acima, Paulo Honório apresenta o espaço tópico, rico, organizado e produtivo. O narrador aproveita este momento para se exibir como é um grande investidor, que veio de origem pobre e trabalhou duro para chegar ao tal patamar. Assim sendo, São Bernardo não é só uma fazenda, mas um “país” que proporciona um sentimento de felicidade, satisfação e segurança para o narrador. A investigação dos enunciados, quanto ao espaço atópico, fica esclarecida pela indignação do personagem Paulo Honório diante dos pensamentos socialistas de pessoas próximas, sendo agravado por acontecer em sua propriedade. Observemos o fragmento que apresenta a saída do espaço tópico para o atópico: ... Muitas vezes opinei, sem rebuço: "Dona Madalena, Seu Paulo embirra com o socialismo. É melhor a senhora deixar de novidades. Essas conversas não servem". Está aí. Papagaio come milho, periquito leva a fama. O periquito sou eu. Fraquejei: - Que diabo discutiam vocês? O meu ciúme tinha-se tornado sorriu e respondeu, hipócrita: - Literatura, política, artes, religião... Uma senhora inteligente, a Dona Madalena. E instruída, é uma biblioteca. Afinal eu estou chovendo no molhado. O senhor, melhor que eu, conhece a mulher que possui. (RAMOS, 2006, p.96) A interpretação do trecho acima pode aparecer de duas maneiras: A primeira fisicamente com Padilha, por achá-lo mais jovem e a segunda ideologicamente, pois Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 8 como não sabia discutir literatura, arte e comunismo, sentia-se deslocado quando via a sua esposa conversando ou instruindo alguém sobre seus direitos. Os dois espaços estudados acima fazem parte de um espaço humano, neles é possível enxergar a transformação da propriedade num lugar de confronto por conta das ideologias comunistas. Por fim, o ambiente sociopolítico que a obra carrega é o que proporciona a ação dos personagens, principalmente do narrador. Partindo para o elemento narrativo tempo pode se organizar de duas formas: uma pela enunciação e a outra pelo enunciado, observemos abaixo o conceito desta problemática temporal: Podemos falar, portanto, do tempo do discurso (enunciação) só quando esse tempo está representado dentro da obra, uma personagem apresetando-se como narrador, em sua função de locutor, revelada pelo aparelho formal da enunciação... (Enunciado) é o tempo dos acontecimentos, da história narrada, que pode se cronológico ou psicológico. (D’ONOFRIO, 2006, p.85) A tipologia do tempo é de suma importância para o entendimento das ações do romance São Bernardo, como já foi dito, Paulo Honório narra a história pelo viés da memorização. Observe o seguimento abaixo: Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe político local. Em conseqüência mordeu-me cem mil-réis. (RAMOS, 2006, p.49) A parte acima, o qual o narrador faz uma reificação, termo de Georg Lukács usado para transformar as coisas em riquezas, está enquadrada num tempo da narração. Essa indicação se dá pelo posicionamento temporal de Paulo Honório, que Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 9 não está como personagem e sim como narrador, ou seja, existe nesse ponto uma aproximação com receptor de sua mensagem, mesmo que venha ser ele ou leitor. Para exemplificar o tempo do enunciado, observemos a citação abaixo: Comunista, materialista. Bonito casamento! Amizade com o Padilha, aquele imbecil. "Palestras amenas e variadas." Que haveria nas palestras? Reformas sociais, ou coisa pior. Sei lá! Mulher sem religião é capaz de tudo... Procurei Madalena e avistei-a derretendo-se e sorrindo para o Nogueira, num vão de janela.Confio em mim. Mas enxerguei os olhos bonitos do Nogueira, a roupa bem-feita, a voz insinuante. Pensei nos meus oitenta e nove quilos, neste rosto vermelho de sobrancelhas espessas. Cruzei descontentes as mãos enormes, cabeludas, endurecidas em muitos anos de lavoura. Misturei tudo ao materialismo e ao comunismo de Madalena e comecei a sentir ciúmes. (RAMOS, 2006, p.155). Como se pode observar o tempo desta passagem está ligado ao enunciado, uma vez que quem fala já não é voz do Paulo Honório escritor, mas sim o Paulo Honório personagem. Quanto ao tempo psicológico, que praticamente move a obra, esse trecho é um dos pontos importantes, quiçá principal, pois informa onde o personagem começa a sentir ciúmes, e é esse sentimento que o transtorna e o desvirtua do seu mundo capitalista. Desta forma, o tempo diegético, no tocante do psicológico, contribui para afirmar que o ciúme doentio por Madalena não se deu somente pela questão da mulher que “trai” o seu marido, mas como também pelo fato dela saber discutir política socialista com os outros homens. 4. A transposição dos elementos narrativos do romance para o cinema. Comparar cinema e literatura não é um trabalho muito fácil, apesar da semelhança dos elementos narrativos existente neles. No entanto, devido às limitações e/ou recursos utilizados, cada um segue seu objetivo. A cinematografia Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 10 necessitava de sua própria linguagem, aliás, é nesse ponto que começa a separação no âmbito dos estudos da narratividade. Leia abaixo a analise de um funcionamento: A técnica de montagem, que do cinema passou para literatura, consiste na sobreposição de imagens e de planos, pela qual dois elementos são apresentados ao mesmo tempo. Podemos ter o tempo como elemento estático, sendo espaço que se move (montagem-doespaço) ou, vice-versa, o espaço resta imóvel e ao seu redor o tempo muda (montagem-do-tempo sobre o espaço). A montagem é uma técnica geral, que opera com ajuda de várias técnicas particulares, comum ao cinema e à narrativa literária: antecipação, retrospecção (flaschback), panorama, primeiro plano (close-up), cote, câmera lenta (slow-up), dissolvência em negro (fade-out), vista múltipla. (D’ONOFRIO, 2006, p.88) Esse exemplo da analise do tempo, nos apresenta o comportamento dos questionamentos colocados acima, uma vez, que se percebe o uso da linguagem e recursos de cada um. Outro ponto a reforçar e como informa o trecho, não só a literatura influenciou o cinema, mas como também o cinema transportou os seus termos para a literatura, claro que não com a mesma intensidade. O diretor seguiu no filme o texto integralmente, o que pode ajudar na analise, desta forma, será selecionada a mesma passagem do livro e do filme. A cena e o trecho que será exposto se passam num jantar onde estão presentes Paulo Honório (Oton Bastos), Madalena (Isabel Ribeiro), Luís Padilha, Seu Ribeiro, Azevedo Gondim, João Nogueira, D. Glória e Padre Silvestre. Lá acontece inicialmente uma discussão política voltado para o capitalismo e logo em seguida a história toma uma guinada para a ideologia comunista. Para início de conversa, trataremos das questões de enunciação e de enunciado, na literatura eles são diferenciados através de sinais gráficos, no cinema a problemática é notada por vários fatores, por exemplo, o Paulo Honório narrador se diferencia do Paulo Honório personagem pelo fato do primeiro ter fala implícita (fala cinema pelos sons) e o segundo explicita (fala pelas palavras, diálogos). Outro ponto Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 11 é a pronunciação das chamadas vozes: in (dentro) e over (locutor invisível), a primeira faz parte do Paulo Honório personagem e a segunda o narrador, e por fim pela entonação, onde o personagem é mais agressivo em seus discursos, já o narrador é brando. O ponto de vista ou focalização, ambos partem do narrador. Em São Bernardo a focalização é interna, ou seja, o narrador mostra os fatos a partir de sua consciência. No entanto, o inicio da imagem selecionada, em que todos estão no jantar, o que vemos não é visão de Paulo Honório, mas sim do “grande imagista”, o ponto de vista dele pode ser notado pelo seu silêncio na discussão socialista ou pelo seu olhar penetrado para os personagens, porém após o jantar, quando está do lado de fora, a câmera o mostra olhando para o lado e numa contiguidade do olhar do personagem, se transforma na visão do narrador. A questão espacial cinematografia é simultâneo a outros acontecimentos, e logicamente essa é a diferença da literatura. Observou-se na parte literária que o espaço físico chama a atenção, porém é o espaço ideológico que ganha destaque, ou seja, o que se chamou de espaço atópico. Transformando no espaço profílmico, é possível ver diante do comportamento silenciado do personagem principal, que ele não conseguia fazer parte da conversa que sua esposa e convidados debatiam. Outro ponto é a mudança leve saindo do centro para a esquerda, tirando-o do foco central, fazendo uma analogia com o estudo da espacialidade fílmica Paulo Honório saiu da disjunção proximal para uma disjunção distal no mesmo plano. A análise temporal seja no romance ou no cinema tem uma dupla temporalidade, ou seja, a dos fatos relatados e de como é narrada. Na literatura estudou-se acima a diferença entre o tempo da enunciação e do enunciado. Para o cinema, a abordagem da pesquisa constituiu-se na questão da ordem. O filme começa como na obra numa antecipação dos fatos (prolepse), segue em predominância na retrospecção e por final já não existe a diferença entre passado e futuro, o que vai existir é o presente fílmico. Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 12 Conclusão A pesquisa que teve como abordagem principal o romance e o filme São Bernardo, Graciliano Ramos e Leon Hirszman, se preocupou em relatar com o inicio teórico ou histórico de cada questionamento. Foram colocadas as idéias estruturalistas seja da linguística ou da literatura, conceitos sobre o comunismo, a ideologia marxista e os estudos dos elementos das narrativas literárias e cinematográficas. Os elementos da teoria narrativa é o carro chefe, muito embora tenha sido direcionado ao posicionamento político da obra e do filme. O intuito dessa canalização política e de arte engajada era só de não ficar diretamente na obra, como parece ser, mas como também de tornar público através dos trechos analisados, as denuncias do capitalismo selvagem que autor Graciliano Ramos quis passar no seu romance, e dessa formar ver como essas ideias foram passadas para o cinema. Assim sendo, o foco narrativo ou focalização, espaço e tempo da literatura e do cinema, ter uma linguagem técnica e específica para analisar as narrativas. Esses elementos da narratividade fez tornar possível a comparação entre as duas obras homônimas e esclarecer que a semelhança entre os dois cai por terra na teoria, ou seja, existe um “rio” entre eles chamado linguagem. Por fim, a teoria narrativa serviu de aparelho, mas o importante é que se pode manter a essência da obra São Bernardo como uma arte política engajada voltada para a conscientização de classes. REFERÊNCIAS D’ONOFRIO, Salvatori. Forma e sentido do texto literário. São Paulo: Ática, 2007. GAUDREAULT, A.; JOST. François. A narrativa cinematográfica. Brasília: UNB, 2009. GONÇALVES, Magaly. Teoria da literatura “revisitada”. Petrópolis: Vozes, 2005. HIRSZMAN, Leon. S. Bernardo. DVD. 2009. Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 03 e 04 de maio de 2012. ISSN: 2175-4128 13 MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997. RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2008.