1
PREVALÊNCIA
DE
DISTÚRBIOS
OSTEOMUSCULARES
RELACIONADOS AO TRABALHO EM DISCENTES E DOCENTES DO
CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVALE, GOVERNADOR
VALADARES - MG
PREVALENCE OF WORK-RELATED MUSCULOSKELETAL DISORDERS IN
STUDENTS AND PROFESSORS COURSE OF DENTISTRY UNIVALE,
GOVERNADOR VALADARES - MG
1
Aline Mara de Andrade ; Ivone Correa Silva da Costa²; Walteir Alves Magalhães³; Sabrina Gomes de
Morais4
1-Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) –
Valadares- MG. E-mail: [email protected].
2-Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) –
Valadares- MG. E-mail: [email protected].
3-Acadêmico do curso de Fisioterapia da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) –
Valadares- MG. E-mail: [email protected].
4- Orientadora Professora Mestre da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) –
Valadares – MG. E-mail: [email protected].
Governador
Governador
Governador
Governador
RESUMO
Introdução: Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) são lesões no sistema
osteoneuromuscular decorrentes do desrespeito aos fatores ergonômicos e antropométricos. Em
cirurgiões-dentistas representam um sério problema. Objetivo: identificar a prevalência de DORT em
discentes e docentes que atuam na Clínica Escola de Odontologia da Universidade Vale do Rio Doce,
caracterizar seus sintomas e verificar a influência dos sintomas no cotidiano dessas pessoas.
Metodologia: Estudo do tipo transversal. Amostra: 134 discentes do 5º ao 8º período e 35 docentes
que atuam nas práticas clínicas. Os dados foram coletados entre outubro e dezembro de 2009,
utilizando o Questionário “Censo de Ergonomia” e processados no SPSS 17.0. Resultados: 64,2%
dos discentes e 60% dos docentes eram do gênero feminino e a presença de sintomatologia dos
DORT foi mais frequente nos discentes (64,2%) que nos docentes (45,7%). A área que apresentou
mais sintomas em discentes foi na coluna cervical (43,1%) e nos docentes, coluna lombar (29,1%). O
tipo da sintomatologia mais presente entre dois grupos foi a fadiga, sendo maior no final do dia e da
semana, aumentando com o trabalho e diminuindo com o repouso, podendo afetar o sono e ter
sensação de cansaço físico. Conclusão: As repercussões dos sintomas osteomusculares sugerem a
necessidade de novas pesquisas de investigação e intervenção. Sendo necessária também a
educação em saúde para minimizar as possíveis chances de adquirir DORT.
Palavras-chaves: dor, cirurgiões-dentistas, DORT.
ABSTRACT
Introduction: The Work-related musculoskeletal disorders (WRMD) are injuries from the system
osteoneuromuscular resulting of the disrespect to anthropometric and ergonomic factors. In dentists is
a serious problem. Objective: To identify the prevalence of disorders in students and professors who
work in the Clinical School of Dentistry, Universidade Vale do Rio Doce, to characterize their
symptoms and the influence of symptoms on daily life of these people. Methods: Cross-sectional
study. Sample: 134 students from 5th to 8th period and 35 teachers who work in clinical practice. Data
were collected between October and December 2009 using the Questionnaire "Census of
Ergonomics” and processed with SPSS 17.0. Results: 64.2% of students and 60% of professors were
female and the presence of symptoms of WRMD was more common among students (64.2%) than the
professors (45.7%). The area that showed more symptoms in students was in the cervical spine
(43.1%) and professors, lumbar spine (29.1%). The type of symtomatology present between two
groups was fatigue, being higher at the end of the day and week, with increasing labor and decreasing
whit rest, and may affect sleep and have feelings of fatigue. Conclusion: The impacts of
musculoskeletal symptoms suggest the need for new research and intervention. Also is required
health education to minimize the possible chances of getting WRMD.
Keywords: pain, dentisty, WRMD.
2
INTRODUÇÃO
problemas no campo da saúde ocupacional
(KOTLIARENKO
Os
Relacionados
Distúrbios
ao
Osteomusculares
Trabalho
(DORT)
são
et
al.,
2009;
GARCIA,
CAMPOS, ZUANON, 2008; COSTA et al., 2007;
REGIS FILHO, MICHELS, SELL, 2006).
provocados pelo uso inadequado e excessivo do
Os DORT geram ainda impacto na
sistema que agrupa ossos, nervos, músculos e
qualidade de vida dos CDs, interferindo na sua
tendões, sem tempo para recuperação dessas
atividade diária e habilidade de profissional, bem
estruturas. É comum em atividades intensas e
como executar exercícios físicos e praticar
repetitivas, devido à pressão existente no
esportes. Afetam as relações pessoais entre
trabalho,
quanto
amigos, familiares e colegas de trabalho, não
psicologicamente o indivíduo (COSTA et al.,
apenas gerando sofrimento, mas associando-se
2007; TRINDADE, ANDRADE, 2003).
a uma piora na qualidade de vida (COUTO,
afetando
tanto
física
São vários os fatores que podem gerar
NICOLETTI, LECH, 2007).
os DORT, mas o principal seria o desrespeito
A Universidade Vale do Rio Doce –
aos fatores ergonômicos e antropométricos, além
UNIVALE possui o curso de Odontologia há 40
de repetitividade de movimentos, manutenção de
anos.
posturas inadequadas por tempo prolongado,
totalizando
esforço físico, invariabilidade de tarefas, pressão
matriculados nesse curso possuem atividades
mecânica sobre as delicadas estruturas dos
acadêmicas em período integral. A partir do
membros superiores, trabalho muscular estático,
quarto período do curso possuem maior contato
vibração segmentar, frio ou calor. Sendo a dor
com as atividades práticas da profissão e
musculoesquelética a principal manifestação dos
começam os atendimentos a partir do 5º período
DORT (COUTO, NICOLETTI, LECH, 2007).
(UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE, 2010).
Os DORT têm merecido atenção
O curso tem a duração de 4 anos
oito
períodos.
Os
discentes
Por ser o CD um profissional passível de
especial, principalmente na odontologia, pois o
distúrbios
número de profissionais acometidos tem crescido
(SARTORIO et al. 2005; LINDFORS, VON
cada vez mais
THIELE,
tornando
os afastamentos
osteomusculares
LUNDBERG,
de
caracterização
do
constante (GARCIA, CAMPOS, ZUANON, 2008;
profissional desde a etapa acadêmica até a
BARBOSA et al., 2004).
atuação no mercado de trabalho, para que se
a
possa orientá-los de maneira a prevenir e/ou
dores
minimizar os distúrbios posturais decorrentes do
osteomusculares atinge um índice de 62% da
trabalho, possibilitando a adoção de programas
população em geral. Em cirurgiões-dentistas
preventivos
(CDs) seu percentual atinge 93%.
condições de trabalho (DURANTE, VILELA,
prevalência
de
desconforto
(2002),
e
torna-se
relevância
Szymanska
estudo
posturais
temporários de suas atividades uma rotina
Segundo
o
2006),
e
e
Nos últimos anos, vários estudos
concomitante
à
melhoria
das
2001).
vêm relatando o aparecimento de DORT em
Este trabalho objetivou identificar a
CDs. Estes distúrbios representam um sério
prevalência de DORT em discentes e docentes
problema entre esses profissionais, podendo
que atuam na Clínica Escola de Odontologia da
gerar diferentes graus de incapacidade funcional,
Universidade Vale do Rio Doce, caracterizar
sendo
considerado
um
dos
mais
graves
3
seus sintomas e verificar a influência dos
dados. Os dados dos docentes e discentes do
sintomas no cotidiano destas pessoas.
estudo piloto foram excluídos do estudo principal.
Dois docentes estavam afastados das
2 METODOLOGIA
suas atividades por licença médica e não
participaram da amostra. Os docentes que
2.1 TIPO DE ESTUDO
participaram do estudo principal foram 35. Sendo
Trata-se de um estudo epidemiológico de
assim amostra geral constou de 169 indivíduos
corte transversal.
(discentes e docentes).
2.2 AMOSTRA
2.3 PROCEDIMENTOS
O universo de estudo foi constituído por
O instrumento utilizado na coleta de
discentes matriculados regularmente no curso de
dados foi o “Censo de Ergonomia” adaptado de
odontologia no ano de 2009, na Faculdade de
Couto, Nicoletti e Lech (2007).
Ciências da Saúde (FACS), da Universidade
O “Censo de Ergonomia” possui as
Vale do Rio Doce (UNIVALE), em Governador
seguintes
variáveis:
idade
e
gênero
do
Valadares, MG.
profissional; presença ou não de sintomas;
O total de discentes do 5º ao 8º períodos
localização; tipo da sintomatologia. Além disso, o
que realizavam atendimentos odontológicos à
instrumento analisa o período do dia e da
comunidade foi 206. O total dos docentes do
semana que apresenta o sintoma; se aumenta
curso
com o trabalho e diminui com o repouso, se afeta
de
Odontologia
que
atuavam
em
atividades clínicas de orientação aos discentes
no atendimento ao paciente era 42.
Este censo foi entregue aos discentes e
Para a definição do tamanho da amostra
dos discentes foi realizado um cálculo amostral,
baseado
no
método
de
o sono e sente a sensação de cansaço físico.
estimativa
para
docentes, pelo responsável da pesquisa, ao final
dos atendimentos nas clínicas odontológicas.
A
coleta
foi
realizada
por
2
proporção com nível de confiança de 95% e
pesquisadores (um discente e um docente do
precisão requerida de 5%. O valor do padrão
curso de fisioterapia) devidamente treinados. O
utilizado foi de 50% (LEVY, LEMESHOW, 1991).
treinamento foi necessário para se assegurar a
Para o resultado final foram incluídos 10%
fidedignidade dos achados, a minimização de
referente a uma possível
variação e erros, utilizando-se para tanto critérios
perda. O valor
estabelecido de discentes foi 134, de ambos os
gêneros.
padronizados.
Os
Com os docentes foi realizado um censo,
ou seja, todos os docentes que realizam
atividades na clínica odontológica (n = 42).
formulários
foram
recolhidos
imediatamente após o preenchimento garantindo
a devolução de 100% dos questionários.
Os dados foram obtidos entre os meses
Foi realizado um estudo piloto com 06
de outubro e dezembro de 2009.
discentes e 05 docentes, porém, esses dados
não foram considerados para o estudo principal,
serviram
para
verificar
a
reação
dos
2.4 ASPECTOS ÉTICOS
entrevistados, modo de abordagem das questões
Todos participantes assinaram o Termo
e tempo gasto para realização da coleta dos
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
4
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
(n=21) eram do gênero feminino e 40% (n=14)
em Pesquisa (CEP) da UNIVALE sob parecer nº
do gênero masculino (tabela 1).
034/2009.
Dos
discentes
79,9%
(n=107)
encontravam-se entre 18 e 24 anos de idade,
2.5 ANÁLISE DE DADOS
sendo que a idade mínima encontrada foi de 18
Os dados coletados foram processados,
anos e a máxima de 35. Nos docentes, 62,9%
utilizando-se o software SPSS versão 17.0.
(n=22) tinham entre 40 e 50 anos, sendo a idade
Realizada a análise estatística descritiva, com a
mínima de 29 anos e máxima de 66 anos de
distribuição
idade (tabela 1).
da
frequência
das
variáveis
quantitativas.
Com relação à queixa de DORT, 64,2%
(n=86) dos discentes mencionaram a presença
3 RESULTADOS
de sintomas, enquanto nos docentes a queixa
apareceu
em
45,7%
(n=16)
(tabela
1).
Dos 134 discentes avaliados 64,2%
(n=86) eram do gênero feminino e 35,8% (n=48)
do gênero masculino. E dos 35 docentes, 60%
DISCENTES (n=134)
Frequência
n (%)
CARACTERÍSTICAS
DOCENTES (n=35)
Frequência
n (%)
Gênero
Feminino
Masculino
86 (64,2)
48 (35,8)
Feminino
Masculino
21 (60,0)
14 (40,0)
Idade (anos)
18 –‫ ׀‬24
24 –‫ ׀‬30
>30
107 (79,9)
20 (14,9)
07 (5,2)
29 –‫ ׀‬40
40 –‫ ׀‬50
>51
04 (11,4)
22 (62,9)
09 (25,7)
Presença de sintomatologia
Sim
Não
86 (64,2)
48 (35,8)
Sim
Não
16 (45,7)
19 (54,3)
Tabela 1 - Caracterização da amostra com relação ao gênero, idade e sintomatologia em discentes e
docentes.
Nas pessoas que apresentaram queixas
foi investigada a localização dos sintomas. Nos
encontrado um percentual elevado de pontadas
e queimação (22,2% cada). (tabela 2).
discentes a localização mais frequente dos
Tanto na localização da sintomatologia
sintomas foi na região da coluna cervical,
quanto ao tipo de sintomatologia apresentada
presente em 43,1% dos casos (n=75). Nos
algumas
docentes, houve um predomínio na região de
respostas, ou seja, mais de um local de
coluna lombar com 29,1% (n=09) (tabela 2).
acometimento do sintoma e mais de um sintoma
Quanto
ao
tipo
de
sintomatologia
pessoas
apresentaram
apresentado. Nestes casos todas as respostas
osteomuscular presente nos discentes observou-
foram
se maior ocorrência de fadiga, 28,2% (n=29) e
porcentagens apresentadas abaixo.
queimação (26,2%). Já nos docentes, 29,6%
(n=08) apresentaram fadiga, mas também foi
múltiplas
consideradas
Com
relação
e
fizeram
à
parte
das
periodicidade
dos
sintomas, a maior frequência relatada foi no final
do dia de atendimento, tanto pelos discentes
5
(57,0%; n=49) quanto pelos docentes (75,0%;
práticas
n=12). Não houve um período da semana (inicio,
discentes e 75,0% (n=12) dos docentes (tabela
meio
2).
e
final)
em
que
a
presença
de
clínicas
para
41,8%
(n=36)
dos
sintomatologia afetasse mais suas atividades de
DISCENTES
(n=86)
75 (43,1)
22 (12,6)
40 (22,9)
18 (10,4)
19 (11,0)
CARACTERÍSTICAS
Localização da sintomatologia*
Coluna Cervical
Coluna Torácica
Coluna Lombar
Ombros
Punho e mãos
DOCENTES
(N=16)
08 (25,8)
01 (3,2)
09 (29,1)
08 (25,8)
05 (16,1)
Sintomatologia*
Queimação
27 (26,2)
06 (22,2)
Pontada
15 (14,6)
06 (22,2)
Fadiga
29 (28,2)
08 (29,6)
Dor latejante
25 (24,2)
05 (18,5)
Não sabe
07 (6,8)
02 (7,5)
Tabela 2 – Localização da sintomatologia em discentes e docentes. * Múltiplas respostas.
Foi relatado que às vezes ocorre uma
em seus estudos realizados sobre o perfil em
acentuação dos sintomas durante o atendimento
graduandos e pós-graduandos de Odontologia
odontológico por 59,3% (n=51) discentes e por
no Brasil.
50,0% (n= 08) docentes. E em 53,5% (n=46) dos
A
presença
de
queixa
de
dor
discentes sempre há melhora ao repouso,
osteomuscular em uma ou mais regiões do corpo
enquanto, em 56,2% (n=09) docentes, às vezes
foi relatada por 64,2% dos discentes e 45,7%
há uma melhora com o repouso (tabela 3).
dos docentes. Com dados semelhantes, e ainda
Dos
de
em maiores proporções, com relação aos
deles
docentes, Ohashi (2002) em sua pesquisa
relataram que os sintomas sempre afetam o
realizada no Estado de São Paulo demonstrou
sono. Nos docentes 56,2% (n=09) relataram ter
que 60% dos CDs alegam sentir dores após um
comprometimento do sono às vezes. A sensação
dia de trabalho e que 15,5% destes afirmaram ter
de cansaço esteve presente após a realização
adquirido alguma doença em decorrência da
das atividades de prática clínica em 73,3%
atividade odontológica.
sintomas
discentes
com
DORT,
45,3%
de
presença
(n=39)
(n=63) dos discentes e 56,2% (n=9) dos
docentes (Tabela 3).
Não foram encontrados na literatura
pesquisada estudos relatando a prevalência de
DORT em discentes, apenas em docentes
4 DISCUSSÃO
(FERNANDES, ROCHA, COSTA-OLIVBEIRA,
2009; ARAÚJO et al. 2006; PORTO et al. 2004).
Neste estudo houve um predomínio de
Acredita-se que a experiência e o tempo
mulheres. Este dado pode ser explicado pelo fato
de prática clínica pode ter sido fator favorável
de nos cursos superiores na área de saúde,
para a minimização de posturas e movimentos
como
inadequados
a
Odontologia,
há
presença
da
durante
os
atendimentos,
feminilização no campo de trabalho. Tal situação
justificando assim, a menor prevalência de
também foi citada por Martelli et al. (2009),
DORT nos docentes neste estudo em relação
Nunes e Freire (2008) e Junqueira et al. (2002)
aos discentes.
6
CARACTERÍSTICAS
DISCENTES
(n=86)
30 (34,9)
49 (57,0)
07 (8,1)
DOCENTES
(n=16)
01 (6,2)
03 (18,8)
12 (75,0)
-
Período do dia
Inicio do expediente
Decorrer do expediente
Final do expediente
Não sabe
Período da semana
Inicio da semana
Meio da semana
Final da semana
Não há período específico
04 (4,7)
19 (22,1)
27 (31,4)
36 (41,8)
01 (6,2)
03 (18,8)
12 (75)
Aumenta com o trabalho
Nunca
Às vezes
Sempre
05 (5,8)
51 (59,3)
30 (34,9)
01 (6,2)
08 (50,0)
07 (43,8)
Melhora com o repouso
Nunca
Às vezes
Sempre
03 (3,5)
37 (43,0)
46 (53,5)
09 (56,2)
07 (43,8)
Afeta o sono
Nunca
Às vezes
Sempre
14 (16,3)
33 (38,4)
39 (45,3)
04 (25,0)
09 (56,2)
03 (18,8)
Sente sensação de cansaço
Sim
Não
63 (73,3)
23 (26,7)
09 (56,2)
07 (43,8)
Tabela 3 – Interferência da sintomatologia nas atividades cotidianas dos discentes e docentes
A região cervical é dotada de
grande mobilidade permitindo movimentos na
superiores suspensos, a rotação e inclinação
lateral do tronco e cervical.
flexão e extensão, rotação e inclinação sobre os
Já nos docentes, além da região lombar
ombros. Devido a esta mesma mobilidade a
(29,6%), houve também grande queixa de dor na
coluna cervical sofre mecanicamente pelos
coluna cervical (22,2%) e ombros (22,2%). A
esforços a que é submetida no trabalho e na vida
região lombar é considerada a base de apoio do
diária do CD (KOTLIARENKO et al., 2009). As
tronco. A posição sentada requer um esforço nos
posições
vão
discos do segmento lombar concentrando-se
determinar a eficiência do movimento, bem como
nesta região o centro de gravidade do corpo
as sobrecargas à coluna (HAMILL, KNUTZEN,
justificando o motivo de ser tão acometida pela
1999).
dor (SANTOS FILHO, BARRETO, 2001).
posturais do
tronco
é
que
As áreas mais acometidas pelos DORT
Além disto, segundo Miranda, Freitas e
entre os discentes neste estudo encontram-se na
Pereira (2002), ao se trabalhar muitas horas
coluna cervical (43,1%). Tal fato pode ser
seguidas
justificado pelas características desta região da
comumente
coluna
apresentar
apresentadas
acima
e
também
possivelmente devido à postura inadequada
em
posições
esses
desconfortáveis,
profissionais
podem
dores nas regiões de
maiores
esforços, como lombar, cervical e ombros.
adotada pelos discentes durante o atendimento
A extensa carga horária no auxílio de
odontológico, como a manutenção dos membros
prática clínica aos discentes deste estudo,
juntamente à jornada de trabalho em consultório
7
particular pode ter sido o motivo para as queixas
eficiência do processamento cognitivo, do tempo
apresentadas
Segundo
de reação e responsividade atencional; além de
Kotliarenko et al. (2009) o atendimento de mais
déficit de memória, aumento da irritabilidade,
de cinco pacientes por turno de trabalho
alterações metabólicas, endócrinas e quadros
aumenta cerca de 3 vezes o risco de sintomas
hipertensivos (MARTIN, MELLO, TUFIK, 2001)
pelos
docentes.
dolorosos nos braços e antebraços.
A fadiga foi um
Durante as práticas odontológicas o uso
sintoma frequente
de posturas ergonômicas incorretas, falta de
relatado tanto pelos discentes (28,2%) quanto
intervalos e exercícios entre um atendimento e
pelos docentes (29,6%) deste estudo. A literatura
outro, podem gerar os DORT. De acordo com
menciona o fato de que o trabalho do CD é uma
Ulbricht (2000), a adoção de pausas durante os
atividade que exige esforços físicos e mentais, e
atendimentos são formas que podem reduzir o
pode se tornar extremamente fatigante se
grau de fadiga e aumentar a produtividade do
realizada de forma inadequada ou com o uso de
trabalhador.
equipamentos de formas incorretas (SANTOS
Ainda,
segundo
Barreto
(2001),
o
FLHO, BARRETO, 2001). Segundo Zilli (2002),
profissional deve organizar o atendimento dos
na odontologia, a fadiga sobrevém devido ao
pacientes, reservando entre os atendimentos um
trabalho
intervalo para alongar e relaxar a musculatura,
estático
excessivo
dos
músculos
posturais e pelo aumento do tônus ao realizar
visando
esse tipo trabalho.
profissão em seu dia-a-dia clínico.
Uma consequência grave deste sintoma
aliviar
As
as tensões causadas pela
repercussões
dos
sintomas
é a diminuição da capacidade funcional, podendo
osteomusculares, como a alteração de ritmo de
reduzir a produtividade, levando a falta de prazer
trabalho,
no trabalho e a diminuição do interesse no lazer,
necessidade de novas pesquisas de investigação
que pode impedir o sono e promover significativo
e intervenção.
o
padrão
de
sono
sugerem
a
desgaste tanto físico quanto psíquico. O próprio
atendimento
odontológico
gera
estresse
e
5 CONCLUSÃO
ansiedade, influenciando de maneira significativa
na ocorrência de dor (ULBRICHT, 2000).
Neste estudo, houve um predomínio de
Além da fadiga, o comprometimento do
queixas no gênero feminino, acometendo a
sono e o cansaço foram fatores relevantes
população discente em maior proporção na
dentre as queixas apresentadas pela população
região de coluna cervical e docente em coluna
do estudo. Os sintomas do DORT sempre afetam
cervical, lombar e ombros. O principal sintoma
o sono dos discentes (45,3%) e às vezes dos
em ambos os grupos foi a fadiga. Além disto, os
docentes (56,2). Ocorrendo sempre a presença
sintomas aumentam com o trabalho e interferem
de cansaço em discentes (73,3%) e em docentes
no sono e na sensação de cansaço
(56,2%). A perda de sono e o cansaço podem
contribuir
para
o
aumento
de
É necessária a educação em saúde para
sintomas
minimizar as possíveis chances de adquirir
osteomusculares e a piora do padrão de vida dos
DORT em discentes e docentes e demais
CDs (RUCKER, SUNELL, 2002).
profissionais da odontologia. Isso irá propiciar
As alterações do padrão de sono podem
trazer como consequências as reduções da
uma melhora nos atendimentos e o aumento do
8
tempo laboral de cada indivíduo em sua
atividade profissional.
Prevalência de Sintomas Osteomusculares em
Professores. Rev. Salud Pública. v.11, n.2,
p.256-267, 2009.
Embora o presente estudo seja de
relevância, apresentou algumas limitações. Por
ser um estudo do tipo transversal, apresenta
alguma dificuldade em estabelecer relações
GARCIA,
P.P.N.S.;
CAMPOS,
J.A.D.B.;
ZUANON, A.C.C. Avaliação clínica das posturas
de trabalho empregadas na clínica de
odontopediatria. Pesq. Bras. Odontoped. Clin.
Integr. v.8, n.1, p.31-37, jan./abr. 2008.
causais com base no tempo.
Os dados clínicos obtidos são aplicáveis
à prática odontológica, uma vez que poderão ser
utilizados tanto para o planejamento do trabalho
como para melhoria da postura no atendimento e
no cotidiano do CD. Recomenda-se uma melhor
explanação do estudo da ergonomia e a inclusão
de um programa de atividades laborais para a
prevenção dos DORT.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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et al. Diferença de gênero no trabalho docente e
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Coletiva. v.11, n.4, p.1117-1129, 2006.
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E.C.S.;
SOUZA,
F.M.B.;
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distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho
em
cirurgiões-dentistas
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Campina Grande – PB. Pesq. Bras.
Odontoped. Clin. Integr. v.4, n.1, p.19-24,
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osteomusculares em Trabalhadores de Unidades
Básicas de Saúde (UBS). Einstein. v.5, n.1,
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O Trabalho Não Precisa Ser Doloroso