COMPREENSÃO DAS COTAS PARA A COMUNIDADE EDUCATIVA AFRO-DESCENDENTE NO ENSINO SUPERIOR COSTA, Rosana Vicente da [email protected] UNEMAT – Campus Sinop ARRUDA, Roberto Alves de SANTOS, Renata Aparecida Silva RESUMO: Propomos uma comunicação oral no GT 7 - Políticas Educacionais de uma pesquisa exploratória apresentada no curso de Pedagogia da UNEMAT – Campus de Sinop, na disciplina de Política Educacionais, onde se buscou analisar o processo de criação das cotas nas universidades para alunos negros, oriundos da rede de escola pública. Averiguamos os aspectos históricos, culturais e socioeconômicos que contribuíram na implantação dessa política pública, bem como as ações afirmativas que visam assegurar a reserva de vagas e o ingresso dos sujeitos das comunidades educativas afro-descente no ensino superior. Da análise dos registros históricos observamos que em boa medida, as pessoas negras estão à margem das diversas políticas públicas. Destacamos que a discussão em relação à criação de cotas para negros no ensino superior é uma prática de constantes reflexões sócia - histórica. No contexto nacional a política objetiva-se como uma ação focalizada intencionando a inclusão dos contingentes populacionais excluídos desse processo. Objetivamos enfatizar sob a perspectiva sociológica, os argumentos de defesa das políticas de cotas no ensino superior, bem como perceber de forma crítica os diálogos e conflitos gerados na implementação da política, pois acreditamos que os diálogos e conflitos são essenciais no processo de formação da sociedade e ampliação da cidadania social. No âmbito de toda a abordagem, se fez necessário destacar a importância das políticas educacionais, que na sua essência contemplam propostas objetivas e viáveis voltadas para a valorização de um processo pedagógico que vise assegurar a construção do currículo e a prática docente com vieses na formação humana, desde a educação infantil até a universidade. Palavras Chaves: Ações afirmativas, Formação Humana, Políticas Públicas. INTRODUÇÃO Historicamente o processo educacional no Brasil acontece às margens de uma política pública, não concebida como uma ação do Estado, que de certo modo, foi engendrada por uma ação excludente, ou seja, somente a classe dominante (latifundiários, membros do governo, etc.). teria acesso e ingresso ao ensino formal de maneira mais rápida. Importante salientar que o conjunto de sujeitos excluídos do processo educacional são margeados e classificados como menos favorecidos e colocados como invisíveis em relação à educação formal. Os modos de produção das ausências são institucionalizados em sua forma subjetiva e materializados na ação objetiva do não acesso aos serviços educacionais ofertados. Nesse sentido, a construção identitária dos sujeitos limitava-se apenas em atender as ordens dos patrões. Ponce aponta que “O conceito da evolução histórica como um resultado das lutas de classe nos mostrou, com efeito, que a educação é o processo mediante a qual as classes dominantes preparam na mentalidade e na conduta das crianças as condições fundamentais da sua própria existência (2000, p. 169). Anos se passam e o modo de governar se transforma, de colônia a império, de império a república, margeado por novas tendências de governo, valorizando os aspectos econômicos para atender as novas aspirações emergentes influenciadas pelo processo industrial e o surgir do novo capitalismo industrial cresce para atender as demandas nacionais. Nesse sentido, a intensificação do capitalismo industrial fez com que determinasse o surgimento de novas propostas educacionais, pois, antes na estrutura oligárquica o povo não percebia a necessidade de se instruir, porém, a partir da década de 30 no que diz respeito a educação passou por uma mudança profunda (ROMANELLI, 2000). Assim, as práticas socioeconômicas sofreram as transformações materiais que sustentam as inovações tecnológicas especializadas para atender as necessidades do novo padrão de consumo, o treinamento técnico de pessoal especializado, as demandas e o aumento do consumo interno. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS MUDANÇAS SOCIAIS No contexto das mudanças sociais e das múltiplas transformações do tecido social, um novo paradigma aspira por novas práticas, haja vista que as recorrentes não atendem mais o ideal de vida julgado necessário. Conforme Cunha (2010, p.21) “O modelo de sociedade na qual estamos inseridos baseia-se no acúmulo de capital, onde ter acesso à educação formal não é uma questão de oportunidade”. Assim a comunidade quer seus direitos garantidos, representação na classe política, criação de leis que garantam serviços à sociedade, enfim, tornaram-se questionadores em busca de melhorias na sua realidade social, mesmo que por vezes o seu próprio conforto estivesse ameaçado. Conforme Dagnino (2002, p. 285): O reconhecimento da pluralidade e da legitimidade dos interlocutores é requisito não apenas da convivência democrática, em geral, mas especialmente dos espaços públicos, enquanto espaços de conflito que têm a argumentação, a negociação, as alianças e a produção de consensos possíveis como seus procedimentos fundamentais. Neste conjunto de interações/meio e fins, o processo educativo formal como pressuposto para a aquisição da cidadania passa a ser uma reivindicação imprescindível do novo modelo de sociedade emergente. Porém Frigotto (1999, p.33) destaca que As relações sociais e econômicas presentes em nosso meio afetam diretamente a estrutura organizacional da educação, visto que as práticas educativas partem da prática social estabelecida pelos membros de uma determinada sociedade, onde “interesses antagônicos estão em luta”. Nessa constante relação entre diálogos e conflitos emerge um tipo ideal a ser alçada como desejo moral e ético denominado “democracia”, significada como igualdade formal, no entanto, sem garantia do acesso aos direitos e condições a todos. Malgrado a intencionalidade proclamada, a igualdade como relação de uma democracia formal, se submerge a uma intencionalidade, cujos valores são apropriados por poucos, especialmente, os detentores de determinados meios de acesso a bens, serviços e riquezas produzidas por todos. Desse modo, a perspectiva apontada nesta discussão acrescenta ao campo empírico a idéia da educação como pressuposto para uma práxis transformadora que articule a formação do homem inserindo-o num campo performático no qual um novo pressuposto de autonomia é requerido por meio de uma nova práxis pedagógica com a perspectiva para construção de um novo espaço, denominado espaço público. De acordo com Vieira (2008, p. 14), “esses encontros entre Estado e sociedade civil foram caracterizados como a grande novidade dos anos 90, derivando de uma aposta generalizada na participação da sociedade civil no processo de democratização”. Em outra compreensão Pinto (2000, p.37) aponta que “Para que aumentem as possibilidades individuais de educação, e para que se tornem universais, é necessário que mude o ponto de vista dominante sobre o valor do homem na sociedade, o que só ocorrerá pela mudança de valoração atribuída ao trabalho”. No que tange ao processo educativo, ocorreram diversas transformações o que possibilitou a mitigação de um sistema de ensino público que por sua vez buscou contemplar o ingresso dos segmentos sociais desprovidos de atendimento por políticas públicas universais. Essas transformações estão aliadas às políticas emanadas pelo governo, às práticas compreendidas como relações construídas em seu interior. Nesse sentido, por vezes, alguns segmentos da sociedade ficaram excluídos das políticas públicas, sem acesso aos serviços de saúde, habitação, saneamento, entre outras, vulnerabilidades. AS POLÍTICAS PÚBLICAS COMO AFIRMAÇÃO DE DIREITOS Recorrendo a uma forma conceitual, Höfling (2001, p.2) ressalta que: “Políticas públicas são aqui entendidas como o Estado em ação é o Estado implantando um projeto de governo, através de programas e propostas de ações voltadas para setores específicos da sociedade”. Com base nessa concepção, compreendemos que as políticas públicas partem do pressuposto em orientar determinadas práticas como o auxílio na tomadas de decisão para a implementação das ações nas questões públicas e coletivas buscando assegurar os diversos direitos sociais do sujeito. Incluem-se nesse contexto as transformações daquilo que se dá na esfera privada em termos de ações coletivas no espaço público, relacionando-as a liberdade e igualdade ao direito e a satisfação das necessidades básicas. Segundo Höfling (2001, p.02): “[...] entendo a educação como uma política pública social, uma política pública de corte social, de responsabilidade do Estado, mas não pensada somente por seus organismos”. Isto é, essas ações envolvem sujeitos, grupos e instituições que constroem correlação entre sãos/as forças sociais articuladas para defender interesses pessoais e os da/na sociedade. Para o entendimento do processo de elaboração das diversas políticas públicas, faz-se necessário contextualizar seus significados históricos em uma determinada sociedade, pois elas são produto das lutas, pressões e conflitos entre os grupos e classes que constituem a sociedade. Neste vértice Oliveira, (2000, p.161), destaca que: [...] as mudanças sentidas e pensadas no campo da educação têm como ponto inicial a luta pela universalização do ensino, que desencadeou a defesa pela organização democrática da educação pública, universalização não apenas como garantia de direitos, mas, sobretudo como efetividade de uma política pública de educação. Com base no apontamento do autor supracitado compreendemos que o acesso e a permanência da população no processo de educação formal estão relacionados com a efetiva implantação de políticas que garantam o direito de todos à educação. AVANÇOS NAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS No processo educacional brasileiro percebem-se tentativas pela consolidação de políticas educacionais que atendam aos diversos segmentos da sociedade. Verifica-se, portanto, suas particularidades históricas, as pressões e lutas dos movimentos sociais, do movimento sindical, das pastorais, dos novos sujeitos inseridos nos movimentos sociais organizados em comunidades virtuais que se indignam, lutam e reclamam no sentido de contribuir para a construção de mudanças significativas na educação básica. Isso se tornou mais perceptível nas últimas décadas, principalmente no final dos anos de 1980, com a consolidação da Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes de 1996 cujo período é marcado por várias reformas educacionais. Sendo assim, Libanêo (et al, 2009, p.55) afirma que: Nesse contexto, o governo brasileiro vem implementando suas políticas econômicas e educacionais de ajuste, ou seja, diretrizes e medidas pelas quais o País se moderniza, adquire as condições de inserção no mundo globalizado, e assim, se ajusta às exigências de globalização da economia estabelecidas pelas instituições financeiras e pelas corporações internacionais. Percebe-se a década de 1990 caracterizada como a década da afirmação dos direitos e a efervescência da sociedade civil ocupando os cenários políticos como protagonistas dos movimentos sociais e a reorganização da capacidade ativa do povo (DOIMO, 1995). Nos anos seguintes, nota-se a sociedade mobilizada para a afirmação dos direitos como momento que marca a posição das instituições da sociedade civil em contra posição ao projeto de esvaziamento das políticas públicas. Para Dagnino, apud Vieira (2008, p.14) “[...] esses encontros entre Estado e sociedade civil, foram caracterizados como a grande novidade dos anos 90, derivando de uma aposta generalizada na participação da sociedade civil no processo de democratização”. O projeto neoliberal caraterizado como o esvaziamento do Estado em suas ações, como provedor de políticas públicas é reorganizado em torno de ações focalizadas e de caráter pontual, ou seja, as políticas públicas de cunho universal deixam o centro do debate para a entrada das políticas focalizadas em públicos específicos em meio ao grau de vulnerabilidade. Por outro lado, os movimentos sociais são reconvertidos em novos movimentos sociais e mediados por um novo paradigma de ação, por novas demandas que exigem novas representações de sociabilidade e organização dos segmentos locais, dos grupos vulneráveis e pauperizados oriundos das relações materiais de desqualificação que a própria sociedade capitalista produziu. No cenário nacional a Constituição Federal de 1988, manifesta-se um ordenamento jurídico fruto das lutas sociais dos anos anteriores, que de sua parte, são configuradas e asseguram os direitos sociais. Nesse viés, destacamos as principais legislações, planos e políticas no âmbito da educação brasileira: Plano Nacional de Educação (Lei n.10.172/2001), Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96 a qual rege todo o sistema de ensino desde a educação infantil aos processos de ensino superiores. Em seu Título I, Da educação nos diz: Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º. Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. Nas especificidades da Lei de Diretrizes e bases encontramos a dimensão das políticas públicas de educação para ampliação dos direitos e legitimação do papel do Estado nas políticas públicas sociais. Assim Rosember (2001. p. 47-68) afirma que: A produção de conhecimento sobre o atual desenvolvimento de políticas públicas de educação pela perspectiva da redução da desigualdade de gênero no sistema público de ensino brasileiro é ainda escassa e segue a tendência geral das pesquisas de gênero na educação, caracterizadas pela precária divulgação. No texto encontra-se também a matriz curricular, para cada modalidade de ensino, desde o ensino público ao privado, transcritas também, as políticas educacionais especificas para a população pertencente aos processos da educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, jovens e adultos, sujeitos com necessidades especiais, educação do campo, Educação a Distância e valorização dos profissionais da educação. Ainda conforme Meihy (1996. p. 9): A inclusão de histórias e versões mantidas por segmentos populacionais antes silenciados, por diversos motivos, ou que tenham interpretações próprias, variadas e não oficiais, de acontecimentos que se manifestam na sociedade contemporânea . A Lei de Diretrizes e Bases busca comtemplar particularidades dos diversos segmentos da sociedade, visando garantir o acesso em nível de escolarização, bem como viabilizar os instrumentos para essa prática e a valorização dos sujeitos envolvidos nos processos formativos. AS AÇÕES AFIRMATIVAS COMO CONQUISTAS DE DIREITOS No intuito de garantir os processos educativos a toda classes oriundas das políticas públicas foram criadas políticas denominadas ações afirmativas, compensatórias, entre outras. Assim encontramos no texto elaborado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC, 2006): Ações afirmativas são medidas especiais e temporárias tomadas pelo Estado, com o objetivo de eliminar desigualdades raciais, étnicas, religiosas, de gênero e outras − historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidade e tratamento, bem como compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização. Essa ação do estado visa amenizar os impactos provocados por uma politica social excludente que se concretiza em um tratamento desigual as pessoas não pertencentes às representações homogeneizadoras da sociedade, como exemplo em relação a sexo, raça e religião. Segundo Walters (1995 apud Vieira, pg. 86.2003): A ação afirmativa é um conceito que indica que, a fim de compensar os negros e outras minorias (...) pela discriminação sofrida no passado, devem ser atribuídos recursos sociais como empregos, educação, moradias, etc. de forma tal a promover o objetivo social final de igualdade. Destacamos algumas das ações afirmativas existentes: correção de desigualdade entre homens e mulheres, cotas para portadores de deficiência na iniciativa privada, cotas para representação política das mulheres, implantação curricular da Lei 10.639/03 para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana e cotas para a população afrodescendente no ensino superior. Retomando o foco da nossa discussão, o campo empírico aponta uma política afirmativa para a inserção da comunidade afrodescendente no ensino superior a qual se dá mediante diversas ausências e dificuldades encontradas por estes sujeitos em seu contexto social envolvendo eventos psicológicos e afetivos, cuja esta, é compreendida também como estratégia para as possíveis transformações sociais e culturais de cunho social e pessoal. PROCEDIMENTOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS A pesquisa desenvolvida com estudantes dos cursos de licenciatura em Letras, Matemática, Pedagogia e Bacharelado em Administração da Universidade do Estado do Mato Grosso e apresenta caráter qualitativo embora traga em sua materialidade alguns aspectos quantitativos. Nesse sentido, a partir da compreensão de Demo pode-se dizer que a “qualidade não se expressa diretamente em números, por que não é precisamente o lado numérico da coisa, mas pode referenciar-se indiretamente através de indicadores razão pela qual o tratamento quantitativo sempre pode ser pertinente”, ou seja, buscou-se fazer a análise das informações obtidas a fim de identificar qual a percepção que os acadêmicos tinham à respeito das políticas de ações afirmativas. Para que pudéssemos obter acesso a essas informações foi realizado um questionário no qual os acadêmicos expunham suas opiniões em relação ao uso das ações afirmativas para o ingresso da população afrodescendente no ensino superior. Após a leitura e análise dos dados pode-se perceber que os acadêmicos de Licenciatura em Matemática e do Bacharelado em Administração, manifestaram-se, em boa medida, contrariamente a política de cotas na universidade, no entanto, os acadêmicos de Licenciatura em Letras e Pedagogia já se demonstraram em percentual superior a favor das cotas. Isso nos remete a necessidade de uma investigação maior do por que os alunos das ciências exatas apresentam posturas contrárias às políticas de ações afirmativas e de acesso no ensino superior. CONCLUSÕES As cotas como recurso de uma ação objetiva aos modos do pensar dos acadêmicos a favor das cotas agem no sentido da reconstrução de um novo paradigma social de onde emerge um novo pensamento político social com duplo sentido da ação: compreendida em primeira instância como necessária, porém, num segundo momento são percebidas como politica pública desdobrada em ações mitigadoras de novas práticas de modo a minimizar as desigualdades em sua origem. Assim, a construção de uma nova cultura política recoloca as políticas públicas como a ação do Estado em movimento na sociedade civil e por meio dela age e interage nas suas relações entremeadas pelo poder. Nesse sentido Alvares, Dagnino e Escobar (2000, p.21) ressalta que: A cultura é política porque os significados são constitutivos dos processos que, implícita ou explicitamente, buscam redefinir o poder social. Quando apresentam concepções alternativas de mulher, natureza, raça, democracia ou cidadania, que desestabilizam os significados culturais dominantes, os movimentos põem em ação uma política cultural. Assim, cabe ao sistema de ensino, em especial na universidade, compreendida como espaço político de construção e reconstrução do conhecimento promover o debate em relação às questões sociais que permeia o contexto da sociedade contemporânea valorando seus aspectos históricos de concepção de homem e meio. Para Queiroz (2002, p.16): Muito embora a busca de soluções para a desigual situação entre brancos e negros no Brasil não seja uma novidade para o movimento social, a emergência de uma discussão mais ampliada, em torno da necessidade de medidas voltadas para corrigir a histórica situação de exclusão a que foi relegada a população negra, bem como a iniciativa do Estado Brasileiro, pelo menos no plano formal, de adotar politicas de corte, racial, são recentes no país. Nesse sentido, os processos formativos formais, os currículos nas instituições de ensino superior poderão ser mediados por práticas libertadoras e com características igualitárias desde a educação infantil a universidade, de modo a promover uma sociedade crítica/reflexiva e autônoma em suas práticas fazendo com que o estado lhe represente e não o indivíduo representar os ideais do estado. No que diz respeito às ações afirmativas para a população afrodescendente ela deverá propor uma constante reflexão considerando seus aspectos positivos e negativos, pois, na verdade o que se busca é um processo de aprendizado de qualidade de condições de acesso à universidade a todos os indivíduos que manifestarem interesse. Pois, de acordo com Bowen, (2004, p.27): Não é possível pegar uma pessoa que esteve agrilhoada durante anos, colocá-la na linha de largada de uma corrida, dizer-lhe que „agora você está livre para competir com todos os outros‟ e, ainda assim, acreditar com justiça que está sendo completamente imparcial. Assim entendemos que muitos dos estudantes “beneficiados” pelas cotas de ingresso a universidade contam também com outras questões que dificulta o seu acesso e permanência como falta de roupa, comida, sapatos, dinheiro para pequenas despesas, como transportes e aquisição de livros. Analisamos que as ausências para estes poderiam ser minimizadas se a aplicação dos recursos e das politicas públicas fossem investidos como ações que poderão evitar disparidades nas oportunidades de acesso ao conhecimento formal. Nesse sentido, será necessário repensar as práticas de modo a dinamizar o processo pedagógico para que seja voltada à valorização de todos os envolvidos na/da comunidade escolar para que as mudanças benéficas atinjam a comunidade externa da escola buscando diminuir os diversos tipos de preconceitos e que não seja necessárias ações afirmativas ou compensatórias para a inserção dos diversos indivíduos no seio social. Essa discussão traz-nos novos elementos que possibilitam a compreensão das políticas de ações afirmativas emanadas na educação superior em particular a reserva de vagas/cotas para a solução formal do problema de acesso à educação superior no Brasil, sendo que, esta não se configura em uma solução essencial do ponto de vista dos trabalhadores por não questionar a lógica do capital, da propriedade privada e da apropriação de mais-valia. Portanto, entendemos que a relação trabalho-educação, não poderá ser dissociada de sua concretização em termos de políticas públicas o que nos leva a compreender como necessárias ao desenvolvimento de estudos que inter-relacionem esses aspectos. Sob esta perspectiva, concluímos que, apesar das políticas públicas interferirem de modo a resolver parcialmente as questões sociais, os problemas intrínsecos ao sistema capitalista é minimizado pelas constantes lutas sociais de apoio à luta dos trabalhadores minorando as ausências e certas vulnerabilidades do sistema, materializando direitos e conquistas para uma sociedade melhor para se viver. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVARES, S. DAGNINO, E. ESCOBAR, A. “O Cultural e o Politico nos movimentos sociais Latino-Americanos”. In. ALVARES, S. DAGNINO, E. ESCOBAR, A. (org). Cultura Politica nos movimentos sociais Latino-Americanos. Belo Horizonte, Editora, 2001. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. BRASIL. 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