RODRIGO ALVES DA MAIA
RESGATE TÁTICO: SUA APLICAÇÃO, COMPETÊNCIA E TREINAMENTO
Joinville (SC)
Maio de 2013
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RODRIGO ALVES DA MAIA
RESGATE TÁTICO: SUA APLICAÇÃO, COMPETÊNCIA E TREINAMENTO
Monografia apresentada à Faculdade de Ensino
Superior Dom Bosco, como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista em Urgência,
Emergência e Atendimento Pré Hospitalar (APH).
Orientadora: Monica Motta Lino.
Joinville (SC)
Maio de 2013
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FOLHA DE APROVAÇÃO
RODRIGO ALVES DA MAIA
RESGATE TÁTICO: SUA APLICAÇÃO, COMPETÊNCIA E TREINAMENTO
Monografia apresentada à Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco como requisito
parcial para obtenção do título de Especialista em Urgência, Emergência e APH,
aprovado pela professora orientadora:
__________________________________
Monica Motta Lino
Orientadora
Joinville (SC)
Maio de 2013
4
DEDICATÓRIA
A Deus por me presentear com o dom
da vida; a Darisa Maia minha esposa
amada que sempre apoiou-me e
iluminou meu caminho.
5
AGRADECIMENTOS
A todos aqueles que de uma maneira ou de outra contribuíram para o
desenvolvimento e a realização do presente trabalho, principalmente minha família,
em especial meus filhos Yasmin e Eduardo. Muito obrigado.
6
“O destino dos feridos está nas mãos daquele que faz o primeiro curativo”.
Nicholas Senn,cirurgião americano,1898
7
RESGATE TÁTICO: SUA APLICAÇÃO, COMPETÊNCIA E TREINAMENTO1
Rodrigo Alves da Maia2
Monica Motta Lino3
Resumo
O presente artigo tem por objetivo levar ao conhecimento de como surgiu o resgate
tático, as particularidades dos seus realizadores, a empregabilidade do serviço nas
forças armadas, sua evolução ao longo dos tempos, a necessidade das equipes de
resgate contemporâneo; levar o conhecimento sobre o assunto aos médicos,
enfermeiros e a todos os profissionais da saúde, bem como questionar sobre sua
aplicação, competência e treinamento. Adota-se o estudo do tema a partir de
literaturas que são referência no mundo no que diz respeito à Medicina Tática e o
uso dessas técnicas aqui no Brasil e, por fim o conhecimento de operação do
resgate tático e protocolos de atendimento durante o socorro de alto risco.
Palavras-chave: Resgate Tático. APH Tático. Medicina Tática. Emergência Tática.
Abstract
This article aims to inform how the rescue came tactical, the particularities of its
directors, employability service in the armed forces, its evolution over time, the need
of rescuers contemporary; bring knowledge about the subject to doctors, nurses and
all health professionals, as well as inquire about your application, competence and
training. Takes up the study of the subject from reference literatures that are in the
world with regard to the Tactical Medicine and the use of these techniques here in
Brazil, and finally the knowledge of tactical and rescue operation care protocols
during high relief risk.
Key-words: Tactical Rescue. APH Tactical. Tactical Medicine. Emergency Tactical.
1
Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco. Curso de Especialização em Urgência, Emergência e APH.
Aluno do Curso.
3
Orientadora da Monografia.
2
8
1 INTRODUÇÃO
O resgate tático é o atendimento emergencial fora do hospital, comumente
ligada às operações de alto risco e confrontos armados diuturnamente das
polícias, então este ambiente tático é o local de atuação das forças militares
durante a missão. O Atendimento pré-hospitalar tático (APH tático) como também
é chamado, tem por finalidade fazer o resgate dos feridos, e seus desafios são
impares para tais profissionais que atuam nesse ambiente, que incluem também
os prestadores de serviços médicos de emergência. Médicos, Enfermeiros e
Socorrista táticos devem ter uma compreensão e consideração para com as
táticas militares e objetos específicos das missões quando planejam e prestam
assistência médica naquele local.
O conhecimento de tal ambiente, bem como a preparação para atuação
deste, deveria ser prioridade nas academias de todo e qualquer socorrista, seja ela
de esferas da União, Estados ou Municípios, mas como são visíveis as deficiências
deste conjunto, acabam caindo nas mãos de poucos e sem qualquer tipo de
preparo militar para tais operações de alto risco. O militar por sua vez é preparado
para guerra, para garantia da lei e da ordem e de certa forma estaria “acostumado”
a enfrentar situações, mas não tem por função e conhecimento para realizar um
atendimento que necessite de técnicas de resgate de emergência, ou seja, uma
grande parte desses profissionais não possui, nem adquirem durante sua
formação,
conhecimento
sobre
trauma
e
atendimento
pré-hospitalar,
principalmente em ambiente tático, onde se atua em condições extremas: na
escuridão, sob fogo hostil, ambientes confinados entre outros.
Este artigo tem o objetivo de descrever o surgimento do resgate tático no mundo
e a sua introdução no Brasil, e o emprego deste serviço nas forças armadas, além de
mostrar a importância do treinamento dos socorristas com táticas militares e a
constante atualização deste serviço. As particularidades desse atendimento em regiões
hostis não são tratadas nas escolas de formação médica, em sua maioria, este
trabalho pretende estimular os profissionais da saúde a aperfeiçoarem-se nessa área,
a fim de melhor melhorar primeiramente a sobrevida do combatente, de seus colegas e
vitimas consequentemente garantindo sucesso em qualquer terreno ou missão.
9
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritivo-exploratória, de abordagem qualitativa.
Sobre a pesquisa exploratória Ruiz (1978, p. 50) destaca que “quando um problema é
pouco conhecido, ou seja, quando as hipóteses ainda não foram claramente definidas,
estamos diante de uma pesquisa exploratória. Seu objetivo, pois, consiste numa
caracterização inicial do problema, de sua classificação e de sua reta definição”. As
pesquisas exploratórias, segundo Gil (1999, 0. 43) visam proporcionar uma visão
geral de um determinado fato, do tipo aproximativo, para Minayo (2003, p. 16-18) é o
caminho do pensamento a ser seguido que ocupa um lugar central na teoria e tratase basicamente do conjunto de técnicas a ser adotada para construir uma realidade.
A pesquisa é assim, a atividade básica da ciência na sua construção da realidade. A
pesquisa qualitativa, no entanto, trata-se de uma atividade da ciência, que visa à
construção da realidade, mas que se preocupa com as ciências sociais em um nível
de realidade que não pode ser quantificado, trabalhando com o universo de crenças,
valores, significados e outros construtos profundos das relações que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis, considerando que há uma relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo
objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A
interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo
de pesquisa qualitativa. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o
pesquisador é o instrumento-chave.
Adota-se a pesquisa bibliográfica como perspectiva metodológica, sendo que a
mesma tem como objetivo buscar uma solução para o projeto de pesquisa a partir de
referencias publicadas, analisando e discutindo as contribuições culturais e
cientificas. Uma pesquisa bibliográfica baseia-se basicamente da coleta de material
de
diversos
autores
sobre
um
determinado
assunto.
Segundo Lakatos, “a pesquisa bibliográfica permite compreender que, se de um lado
a resolução de um problema pode ser obtida através dela, por outro, tanto a
pesquisa de laboratório quanto à de campo (documentação direta) exigem, como
premissa, o levantamento do estudo da questão que se propõe a analisar e
10
solucionar. A pesquisa bibliográfica pode, portanto, ser considerada também como o
primeiro passo de toda pesquisa científica”.(1992, p.44).
A busca dos estudos ocorreu nas bases de dados LILACS ® – Literatura
Latino-americana em Ciências da Saúde, DESASTRES ® – Acervo do Centro de
Documentação de Desastres, SciELO® – Scientific Eletronic Library Online,
MEDLINE® – Literatura Internacional em Ciências da Saúde e Google Acadêmico ®.
Foram adotados os termos de busca “resgate tático”, “APH tático”, “medicina tática”
e “emergência tática”, de modo isolado e combinado, no período de 1990 a 2012. A
coleta dos dados ocorreu nos meses de novembro e dezembro de 2012.
A busca inicial apresentou 124 resultados. Foi realizada a leitura dos resumos e
então, deste total, excluiu-se toda produção duplicada, editoriais, teses, dissertações,
anais de eventos, monografias, relatórios epidemiológicos, inquéritos, artigos em
outros idiomas diferente do português, ensaio, relatórios de gestão, documentos
governamentais e estudos que não contemplaram o escopo da presente pesquisa.
Os estudos selecionados foram submetidos à análise do conteúdo segundo
Bardin (2003), emergindo as seguintes vertentes de análise: a) História do resgate
tático no mundo; b) História do resgate tático no Brasil; c) Insegurança pública; d)
Competência; e) Medicina tática; e, por fim, h) Resgate tático: operação.
11
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 HISTÓRIA DO RESGATE TÁTICO NO MUNDO
Historicamente podemos observar que as preocupações com os feridos
durantes conflitos atravessam os séculos, mas a história mudou no momento em
que Napoleão Bonaparte foi ferido em batalha, após o fato, convidou seu amigo e
General médico do exército, Barão Dominique Jean Larrey, que elaborou o primeiro
modelo de ambulância, seu invento Móvel de que foi batizado de "Ambulância
Voadora". Larrey é considerado o “pai da medicina militar” e é referido como um dos
pioneiros na medicina de emergência e ainda pode-se dizer que foi criador do SAMU
(Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
Aproximadamente um século depois da era napoleônica, durante a Guerra
Civil Americana, Tripler e Letterman do Exército Potomac reintroduziram estes
conceitos, mas nada havia mudado.
Com a chegada da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) alguns conceitos foram
adaptando-se como os hospitais de campanha, o uso de morfina em campo, o
transporte e evacuação médica bem como a identificação de locais de tratamento
que fazia parte do tratado de Genebra respeitado pelas partes.
Com toda esta inovação por parte do EUA em 1944, surgiram então os
Paramédicos, que são na verdade infantes das forças armadas, mas com
especialização pouco peculiar para a época, ou seja, combatentes altamente
capacitados para resgate em ambiente hostil.
Em 1951, na guerra da Coréia, Uso da evacuação aeromédica através de
helicóptero Bell 47 e em 1953 Safar e Elam desenvolvem a respiração artificial que
seria utilização em campo de batalha mais tarde, na Guerra do Vietnã 1959-1975,
além da técnica de respiração boca a boca, a técnica de soco pré-cordial e o
emprego maciço da evacuação aeromédica através do uso de helicópteros.
Em 1969 o primeiro programa de Paramédicos foi implantado e reconhecido
como especialidade em 1977, criado o conselho nacional de educação – Emergency
Medic Service – (EMS), referência no mundo até o presente dia.
Alguns anos seguintes, incorporação do apoio médico às equipes SWAT
(Special Weapons And Tactics - Armas e Táticas Especiais), estava tornando-se
12
essencial para os times táticos, Paramédicos com formação SWAT estariam prontos
na atuação de resgate da própria equipe se necessário, porem seu início formal
1989-1990. Este modelo americano de atendimento baseia-se em:

Profissionais De Nível Técnico;

Reduzir Tempo Na Cena (Hora Ouro);

Adaptação Da Tecnologia E Equipamentos Militares;

“Scoop and Run” – Pega e Corre;

Diagnostico e Cuidados Definitivos no Hospital.
Por sua vez, historicamente conhecido por serem “criadores” do SAMU, o modelo
francês preconiza outros métodos como:

Profissionais com Médicos e Enfermeiros;

“Stay and Play” – Fica e Trata;

Diagnósticos e Cuidados Definitivos na Cena;

Resolutividade na Cena;

Maior Tempo na Cena.
3.2 HISTÓRIA DO RESGATE TÁTICO NO BRASIL
Enquanto o mundo estava em guerra, o Brasil entrou nela e saiu sem
preocupar-se com que iriam encontrar, com treinamentos específicos de campo,
como ficaria antes e depois que isso tudo acabasse, e só então pós-guerra em 1949
o Serviço de Assistência Medica Domiciliar de Urgência – SAMDU, que permaneceu
estático por quase 40 anos, quando no dia 09 de Julho de 1986, o Grupamento de
Socorro de Emergência - GSE foi criado passou a oferecer serviços que antes eram
desempenhados de forma irregular por equipes dos hospitais públicos, tornando-se
exemplo e modelo para outros Estados do país, e foi assim que no inicio dos anos
90 o Brasil implantava em massa o atendimento pré-hospitalar com pessoas
capacitadas, em analogia aos EUA já estavam incluindo o serviço médico tático em
equipes treinadas multi-missões, o Brasil ainda sonhava com o resgate o
proporcionou tornar referência no atendimento brasileiro o protocolo americano.
Um marco importante ainda em 1990 foi que enquanto todos os Estados da
União estavam capacitando em massa bombeiros para o atendimento, na cidade de
Joinville que não havia o serviço de bombeiro, a Polícia Militar iniciou a primeira
13
turma de policiais militares especialistas em salvamento e quando inaugurada em
julho de 1990 foram chamados de paramédicos em referência aos americanos.
O APH, somente uma década depois estaria em todo território nacional e
quando na mesma cidade (Joinville) foi inaugurada a sede do SAMU, a equipe de
Paramédicos já estaria capacitada para Atendimento Pré Hospitalares Tático.
3.3 INSEGURANÇA PÚBLICA
Com a crescente evolução mundial, a julgar os aspectos físicos, naturais e
psicológicos da humanidade ao longo das décadas, o que leva também a procura
em inovações de tecnologias, informações e tudo que pode ser imaginado para o
bem estar, mas juntamente com este crescimento veio também o aumento
populacional, a desigualdade entre as classes o que gera um desconforto maior para
o Estado, pois fica claro que em algumas regiões este aumento gerou um
descontrole do poder público e aumento significativo da criminalidade.
Contudo, o Brasil investiu em segurança segundo o anuário feito pela União,
pelos estados e pelos municípios passaram R$ 47,6 bilhões, em 2009, mas apesar
do investimento alguns dados interessantes a respeito dos confrontos armados e
demais ferimentos por arma de fogo (FAF), apontam que:

Por dia, morrem em média de 108 pessoas e 53 ficam feridas por FAF.

67% das mortes de homens entre 15 e 34 anos é causado por arma de fogo.

Em 2010, foram 36 mil mortos a tiros. É uma pessoa a cada 15 minutos.

O Brasil é o país em que mais se morre/ mata com arma de fogo no mundo.

O Brasil tem 2,8% da população mundial, mas responde por 7% dos
homicídios com arma de fogo em todo o mundo.

No Brasil morre-se mais por arma de fogo (29,6%) do que por acidente de
trânsito (25,1%).
Fonte: (COMISSÃO MUNICIPAL DE DIREITOS HUMANOS DE SÃO PAULO).
Em um estudo
da SWAT,
grupos operando nas
200
maiores áreas
metropolitanas dos EUA, 69% dos comandantes das unidades indicaram que o
atendimento dos feridos foi conduzido por equipes de APH civis em “stand-by”
em uma
localização segura. Em 94%
tinham treinamento
especializado e
dos
por
casos,
isso
não
as equipes
de APH
estavam aptos a
não
entrar na
14
chamada “zona quente”. Durante a tragédia de Columbine, os operadores estavam
estáticos foram forçados a retirar as vitimas para uma localização mais segura para
triagem e tratamento pelo APH. O Suporte Médico Tático de Emergência (TEMS)
tem sido definido como “Suporte medico pré-hospitalar para equipes táticas durante
treinamento e operações especiais”, diferente do Brasil.
3.4 COMPETÊNCIA
Depois de alguns acontecimentos históricos como o massacre de Columbine ,
Colorado/ EUA e sequestro em Marechal Candido Rondon, Paraná/BR serviram de
exemplos para ambos os países, e a partir destas datas a política de treinamento e
atendimento as vitimas tomou um novo rumo e começou a capacitação de equipes
de emergência médicas com treinamentos militares capacitados para o confronto,
mas afinal, estariam estes “super soldados” arriscando sua vida pelos outros e ainda
sendo “caçados” em grandes metrópoles, estes bombeiros altamente qualificados
foram perdendo o interesse nesta batalha, pois apesar de ter todo preparo tático e
de conhecimentos de emergências médicas, não estariam preparados para
confronto armado já que não são policiais, portanto não porta arma de fogo muito
menos colete balístico. A Polícia por sua vez tem os equipamentos, armas, coletes,
blindados, esquemas táticos, estratégias de combate, porém o que lhes falta na hora
do combate direto é o conhecimento mais específico em emergências médicas que
faria a diferença durante vários tipos de Missões como cumprimento de mandados
de alto risco, resgate reféns, busca e salvamento, aumento dos tiroteios em escolas,
Shopping Centers e edifícios, cuidados não só com policiais feridos, mas de civis e
suspeitos.
Fica claro então que capacitar um bombeiro é impossível, pois mesmo
profissionais altamente qualificados ficariam prejudicados pela falta do material
bélico e a rotina tática, já que sua doutrina de vida é totalmente diferente, já o policial
militar, no Brasil, que em seu serviço ordinário passa por horas de estresse sem
saber se vai voltar pra casa mesmo assim preocupado com a segurança de
terceiros; sendo assim, é tomado aqui o Estado de Santa Catarina como exemplo,
que a Polícia Militar esta presente em 293 municípios, operando 24 horas por dia 7
dias da semana e este envolvimento seja ele preventivo ou repressivo pode resultar
em policiais feridos em situações de confronto. Por sua vez o Atendimento Pré
15
Hospitalar no Estado, é prestado pelo corpo de Bombeiros Militares em 92
municípios, Bombeiros Voluntários e SAMU em 35 cidades; e em comum nos
protocolos* destas instituições no aspecto abordagem do paciente, que deverá ser
realizada quando a cena estiver segura, do contrário acionar a polícia para tal
função.
3.5 MEDICINA TÁTICA
O suporte médico em operações táticas é a assistência médica integrada e
abrangente, a consulta e a administração de informações médicas em operações
táticas, que contribuem para a segurança e o sucesso de uma missão que é
primariamente militar (NAEMT, 2007; p.530). É a medicina realizada em conjunto ou
em resposta às operações militares (McDEVITT, 2001). Apesar dos profissionais
atuantes nessa área necessitarem de extrema competência para reanimação dos
pacientes nas operações militares, vai muito além do controle agudo do trauma,
passa também pela medicina preventiva (DE LORENZO apud NAEMT, 2007).
3.6 RESGATE TÁTICO: OPERAÇÂO
Como toda unidade ao chegar a qualquer tipo de zona de combate, fazer uma
busca do maior tipo de informações possíveis sobre o terreno utilizado com
finalidade de usar a seu favor, como:
Local: qual tipo de edificação ou transporte (ônibus)
Fotos: há plantas, desenhos, croquis.
Acessos: quais e quantos.
Obstáculos: se impedem o movimento da equipe.
Avaliação de riscos adicionais: explosão, gás tóxico, incêndios.
Alertar Hospitais referência do trauma
Necessidade de equipes adicionais: Companhia de Energia, Água, Esgoto.
*Os protocolos brasileiros de atendimento pré hospitalar são baseados nos conceitos americanos
de cena segura – Safety Scene, AHA American Heart Association, encontrados também no
National Association of Emergency Technicians (NAEMT) e no livro PHTLS 7ª Edição 2012 –
Prehospital Trauma Life Support.
16
Ainda na cena, Levantamento de Situação tais como:
Agressores

Quantidade/ Localização

Vestimenta

Equipe de Obs-Sniper

Armamento

Equipe anti-bomba

Antecedentes/Motivação

Equipes de suporte APH/

Equipes Policiais
Feridos
Forças Amigas

Quantidade/ Localização

Descrição

Gravidade dos ferimentos

Atendimento emergencial

Problemas de remoção – auto

SBV e extricação rápida dos
extricação ou não
Missão
feridos
3.6.1 Definindo as Zonas
O campo hostil é delimitado pela primeira equipe no local, e esta equipe é
quem repassa as informações acima citadas, ficando assim formalizado uma “zona
de combate” como zona quente, zona morna e zona fria.
a) Zona Quente: Local onde oferece risco eminente ou potencial.
b) Zona Morna: Local intermediário, podendo ser alterada a qualquer momento.
c) Zona Fria: Sem risco nenhum. Local onde permanecem as equipes de resgate de
apoio como o SAMU, Bombeiro, Companhia de energia entre outras.
Em sua sequência de atendimento, sua execução também é distribuída de
forma facilitar estratégia de forma extremamente profissional, fracionadas da
seguinte forma: Aproximação, Atendimento e Retirada.
d) Aproximação: devera ser o trajeto mais seguro até a vítima, viabilizando trajeto
alternativo, equipamentos necessários para garantir o acesso até a vítima (figura 1),
a formação utilizada pela equipe será adequada à situação, o nível de proteção
balística necessária, abrigo** mais próximo da vítima e repassar informações para
17
equipe de apoio; a formação da equipe é essencial para o resultado da operação,
portanto, devera atentar os seguintes pontos:
Alinhamento com cuidados devidos a fim de não ficar na linha de fogo
utilizando obstáculos visuais ou balísticos, considerando que haja uma equipe
formada apenas pelos socorristas.
Certo
Errado
Ainda na aproximação, considerando uma equipe tática da polícia com
equipamentos e escudos balísticos, as equipes de socorristas deverão estar
preparadas para incorporar a equipe tática como mostra esquema seguinte:
Escudo
Líder da Equipe
Segurança
Primeiro Socorrista
Segundo Socorrista
Segurança Área
e) Atendimento: Avaliar necessidade de uso mecanismos de distração (cortina de
fumaça, granadas, outros), equipe tática de apoio para segurança à retaguarda,
18
executar somente cobertura*** com proteção balística para o atendimento (figura 2),
realizar triagem e estabelecer a retirada dos pacientes mais graves;
f) Retirada: Estabelecer trajeto mais seguro para retirada do paciente, estabelecer
trajeto alternativo de retorno, método de retirada com técnicas de transporte (figura
3), conduzir paciente para o abrigo mais próximo, avaliar necessidade de agentes de
distração, avaliar necessidade de apoio de fogo (sniper), preparar Equipe Tática de
apoio para auxiliar retirada.
** Abrigo é toda proteção balística oferecida por uma parede de concreto, o bloco do motor de um
veículo, uma arvore espessa, um blindado da polícia.
*** Cobertura é proteção visual contra agressor, um simples poste, uma árvore, uma parede simples
ou interior de um automóvel.
Fig 1 – Aproximação
Fonte: Arquivo Paramédico Joinville, APH Tático 2001.
Fig 2 – Atendimento
Fonte: Arquivo Paramédico Joinville, APH Tático 2001.
19
Fig 3 – Retirada
Fonte: Arquivo Paramédico Joinville, APH Tático 2001
3.6.2 Emergência Tática
No sistema convencional adotado no Brasil através de protocolos de
atendimento e reconhecimento do socorrista como profissão, conforme Portaria GMMS nº 2048/ 2002, o SAMU (modelo Francês) é regulado por um médico através do
telefone de emergência 192 e desta central este profissional orienta as equipes de
APH, porém o protocolo utilizado por todas as unidades é do modelo norte
americano, quando em conflitos o protocolo americano, de certa forma é outro, pois
no APH convencional que trata inicialmente do “ABC da Vida” que, logo após o
dimensionamento e segurança da cena, inicia-se o atendimento através das
unidades convencionais de resgate, trata da seguinte forma:

A – Airway – Vias aéreas: indica que o socorrista haverá de ter o cuidado
inicial com a liberação de vias aéreas, através de manobras chin-lift ou jawthrust e colocação do colar cervical a fim de manter vias aéreas pérveas;

B – Breathing – Respiração: o socorrista devera inspecionar a cavidade oral,
pois não pode haver nada obstruindo vias aéreas, após a varredura faz a o
Ver, Ouvir e Sentir (VOS);

C – Circulation – Pulso: checa o pulso através da artéria carótida, verifica se
há grandes hemorragias, estanca e imobiliza se necessário através de
técnicas de imobilizações de ferimentos e fratura.
No entanto, quando há uma situação de risco como um confronto armado,
ameaça de bomba ou até mesmo um “serial killer”, e uma grande chance de haver
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muitas vítimas de natureza grave inclusive integrante da equipe ou você mesmo, aí
entra a Medicina Tática (Ian McDevitt, 2001) e só então olhamos com outros olhos e
valorizamos o resgate tático, pois através dele é possível montar uma estratégia e
salvar a vítima, nos seguintes estágios:
1. Cuidados sobre Fogo: Responder fogo com fogo.
2. Cuidados em campo: Segurança de Cena é primordial.
3. Retirada com Possível Combate.
Entretanto, quando na avaliação inicial tática que começa o diferencial, pois
visa identificar sinais vitais e ferimentos de risco letal em até 20 segundos, ou seja,
aquele protocolo ABC da Vida é substituído por o XAB, que priorizamos uma
verificação rápida dos Sinais Vitais e direcionamos para contenção de hemorragias
(Black Hawk Down, Mark Bowden, 2001) como mostra esquema seguinte.
X – Hemorragias: aplicam-se técnicas de hemostasia, não deu certo?
Torniquete (Figura 4), isso mesmo, pois estudos apontam que nas batalhas cerca de
88% das grandes hemorragias e choques hipovolêmicos são causados por
ferimentos em membros superiores e inferiores, portanto não deverá perder tempo,
aumentando a sobrevida da vítima.
Figura 4 – Torniquete, combatente Canadense no Iraque.
Fonte: http://www.ctoms.ca/warriormedic
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A – Vias Aéreas: Aqui realiza posicionamento anatômico da cervical através
de manobras, verifica-se esta respirando.
B – Respiração: Apresenta dispnéia ou Apnéia, fazer descompressão torácica
(nota¹) (Figura 5) ou utilizar cânulas como nasofaríngea, laríngea ou guedel.
Figura 5 – Descompressão Torácica
Nota ¹ - Descompressão Torácica é um procedimento médico aqui no Brasil por ser um procedimento
invasivo; pois nos EUA as equipes de Paramédicos bem como o exército utilizam esta técnica que
salva vidas.
Temos também que levar em consideração, o conhecimento dos ferimentos,
pois através deles já é possível saber que armas estão sendo utilizadas, como por
exemplo, um revólver calibre .38 que não deixará cápsulas no chão, seu poder de
impacto é destruidor pois a vítima apresenta uma cavidade permanente e quando
transfixa a saída do projétil, sua bordas é maior que orifício de entrada e irregulares;
porém é arma de média energia cinética, sendo que um fuzil AR-15/M-16 5,56mm,
muito utilizado por forças inimigas e aliadas, viaja a uma velocidade de 900 m/s que
é quase três vezes a velocidade do som, mais rápido que um caça americano Tom
Cat que voa na velocidade do som – 340 m/s = 1220 km/h; o que causa na vítima
uma destruição de tecidos impossibilitando qualquer socorro.
22
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se portando que, a exemplo da própria história, que o resgate tático
não é simplesmente atender rapidamente, e sim a capacidade de utilizar técnicas do
APH convencionais somadas as Táticas Militares.
É possível, assim, que haja uma sobrevida na qualidade da vítima, levando em
consideração também que em caso do ferido for você, seu socorro, quem fará o
primeiro atendimento na cena será o próprio ferido e em seguida seus colegas. Todos
também têm a possibilidade de estratégias de combate, mas os equipamentos
necessários para responder fogo com fogo, cuidados no campo de batalha e
extricação de emergência, ainda são exclusividades das polícias visando sempre à
garantia da retirada do ferido, mesmo que com algumas características balísticas
visíveis, seu conhecimento avançado já reproduz as possíveis lesões no ferido e um
START Tático, de certa forma facilitará seu trabalho, pois nem sempre a vítima
responde a estímulos.
Fica então o alerta para todas as equipes de serviços pré-hospitalar, seus
cuidados e três palavras chaves – Aproximação, Atendimento e Retirada – e mais
que comprovada que no resgate tático é de competência da Polícia, pois já existe o
treinamento tático, o “feeling” e equipes (Joinville e Rio de Janeiro) que servem de
exemplo para o restante do Brasil.
23
BIBLIOGRAFIA
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140min.
BOWDEN, Mark. Black Hawk Down, 2001
São Paulo, Comissão Municipal de Direitos Humanos, 2009
DE LORENZO, Robert e POTER, Robert S. Tactical Emergency Care: Military and
Operational out-of-hospital medicine. New Jersey: Prentice-Hall, 2002.
LAKATOS, Maria Eva. MARCONI, Maria de Andrade. Metodologia do Trabalho
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MCDEVITT, Ian. Tactical Medicine, 2001
O Que Fazer Em Uma Emergência, Readers’s Digest 2011.
Pre Hospital Trauma Life Support, 7ª Ed PHTLS/NAENT 2012.
REISDORFER, Marcio Leandro. Emprego do Atendimento Pré Hospitalar Tático
na Polícia Militar de Santa Catarina Através do Batalhão de Aviação.
Florianópolis: UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina, 2010.
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TAFNER, Elisabeth Penzlien; DA SILVA, Everaldo. Metodologia do Trabalho
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http://www.cbmerj.rj.gov.br/ em 17/07/2012
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RODRIGO ALVES DA MAIA - Polícia Militar de Santa Catarina