XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL ASPECTOS DA FENOLOGIA REPRODUTIVA DE Stachytarpheta aff. itambensis S. ATKINS EM CAMPO RUPESTRE NO PARQUE ESTADUAL DE SERRA NOVA Gesline Ferreira Guimarães, Fabíola Mendes dos Santos, Renata Moreira dos Santos, Michellia Pereira Soares – Instituto Federal Norte de Minas Gerais – Campus Salinas, Laboratório de Ecologia e Sistemática Vegetal. [email protected] INTRODUÇÃO A fenologia compreende o estudo da periodicidade de fenômenos biológicos em relação ao clima (Lee et al. 2008). A observação fenológica, obtida de forma sistemática, reúne informações sobre o estabelecimento de espécies, o período de crescimento, o período de reprodução e a disponibilidade de recursos alimentares (Morellato & LeitãoFilho 1992), que podem estar associados a mudanças na qualidade e à abundância de recursos, como luz e água (Morellato et al. 1990). As observações de fenofases se dão sequencialmente, verificando a parte reprodutiva, botões florais, flores em antese, frutos imaturos e frutos maduros/dispersão de sementes. Eventos fenológicos reprodutivos sazonais e sincronizados podem representar vantagens adaptativas para muitas espécies tropicais. Algumas plantas iniciam a produção de flores estimuladas pela variação sazonal na irradiação solar (Wright & van Schaik 1994) e abrem seus frutos no final da estação seca e inicio da chuvosa para reduzir a mortalidade das plântulas (Frankie et al. 1974). Fatores fisiológicos também podem influenciar a sazonalidade da floração e frutificação (Primack 1985). OBJETIVOS Conhecer a periodicidade das fenofases reprodutivas de Stachytarpheta aff. itambensis S. Atkins (Verbenaceae) em vegetação de campo rupestre no Parque Estadual de Serra Nova, Minas Gerais. MATERIAL E MÉTODOS O Parque Estadual de Serra Nova está localizado no norte de Minas Gerais, exibe transição entre os biomas do Cerrado e Caatinga e sua vegetação é caracterizada principalmente por fisionomias de Campo Rupestre, Cerrado, Floresta Estacional Semidecidual e Decidual. No Brasil são registradas 79 espécies de Stachytarpheta sendo 73 delas endêmicas (Salimena 2015). São plantas de pequeno porte e ciclo de vida curto. A espécie Stachytarpheta aff. itambensis é endêmica de Minas Gerais. A espécie desse estudo ainda não foi identificada de forma correta, pois é provável que se trate de uma nova subespécie de acordo com especialistas que estão realizando as análises. Para as observações fenológicas foram selecionados 15 indivíduos adultos. Foram realizadas observações mensais de setembro de 2014 a abril de 2015. Os eventos reprodutivos considerados foram botões, flores abertas, frutos imaturos e frutos maduros. Os dados fenológicos foram analisados de acordo com a sua atividade (Bencke & Morellato 2002) e intensidade (Fournier 1974). RESULTADOS Durante os oitos meses de observação foram registradas as fenofases de botão floral e flores, com índices de atividade variando de 73 a 100%, podendo ser considerados eventos de alta sincronia. Setembro e outubro foram os meses de menor intensidade, a partir do mês de novembro essas fenofases tiveram aumento, coincidindo com o inicio da estação chuvosa. Nessa estação a precipitação não se manteve estável, alternando entre um mês com alta disponibilidade hídrica e outro com baixa disponibilidade, as intensidades responderam positivamente a essas variações. As fenofases de frutificação também foram observadas em todos os meses, com índice de atividade variando de 87 a 100%, assim classificados também como eventos de alta sincronia. As menores intensidades para os frutos imaturos foram obtidas nos meses de dezembro e janeiro, meses da estação úmida já estabelecida. Os 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL frutos maduros foram registrados com maior intensidade nos meses de setembro, outubro, março e abril, meses de final e inicio da estação seca. DISCUSSÃO A floração prolongada de Stachytarpheta aff. itambensis pode aumentar as chances de polinização de acordo com Forfang & Olesen (1998). Segundo Antonini et al. (2005), isso faz com que os recursos se tornem previsíveis ao longo do tempo, aumentando assim o número de espécies que procuram pólen e néctar. A espécie estudada possui frutos do tipo esquizocarpos com maior intensidade de produção na estação seca, está situação foi verificada para plantas de cerrado por Mantovani & Martins (1988) que afirmam que deiscência e a dispersão das espécies anemocóricas é facilitada pela desidratação do pericarpo e pela perda de folhas durante a época seca. Os resultados obtidos foram semelhantes aos de Munhoz e Felfili (2005) com espécies de cerrado, onde foi considerada a existência de sincronização da floração das espécies desse ambiente com a estação úmida e com a maturação e dispersão dos frutos na seca. CONCLUSÃO A ocorrência dos eventos fenológicos de Stachytarpheta aff. itambensis não são totalmente dependentes da precipitação, entretanto a intensidade das fenofases aumentam na estação chuvosa. Outros fatores podem estar influenciando no desenvolvimento das fenofases. A continuidade do estudo é necessária, uma vez que são muito escassos os estudos para o gênero Stachytarpheta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTONINI, Y.; H. G. SOUZA; C. M. JACOBI & F. B. MURY. 2005. Diversidade e comportamento dos insetos visitantes florais de Stachytarpheta glabra Cham. (Verbenaceae), em uma área de campo ferruginoso, Ouro Preto, MG. Neotropical Entomology 34: 555-564. BENCKE C.S.C. & MORELLATO L.P.C. 2002. Comparação de dois métodos de avaliação da fenologia de plantas, sua interpretação e representação. Rev. Bras. de Bot. 25: 269-275. FORFANG, A.S. & OLESEN, J.M. 1998. Male-biased sex ratio and promiscuous pollination in the dioecious island tree Laurus azorica (Lauraceae). Plant Syst. and Evol. 212:143-157. FOURNIER, L. A. 1974. Un método cuantitativo para la medición de características fenológicas en árboles. Turrialba 24: 422-423. FRANKIE, G.W., BAKER, H. & OPLER, P.A. 1974. Comparative phenological studies of trees in tropical wet and dry forests in the lowlands of Costa Rica. Journal of Ecology 62:81-919. LEE, P.H.; HUANG, Y.M.; CHIOU, W.L. 2008. The phenology of Osmunda claytoniana L. in the Tataka area, Central Taiwan. Taiwan Journal of Forest Science, 23:71-79. MANTOVANI, W. & MARTINS, F. R. 1988. Variações fenológicas das espécies do cerrado da Reserva Biológica de Moji Guaçu, Estado de São Paulo. Rev. Bras. de Bot.11: 101-112. MORELLATO, L.P.C. & LEITÃO-FILHO, H.F. 1992. Padrões de frutificação e dispersão na Serra do Japi. In História natural da Serra do Japi: ecologia e preservação de uma área florestal no Sudeste do Brasil (L.P.C. Morellato, org.). Ed. Unicamp/Fapesp, p. 112-140. MORELLATO, L.P.C.; LEITÃO FILHO, H.F.; RODRIGUES, R.R.; & JOLY, C.A. 1990. Estratégias fenológicas de espécies arbóreas em floresta de altitude na Serra do Japi, Jundiaí, São Paulo. Revista Brasileira de Biologia, 50(1): 149-162. 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL MUNHOZ, C.B.R.; FELFILI, J.M. Fenologia do estrato herbáceo-subarbustivo de uma comunidade de campo sujo na Fazenda Água Limpa no Distrito Federal, Brasil. Acta Bot. Bras., 19 (4), 979-988, 2005. PRIMACK, R.B. 1985. Longevity of individual flowers. Annual Review of Ecology and Systematics 16:15-37. SALIMENA, F.R.G. Stachytarpheta in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: . Acesso em: 27 Abr. 2015. WRIGHT, S.J. & van SCHAIK, C.P. 1994. Light and the phenology of tropical trees. American Naturalist 143:192-199. 3