OS ESPAÇOS EDUCATIVOS ALÉM DA SALA DE AULA: REFLEXÕES A PARTIR DA PERSPECTIVA DOS SUJEITOS Acadêmica: Maria Albertina da Silva Profa. Orientadora: Paula Alves de Aguiar Resumo Este trabalho trata-se de uma pesquisa sobre os espaços educativos (distintos da sala de aula) produzido a partir do campo de estágio campus Florianópolis, com o objetivo de compreender os espaços de convivência e a interação entre comunidade escolar. Entretanto, aplicou-se um questionário aos alunos e elaborou-se uma entrevista com o professor, ambos o questionário e a entrevista revelaram-se fontes riquíssimas sobre a relevância, a definição e quais espaços extraclasse são utilizados pelos alunos. Através desses espaços pode-se perceber o quão espontâneo a contribuição referente ao conhecimento, fator essencial, a formação do indivíduocidadão. Palavras chaves: sujeito da aprendizagem, campo de estágio, espaços de convivência. Introdução O Estágio de Observação II foi realizado no Instituto Federal de Santa Catarina Câmpus Florianópolis, no ano de 2014/2. A primeira vista foi um desafio, desafio porque primeiramente estava sendo em química, o que anteriormente foi feito em ciências, e segundo porque seria escrito de uma forma diferente da anterior, nos moldes de um ensaio. Para a pesquisa, a acadêmica queria algo relacionado ao educando, pois pensa que é para eles que se futuramente irá trabalhar e informar ao longo do exercício da docência. O primeiro contato com o professor de química observado foi na sala de orientação de fluxo escolar, para o recebimento das chaves, onde todos os profissionais passam antes de ir para as salas e começarem as aulas. Enquanto isso, os alunos aguardam o professor no corredor, onde há muita algazarra, os mesmos esperam em fila ou sentados no chão, ou até mesmo encostados nas paredes. O professor de química observado trabalha fazendo com que a turma participe e se interesse pelo conteúdo, procurando sanar as dúvidas dos discentes. A partir das primeiras visualizações, definiu-se como objetivo conhecer quais espaços da escola, além da sala de aula, constituem-se como locais de aprendizagem. O professor observado auxiliou a atingir esse objetivo ao responder uma entrevista. Alguns dados dessa interlocução com o professor serão utilizados na fundamentação e discussão dos dados deste ensaio. As palavras do mesmo fizeram a diferença, foi com a percepção de ambos, professores e alunos (sobre os espaços de convivência da escola alem da sala de aula) que se pode vislumbrar as ações e concepções dos indivíduos nesses espaços. A pesquisa foi realizada a partir da observação e aplicação posteriormente de questionários aos alunos do curso integrado em saneamento e também da entrevista com o professor. Este trabalho teve por objetivo compreender o significado dos espaços de convivência (distintos da sala de aula) nas dependências do instituto, bem como a contribuição destes espaços para a interação entre a comunidade escolar. Para complementar o trabalho procurou-se, mapear os espaços de convivência na Instituição utilizados pelos estudantes da turma investigada e, analisar a contribuição desses espaços para interação entre os estudantes, os estudantes com os professores, os estudantes com a equipe pedagógica e os estudantes com os demais servidores da Instituição, além de entender a importância destes espaços na formação escolar dos estudantes. As relações nos espaços educativos A convivência educacional dos alunos nos diferentes espaços institucionais é importante para o desenvolvimento intelectual e emocional dos mesmos. Esses espaços contribuem para o aprendizado, estreitamento de relações, como as amizades, o lazer e até mesmo a prática de esportes. O trecho retirado do relatório do Brasil (2003, p.2) relata que: Aprende-se participando, vivenciando sentimentos, tomando atitudes diante de fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos. Ensina-se não só pelas respostas dadas, mas principalmente pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação desencadeada. (documento da Escola Plural, MG) Percebe-se, portanto, que os espaços de convivência são essenciais ao desenvolvimento do aluno como ser que constrói e transforma a realidade em que vive, não cabe a escola somente transmitir conhecimento, mas fazer o discente ser autor do próprio conhecimento e transformador da sua realidade social (BRASIL, 2003, p.2). De acordo com Nascimento (2009, p.379) o sentido pedagógico dos processos educativos são apontados como o intervalo entre aulas, a biblioteca, o auditório e inclusive os recursos didáticos que dão suporte ao desenvolvimento e sentido as aulas, sendo estas atividades formadoras e que integram os indivíduos, nestes espaços que além da sala de aula são educativos e de convivência escolar. A educação não se dá somente em sala de aula através da exposição de um currículo conteudista (Freire, 1993, p.15), mas sim ao colocar o aluno em contato com um leque de possibilidades culturais como, por exemplo, o ocorrido no evento da própria Instituição Câmpus Florianópolis na Semana de Tecnologia. O indivíduo em si procura estar em locais onde pode haver satisfação pessoal e intelectual mesmo inconscientemente ele está adquirindo conhecimento, pois o ser humano aprende a partir do prazer e da ação de praticar algo. Os Espaços de Convivência Educacional acontecem além da sala de aula, como relata Paro (2010, p.773) [...] por mais que se insista os conhecimentos e informações não se transmitem sozinhos, isolados de outros elementos da cultura. Isto porque, para querer aprender, a criança ou o jovem deve pronunciar-se como sujeito, deve envolver sua personalidade plena, colocando em jogo os demais elementos culturais componentes dessa personalidade (valores, crenças, emoções, visões de mundo, domínio da vontade etc.). O indivíduo não consegue viver sozinho deve estar sempre em companhia de alguém ou alguma coisa, assim acontece com o conhecimento, o ser humano não aprende isoladamente, ele precisa de alguém que o transmita, que troque ideias, aprendizados, pois é nesse compartilhamento ou via de mão dupla quem ensina aprende e quem aprende também ensina o sentido da cidadania. Entretanto, Paro (2010. p. 771) propõe o seguinte: [...] concepção radicalmente democrática de mundo, admite-se que os homens nascem igualmente com o direito universal de acesso à herança cultural produzida historicamente, então a educação – meio de formá-lo como humano-histórico – não pode se restringir aos conhecimentos e informações, mas precisa, em igual medida, abarcar os valores, as técnicas, a ciência, a arte, o esporte, as crenças, o direito, a filosofia, enfim, tudo aquilo que compõe a cultura produzida historicamente e necessária para a formação do ser humano-histórico em seu sentido pleno. De acordo com o docente entrevistado, deve-se ter um objetivo quanto a saída para os espaços extra-classe, pois caso contrário os discentes não alcançarão o que foi proposto para a aula, ficarão perdidos não conhecendo sentido da prática pedagógica, os mesmos pensarão que é apenas mais uma saída qualquer (lazer) (Professor, entrev.29/10/2014). Paro (2010. p. 771) corrobora com essa afirmação quando afirma que não é somente em sala de aula que se constrói conhecimento, pois as questões culturais também devem fazer parte da educação e da história-humanística do mesmo, o que completa e dá sentido as observações feitas pelo discente e pelos estudantes da turma de estágio investigada. A apropriação da cultura é a educação em si, pois não se resume a transmissão do conhecimento, mas sim a apropriação literal da cultura (conhecimentos, valores, filosofia, artes...), que culmina na humanização do indivíduo, tornando este cidadão no sentido pleno da palavra. A escola deve, portanto, propiciar condições para que os sujeitos se apropriem dessa cultura. Educador e educando se formam e se transformam no processo educativo. Freire em entrevista republicada por Pelnadré (2014, p. 15) na revista EJA em Debate, relata que “uma terceira conotação da prática educativa é que não há, nunca houve e nem vai haver, uma prática educativa que não seja cognitiva, quer dizer que não seja gnosiológica.” Os alunos da turma observada no estágio, percebiam a importância dos espaços de convivência educacional, e a maioria respondeu dizendo que nestes espaços há uma interação entre os mesmos, pois de fato é a partir desta interação também irá ocorrer o aprendizado. Metodologia Foi elaborado um questionário com sete questões, entre estas, duas questões abertas, sendo estas para justificar, e as outras questões fechadas, marcando com x o aluno e somente uma questão com relação à coluna ao lado. O questionário foi aplicado aos 26 educando da turma observada no dia 22/10/2014, que estavam presente, um somente não quis responder e outros três alunos faltaram. O questionário foi elaborado para verificar e entender como os alunos do Câmpus usufruem os espaços de convivência, através de questões diretas, como “O que você entende como espaços de convivência educacional (distintos da sala de aula)?”, “Você acha importante? Por quê?”, “Quais desses espaços do Campus, você utiliza para o lazer?” e outra. As questões eram claras e objetivas para os estudantes responderem, por isso, a resolução foi rápida e contribuíram para escrita compreensão sobre suas percepções. Como comentado anteriormente, para atingir os objetivos desta pesquisa, foram realizadas cinco observações no campo de estágio e uma entrevista com o professor. Discutindo sobre os espaços educativos além da sala de aula O intervalo ou o recreio, como popularmente conhecido, é local onde os discentes se tranqüilizam e se preparam para a próxima jornada, as duas últimas aulas de praticamente duas horas, somando com as duas aulas anteriores somam-se 4 horas diárias entre aulas e intervalo (BRASIL, 2003, p.2). No intervalo a maioria dos alunos observados se reuniam na cantina, outros ficam em torno de uma espécie de praça que se localiza em frente ao prédio do colégio, alguns ficavam nos bancos no térreo do prédio. Todos estes alunos aguardam o sinal de entrada para as duas últimas aulas, em meio a jogos, conversas, risadas, lanche e a todo tempo em mãos um celular. Os alunos enquanto conversam com os colegas, estavam conectados a internet ou jogando jogos no celular, era raro ver os adolescentes desprovidos do porte de nenhum tipo de tecnologia, por exemplo, o celular ou um tablete. Alguns foram vistos sozinhos em determinados locais como nos corredores ou nos bancos, porém com um celular em mãos, digitando algo ou jogando. Pode-se perceber que os alunos investigados no estágio de observação, sabiam a importância dos espaços de convivência educacional. A maioria disse, conforme já comentado que nestes espaços há uma interação, defende-se que é a partir desta interação que irá ocorrer o aprendizado, construído junto com os colegas que compartilham esses espaços. De acordo com Freire, em entrevista com Pelandré (2014, p. 15). [...]não há pratica educativa que não envolva um certo conteúdo, por isso é que, para mim, é profundamente ingênuo falar de uma pedagogia de conteúdo, porque do conteúdo, apesar de dizerem que eu quer dizer, não existe pedagogia sem conteúdo, apesar de dizerem que eu defendo a pedagogia dos desconteudistas. As duas questões abertas apresentadas no questionário, resumiam-se em justificar a importância dos espaços de convivência e a outra era relatar se consideravam os espaços são momentos de adquirir conhecimento além da sala de aula. A primeira questão aberta sobre a importância dos espaços de convivência, todos os alunos responderam que sim e justificaram apontando sobre a “interação entre colegas”, “com as pessoas”, a “troca de idéias” e “conhecimento”, “novas amizades”, ‘local silencioso’, ‘porque ajuda nos estudos’, “no desenvolvimento do aluno”, “estar com os amigos” e “colocar as matérias em dia”. O que foi respondido pela grande maioria é que utilizam estes espaços para se reunirem com amigos e colegas, prevalecendo então, a interação entre os alunos de acordo com os mesmo. Defende-se que o aluno aprende também a partir de outro aluno nos espaços de convivência e nem sempre se dão conta, pois é na troca de idéias com o outro que também é um meio de adquirir conhecimentos, formando-se como sujeitos também a partir dessas interações (PELANDRÉ, 2014, p.15). A resposta de um aluno chamou a atenção, comentando que contribui para o bem estar e maior felicidade a instituição. Este aluno passa a informação que os espaços de convivência são locais de relaxamento para retornar a aula em sala bem disposto. A todo o momento os indivíduos estão aprendendo “coisas”, movidos pela curiosidade ou não, o simples fato de observar algo é um indicativo de aprender alguma coisa (PELANDRÉ, 2014, p.14). Um aluno apenas assinalou a alternativa não, sobre: “Você acha que esses espaços são momentos de adquirir conhecimento, além da sala de aula? Por quê? justificando que é o local onde relaxa e conversa com amigos. Não considerando que a interação com os colegas também pode gerar aprendizados. Todos os espaços além da sala de aula são locais para se aprender independente do tipo do aprendizado. Segundo o docente entrevistado no estágio, “a educação se dá em qualquer momento dentro da sala de aula ou em movimento social, no dia-a-dia.” “Qualquer espaço enquanto se discute a educação pode ser espaço educacional.” (Professor, entrev. 29/10/2014). Com base nos estudos realizados, concorda-se com essa afirmação do professor. Nesta questão cinco do questionário, é visto que os alunos em sua maioria utilizam as horas vagas nas dependências da instituição para conversar, jogar e ouvir música, essas opções também são importantes para o desenvolvimento do aluno, pois são nessas horas e espaços que eles interagem trocando experiências, adquirindo conhecimento e transformando a realidade na qual vivem. Conforme o relatório do Conselho Nacional de educação, os espaços educativos, sãos essenciais para o desenvolvimento do ser humano e suas relações sociais e interações com o outro na busca de conhecimento (BRASIL, 2003, p.2). A questão seis do questionário era para o aluno responder “Quais espaços gosta mais de ficar?” A grande maioria mais precisamente 22 alunos responderam uma alternativa como cantina, centro de convivência, quadra de esportes, biblioteca e outros. No entanto, o mais citado pelos alunos foi cantina e centro de convivência. As respostas dos discentes mostram que eles procuram se apropriar de questões culturais como conhecimentos, valores, filosofia, artes, nos espaços de convivência onde possibilita que os mesmos sejam sujeitos na formação do próprio aprendizado. Considerações finais Este trabalho foi de extrema importância para se conhecer os espaços de convivência do câmpus Florianópolis, através do olhar do aluno e do educador que defende a importância de utilizar esses espaços em prol da formação do aluno. A pesquisa mostrou a preferência dos educandos por alguns espaços dentro da escola, como utilizam, e também o que eles entendiam sobre a relevância desses espaços para seus aprendizados. O estágio de observação foi relevante a acadêmica tendo em vista a formação e o exercício da docência da mesma. Os autores que deram suporte a pesquisa possuem ideias que podem ser articulada com o tema, ressaltando a questão do sujeito humano-histórico, “o homem deve estar integrado e está, independente de sua cultura, valores e etc, ele é sujeito de sua realidade” (PARO, 2012, p. 771) Conforme afirma o professor entrevistado, “a educação está presente onde se propõe a discutir e ensinar ao indivíduo, ou seja, todo espaço se torna educativo onde se discuti a educação” (Professor entrevistado (29/10/2014), por isso todo espaço além da sala de aula se torna propício para o desenvolvimento de práticas educativas. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação. Relatório: Conselho Nacional de Educação. publicado no Diário Oficial da União de 3/7/2003. NASCIMENTO, F.C.F. Da escola ao espaço educativo O novo sentido pedagógico. art dez.2009. PARO, V. H. Implicações do caráter político da educação para a administração da escola pública. Art. Universidade de São Paulo. 26 set.2002. PELANDRÉ, N.L.Entrevista com Freire. 2ª Ed. revista EJA em Debate. ano3,n4,jul.2014.p.15. .