FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA E ESTATÍSTICA – DME CAMPUS DE JI-PARANÁ MIRANI DOS SANTOS ALVES CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE O ENSINOAPRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UM ESTUDO COM PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DE JI-PARANÁ Ji-Paraná 2011 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA E ESTATÍSTICA – DME CAMPUS DE JI-PARANÁ MIRANI DOS SANTOS ALVES CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE O ENSINOAPRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UM ESTUDO COM PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DE JI-PARANÁ Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao Departamento de Matemática e Estatística, da Universidade Federal de Rondônia, Campus de Ji-Paraná, como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciada em Matemática, sob a orientação do professor Ms. Emerson da Silva Ribeiro. Ji-Paraná 2011 MIRANI DOS SANTOS ALVES CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE O ENSINO-APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UM ESTUDO COM PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DE JI-PARANÁ Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciada em Matemática e teve o parecer final como Aprovado, no dia 14.06.2011, pelo Departamento de Matemática e Estatística, da Universidade Federal de Rondônia, Campus de Ji-Paraná. Banca Examinadora Profa. Dra. Aparecida Augusta da Silva 1º Membro – DME/UNIR Profa. Esp. Neidimar Vieira Lopes Gonzales 2º Membro – DCHS/UNIR Prof. Ms. Emerson da Silva Ribeiro Orientador – DME/UNIR RESUMO ALVES, Mirani dos Santos. Concepções de Professores sobre o ensino-aprendizagem da Matemática na Educação de Jovens e Adultos: um estudo com professores da rede pública de ensino de Ji-Paraná. 2011. 54f. Monografia (Licenciatura em Matemática) – Departamento de Matemática e Estatística, Universidade Federal de Rondônia, JiParaná. O presente trabalho trata de uma pesquisa de conclusão de curso que se propõe aprofundar e compreender a realidade da Educação Matemática no contexto da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Tem como problemática: Investigar e analisar quais são as concepções dos professores de Matemática sobre o processo de ensinoaprendizagem dessa disciplina no contexto específico da EJA. Esta pesquisa fundamentou-se nos pressupostos teóricos que se dedicam aos estudos sobre a EJA e o ensino-aprendizagem da Matemática na EJA. A abordagem metodológica foi embasada na pesquisa qualitativa, e teve como aporte teórico: LUDKE e ANDRÉ, BOGDAN e BIKLEN, e FIORENTINI e LORENZATO. Tendo como sujeitos da pesquisa três professores de Matemática da EJA de duas escolas públicas da rede estadual situada em Ji-Paraná, este trabalho se concentrou em dois questionários como instrumentos de coleta de dados, que foram aplicados junto a cada um dos professores participantes da pesquisa. O primeiro questionário teve por objetivo caracterizar alguns dados pessoais, formação acadêmica e a experiência profissional destes sujeitos. O segundo questionário permitiu obter informações sobre as concepções dos sujeitos pesquisados a respeito da EJA e do ensino-aprendizagem da Matemática para essa modalidade. Para a análise das informações obtidas a pesquisa baseou-se no aspecto da perspectiva interpretativa. Em resposta à problemática da presente investigação, conclui-se que os professores pesquisados ainda têm dificuldade para compreender quem são os educandos da EJA e quais suas características sociais, apesar de parecerem entender os objetivos, a significação e a importância dessa modalidade. Além disso, no que concerne ao ensino-aprendizagem da Matemática na EJA, os professores pesquisados demonstram diversificar suas estratégias de ensino com problemas práticos ou ligados ao mundo do trabalho, se referindo à necessidade de se tratar a EJA de modo diferenciado em relação às demais modalidades apenas em função da organização e do desenvolvimento dos conteúdos matemáticos, destacando ainda a necessidade desses serem resumidos. Nota-se também, a partir de suas falas, a preocupação e a dificuldade de se adequar os conteúdos em relação ao tempo curto para o ensino de matemática na EJA. Palavras-chave: Educação Matemática, EJA, Concepções de Professores. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 05 CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .................................. 1.1 – Breve Histórico da EJA no Brasil ..................................................................... 1.2 – A Função Sociocultural da EJA ........................................................................ 1.3 – A EJA como Modalidade Específica ................................................................ 1.4 – Educandos da EJA ............................................................................................ 1.5 – A EJA em Rondônia ......................................................................................... 08 08 14 16 18 22 CAPÍTULO II – O ENSINO-APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA NA EJA ... 2.1 – Importância da Matemática para os Educandos da EJA ................................... 2.2 – Especificidades Quanto ao Processo de Ensino-aprendizagem da Matemática na EJA ........................................................................................................................ 2.3 – O Ensino Tradicional da Matemática ............................................................... 2.4 – O Educador Matemático da Educação de Jovens e Adultos ............................. 25 25 CAPÍTULO III – METODOLOGIA DA PESQUISA .............................................. 3.1 – Opção Metodológica ......................................................................................... 3.2 – Delimitação do Universo da Pesquisa .............................................................. 3.3 – Sujeitos da Pesquisa .......................................................................................... 3.4 – Coleta de Dados ................................................................................................ 36 36 37 38 39 CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ......................... 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 47 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 49 27 29 32 APÊNDICES ............................................................................................................. 52 Questionário de Caracterização ................................................................................. 53 Questionário ............................................................................................................... 54 INTRODUÇÃO O conhecimento matemático é considerado como algo importante e indispensável para a vida de qualquer pessoa. Como disciplina, a Matemática é parte integrante dos currículos escolares, não sendo diferente para a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). No entanto, ressalta-se que para este público, que já tem uma experiência de vida, o saber matemático é considerado de forma muito mais significativa, constituindo-se com muita utilidade e fazendo parte essencial de seu dia-adia. Nesta perspectiva, tem-se que a EJA, proposta como um segmento educacional diferenciado em relação ao método de ensino e o público presente, requer professores com preparo específico e com concepções sobre o ensino e aprendizagem de Matemática em conformidade com as especificidades dessa modalidade. Desta forma, apresentamos esta pesquisa tendo como tema de investigação a educação matemática na EJA, ressaltando ainda, que a realização desse estudo é conseqüência da minha experiência após o estágio supervisionado do Ensino Fundamental realizado em turmas da EJA, quando na oportunidade, pude presenciar falas de professores sobre a forma de ensino e o público presente nessa modalidade, e a partir disto tive a curiosidade de conhecer melhor a EJA e as visões dos professores sobre a mesma. Dado esse interesse, desenvolvemos esse estudo tendo como questão central a seguinte problemática: “Quais as concepções dos professores de Matemática sobre o processo de ensino-aprendizagem dessa disciplina no contexto da EJA?”. Para o desenvolvimento da pesquisa nos amparamos na abordagem qualitativa da pesquisa em educação. Nossa coleta de dados se deu em duas escolas da rede pública estadual com atendimento à modalidade EJA no período noturno, onde se constituíram como sujeitos da pesquisa três professores licenciados em Matemática e lecionando esta disciplina nessas escolas. Buscando melhorar a compreensão da questão investigativa aqui proposta, nos apoiamos em vários estudiosos que têm se dedicado à discussão das áreas envolvendo as temáticas de investigação dessa pesquisa. Assim, encontramos em HADDAD e DI PIERRO (2000), RIBEIRO (1997, 2009), CUNHA (1999a), SOARES 6 (1986), ARROYO (2005), FONSECA (2005a), OLIVEIRA (1987, 1999), e nos documentos oficiais do MEC (2000, 2001 2002a), da SEDUC/RO (2010, 2011) e da LDB (1996), os elementos norteadores para o entendimento do contexto da EJA. Na área da Matemática tivemos a contribuição teórica de CARDOSO (2000), FONSECA (2005a, 2005b), FREIRE (2007), RIBEIRO (2007), VASCONCELOS (2007), CUNHA (1999a, 1999b), D’AMBRÓSIO (1990, 1996), BASSANEZI (2006), além dos PCNs em Matemática (1997, 1998) e nos documentos oficiais do MEC (2000, 2001, 2002a, 2002b). E finalmente aos aspectos da metodologia da pesquisa nos apoiamos nas obras de LUDKE e ANDRÉ (1986), BOGDAN e BIKLEN (1994), e FIORENTINI e LORENZATO (2006). O resultado do nosso trabalho, após o caminho percorrido rumo à construção de uma resposta à sua questão norteadora, ficou estruturado da seguinte forma: No primeiro capítulo – A Educação de Jovens e Adultos – afim de melhor entendermos o contexto atual da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, abordaremos alguns aspectos históricos dessa modalidade em nosso país. Em seguida, falaremos sobre suas funções, especificidades próprias, que a tornam uma modalidade diferenciada em relação aos outros segmentos do ensino regular, e as características do seu público. E por ultimo abordaremos sobre a organização e regulamentação da EJA em Rondônia. No segundo capítulo – O Ensino-aprendizagem da Matemática na EJA – trataremos sobre a importância da matemática na vida das pessoas adultas. Também falaremos sobre suas especificidades quanto ao processo de ensino-aprendizagem para os educandos da EJA. Com base em vários estudiosos refletiremos as formas que ela está sendo ensinada na escola, e por último sobre o papel do professor de Matemática neste processo. No terceiro capítulo – Metodologia da Pesquisa – descreveremos as etapas percorridas na construção da investigação, traçando a opção metodológica pela pesquisa qualitativa. Além disso, ilustraremos o universo e os sujeitos da pesquisa, os instrumentos e procedimentos da coleta de dados. No quarto capítulo – Análise dos Dados – apresentaremos as concepções dos professores sujeitos da pesquisa a respeito do objeto dessa pesquisa e a nossa análise dessas concepções. Nas Considerações Finais, buscaremos não somente responder o problema provocado nesta investigação, como também, contribuir de alguma forma para o campo 7 das pesquisas, que como essa, pretende aprofundar a compreensão sobre o Ensino de Matemática na Educação de Jovens e Adultos. CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 1.1 – Breve Histórico da EJA no Brasil Para entender melhor a Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil, é preciso conhecer um pouco do seu passado, porém, reconstruir a trajetória da EJA é tarefa complexa, devido à insuficiência de registros em relação às diversas ações implementadas, em especial no âmbito não-governamental. No entanto Haddad e Di Pierro (2000), afirma que o ensino para jovens e adultos no país vem ocorrendo de alguma forma desde o período colonial, passando pelo Império, República até os dias de hoje. No período colonial, devido à omissão do Estado, a preocupação com a educação dos jovens e adultos era assumida pelos padres jesuítas, esses religiosos exerciam uma ação educativa missionária com os adultos. Segundo Haddad e Di Pierro (2000, p. 109): “além de difundir o evangelho, tais educadores transmitiam normas comportamentais e ensinavam os ofícios necessários ao funcionamento da economia colonial, inicialmente aos indígenas e, posteriormente aos escravos negros”. Também no período imperial houve ações educativas nesse campo. Porém, pouco ou quase nada foi realizado oficialmente nesses períodos, devido principalmente à concepção de cidadania, considerada apenas como direito das elites econômicas (MEC/SEF, 2002a, p. 13). A Constituição Brasileira de 1824, sob forte influência européia, formalizou a garantia de uma “instrução primária e gratuita para todos os cidadãos”, que se tornou presente nas sucessivas constituições (MEC/SEF, 2002a, p. 13). Na segunda década do século 20, muitos movimentos civis, e mesmo oficiais, se empenharam na luta contra o analfabetismo, considerado “mal nacional” e “uma chaga social” [...] impulsionando as grandes reformas educacionais do período em quase todos os estados brasileiros. Além disso, os movimentos operários, fossem de inspiração libertária ou comunista, valorizam a educação em seus pleitos e reivindicações. Nessa época, o Decreto nº 16.782/A, de 13 de janeiro de 1925, conhecido como Lei Rocha Vaz, ou Reforma João Alves, estabeleceu a criação de escolas noturnas para adultos (MEC/SEF, 2002a, p. 13-14). Apesar de haver algumas manifestações de alfabetização de jovens e adultos no país nesses períodos, só a partir da década de 30, a educação básica de adultos 9 começa a delimitar seu lugar na história da educação, quando se inicia a consolidação de um sistema público de educação elementar no país. Segundo Haddad e Di Pierro (2000), a Revolução de 1930 foi um marco na reformulação do papel do Estado no Brasil e conseqüentemente no modo como a educação era entendida. A constituição de 1934 reconheceu pela primeira vez em caráter nacional, a educação como direito de todos e que ela deveria ser ministrada pela família e pelos poderes públicos (Art. 149). A constituição, ao se referir ainda no Art. 150 ao Plano Nacional de Educação, diz que ele deve obedecer, entre outros, ao principio do ensino primário integral, gratuito e de freqüência obrigatória, extensivo aos adultos (MEC/CNE/CEB, 2000). Por força da Constituição de 1934 a partir da década de 40 a educação de jovens e adultos se firmou como questão de política nacional. A educação de adultos definiu sua identidade tomando a forma de uma campanha nacional de massa a partir de 1947, quando foi lançada a Campanha de Educação de Adultos, que alimentou a reflexão e o debate em torno do analfabetismo no Brasil, que era concebido como causa e não efeito da situação econômica, social e cultural do país, legitimando a visão do adulto analfabeto como incapaz e marginal identificado psicológica e socialmente com a criança (RIBEIRO, 1997, p. 20). A década de 40 também ficou marcada pela criação do Fundo Nacional de Ensino Primário (1942), de modo a incluir o ensino supletivo para adolescentes e adultos analfabetos (MEC/SEF, 2002a, p. 14); pela iniciativa do Ministério da Educação, em função da Campanha de 1947, de produzir pela primeira vez material didático específico para o ensino da leitura e da escrita para os adultos (RIBEIRO, 1997, p. 21); e pela criação do Serviço de Educação de Adultos (SEA), de 1947, cuja finalidade era orientar e coordenar os planos anuais do ensino supletivo para adolescentes e adultos analfabetos. Segundo Haddad e Di Pierro (2000, p. 111) esses projetos criados pelo governo “serviram como mecanismos de acomodação de tensões que cresciam entre as classes sociais nos meios urbanos nacionais”. Durante a década de 50, foi realizada a Campanha Nacional de Educação Rural (1952) inicialmente ligada à Campanha de Educação de Adultos e à Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo – CNEA (1958), mas ambas tiveram vida curta e poucas realizações. O clima de entusiasmo da Campanha de Educação de Adultos começou a 10 diminuir na década de 50, e a campanha se extinguiu antes mesmo do final desta década (RIBEIRO, 1997, p. 20) em decorrência das críticas recebidas quanto às suas deficiências administrativas e financeiras quanto à sua orientação pedagógica (Ibid., p. 22). No entanto todas essas críticas dirigidas à Campanha de Educação de Adultos convergiram para uma nova visão sobre o problema do analfabetismo e para a consolidação de um novo paradigma pedagógico para a educação de adultos, cuja referência principal foi o educador pernambucano Paulo Freire, que com seu pensamento pedagógico, assim como sua proposta para a alfabetização de adultos, tornou-se fundamental no desenvolvimento da Educação de Jovens e Adultos, inspirando os principais programas de alfabetização e educação popular que se realizaram no país no início dos anos 60 (MEC/SEF, 2001). Em janeiro de 1964, foi aprovado o Plano Nacional de Alfabetização, que previa a disseminação por todo o Brasil de programas de alfabetização orientados pela proposta de Paulo Freire... O paradigma pedagógico que se construiu nessas práticas baseava-se num novo entendimento da relação entre a problemática educacional e a problemática social. Antes apontado como causa da pobreza e da marginalização, o analfabetismo passou a ser interpretado como efeito da situação de pobreza gerada por uma estrutura social não igualitária. (RIBEIRO, 1997, p. 23). Na época, Paulo Freire elaborou uma proposta de alfabetização de adultos conscientizadora, cujo princípio básico pode ser traduzido numa frase sua que ficou célebre: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Prescindindo da utilização de cartilhas, desenvolveu um conjunto de procedimentos pedagógicos que ficou conhecido como Método Paulo Freire (MEC/SEF, 2001). Com o golpe militar de 1964, os programas de alfabetização e educação popular que haviam se multiplicado no período entre 1961 e 1964 foram vistos como uma grave ameaça à ordem e seus promotores duramente reprimidos. O governo só permitiu a realização de programas de alfabetização de adultos assistencialistas e conservadores, até que, em 1967, ele mesmo assumiu o controle dessa atividade lançando o MOBRAL ― Movimento Brasileiro de Alfabetização (RIBEIRO, 1997, pg. 25-26). Sobre esse assunto Haddad e Di Pierro (2000), afirmam que com o golpe militar, o Programa Nacional de Alfabetização foi interrompido e desmantelado, seus dirigentes presos e os materiais apreendidos. Um exemplo da ação do Governo Militar neste período foi à ocupação da Secretaria Municipal de Educação de Natal. Os trabalhos da Campanha "De Pé no Chão" foram interrompidos e suas principais lideranças foram presas. A atuação do Movimento de Educação de Base da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB foi sendo tolhida não só pelos órgãos de 11 repressão, mas também pela própria hierarquia católica, transformando-se na década de 1970 muito mais em um instrumento de evangelização do que propriamente de educação popular. (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p.113). Criado pela Lei 5.379 de 15 de dezembro de 1967, o MOBRAL surgiu como um prosseguimento das campanhas de alfabetização de adultos já iniciadas anteriormente, só que com um cunho ideológico totalmente diferenciado do que vinha sendo feito até então, pois era voltado para a população de 15 a 30 anos, tendo como principal objetivo fazer com que os seus alunos aprendessem a ler e a escrever sem uma preocupação maior com a formação do homem. E propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando conduzir a pessoa humana a adquirir técnicas elementares de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida (CUNHA, 1999a). Nesse período, destaca-se ainda, a extensão da educação de jovens e adultos ao curso ginasial, já que antes era oferecido apenas em nível equivalente ao ensino primário (MEC/SEF, 2002a, p. 15); a consagração das experiências do início dos anos 60 enfatizadas agora pelas orientações metodológicas e pelos materiais didáticos produzidos pelo MOBRAL esvaziadas de todo sentido crítico e problematizador; e o lançamento de uma campanha massiva de alfabetização em 1969 (RIBEIRO, 1997, p. 26). A difusão das idéias de educação popular, acompanhando a democratização da escolarização básica, e a iniciativa de diferentes grupos populares e instituições na discussão de novas perspectivas de cultura e educação, destacando a importância da participação do povo na vida pública nacional e o papel da educação para sua conscientização, também contribuíram para o desenvolvimento da educação de jovens e adultos durante a década de 60. Em 1971 foi implantado pelo MEC o ensino supletivo, representando um marco importante para a história da EJA no Brasil. O ensino supletivo ganhou capitulo próprio na LDBEN nº 5.692/71, estabelecendo que ele se destinava a “suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos que não a tinham seguido ou concluído na idade própria”. Esse ensino poderia ser ministrado à distância, por correspondência ou por outros meios adequados. Os cursos e os exames seriam organizados dentro dos sistemas estaduais de acordo com seus respectivos Conselhos de Educação. Já nesse período se afirmava a necessidade de adequar o ensino ao “tipo especial de aluno a que se destina”, resultando daí uma grande flexibilidade curricular 12 (MEC/SEF, 2002a, p. 16). O MEC promoveu a implantação dos Centros de Ensino Supletivo (CES), a fim de atender todos os alunos que desejassem completar os estudos fora da idade regulamentada; e também redefiniu as funções do ensino supletivo, em 1972, destacando quatro aspectos: A suplência, ou seja, a substituição compensatória do ensino regular pelo supletivo via cursos e exames com direito a certificação de ensino de 1º grau para maiores de 18 anos, e de ensino de 2º grau para maiores de 21 anos; o suprimento, ou complementação da escolaridade inacabada por meio de cursos de aperfeiçoamento e de atualização; a aprendizagem; e a qualificação (MEC/SEF, 2002a, p. 16). Durante a década de 70, tivemos ainda a expansão do MOBRAL por todo o território nacional e o surgimento de iniciativas advindas do Programa de Alfabetização como o Programa de Educação Integrada (RIBEIRO, 1997, p. 26). Entre 1980 e 1985, o ensino supletivo contou socialmente com a mobilização pedagogicamente inovadora da comunidade, tendendo a não-formalização, o que acabou promovendo o surgimento de alguns programas de caráter compensatório, instituídos pelo Governo Federal, que se caracterizaram por recuperar o atraso dos que não haviam usufruído da escolarização na idade própria (MEC/SEF, 2002a, p. 16). Com a emergência dos movimentos sociais e o início da abertura política na década de 80, em razão do fim do período militar, as pequenas e isoladas experiências de alfabetização de adultos com propostas mais críticas promovidas pelos grupos dedicados à educação popular puderam ser difundidas, possibilitando a construção de canais de experiência, reflexão e articulação em torno da reorientação dos programas de educação básica de adultos, o que acabou provocando a extinção do MOBRAL em 1985, e sua substituição pela Fundação Educar, que abriu mão de executar diretamente os programas, passando a apoiar financeira e tecnicamente as iniciativas de governos, entidades civis e empresas a ela conveniadas (RIBEIRO, 1997, p. 27-28). De acordo com Cunha (1999a), a década de 80 foi marcada pela difusão das pesquisas sobre língua escrita com reflexos positivos na alfabetização de adultos. A história da educação de jovens e adultos chega à década de 90, portanto, reclamando a consolidação de reformulações pedagógicas que, aliás, vêm se mostrando necessárias em todo o ensino fundamental (RIBEIRO, 1997, p. 34). O início dos anos 90 marcou a extinção da Fundação Educar e com isso o enorme vazio no âmbito das políticas educacionais para a educação de jovens e adultos, com o Governo Federal se constituindo como a principal instância de apoio e 13 articulação das iniciativas desta modalidade da educação, e a participação de alguns estados e municípios e organizações da sociedade civil assumindo a responsabilidade de oferecer programas na área, entretanto, ainda longe de satisfazerem a demanda (RIBEIRO, 1997, p. 33). No Brasil, no que diz respeito às políticas públicas para a educação de jovens e adultos, tivemos a conclusão do Plano Decenal, em 1994, fixando metas para o atendimento de jovens e adultos pouco escolarizados (MEC/SEF, 2002a, p. 17); e a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96), que estabelecia uma seção dedicada à educação básica de jovens e adultos. A partir da LDB 9394/96 a EJA passou a ser considerada uma modalidade da Educação Básica, de caráter permanente, nas etapas do Ensino Fundamental e Médio. Prevê que a Educação de Jovens e Adultos se destina àqueles que não tiveram acesso (ou não deram continuidade) aos estudos no Ensino Fundamental e Médio, na faixa etária de 14 a 17 anos, e deve ser oferecidas em sistemas gratuitos de ensino, com oportunidades educacionais apropriadas, considerando as características, interesses, condições de vida e de trabalho do cidadão. Além disso, diminuiu as idades mínimas dos participantes dos Exames Supletivos (15 anos para o Ensino Fundamental e l8 anos para o Ensino Médio). Durante a década de 90, o Brasil participou da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtiem (Tailândia). Está conferência apontou a dramática realidade mundial de analfabetismo de pessoas jovens e adultas. Na Declaração de Jomtien, elaborada nesta Conferência, entendeu-se que a alfabetização de jovens e adultos seria uma primeira etapa da Educação Básica, e também reforçou a necessidade de expansão e melhoria do atendimento público na escolarização de jovens e adultos. Em julho de 1997, realizou-se na cidade de Hamburgo, na Alemanha, a V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos (V CONFINTEA), promovida pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura, que representou um marco importante, na medida em que estabeleceu a vinculação da educação de adultos ao desenvolvimento sustentável e eqüitativo da humanidade, além de instituir algumas orientações e princípios para a Educação de Jovens e Adultos. Ainda nesta Conferência ficou aprovado a “Declaração de Hamburgo” e a “Agenda para o Futuro” sobre educação de pessoas adultas. No ano 2000, o Conselho Nacional de Educação, através da Câmara de 14 Educação Básica, regulamentou as “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos” (Parecer CEB 11/2000) e homologou a Resolução 01/2000. Este Parecer proporcionou uma redefinição no papel dessa modalidade de ensino, ao instituírem-na não mais com a finalidade de suprir e de compensar a escolaridade perdida, mas sim com as funções reparadora, equalizadora e qualificadora para a EJA, representando assim uma conquista e avanço para a educação. Este parecer se dirige aos sistemas de ensino e seus respectivos estabelecimentos que venham a se ocupar da Educação de Jovens e Adultos sob forma presencial e semi-presencial de cursos e tenham como objetivo o fornecimento de certificados de conclusão de etapas da Educação Básica. Para tais estabelecimentos, as diretrizes apresentadas são obrigatórias, bem como será obrigatória uma formação docente que lhes seja conseqüente (MEC/CNE/CEB, 2000). Destaca também no âmbito das recomendações internacionais para a Educação de Jovens e Adultos, a declaração denominada Marco de Ação de Dacar, aprovada pela Cúpula Mundial de Educação, em abril de 2000, no Senegal (Dacar), reafirmando: ... toda criança, jovem e adulto tem direito humano de se beneficiar de uma educação que satisfaça suas necessidades de aprendizagem, no melhor e mais pleno sentido do termo, e que inclua aprender a aprender, a fazer, a conviver e a ser. É uma educação que se destina a captar os talentos e o potencial de cada pessoal e desenvolver a personalidade dos alunos, para que possam melhorar suas vidas e transformar suas sociedades [...] assegurar que as necessidades de aprendizagens de todos os jovens e adultos sejam atendidas pelo acesso eqüitativo à aprendizagem apropriada, à habilidade para a vida e a programas de formação para a cidadania (apud MEC/SEF, 2002a, p. 21). Chegando ao fim desse breve processo histórico da Educação de Jovens e Adultos, pode-se afirmar que a trajetória histórica da EJA em nosso país sempre sofreu interferências do contexto histórico e sociopolítico de cada época, e que, na atualidade, a ênfase na Educação de Jovens e Adultos é de grande relevância. No contexto atual, percebe que muito já foi feito, mas ainda há muito que fazer. Faz-se necessário vislumbrar novos horizontes na busca da total erradicação do analfabetismo no País, e a EJA, como modalidade de ensino, deve oferecer uma educação de qualidade com ideais reflexivos e transformadores (RIBEIRO, 2009, p. 35). 1.2 – A Função Sociocultural da EJA 15 Como já destacado, a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino diferenciada e específica, amparada por lei e voltada para pessoas que não tiveram acesso, por algum motivo, ao ensino regular na idade apropriada. A EJA é uma categoria organizacional constante da estrutura da educação nacional com finalidades e funções específicas. Esse aspecto se caracteriza considerando que o universo da EJA contempla diferentes aspectos que devem ser priorizadas na construção das diretrizes educacionais. Conforme Soares (1986), o educando passa a ser visto como sujeito sócio-históricocultural, com conhecimentos e experiências acumuladas. Cada sujeito possui um tempo próprio de formação, apropriando-se de saberes locais e universais, a partir de uma perspectiva de ressignificação da concepção de mundo e de si mesmo. Tendo em vista a diversidade desses educandos, com situações socialmente diferenciadas, é preciso que a Educação de Jovens e Adultos proporcione seu atendimento por meio de outras formas de socialização dos conhecimentos e culturas. Dessa forma, entre as definições da EJA, o Parecer 11/2000 cita que a Educação de Jovens e Adultos representa uma dívida social não reparada para com os que não tiveram acesso a e nem domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou fora dela, e tenham sido a força de trabalho empregada na constituição de riquezas e na elevação de obras públicas. Ser privado deste acesso é, de fato, a perda de um instrumento imprescindível para uma presença significativa na convivência social contemporânea. Fazer a reparação desta realidade, dívida inscrita em nossa história social e na vida de tantos indivíduos, é um imperativo e um dos fins da EJA porque reconhece o advento para todos do princípio de igualdade. Para compreendermos melhor as funções da Educação de Jovens e Adultos, o Parecer 11/2000 as esclarece de forma objetiva: A função reparadora está relacionada à restauração de um direito negado – o direito de uma escola de qualidade e ao reconhecimento da igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano. Esta função deve ser vista como uma chance real desses alunos e alunas estar presente na escola, tornando-se uma escolha viável em função das especificidades socioculturais destes segmentos para os quais se espera uma efetiva atuação das políticas sociais. É por isso que a EJA necessita ser pensada como um modelo pedagógico próprio que crie situações pedagógicas satisfatórias para atender as necessidades de aprendizagem de jovens e adultos. A igualdade de oportunidades que dá sustentação ao acesso e à permanência 16 do jovem e/ou adulto na escola é a característica marcante da função equalizadora da EJA, o que permite aos indivíduos novas inserções no mundo do trabalho e na vida social. Esta função vai dar cobertura a trabalhadores e a tantos outros segmentos sociais a voltarem para o sistema educacional, já que tiveram uma interrupção forçada pela repetência ou pela evasão escolar. A eqüidade é a forma pela qual os bens sociais são distribuídos de modo a garantir uma redistribuição e alocação em vista de mais igualdade, consideradas as situações específicas. Nessa linha, a EJA representa uma possibilidade de efetivar um caminho de desenvolvimento a todas as pessoas, de todas as idades, permitindo que jovens e adultos atualizem seus conhecimentos, mostrem habilidades, troquem experiências e tenham acesso a novas formas de trabalho e cultura. Reconhecida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais como o próprio sentido da EJA, a função qualificadora refere-se à necessidade de propiciar ao educando a atualização de conhecimentos por toda a vida através de aprendizagens contínuas. Esta função é também um apelo para as instituições de ensino e pesquisa com relação à produção de material didático adequado para este segmento. 1.3 – A EJA como Modalidade Específica Garantir o direito à escolarização de jovens e adultos é uma demanda histórica no Brasil, pois ao longo dos últimos anos a identidade da EJA vem sendo construída e modificada. Anteriormente a denominação “supletivo” embutia a conotação de compensar “o tempo perdido” ou “complementar o inacabado”, com a idéia de substituir de forma compensatória o ensino regular. Somente a partir do ano de 1996, com publicação da LDB nº 9.394/96 que a EJA passa a ser considerada uma modalidade da Educação Básica nas etapas do Ensino Fundamental e Médio, usufruindo de uma especificidade própria. O que hoje é concebido como Educação de Jovens e Adultos corresponde à aprendizagem e qualificação permanentes – não suplementares, mas fundamentais e que favoreçam a emancipação. Arroyo (2005) diz que a nova LDB fala apropriadamente em educação de jovens e adultos. Quando a LDB se refere a jovens e adultos, nomeia-os não como aprendizes de uma etapa de ensino, mas como educandos, ou seja, como sujeitos sociais 17 e culturais, jovens e adultos. Essas diferenças sugerem que a EJA é uma modalidade que construiu sua própria especificidade como educação, com um olhar sobre os educandos. É importante considerar que a fase de vida dos alunos dessa modalidade de ensino atribui à EJA uma identidade que a diferencia do ensino “regular”, quando se refere ao público fora da idade própria. Considerando que esse público tem uma idade diferenciada em relação ao público do ensino regular exigem da EJA demandas educativas específicas, com características diferenciadas de ensino, métodos de trabalhos adequados e período de formação distinto. Ainda que a singularidade desta modalidade educativa em relação às outras modalidades de ensino seja definida pela idade de seu público, Fonseca (2005a) ressalta que o grande traço definidor da EJA se caracteriza pela questão sociocultural de seus alunos. Sobre esse aspecto, Oliveira complementa que: O tema “educação de pessoas jovens e adultas” não nos remete apenas a uma questão de especificidade etária, mas, primordialmente, a uma questão de especificidade cultural. Assim, apesar do recorte por idade (jovens e adultos são, basicamente, “não crianças”), esse território da educação não diz respeito a reflexões e ações educativas dirigidas a qualquer jovem ou adulto, mas delimita um determinado grupo de pessoas relativamente homogêneo no interior da diversidade de grupos culturais da sociedade contemporânea (1999, p. 59). Reforçando que a especificidade da EJA está pautada na importância de se considerar o perfil distinto de seus educandos e na satisfação das necessidades de aprendizagem de jovens e adultos de escolarização básica incompleta ou jamais iniciada, Fonseca destaca, que essas pessoas “(re)tomam sua vida escolar apresentando perspectivas e expectativas, demandadas e contribuições, desafios e desejos próprios em relação à Educação Escolar” (2005a, p. 32). Sendo assim, os motivos e objetivos que levaram a criar essa modalidade de ensino foram para atender inúmeros jovens e adultos que não concluíram, ou nem mesmo começaram a sua trajetória escolar. E os fatores que levaram a essa interrupção ou o inicio da escolaridade são vários, que se pode enumerar desde a falta de interesse, impossibilidade de conciliar trabalho e estudo, inexistência de escola próxima ao local onde mora. Esses entre outros fatores, apesar de remeterem a um acontecimento individual, afetam muitas pessoas ao mesmo tempo e em diversos lugares, acarretando para que essas pessoas acabem se tornando excluídas da sociedade, seja pela incompreensão das relações políticas ou pela incapacidade de se comunicar com seus 18 semelhantes. Dessa forma, tem-se que essa falta de estudo leva a pessoa a ter uma precária qualidade de vida levando à impossibilidade de sobreviver na atual sociedade globalizada em constantes modificações, exigindo dos indivíduos que nela se inserem uma alta capacidade de adaptação. Contudo, são por esse motivo e diversas outras consequências que podem decorrer na vida das pessoas com escolarização básica inacabada ou jamais iniciada que o setor educacional, por meio da EJA, precisa fornecer respostas às demandas nas quais as pessoas têm enfrentado diariamente. 1.4 – Educandos da EJA Para compreender o perfil dos educandos da EJA é preciso conhecer a sua história, cultura, costumes, suas experiências de vida, quais os motivos que os fizeram se afastar da escola, etc. A Educação de Jovens e Adultos é marcada pela heterogeneidade de seu público. Abriga alunos jovens com pouca experiência de vida e adultos que já viveram bastante e têm muitas histórias e ensinamentos para contar. Esses alunos têm traços de vidas, origens, idades, vivências profissionais, históricos escolares, ritmos de aprendizagem e estruturas de pensamentos completamente variados. O adulto, no âmbito da EJA, não é o estudante universitário, o profissional qualificado que freqüenta cursos de formação continuada ou de especialização, ou a pessoa adulta interessada em aperfeiçoar seus conhecimentos em áreas como artes, línguas estrangeiras ou música. E o jovem, incorporado ao território da antiga educação de adultos relativamente há pouco tempo, não é aquele com uma história de escolaridade regular, o vestibulando ou o aluno de cursos extracurriculares em busca de enriquecimento pessoal. “Não é também o adolescente no sentido naturalizado de pertinência a uma etapa bio-psicológica da vida” (OLIVEIRA, 1999, p. 59-60). Os educandos da EJA são, acima de tudo: Homens e mulheres, trabalhadores de vários segmentos sociais como donas de casa, migrantes, aposentados, encarcerados, empregados e desempregados ou em busca do primeiro emprego; filhos, pais e mães; moradores urbanos de periferias, favelas e vilas. São sujeitos sociais e culturais, marginalizados nas esferas socioeconômicas e educacionais, privados do acesso à cultura letrada e aos bens culturais e sociais, comprometendo uma participação mais ativa no 19 mundo do trabalho, da política e da cultura. Vivem no mundo urbano, industrializado, burocratizado e escolarizado, em geral trabalhando em ocupações não qualificadas. Trazem a marca da exclusão social, mas são sujeitos do tempo presente e do tempo futuro, formados pelas memórias que os constituem enquanto seres temporais. Que buscam a reentrada no sistema educacional dos que tiveram uma interrupção forçada seja pela repetência ou pela evasão, sejam pelas desiguais oportunidades de permanência ou outras condições adversas, outros ainda, que nunca freqüentaram por falta de escola em lugares acessíveis. Jovens e adultos que quando retornam à escola o fazem norteados pelo desejo de melhorar de vida ou por exigências ligadas ao mundo do trabalho. São sujeitos de direitos, trabalhadores que participam concretamente da garantia de sobrevivência do grupo familiar ao qual pertencem (MEC/CNE/CEB, 2000). Com o restabelecimento, a partir do Parecer 11/2000, do limite etário para o ingresso na EJA (14 anos para o Ensino Fundamental e 17 anos para o Ensino Médio), portanto, fazem parte dessa modalidade de ensino, jovens, adultos e até idosos. Os jovens caracterizam-se por estarem em plena adolescência. Os adultos preocupam-se com a inserção no mercado de trabalho e os idosos buscam sua cidadania e respeito por sua experiência de vida. Refletir sobre como esses jovens e adultos pensam e aprendem envolve, portanto, transitar pelo menos por três campos que contribuem para a definição de seu lugar social: a condição de “não-crianças”, a condição de excluídos da escola e a condição de membros de determinados grupos culturais. No que diz respeito à condição de “não-crianças”, Oliveira (1999, p. 60) afirma: Esbarramos em limitação considerável da área da psicologia: as teorias do desenvolvimento referem-se, historicamente, de modo predominante à criança e ao adolescente, não tendo estabelecido, na verdade, uma boa psicologia do adulto. Os processos de construção de conhecimento e de aprendizagem dos adultos são, assim, muito menos explorados na literatura psicológica do que aqueles referentes às crianças e aos adolescentes. Em relação à assimilação desses alunos “não-crianças” ao sistema escolar, Fonseca (2005a) afirma que, muitas vezes, por questões voltadas à gestão de verbas ou pela carência de um projeto pedagógico específico, as redes públicas de ensino incorporam esses alunos em turmas ditas “regulares”. Isso ocasiona o desenvolvimento de um trabalho pedagógico que não atende às especificidades do público, limitado por espaços e currículos pouco flexíveis, e outros desconfortos e constrangimentos gerados por estarem os alunos da EJA ao lado de crianças e adolescentes e/ou numa sala de aula voltada para o universo infantil (mobiliário, decoração, organização, etc.). Um segundo ponto a ser citado no que diz respeito à especificidade dos jovens e adultos como sujeitos de aprendizagem relacionada com o processo de 20 exclusão da escola regular é o fato de que a escola funciona com base em regras específicas e com uma linguagem particular que deve ser conhecida por aqueles que nela estão envolvidos. O desenvolvimento das atividades escolares está baseado em símbolos e regras que não são parte do conhecimento de senso comum. Isto é, o modo de se fazer as coisas na escola é específico da própria escola e aprendido em seu interior. (OLIVEIRA, 1987). ... Alunos que nunca haviam estado na escola tinham grande dificuldade de trabalhar com a linguagem escolar, enquanto que aqueles que já haviam tido certo treino escolar demonstraram dominar a mecânica geral da escola e considerar os diversos tipos de atividades como aceitáveis no interior do mundo escolar, mesmo quando desconhecidas como atividades específicas. Entretanto, ainda que esses alunos mais treinados soubessem bastante a respeito da verossimilhança das atividades desenvolvidas em classe, a apresentação formal das tarefas escolares continuou sendo um obstáculo ao seu bom desempenho. Compreensão de instruções, particularmente quando por escrito, também constituía, ainda, grande parte do problema a ser resolvido (OLIVEIRA, 1987 apud OLIVEIRA, 1999, p. 62) 1. A partir das considerações da autora, podemos analisar que a maioria dos alunos da EJA apresenta grande dificuldade em se adequar à linguagem escolar, pois esta e o conhecimento escolar não estão em sintonia com a linguagem e com o saber do educando, dificultando o seu aprendizado. Desse modo, o retorno escolar representa uma grande barreira para os alunos, ou ainda por não terem freqüentado a escola quando criança. Nesse sentido, para Oliveira (1999), a exclusão escolar, em razão dos aspectos emocionais que envolvem, coloca os alunos em situação de desconforto pessoal e pode influenciar no seu aprendizado futuro. Os alunos da EJA têm vergonha de freqüentar a escola depois de adultos e sentem-se humilhados e inseguros, o que compromete a sua capacidade de aprender. O não reconhecimento pela escola da diversidade cultural dos educandos da EJA põe em risco o rendimento escolar desses sujeitos. Mais um aspecto a ser considerado é a condição dos alunos da EJA como membros de determinados grupos culturais. O que Oliveira (1999) destaca como sendo o traço definidor da especificidade do público da EJA. A referência ao lugar social ocupado pelos jovens e adultos definidos por sua condição de excluídos da escola regular faz com que a especificidade cultural deva ser examinada com relação a outros aspectos que os definem como um grupo 1 OLIVEIRA, Marta Kohl de. O inteligente e o “estudado”: alfabetização, escolarização e competência entre alunos de baixa renda. Revista da Faculdade de Educação, v. 13, n. 2, 1987, p. 15-26. 21 relativamente homogêneo no interior da diversidade de grupos culturais da sociedade contemporânea. Assim, a questão do funcionamento intelectual, da capacidade para aprender e dos modos de construção de conhecimento, e o fato dos adultos e os jovens que são objeto das práticas e reflexões sobre a educação de pessoas jovens e adultas não pertencem ao grupo social dominante ou caracteristicamente objeto das práticas educativas de que se ocupa a área da educação em geral, ressaltam que o problema que se coloca é o da homogeneidade e da heterogeneidade cultural, do confronto entre diferentes culturas e da relação entre diferenças culturais e diferenças nas capacidades e no desempenho intelectual dos sujeitos. A escola voltada à Educação de Jovens e Adultos, portanto, é: Ao mesmo tempo um local de confronto de culturas (cujo maior efeito é, muitas vezes, uma espécie de “domesticação” dos membros dos grupos pouco ou não escolarizados, no sentido de conformá-los a um padrão dominante de funcionamento intelectual) e, como qualquer situação de interação social, um local de encontro de singularidades (OLIVEIRA, 1999, p. 72). Outro aspecto relativo aos educandos da EJA e que também merece ser observado, é que grande parte do público que freqüenta os programas de Educação de Jovens Adultos tem passagem anterior pela escola e é cada vez mais dominante a presença de adolescentes e jovens recém-excluídos do ensino regular. Sobre este assunto ressalta-se que: Hoje, a clientela da Educação de Jovens e Adultos inclui de fato “jovens” e “adultos”. Os jovens fazem parte de uma população incorporada à educação de adultos recentemente. Sucessivas reprovações ou evasões os incluem no rol considerado dos “fora da relação idade/série” (MEC/SEF, 2002a. p. 90). Com base na experiência ou em pesquisas sobre o tema, sabe-se que os motivos que levam os jovens e adultos à escola referem-se predominantemente às suas expectativas de conseguir um emprego melhor. Mas suas motivações não se limitam a este aspecto. Muitos se referem também à vontade mais ampla de “entender melhor as coisas”, “se expressar melhor”, de “ser gente”, de “não depender sempre dos outros” (MEC/SEF, 2001, p. 42). Sobre esse aspecto, Fonseca esclarece: Naturalmente, alunos e alunas da EJA percebem-se pressionados pelas demandas do mercado de trabalho e pelos critérios de uma sociedade onde o saber letrado é altamente valorizado. Mas trazem em seu discurso não apenas as referencias à necessidade: reafirmam o investimento na realização de um desejo e a consciência (em formação) da conquista de um direito. Diante de nós, educadores da EJA, e conosco, estarão, pois mulheres e homens que precisam que querem e que reivindicam a Escola (2005a, p. 49). 22 É reconhecido que o aluno da EJA vive, em geral, uma história de exclusão, que tem seu acesso a bens culturais e materiais produzidos pela sociedade de forma restringida. E com a escolarização, ele busca construir estratégias que lhe permitam reverter esse processo. Podemos observar que a EJA se apresenta como um campo de práticas educativas que, embora tendo em comum um segmento de população como objeto de sua atenção, abriga uma diversidade de concepções relativas a esse público formado de pessoas jovens e adultas que buscam acima de tudo transformarem suas vidas através da inserção e inclusão em processos de escolarização. Dessa forma, a síntese desses elementos é objeto de preocupações e o campo curricular apresenta-se como um lugar privilegiado para se analisar como tais concepções se acomodam ou se sobrepõem nas tentativas de se elaborar um projeto educativo coerente onde se expressem as várias identidades dessa modalidade. 1.5 – A EJA em Rondônia O funcionamento da EJA, em Rondônia, é organizado de acordo com a LDB 9394/96, o Parecer CNE/CEB 11/2000, e as novas diretrizes editadas por meio dos Pareceres CNE/CEB 6/2010 e 7/2010 e das resoluções CNE/CEB 3/2010 e 4/2010, todas do Conselho Nacional de Educação. Com base nessas leis federais, foi elaborada pelo Conselho Estadual de Educação de Rondônia, a Resolução nº 827/2010, de 06 de dezembro de 2010, em substituição à Resolução nº 098/2000, regulamentando a oferta da Educação de Jovens e Adultos no Sistema Estadual de Ensino de Rondônia e tratando assim dos critérios de oferta da modalidade, como organização, duração e a composição do currículo dos Cursos ou dos Exames de conclusão do Ensino Fundamental e Médio da EJA. Segundo esta resolução para o ingresso nos Cursos ou nos Exames de Conclusão, os alunos deverão ter, no ato da matricula ou da inscrição, a idade mínima de 15 anos completos para o 1º ou 2º segmento do Ensino Fundamental e 18 anos completo para o Ensino Médio. Conforme art. 9º da resolução, a oferta da EJA por meio de Cursos, poderá ser organizada sob as formas 23 I. presencial, com exigência de seqüência escolar, avaliação no processo e freqüência mínima de 75% das efetivas atividades escolares; II. semipresencial, com momentos presenciais e não presenciais, exigência de freqüência mínima de 75% das atividades programadas para os momentos presenciais, avaliação no processo ou fora deste, por meio de Exames, e não será exigida comprovação de escolaridade anterior; III. a distância, terá o atendimento não presencial, indireta, virtual e a utilização de recursos tecnológicos. Ainda conforme a resolução 827/2010, a duração dos Cursos, independentemente da organização adotada, deve atender o mínimo de horas exigidas sendo, para o Ensino Fundamental: Anos Iniciais – 1.400 horas, e Anos Finais – 1.600 horas, para o Ensino Médio – 1.200 horas. O currículo dos Cursos ou dos Exames de Conclusão de Ensino Fundamental e Médio devera ser estruturado com os componentes de Base Nacional Comum complementado pelos da Parte Diversificada, observando as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Médio, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica e demais normas pertinentes. A estruturação da Grade Curricular das escolas estaduais é organizada conforme a Portaria 0258/11, de 28 de janeiro de 2011. Nesta Portaria a disciplina Matemática para o Ensino Fundamental de 5ª a 8ª Série da EJA possui uma carga horária de 80 horas para cada série, constituindo assim de 4 hora/aula por semana, já para Ensino Médio do 1º ao 3º ano da EJA é reduzida para 40 horas para cada semestre sendo assim apenas 2 hora/aula por semana. Sobre os números da EJA em Rondônia, segundo o Censo Escolar 2010 realizado pelo INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o número de alunos matriculados atingiu a marca de 78.080, desse total 1.414 se referia a alunos da EJA que pertencia a Educação Especial. Sendo registradas 60.373 matriculas nos cursos presenciais e 17.707 matriculas nos cursos semipresenciais. Do número total de alunos matriculados na EJA neste ano, 44.315 matrículas se referiam ao Ensino Fundamental e 33.765 ao Ensino Médio. Ainda segundo o Censo Escolar de 2010, 57.876 matriculas foram registradas pela rede de ensino Estadual, 16.264 pela Municipal, 3.923 pela rede privada, e 17 pela rede Federal. Já conforme dados da PEP – Projeto de Estatística e Pesquisa, da SEDUC – 24 Secretaria Estadual de Educação de Rondônia, o número de alunos matriculados em 2010 foi 77.188, sendo registradas 60.867 matriculas nos cursos presenciais e 16.321 matriculas nos cursos semipresenciais. Ainda segundo o PEP 2010, 57.984 matriculas foram registradas pela rede Estadual, 16.289 pela Municipal, 2.898 pela rede privada, e 17 pela rede Federal. Quanto ao número de estabelecimentos de ensino que oferecem a modalidade EJA no estado de Rondônia, a SEDUC registrou 297 Escolas, dessas 160 são de rede Estadual, 122 da rede Municipal, 14 Particulares, e 01 da rede Federal. Outro indicador importante no contexto da EJA refere-se ao número de professores atuando nesta modalidade. Conforme a estatística em 2010, a SEDUC computou cerca de 3.375 professores que lecionaram em salas de aula da EJA, desses 2.424 são da dependência administrativa Estadual, 831 da Municipal, 16 da Federal e 104 da Privada. CAPÍTULO II – O ENSINO-APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA NA EJA 2.1 – Importância da Matemática para os educandos da EJA A educação matemática torna-se cada vez mais necessária no mundo atual, para a interpretação das tecnologias e a resolução de inúmeros problemas do dia-a-dia, ou até mesmo para proporcionar ao indivíduo um melhor desenvolvimento do raciocínio e a formação de pensamentos mais elaborados e fundamentados. Nesse sentido, a construção do conhecimento matemático deve ser orientada para integrar de forma equilibrada seu papel formativo, correspondente ao desenvolvimento de capacidades intelectuais fundamentais para a estruturação do pensamento e do raciocínio lógico e o seu papel funcional, que envolve as aplicações na vida prática e na resolução de problemas de diversos campos de atividade. Frente essa perspectiva, Cardoso (2000) destaca que para os alunos em geral, mas muito especialmente para os alunos da EJA, a educação matemática deve, pois, ser pensada como contribuição para as práticas de leitura, buscando ainda, segundo Fonseca (2005a), contemplar (e até privilegiar) conteúdos e formas que ajudem a entender, participar e mesmo apreciar melhor o mundo em que vivemos (e, eventualmente, ou até freqüentemente, mas não necessariamente, sejam usadas na resolução de problemas da vida particular do aluno). Nessa perspectiva, Fonseca (2005a) diz que o papel na construção da cidadania que se tem buscado atribuir à Educação de Jovens e Adultos pede hoje cuidado crescente com o aspecto sociocultural da abordagem matemática e diz ainda que: Torna-se cada vez mais evidente a necessidade de contextualizar o conhecimento matemático a ser transmitido ou construído, não apenas inserindo-o numa situação-problema, ou numa abordagem dita “concreta”, mas buscando suas origens, acompanhando sua evolução, explicitando sua finalidade ou seu papel na interpretação e na transformação da realidade com qual o aluno se depara e/ou de suas formas de vê-la e participar dela (p. 5354). Sobre as discussões no campo da educação matemática, nos últimos anos vem crescendo o interesse em discutir mais sobre esses aspectos entre os professores e alunos da EJA, pesquisadores e responsáveis pela elaboração e implementação de 26 propostas para essa modalidade. Segundo Fonseca, essas preocupações que eram: ...antes mais fortemente concentradas na luta pelo direito à escola, elas agora se voltam mais intensamente para as questões de ensino-aprendizagem, buscando aprimorar a qualidade das iniciativas implementadas, especialmente pela consideração das especificidades do público a que atendem (FONSECA, 2005b, p. 321-322). Neste sentido, Fonseca (2005a) complementa sobre a importância da Matemática para a solução de problemas reais, urgentes e essenciais nas atividades profissionais ou em outras circunstâncias do exercício da cidadania vivenciadas pelos alunos da EJA. Ainda em relação à importância da Matemática na formação de alunos jovens e adultos, a proposta curricular para a EJA afirma que: Aprender matemática é um direito básico de todos e uma necessidade individual e social de homens e mulheres. Saber calcular, medir, raciocinar, argumentar, tratar informações estatisticamente, etc. são requisitos necessários para exercer a cidadania (MEC/SEF, 2002b, p. 11). Além disso, tal proposta indica ainda, que a escolarização representa uma busca de construção de estratégias para a reversão do quadro de exclusão vivido pela clientela da EJA, logo, imagina-se que o currículo de Matemática deve contribuir para a formação deste indivíduo de tal forma que ele possa participar mais ativamente no mundo do trabalho, das relações sociais, da política e da cultura e ser protagonista de mudanças no ambiente em que vive. O documento lembra que a Matemática pode fornecer um instrumental precioso ao desenvolvimento de procedimentos sistemáticos de observação, nos quais os diferentes campos da Matemática devem se integrar, de forma articulada, às atividades e às experiências matemáticas que serão desenvolvidas pelos alunos da EJA. Ainda sobre o papel do ensino da Matemática na EJA, Fonseca (2005a) enfatiza que: Os alunos não vêm à escola apenas à procura da aquisição de um instrumental para o uso imediato na vida diária, até porque partes dessas noções e habilidades de utilização mais freqüente no dia-a-dia eles já dominam razoavelmente. Isso leva a conferir ao ensino da Matemática que se pretende ali processar um caráter de sistematização, de re-elaboração e/ ou alargamento de alguns conceitos, de desenvolvimento de algumas habilidades e mesmo treinamento de algumas técnicas requisitadas para o desempenho de atividades heurísticas e algorítmicas (p. 51). Neste contexto, Fonseca (2005a, p. 12) destaca ainda que “a modalidade escolar do ensino da Matemática e da Educação de Jovens e Adultos marca, antes de mais nada, uma posição política em defesa do direito à Educação Básica – pública, gratuita e de qualidade – para todos”. 27 2.2 – Especificidades Quanto ao Processo de Ensino-aprendizagem da Matemática na EJA Ao assumir que a realidade da EJA caracteriza-se principalmente pela diversidade de seu público, esta necessita ser pensada como um modelo pedagógico específico, pois como os alunos que freqüentam essa modalidade são diferentes dos alunos que freqüentam uma escola de ensino regular, o seu ensino também deve ser diferente, independentemente da disciplina escolar oferecida. Com relação ao processo de ensino-aprendizagem da Matemática para este público, este é preciso que seja situado na análise e na interpretação de situações, na busca de estratégias de solução, no exame e na comparação entre diversas estratégias, na discussão de diferentes pontos de vista e de diferentes métodos. Diante desse aspecto, a proposta curricular para a EJA vem destacar que o currículo de Matemática para os jovens e adultos necessita ser desenvolvido a partir dos saberes que os alunos trazem de sua vida cotidiana, pois se sabe que jovens, adultos e idosos não-alfabetizados possuem conhecimentos matemáticos intuitivos, manifestados quando da necessidade de fazer cálculos em função de razões práticas do cotidiano, principalmente para realização do trabalho que os seres humanos utilizam a Matemática de forma mental, uma vez que eles contam, calculam e medem para resolverem muitos problemas imediatos. Nesta perspectiva, o ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos, mais do que em outra modalidade de ensino, deve ter como ponto de partida para a aquisição dos conteúdos matemáticos os conhecimentos prévios dos educandos, pois esses conhecimentos costumam ser bastante diversificados e assim não devem ser encarados, como ocorrem equivocadamente, como obstáculos à aprendizagem. Isso implica que, ao planejar a intervenção didática, o professor deve estar consciente dessa diversidade e procurar transformá-la em elemento de estímulo, explicação, análise e compreensão (MEC/SEF, 2001. p. 100). Freire (2007), em sua caminhada e luta pela educação de adultos aponta como importância do educador respeitar a individualidade do educando e aproveitar suas vivências e experiências no ato de educar. O imperativo aqui é a possibilidade de se fazer uma ponte entre os conhecimentos adquiridos pelo educando ao longo da vida e sua aprendizagem escolar. Para a produção de conhecimento é necessário respeitar a visão de mundo das pessoas e trabalhar junto com elas, no sentido de trocar sua maneira 28 ingênua de entender o mundo para uma forma mais crítica. Complementando esta idéia, a atividade matemática na EJA deve ser composta pela Matemática formal e a informal. Apropriando-se de sua estrutura e procurando estabelecer a relação necessária entre conteúdo escolar e realidade. Essa visão remete-se ao que expressam os PCNs: Os alunos trazem para a escola conhecimentos, idéias e intuições construídas através das experiências que vivenciam em seu grupo sociocultural. Desse modo, um currículo de Matemática deve procurar contribuir, de um lado, para a valorização da pluralidade sociocultural, impedindo o processo de submissão no confronto com outras culturas; de outro, criar condições para que o aluno transcenda um modo de vida restrito a um determinado espaço social e se torne ativo na transformação de seu ambiente (PCN, p. 25, 1997). O trabalho com Matemática, em sala de aula, nessa definição, deve estar voltado tanto para seu caráter formativo, quanto para o informativo, sendo que o primeiro diz respeito às contribuições do conhecimento matemático para o desenvolvimento humano e o segundo é relativo à utilidade do conhecimento matemático no contexto social. Outro ponto importante para o ensino da Matemática na EJA é a seleção e a organização dos conteúdos, um processo que envolve discussões sobre o que enfatizar e em que aprofundar. O processo de indicação de conteúdos matemáticos conceituais e procedimentais envolve um desafio: identificar, em cada um dos campos matemáticos, aqueles que, de um lado, são socialmente relevantes para a Educação de Jovens e Adultos e, de outro, em que medida contribui para o desenvolvimento intelectual do jovem e do adulto. Também é de fundamental importância o resgate e/ou despertar da autoestima do aluno da EJA, valorizando os conteúdos atitudinais e procedimentais tanto quanto, ou até mais que os conceituais, uma vez que, através desses conteúdos, o fluir dos conhecimentos conceituais se processará de forma cada vez mais intensa. Com relação aos conteúdos atitudinais a proposta de Matemática para EJA define como os que envolvem o componente afetivo – predisposição, interesse, motivação e os coloca num grau de importância correlato aos conteúdos conceituais e procedimentos, pois entende que estes conteúdos oferecem condições para que os outros se desenvolvam. O elenco de conteúdos atitudinais é marcado pelas palavras que expressam a afetividade: predisposição, interesse, valorização, persistência (MEC/SEF, 2002b). 29 No documento introdutório da proposta curricular para EJA, a definição de atitude é considerada bastante complexa por envolver a cognição (conhecimentos e crenças), afetos (sentimentos e preferências) e condutas (ações e declarações de intenções). Na busca de uma melhor definição, o documento esclarece que as atitudes são alvos da atenção educativa e que são disposições pessoais que tendem a se expressar por meio de comportamentos, reconhecendo a interferência de diversos fatores nestes comportamentos e que um comportamento não reflete necessariamente uma atitude. Indica, também, que a escola é um espaço onde se deve aprender atitudes relativas ao conhecimento, às relações pessoais, às disciplinas e à sociedade (MEC/SEF, 2002a). Tendo em vista esses questionamentos evidenciados na EJA, deve se ressaltar que os jovens e adultos que buscam a EJA necessitam de uma Matemática que “estimula a construção de estratégias para resolver problemas, a comprovação e a justificativa de resultados, a criatividade, a iniciativa pessoal, o trabalho coletivo e a autonomia advinda da confiança na própria capacidade para enfrentar desafios” (MEC/SEF, 2002b, p. 11) e não a “decoreba” de fórmulas e soluções para resolver problemas. 2.3 – O Ensino Tradicional da Matemática Como já foi dito anteriormente, a Matemática está presente na vida das pessoas como uma ferramenta indispensável, onde cada vez mais se percebe melhor a íntima relação entre a Matemática e a sociedade, e com isso torna-se crescente a importância atribuída à Matemática nos sistemas de ensino. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) ressaltam que: A Matemática faz-se presente na quantificação do real – contagem, medição de grandezas – e no desenvolvimento das técnicas do cálculo com os números e com as grandezas. No entanto, esse conhecimento vai muito além, criando estruturas abstratas, idéias, que organizam, inter-relacionam e revelam fenômenos do espaço, do movimento, das formas e dos números, associados quase sempre a fenômenos do mundo físico (PCN, p. 25, 1998). Os PCNs destacam ainda, que falar em formação básica para a cidadania significa falar da inserção das pessoas no mundo do trabalho, das relações sociais e da cultura, no âmbito da sociedade brasileira. Assim, é importante refletir a respeito da colaboração que a Matemática tem oferecer com relação à realização de tal inserção. 30 Por outro lado, ensinar Matemática na sala de aula talvez nunca foi uma tarefa muito fácil. A Matemática tem sido no decorrer dos tempos, a disciplina escolar mais temida pelos alunos. Embora ela esteja presente em praticamente tudo o que nos rodeia, com menor ou maior complexidade, ela é apontada como a disciplina mais difícil de ser ensinada e compreendida pelos alunos, responsabilizada pela evasão de muitos alunos da escola. Os que abandonam a escola o fazem por diversos fatores de ordem social e econômica, mas também por se sentirem excluídos da dinâmica de ensino e aprendizagem. Nesse processo de exclusão, o insucesso na aprendizagem matemática tem tido papel destacado e determina a freqüente atitude de distanciamento, temor e rejeição em relação a essa disciplina, que parece aos alunos inacessível e sem sentido (MEC/SEF, 2002b, p. 13). Refere ainda o documento que “a Matemática tem sido ensinada de forma empobrecedora: apresentam-se fórmulas, regras e resultados para que os alunos os apliquem mecanicamente em exercícios que seguem um modelo” (MEC/SEF, 2002b, p. 18). Essa prática mostra que mesmo que o aluno resolva corretamente uma atividade proposta, quando idêntica atividade lhe é proposta em uma situação do cotidiano ele não consegue estabelecer um paralelo, mostrando que apenas aprendeu a reproduzir alguns procedimentos mecânicos. Nesta perspectiva, sabe-se, portanto, que parte desses problemas estariam relacionados à visão tradicional da Matemática e do seu ensino, e à influência dessa visão nas práticas pedagógicas dos professores que acabam condicionando os alunos, não apenas durante o processo escolar, mas também para as outras etapas da vida, a perpetuarem a concepção de que os conhecimentos matemáticos são inatingíveis e alheios à natureza humana (RIBEIRO, 2007, p. 53). Sobre a visão tradicional da Matemática, Caraça explica: A Matemática é geralmente considerada uma ciência à parte, desligada da realidade, vivendo na penumbra do gabinete, um gabinete fechado onde não entram os ruídos do mundo exterior, nem o sol nem os clamores dos homens. Isto só em parte é verdadeiro. Sem dúvida, a Matemática possui os seus problemas próprios, que não têm ligação imediata com os problemas da vida social. Mas não há dúvida também de que os seus fundamentos mergulham, tal como os de outro qualquer ramo da Ciência, na vida real; uns e outros entroncam-se na mesma madre (apud VASCONCELOS, 2007, p. 2)2. Diante de tais definições, a Matemática é compreendida entre os leigos e especialistas, como um objeto pronto e acabado, com características especificas e 2 CARAÇA, J. A. (1970). Conceitos fundamentais da Matemática. (Vol. I, II, III). Lisboa: Sá da Costa. (citação conforme consta em VASCONCELOS). 31 objetivas, de precisão, de rigor, de neutralidade do ponto de vista ideológico. Por sua vez, e como conseqüência dessa visão: O ensino da Matemática, ao longo dos anos, tem sido considerado o grande responsável pelo fracasso escolar e, conseqüentemente, vem atuando como gerador da exclusão de significativa parte do alunado, conferindo à escola um papel elitista e discriminatório (CUNHA, 1999b, p. 63). Com relação ao método de ensino desta Matemática, D’Ambrosio ressalta ainda: Particularmente em Matemática, parece que há uma fixação na idéia de haver necessidade de um conhecimento hierarquizado, em que cada degrau é galgado numa certa fase da vida, com atenção exclusiva durante horas de aulas, como um canal de televisão que se sintoniza para as disciplinas e se desliga acabada a aula. Como se fossem duas realidades disjuntas, a da aula e a de fora da aula (1996, p. 83). No entanto, a Matemática vinculada à realidade social é de grande importância para o sucesso de sua aprendizagem. A Matemática não deve ser pensada apenas como aprendizagem de regras, cálculos, fórmulas ou quaisquer situações que levem a resultados através da memorização. Sobre o assunto Cunha elucida que: Assim como o ensino da língua, a Matemática constitui instrumento primordial do processo educativo. Como tal, esse processo deve ter por base a finalidade da educação nacional, pois tanto os objetivos desta quanto a literatura educacional têm dado relevo à formação do cidadão e ao exercício da cidadania, posto que os demais aspectos a esses se agregam, para não dizer se subordinam (1999b, p. 64). Segundo D’Ambrósio (1990), a Matemática se justifica, nas escolas, por ser útil como instrumentador para a vida, para o trabalho, parte integrante de nossas raízes culturais, porque ajuda a pensar com clareza e raciocinar melhor. Também por sua universalidade, sua beleza intrínseca como construção lógica, formal, etc. Assim tornase interessante a utilidade social da Matemática para fornecer instrumento para o homem e mulher agirem no mundo de modo mais ativo formando gerações compostas de homens e mulheres preparados. Ainda segundo D’Ambrósio (1990, p. 16) “isso significa desenvolver a capacidade do aluno para manejar situações reais, que se apresentam a cada momento, de maneira distinta”. Para Bassanezi (2006), trabalhar a Matemática, comprometida com as realidades do homem na sociedade, seria menos alienante, proporcionaria relacionar instrumentos matemáticos com outras áreas do conhecimento. Assim enfatiza que: É também nessa capacidade de estabelecer relações entre os campos da Matemática e os outros, evitando reproduzir modos de pensar estanques, fracionados, que, a nosso ver, está o futuro da formação de novos quadros de professor e pesquisadores prontos a enfrentar o desafio de pensar a unidade na multiplicidade (BASSANEZI, 2006, p. 15). 32 Sendo assim, Freire (2007, p. 47), nos adverte que “saber o que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. De maneira que, a mediação entre o conhecimento informal dos estudantes e o conhecimento sistematizado ou escolar precisa ser amplamente orientada pela intervenção do professor, na busca de oportunidades para a construção do conhecimento matemático sistematizado a partir dos conhecimentos já constituídos na experiência de vida do educando. Isso porque, segundo Freire (2007, p. 28), “ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se ‘dispõe’ a ser ultrapassado por outro amanhã”. 2.4 – O Educador Matemático da Educação de Jovens e Adultos A educação encara, em geral, grandes problemas, e nesse contexto torna-se de fundamental importância recordar o papel do professor de Matemática, já que é nessa tônica que discutimos. De cara, podemos fundamentar esse papel no ato de ajudar o aluno a entender os objetivos dos conteúdos dessa disciplina, levá-lo a sentir-se capaz de operacionalizar com sucesso seus conhecimentos, a construir seus próprios conceitos, a ter coragem de decidir, de inferir, de inventar. Dessa forma, conforme destaca D’Ambrósio (1996, p. 87), o papel do professor de Matemática torna-se importante, tanto para conduzir o aluno na análise de suas potencialidades, como para destacar alguns dos importantes princípios éticos a ela associados. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) destacam a importância da formação diferenciada para o educador da EJA. Segundo a Resolução CNE/CEB nº 01/2000: Art. 17 – A formação inicial e continuada de profissionais para a Educação de Jovens e Adultos terá como referência as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores, apoiada em: ambiente institucional com organização adequada à proposta pedagógica; investigação dos problemas desta modalidade de educação, buscando oferecer soluções teoricamente fundamentadas e socialmente contextualizadas; desenvolvimento de práticas educativas que correlacionem teoria e prática; utilização de métodos e técnicas que contemplem códigos e linguagens apropriados às situações específicas de aprendizagem (Resolução n. 01/2000, 33 p. 03). De acordo com as DCNs, o profissional deve ao longo de sua trajetória profissional construir conhecimentos, habilidades, e competências que propiciem o desenvolvimento de atividades pedagógicas contextualizadas que valorizem as experiências de cada indivíduo. O Parecer 11/2000 aponta que a formação do educador para a EJA deve incluir: Além das exigências formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino, assim esse profissional do magistério deve estar preparado para interagir empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um professor aligeirado ou motivado apenas pela boa vontade ou por um voluntário idealista e sim um docente que se nutra do geral e também das especificidades que a habilitação como formação sistemática requer (MEC/CNE/CEB, 2000, p. 56). O docente, em particular o de Matemática, deve ser preparado para a elaboração de projetos pedagógicos apropriados às características da EJA, evitando o que constitui um dos grandes desafios encontrados pelo educador, a “infantilização” do ensino, problema este que colabora para que o aluno muitas vezes se desinteresse pela escola. Fonseca (2005a) chama a atenção para três valores fundamentais para a efetiva participação do professor na educação matemática, em particular os que ensinam na EJA: honestidade, comprometimento e entusiasmo. Devendo o educador matemático da EJA englobar ainda três importantes dimensões: 1. A intimidade com a matemática – conhecer plenamente a disciplina nos aspectos epistemológicos, históricos, buscando espaços de (re)significação dos conhecimentos socializados. 2. Sensibilidade para as especificidades da vida adulta, ensinar os estudantes da EJA, mas identificar e acolher tais especificidades que integrem a dinâmica educador e educando como sujeitos do processo de construção do conhecimento. 3. A consciência política que, deve permear todo o processo educacional e na EJA, uma possibilidade de reparação social possibilitando oportunidade de desenvolvimento de senso critico e contribuição para o seu exercício pleno de cidadania. Diante de tais reflexões, os cursos de licenciatura em Matemática carecem fornecer uma formação que possibilite aos futuros professores atuarem de forma crítica e reflexiva nas turmas de EJA, entendendo-a para além de seu caráter compensatório de 34 ensino. Isso implica ressaltar que é preciso investir na formação do professor, pois são esses os sujeitos que estarão mediando o processo de aprendizagem no dia-a-dia da escola. Desse modo, é preciso que esses sujeitos sejam formados para novas práticas pedagógicas, capazes de promover uma educação para além dos modelos tradicionais da Matemática, uma educação que conscientize os alunos de seu papel enquanto sujeitos sociais. Nesta perspectiva, alguns desafios precisam ser discutidos. Entre eles, está a relevância do professor que vai trabalhar com jovens e adultos carecer de uma formação que lhe permita conciliar o domínio do seu campo de conhecimento, no caso aqui discutido, da Matemática, com as especificidades que os sujeitos da EJA apresentam. Coloca-se, portanto, mais um desafio para o desenvolvimento de experiências significativas na área da EJA: Formar professores, Educadores Matemáticos de Jovens e Adultos, com certa intimidade com a própria Matemática, com uma generosa e sensível disponibilidade para compartilhar com seus alunos as demandas, as preocupações, os anseios e os sonhos da vida adulta, e com uma consciência atenta e crítica da dimensão política do seu fazer pedagógico, que os habilite a participar da Educação Matemática de seus alunos e de suas alunas, pessoas jovens e adultas, com a honestidade, o compromisso e o entusiasmo que essa tarefa exige (FONSECA, 2005a, p. 54-55). Assim, para que o educador consiga exercer o seu papel com êxito, é necessário um planejamento prévio e um conhecimento razoável de como se realiza o processo de aprendizagem dos conteúdos matemáticos na EJA. Outro aspecto envolvendo a formação docente para atuar na EJA e que precisa ser superado reporta-se ao fato de que durante o processo de sua formação, o professor de Matemática se defronta com a falta de literatura especializada sobre o processo de aprendizagem e conhecimento da Matemática voltada para o público adulto. A ausência de publicações específicas faz com que o professor se veja obrigado a adaptar o material destinado ao Ensino Fundamental, [...] essa adaptação às vezes implica numa exclusão de parte dos conteúdos apresentados nas publicações; em outros casos, quando tenta utilizar um livro inteiro, o professor pode acabar dedicando todo o período da escolarização de seus alunos aos conteúdos de uma só série escolar (MEC/SEF, 2002b, p. 13). Esse é um dos grandes desafios do professor, identificar os conteúdos realmente relevantes, bem como os que vão contribuir para o desenvolvimento intelectual dos jovens e adultos, tornando-os um ser pensante e crítico. Contudo, pode-se concluir que educar jovens e adultos não é apenas ensinálos a ler e escrever seu próprio nome, ou a fazer contas básicas de Matemática, mas é 35 oferecer-lhes uma escolarização ampla e com mais qualidade e esta qualidade está diretamente ligada à preparação do professor, pois o aluno jovem ou adulto tem clareza do que busca na escola, esperando que a educação escolar interaja com sua realidade de trabalho e de vida. CAPÍTULO III – METODOLOGIA DA PESQUISA 3.1 – Opção Metodológica Considerando a natureza do tema proposto, na qual visa investigar e analisar as concepções dos professores de Matemática sobre o processo de ensino-aprendizagem dessa disciplina no contexto da EJA, tomaremos por opção metodológica de abordagem a pesquisa qualitativa, por entender que esta permite o estudo do problema de forma coerente com os objetivos do trabalho, visto que, de acordo com Lüdke e André (1986), o estudo qualitativo é rico em dados descritivos e se desenvolve numa situação natural, focalizando a realidade de forma mais contextualizada. Além disso, nas pesquisas qualitativas o pesquisador procura entender os fenômenos, segundo a perspectiva do participante da situação estudada e, a partir daí situa sua interpretação dos fenômenos estudados. Sobre os aspectos da investigação qualitativa, Bogdan e Biklen (1994) tratam das características que fundamentam essa modalidade de pesquisa apontando que: 1) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento fundamental: o local da investigação deve ser o mais natural e original possível, ou seja, as ações podem ser melhor compreendidas quando observadas no contexto onde ocorre; 2) A pesquisa qualitativa é predominante descritiva: não se leva em consideração números, quantidade, mas sim, a análise e a interpretação dos dados em toda sua riqueza, respeitando, no possível, a forma como ele se apresenta; 3) Interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos: o pesquisador tem como interesse principal estudar um problema e verificar como ele se mostra nas atividades e procedimentos cotidianos; 4) O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como preocupação do investigador: o enfoque dos dados pesquisados busca demonstrarem a perspectiva dos significados atribuídos pelos participantes; 5) Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva: não há preocupação em comprovar hipóteses, porém as abstrações são 37 construídas à medida que os dados particulares que forem recolhidos vão se agrupando. Levando em consideração essas cincos características básicas discutidas por Bogdan e Biklen (1994) acerca da investigação qualitativa em Educação, desenvolve-se a compreensão metodológica da presente pesquisa, salientando ainda, que o termo “concepção” assumido nesta investigação referiu-se a “uma maneira própria de cada indivíduo ou de cada professor elaborar, interpretar, representar suas idéias e de agir” (MORON, 1999, p. 92), ou como sendo as crenças, visões e preferências dos professores a respeito da Matemática e seu ensino (THOMPSON, 1997). 3.2 – Delimitação do Universo da Pesquisa As instituições escolhidas para comporem o universo da pesquisa foram as Escolas Estaduais de Ensino Fundamental e Médio Lauro Benno Prediger e José Francisco dos Santos. Ambas pertencentes à rede pública da Secretaria de Estado de Educação de Rondônia e localizadas no município de Ji-Paraná. Primeiramente escolhi a Escola Lauro Benno Prediger, pois como estava realizando os estágios nesta escola, já tinha conhecimento com os professores, facilitando assim a nossa pesquisa. A Escola Lauro Benno Prediger foi criada pelo Decreto 3.285 de 11 de maio de 1987 e autorizada inicialmente a oferecer o Ensino Fundamental e Médio Regular, passando a atender o público da EJA somente a partir do ano 2000. A escola funciona em três períodos de aulas com três modalidades de ensino: Ensino Fundamental e Médio Regular, o CBA – Ciclo Básico de Aprendizagem e a modalidade EJA, sendo esta última oferecida no período noturno. Atualmente a instituição atende um total de 1.287 alunos, distribuídos em 43 turmas entre ensino regular e EJA. Dessas, 10 turmas são da EJA, distribuídas nas seguintes séries: de 5ª a 8ª do Ensino Fundamental uma turma de cada, com um total de 125 alunos; do 1º ao 3º ano do Ensino Médio duas turmas de cada, com um total de 198 alunos, totalizando assim 323 alunos na modalidade EJA. Situada na zona periférica da cidade de Ji-Paraná, a Escola Lauro Benno Prediger atende na sua maioria alunos de famílias carentes moradores da comunidade, de bairros vizinhos e também da Zona Rural. A comunidade escolar pode contar com 38 duas linhas de transporte coletivo com trajeto em frente à escola, mas a maioria dos alunos utilizam meios próprios de locomoção, principalmente bicicletas e motos. Devido não ter conseguido a quantidade de professores suficientes para realizar a pesquisa na Escola Lauro Benno Prediger, escolhemos uma segunda escola, no caso a escola José Francisco dos Santos, para compor nosso universo de pesquisa. A escolha da Escola José Francisco se deu em função de estar mais próxima da minha residência. A Escola José Francisco dos Santos foi criada pelo Decreto 2.336 de 19 de maio de 1975 e autorizada inicialmente a oferecer o Ensino Fundamental e Médio Regular, passando também a atender o público da EJA somente por volta do ano 2000. A escola funciona em três períodos de aulas com as modalidades de Ensino Fundamental e Ensino Médio Regular, e a EJA, sendo que a esta é atendida no período noturno. Atualmente a instituição atende um total de 1.411 alunos, distribuídos em 49 turmas entre ensino regular e EJA. Dessas, 08 turmas são da EJA, distribuídas nas seguintes séries: de 5ª a 8ª do Ensino Fundamental uma turma de cada, com um total de 172 alunos; o 1º e 3º ano do Ensino Médio também uma turma de cada; e o 2º ano do Ensino Médio com duas turmas, perfazendo um total de 157 alunos, atendendo assim um montante de 329 alunos na modalidade EJA. Esta escola também está situada na zona periférica da cidade de Ji-Paraná, atendendo na sua maioria alunos de famílias carentes moradores da comunidade e de bairros vizinhos. A comunidade escolar conta com linhas de transporte coletivo freqüente com trajeto em frente à escola, mas a maioria dos alunos utilizam meios próprios de locomoção, principalmente bicicletas e motos. 3.3 – Sujeitos da Pesquisa Os sujeitos da pesquisa constituíram-se de um professor e uma professora, da Escola Lauro Benno Prediger, e um professor da Escola José Francisco dos Santos, todos lecionando a disciplina de Matemática nas turmas da EJA. Desta forma, com base no questionário de caracterização respondido pelos três professores, conseguimos elucidar algumas informações de ordem pessoal, a 39 formação acadêmica e a experiência na docência dos mesmos. Assim, os sujeitos da pesquisa se constituíram de três professores: O Professor com mais tempo de atuação na EJA é natural de Betânia/PE, graduou-se em Licenciatura em Matemática pela UNIR no ano 2000. Especializou-se em Psicopedagogia e Gestão Escolar pelo Instituto Cuiabano de Educação (ICE) em 2006. Com 19 anos de experiência docente, é professor de Matemática e da EJA há 11 anos. Leciona no período vespertino no Ensino Fundamental e Médio Regular e no período noturno na EJA A Professora com um período médio de atuação na EJA é natural de Campo Grande/AL graduou-se em Licenciatura em Ciências pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e obteve o título de Licenciada em Matemática pela UNIR no ano de 1996. Especializou-se em Psicopedagogia e Gestão Escolar pelo ICE em 2006, há 24 anos é professora de Matemática, porém é professora da EJA somente há 06 anos. Leciona no período vespertino no Ensino Fundamental e Médio Regular e no período noturno na EJA. E o docente com menor tempo de atuação na EJA é também o mais velho e único entre os professores participantes a considerar ter feito um curso de formação complementar voltado para a EJA. Nasceu em Minas Gerais, é graduado em Licenciatura Curta em Matemática (desde 1985) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também possui graduação em Pedagogia pela UNIR. Especializou-se em Pedagogia Empresarial pela Faculdade Panamericana de Ji-Paraná (UNIJIPA) em 2008, e em Educação Especial pelo ICE em 2005. Além de professor da rede pública, também é professor particular na área de eletrônica há 16 anos, atuando ainda como comerciante onde é técnico em eletrônica. Há 29 anos é professor da disciplina de Matemática, e há 02 anos como professor da EJA, onde leciona no período noturno. Atualmente não está lecionando em outra modalidade da Educação Básica a não ser a EJA. 3.4 – Coleta de Dados Considerando os aspectos observados por Fiorentini e Lorenzato (2006) de que: 40 Há várias formas de interrogar a realidade e coletar informações. Algumas são mais dirigidas [...] Outras são mais abertas [...] Todas essas técnicas têm suas vantagens e desvantagens. O pesquisador, visando obter maior fidedignidade, pode lançar mão de mais de uma técnica, procurando, assim, triangular informações (p. 102). Essa pesquisa utilizou como instrumentos de coleta de dados dois questionários. O questionário, reconhecido por Fiorentini e Lorenzato (2006) como um dos instrumentos mais tradicionais na coleta de dados, utilizados, na maioria das vezes, na fase inicial e exploratória da pesquisa, consistindo numa série de perguntas objetivas (fechadas) e subjetivas (abertas) ou ainda mistas (combinando com questões fechadas e parte aberta), foi usado em nossa pesquisa tendo como finalidade, além de descrever os participantes da pesquisa, coletar o maior número de dados que possibilitassem o confronto posterior das informações. Dessa forma, elaboramos e aplicamos os seguintes questionários: - Questionário de Caracterização – organizado com questões fechadas, teve como objetivo ilustrar algumas informações pessoais e também sobre a formação acadêmica e a experiência profissional dos sujeitos da pesquisa (Anexo I); - Questionário – elaborado com questões abertas, foi guiado com o propósito junto aos professores participantes de caracterizar suas concepções sobre a EJA e o ensino-aprendizagem de Matemática nessa modalidade. (Anexo II); Diante das informações mostradas pelos sujeitos da pesquisa a partir dos instrumentos de coleta de dados utilizados, nos voltamos para a análise do conteúdo desses instrumentos, tentando desvendá-los e assim chegar à compreensão das respostas expressas através das percepções e concepções dos professores participantes sobre o objeto de investigação do nosso estudo. CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Neste capítulo, apresentamos os dados coletados e a análise interpretativa dos mesmos, considerando os embasamentos teóricos e metodológicos construídos nos capítulos anteriores e as informações prestadas pelos sujeitos da pesquisa por meio dos instrumentos de coleta de dados aplicados no decorrer dessa investigação. Sendo assim, iniciamos nossa análise nos voltando ao primeiro questionamento sobre o que os professores pesquisados entendem por EJA, ao passo que obtivemos as seguintes respostas decorrentes da questão 01 do Questionário: “Educação para pessoas que não concluíram, ou não pode estudar na idade própria” (Prof. A); “É um processo lento de ensino-aprendizagem” (Prof. B); “Educação para nivelamento” (Prof. C). Dessa forma temos que o Prof. A reconhece a EJA como uma modalidade da educação com a finalidade de suprir ou compensar a escolaridade dos educandos que não tiveram como prosseguir ou mesmo iniciar os estudos. Já o Prof. B apenas destaca que se trata de uma modalidade que seu ensino precisa ser lento, mas não esclarece suas finalidades. Enquanto que o Prof. C concebe a EJA como uma modalidade que deve promover o nivelamento do seu público, ou seja, ensinar o básico para que essas pessoas possam ser mais instruídas. O segundo questionamento foi qual é o papel da EJA no contexto sócioeducacional (questão 02 do Questionário), o que obtivemos as seguintes respostas: “Facilitar o estudo para as pessoas adultas” (Prof. A); “De ensinar o que for necessário para o aluno conquistar o seu campo de trabalho” (Prof. B); “Trazer esperança no transcorrer de novos sonhos” (Prof. C). Dessa forma é possível percebermos que o Prof. A reconhece que a EJA deve ter o comprometimento da inclusão das pessoas adultas na escola. O Prof. B entende a EJA como uma modalidade que tem a formação educacional dos educandos voltados para a preparação e inserção no mundo do trabalho. O Prof. C acredita que a EJA deve trazer através do seu ensino a esperança de realização de sonhos idealizados pelos educandos. Quando foi perguntado para os professores pesquisados quais os aspectos positivos e negativos da EJA (questão 03 do Questionário), alcançamos as seguintes 42 respostas decorrentes: “Positivo: Conteúdo resumido; negativo: tempo curto” (Prof. A); “Por ser curto o tempo de término, há um processo longo de estudo, que o aluno não vê em torno de 70% do conteúdo” (Prof. B); “Positivo: duração para o nivelamento; negativo: incompreensão da oportunidade” (Prof. C). Com relação à resposta do Prof. A, ele fala que constitui como ponto positivo conteúdos resumidos, pois esta modalidade poderá proporcionar ao educando ensino mais breve e, ao mesmo, esses conteúdos serão importantes para ele. Porém, diz se constituir como ponto negativo o tempo curto de ensino, pois não dá para ensinar o necessário para o aprendizado. Em sua resposta, o Prof. B concorda com o Prof. A em relação ao tempo de estudo, por ser curto, ou seja, a metade do tempo de uma série normal não tem como os alunos ver todo o conteúdo que é passado para uma turma do ensino regular. Já o Prof. C vê a duração do curso como um ponto positivo, pois pode proporcionar ao aluno adulto a oportunidade de estudar, pois muitos não têm condição de estudar no ensino regular devido o trabalho, etc. E acredita constituir como ponto negativo a falta de compreensão de alguns alunos deste público, pois muitos não dão valor à oportunidade que esta modalidade lhes proporciona. Ao ser perguntado que tipo de formação a EJA deve propor aos seus alunos, ao passo que obtivemos as seguintes respostas dos professores decorrentes da questão 04 do Questionário: “Formação Básica, pois o tempo é curto (Prof. A); “que formamos cidadãos para o “trabalho”, que muitas vezes não dá tempo de conseguirmos o que almejamos” (Prof. B); “Formação mais direta, com disciplina de peso escolar, e uma formação para ser usada no dia-a-dia (Prof. C). O Prof. A diz que deve oferecer a formação básica. Como percebemos de novo o Prof. B fala da modalidade EJA como formação de pessoas para o mundo do trabalho. A definição do Prof. C é assumida como um caráter prático e de utilidade no dia-a-dia, demonstrando a idéia de que é preciso contribuir para que os educandos da EJA percebam que o conhecimento matemático ajuda a resolver problemas do cotidiano das pessoas e que se aplicam às mais variadas atividades humanas. Ao ser perguntado para os professores qual sua definição da Matemática na EJA, conseguimos as seguintes respostas decorrentes da questão 05 do Questionário: “Matemática comum como o ensino regular, mas de forma resumida” (Prof. A); “Matemática Superficial” (Prof. B); “De extrema importância, para ser utilizada no cotidiano” (Prof. C). O Prof. A concebe a Matemática na EJA da mesma forma que no ensino 43 regular, mas com a diferença de ser tratar de uma Matemática com conteúdos resumidos. O Prof. B, em sua fala concebe a Matemática na EJA como uma Matemática básica sem muito aprofundamento de conteúdos. Por outro lado o Prof. C acredita ser de extrema importância, e que essa Matemática seja ensinada de forma que possa ser utilizada pelos alunos em seu dia-a-dia. Quando é perguntado na sua visão, qual a importância do ensino da Matemática na EJA, os professores nos fornecem as seguintes respostas decorrentes da questão 06 do Questionário: “Desenvolver o raciocínio e o calculo” (Prof. A); “Importantíssimo, tento ajudá-los na sua formação” (Prof. B); “Que tenha significado e que possa usar na sua vida (Prof. C). Podemos perceber que o Prof. A considera importante o aluno poder desenvolver o raciocínio e o desenvolvimento do cálculo. O Prof. B acredita que o ensino da Matemática da EJA deve auxiliar na formação dos alunos. Podemos perceber que o Prof. C, acha que seu ensino deve ser feito com significado para que o aluno possa utilizá-la na sua vida diária e não apenas com exercícios mecânicos. Quando é perguntado de que forma a Matemática deve ser ensinada na EJA, obtivemos as seguintes respostas decorrentes da questão 07 do Questionário: “Tradicionalmente como no ensino regular, mas com algumas atividades modernas e práticas” (Prof. A); “Matemática simples, essencial para o trabalho” (Prof. B); “Muita prática na solução de exercícios” (Prof. C). Neste caso, o Prof. A acredita que o ensino da Matemática deve ser ensinado da forma tradicional, mas devem ser usados exercícios que possam ser usados na prática do cotidiano. O Prof. B parece esclarecer que o conteúdo matemático ensinado na EJA deve ser simples e ao mesmo tempo em que seja essencial para o uso no trabalho, sendo assim de modo que se torne mais específico na tentativa de atender às necessidades dos educandos jovens e adultos. Porém, não explicita de que forma fazer isso. Percebemos que o Prof. B parece conceber que o ensino da Matemática na EJA deve se voltar à formação escolar dos educandos para entrarem no mercado de trabalho, qualificando-os para desempenharem uma determinada profissão. Podemos observar que o Prof. C concorda em parte com o Prof. A relação ao ensino da Matemática com atividades práticas. Quando perguntamos que tipos de recursos e metodologias didáticopedagógicas são mais adequados no processo de ensino-aprendizagem da Matemática na EJA, obtivemos as seguintes respostas decorrentes da questão 08 do Questionário: 44 “quadro branco, vídeo e laboratório de informática” (Prof. A);“trabalhos em grupos, debates de exercícios propostos, aula explicativa” (Prof. B); “trabalhos de grupos, pesquisa direcionada e solução prática de problemas” (Prof. C). Neste caso, o Prof. A na proposição de aulas utilizando vídeos e laboratório de informática, acredita que essas atividades didático-metodológicas favorece meios para que os educandos da EJA consigam concretizar os conhecimentos matemáticos a serem aplicados. Desta forma, ao considerar importante a utilização de outras atividades pedagógicas distintas além de aulas expositivas, o Prof. A demonstra preocupar-se em oferecer aos seus alunos alternativas que possam contribuir para suas aprendizagens matemáticas. O Prof. B parecer não fugir do ensino tradicional. O Prof. C parece recorrer à idéia de que a Matemática deve ser ensinada de modo que o aluno compreenda sua utilidade prática, devendo saber aplicá-la como uma forma de demonstrar que se apropriou do conhecimento matemático. Assim quando perguntamos aos professores pesquisados como você costuma ensinar Matemática aos seus alunos da EJA, obtivemos as seguintes respostas decorrentes da questão 09 do Questionário: “aula explicativa usando o quadro, trabalho em sala, vídeo ou laboratório de informática, esses dois últimos quando o conteúdo permite (Prof. A); “trabalhos em grupos, debates de exercícios propostos, aula explicativa” (Prof. B); “procuro relacionar atividades escolares com a vida de cada um” (Prof. C). Podemos perceber que o Prof. A tentar usar métodos diferentes de ensino, como a utilização das tecnologias. O Prof. B apesar de tentar usar o trabalho em grupo e debates parece não fugir do ensino tradicional. Já o Prof. C mais uma vez fala do ensino escolar ligado a vida de cada um, em suas aulas tenta usar exemplos vividos pelos alunos no dia-a-dia. Dessa forma podemos perceber que o Prof. C parece recorrer à idéia de que a Matemática deve ser ensinada de modo que o aluno compreenda sua utilidade prática. Quando perguntamos aos professores quais as vantagens e as dificuldades encontradas por eles em relação ao processo de ensino-aprendizagem da Matemática na EJA, obtivemos as seguintes respostas decorrentes da questão 10 do Questionário: “vantagens: por serem adultos têm facilidade de entender alguns conteúdos; dificuldades: falta de conhecimento básico dos alunos, falta de conhecimento da tabuada e muito tempo sem estudar” (Prof. A); “vantagens: recupera o tempo perdido; dificuldades: não aprende o essencial para a sua formação” (Prof. B); “vantagens: 45 trabalhar com pessoas que pode compreender o que espera deles; dificuldades: o prazo que temos para o nivelamento escolar” (Prof. C). Podemos perceber que quando o Prof. A fala que constitui como vantagens a facilidade dos alunos de compreenderem certos conteúdos, ele parece dizer que, por este público ter uma experiência de vida, alguns conteúdos já fazem parte do seu cotidiano, tornando assim mais fácil, por outro lado constitui como dificuldades de aprendizagem a quantidade de tempo sem freqüentar uma escola e com isso nem se lembra mais, ou não teve oportunidade de aprender alguns conceitos básicos do ensino, conceitos esses que constituem a base para a continuação dos conteúdos. Já o Prof. B concebe como vantagem a recuperação do tempo que o aluno ficou sem estudar, porém por ser muito curto o período de ensino, acredita que este aluno não consegue aprender o essencial para a sua formação. Já o Prof. C ao falar sobre as vantagens no ensinoaprendizagem da matemática parece concordar com o Prof. A ao dizer que por serem pessoas adultas têm mais facilidade de compreender o ensino, porém quando fala das dificuldades parece concordar com o Prof. B ao mencionar o período para o nivelamento escolar. Quando perguntamos se eles acreditam que o processo de ensinoaprendizagem da Matemática deve ser compreendido de forma diferenciado no universo da EJA em relação às outras modalidades de ensino, obtivemos as seguintes respostas decorrentes da questão 11 do Questionário: “Não, deve ser da mesma forma do ensino regular, porém com conteúdo resumido” (Prof. A); “Sim, no ensino-aprendizagem já tem uma diferença em relação ao ensino regular, em questão de tempo e a própria clientela já é diferenciada” (Prof. B); “Sim, estamos preparando o educando para a vida no regular, na EJA estamos recuperando e agregando o conhecimento escolar para a vida adulta” (Prof. C). Percebemos que ao responder que o ensino escolar deve ser o mesmo o Prof. A se refere ao fato de que os conteúdos matemáticos na EJA não devem ser diferentes das demais modalidades de ensino. Ou seja, remete-se à idéia que a estrutura curricular deve ser a mesma em relação ao ensino regular, porém que a única diferença é que estes conteúdos devem ser ensinados de uma forma mais resumida. Sobre esta questão diante da fala do Prof. B, ela acredita que sim, pois em função do tempo com isso não dá para passar tudo que se passa no ensino regular, devido a isso tem que ensinar diferente e o outro ponto em questão é a clientela sendo que o trabalho deve ser diferente, de uma forma mais adulta e que eles possam entender, pois eles têm mais 46 dificuldades. O Prof. C também acredita que sim, podemos perceber em sua fala que ele acredita que no ensino regular deve ser ensinado com a visão de aprendizado para a vida, já na EJA deve ser ensinado para ser utilizado no momento presente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa teve como objetivo investigar e analisar quais são as concepções dos professores de Matemática sobre o processo de ensino-aprendizagem desta disciplina no contexto da Educação de Jovens e Adultos, para o qual foram entrevistados três professores que lecionam Matemática na EJA, de duas escolas públicas estaduais localizadas no município de Ji-Paraná. Sendo assim, os resultados obtidos nesse estudo nos possibilitaram tecer algumas considerações, sobre cada um dos sujeitos envolvidos nessa pesquisa. Além disso, nos possibilitou ainda evidenciarmos algumas situações passíveis de reflexões e investigações mais aprofundadas sobre as áreas aqui em discussão. Diante das visões dos sujeitos da pesquisa, percebemos que os professores pesquisados parecem entender os objetivos, a significação e a importância da modalidade EJA. Porém, partindo para algumas considerações mais gerais diante das concepções reveladas pelos sujeitos da pesquisa, percebemos que os professores dessa modalidade ainda têm dificuldades para compreender quem são os educandos da EJA e quais são suas características sociais. Podemos perceber que em relação ao contexto geral da EJA, esta é vista em vários momentos como uma modalidade que tem a formação educacional dos educandos voltados apenas para a preparação e inserção no mundo do trabalho. Porem, é necessário reafirmarmos a importância da EJA como a reparação de uma dívida social, como uma nova oportunidade sócio-educacional àqueles que foram excluídos do sistema escolar quando crianças ou adolescentes, como uma possibilidade de uma nova inserção no mundo do trabalho e também na vida social, uma promessa de qualificação de vida para todos onde o princípio da atualização de conhecimentos e da aprendizagem contínua signifique ao educando “aprender a aprender” ao longo de sua trajetória dentro e fora do ambiente escolar. Podemos perceber que em relação ao ensino da Matemática suas visões são bastante variadas, apesar de não diferenciar muito do ensino tradicional, os professores tentam diversificar o ensino com problemas práticos ou ligados ao mundo do trabalho, procurando com isso fazer com que os alunos tomem gosto pela Matemática. 48 Ainda em relação ao processo de ensino-aprendizagem da Matemática na EJA, em vários momentos da pesquisa, percebemos que os professores se referiam à necessidade de se tratá-la de modo diferenciado em relação às demais modalidades apenas em função da organização e do desenvolvimento dos conteúdos matemáticos, destacando a necessidade desses serem resumidos no contexto da EJA. Nesse sentido, acreditamos ser importante refletir sobre os princípios tomados pelos professores na decisão sobre a seleção e a organização dos conteúdos matemáticos para que esses sejam significativos para a aprendizagem Matemática dos alunos. Diante as concepções reveladas pelos professores, percebemos ainda em suas falas a preocupação e a dificuldade de se adequar os conteúdos em relação ao tempo curto para o ensino. Esse seria um ponto que merece ser explorado e pesquisado em trabalhos futuros, questão esta que talvez tenha alguma ligação com a forma de como estão sendo organizados os conteúdos. Outro ponto que merece ser discutido é em relação à formação dos professores, pois grande parte dos professores que trabalham na EJA é pertencente ao quadro de professores do ensino regular, e conseqüentemente não têm uma preparação específica para trabalhar nesta modalidade, portanto, torna-se inadiável a formulação de ações voltadas à formação continuada ou em serviço desses professores em conformidade com as especificidades da EJA. Sendo assim, ressaltamos a necessidade de se aprofundar a discussão e a compreensão a respeito da Educação de Jovens e Adultos e o ensino da Matemática para esta modalidade nos cursos de licenciaturas e no contexto educacional em geral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARROYO, Miguel. A Educação de Jovens e Adultos em tempo de exclusão. In: UNESCO. Construção coletiva: contribuições à Educação de Jovens e Adultos. Brasília: UNESCO/MEC/RAAAB, 2005. p. 221-230. v. 3. (Coleção Educação para Todos). BASSANEZI, Rodney Carlos. Ensino-aprendizagem com modelagem matemática. 3.ed. São Paulo: Contexto, 2006 BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sara. Investigação qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Tradução de Maria João Alvarez, Sara Bahia dos Santos e Telmo Mourinho Baptista. Porto: Porto Editora, 1994. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer 11/2000. Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília: MEC/CNE/CEB, 2000. ______. Resolução n. 01, 5 de julho de 2000. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília: MEC/CNE/CEB, 2000. ______. Proposta curricular para a Educação de Jovens e Adultos: segundo segmento do ensino fundamental (5ª a 8ª série) – Introdução. Brasília: MEC/SEF, 2002a. v. 1. ______. Proposta curricular para a Educação de Jovens e Adultos: segundo segmento do ensino fundamental (5ª a 8ª série) – Matemática, Ciências, Arte, Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 2002b. v. 3. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Resultados do Censo Escolar 2010. Brasília: MEC/INEP, 2011. Disponível em: <www.inep.gov.br>. Acesso em: 12 mar. 2011. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Educação para Jovens e Adultos: ensino fundamental: proposta curricular – 1º segmento. São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2001. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997. v. 3. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998. v. 3. CUNHA, Conceição Maria da. Introdução – discutindo conceitos básicos. In: SEEDMEC. Salto para o futuro – Educação de Jovens e Adultos. Brasília, 1999a. p. 9-18. ______. O saber Matemático: informalidade e processos formais. In: SEED-MEC Salto 50 para o futuro – Educação de Jovens e Adultos. Brasília, 1999b. p. 63-68. D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas: Papirus, 1996. D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática – elo entre tradições e a modernidade. São Paulo: Ática, 1990. FONSECA, Maria da Conceição F. R. Educação Matemática de Jovens e Adultos: especificidades, desafios e contribuições. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005a. ______. A Educação Matemática e EJA. In: UNESCO. Construção coletiva: contribuições à Educação de Jovens e Adultos. Brasília: UNESCO/MEC/RAAAB, 2005b. p. 321-332. v. 3. (Coleção Educação para Todos). FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. HADDAD, Sérgio; DI PIERRO, Maria Clara. Escolarização de Jovens e Adultos. Revista Brasileira de Educação, maio-ago, 2000, n. 14 – Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Educação. São Paulo, p. 108-130. LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MORON, C. F. As atitudes e as concepções dos professores de educação infantil com relação à matemática. Zetetiké, Campinas, CEMPEM, v. 7, n. 11, p. 87-102, jan./jun. 1999. OLIVEIRA, Marta Kohl. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, set-dez, 1999. n. 12 – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. 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Implanta as Grades Curriculares Unificadas para aplicação imediata nas unidades escolares da rede publica estadual, nos níveis de Ensino Fundamental e Ensino Médio - Regulares e Suplência Semestral. Porto Velho: SEDUC, 51 2011. ______. Resolução 827/2010/CEE/RO. Regulamenta a oferta da EJA no Sistema Estadual de Ensino. Porto Velho: SEDUC/CEE, 2010. ______. Resultados das Estatísticas 2010. Disponível em: <www.seduc.ro.gov.br>. Acesso em 12 mar. 2011. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1986. THOMPSON, A. G. A relação entre concepções de matemática e de ensino de matemática de professores na prática pedagógica. Zetetiké, Campinas, CEMPEM, v. 5, n. 8, p. 11-44, jul./dez. 1997. VASCONCELOS, Cláudia Cristina. Ensino-aprendizagem da Matemática: velhos problemas, novos desafios. Millenium online. Revista do Instituto Politécnico de Viseu, Portugal, n. 17, jan. 2000. Disponível em <http://www.ipv.pt/millenium/20_ect.htm> Acesso em out. 2007. APÊNDICES 53 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO Professor(a), Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário, que tem por objetivo caracterizar os participantes de uma pesquisa que se propõe investigar as concepções de professores acerca do ensino-aprendizagem da Matemática no contexto da EJA. Esclarecendo, que preservaremos seu anonimato, agradecemos sua preciosa colaboração. Mirani dos Santos Alves (Graduanda) Ms. Emerson da Silva Ribeiro (Orientador) I. Dados Pessoais Nome completo: _____________________________________________________________ Data de nascimento: _____/_____/__________. Naturalidade:_________________________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino Situação Funcional: ( ) Professor Efetivo ( ) Professor Contratado Telefone para Contato: ____________________ II. Formação Acadêmica Graduação Curso/Habilitação: ___________________________________________________________ Instituição em que se formou: ___________________________________________________ Ano de ingresso: ______ Ano de conclusão: ______ Cidade/Estado: ____________________ Pós-Graduação ( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado Área: ______________________________ Instituição: ______________________________ Ano de ingresso: ______ Ano de conclusão: ______ Cidade/Estado: ____________________ Título Monografia/Dissertação/Tese: _____________________________________________ Fez algum curso de formação complementar na área da EJA? ( ) Sim ( ) Não Nome do curso: ______________________________________________________________ III. Experiência Profissional a) Há quanto anos atua como professor? ______. E como professor de Matemática? _______. b) Há quanto tempo é professor da Educação de Jovens e Adultos (EJA)? ___________ anos. c) Atualmente está atuando em outra modalidade da Educação Básica que não seja a EJA? ( ) Sim ( ) Não. Em qual modalidade? ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio d) Atua em outra escola além da qual está lecionando na EJA? ( ) Sim ( ) Não. e) Exerce outra profissão além da docência? ( )Sim ( ) Não. Qual? ___________________ f) Outra informação que acredite ser relevante como experiência profissional _____________ ___________________________________________________________________________ Muito Obrigada! 54 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA QUESTIONÁRIO Professor(a), Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário, que tem por objetivo obter informações de caráter pessoal que serão importantes para o desenvolvimento de uma pesquisa de trabalho de conclusão de curso envolvendo a temática da educação matemática no contexto da EJA. Pedimos que responda todas as questões de forma coerente e objetiva, e não se receie em respondê-las conforme sua opinião. Esclarecendo ainda, que preservaremos seu anonimato, agradecemos sua preciosa colaboração. Mirani dos Santos Alves (Graduanda) Ms. Emerson da Silva Ribeiro (Orientador) 1. O que você entende por Educação de Jovens e Adultos (EJA)? 2. Qual é o papel da EJA no contexto sócio-educacional? 3. Quais os aspectos positivos e negativos da EJA? 4. Em sua opinião, a EJA deve se propor a que tipo de formação aos seus alunos? 5. Como você define a Matemática na EJA? 6. Em relação à Matemática, na sua visão, qual a importância do seu ensino na EJA? 7. De que forma você acha que a Matemática deve ser ensinada na EJA? 8. Em sua opinião, que tipos de recursos e metodologias didático-pedagógicas são mais adequados no processo de ensino-aprendizagem da Matemática na EJA? 9. Como você costuma ensinar Matemática aos seus alunos da EJA? 10. Quais são as vantagens e as dificuldades encontradas por você em relação ao processo de ensino-aprendizagem da Matemática na EJA? 11. Você acredita que o processo de ensino-aprendizagem da Matemática deve ser compreendido de forma diferenciado no universo da EJA em relação às outras modalidades da Educação Básica? ( ) Sim ( ) Não. Justifique. Muito Obrigada!