Dinâmica dos Agrupamentos de Centros de Saúde Luís Velez Lapão IHMT, Universidade Nova de Lisboa O relatório de 2008 da Organização Mundial de Saúde, “Primary Health Care, Now More Then Ever” (WHO, 2008), reitera a importância dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), isto 40 depois de Alma-Ata (1978). O percurso dos CSP em Portugal é indiscutivelmente uma história de sucesso, sobretudo devido à acção de um conjunto de pessoas, umas visionárias, outras líderes e outras corajosas que tiveram a audácia de participar no desenvolvimento dos CSP desde os anos 60. A já longa história dos CSP pode ser resumidamente caracterizada por um conjunto de acontecimentos: a criação dos centros de saúde de 1ª geração, o serviço médico à periferia, a criação da carreira de medicina familiar, a criação da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral, que promoveu espaços de reflexão de onde resultaram documentos como o “Livro Azul”, etc. A seguir, na Fig.1, mostra-se um pouco da evolução dinâmica dos CSP (e de inovação) ao longo dos últimos 40 anos (Lapão, 2008) relacionada com a melhoria da acessibilidade. Figura 1. Evolução Dinâmica e Complexa dos Cuidados de Saúde Primários (modelo de inovação). Fase de Iniciação Fase de Planeamento Execução e Controlo Fase de Maturidade PACES e Outros APMCG CS Alma 1ªG -Ata CS 2ªG Livro Azul CS MSCP USF ACES ACES Alfa 2.0 - RRE CS SNS Serviço Médico à Periferia 3ªG New Public Management SLS Tempo (Lapão, 2008) A evolução complexa dos CSP está extraordinariamente ligado à dinâmica da difusão da “inovação”, pois é clara a identificação das fases de “iniciação”(primeiros anos: 60-76), “planeamento” (77-96), “execução” (97-2012, até ao primeiro mandato de Directores Executivos) e “maturidade”. Um dos resultados deste conjunto de acontecimentos, que sendo de todos sabido, mas nunca é demais referi-lo, é o trajecto de sucesso (atribuível a várias entidades e durante os últimos 50 anos) na redução da taxa de mortalidade infantil, ilustrado na Fig. 2 (Biscaia et al., 2005). TM infantil TM perinatal TM neonatal TM neonatal precoce TM neonatal tardia TM pós-neonatal 606162636465666768697071727374757677787980818283848586878889909192939495969798990001 Ano Figura.2 – Evolução das Taxas de Mortalidade Infantil (1960-2001). Em Biscaia et al. (2005) apresenta-se um estudo que correlaciona “Ganhos em Saúde” com diversos factores, nomeadamente o factor económico (PIB), o factor dos CSP e o factor dos cuidados secundários (hospitalares, CH). Na fig.3 mostra-se o resultado deste estudo e que evidência a importância do factor CSP em algumas áreas como seja na mortalidade pós-neonatal, taxa de mortalidade materna, taxa de mortalidade por tétano. 100% G rowth in G D P per c apita (c ons tant pric es ) 80% E fforts to develop the hos pital network by inc reas ing the number of hos pital phys ic ians + nurs es (per inhabitant) 60% 40% E fforts to develop P HC by inc reas ing the number of P HC phys ic ians + nurs es (per inhabitant) 20% 0% Infant P erinatal Neonatal P os tC hild Maternal Tetanus mortality mortality mortality neonatal mortality mortality mortality mortality 1-4 years Fig. 3. - Correlação entre “Ganhos em Saúde” e os esforços associados aos CSP, aos CH e do PIB. Tendo isto em conta, podemos combinar estes resultados e definir uma função “qualidade de serviço” para os CSP fig. 4. Notar a evolução ao longo do tempo e a sua relação com políticas de saúde viradas para os CSP: vacinação, saúde infantil, saúde materna, reforma dos CSP, etc. Fig. 4. Indíce de qualidade de serviço dos CSP (1960-2008). Este “índice de qualidade de serviço” permite “medir” o impacto dos serviços de CSP nos ganhos em saúde, neste caso o impacto da organização dos serviços prestados e dos recursos disponibilizados. É curioso comparar a curva da fig. 1 com a fig. 4, sobretudo notando o crescimento a partir de 2005 que poderá estar já associado ao esforço de reforma dos CSP, nomeadamente à criação das USF (unidades de Saúde Familiares) e de uma “onda” de reflexão e de mudança suportada essencialmente pela criação de uma “task force” (a Missão para os Cuidados de Saúde Primários: MCSP) que veio gerir, promover e mostrar que era possível trabalhar de uma outra forma, potenciando o que as teorias recentes da complexidade organizacional afirmavam sobre o valor das “auto-organizações” em saúde (Lapão, 2008). O processo de “Reforma dos CSP”, teve inicio com a preparação e criação das USF por profissionais de saúde “voluntários”(as primeiras surgiram em 4 de Setembro de 2006, depois de cerca de 1 ano de trabalho), mostrando a vontade e a capacidade dos profissionais de saúde, e note-se de “baixo para cima”, de se organizarem de modo mais adequado e para responderem melhor às necessidades efectivas dos utentes ou dos cidadãos. O processo de transformação dos centros de saúde em USF, implicava também que todos os serviços prestados aí se organizassem em unidades funcionais focadas em servir com base em objectivos contratualizados. Neste momento existem já 232 USF, que correspondem a cerca de 27% dos CSP, as UCSP (unidades de Cuidados de Saúde Personalizados) estão também a começar a organizar-se (processo que deverá prolongar-se por 2010, com a ajuda e “empurrão” dos Directores Executivos), e iniciou-se também o processo das UCC (unidades de Cuidados na Comunidade), mesmo que ainda um pouco fragilizado por indefinições relevantes e que podem levar a algum conflito com os serviços das UCSP. E para que estas unidades funcionem de forma articulada, com capacidade de gestão de proximidade (dos problemas e das necessidades das populações) e para que ganhos de escala possam permitir o desenvolvimento da governação clínica nos CSP, a “reforma” previa a criação dos ACES (Agrupamentos de Centros de Saúde), estes sim, uma estrutura que dará suporte à reforma e a uma nova cultura de trabalho focada no servir as populações adequadamente e com qualidade. Num artigo publicado no final de 2008 sobre complexidade dos CSP (Lapão, 2008) faz-se uma análise sobre a adopção do modelo de gestão das USF ao longo do tempo (Fig. 5), onde se salienta uma certa desaceleração na difusão do modelo que pode significar que a “fonte” de voluntários para entrar no modelo estaria a reduzir-se (comparar por exemplo com o modelo da difusão da inovação na figura 1.). Figura 5. Evolução temporal da Adopção do Modelo de Gestão das USF Contudo, os dados da MCSP (2010) sobre o número de USF criados em 2009 mostra que houve um retomar da procura do modelo (69 em 2009 face a 56 em 2008, um aumento de 23% que é muito significativo), que poderá ser explicado com a criação dos ACES (e com as estruturas que o suportam) que veio dinamizar a adopção das USF, pois o seu enquadramento nos ACES seria reforçado. A acrescentar a isto o envolvimento no terreno dos Directores Executivos em muito contribuiu para esta dinâmica, quer no apoio da negociação, quer no apoio na procura de soluções de logística. Organização dos Agrupamentos de Centros de Saúde O Decreto-Lei n.º 28/2008 estabelece (em Diário da República) o regime da criação, estruturação e funcionamento dos agrupamentos de centros de saúde (ACES) do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que é acompanhado pela extinção das sub-regiões de Administração Regional. Uma das principais novidades do diploma consiste na criação de agrupamentos de centros de saúde (ACES) como serviços públicos de saúde com autonomia administrativa, constituídos por várias unidades funcionais, que agrupam um ou mais centros de saúde, e que têm por missão “garantir a prestação de cuidados de saúde primários à população de determinada área geográfica”. Os ACES podem, neste quadro legal, compreender as seguintes unidades funcionais: Unidade de saúde familiar (USF); Unidade de cuidados de saúde personalizados (UCSP); Unidade de cuidados na comunidade (UCC); Unidade de saúde pública (USP); Unidade de recursos assistenciais partilhados (URAP); Unidade de Apoio à Gestão (UAG); Outras unidades ou serviços propostos pela respectiva administração regional de saúde (ARS) e aprovados por despacho do Ministro da Saúde. Cada unidade funcional deve assentar numa equipa multi-profissional, com autonomia organizativa e técnica, estando garantida a intercooperação com as demais unidades funcionais do centro de saúde e do ACES (a gestão pelo Director Executivo e a componente clínica pelo Conselho Clínico). Está prevista a existência de um conselho da comunidade (envolvendo vários parceiros incluindo as Câmaras Municipais, cabendo a presidência do órgão a uma destas), sendo ainda mantido o gabinete do cidadão. É no entanto importante realçar que compete especialmente ao gabinete do cidadão: Verificar as condições de acesso dos utentes aos cuidados de saúde; Informar os utentes dos seus direitos e deveres como utilizadores dos cuidados de saúde primários; Receber observações, sugestões e reclamações dos utentes relativos aos cuidados prestados e responder às mesmas; Verificar regularmente o grau de satisfação dos utentes do ACES. Para efeitos de gestão, o modelo prevê ainda a existência de “contratos-programa”, enquanto acordos (negociados e) celebrados entre o director executivo do ACES e o conselho directivo da ARS, pelo qual se estabelecem, qualitativa e quantitativamente, os objectivos anuais do ACES e os recursos afectados ao seu cumprimento e se fixam as regras relativas à respectiva execução. Foi fixado em 74 o número máximo de ACES. A delimitação geográfica deve corresponder a NUTS III, a um agrupamento de concelhos ou a um concelho. O número de pessoas residentes na área do ACES não deve, em regra, ser inferior a 50.000, nem superior a 200.000. Para fins de cuidados personalizados, são utentes de um centro de saúde todos os cidadãos que nele queiram inscrever-se, com prioridade, havendo carência de recursos, para os residentes na respectiva área geográfica. Como a MCSP reconhecia a importância que os Directores Executivos (DE) dos ACES iriam (e estão) ter no processo de mudança organizacional, a sua estratégia implicou quer a definição (algo inovador) quer de perfis específicos para os DE (e que iriam servir de referência às Administrações das ARS na sua nomeação) e promoveu ainda a frequência de um curso de formação específico em Gestão para os DE em colaboração com o INA. O processo de construção do curriculum do curso, denominado PACES (Programa Avançado de Gestão para Directores Executivos de ACES), levou cerca de dois anos de trabalho, discussão e afinamento. Esta medidas promovidas pela MSCP, enquadram-se dentro do que é hoje a área do “desenvolvimento organizacional”, que preconiza a criação de uma cultura de acção para a mudança através da escolha selectiva dos profissionais (Pfeffer, 1998), da aposta em formação específica e focada na acção e promotora de práticas de inovação e rede colaborativa de profissionais, para que consigam ter capacidade para enfrentar a resistência natural dos serviços de administração pública, nomeadamente fazendo face a uma organização em alguns aspectos anacrónica como as ARS, que, em alguns casos acumulam agora os serviços desempenhados pelas as ex-Sub-Regiões de Saúde. Dificuldades de Gestão de Recursos Humanos no Contexto da Reforma dos CSP Os autores do livro “Cuidados de Saúde Primários em Portugal - Reformar para Novos Sucessos” salientam que “Portugal tem uma orientação forte para os cuidados de saúde primários em termos teóricos, mas, na prática, está mais virado para os hospitais”. Prova disso é o facto de o número de profissionais de saúde afectos aos cuidados hospitalares ser muito superior aos dos cuidados primários: há falta e má distribuição de médicos e de enfermeiros, para além de faltarem muitos técnicos de Saúde. O estudo salienta ainda que “Portugal tem uma orientação forte para os cuidados de saúde primários (CSP) em termos teóricos, mas, na prática, está mais virado para os hospitais”: veja-se o número de profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) afectos aos cuidados hospitalares ser muito superior aos dos CSP. O secretário de Estado da Saúde não negou que a insuficiência de recursos humanos é a principal dificuldade sentida na actual reforma dos cuidados de saúde primários (JN, 28.9.08). No entanto, o Dr. Manuel Pizarro salientou que no quadriénio 2005/2008 foram aceites 864 médicos em internato de medicina geral e familiar e que, em 2009 foram aceites mais 300. Contudo a Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral afirma a sua preocupação com os recursos humanos que considera ser uma das prioridades dos CSP, pois se "até 2016 poderemos formar 2.400 médicos, contudo até 2016 irão aposentar-se 4.000...". Daí que os desafios e as prioridades nos CSP sejam, "obviamente", os recursos humanos, o desenvolvimento da reforma, a atribuição de médico de família a todos os cidadãos, a sustentabilidade do sistema, a governação clínica e a gestão integrada da doença, entre outros. Então, em face destas dinâmicas, poderíamos perguntar: Como se pode fazer (que estratégias, que ferramentas, como avaliar e corrigir) o “caminho” da Reforma dos CSP? Tempo Contratualização ARS 2.0 2009 A 2010 2011 ... Estratégi a /PNS DE Decisão SI Serviços Partilhados B Conhecimento Operações ? CC UAG ACES Figura 6. – Como se faz o Caminho da Reforma até à concretização dos ACES O processo de reflexão feita sob a égide da MCSP, envolvendo vários ideólogos e especialistas, sob a reforma veio a preconizar um ACES com autonomia suficiente para ter capacidade de agir em prole das comunidades que serve. Investigação recente (Lapão, 2006) mostra a vantagem da dinâmica “triangular” (uma dimensão atenta aos “accionistas”, outra focada na capacidade de “produção”, e ainda outra com capacidade de “suporte” ás outras) como estrutura base de referência para organizações “auto-organizadas” em ambiente de incerteza que caracteriza a saúde. A relação com a ARS deverá a evoluir tendo em conta dois pólos principais, por lado melhorar a relação estratégica e de planeamento (suportada pela ferramenta “contratualização”), e por outro a gestão de “serviços partilhados” ser gerida por uma UAG (Unidade de Apoio à Gestão) leve em recursos, mas dotada das competências essenciais. Esta estrutura organizacional poderá permitir espaço para que se possa desenvolver a governação clínica de forma sustentada. Para se desenvolver a mudança organizacional efectiva houve a preocupação de, antes mesmo de ocuparem os respectivos lugares (Abril 2010), que os directores dos agrupamentos de centros de saúde (ACES) tivessem acesso a formação específica, direccionada para as funções que iriam ocupar. Trata-se de uma iniciativa inédita e inovadora na Administração Pública Portuguesa. Esta aposta na formação é devida à visão da equipa da Missão dos Cuidados de Saúde Primários (MCSP). Foram os seus responsáveis que tiveram a ideia de realizar este programa de formação, pese embora a responsabilidade de construir o programa e de dar corpo a este desafio tenha sido minha, mas sempre em estreita colaboração com a MCSP. A MCSP definiu também, com muita clareza, o perfil de competências dos directores executivos dos ACES. Por isso, um programa de formação dos Directores Executivos dos agrupamentos de centros de saúde (PACES), teria que promover a existência de uma arquitectura em rede de unidades de saúde (mais próximas dos cidadãos), com um sistema de partilha da informação que é vital para a sustentabilidade (via reflexão e via aprendizagem) da reforma dos cuidados de saúde primários. O programa avançado PACES, pretendia fornecer as ferramentas fundamentais de gestão, numa dinâmica de “formação-acção”, favorecendo as práticas de inovação (que felizmente muitos DE têm demonstrado estar a aplicar, mas outros não) e sobretudo criar uma rede de colaboração entre DE, através de um portal “google” que lhe permite aceder, disponibilizar informação e trabalhar documentos em ambientes colaborativos. Mas, ao contrário do esperado não se estabeleceu uma rede, mas sim três redes (Norte, Centro e Sul), pois a dimensão 73 DE era muito grande, e o desconhecimento pessoal (e logo ausência de plena confiança) levou à “emergência” de três redes sociais que partilham uma cultura própria e uma relação específica com uma ARS. De facto, estamos já na era da “Saúde 2.0” (leia-se 2ª geração): onde a complexidade da gestão da Saúde exige profissionais altamente qualificados e ligados numa rede, que lhes permite procurar e partilhar soluções para os problemas organizacionais e de serviços, se possível em estreita ligação com os cidadãos. Henry Mintzberg salienta, em várias das suas obras, a importância da gestão para o bom desempenho das organizações. Para tal, é preciso ter um bom domínio das ferramentas de gestão (focadas em objectivos de criação de valor para os cidadãos) e da sua aplicação. As ferramentas de gestão têm vindo a ser usadas com mais veemência por outros sectores da economia, estiveram durante muito tempo arredadas da saúde. Outra tendência do nosso tempo é a “dinâmica das redes sociais”, corporizada pela internet e hoje pela Web 2.0, i.e. pelo enriquecimento da relação envolvendo os cidadãos/utentes, potenciando as “ideias e sugestões” dos cidadãos para melhor ajustar os serviços prestados. É de salientar ainda a motivação e o esforço dos médicos e gestores que em Abril de 2009 começaram a ocupar os cargos de direcção dos ACES. São pessoas que estão a colocar a sua experiência em serviços de saúde, e uma enorme vontade de participar neste processo de mudança, apesar das dificuldades no terreno (sobretudo a falta de recursos, a inexistência generalizada da UAG e o ainda incipiente desenvolvimento da governação clínica) e o sacrifício que isto tem implicado ao nível da sua vida privada. Considero que as unidades de saúde, como qualquer outra organização face à incerteza, necessitam de ser geridas tendo (sempre) por base uma estratégia (com base em pressupostos como a estratégia definida pela ARS, o Plano Nacional de Saúde, etc.), cujo principal responsável deve ser o DE, e não apenas a mera administração diária dos recursos (atitude de “bombeiro”). Para tal é crucial desenvolver um enquadramento e um pensamento estratégico com forte ligação a ARS, através do instrumento de contratualização, que considerando prioridades de distribuição do processo decisório que permita melhor decisão dos recursos disponíveis para satisfazer as necessidades dos cidadãos. Considero que a lei “fundamental” da gestão é a “lei de Pareto” (vulgarmente conhecida por 80/20), sugerindo ao gestor que este deve procurar focar e ganhar sensibilidade nos processos prioritários e que tenham mais impacto para a organização. Por outro lado, o novo modelo de governação das unidades de saúde deve ter em consideração que o nível fundamental deverá ser o de uma unidade de saúde ligada a redes de conhecimento técnico-científico. É justamente essa rede de agentes inteligentes que estamos a ajudar a criar. Cada um dos Directores Executivos vai ter que encontrar a forma de, localmente, encontrar o melhor caminho e criar as suas equipas “auto-organizadas”. Mas, claro, isso vai levar o seu tempo e uns serão mais rápidos que outros. Mas a realidade mostra que a maioria dos DE está já a desenvolver um trabalho muito profissional demonstrável pela gestão do “processo Gripe A” e pela promoção de novas unidades funcionais, nomeadamente USF, UCSP, UCC, USP, etc, e a ser bem aceite na comunidade “ACES”, apenas sofrendo muitos deles de algumas fragilidades relacionadas com deficit de recursos humanos e de processos confusos de trabalho com as ARS. Devemos ainda ter em atenção que a reforma dos cuidados de saúde primários começou na realidade há 30 anos com a primeira geração de centros de saúde. Numa “mudança de época” como a que vivemos hoje, o recurso a uma rede de conhecimento é ajuda fundamental para que as organizações respondam e se adaptem rapidamente aos novos desafios e às oportunidades para trazer os cidadãos para dentro do sistema. Neste contexto, a formação dos DE dos ACES abrange áreas como “a complexidade das organizações e a importância das redes”, “estratégia, inovação e gestão de projectos”, “recursos humanos, liderança e colaboração”, “contratualização interna e externa”, “gestão de recursos e logística” e, por último, “a governação clínica”. Um outro aspecto importante prende-se com a avaliação de desempenho, nomeadamente com um conjunto de novas regras a implementar a partir de 2010 nos ACES. Um documento elaborado pelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento da Contratualização com os Cuidados de Saúde Primários, segue a mesma lógica, em termos de contratualização, que já existia para as unidades de saúde familiar (USF). A intenção da tutela é que os ACES estabeleçam, já em 2010,uma proposta de plano de desempenho, negociado com a respectiva administração regional de Saúde (ARS), que dará origem a um contratoprograma a ser firmado no primeiro trimestre do ano. No plano de desempenho a ser proposto por cada um dos 68 ACES (não envolvidos em ULS) deverão constar: a caracterização do agrupamento (base populacional, equipamentos, recursos humanos, actividade assistencial, custos/proveitos); as linhas estratégicas a prosseguir (na sequência do que tem vindo a ser definido pela Direcção-Geral da Saúde e pelo Alto Comissariado da Saúde), os planos de actividades e de formação; uma carta de equipamentos em Saúde; o mapa de recursos humanos por unidade; o plano de investimentos; os indicadores de desempenho e o orçamento económico (sendo que os Aces não têm autonomia financeira e estão limitados pelos orçamentos das ARS). Para o efeito foi definido um conjunto (demasiado) extenso de indicadores (83) de desempenho que serão pretensamente avaliados em 2010, entre eles o acesso, a qualidade técnica/efectividade, a qualidade percepcionada pelos utentes, a qualidade de registos e a eficiência em termos de prescrição de medicamentos e meios complementares de diagnóstico e terapêutica, à semelhança do que sucede com as USF. O contrato-programa a estabelecer com cada um dos ACES irá considerar “a capitação ajustada pelo risco associado a uma componente variável de pagamento por desempenho”que estará ligada ao cumprimento de metas. Contudo este plano tem alguns condicionalismos. Para o arranque e sucesso deste plano de desempenho, os responsáveis do grupo de trabalho admitem que é preciso ainda ultrapassar um conjunto de “condicionalismos” relacionados com os “sistemas de informação”, a “distribuição e disponibilidade de recursos humanos”, a “unidade de apoio à gestão”, a “criação das unidades funcionais” e a “gestão financeira”. Foram identificados pelo menos “14 unidades funcionais de saúde (em 7 ACES) sem instalação de SAM ou de outro sistema equiparável”, mas também um número muito relevante de extensões de saúde em que não existe qualquer acesso a sistema informático. A insuficiente “largura de banda” disponível para comunicações é também um problema detectado em muitas destas unidades funcionais. Outro condicionalismo diz respeito aos recursos humanos. Nalguns locais a falta de médicos de família é “reconhecidamente deficitária”, com os responsáveis a sugerir que se repense a distribuição de recursos humanos prevista nas portarias de criação dos ACES: “Fulcral para o desenvolvimento do processo de contratualização” é também a implementação da totalidade da reforma dos cuidados de saúde primários, com a reorganização dos centros de saúde em unidades de cuidados de saúde personalizados, a criação das unidades de cuidados na comunidade e de Saúde Pública, bem como a constituição da unidade de recursos assistenciais partilhados. Gestão Auditoria e Optimização Cultura de Qualidade Trabalho de Equipa (em rede) Aprendizagem e Partilha Interacção com o Cidadão Responsabilização (Accountability) SISTEMA DE INFORMAÇÃO (um SI a sério, e não a brincar como é costume!) Figura 7. Dimensões do PACES para responder ao Desafio do Desenvolvimento Organizacional Contudo os trabalhos vão avançando. Neste momento (e depois de 12 meses de trabalho colaborativo no “ambiente do PACES) já estão a emergir padrões de colaboração muito significativos no Norte, Centro e Sul ao nível da direcção dos ACES, por exemplo na construção de documentos de relacionamento com as ARS e no desenvolvimento do SIADAP. E estou certo que o mesmo vai acontecer ao nível da governação clínica, contudo esta está muito dependente de um bom Sistema de Informação. A experiência dos agrupamentos de centros de saúde liderada pelo então coordenador da SRS de Setúbal foi essencial para demonstrar que era possível extinguir as Sub-regiões e integrar os serviços nos “ACES” com benefícios. Convidámos o Dr. Rui Monteiro para participar na primeira sessão deste curso e as pessoas, em geral, ficaram um pouco assustadas quando este referiu que o processo demorou dois anos. Mas, é natural, os ACES vão demorar algum tempo a estruturar-se, há a percepção de que 2010 será de facto o ano “1” para criar uma cultura de ACES. Num processo de mudança organizacional não podemos perder de vista a perspectiva do médio e longo prazo. Com os ACES, estamos sobretudo a criar uma nova forma de trabalhar, novas formas de comunicação, novos indicadores de gestão, enfim umas nova forma de prestar cuidados de saúde, suportados por uma lógica de governação clínica. Os passos que já foram dados nesse sentido e o facto de a gestão começar a estar mais próxima das populações são já vantagens muito positivas, e no médio prazo os resultados vão ser muito interessantes. Vai ser muito bom quando se conseguir ter os primeiros resultados positivos desta mudança nos indicadores de Saúde. O primeiro impacto, creio, vai ser o aumento do número de USF, pois o modelo de governação dos ACES já está a favorecer a criação de mais USF. Defendo que a complexidade da saúde obriga à existência de uma arquitectura de sistema e de profissionais qualificados. Na realidade, não podemos esquecer que “a inexistência de informação impossibilita a gestão”. Portanto, os sistemas de informação são um aspecto que tem que ser levados muito a sério. Conhecendo as dificuldades que existem na Europa e no Mundo para desenvolver um sistema adaptado à dinâmica dos profissionais de saúde, a verdade é que isso ainda não está a ser feito em Portugal. Na maioria dos casos, os sistemas de informação estão mal desenhados e pouco adaptados para serem integrados. Por isso, temos vindo a colaborar apresentando vários estudos aplicados de SI na Saúde, onde se destaca o sistema do SIGIC no Congresso Europeu de SI para a Saúde, sendo este um caso muito interessante que está a merecer grande atenção na Europa dos SI. Ora, a utilização apropriada e sustentada de sistemas de informação em Saúde poderá contribuir de forma relevante para o bom desempenho das unidades de saúde, não propriamente numa posição de puro condicionalismo dos colaboradores e utilizadores da instituição mas sim propiciando, de forma evolutiva, condições para melhores cuidados de saúde. Utilizar os recursos da Saúde com inteligência e de forma holística requer a integração dos sistemas de informação para que a informação esteja disponível no momento e onde é preciso. Não é fácil, mas tem de ser feito. O “caminho” da Reforma São necessárias duas condições para a sustentabilidade da reforma em termos de resultados práticos. Uma delas tem a ver com o modelo de governação, que já está bastante solidificado com a criação dos ACES (faltando ainda a concretização da estrutura de gestão, UAG, sem a qual o DE não poderá trabalhar em condições nem o Conselho Clínico terá o apoio necessário para a implementação de uma cultura de gestão clínica), e a outra passa pela existência de um sistema de informação flexível e rigoroso que suporte o processo único e integrado dos utentes. Na minha opinião, os sistemas de informação são dos pontos mais fracos de suporte aos ACES. Este ponto fraco já tinha sido assinalado pela MCSP num relatório sobre o tema em 2006. Só vai ser possível desenvolver um ACES se a sua organização espelhar o fluxo de informação necessário para médicos, enfermeiros e restantes técnicos e colaboradores, e relativamente aos diversos serviços prestados pelas unidades funcionais. Da saúde pública aos cuidados no domicílio, da componente administrativa ao sistema de apoio à decisão. Um verdadeiro sistema de informação não se baseia na tecnologia mas nas pessoas e no conhecimento que geram e na dinâmica de aprendizagem. O problema é que muita gente ainda não percebeu que os sistemas de informação exigem trabalho profissional, investigação e desenvolvimento a médio-longo prazo para acompanhar o desenvolvimento das organizações. E, aliás como afirmou o Presidente da República, em discurso recente, as instituições da Administração Pública devem potenciar a colaboração com as universidades porque os investigadores podem ajudar a resolver problemas difíceis, em conjunto com os operadores no terreno e ao mesmo tempo formando os novos profissionais para trabalhar na saúde. Há já alguns casos de sucesso no desenvolvimento de SI, onde esta relação tripartida entre unidade de saúde, empresa de SI e universidade estão a dar excelentes resultados reflectidos na qualidade de serviços ao cidadão. CONCLUSÃO: “A Reforma dos CSP” é um Laboratório do tamanho de um país. Desde o desafio de Drucker (1999) para uma gestão com base em objectivos, que especialistas e dirigentes da Administração Pública vêm reflectindo sob formas e métodos de desenvolver a reforma da governação nas Administrações Públicas (AP). Vários prémios Nobel da Economia também se debruçaram com este problema. O XVII Governo da República Portuguesa iniciou o processo de reforma da AP (PRACE, Plano Tecnológico, etc.), pegando em trabalho bastante significativo desenvolvido por governos anteriores (como são exemplo a reforma da Direcção Geral das Contribuições e dos Impostos e do SIADAP). Nesta onda de reforma, difícil, com alguma incerteza, e naturalmente com sucessos e insucessos (mas infelizmente com pouca avaliação! O que não nos permite aprender), a Saúde surge como o Ministério onde ocorreram (e ainda decorre) a maior das reformas e onde o seu impacto está a ser maior. Mormente a reforma dos cuidados de saúde primários (CSP) que abrange cerca de 3000 centros de saúde e extensões espalhados pelo país. Esta reforma inicia-se formalmente em 2005, mas vai beber a alguns factos anteriores, já mencionados. Para os investigadores, professores de Gestão e de Desenvolvimento Organizacional da Saúde este processo de reforma (e de mudança) corresponde a um “laboratório”, e cujas dimensões (um país inteiro com 10 Milhões de pessoas) faz dele o “Maior Laboratório do Mundo”. Os processos de mudança organizacional são pela sua natureza processos complexos. Mas hoje existe conhecimento científico (acumulado de anos do estudo de casos de sucesso e de insucesso) que nos pode ajudar e a mitigar algumas dificuldades processuais da reforma. Os processos de mudança organizacional são sempre processos de evolução e aprendizagem colectivos, i.e., os ajustes ao contexto local obrigam a uma “atenta atenção” ao que se vai alterando e ao ajuste dos esforços no sentido de garantir a efectividade da mudança de comportamentos e de resultados. Dada a inércia natural de “sistemas burocráticos cristalizados” de muitos anos no Ministério da Saúde, o primeiro passo tomado foi a criação de uma “task force” denominada “Missão para os Cuidados de Saúde Primários”. A MCSP tem como objectivo criar condições para a reforma, através de estudos e de proposta de modelos baseados em evidência organizacional, e sobretudo ser um instrumento mobilizador, ter capacidade negocial para motivar os profissionais de saúde a mudar comportamentos e como tal mudar o sistema. Qualquer livro sério sobre mudança e inovação nas organizações explica a necessidade de se criar “estímulos” para motivar os que se “aventurarem” a enfrentar a “máquina” e assim mostrar que “é possível” mudar as organizações e mudar comportamentos de forma significativa. Para tal a MCSP tinha a incumbência, saída do Conselho de Ministros, de apoiar o desenvolvimento das unidades de saúde funcionais (USF) e de acompanhar a evolução da reforma até aos agrupamentos de centros de saúde (ACES). Mas, na minha opinião, para o sucesso houve ainda o contributo de duas condições excelentes que se verificaram: a primeira, a existência de anteriores experiências (os Centros de Saúde Alfa, os Centros de Saúde de Terceira Geração, os centros de saúde com um regime remuneratório experimental (RRE), este último um precursor das USF, mas em que o modelo só visava os médicos) que permitiram aprender e evoluir para as USF, e, a segunda condição, a equipa de profissionais, de várias especialidades e de reconhecido mérito e conhecedores (alguns mesmos participantes) das experiências anteriores, que veio a constituir a equipa da MCSP, i.e. a liderança do processo de reforma. Como em qualquer experiência científica realizada com auxílio de laboratório, o progresso realiza-se pela discussão baseada em resultados, quer sejam positivos ou negativos em face ao modelo preconizado. O processo de desenvolvimento das USF passou por se criarem um conjunto de equipas operacionais regionais que no terreno ajudavam os “inovadores e aventureiros” médicos, enfermeiros, técnicos e administrativos a fazerem a caminhada da mudança e a adoptarem um conjunto de regras modernas e auto-organizadas de funcionamento. Estes primeiros meses de actividade vieram mostrar que, em geral, as ARS não estão convenientemente preparadas para dar uma resposta moderna e eficaz às necessidades actuais dos profissionais e dos cidadãos. A procura da eficiência e da eficácia deve motivar os dirigentes da saúde, sobretudo os que estão à frente das ARS para a necessidade de re-pensar a “ARS do futuro”, ou como prefiro a ARS 2.0. Devemos pensar numa ARS mais ágil, dotada de Sistemas de Informação capazes de facilitar o processo de gestão estratégica e de usar a contratualização. Ao mesmo tempo desenvolvendo capacidade de gestão de serviços partilhados, recolhendo na sua estrutura serviços de valor acrescentado para os ACES e com ganhos de escala importantes. O futuro da reforma passa por esta capacidade das ARS se regenerarem e tornarem organizações que funcionam com base em serviços, e que distinguem a sua posição de “reguladores”, de “accionistas” e de “prestadores de serviços”. A aposta em profissionais competentes e numa lógica de gestão por objectivos pode dar um contributo muito positivo para este processo de mudança. E nunca esquecendo as três fases de um processo de mudança de Lewin (1963), que começa com o “unfreeze”, i.e. o descongelar da organização para a mudança (por exemplo com pequenos projectos piloto e com o início de uma cultura de aceitação do risco, de utilização progressiva de métodos de avaliação e aprendizagem, etc.), de pois a mudança (com alteração da organização e do seu modelo de governação e da forma como presta serviços e por fim o “refreeze”, que passa por solidificar o processo de mudança garantido que a cultura de avaliação e partilha se mantém, de que há espaço para a inovação e para parcerias com outras entidades que tragam mais valias para os serviços. Não esquecendo que o gestor tem um papel importante no processo de mudança, devendo antecipar algumas situações “mais confusas” que deverá gerir com bom senso, levando as partes a assumir compromissos e a aceitar ceder em outros aspectos de forma que a mudança ocorra de forma sustentada (mais passos para a frente que para trás!). O mais importante num processo de mudança é manter o “momentum”, i.e o esforço continuado de alteração da cultura de trabalho. Assim a reforma das ARS seria uma excelente oportunidade, beneficiando da reflexão sobre a sua razão de existir ou de como podem melhor “servir” as unidades de saúde sob a sua dependência. Tudo isto tendo como referência a melhoraria dos serviços aos cidadãos, com mais qualidade e mais eficiência, que muitas vezes se reflectem em menores custos (tão importantes em época de crise). A perspectiva 2.0 reflecte também o envolvimento dos cidadãos no sistema, ganhando com os contributos válidos da participação dos cidadãos na gestão da sua saúde. Referências Baker R, Lakhani M, Fraser R, Cheater F. A model for clinical governance in primary care groups. BMJ Volume 318-20 March 1999. Barros PP & de Almeida Simões J. Health Systems in Transition. Portugal. Vol.9 N. 5, 2007. Biscaia A R, Martins J N, Carreira M F L, Gonçalves I F, Antunes A R, Ferrinho P. Cuidados de Saúde Primários em Portugal. Reformar para novos sucessos. Padrões Culturais Editora, 2005. Drucker P. Management Challenges for the 21st Century. Harper Collins 1999. Hamel G & Breen B. The Future of Management. Harvad Business School Press 2007. Institute of Medicine (IOM), Crossing the Quality Chass. Washington National Academy Press 2001 JN. Entrevista ao secretário de Estado da Saúde Dr. Manuel Pizarro. Jornal de Notícias 28.09.2008. Kaplan RS, Norton DP. 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