Princípios e regras
Reinaldo Vasconcelos – Futura Press
Achei bem interessante a leitura que alguns internautas fizeram do texto em
que falo a respeito de princípios e de regras. Parece que princípios, no entendimento
deles, são conceitos que só podem ser passados por palavras ou palestras, como
disse um deles. Não: eles devem ser ensinados por atos junto com as palavras e são
eles que originam as regras.. Já as regras que não são relacionadas a princípios, logo
elas perdem sua importância e eficácia para as crianças e adolescentes.
Claro que crianças, principalmente as pequenas, precisam de regras. Aliás,
todos nós precisamos de algumas delas. Mas, se elas não estiverem vinculadas a
princípios e à autoridade de quem as estabelece, serão respeitadas por pouco tempo
e não serão encaradas como um valor.
Além disso, sabemos que se há regras, há transgressão, não é mesmo? Tanto
que, em qualquer tipo de jogo esportivo em que há regras, as penalidades para as
faltas – transgressões – que possam ser cometidas já são previamente elaboradas. E mais: sabemos que tanto as
transgressões quanto as penalidades fazem parte do jogo. Por que seria diferente no “jogo da educação” ou, no
“jogo da vida”?
Vamos tomar como exemplo o princípio do respeito. Cada família irá estabelecer algumas regras
baseadas nesse principio para que a convivência entre todos possa ocorrer com consideração. Exemplos: não
pode bater no irmão (regra), não pode falar determinados palavrões aos pais (regras) etc. Se, desde cedo, os
pais explicam que a existência de tais regras está ligada ao respeito e, mais importante, façam com que o filho as
obedeça, a criança vai, aos poucos, internalizar o princípio e aprender a se comportar de acordo com a moral da
família e, mais tarde, da sociedade. Já se as regras não são relacionadas ao princípio que as rege, logo se tornam
vazias e limitadas.
Outro exemplo é o do cuidado consigo mesmo. Regras como hora para dormir, banho diário, escovação
dos dentes etc. são todas relacionadas a esse princípio. Se elas não forem associadas ao auto-cuidado, na
adolescência não terão consistência.
A escola é um ótimo exemplo de como as regras a serem cumpridas pelos alunos não são ligadas aos
princípios e, assim, estimulam a transgressão. Os alunos precisam respeitar os horários, por exemplo. Será que
eles sabem – ou seja, foi explicado e continuamente contratado – que o motivo é que uma atividade coletiva
não pode ocorrer se cada pessoa chega num horário diferente, ou seja, que o que rege a escola é o princípio da
coletividade? Em geral, isso não acontece: os alunos sabem apenas que há regra para horário, para usar
uniforme etc.
Educar desde cedo com base em princípios visa à construção da autonomia; educar na base de regras
produz infantilização. Conclusão: precisamos mais dos princípios do que das regras.
Escrito por Rosely Sayão
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Princípios e regras - Colégio Porto Alvorada