TERAPIA COMPORTAMENTAL – PROCESSO DO APRENDER A SABER FAZER Luana Aparecida do Couto Pereira1 Este artigo tem o objetivo de discutir como acontece o processo de mudanças do cliente na terapia comportamental. Antes de detalhar como se dá esse processo, é necessário entender alguns conceitos que se referem à relação que o indivíduo tem com o mundo, ou seja, com seus grupos de referência. Segundo Skinner (1970, p.171), “o comportamento social refere-se ao comportamento de duas ou mais pessoas, uma em relação à outra, ou em conjunto em relação ao ambiente comum.” Considerando que o indivíduo se desenvolve e se relaciona com o mundo, a mudança no ambiente e na interação entre pessoas é uma rede de retroalimentação, em que muda o indivíduo em seu comportamento e muda o ambiente e vice-versa. Conhecendo que o indivíduo muda seus comportamentos e seu ambiente ganha um novo formato, o processo terapêutico, muitas vezes, visa estimular a releitura do indivíduo a respeito de suas competências sociais e, portanto, treinar suas habilidades. As habilidades sociais são comportamentos emitidos em situações interpessoais, são aprendidas e variam culturalmente. Treinar as habilidades sociais torna-se um grande desafio, uma vez que o indivíduo representa diversos papéis na sociedade, que exigem diversas formas de atuação. O trabalho terapêutico fornece então uma série de estímulos para o indivíduo reler seus comportamentos, descobrir reforçadores e identificar em quais condições emite comportamentos assertivos ou não. A terapia comportamental visa à alteração das contingências comportamentais do cliente, aquelas “desadaptativas”, que lhe causam sofrimento e lhe prejudicam a saúde. O processo terapêutico deverá propiciar o desenvolvimento do repertório comportamental, no sentido de capacitar o indivíduo para funcionar de maneira mais apropriada do que fazia antes de procurar ajuda terapêutica. (VILLANI, 1996, p. 28).2 A partir dessa diretriz, o terapeuta favorece a reflexão do indivíduo, muitas vezes propondo algumas atividades de “enfrentamento” de determinadas atitudes aversivas, a fim de criar um novo repertório de comportamento e construir, assim, uma 80 l Revista de Psicologia - Edição 1 nova forma de se ver no mundo. Considerando essa dimensão, Villani (1996) diz que o papel do terapeuta tem uma importância didática, uma vez que promove atividades em que o indivíduo assume uma postura de conhecimento de suas contingências naturais, aprende a atuar no próprio meio e cria contingências próprias. Além disso, o próprio terapeuta comportamental assume uma posição de crescimento contínuo e amplia seu repertório com a vivência do atendimento. Aprende, por meio do ambiente terapêutico, fatores do meio e do comportamento de seu cliente que podem influenciar em seu conhecimento e em suas habilidades profissionais. Villani (1996) enfatiza que o comportamento do terapeuta deverá ter, para com seu cliente, uma atitude cordial e de aceitação. O ambiente de aceitação traz para o cliente a tranquilidade para identificar oportunidades de mudança, sem o uso de preconceitos, temores e ameaças por valores sociais. No entanto, é importante ressaltar que o terapeuta deve aceitar e considerar o sujeito, embora seja diferente de aceitar e apoiar comportamentos específicos. Pode-se dizer que papel do terapeuta no processo do indivíduo é de acolhimento para entender, educador para direcionar atividades que surtam o efeito de aprendizado e mudanças de repertório e de mentor, na medida em que se coloca numa posição de apoio, mas sempre direcionando o cliente para o Saber Fazer escolhas, comportamentos, atitudes e ambientes novos para si mesmo. (...) uma importante parte do processo da Terapia Comportamental é o planejamento da manutenção dos efeitos terapêuticos. O comportamentalista precisa garantir que as habilidades conquistadas por seu cliente funcionarão mesmo depois do término da terapia. (...) O terapeuta irá trabalhar no sentido de colocar o comportamento adequado do indivíduo sob controle de reforçamento natural, ou seja, fazer com que o cliente esteja sensível aos bons efeitos que suas novas habilidades produzem em sua vida cotidiana. E principalmente irá trabalhar durante todo o processo ensinando ao terapeutizando fazer análises funcionais das suas próprias contingências e construir suas próprias estratégias de modificação e resolução de problemas. (VILLANI, 1996, p. 32) Dessa forma, ao fim da terapia, espera-se que o cliente crie novos repertórios, entenda seu próprio comportamento, com habilidades e deficiências, e saiba buscar, em sua própria reflexão, saídas para as dificuldades e caminhos novos para suas ações. É então um processo de autoconhecimento para a tomada de decisões, fundamentada em escolhas pessoais, genuínas ao seu modo de ser e de pensar. REFERÊNCIAS SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. Brasília: Editora Universidade de Brasília. indique a data da obra consultada para o trabalho. Data: 1970 WIELENSKA, Regina Christina. Sobre comportamento e cognição. Santo André: Arbytes, 1999 6 v. NOTAS DE RODAPÉ 1 Aluna do curso de Psicologia do Centro universitário Newton Paiva do estágio supervisionado pela professora Maria Regina. 2 VILLANI, Maria Cristina Seixas. Aspectos da Formação do Terapeuta Comportamental. Texto apresentado em mesa redonda: Terapia Comportamental. Belo Horizonte: II Semana de Psicologia _ PUCMG. Não publicado. Revista de Psicologia - Edição 1 l 81