Comentários do professor Edilson, do curso Apogeu, sobre a prova de
Sociologia, da segunda fase do vestibular da Universidade Federal do
Paraná:
1) O Brasil sediou neste ano a Rio+20, Conferência das Nações Unidas que tratou
de problemas ambientais que ameaçam toda a humanidade, tais como
sustentabilidade, mudanças climáticas e recursos naturais. Um dos problemas
que preocupam as nações do mundo diz respeito à disponibilidade de recursos
hídricos. Nesse ponto, oBrasil é favorecido pela natureza, detendo 13% das
reservas de água do Planeta. O que significa, política e sociologicamente, deter
esse recurso nessa proporção?
Resposta: Política: A posse de recursos estratégicos, como a água, gera
competição entre países ou conflitos de ordem territorial, podendo ocasionar
guerras. Sociologicamente, a abundância de recursos hídricos permite a
realização do projeto de desenvolvimento sustentável.
2) O quadro ao lado mostra o percentual de ocupação dos indivíduos no Brasil,
segundo o estrato social a que pertencem, nos anos 2003 e 2009. Pelo quadro, é
possível perceber que houve um aumento desse percentual para todos os estratos
da população e, ao mesmo tempo uma redução do percentual de miseráveis.
Com base nesse quadro, cite três elementos que contribuíram para o aumento da
ocupação dos indivíduos e a redução da miséria no Brasil e justifique por que
são importantes.
Resposta: Podemos citar políticas públicas de valorização da educação, um
implemento na capacidade de consumo e, a inserção dos indivíduos no mercado
de trabalho. Perceber a educação como elemento vital para o crescimento do
sujeito é de suma importância, pois o mesmo será “doutrinado” a pensar que
pode sempre ir além de suas possibilidades. Um estado forte e consolidado será
aquele que tem a capacidade de perceber a situação de seus cidadãos e com
vontade política, promover ações legais que visem a melhoria da vida do
homem comum e do cidadão, que uma vez participante da cadeia produtiva,
tende a crescer no escalonamento social.
3) Quando crianças brincam e brigam entre si; quando jovens se reúnem para jogar
videogame ou se encontram na balada, riem, dançam e ficam; quando velhos se
encontram em clubes de terceira idade e relatam suas experiências de vida,
namoram e dançam podemos falar de socialização? Por quê?
Resposta: Podemos sim. Uma vez socializado pela família (socialização
primária), o indivíduo agora entra em uma nova etapa de socialização, que diz
respeito às novas relações, entre as quais podemos citar, a escola, os amigos da
vizinhança, os parceiros da balada, enfim, a amizade, que com certeza,
contribuirá para a formação de seus valores, seus sentidos, seus significados. A
sociedade ou o grupo, contribuirá para a socialização do mesmo.
4) Sabemos que, entre as formas de desigualdade social, a desigualdade de gênero
afeta as mulheres em maior ou menor grau em todo o mundo contemporâneo. O
gráfico ao lado mostra a participação de homens e mulheres no mercado de
trabalho em 12 países. Que fatores influenciam nessa diferença de tratamento
dado às mulheres no mercado de trabalho?
Resposta: Podemos responder como um dos fatores o pensamento de algumas
“culturas” que relegam a mulher a um papel secundário na sociedade e em
especial no mercado de trabalho. Outro fator seria a deficiência do Estado
como agente fiscalizador para inibir esse tratamento desigual.
5) Para Delfim Netto, “o processo civilizatório brasileiro fez com que a empregada
doméstica virasse manicure, a manicure fosse para o call center, a moça do call
center fosse para o supermercado e a caixa do supermercado passasse a trabalhar
na loja de departamentos” (CartaCapital, 3/10/2012, p. 36).O trecho acima se
refere a um aspecto importante do mundo do trabalho. Explique qual é esse
aspecto, situando-o no contexto do mercado de trabalho no Brasil.
Resposta: Percebemos que a partir do momento em que houve no país um
melhor investimento em políticas públicas, uma melhor distribuição de renda, a
queda da inflação com a valorização da moeda, entre outros, fez com que
houvesse uma perspectiva em aumento de ganho salarial e isso atingisse o
trabalhador comum. Aumento de ganho pode gerar também uma inflação destes
serviços, uma vez a troca de postos e entre os ocupantes dos postos pode
provocar a falta da mão de obra.
6) Nas abordagens sobre o homem como objeto da Antropologia, é necessário
compreender as relações fundamentais entre cultura e biologia. Com base em
Laraia (LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2008), explique, usando exemplos, como a cultura pode
interferir no plano biológico.
Resposta: Para Laraia o indivíduo agrega a cultura à própria vida. Ele não
consegue ver sua vida sem os princípios, sem os valores, crenças, rituais, entre
outras características, que são determinadas pela cultura.
A cultura influencia o biológico a ponto de gerar estudos sobre as chamadas
doenças psicossomáticas. Como exemplo, podemos citar a crença de que comer
manga misturada com leite faz mal, mesmo hoje sendo um equívoco. É provável
que quem assim crer e ingerir a mistura, vai se sentir mal. A mesma noção
cultural que provoca a doença pode também provocar a sua cura, segundo
Laraia. O exemplo aqui é o uso da afirmação e confissão da fé como
instrumento de eficácia frente a qualquer remédio ou procedimento científico.
7) Tomando como referência o livro Os clássicos da política (WEFFORT, F. (org.).
vol. 1. São Paulo: Ática, 2006), explique as diferenças entre Thomas Hobbes e
John Locke quanto ao modo como compreendem o estado de natureza e o
contrato social.
Resposta: para Hobbes, o homem em seu estado natural vive em uma constante
guerra contra todos, e se conduz por paixões, por egoísmo, pensando apenas em
seu próprio bem e em sua comodidade. Sua natureza percebe o outro como o
inimigo a ser vencido, eis a razão da frase hoje bastante conhecida de Hobbes:
“o homem é o lobo do homem”; diante disso, a sociedade política é um contrato
ou pacto social estabelecido pelos homens para tornar a vida possível,
superando a condição natural insuportável de guerra contra todos.
Diferentemente de Hobbes, Locke define a natureza humana como sociável. Os
homens são livres e iguais e possuem capacidade de se conduzir por si mesmos.
Em Locke não há a ideia de uma luta de todos contra todos. O filósofo afirma
que os homens não são apenas independentes, mas reconhecerem os mesmos
direitos em seus semelhantes.
É preciso que se perceba que, a condição natural, não é, porém, uma harmonia
social em um ambiente recheado de paz, uma vez que nem todos os homens
agem pela razão, mas se movem por paixões ou interesses que os levam a ferir a
autonomia de outros indivíduos. Ainda que isso não seja uma guerra contra
todos, como observado em Hobbes, provoca incômodos. A solução para isso
seria o contrato social que, baseado no consentimento de todos, funda a
sociedade política. Esse contrato social, embora seja a substituição de natureza
por uma modalidade convencional de vida em sociedade, não se coloca em
oposição à natureza do homem: pretende assegurar a sua liberdade.
8) Identifique o papel atual dos Estados nacionais na administração das crises
financeiras do capitalismo contemporâneo.
Resposta: De um lado o Estado se enfraquece no campo da regulação
econômica, da promoção da integração social e como único elemento de
identidade nacional. Por outro lado, permanece como potência nos campos
político, jurídico, material e simbólico.
No plano econômico percebe-se uma ampliação do poder e dos recursos das
grandes corporações e entidades financeiras em escala global e, diante das
crises financeiras do capitalismo contemporâneo, o Estado tem acenado com
políticas e leis que privilegiam essas corporações, a fim de evitar que tais crises
atinjam um número maior de empresas, provocando por si só, uma situação
mais dramática, que é o aumento do desemprego. Cabe ao Estado, então,
através da ação política, cuidar dos problemas oriundos das crises do
capitalismo que tem gerado: desigualdades sociais, precarização do trabalho,
desemprego, etc.
9) O uso das redes sociais (como o Facebook e o Twitter) na Primavera Árabe foi
fundamental na organização dos protestos que levaram à queda dos ditadores na
Tunísia e no Egito em 2011. Com base na experiência da Primavera Árabe,
explique o significado do uso da internet e das redes sociais na participação
social e no desenvolvimento da cidadania nas sociedades contemporâneas.
Resposta: Com o crescente uso da internet, a comunicação potencializou a
desenvoltura das relações sociais e, consequentemente, trouxe consigo várias
organizações que variam as suas ações, participando ativamente de movimentos
políticos, sociais e até mesmo ampliando a rede de relacionamentos humanos.
As redes sociais tem servido como base para fóruns de discussão de variados
assuntos. Vivemos em um momento da revolução das relações. O mundo
contemporâneo está conectado em um constante alerta via internet. Do
cafezinho na padaria da esquina à queda de um ditador, tudo isso está sendo
discutido simultaneamente na rede mundial. A Primavera Árabe é um bom
exemplo, uma vez que, os internautas tunisianos e egípcios usaram as redes
sociais (facebook, twitter) para dar sentido e significado, e mais ainda, para dar
voz ao movimento de liberdade e cidadania. Eles clamavam por liberdade
política, exercitavam uma pseudo noção de cidadania e usaram para isso o
poder da internet, para que o “mundo” ouvisse e compartilhasse os seus ideais.
10) Explique a relação entre Estado e classes sociais para Karl Marx, tomando como
referência o livro Os clássicos da política (WEFFORT, F. (org.). vol. 2. São
Paulo: Ática, 2006).
Resposta: Para Marx o estado seria uma comunidade ilusória, que sempre
procurará conciliar os interesses de todos, mas principalmente daqueles que
dominavam economicamente a sociedade. Para o filósofo, os dirigentes do
Estado moderno funcionavam como um comitê executivo da classe dominante, a
burguesia. Marx declara que o Estado nasceu para refrear os antagonismos de
classe e, por isso, é o Estado da classe dominante. É preciso lembrar que há
momentos em que a luta de classes é equilibrada e o Estado se apresenta com
independência entre as classes em conflito, como se fosse um mediador.
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Sociologia - Curso e Colégio Acesso