Lay-off gera tens50 1 Trabalhadores com contrato suspenso sofrem com renda inferior e ameaga de desemprego FABIO MUNHOZ LEONE FARIAS [email protected] [email protected] Previsto na legislaqiio federal, o lay-off k a suspensiio do contrato de trabalho por interval0 entre dois e cinco meses. Durante esse periodo, parte do saldrio k p a g a com recursos d a Uniiio, por meio d o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), e outra k depositada pel0 empregador. A medid a foi incorporada A CLT (Consolidaqiio das Leis do Trabalho) em 2001 e, desde entiio, passou a ser utilizada por empresas para adequar a produqiio em momentos de crise econ6mica. Apesar de o funciondrio ser afastado de suas atividades profissionais e continuar tendo algum rendimento, engana-se quem pensa que esse periodo k semelhante ao das fkrias remuneradas. 0 principal temor de quem estd com contrato suspenso k o de que a situaqiio econ6mica do Pais n5o melhore'atk o fim do periodo'lajl-o# e, assim, seja dispensado durante ou depois do afastamento. Outro problema k a reduqiio da renda familiar, pois a legislaqio determina que o mdximo que cada trabalhador pode receber do FAT k o mesmo teto do seguro-desemprego, de R$ 1.385,91. A complementaqiio dos vencimentos fica a cargo de cada empresa - que pode inteirar o restante do saldrio ou pagar apenas uma parte. Na fdbrica da GM em S5o Caetano, um dos colaboradores afastados desde novembro revela que as 819 pessoas com os contratos suspensos estio recebendo cerca de 25% a menos do que o valor do saldrio. 0 grupo de- veria retornar na sexta-feira, mas ficara em casa por mais tr@smeses, pois a montadora decidiu prorrogar a suspens20 at6 o dia 9 de julho. Pai de duas filhas, o trabalhador, que n2o quis se identificar, teve de adequar o orcamento dom6stico para conseguir honrar os compromissos financeiros. "Mas 6 dificil, pois, quando ficamos em casa; acabamos gastando mais com comida, agua e conta de luz. Ainda bem que minha mulher trabalha e ajuda a pagar as contas, entre elas a do aluguel." Portador de doenca ocupacional, ele n8o pode desenvolver outras atividades remuneradas durante o afastamento, pois corre o risco de ser penalizado. "Ent20, fico em casa, ajudo minha mulher e cuido da minha filha menor."~squartas e quintasfeiras, passa o dia todo em curso de assistente de produ- qiio no Senai (Serviqo Nacional de Aprendizagem Industrial), uma das exigencias previstas em lei como contrapartida ao pagamento dos recursos do FAT. Na quinta-feira, quando recebeu a noticia de que a montadora decidiu prorrogar o lay-off, o sentimento foi de frustraqiio. "Fiquei chateado, mas 6 melhor assim do que ficar desempregado. E, acompanhando o noticiario politico e econBmico do Pais, 6 dificil ficar otimista. Ficamos desestruturados e com medo de ser demitidos." "E uma panela de pressiio, uma situaqiio bastante delicada, nos sentimos abandonados, o que sabemos (sobre a empresa) 6 por intermkdio dos colegas", afirma um dos 715 metal6rgicos com contrato suspenso da fibrica da Mercedes-Benz em Siio Bernardo que, igualmente, pediu para niio ser identificado. 0 prazo final do lay-08 desse pessoal 6 dia 30. Ele, que tamb6m tem doenqa profissional, esti em casa desde julho do ano passado, j i que a suspensiio inicial, de cinco meses, foi prorrogada em novembro. Para esse funcionirio da ~ e r c e d e s a, restriqdo m6dica, que proporciona estabilidade, conforme o acordo coletivo, lhe d i esperanqa de ainda voltar ao trabalho. "Mas a empresa pode passar por cima disso e demitir assim mesmo", diz, apreensivo. Para suportar a angustia desses dez meses de incerteza, ele procura se distrair lendo jornais e revistas e convivendo com a familia nas horas vagas ao curso de auxiliar de produqiio que 6 obrigad0 a fazer para ter direito a seu rendimento. SEM S A ~ R I O A situaqiio financeira de outro operario da Mercedes que tamb6m teri a identidade preservada se complicou quando foi afastado em 2009. Ele realizou uma viagem que j i havia programado com antecedhcia e niio cumpriu presenqa minima em curso obrigat6rio de capacitaqiio. "Quando fui a agkncia da Caixa EconBmica Federal para receber, por meio do Cartiio Cidadiio, disseram que niio havia nada disponivel", lembra. 0 momento s6 niio foi mais desesperador porque o metalurgico realizou trabalhos por fora, o que possibilitou a entrada de renda para a familia, ja que sua mulher trabalha em casa e ele tem dois filhos. "Mesmo assim, eu estava me arriscando, pois, se eu sofresse algum acidente, niio teria direito a receber auxilio-doenqa, al6m de correr o risco de a montadora me demitir por justa causa." Quando esteve afastado, a unica comunicaqiio oficial com a fibrica era por meio de cartas. "Quando chegava alguma correspondtncia, todos em casa ficavamos em pinico, pois niio sabiamos se era uma convocaqiio para o retorno, aviso sobre prorrogaqiio do lay-off ou comunicado sobre demissiio." Para piorar ainda mais a angustia, os boatos que circulavam na 'radio-pedo' eram frequentes. Outra reclamaqiio 6 referente A Previdsncia. Durante a suspensdo do contrato de trabalho, niio 6 feita a contribuiqiio ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). "OU seja, vou ter de esperar mais tempo para me aposentar", lamenta. Regib tem 1.534 empregados afastados 0 Grande ABC tem hoje 1.534 trabalhadores em layof. Desse total, 819 siio da unidade da General Motors em Siio Caetano e, 715, da planta de Sdo Bernardo da Mercedes-Benz. De acordo com as ultimas informaq6es ofkiais divulgadas pelas montadoras, o excedente de funcionirios 6 de 1.070 na GM e 1.200 na Mercedes. 0 s contratos dos 715 empregados da Mercedes foram suspensos em julho - eram 750, mas 35 retornaram em fevereiro. 0 grupo deveria voltar a fibrica em novembro, mas a companhia decidiu prorrogar o afastamento at6 abril. 0 volume de afastados corresponde a 6 3 % do total de 10,5 mil funcionarios. Na GM, os 819 trabalhadores estiio em casa desde novembro e teriam de voltar a firma na sexta. Entretanto, a montadora decidiu renovar o lay-oflate 9 de julho, alegando necessidade de "ajustar a produ@o a 'atual demanda do mercado7'.0 montante equivale a 7,4% dos 11mil profissionais da unidade. Na Ford de Siio Bernardo, 424 colaboradores estiio em banco de horas por tempo indeterminadodesde o fim de fevereiro. 0 numero de funcionirios equivale a quase 10% do efetivo total da empresa de cerca de 4.500 pessoas. CADEIA . A quantidade de trabalhadores em lay-08 deve aumentar ainda mais neste mts, j i que a Pirelli anunciou que cerca de 450 empregados da fibrica de pneus em Santo Andr6 devem ser afetados pela medida e afastados at6 o fim do mes. 0 setor automobilistico 6 um dos mais atingidos pel0 momento de crise no Pais. A Anfavea (Associaqiio Nacional dos Fabricantes de Veiculos Automotores) diwlgou na semana passada projeqiio de que a produqiio do segment0 devera ser 10% menor neste ano em relaqiio a 2014, atingindo mesmo nivel de 2007. No primeiro trimestre, o numero de unidades fabricadas no Brasil teve queda de 16% ante o mesmo period0 do ano passado, pior resultado em oito anos. FM e LF