A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES COLETIVAS A PARTIR DA AVALIAÇÃO E SUAS PERSPECTIVAS Magali Amorim Mata1 Ivanete Bellucci Pires de Almeida2 PÔSTER Resumo Os diferentes sistemas de avaliação educacional criados no Brasil, a partir dos anos 90, buscam avaliar o rendimento dos alunos. Entre eles ressaltamos: o Sistema Nacional de Avaliação da Educação (SAEB), o Sistema de Avaliação do Sistema Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), o PISA, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE). Os programas avaliativos realizam medições pontuais, anuais ou bienais, como diagnósticos seccionais dos sistemas de ensino. Desse modo, possibilitam indicar tendências e perspectivas da educação. Seus resultados impactam, as instituições educacionais e também seus estudantes, com possíveis percursos para sua identidade. Palavras-chave: avaliação institucional, resultados, alunado. Problema Os modelos de avaliação educacional permitiram avanços nas aplicações e nas confecções dos testes, bem como uma melhor compreensão dos dados coletados por meio de questionários aplicados aos alunos, pais, professores e diretores de escolas nos diferentes níveis de ensino. Tem-se assim as seguintes indagações: O sistema de avaliação educacional no Brasil, além de avaliar o rendimento de desempenho do estudante, teria se transformado num referencial para mero ranqueamento das escolas do ensino fundamental médio e Instituições do Ensino Superior? Qual o papel do aluno e do professor frente ao resultado obtido nos testes? Objetivos Analisar os diferentes programas de avaliação da educação no Brasil a partir dos anos 90 e suas implicações sobre o sujeito avaliado. Discernir as implicações dos resultados ao aluno frente aos testes. 1 Aluna do Programa de Mestrado Profissional em Gestão e Desenvolvimento da Educação Profissional do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Docente da FATEC de Carapicuíba. 2 Professora orientadora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão e Desenvolvimento da Educação Profissional do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Diretora da FATEC do Tatuapé. Doutora em Educação pela Unicamp, Grupo de Pesquisa Avaliação e Formação de Professores. Resultados Obtidos O SAEB é um sistema para avaliação da Educação Básica no Brasil com três avaliações externas: a) Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) aplicada a cada dois anos por amostragem aos alunos matriculados na 4ª e 8ª séries (ou 5º e 9º anos) do ensino fundamental e também no 3º ano do ensino médio, da rede pública e privada em áreas rurais ou urbanas; b) Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC), também chamada Prova Brasil, é censitária, aplicada aos alunos da 4ª série/5ºano e 8ªsérie/9ºano do Ensino Fundamental das escolas públicas das redes municipal, estadual e federal, para avaliar a qualidade do ensino nas escolas públicas e c) A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), incorporada ao SAEB, em 2013. É censitária aplicada aos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas, para avaliar os níveis de alfabetização em Língua Portuguesa e Matemática. A partir de 2003, o SAEB passou a basearse nos seguintes estágios de habilidades: muito crítico, crítico, intermediário, adequado e avançado, além de utilizar uma escala percentual para verificar se os alunos construíram competências e habilidades desejáveis para cada uma das séries avaliadas: quantos ainda estão em processo de construção; quantos estão abaixo do nível que seria desejável para a série pretendida; quantos estão acima do nível que seria esperado. Para Franco, o SAEB, não obstante essas contribuições, “provoca impacto e nem sempre entrega o que promete”. (FRANCO, 2004, p. 62). Bonamino (2002) aponta que o SAEB não consegue influenciar o estilo cognitivo dos alunos e professor em suas atuações diante de cada disciplina escolar. Mesmo diante dos resultados e das políticas de regulação do ensino fundamental, as respostas oferecidas pelo SAEB para as escolas são, de tendência3 e precisam ser geridas dentro de cada unidade Escolar. (BONAMINO, 2002). Para Lüdke (2002), o maior conflito é a não-conformidade entre os analistas/avaliadores quantitativos versus qualitativos com distâncias entre si e sem conexões para que suas análises possam se complementar e com isso não se atinge um caminho consensual e de crítica construída com as avaliações, dentro de uma área complexa e contraditória como a da Educação. (LÜDKE, 2002). O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) avalia comparativamente o desempenho em leitura, matemática e ciências do alunado na faixa de quinze anos, quando se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. Cada país tem uma coordenação nacional, no Brasil é o INEP. (Bonamino & Franco, 2001). A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, desde 1996, por meio do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), analisa as atividades das escolas estaduais, verificando e identificando os fatores que interferem no rendimento escolar dos alunos de diferentes séries e períodos a fim de acelerar as tomadas de decisão para No SAEB, utilizaram-se estudos de tendência, ou seja, “uma população pode ser amostrada e estudada em ocasiões diferentes”, isto é, mesmo com diferentes pessoas pesquisadas, cada amostra representa uma mesma população. (Babbie, 1999, p. 102). 3 melhorias e prover capacitação contínua aos docentes e demais profissionais envolvidos no sistema. A participação no SARESP é obrigatória. Demais escolas das redes municipais e particular podem se associar por adesão. (ALMEIDA, 2010). Com isso, tem-se que os Sistemas de avaliação SAEB e SARESP foram implementados para avaliar o rendimento e o desempenho dos alunos, seja em âmbito federal seja em âmbito estadual. Em maio de 1998, foi criado o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, para avaliar o ensino médio e permitir o acesso do estudante concluinte da escolaridade básica ao ensino superior. A participação no exame é voluntária o que significa que os resultados variam de acordo com a porcentagem de participação de alunos por cada escola. O ENEM também é utilizado como critério de seleção para se concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni). Aproximadamente 500 Instituições de Ensino Superior no país usam o resultado do ENEM para complementar ou substituir seu vestibular. Participam do exame o aluno concluinte ou o que já concluiu o ensino médio em anos anteriores. A prova é composta por uma redação em Língua Portuguesa e por quatro provas objetivas, com quarenta e cinco questões de múltipla escolha que avaliam as quatro áreas de conhecimento do Ensino Médio e os respectivos componentes curriculares, conforme quadro 1: Quadro 1 Áreas de Conhecimento Ciências Humanas e Tecnologias Ciências da Natureza e Tecnologias Linguagens, Códigos e Tecnologias e Redação Componentes Curriculares suas suas suas Matemática e suas Tecnologias História, Geografia, Filosofia Sociologia Química, Física e Biologia e Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira (Inglês ou Espanhol), Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação e Comunicação Matemáticas Fonte: Edital Enem 2015. MEC/INEP Para Dalben (2003), os idealizadores do ENEM, buscaram a interação entre a educação básica e cidadania, a fim de permitir ao estudante demonstrar através da prova, sua capacidade de resolver problemas a partir da escolarização recebida. Importante ressaltar que o resultado individual do participante o capacita a ingressar em uma Instituição do Ensino Superior, mas que antes de tudo, é um diagnóstico de seu desempenho ao fim do ensino médio. O que pode lhe conferir uma percepção de sua real condição educacional que pode conduzi-lo a inferências tais, inclusive em relação à sua identidade. (SCRUCTON,1986, p. 156) Balzan e Delpino (2007) argumentam que a Gestão da Qualidade Total (GQT) alcançou o setor educacional com a escola como prestadora de serviço. Conceito advindo da economia, do mercado de capitais, da engenharia de produção atrelados à melhoria de desempenho e otimização da produtividade. Ressalte-se que tais considerações precisam abrir uma discussão no âmbito da gestão escolar de como usufruir desses conceitos em favor da organização institucional e não apenas incorporá-lo sem de fato uma real preocupação para o avanço na melhoria da qualidade do ensino. Nesse caminho, em 2004 foi criado o SINAES, Sistema Nacional e Avaliação da Educação Superior, para avaliação institucional em três processos: 1º) a Avaliação da Instituição, Auto Avaliação, Comissão Própria de Avaliação (CPA) e Avaliação Externa por comissões designadas pelo INEP, segundo diretrizes da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES); 2º) a Avaliação de Desempenho dos Estudantes (ENADE) e 3º) a Avaliação dos Cursos de Graduação (ACG). O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), que integra o SINAES, é obrigatório. Visa avaliar o desempenho dos estudantes quanto aos conteúdos programáticos previstos nas matrizes curriculares do curso de graduação escolhido. O ENADE aferi também o nível de atualização dos estudantes em relação ao contexto brasileiro e mundial. Participam os alunos ingressantes que tenham cumprido até 25% da carga horária do curso e os concluintes, que já tenham cumprido 80% ou mais da carga horária mínima do currículo do curso de bacharelado e 75% para os cursos superiores em tecnologia. O ENADE constitui-se como componente curricular obrigatório. Assim, o resultado de atendimento ao exame é transferido para o histórico escolar do participante. O não comparecimento do aluno ao exame, implica no não recebimento do diploma, até regularização. A avaliação por cursos é trienal. O conceito ENADE baseia-se na média ponderada da nota dos concluintes, com peso de 25% da nota em Formação Geral e 75% da nota em Formação Específica. O conceito é apresentado em cinco categorias (1 a 5), sendo que 1 é o resultado mais baixo e 5 é o melhor resultado possível, na área. Resultados esses, decorrentes do desempenho do Estudante no exame. (Portal do MEC, 2015). Ao estudante, portanto, fica transferida a responsabilidade pelo conceito da IES. Caso não se identifique com a mesma e, deliberadamente, a queira retaliar basta atender ao exame descompromissadamente podendo com isso, implicar no descredenciamento da IES. Identificando-se com esta, entretanto, e ciente de seu papel no processo avaliativo, buscará o melhor resultado, pois seu diploma estará vinculado a uma Instituição de “elevado conceito no ENADE”. Para Structon (1986) essa identificação é nata do indivíduo: A condição de homem [sic] exige que o indivíduo, embora exista e aja como um ser autônomo, faça isso somente porque ele pode primeiramente identificar a si mesmo como algo mais amplo – como um membro de uma sociedade, grupo, classe, estado ou nação, de algum arranjo, ao qual ele pode até não dar um nome, mas que ele reconhece instintivamente como seu [...]. (1986, p. 156) Para Lüdke (2001), a que se pensar quanto à mitificação dos resultados e a ‘cultura de avaliação’ incorporados pelas instituições: Dentro do quadro de uma economia globalizante, no qual vivemos hoje, predomina em avaliação o discurso centrado nos resultados, nos produtos. Fala-se na instalação de uma cultura da avaliação, que temo venha concebida de forma reduzida à ótica de resultados, assim como já vimos acontecer com o discurso sobre a qualidade em educação [...]. Não há dúvidas sobre a importância de se aplicar a avaliação, para que a educação possa conhecer melhor seus problemas e os meios para buscar suas soluções. Nessa perspectiva, não basta, porém, focalizar os resultados, mas todos os aspectos envolvidos no domínio da educação, desde seus objetivos, seus resultados, seus procedimentos, seu pessoal, para só então poder chegar a avaliar seus resultados. (LÜDKE, 2001, p. 31). Conclusão A necessidade de respostas rápidas tornou os testes vinculados aos seus ‘resultados’ estabelecendo a lógica do mercado consumidor. Observa-se as Instituições com planejamentos estratégicos na preparação de seu alunado. Desse modo, responsabiliza-se o professor pelo direcionamento de seus alunos, para as possíveis respostas “corretas” na realização dos testes. Do alunado é esperado o maior acerto possível de questões. Com isso, a gestão e o grupo de atores escolares passam a se pautar pelos testes e não por seus projetos políticos pedagógicos, em virtude desses resultados podendo influenciar diretamente em sua gestão e sua sobrevivência. Os resultados dos testes reforçam a ideia do ‘ranqueamento’ com as escolas e instituições na busca pela condição de ‘melhor escola da cidade’, ‘melhor Instituição de Ensino Superior’. Existe no interior das mesmas, uma preocupação com a avaliação da instituição, do trabalho do gestor e do professor, fornecida pelos resultados apurados, uma vez que são avaliadas perante uma sociedade excludente, preocupada com a posição social ocupada pelos seus atores. Referências Bibliográficas ALMEIDA, I.B. A Avaliação Educacional no Brasil. In. MUCCILO, M.A. (Org.). As faces da escola: um olhar caleidoscópico. Campinas, SP: Emoped, 2010. BABBIE, E. Métodos de pesquisa de Survey. Belo Horizonte : Editora UFMG, 2001. BALZAN, N. C.; DELFINO, R. Educação Superior: A Qualidade Total em Questão. In: Avaliação: Revista da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior (RAIES), Campinas, SP, v.12, no 1, p. 73-90, mar. 2007. BONAMINO, A.; FRANCO, C. Iniciativas Recentes de Avaliação da Qualidade da Educação no Brasil. In: FRANCO, C. (Org.). Avaliação, Ciclos e Promoção na Educação. Porto Alegre : Artmed Editora, 2001. BONAMINO, A.C. Tempos de Avaliação Educacional: o SAEB, seus agentes, referências e tendências. Rio de Janeiro : Quartet, 2002. DALBEN, A. I. L. F. Das Avaliações Exigidas às Avaliações Necessárias. In: VILLAS BOAS, B. M. F. (Org.) Avaliação Políticas e Práticas. Campinas, SP: Papirus, 2003. Cap 1, p. 13-42. DIAS, S. J. Universidade e Avaliação: entre a ética e o mercado. Florianópolis: Insular. 2002. FRANCO, C. Ciclos e letramento na fase inicial do ensino fundamental. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, no 25, jan-abr. 2002. LÜDKE, M. Evoluções em Avaliação. In: FRANCO, C. (Org.). Avaliação, Ciclos e Promoção na Educação. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. LÜDKE, M. Um olhar crítico sobre o Campo da Avaliação Escolar. In: FREITAS, L. C. (Org). Avaliação: Construindo o Campo e a Crítica. Florianópolis : Insular, 2002. Cap. 4, p. 89-98. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – Portal da Educação. Disponível em: <http://emec.mec.gov.br > SCRUTON, R. Authority and allegiance. In: Janes Donald & Stuart Hall (Org.), Politics and ideology, Milton Keynes: Open Universit Press, 1986.