1 PREVALÊNCIA DE DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO EM DISCENTES E DOCENTES DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVALE, GOVERNADOR VALADARES - MG PREVALENCE OF WORK-RELATED MUSCULOSKELETAL DISORDERS IN STUDENTS AND PROFESSORS COURSE OF DENTISTRY UNIVALE, GOVERNADOR VALADARES - MG 1 Aline Mara de Andrade ; Ivone Correa Silva da Costa²; Walteir Alves Magalhães³; Sabrina Gomes de Morais4 1-Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) – Valadares- MG. E-mail: [email protected]. 2-Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) – Valadares- MG. E-mail: [email protected]. 3-Acadêmico do curso de Fisioterapia da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) – Valadares- MG. E-mail: [email protected]. 4- Orientadora Professora Mestre da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) – Valadares – MG. E-mail: [email protected]. Governador Governador Governador Governador RESUMO Introdução: Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) são lesões no sistema osteoneuromuscular decorrentes do desrespeito aos fatores ergonômicos e antropométricos. Em cirurgiões-dentistas representam um sério problema. Objetivo: identificar a prevalência de DORT em discentes e docentes que atuam na Clínica Escola de Odontologia da Universidade Vale do Rio Doce, caracterizar seus sintomas e verificar a influência dos sintomas no cotidiano dessas pessoas. Metodologia: Estudo do tipo transversal. Amostra: 134 discentes do 5º ao 8º período e 35 docentes que atuam nas práticas clínicas. Os dados foram coletados entre outubro e dezembro de 2009, utilizando o Questionário “Censo de Ergonomia” e processados no SPSS 17.0. Resultados: 64,2% dos discentes e 60% dos docentes eram do gênero feminino e a presença de sintomatologia dos DORT foi mais frequente nos discentes (64,2%) que nos docentes (45,7%). A área que apresentou mais sintomas em discentes foi na coluna cervical (43,1%) e nos docentes, coluna lombar (29,1%). O tipo da sintomatologia mais presente entre dois grupos foi a fadiga, sendo maior no final do dia e da semana, aumentando com o trabalho e diminuindo com o repouso, podendo afetar o sono e ter sensação de cansaço físico. Conclusão: As repercussões dos sintomas osteomusculares sugerem a necessidade de novas pesquisas de investigação e intervenção. Sendo necessária também a educação em saúde para minimizar as possíveis chances de adquirir DORT. Palavras-chaves: dor, cirurgiões-dentistas, DORT. ABSTRACT Introduction: The Work-related musculoskeletal disorders (WRMD) are injuries from the system osteoneuromuscular resulting of the disrespect to anthropometric and ergonomic factors. In dentists is a serious problem. Objective: To identify the prevalence of disorders in students and professors who work in the Clinical School of Dentistry, Universidade Vale do Rio Doce, to characterize their symptoms and the influence of symptoms on daily life of these people. Methods: Cross-sectional study. Sample: 134 students from 5th to 8th period and 35 teachers who work in clinical practice. Data were collected between October and December 2009 using the Questionnaire "Census of Ergonomics” and processed with SPSS 17.0. Results: 64.2% of students and 60% of professors were female and the presence of symptoms of WRMD was more common among students (64.2%) than the professors (45.7%). The area that showed more symptoms in students was in the cervical spine (43.1%) and professors, lumbar spine (29.1%). The type of symtomatology present between two groups was fatigue, being higher at the end of the day and week, with increasing labor and decreasing whit rest, and may affect sleep and have feelings of fatigue. Conclusion: The impacts of musculoskeletal symptoms suggest the need for new research and intervention. Also is required health education to minimize the possible chances of getting WRMD. Keywords: pain, dentisty, WRMD. 2 INTRODUÇÃO problemas no campo da saúde ocupacional (KOTLIARENKO Os Relacionados Distúrbios ao Osteomusculares Trabalho (DORT) são et al., 2009; GARCIA, CAMPOS, ZUANON, 2008; COSTA et al., 2007; REGIS FILHO, MICHELS, SELL, 2006). provocados pelo uso inadequado e excessivo do Os DORT geram ainda impacto na sistema que agrupa ossos, nervos, músculos e qualidade de vida dos CDs, interferindo na sua tendões, sem tempo para recuperação dessas atividade diária e habilidade de profissional, bem estruturas. É comum em atividades intensas e como executar exercícios físicos e praticar repetitivas, devido à pressão existente no esportes. Afetam as relações pessoais entre trabalho, quanto amigos, familiares e colegas de trabalho, não psicologicamente o indivíduo (COSTA et al., apenas gerando sofrimento, mas associando-se 2007; TRINDADE, ANDRADE, 2003). a uma piora na qualidade de vida (COUTO, afetando tanto física São vários os fatores que podem gerar NICOLETTI, LECH, 2007). os DORT, mas o principal seria o desrespeito A Universidade Vale do Rio Doce – aos fatores ergonômicos e antropométricos, além UNIVALE possui o curso de Odontologia há 40 de repetitividade de movimentos, manutenção de anos. posturas inadequadas por tempo prolongado, totalizando esforço físico, invariabilidade de tarefas, pressão matriculados nesse curso possuem atividades mecânica sobre as delicadas estruturas dos acadêmicas em período integral. A partir do membros superiores, trabalho muscular estático, quarto período do curso possuem maior contato vibração segmentar, frio ou calor. Sendo a dor com as atividades práticas da profissão e musculoesquelética a principal manifestação dos começam os atendimentos a partir do 5º período DORT (COUTO, NICOLETTI, LECH, 2007). (UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE, 2010). Os DORT têm merecido atenção O curso tem a duração de 4 anos oito períodos. Os discentes Por ser o CD um profissional passível de especial, principalmente na odontologia, pois o distúrbios número de profissionais acometidos tem crescido (SARTORIO et al. 2005; LINDFORS, VON cada vez mais THIELE, tornando os afastamentos osteomusculares LUNDBERG, de caracterização do constante (GARCIA, CAMPOS, ZUANON, 2008; profissional desde a etapa acadêmica até a BARBOSA et al., 2004). atuação no mercado de trabalho, para que se a possa orientá-los de maneira a prevenir e/ou dores minimizar os distúrbios posturais decorrentes do osteomusculares atinge um índice de 62% da trabalho, possibilitando a adoção de programas população em geral. Em cirurgiões-dentistas preventivos (CDs) seu percentual atinge 93%. condições de trabalho (DURANTE, VILELA, prevalência de desconforto (2002), e torna-se relevância Szymanska estudo posturais temporários de suas atividades uma rotina Segundo o 2006), e e Nos últimos anos, vários estudos concomitante à melhoria das 2001). vêm relatando o aparecimento de DORT em Este trabalho objetivou identificar a CDs. Estes distúrbios representam um sério prevalência de DORT em discentes e docentes problema entre esses profissionais, podendo que atuam na Clínica Escola de Odontologia da gerar diferentes graus de incapacidade funcional, Universidade Vale do Rio Doce, caracterizar sendo considerado um dos mais graves 3 seus sintomas e verificar a influência dos dados. Os dados dos docentes e discentes do sintomas no cotidiano destas pessoas. estudo piloto foram excluídos do estudo principal. Dois docentes estavam afastados das 2 METODOLOGIA suas atividades por licença médica e não participaram da amostra. Os docentes que 2.1 TIPO DE ESTUDO participaram do estudo principal foram 35. Sendo Trata-se de um estudo epidemiológico de assim amostra geral constou de 169 indivíduos corte transversal. (discentes e docentes). 2.2 AMOSTRA 2.3 PROCEDIMENTOS O universo de estudo foi constituído por O instrumento utilizado na coleta de discentes matriculados regularmente no curso de dados foi o “Censo de Ergonomia” adaptado de odontologia no ano de 2009, na Faculdade de Couto, Nicoletti e Lech (2007). Ciências da Saúde (FACS), da Universidade O “Censo de Ergonomia” possui as Vale do Rio Doce (UNIVALE), em Governador seguintes variáveis: idade e gênero do Valadares, MG. profissional; presença ou não de sintomas; O total de discentes do 5º ao 8º períodos localização; tipo da sintomatologia. Além disso, o que realizavam atendimentos odontológicos à instrumento analisa o período do dia e da comunidade foi 206. O total dos docentes do semana que apresenta o sintoma; se aumenta curso com o trabalho e diminui com o repouso, se afeta de Odontologia que atuavam em atividades clínicas de orientação aos discentes no atendimento ao paciente era 42. Este censo foi entregue aos discentes e Para a definição do tamanho da amostra dos discentes foi realizado um cálculo amostral, baseado no método de o sono e sente a sensação de cansaço físico. estimativa para docentes, pelo responsável da pesquisa, ao final dos atendimentos nas clínicas odontológicas. A coleta foi realizada por 2 proporção com nível de confiança de 95% e pesquisadores (um discente e um docente do precisão requerida de 5%. O valor do padrão curso de fisioterapia) devidamente treinados. O utilizado foi de 50% (LEVY, LEMESHOW, 1991). treinamento foi necessário para se assegurar a Para o resultado final foram incluídos 10% fidedignidade dos achados, a minimização de referente a uma possível variação e erros, utilizando-se para tanto critérios perda. O valor estabelecido de discentes foi 134, de ambos os gêneros. padronizados. Os Com os docentes foi realizado um censo, ou seja, todos os docentes que realizam atividades na clínica odontológica (n = 42). formulários foram recolhidos imediatamente após o preenchimento garantindo a devolução de 100% dos questionários. Os dados foram obtidos entre os meses Foi realizado um estudo piloto com 06 de outubro e dezembro de 2009. discentes e 05 docentes, porém, esses dados não foram considerados para o estudo principal, serviram para verificar a reação dos 2.4 ASPECTOS ÉTICOS entrevistados, modo de abordagem das questões Todos participantes assinaram o Termo e tempo gasto para realização da coleta dos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). 4 Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética (n=21) eram do gênero feminino e 40% (n=14) em Pesquisa (CEP) da UNIVALE sob parecer nº do gênero masculino (tabela 1). 034/2009. Dos discentes 79,9% (n=107) encontravam-se entre 18 e 24 anos de idade, 2.5 ANÁLISE DE DADOS sendo que a idade mínima encontrada foi de 18 Os dados coletados foram processados, anos e a máxima de 35. Nos docentes, 62,9% utilizando-se o software SPSS versão 17.0. (n=22) tinham entre 40 e 50 anos, sendo a idade Realizada a análise estatística descritiva, com a mínima de 29 anos e máxima de 66 anos de distribuição idade (tabela 1). da frequência das variáveis quantitativas. Com relação à queixa de DORT, 64,2% (n=86) dos discentes mencionaram a presença 3 RESULTADOS de sintomas, enquanto nos docentes a queixa apareceu em 45,7% (n=16) (tabela 1). Dos 134 discentes avaliados 64,2% (n=86) eram do gênero feminino e 35,8% (n=48) do gênero masculino. E dos 35 docentes, 60% DISCENTES (n=134) Frequência n (%) CARACTERÍSTICAS DOCENTES (n=35) Frequência n (%) Gênero Feminino Masculino 86 (64,2) 48 (35,8) Feminino Masculino 21 (60,0) 14 (40,0) Idade (anos) 18 – ׀24 24 – ׀30 >30 107 (79,9) 20 (14,9) 07 (5,2) 29 – ׀40 40 – ׀50 >51 04 (11,4) 22 (62,9) 09 (25,7) Presença de sintomatologia Sim Não 86 (64,2) 48 (35,8) Sim Não 16 (45,7) 19 (54,3) Tabela 1 - Caracterização da amostra com relação ao gênero, idade e sintomatologia em discentes e docentes. Nas pessoas que apresentaram queixas foi investigada a localização dos sintomas. Nos encontrado um percentual elevado de pontadas e queimação (22,2% cada). (tabela 2). discentes a localização mais frequente dos Tanto na localização da sintomatologia sintomas foi na região da coluna cervical, quanto ao tipo de sintomatologia apresentada presente em 43,1% dos casos (n=75). Nos algumas docentes, houve um predomínio na região de respostas, ou seja, mais de um local de coluna lombar com 29,1% (n=09) (tabela 2). acometimento do sintoma e mais de um sintoma Quanto ao tipo de sintomatologia pessoas apresentaram apresentado. Nestes casos todas as respostas osteomuscular presente nos discentes observou- foram se maior ocorrência de fadiga, 28,2% (n=29) e porcentagens apresentadas abaixo. queimação (26,2%). Já nos docentes, 29,6% (n=08) apresentaram fadiga, mas também foi múltiplas consideradas Com relação e fizeram à parte das periodicidade dos sintomas, a maior frequência relatada foi no final do dia de atendimento, tanto pelos discentes 5 (57,0%; n=49) quanto pelos docentes (75,0%; práticas n=12). Não houve um período da semana (inicio, discentes e 75,0% (n=12) dos docentes (tabela meio 2). e final) em que a presença de clínicas para 41,8% (n=36) dos sintomatologia afetasse mais suas atividades de DISCENTES (n=86) 75 (43,1) 22 (12,6) 40 (22,9) 18 (10,4) 19 (11,0) CARACTERÍSTICAS Localização da sintomatologia* Coluna Cervical Coluna Torácica Coluna Lombar Ombros Punho e mãos DOCENTES (N=16) 08 (25,8) 01 (3,2) 09 (29,1) 08 (25,8) 05 (16,1) Sintomatologia* Queimação 27 (26,2) 06 (22,2) Pontada 15 (14,6) 06 (22,2) Fadiga 29 (28,2) 08 (29,6) Dor latejante 25 (24,2) 05 (18,5) Não sabe 07 (6,8) 02 (7,5) Tabela 2 – Localização da sintomatologia em discentes e docentes. * Múltiplas respostas. Foi relatado que às vezes ocorre uma em seus estudos realizados sobre o perfil em acentuação dos sintomas durante o atendimento graduandos e pós-graduandos de Odontologia odontológico por 59,3% (n=51) discentes e por no Brasil. 50,0% (n= 08) docentes. E em 53,5% (n=46) dos A presença de queixa de dor discentes sempre há melhora ao repouso, osteomuscular em uma ou mais regiões do corpo enquanto, em 56,2% (n=09) docentes, às vezes foi relatada por 64,2% dos discentes e 45,7% há uma melhora com o repouso (tabela 3). dos docentes. Com dados semelhantes, e ainda Dos de em maiores proporções, com relação aos deles docentes, Ohashi (2002) em sua pesquisa relataram que os sintomas sempre afetam o realizada no Estado de São Paulo demonstrou sono. Nos docentes 56,2% (n=09) relataram ter que 60% dos CDs alegam sentir dores após um comprometimento do sono às vezes. A sensação dia de trabalho e que 15,5% destes afirmaram ter de cansaço esteve presente após a realização adquirido alguma doença em decorrência da das atividades de prática clínica em 73,3% atividade odontológica. sintomas discentes com DORT, 45,3% de presença (n=39) (n=63) dos discentes e 56,2% (n=9) dos docentes (Tabela 3). Não foram encontrados na literatura pesquisada estudos relatando a prevalência de DORT em discentes, apenas em docentes 4 DISCUSSÃO (FERNANDES, ROCHA, COSTA-OLIVBEIRA, 2009; ARAÚJO et al. 2006; PORTO et al. 2004). Neste estudo houve um predomínio de Acredita-se que a experiência e o tempo mulheres. Este dado pode ser explicado pelo fato de prática clínica pode ter sido fator favorável de nos cursos superiores na área de saúde, para a minimização de posturas e movimentos como inadequados a Odontologia, há presença da durante os atendimentos, feminilização no campo de trabalho. Tal situação justificando assim, a menor prevalência de também foi citada por Martelli et al. (2009), DORT nos docentes neste estudo em relação Nunes e Freire (2008) e Junqueira et al. (2002) aos discentes. 6 CARACTERÍSTICAS DISCENTES (n=86) 30 (34,9) 49 (57,0) 07 (8,1) DOCENTES (n=16) 01 (6,2) 03 (18,8) 12 (75,0) - Período do dia Inicio do expediente Decorrer do expediente Final do expediente Não sabe Período da semana Inicio da semana Meio da semana Final da semana Não há período específico 04 (4,7) 19 (22,1) 27 (31,4) 36 (41,8) 01 (6,2) 03 (18,8) 12 (75) Aumenta com o trabalho Nunca Às vezes Sempre 05 (5,8) 51 (59,3) 30 (34,9) 01 (6,2) 08 (50,0) 07 (43,8) Melhora com o repouso Nunca Às vezes Sempre 03 (3,5) 37 (43,0) 46 (53,5) 09 (56,2) 07 (43,8) Afeta o sono Nunca Às vezes Sempre 14 (16,3) 33 (38,4) 39 (45,3) 04 (25,0) 09 (56,2) 03 (18,8) Sente sensação de cansaço Sim Não 63 (73,3) 23 (26,7) 09 (56,2) 07 (43,8) Tabela 3 – Interferência da sintomatologia nas atividades cotidianas dos discentes e docentes A região cervical é dotada de grande mobilidade permitindo movimentos na superiores suspensos, a rotação e inclinação lateral do tronco e cervical. flexão e extensão, rotação e inclinação sobre os Já nos docentes, além da região lombar ombros. Devido a esta mesma mobilidade a (29,6%), houve também grande queixa de dor na coluna cervical sofre mecanicamente pelos coluna cervical (22,2%) e ombros (22,2%). A esforços a que é submetida no trabalho e na vida região lombar é considerada a base de apoio do diária do CD (KOTLIARENKO et al., 2009). As tronco. A posição sentada requer um esforço nos posições vão discos do segmento lombar concentrando-se determinar a eficiência do movimento, bem como nesta região o centro de gravidade do corpo as sobrecargas à coluna (HAMILL, KNUTZEN, justificando o motivo de ser tão acometida pela 1999). dor (SANTOS FILHO, BARRETO, 2001). posturais do tronco é que As áreas mais acometidas pelos DORT Além disto, segundo Miranda, Freitas e entre os discentes neste estudo encontram-se na Pereira (2002), ao se trabalhar muitas horas coluna cervical (43,1%). Tal fato pode ser seguidas justificado pelas características desta região da comumente coluna apresentar apresentadas acima e também possivelmente devido à postura inadequada em posições esses desconfortáveis, profissionais podem dores nas regiões de maiores esforços, como lombar, cervical e ombros. adotada pelos discentes durante o atendimento A extensa carga horária no auxílio de odontológico, como a manutenção dos membros prática clínica aos discentes deste estudo, juntamente à jornada de trabalho em consultório 7 particular pode ter sido o motivo para as queixas eficiência do processamento cognitivo, do tempo apresentadas Segundo de reação e responsividade atencional; além de Kotliarenko et al. (2009) o atendimento de mais déficit de memória, aumento da irritabilidade, de cinco pacientes por turno de trabalho alterações metabólicas, endócrinas e quadros aumenta cerca de 3 vezes o risco de sintomas hipertensivos (MARTIN, MELLO, TUFIK, 2001) pelos docentes. dolorosos nos braços e antebraços. A fadiga foi um Durante as práticas odontológicas o uso sintoma frequente de posturas ergonômicas incorretas, falta de relatado tanto pelos discentes (28,2%) quanto intervalos e exercícios entre um atendimento e pelos docentes (29,6%) deste estudo. A literatura outro, podem gerar os DORT. De acordo com menciona o fato de que o trabalho do CD é uma Ulbricht (2000), a adoção de pausas durante os atividade que exige esforços físicos e mentais, e atendimentos são formas que podem reduzir o pode se tornar extremamente fatigante se grau de fadiga e aumentar a produtividade do realizada de forma inadequada ou com o uso de trabalhador. equipamentos de formas incorretas (SANTOS Ainda, segundo Barreto (2001), o FLHO, BARRETO, 2001). Segundo Zilli (2002), profissional deve organizar o atendimento dos na odontologia, a fadiga sobrevém devido ao pacientes, reservando entre os atendimentos um trabalho intervalo para alongar e relaxar a musculatura, estático excessivo dos músculos posturais e pelo aumento do tônus ao realizar visando esse tipo trabalho. profissão em seu dia-a-dia clínico. Uma consequência grave deste sintoma aliviar As as tensões causadas pela repercussões dos sintomas é a diminuição da capacidade funcional, podendo osteomusculares, como a alteração de ritmo de reduzir a produtividade, levando a falta de prazer trabalho, no trabalho e a diminuição do interesse no lazer, necessidade de novas pesquisas de investigação que pode impedir o sono e promover significativo e intervenção. o padrão de sono sugerem a desgaste tanto físico quanto psíquico. O próprio atendimento odontológico gera estresse e 5 CONCLUSÃO ansiedade, influenciando de maneira significativa na ocorrência de dor (ULBRICHT, 2000). Neste estudo, houve um predomínio de Além da fadiga, o comprometimento do queixas no gênero feminino, acometendo a sono e o cansaço foram fatores relevantes população discente em maior proporção na dentre as queixas apresentadas pela população região de coluna cervical e docente em coluna do estudo. Os sintomas do DORT sempre afetam cervical, lombar e ombros. O principal sintoma o sono dos discentes (45,3%) e às vezes dos em ambos os grupos foi a fadiga. Além disto, os docentes (56,2). Ocorrendo sempre a presença sintomas aumentam com o trabalho e interferem de cansaço em discentes (73,3%) e em docentes no sono e na sensação de cansaço (56,2%). A perda de sono e o cansaço podem contribuir para o aumento de É necessária a educação em saúde para sintomas minimizar as possíveis chances de adquirir osteomusculares e a piora do padrão de vida dos DORT em discentes e docentes e demais CDs (RUCKER, SUNELL, 2002). profissionais da odontologia. Isso irá propiciar As alterações do padrão de sono podem trazer como consequências as reduções da uma melhora nos atendimentos e o aumento do 8 tempo laboral de cada indivíduo em sua atividade profissional. Prevalência de Sintomas Osteomusculares em Professores. Rev. Salud Pública. v.11, n.2, p.256-267, 2009. Embora o presente estudo seja de relevância, apresentou algumas limitações. Por ser um estudo do tipo transversal, apresenta alguma dificuldade em estabelecer relações GARCIA, P.P.N.S.; CAMPOS, J.A.D.B.; ZUANON, A.C.C. Avaliação clínica das posturas de trabalho empregadas na clínica de odontopediatria. Pesq. Bras. Odontoped. Clin. Integr. v.8, n.1, p.31-37, jan./abr. 2008. causais com base no tempo. Os dados clínicos obtidos são aplicáveis à prática odontológica, uma vez que poderão ser utilizados tanto para o planejamento do trabalho como para melhoria da postura no atendimento e no cotidiano do CD. Recomenda-se uma melhor explanação do estudo da ergonomia e a inclusão de um programa de atividades laborais para a prevenção dos DORT. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, T.M.; GODINHO, T.M.; REIS, E.J.F.B.; et al. Diferença de gênero no trabalho docente e repercussões sobre a saúde. Ciência & Saúde Coletiva. v.11, n.4, p.1117-1129, 2006. BARBOSA, E.C.S.; SOUZA, F.M.B.; CAVALCANTI, A.L. et al. 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